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Aula 01. Aplicação da lei processual penal militar

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Academic year: 2021

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Curso/Disciplina: Direito Processual Penal Militar

Aula: Aplicação da lei processual militar.

Professor (a): Marcelo Uzêda

Monitor (a): Lívia Cardoso Leite

Aula 01

Aplicação da lei processual penal militar

CPPM, art. 1º - Fontes de Direito Judiciário Militar

O processo penal militar reger-se-á pelas normas contidas neste Código, assim em tempo de paz como em tempo de guerra, salvo legislação especial que lhe for estritamente aplicável.

Divergência de normas

§1º Nos casos concretos, se houver divergência entre essas normas e as de convenção ou tratado de que o Brasil seja signatário, prevalecerão as últimas.

Aplicação subsidiária

§2º Aplicam-se, subsidiariamente, as normas deste Código aos processos regulados em leis especiais. - Fonte do Direito Processual Penal Militar:

É o CPP Militar – Decreto nº 1002/1969. A fonte principal, primária, do Direito Processual Penal Militar, chamado pelo Código de Direito Judiciário Militar, é o CPP Militar.

O CPP Militar em alguns aspectos é melhor do que o CPP Comum. Em alguns momentos ele se mostra um pouco mais garantista, um pouco mais moderno em algumas questões. Porém, ele não sofreu as alterações que o CPP Comum vem sofrendo nos últimos anos.

O Decreto nº 1002/69 é posterior ao Código de Processo Penal, que é da década de 40. O CPP Comum tem disposições que remontam à década de 40, ao período Vargas. O CPP Militar é de 69, o que remonta aos “anos de chumbo” da Ditadura Militar, o período mais acirrado dela. Então, há 2 diplomas que são de uma época ditatorial. O CPP Militar em alguns momentos é um pouco mais garantista. O CPP Comum, por seu turno, vem sofrendo diversas reformas, as quais o CPP Militar não sofreu.

Há recente entendimento do Supremo Tribunal Federal no HC nº 127.900, de março de 2016, determinando a aplicação do art. 400 do CPP no tocante à realização do interrogatório como último ato da

instrução.

STF – HC 127.900/AM – Tribunal Pleno – Min. Dias Toffoli – Julgamento em 03.03.2016.

EMENTA Habeas corpus. Penal e processual penal militar. Posse de substância entorpecente em local sujeito à administração militar (CPM, art. 290). Crime praticado por militares em situação de atividade em lugar

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sujeito à administração militar. Competência da Justiça Castrense configurada (CF, art. 124 c/c CPM, art. 9º, I, b). Pacientes que não integram mais as fileiras das Forças Armadas. Irrelevância para fins de fixação da competência. Interrogatório. Realização ao final da instrução (art. 400, CPP). Obrigatoriedade. Aplicação às ações penais em trâmite na Justiça Militar dessa alteração introduzida pela Lei nº 11.719/08, em detrimento do art. 302 do Decreto-Lei nº 1.002/69. Precedentes. Adequação do sistema acusatório democrático aos preceitos constitucionais da Carta de República de 1988. Máxima efetividade dos princípios do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, inciso LV). Incidência da norma inscrita no art. 400 do Código de Processo Penal comum aos processos penais militares cuja instrução não se tenha encerrado, o que não é o caso. Ordem denegada. Fixada orientação quanto a incidência da norma inscrita no art. 400 do Código de Processo Penal comum a partir da publicação da ata do presente julgamento, aos processos penais militares, aos processos penais eleitorais e a todos os procedimentos penais regidos por legislação especial, incidindo somente naquelas ações penais cuja instrução não se tenha encerrado. 1. Os pacientes, quando soldados da ativa, foram surpreendidos na posse de substância entorpecente (CPM, art. 290) no interior do 1º Batalhão de Infantaria da Selva em Manaus/AM. Cuida-se, portanto, de crime praticado por militares em situação de atividade em lugar sujeito à administração militar, o que atrai a competência da Justiça Castrense para processá-los e julgá-processá-los (CF, art. 124 c/c CPM, art. 9º, I, b). 2. O fato de os pacientes não mais integrarem as fileiras das Forças Armadas em nada repercute na esfera de competência da Justiça especializada, já que, no tempo do crime, eles eram soldados da ativa. 3. Nulidade do interrogatório dos pacientes como primeiro ato da instrução processual (CPPM, art. 302). 4. A Lei nº 11.719/08 adequou o sistema acusatório democrático, integrando-o de forma mais harmoniosa aos preceitos constitucionais da Carta de República de 1988, assegurando-se maior efetividade a seus princípios, notadamente, os do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, inciso LV). 5. Por ser mais benéfica (lex mitior) e harmoniosa com a Constituição Federal, há de preponderar, no processo penal militar (Decreto-Lei nº 1.002/69), a regra do art. 400 do Código de Processo Penal. 6. De modo a não comprometer o princípio da segurança jurídica (CF, art. 5º, XXXVI) nos feitos já sentenciados, essa orientação deve ser aplicada somente aos processos penais militares cuja instrução não se tenha encerrado, o que não é o caso dos autos, já que há sentença condenatória proferida em desfavor dos pacientes desde 29/7/14. 7. Ordem denegada, com a fixação da seguinte orientação: a norma inscrita no art. 400 do Código de Processo Penal comum aplica-se, a partir da publicação da ata do presente julgamento, aos processos penais militares, aos processos penais eleitorais e a todos os procedimentos penais regidos por legislação especial incidindo somente naquelas ações penais cuja instrução não se tenha encerrado.

CPP, art. 400 - Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado.

Isso vai cair em prova! É tema recente. O STM possuía uma súmula vedando a aplicação do art. 400 do CPP. Essa súmula foi cancelada.

STM, S. 15 - Cancelada (DJe N° 88, de 17.05.2016)

"A alteração do art. 400 do CPP, trazida pela Lei nº 11.719, de 20 de junho de 2008, que passou a considerar o interrogatório como último ato da instrução criminal, não se aplica à Justiça Militar da União." (BJM N° 01, de 04.01.13, DJe N° 070, de 18.04.13; republicada no DJe N° 149, de 02.09.14).

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A súmula foi cancelada por conta do posicionamento do Supremo. Ela durou muito pouco tempo. Foi logo cancelada. Em 2016 o Supremo chegou à conclusão, por decisão do Plenário, que o interrogatório, como meio de defesa, deve ser o último ato da instrução.

Assim como no Direito Penal Militar, que também tem um Código da década de 60 que não passou pelas reformas do CP Comum, tem de ser feita uma adaptação na leitura. O CPP Militar deve ser lido, primeiramente, à luz da Constituição. Deve ser filtrado para a retirada dos entulhos autoritários remanescentes que estão na letra da lei e não foram expressamente revogados. Logo, primeiro tem de ser feita uma leitura conforme a Constituição, uma filtragem à luz da Constituição, deixando-se de fora o que não é compatível. Várias vezes discute-se a constitucionalidade de determinados dispositivos. Isso tem de ser feito.

Algumas disposições do CPP Comum podem ser aplicadas à esfera militar. No caso do art. 400, o Supremo, no HC 127.900 resolveu a questão, modulando os efeitos da decisão para a partir da publicação do acórdão em relação aos processos que não estivessem com a instrução encerrada. Houve modulação dos efeitos do novo posicionamento. Doravante a regra é essa.

Algumas disposições do CPP são compatíveis. Outras não são. Na prática podemos ver, olhando a jurisprudência do STM e questões de provas de concurso, a aplicação do art. 366 do CPP. É INCOMPATÍVEL.

CPP, art. 366 - Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312.

Não pode ser aplicado o art. 366 do CPP, que determina a suspensão do processo e do prazo prescricional do réu citado por edital que não comparece nem constitui advogado. Essa regra NÃO SE APLICA à esfera militar. O CPP Militar tem regra expressa, específica. Nesse caso haverá REVELIA, não havendo suspensão do processo por ausência. Não se aplica o art. 366 do CPP Comum à esfera militar, sobretudo porque há uma normal penal gravosa. O art. é híbrido, encerrando uma norma gravosa, que é a suspensão da prescrição. Ele não pode ser aplicado porque prejudica o réu.

Também não se pode trazer o sistema da esfera comum para a esfera militar sem a existência de lacuna na esfera militar quanto ao tema. A solução para o citado por edital que não comparece e nem constitui advogado é o julgamento à revelia. Nomeia-se um advogado, um Defensor Público, e segue-se com o processo à revelia, sem suspensão. A norma comum traz um gravame: a suspensão do prazo prescricional.

O art. 366 do CPP não se aplica à esfera militar.

O art. 1º do Código de Processo Penal Militar diz que o processo penal militar reger-se-á pelas regras, pelas normas contidas no Código, em tempo de paz e em tempo de guerra.

Obs: o procedimento de tempo de guerra não será estudado, pois não será cobrado em prova. Ele não entra nos editais.

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Obs: Bibliografia - livro do professor Cícero Coimbra. É um material mais extenso, mas é indicado. O autor é membro do Ministério Público Militar e foi Juiz-Auditor. Possui experiência na área e foi militar. O doutrinador vem despontando na seara Penal e Processual Penal Militar. Editora Saraiva. Manual de Direito Processual Penal. Só trata do tempo de paz, dos procedimentos em tempo de paz. Recomendado para uma leitura complementar. É um material mais extenso.

Existem materiais mais reduzidos, mais resumidos. Pela Editora JusPodivm há um resumo, da coleção Resumos, de autoria de Defensores Públicos da União, Fabiano Prestes e Ricardo Giuliani, sobre Processo Penal Militar. É resumo mas atende a necessidade.

O professor está preparando a sinopse de Direito Processual Penal Militar. Em breve será lançada.

Para um estudo mais aprofundado recomenda-se o livro do Cícero Coimbra. Para um estudo mais objetivo recomenda-se o resumo da JusPodivm. Este serve, atende bem a necessidade.

Essas são as recomendações de bibliografia. Deve-se buscar sempre um material bem atualizado e direcionado o máximo possível a concursos públicos.

O procedimento em tempo de guerra não será objeto de estudo porque normalmente não entra nos editais.

No tempo de paz há o procedimento comum ordinário e 2 procedimentos especiais, que são sumaríssimos – de deserção e de insubmissão.

Questão importante! Na aplicação da lei processual penal militar a fonte básica é o CPPM. Porém, o legislador diz “salvo legislação especial que lhe for estritamente aplicável”. O CPP Comum não é legislação especial, mas tem aplicação subsidiária.

Exemplos de legislação especial estritamente aplicável ao processo penal militar, conforme a parte final do art. 1º do CPPM:

- Lei nº 8457/92 – Lei de Organização da JMU. Essa é uma lei especial estritamente aplicável ao processo penal militar. Muitas disposições, muitas questões que não são tratadas no CPP Militar são esmiuçadas na Lei nº 8457/92, no nível federal.

No nível estadual, a Lei de Organização de cada Estado, a Organização Judiciária de cada Estado estabelece a competência da Justiça Militar, a divisão de atribuições, as questões de recursos etc. Há diferença entre os recursos da esfera estadual e da esfera federal.

Lei nº 8457/92 – é lei específica, lei especial, aplicável ao processo penal militar.

Formação do Conselho de Justiça, Especial e Permanente - o CPP Militar não trata disso. A Lei nº 8457/92 estabelece o procedimento, a composição, a formação dos Conselhos. A competência do Juiz-Auditor, do Corregedor, do STM, tudo isso está definido na Lei.

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- Lei nº 9296/96 – Lei de interceptação telefônica. Ela é aplicável à esfera militar. A Constituição Federal não faz ressalvas. A Lei nº 9296 também não faz. Esta admite a interceptação telefônica como ultima ratio para a apuração de crimes punidos com reclusão, havendo indícios de autoria e de existência do crime e não existindo outro meio de obter a prova. Pode, no processo penal militar, valer-se da Lei nº 9296/96 naquilo que for estritamente aplicável.

- Lei nº 12037/09 – Lei da identificação criminal. Pode ser aplicada. Não há essa norma no processo penal militar expressamente. A legislação especial é aplicável.

Obs: Não usar! Não é exemplo de aplicação da legislação especial:

- Lei nº 7960/89 – Lei da prisão temporária. Prisão temporária tem rol taxativo de crimes. Os crimes indicados no rol da prisão temporária é que admitem essa modalidade de prisão. Ela é uma prisão cautelar da fase investigatória. Não há crimes militares no rol.

- Lei nº 8072/90 – Há jurisprudência do Supremo Tribunal Federal afastando a aplicação dessa lei. Ela também traz um rol taxativo de crimes hediondos, não havendo crimes da esfera militar.

Existem leis que não são aplicáveis e leis que são.

Cabe a aplicação da LEP? A Lei de Execuções Penais pode ser aplicada? O processo penal militar tem normas próprias de execução.

No processo penal militar não tem agravo em execução. Este está na LEP. O recurso cabível em

sede de execução na esfera militar é o recurso em sentido estrito. Na esfera comum é o agravo em execução. Das decisões em execução penal cabe agravo. Na esfera militar não tem agravo. Cabe RESE.

Na jurisprudência do STM encontra-se referência a esse tema. O STM em alguns casos nega a fungibilidade por entender que o recurso cabível, o em sentido estrito, tem uma diferença de prazo. O RESE, na esfera militar, tem de ser interposto em 3 dias, e na esfera comum é em 5 dias. Essa diferença de prazo pode inviabilizá-lo, uma vez que o agravo em execução deve ser interposto em 5 dias, mesmo prazo do RESE.

STF, S. 700 - É de cinco dias o prazo para interposição de agravo contra decisão do juiz da execução penal.

Às vezes a pessoa maneja em uma execução na esfera militar um agravo usando o prazo de 5 dias ficando intempestivo, porque o recurso correto é o em sentido estrito. Não dá para aplicar a fungibilidade.

Obs: salvo hipótese de má-fé ou erro grosseiro e respeitada a tempestividade o Juiz pode acolher o recurso equivocado pela fungibilidade e dar-lhe o processamento do recurso correto.

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O STM não tem admitido a fungibilidade no agravo em execução para reconhecê-lo como recurso em sentido estrito, sobretudo porque na esfera militar o prazo é diferente e a hipótese de

cabimento está na letra do CPP Militar.

Essa 1ª abordagem é só para que se aponte o que é cabível ou não. Algumas disposições da LEP são aplicáveis. O agravo está fora.

Ex: progressão de regime. Na esfera militar, o Código de Processo Penal Militar não prevê

progressão. O CPP Militar não prevê progressão. Pela letra da lei, o condenado executado na esfera militar

cumpriria o regime fechado, só saindo no livramento condicional. Se não houvesse sursis, cumpriria o regime fechado e só sairia no livramento condicional, que é um incidente da execução para o Direito Processual Penal Militar.

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal tem admitido regime inicial diverso do fechado e progressão de regime na esfera militar. Em consequência, podem ser aplicados os critérios da LEP para a

progressão de regime – 1/6 de pena cumprida, bom comportamento carcerário -, ainda que o sujeito esteja cumprindo pena na esfera militar. A progressão não foi contemplada na lei, mas a jurisprudência do Supremo tem mitigado o rigor da lei permitindo a possibilidade de progressão de regime.

Remição por estudo e por trabalho também são disposições que podem ser adaptadas, que são aplicáveis e respeitam a estrutura, a índole do Processo Penal Militar, seja o processo condenatório ou o executório.

CPPM, art. 1º, §1º - Já foi questão de prova. Se houver norma prevista em tratado internacional colidindo com o CPP Militar, prevalece a norma do tratado, qualquer que seja o tema. Não é só em direitos humanos. Qualquer que seja o tema prevalece a norma internacional.

Ex: norma que envolva imunidade de jurisdição, questão formal, de reconhecimento de prerrogativas diplomáticas etc. Respeita-se a norma internacional.

Sempre que houver conflito entre o CPP Militar e a norma internacional, prevalece esta.

CPPM, art. 1º, §2º - É raríssimo. Se há um procedimento previsto em lei especial pode ser aplicado, subsidiariamente, o CPP Militar. Isso é quase impossível. O Processo Penal Militar já é especial em relação ao Processo Penal Comum. Normalmente, se for algum procedimento previsto em lei especial aplicável à esfera militar, subsidiariamente o CPP Militar seria aplicado. No momento não temos isso. Na prática não temos essa hipótese. A Lei nº 8457 complementa o CPP Militar, e não o contrário. Essa relação é praticamente inviável. Mas é a letra da lei.

CPPM, art. 2º - Interpretação literal

A lei de processo penal militar deve ser interpretada no sentido literal de suas expressões. Os termos técnicos hão de ser entendidos em sua acepção especial, salvo se evidentemente empregados com outra significação.

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§1º Admitir-se-á a interpretação extensiva ou a interpretação restritiva, quando for manifesto, no primeiro caso, que a expressão da lei é mais estrita e, no segundo, que é mais ampla, do que sua intenção.

Casos de inadmissibilidade de interpretação não literal

§2º Não é, porém, admissível qualquer dessas interpretações, quando: a) cercear a defesa pessoal do acusado;

b) prejudicar ou alterar o curso normal do processo, ou lhe desvirtuar a natureza; c) desfigurar de plano os fundamentos da acusação que deram origem ao processo. Esse art. trata da interpretação da lei.

Antiguidade: para o militar é hierarquia. Tanto que se diz “antiguidade é posto”. Quando se fala que fulano é mais antigo está a se dizer que hierarquicamente ele é superior, ainda que esteja no mesmo posto. Tem alguém mais antigo. Não existem 2 militares na mesma situação hierárquica. Há sempre o mais antigo e o mais moderno. Antiguidade, na acepção militar, tem um conceito, um significado especial. A não ser que expressamente a expressão esteja sendo utilizada em outro sentido. Ex: peça de arte, obra da antiguidade. Nesse caso, fala-se de uma época da história.

Para os militares antiguidade é hierarquia. Mais antigo e mais moderno são terminologias militares. Algumas expressões do jargão militar também são empregadas na esfera processual.

Ex: na instalação do Conselho, o Presidente descoberto – descoberto é sem a cobertura, sem o “boné”, o chapéu que o militar usa. Em um ambiente fechado normalmente o militar tem de tirar a cobertura, o “boné”. Na sala de sessão da Justiça Militar, a instalação do Conselho é com o Presidente descoberto, sem a cobertura, sem o chapéu. Assim ele fará o compromisso de julgamento. Os outros militares dirão “eu assim prometo”.

O Código de Processo Penal Militar também prevê a interpretação não literal, extensiva ou restritiva – CPPM, art. 2º, §1º. A leitura já dá essa informação.

Expressão da lei mais estrita – o legislador disse menos do que queria. A interpretação tem de ser extensiva.

Expressão da lei mais ampla – o legislador disse mais do que queria. A interpretação tem de ser restritiva.

Dependendo do dispositivo faz-se uma análise, uma interpretação não literal. O CPP Militar admite a interpretação extensiva ou restritiva conforme o caso.

CPPM, art. 2º, §2º - Restrição. Inadmissibilidade de interpretação não literal. São 3 situações. - Cerceamento de defesa – interpretação extensiva ou restritiva que cause cerceamento de defesa não será admitida. Ex: hipóteses que admitem liberdade provisória; nº de testemunhas.

O CPP Militar indica nº de testemunhas de defesa inferior ao nº de testemunhas de acusação. É óbvio que em homenagem à paridade de armas o nº de testemunhas de defesa tem de ser o mesmo das de acusação. São 6 testemunhas por fato. 6 da acusação e 6 da defesa, por fato. Há uma interpretação corretora do equívoco do legislador dando paridade de armas. Trata-se de um Código de período ditatorial, que ainda tem um ranço autoritário e merece, precisa ser atualizado. Esse é um exemplo de disposição. O

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legislador dá um nº de testemunhas inferior para a defesa. Isso tem de ser corrigido. Equipara-se ao nº de testemunhas da acusação.

- Desfiguração, de plano, dos fundamentos da acusação – distorção dos fundamentos da acusação, do processo. Isso também será objeto de interpretação literal.

- Prejudicialidade ao curso normal do processo ou desvirtuamento da natureza do processo

penal militar – não se pode utilizar a interpretação não literal quando isso causar tumulto processual ou

desvirtuar a natureza do processo penal militar.

O Processo Penal Militar tem características muito próprias e é especial em relação ao Processo Penal Comum. Ex: é regido pela celeridade. No Processo Penal Militar, apesar de todo o formalismo dos militares, há em alguns momentos muita informalidade. Podem ser utilizados meios de comunicação processual mais informais – contato telefônico e carta para intimação. Há maior flexibilização. Dentro dessa lógica não se pode de alguma forma prejudicar o curso normal da instrução criando, interpretando de forma restritiva ou extensiva determinado dispositivo de forma a prejudicar a marcha processual ou a própria natureza do Processo Penal Militar, a sua especialidade.

Esses são casos em que há vedação de interpretação extensiva ou restritiva. Pontualmente será mostrado como isso será aplicado.

CPPM, art. 3º - Suprimento dos casos omissos Os casos omissos neste Código serão supridos:

a) pela legislação de processo penal comum, quando aplicável ao caso concreto e sem prejuízo da índole do processo penal militar;

b) pela jurisprudência;

c) pelos usos e costumes militares; d) pelos princípios gerais de Direito; e) pela analogia.

Art. que trata da forma de suprimento das lacunas, dos casos omissos. Podem ser supridas lacunas do Processo Penal Militar com o CPP Comum.

Obs: não se trata aqui da lacuna em silêncio eloquente. Trata-se aqui da lacuna involuntária. O suprimento dos casos omissos, das lacunas, são os daquelas que são evidentemente lacunas involuntárias. Há algum tema, algum instituto, que o CPP Militar deixou em aberto. Supre-se essa lacuna com a aplicação do Processo Penal Comum, do CPP Comum, desde que respeitada a índole do Processo Penal Militar.

Ex: citação com hora certa. O Processo Penal Militar não utiliza citação com hora certa. Não há previsão. Pode-se aplicá-la, suprindo-se a lacuna, usando-se o CPP Comum? Não pode. Não é, evidentemente, caso de lacuna. Quando o réu não é encontrado ele é citado por edital. O CPP Militar não

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faz diferença se ele se oculta ou se não é encontrado. Se ocultando ou não sendo encontrado por qualquer outra razão, a citação é por edital.

O Processo Penal Comum ganhou a citação por hora certa em 2008. Ela é muito questionada no Supremo Tribunal Federal. Este disse, recentemente, que ela é constitucional. Não falou de aplicação no Processo Penal Militar. Não há lacuna. O CPP Militar prevê o edital.

A citação por hora certa também pode ser considerada estranha à índole do Processo Penal Militar, já que o sujeito pode ser citado por edital, com a publicação de edital, mesmo que ele se oculte para não ser citado.

No Processo Penal Militar há revelia até do preso. Este pode ser revel.

Exemplo de usos e costumes militares: o militar mais antigo sempre fica à direita. O Tenente Uzêda fica à esquerda do Capitão João. Na esfera militar sempre é assim. Deslocando-se ou parados, o mais antigo fica à direita. É um costume militar. O assento dos Juízes componentes do Conselho respeita essa ordem. À direita senta o mais antigo.

Alguns princípios gerais do direito também podem ser adotados na esfera processual penal militar. Princípios e garantias constitucionais também são aplicados.

Analogia como forma de suprimento de lacunas: onde há a mesma regra, o mesmo raciocínio, deve ser aplicada a mesma norma.

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