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Ficha Técnica do Núcleo Temático SIC. Coordenação Ricardo Serrão Santos. Equipa Fernando Tempera Pedro Afonso Telmo Gomes Jorge Fontes

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Academic year: 2021

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Ficha Técnica do Núcleo Temático SIC Coordenação

Ricardo Serrão Santos Equipa Fernando Tempera Pedro Afonso Telmo Gomes Jorge Fontes Colaboradores Pedro Duarte Frederico Cardigos Consultoria

Susan Gubbay (consultora independente)

David Connor (Joint Nature Conservation Committee) Tripulação da L/I “Águas Vivas”

Paulo Martins Norberto Serpa Vítor Rosa

Autoria

A informação apresentada neste relatório é baseada na investigação conduzida pelo Núcleo Temático SICs do Projecto MARÉ, e teve como redactor principal Fernando Tempera.

Citação

Este documento deve ser citado como Tempera, F., P. Afonso, T. Morato & R. Serrão Santos (2001). Comunidades Biológicas do Sítio de Interesse Comunitário Ilhéus das

Formigas e Recife Dollabarat. Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade

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Agradecimentos

Agradecimentos particulares são devidos a:

Lic. Jorge Fontes e Lic. Pedro Duarte, que prestaram serviços importantes na aquisição e informatização dos dados;

Mestre Gui Menezes e Lic. Ana Loures, pela partilha de dados sobre a comunidade piscícola demersal do Banco das Formigas;

Programa de Observação das Pescas dos Açores, e em particular ao Lic. Rogério Feio, pela partilha de dados sobre capturas de tunídeos e observações de cetáceos e tartarugas efectuadas no Banco das Formigas;

Projecto RIVA, e em particular ao Lic. Rogério Ferraz, pela partilha de dados sobre a monitorização das populações de lapas no Arquipélago dos Açores;

Doutora Wallie de Weerdt (Univ. de Amsterdão), pela identificação das amostras de esponjas;

Doutora Ana Neto (Dep.to de Biologia, Univ. dos Açores), pela formação em algas; Doutor Armin Svoboda, pela identificação das amostras de hidrários aglaofenídeos; Mestre Sérgio Ávila pela identificação das amostras de gastrópodes;

Todos os que nos ajudaram nas missões em Santa Maria, nomeadamente: o Clube Naval de Santa Maria, a Capitania de Vila do Porto, os Serviços da Lotaçor de Santa Maria, a Junta Autónoma do Porto de Ponta Delgada, o Clube ANA, o Comando do Exército/Regimento de Infantaria nº2, o Sr. Jorge Botelho e os Serviços de Meteorologia do Aeroporto de Santa Maria.

Fotografias

As fotos que ilustram o presente documento pertencem ao arquivo de imagens do DOP/UAç (ImagDOP) e têm como autores Ricardo Serrão Santos, Frederico Cardigos, Jorge Fontes, João Gonçalves, Peter Wirtz e Helen Rost Martins, que gentilmente as cederam.

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Índice

1. CONTEXTO 1

1.1. Generalidades 1

1.2. Geologia e topografia 2

1.3. Breve historial das investigações biológicas 2

2. COMUNIDADES BENTÓNICAS 3

2.1. Zona-entre-marés 4

2.1.1. Fisiografia 4

2.1.2. Comunidades bentónicas emersas pela maré 4

2.1.3. Poças 5

2.2. Zona subtidal 5

2.2.1. Dados globais 5

2.2.2. Ilhéus das Formigas 7

2.2.2.1. Fisiografia 7 2.2.2.2. Comunidades Bentónicas 7 2.2.3. Recife Dollabarat 9 2.2.3.1. Fisiografia 9 2.2.3.2. Comunidades Bentónicas 9 2.2.4. Recife Intermédio 11 2.2.4.1. Fisiografia 11 2.2.4.2. Comunidades Bentónicas 11 3. COMUNIDADES DE PEIXES 11

4. ESPÉCIES DE INTERESSE COMERCIAL 13

4.1. Caranguejos e lapas 13 4.2. Peixes costeiros 14 4.3. Comunidades demersais 15 4.4. Tunídeos 18 5. CETÁCEOS E TARTARUGAS 19 6. AVES MARINHAS 19 7. CONCLUSÕES 20 8. BIBLIOGRAFIA 21 ANEXO I – Tabelas 22

Lista de espécies de algas 23

Lista de espécies de invertebrados 24

Lista de espécies de peixes 26

Frequência de ocorrência de peixes 27

ANEXO II – Materiais e Métodos 28

Batimetria 29

Comunidades bentónicas 30

Peixes 42

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Banco das Formigas (adaptado de Azevedo et al., 1991) Localização dos Ilhéus das Formigas

Aspecto dos Ilhéus e respectivo farol

1. CONTEXTO 1.1. Generalidades

O Banco das Formigas está situado na zona sudeste dos Açores, sensivelmente entre os paralelos 37º14’N e 37º17’N e os meridianos 24º43’W e 24º47’W, na entrada oriental do canal que separa as ilhas de São Miguel e Santa Maria.

Da coroa deste monte submarino - orientado na direcção NW-SE e com uma extensão de 7 M por 3 M (à batimétrica dos 500m) – sobem alguns picos que dão origem a recifes de baixa profundidade, de que se

destacam os Ilhéus das Formigas (na parte NW) e o Recife Dollabarat (na parte SE). Os Ilhéus constituem a única zona emersa do Banco e estão situados a aproximadamente 34 milhas para sudeste da ponta SE de São Miguel e cerca de 20 milhas para nordeste de Santa Maria. Fisiograficamente, são formados por um grupo de afloramentos rochosos, alinhados na direcção N-S e dispostos por uma área com um comprimento total de 165 m e uma largura de cerca de 80m. Para além do farol – constituído por uma torre troncónica de 19m de altura e erguido num dos escolhos de maiores dimensões - o ponto mais elevado dos ilhéus é o rochedo do Formigão, que se encontra a apenas 11 metros acima do Zero Hidrográfico. Em condições normais de boa visibilidade, as Formigas são avistáveis a cerca de 10 M, mas com visibilidade reduzida ou em caso de avaria no farol, constituem um perigo para a

navegação, como o atesta a presença de alguns restos de navios naufragados nos fundos adjacentes. Segundo o Roteiro Náutico dos Açores, “os ilhéus não garantem qualquer abrigo que permita a sua utilização segura para fundear. Contudo, pode-se desembarcar neles, com bom tempo, devendo a aproximação ser feita por E, em direcção ao farol, junto do qual existe um pequeno cais. Na parte W dos ilhéus existe também um pequeno cais e uma rampa onde se pode varar uma embarcação. A escolha do desembarcadouro deverá ser sempre feita em função do estado do mar” (Instituto Hidrográfico, 1981).

O Recife do Dollabarat está situado no Zv=133º e a 3,8 M da ponta meridional do Formigão. As rochas que o compõem estão completamente submersas, mas o seu ponto menos profundo encontra-se apenas 3 m abaixo da superfície. Este facto leva a que a ondulação que assola frequentemente a

zona rompa facilmente sobre esta área, o que, em condições de boa visibilidade e durante o dia, revela facilmente a localização do Recife. No entanto, em situações de

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Bordo Ocidental do Banco das Formigas (ilust. J. Mourão in

Zbyszewski et al., 1961) visibilidade reduzida ou de bom tempo e mar chão, o Dollabarat é considerado uma zona muito perigosa para a navegação por não se reconhecerem as rochas senão quando a embarcação se encontra já muito perto destas (Instituto Hidrográfico, 1981).

Entre os Ilhéus e o Recife, são mencionados outros afloramentos rochosos com sondas reduzidas mínimas da ordem dos 30m (Instituto Hidrográfico, 1981), mas durante as sondagens batimétricas efectuadas no âmbito do Projecto MARÉ apenas foi detectado um recife com uma profundidade de 20-25m (que se designou Recife Intermédio).

1.2. Geologia e topografia

Do ponto de vista geológico, os ilhéus das Formigas são formados, essencialmente, por escoadas de basalto interrompidas por veios calcáreos que contêm fósseis de invertebrados marinhos que remontam, possivelmente, ao Miocénico (Zbyszewski et al., 1961).

De ambos os lados dos Ilhéus das Formigas (E e O), o fundo marinho desce abruptamente até profundidades de 50-70m, sendo o declive menos acentuado nas extremidades norte e sul. Se analisarmos a posição das isóbatas mais profundas, verificamos que os ilhéus das Formigas se localizam precisamente no bordo Oeste do Banco das Formigas, que se desenvolve para Sudeste, entre os 60 e os 100 metros de profundidade (Zbyszewski et al., 1961) e onde se incluem outros picos com profundidades exploráveis por mergulho com escafandro autónomo, como o Recife Dollabarat.

O aspecto rectilíneo do bordo ocidental do Banco, sobre

o qual se situam precisamente os Ilhéus das Formigas e a vertente abrupta situada a Oeste destes, faz supor a existência de um acidente tectónico importante ao longo do qual se teriam produzido as erupções basálticas (Zbyszewski et al., 1961).

Apesar de acentuado, o gradiente de profundidade do Recife de Dollabarat é mais suave do que o dos Ilhéus. A plataforma explorável por mergulho é maior e o seu substrato é mais heterogéneo.

1.3. Breve historial das investigações biológicas

As primeiras referências relativas a organismos marinhos existentes nas Formigas são encontradas na narrativa de Gaspar Frutuoso, a qual é analisada por Chaves (1924). Este autor do século XVI relata que nas Formigas há “caranguejos, lapas, cracas e búzios, em tanta quantidade que é coisa de espanto ver a multidão de tal marisco”, acrescentando mais adiante que um “lobo marinho” (foca-monge, Monachus monachus) foi também avistado por pescadores de São Miguel junto aos ilhéus.

Novos relatos sobre os organismos que habitam esta zona só voltam a surgir em finais do século XIX, na sequência das expedições do navio italiano Corsaro, em 1886, que efectuou as primeiras recolhas científicas na zona, através de dragagem (vide Piccone, 1889, para uma análise das algas então recolhidas) e do navio monegasco Princesse

Alice, em 1895, que aí recolhe uma série de crustáceos (vide Milne-Edwards & Bouvier,

1899).

Após mais um período de omissão, só no último terço do século XX volta a surgir algum interesse científico sobre as comunidades biológicas das Formigas. Em 1971, a missão francesa Biaçores recolhe aí uma série de material do qual resulta um relatório preliminar sobre as algas por Ardré et al. (1973) – onde se destaca a recolha de Laminaria cf.

ochroleuca –, o registo da esponja Myxilla rosacea por Boury-Esnault & Lopes (1985) e a

descrição de uma nova espécie de microgastrópode da família Rissoidae por Gofas (1989).

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Laminaria ochroleuca

recolhida na expedição CANCAP-V

No começo da década de ‘80, em resultado de colheitas de insectos efectuadas nos Ilhéus das Formigas pelo Major A. Bivar de Sousa, Mendes (1980) descreve uma nova espécie de insecto da família Machilidae (ordem Microcoryphia) à qual dá o nome de

Parapetrobius azoricus.

No mesmo ano, uma publicação sobre copépodes dos Açores (Marques, 1980) regista a ocorrência de uma espécie de Harpaticoida para os Ilhéus.

Em 1981, a expedição holandesa CANCAP-V passa pelos Ilhéus das Formigas, procedendo a recolhas desde a zona intertidal até 2000m. Do relatório desta expedição, é de realçar a confirmação dos povoamentos de laminárias, que são registados a 45m de profundidade no lado leste das Formigas. Em 1990 e 1991, o Departamento de Biologia da Universidade dos Açores efectua duas expedições de uma semana aos Ilhéus. Os dados publicados até hoje incluem uma breve monografia sobre a área (Azevedo et al., 1991) e listas dos peixes (Arruda et al., 1992) e dos moluscos de baixa profundidade (Ávila e Azevedo, 1997) recolhidos durante as expedições.

Em 1995, um cruzeiro científico do Departamento de Oceanografia e Pescas da mesma Universidade (DOP/UAç), orientado para a monitorização das comunidades de peixes demersais, efectua um lance com palangre de fundo (“trole”) na área da Reserva, mas os dados discriminados não são objecto de publicação.

No mesmo ano, Brum & Azevedo (1995) registam pela primeira vez o tubarão-das-Galápagos Carcharhinus galapagensis para os Açores, com base em 4 indivíduos juvenis capturados junto dos Ilhéus das Formigas.

Já no Verão de 1996, uma equipa do DOP/UAç realiza, no âmbito da preparação de um

Roteiro para o Turismo Subaquático dos Açores (http://www.horta.uac.pt/scubazores),

alguns mergulhos nos Ilhéus das Formigas e Recife Dollabarat, tendo recolhido dados semi-quantitativos sobre as comunidades biológicas encontradas. Durante esta expedição, foi confirmada a singularidade do ambiente destes recifes ao nível dos Açores. Em poucas outras zonas do Arquipélago foram registadas biocenoses algais com tão avultada biomassa e raros foram os locais onde se registaram comunidades de espécies pelágicas com tão elevadas abundância, diversidade e exibição de exemplares de grandes dimensões.

Neste contexto de limitação de dados disponíveis, o presente projecto procurou, durante o Verão de 1999 e numa curta visita em 2000, compilar listas de espécies de fauna e flora marinha mais abrangentes, junto com estimativas da respectiva abundância por habitat, numa tentativa de descrever e mapear os principais biótopos marinhos da zona explorável por mergulho com escafandro autónomo.

2. COMUNIDADES BENTÓNICAS

As condições oceanográficas adversas que frequentemente assolam os Ilhéus das Formigas levam a que, mesmo os rochedos mais elevados, sejam completamente recobertos pelo mar durante as tempestades. Nesta situação, a flora e fauna terrestres estão completamente ausentes (Azevedo et al., 1991). À excepção das comunidades de Aves Marinhas, a análise que se segue refere-se apenas aos povoamentos encontrados na zona intertidal dos ilhéus e nas zonas subtidais dos recifes. Uma curta referências é feita às comunidades mais profundas, com base nos dados disponíveis sobre a comunidade de peixes demersais do Banco das Formigas.

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Caranguejo-fidalgo

Grapsus grapsus 2.1. Zona-entre-marés

2.1.1. Fisiografia

A única zona intertidal deste SIC está localizada nos pequenos Ilhéus das Formigas e caracteriza-se por um elevado grau de exposição à ondulação. Aí ocorrem desde superfícies emersas até poças de diferentes dimensões e situadas a diferentes alturas relativamente ao nível do mar.

2.1.2. Comunidades bentónicas emersas pela maré Algas

Nas superfícies emersas observou-se um claro zonamento em bandas. A cintura mais elevada (franja supralitoral) apresentou Verrucaria maura e cianobactérias endolíticas, embora a detecção destas últimas seja bastante difícil quando se desenvolvem em rochas de basalto negro. Ainda neste andar, foram observadas algumas cianófitas globulares, desenvolvendo-se, essencialmente, sobre superfícies com uma textura mais granulosa.

No medio-litoral inferior foram ainda registadas Stypocaulon scoparium, Corallina sp.,

Osmundea sp., Sargassum sp., Cystoseira abies-marina e duas espécies de algas não

identificadas.

Invertebrados

Também os invertebrados tenderam a apresentar uma distribuição em bandas, sendo

Littorina striata a espécie que surge na cintura mais elevada – a Franja Supralitoral.

Dando início ao Mediolitoral, era notória uma maior abundância de cracas (Chthamalus

stellatus).

Stramonita haemastoma foi registada frequentemente em

superfícies emersas deste andar, um facto muito pouco comum nas costas das ilhas, onde possivelmente é alvo de captura. Littorina striata (F) descia até ao mesmo nível, onde foi também registada a ocorrência ocasional de um insecto não identificado.

Atravessando todos estes níveis, é de salientar a presença do caranguejo-fidalgo Grapsus grapsus (A), que ocorre em densidades e tamanhos já muito raramente observados nas costas das ilhas.

Horizonte superior Horizonte médio Horizonte inferior Poças Littorina striata F F Insecta indet. R O Chthamalus stellatus O S Stramonita haemastoma P P O Isopoda indet. A Polychaeta tubícola (cf. Serpulidae) A Tedania anhelans R Coscinasterias tenuispinna P Paracentrotus lividus P Grapsus grapsus O F C F Total: 10 espécies

Distribuição e Abundância de Invertebrados na zona-entre-marés dos Ilhéus das Formigas (valores de abundância na escala SACFOR; P – presente mas dados de abundância não disponíveis)

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2.1.3. Poças Algas

Nas poças mais elevadas, foi observada uma predominância de clorófitas (nomeadamente, Enteromorpha sp.)

À medida que as poças se iam aproximando do nível do mar, ou seja, que o seu período de isolamento em relação a este ia diminuindo, os povoamentos registaram um semelhança crescente com os povoamentos subtidais.

Nas poças do mediolitoral inferior, observou-se Sargassum sp., Cystoseira cf. usneoides,

Padina pavonica, coralináceas erectas e rodófitas encrostantes (calcáreas e não

calcáreas).

Nas poças mais baixas e nos canais que mantinham um contacto permanente com o mar, foi registada uma maior abundância de Cystoseira cf. usneoides.

Nas recolhas avulsas de algas efectuadas nestes enclaves foram ainda registadas

Cystoseira abies-marina, Cystoseira sp., Osmundea sp., Jania sp., Centroceras clavulatum e uma alga não identificada.

Invertebrados

As espécies de invertebrados mais frequentes no interior de poças de maré foram poliquetas tubícolas (cf. Serpulidae), Stramonita haemastoma (gastrópode),

Coscinasterias tenuispina (estrela-do-mar) e Paracentrotus lividus (ouriço-do-mar) e Tedania anhelans (esponja).

Peixes

Os peixes encontrados nestes enclaves foram os cabozes-das-poças Parablennius

parvicornis e juvenis de tainhas (fam. Mugilidae). As poças de maiores dimensões e

situadas num nível mais baixo, apresentaram peixes de afinidades subtidais como

Ophioblennius atlanticus (rói-anzóis) e Thalassoma pavo (rainha).

Para além destas espécies, Arruda et al. (1992) referem ainda a captura nas poças intertidais dos Ilhéus, sobretudo através do uso de rotenona, das espécies Hippocampus

ramulosus (cavalo-marinho), Gaidropsarus guttatus (viúva), Phycis phycis (abrótea), Capros aper (peixe-pau), Epinephelus marginatus (mero), Serranus atricauda (garoupa), Trachinotus ovatus (prombeta), Pseudolepidaplois scrofa (peixe-cão), Parablennius ruber

(caboz-português), Tripterygion delaisi (caboz-de-três-dorsais), Scorpaena maderensis (rascasso) e Diplecogaster bimaculata pectoralis (peixe-ventosa).

2.2. Zona subtidal 2.2.1. Dados globais Algas

Durante as prospecções efectuadas no Banco das Formigas, 32 espécies de algas foram registadas: 14 rodófitas, 13 feófitas e 5 clorófitas. A zona em redor dos Ilhéus apresentou uma riqueza específica superior

com 27 espécies registadas, contra 20 espécies no Recife do Dollabarat. Tal facto deverá, porém, estar relacionado com o menor número de amostras recolhido neste recife – 4, contra 11 nos Ilhéus.

Em ambas as áreas, o padrão de abundância dos diferentes grupos parece ser idêntico, sendo as Feófitas e as Rodófitas os grupos mais ricos,

e as clorófitas o grupo com menor número de espécies.

Algas no Banco das Formigas

4 3 5 12 9 13 11 8 14 27 20 32 0 5 10 15 20 25 30 35 Formigas (11 levantamentos) Dollabarat (4 levantamentos) Total Nº de Espécies Clorófitas Feófitas Rodófitas Total

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Pensa-se, no entanto, que o número de espécies de rodófitas estará bastante subavaliado, devido ao facto de alguns grupos apenas terem sido identificados ao nível da família ou mesmo da ordem, por escassez de conhecimentos profundos de taxonomia botânica.

As observações in situ revelaram que a maior biomassa de algas frondosas se concentra nas faces superiores e coroas dos recifes, decrescendo ao nível das paredes, planos negativos, fendas e faces inferiores, onde nalguns casos se reduz a rodófitas e feófitas encrostantes.

Invertebrados

Um total de 76 espécies de invertebrados bentónicos foi registado durante as prospecções efectuadas no Banco das Formigas.

O Recife do Dollabarat apresentou um maior número de espécies registadas, ou seja, 55 espécies, o que corresponde a 72% do total. Três razões podem concorrer para este resultado: por um lado, o maior número de microhabitats que parece existir neste recife; por outro, a maior área explorável

por mergulho; e, por último, o maior número de prospecções efectuadas.

Com base nos registos por habitat, foi possível verificar que esta biodiversidade se encontra distribuída de forma desigual.

A maior riqueza está associada às faces verticais, onde ocorrem cerca de 51% das espécies registadas e onde todos os grupos (à excepção dos Equinodermes) apresentam uma riqueza mais elevada. As Faces Superiores e Coroas dos recifes, com cerca de 40% das espécies, são o segundo habitat mais rico. Tal preferência dos Invertebrados Bentónicos pelas faces verticais poderá prender-se com a atenuação de luminosidade que ocorre neste habitat que, ao prejudicar o crescimento das algas, favorece um maior desenvolvimento de espécies de Invertebrados.

Banco das Formigas Riqueza de Invertebrados Bentónicos por Habitat

0 2 4 6 8 10 12 Coroa e Faces Superiores (8 levantamentos) Faces Verticais (7 levantamentos) Planos Negativos (2 levantamentos) Fendas (5 levantamentos) Faces Inferiores (2 levantamentos) Substrato Móvel (1 levantamento) Nº de Espécies Espongiários Cnidários Poliquetas Crustáceos Moluscos Briozoários Equinodermes

Invertebrados bentónicos do Banco das Formigas

0 2 4 6 8 10 12 Poliquetas Moluscos Equinodermes Tunicados N º de Espécies Formigas (5 mergulhos; 48 spp.) Dollabarat (6 mergulhos; 55 spp.) Recife Intermédio (1 mergulho; 14 spp.)

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Batimetria dos Ilhéus das Formigas

2.2.2. Ilhéus das Formigas 2.2.2.1. Fisiografia

A zona subtidal dos Ilhéus, até 40m de profundidade, é dominada por leito rochoso irregular. Sobre este leito espalham-se fendas, algumas penetrando vários metros na rocha, que criam planos negativos e constituem microhabitats para uma série de espécies. De ambos os lados dos Ilhéus, o acentuado declive permite atingir rapidamente profundidades superiores a 40m. Imediatamente junto aos Ilhéus, este declive é mais evidente no lado oriental (vide figura anexa), onde abundam paredes que se estendem até cerca de 50m de profundidade. Nestas paredes ocorrem frequentemente planos negativos e pequenas grutas. Na base destas paredes foi encontrada uma plataforma onde se acumulava areia e blocos de rocha de dimensões variadas. Este substrato móvel continha uma grande quantidade de material biogénico, como fragmentos de conchas, algas calcáreas, espinhos e esqueletos de ouriços.

Do lado ocidental, foi detectado um patamar semelhante, mas o facto de se encontrar para além dos 50m de profundidade impediu a sua prospecção.

2.2.2.2. Comunidades bentónicas Algas

Um total de 27 espécies de algas foi registado nos Ilhéus das Formigas durante as prospecções, sendo 11 rodófitas, 12 feófitas e 4 clorófitas.

A distribuição das espécies variou consoante a zona das Formigas prospectada, pelo que em seguida se descrevem os padrões encontrados nas amostras de algas dominantes recolhidas nos diferentes mergulhos.

Ponta Norte das Formigas

A 15m de profundidade, a cobertura algal das faces superiores é predominantemente constituída por Cystoseira cf. usneoides acompanhada de algumas frondes de Dictyota sp., Sargassum sp., Halopteris filicina, Zonaria tournefortii e Asparagopsis armata.

Por seu lado, as superfícies verticais são ocupadas sobretudo por Halopteris filicina,

Cladophora sp., Dictyota sp., Delesseriáceas (cf. Acrosorium uncinatum) e Zonaria tournefortii.

Baía a Oeste do Farol

O povoamento dominante nesta baía variou entre as prospecções efectuadas em princípios de Junho de 1999 e um mergulho efectuado no início de Agosto de 2000. Em Junho de 1999, a prospecção revelou um povoamento onde Asparagopsis armata, crescendo sobre um tapete algal multispecífico, dominava entre os 5 e os 20m de profundidade

Em 2000, os primeiros 3 metros eram dominados por um povoamento de rodófitas encrostantes (calcáreas e não calcáreas) e Ceramiales de porte muito rasteiro.

Entre os 3 e os 7m, dominavam Dictyota spp., Cystoseira cf. usneoides e coralináceas erectas. A partir dos 10m, Dictyota (F) e Cystoseira (F) tornavam-se co-dominantes em conjunto com Halopteris filicina (F) e Cladophora sp. (F).

A partir dos 14m de profundidade, surgia Zonaria tournefortii, a qual se tornava progressivamente mais abundante até estabelecer um fácies para baixo dos 18m. Esta alga mantinha-se dominante (S) até cerca dos 30m.

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Coral-negro

Antipathes wollastoni

Esta aparente alteração do povoamento parece dever-se à diferença sazonal entre os mergulhos. Enquanto em 1999, as prospecções decorreram no fim da Primavera, altura em que os fácies de Asparagopsis que se desenvolvem durante esta estação do ano são ainda encontrados em vários locais, o mergulho de 2000 decorreu já no Verão, numa altura em que muitas das frondes de Asparagopsis já se destacaram, expondo o povoamento algal sobre o qual se desenvolvem.

Parede a Nordeste do farol

Recolhas avulsas efectuadas entre os 45 e os 50m, permitiram registar a presença de rodófitas carnudas e Microdictyon calodictyon.

Baixinha da Ponta Sul

A coroa da baixinha é dominada por coralináceas encrostantes e manchas de

Asparagopsis armata. A cerca de 20-25m de profundidade, as faces superiores (80% do

substrato) são dominadas por Zonaria tournefortii, Asparagopsis armata, Stypocaulon

scoparium, Halyptilon sp. (como epífito da espécie anterior), Plocamium cartilagineum e

Ceramiales. Por seu lado, as faces verticais (10% do substrato) são cobertas por um povoamento algal dominado por Ceramiales polissifonadas com algumas frondes de

Asparagopsis armata, Symphyocladia marchantioides, Dictyota sp. e Sargassum sp.

Outras recolhas

Um mergulho efectuado no lado oriental dos Ilhéus permitiu o registo de Ceramium

ciliatum, Meredithia microphylla, Osmundea sp., rodófitas carnudas, Symphyocladia marchantioides, cf. Heterosiphonia plumosa, Colpomenia sinuosa, Cystoseira cf. usneoides, Dictyota dichotoma, D. cf. volubilis, D. cf. ciliolata, Halopteris filicina, Sargassum cf. cymosum, S. cf. vulgare, Zonaria tournefortii e Microdictyon calodictyon

Recolhas avulsas noutros locais permitiram ainda o registo de Colpomenia cf. peregrina e

Dictyopteris membranacea. Invertebrados

Um total de 48 espécies distintas de Invertebrados bentónicos foram registadas durante as prospecções visuais efectuadas em redor dos Ilhéus.

Nos primeiros metros é de referir a presença de ouriços Arbacia lixula (A-F), cracas

Megabalanus azoricus e anémonas Corynactis viridis (C-O). Um fácies dominado por

estas espécies é particularmente evidente em pequenos recifes situados nas pontas Sul e Norte dos Ilhéus. É de referir, porém, que a grande maioria (80%-95%) das cracas se encontram mortas, o que dá aos indivíduos vivos uma abundância apenas Ocasional ou Rara. Outras espécies não exclusivas que se destacam sobre este fácies são os hidrários da espécie Aglaophenia cf. pluma (S) e o gastrópode Stramonita haemastoma (F). Nas faces superiores, as espécies de invertebrados mais frequentes são esponjas de coloração laranja (cf. Tedania anhelans) (F), hidrários aglaofenídeos (F), o gastrópode

Stramonita haemastoma e o caranguejo-eremita Calcinus tubularis (F).

As paredes são dominadas por esponjas (cf.

Ircinia/Sarcotragus) (C) e hidrários aglaofenídeos (A-F), aos

quais se juntam Stramonita haemastoma (A), Arbacia lixula (F) e

Megabalanus azoricus (ind.s vivos - R) com particular abundância nas zonas superficiais (0-5m).

A profundidades superiores a 15m, colónias de coral-negro

Antipathes wollastoni (F) surgem sobre as paredes, sendo de

salientar o desenvolvimento exuberante que atingem a partir dos 30m (A). Este fácies de Antipathes é bem evidente nas paredes quase verticais a nordeste do Farol, as quais se prolongam até profundidades de cerca de 50m. Na zona mais profunda desta parede (30-50m), foram ainda registados o poliqueta Hermodice carunculata (F) e um hidrário do género

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Povoamento subtidal de

Cystoseira no Dollabarat

Batimetria e extensão aproximada dos bancos de

Cystoseira

Halecium (recolhido a cerca de 45-50m).

No interior das cavidades e planos negativos das paredes, desenvolve-se um conjunto distinto de espécies onde as espécies mais abundantes são esponjas (como Ircinia

fasciculata, Sarcotragus spinosulus ou Petrosia ficiformis), hidrários aglaofenídeos,

anémonas Parazoanthus (localmente, S) e Corynactis viridis (localmente, A), bivalves da espécie Pinna rudis (F), cavacos Scyllarides latus (R), briozoários do género Bugula (A) e cf. Schizoporella (A-F), e ouriços Centrostephanus longispinus (F). Entre as espécies não exclusivas encontradas neste tipo de habitats, encontramos ainda o gastrópode

Stramonita haemastoma e caranguejos-eremita da espécie Calcinus tubularis. 2.2.3. Recife Dollabarat

2.2.3.1. Fisiografia

Os fundos do recife Dollabarat são igualmente compostos por um leito rochoso irregular. Em relação às Formigas, a maior irregularidade do substrato parece gerar uma maior diversidade de micro-habitats, com múltiplas superfícies horizontais, verticais e um retículo de fendas mais ou menos profundas (>1m) sobre a coroa.

A coroa do recife é composta por uma plataforma de leito rochoso irregular que se prolonga até uma profundidade que varia entre os 10 e os 18m, dependendo do flanco do recife. Por volta destas profundidades, o leito adquire maior declive e forma uma parede relativamente inclinada, percorrida por algumas fendas mais ou menos profundas, que desce até mais de 40m. Este declive é interrompido por alguns pequenos socalcos onde se acumula uma película de areia grosseira (1-4mm) de espessura variável e alguns blocos de rocha.

2.2.3.2. Comunidades bentónicas Algas

Relativamente aos fundos em redor dos Ilhéus, o Recife de Dollabarat apresenta uma cobertura algal mais profusa, embora aparentemente menos rica em número de espécies. Durante as prospecções efectuadas sobre o Recife, foram registadas 20 espécies de algas, sendo 8 rodófitas, 9 feófitas e 3 clorófitas. A coroa do recife é luxuriantemente revestida por um denso povoamento de Cystoseira cf.

usneoides (S-A), que cobre a

maior parte das faces superiores. As frondes desta alga apresentam normalmente uma altura de cerca de 30cm, mas foram já registadas frondes com mais de 1m de comprimento. Na sua base, encontram-se coralináceas encrostantes (F-O) e sobre elas

crescem frequentemente epífitas como Ulva rigida (O-R). Nas diversas fendas que recortam o substrato, as espécies mais abundantes são rodófitas encrostantes (calcáreas e não calcáreas) e rodófitas carnudas de diversas espécies (em identificação). Outras espécies registadas nesses

microhabitats foram Sphaerococcus coronopifolius,

Hypoglossum hypoglossoides, Dictyopteris membranacea e Cladophora sp.

Nos fundos de menor profundidade (6-8m), é ainda de mencionar uma mancha localizada, com algumas dezenas de metros de extensão, onde a cobertura é dominada por coralináceas encrostantes, em vez de Cystoseira, o que

(15)

parece estar relacionado com um fenómeno de herbivoria gerado por densidades invulgares de ouriços-do-mar (Paracentrotus lividus e Arbacia lixula). No Verão de 1999, a extensão destas áreas relativamente às zonas cobertas pelo denso povoamento de

Cystoseira era, aparentemente, pequena. A recolha de mais dados será, no entanto,

necessária para poder confirmar este facto e avaliar se estas zonas se encontram em expansão, fazem parte de um fenómeno de sucessão natural, ou resultam de algum desequilíbrio antropogénico (nomeadamente, efeitos de cascata derivados da pesca dos peixes predadores de ouriços).

Para baixo dos 20m, o substrato tende a ser constituído por faces verticais. Estas paredes não apresentam um revestimento de Cystoseira, sendo antes recobertas por rodófitas encrostantes (calcáreas F e não calcáreas C), algas filamentosas da ordem Ceramiales (C), rodófitas carnudas (F), Sargassum cf. cymosum (O) e Zonaria

tournefortii. À medida que descem, estas paredes são interrompidas por socalcos, onde a

cobertura de algas erectas se torna progressivamente mais esparsa, evidenciando-se uma cobertura de coralináceas encrostantes e um povoamento rasteiro musciforme de algas pouco frondosas. Algumas frondes de Cystoseira persistem sobre estas plataformas, mas a sua densidade e desenvolvimento é muito menor.

Invertebrados

Um total de 55 espécies diferentes de Invertebrados bentónicos foi identificado durante as prospecções visuais efectuadas no Dollabarat.

À excepção de alguns hidrários (por exemplo, Aglaophenia cf. pluma), que crescem sobre as frondes de Cystoseira, a maior parte dos Invertebrados da coroa do Dollabarat é encontrada dentro das fendas que recortam o substrato. Aí habitam esponjas (cf. Aplysilla A-O, Clathrina sp., cf. Ircinia/Sarcotragus A), hidrários aglaofenídeos (localmente, C), anémonas da espécie Corynactis viridis (S-C) e do género Parazoanthus (S-F), caranguejos-eremitas Calcinus tubularis (F) e gastrópodes das espécies Stramonita

haemastoma (C-F) e Calliostoma zizyphinum.

Em algumas manchas de leito rochoso irregular situadas a 6-8m de profundidade, foram detectadas manchas de várias dezenas de metros dominadas por densos povoamentos dos ouriços Paracentrotus lividus e Arbacia lixula, os quais parecem gerar um fenómeno de herbivoria responsável por uma comunidade algal composta predominantemente por rodófitas encrostantes (calcáreas e não calcáreas).

Sobre os flancos do Recife, o habitat predominante são as paredes. As espécies mais abundantes sobre estas faces (sub)verticais são esponjas (como Ircinia fasciculata, cf.

Tedania anhelans, cf. Aplysilla sp., Clathrina sp.), hidrários do género Aglaophenia (C-F),

anémonas Parazoanthus (C-F), poliquetas Hermodice carunculata (F), caranguejos-eremitas Calcinus tubularis (F) e Dardanus callidus (F), gastrópodes Stramonita

haemastoma (F), opistobrânquios aeolidáceos (F), briozoários encrostantes de coloração

laranja (cf. Schizoporella - A-F) e arborescentes do género Bugula (localmente, F), e ouriços-de-espinhos-longos Centrostephanus longispinus (F).

Colónias de coral-negro Antipathes wollastoni desenvolvem-se nestas paredes a partir dos 15m de profundidade, sendo de particular relevância o desenvolvimento que atingem no lado oriental do Recife a partir dos 30m (F).

Nas fendas, a fauna típica é composta por espécies crípticas como esponjas da espécie

Petrosia ficiformis (O), corais-taça Caryophyllia sp. (A-C), anémonas Parazoanthus sp.

(localmente, S), cavacos Scyllarides latus (R), briozoários encrostantes (cf. Schizoporella – A-C) e arborescentes (Bugula sp. – A), caranguejos-eremitas das espécies Calcinus

tubularis (localmente, F) e Dardanus callidus (localmente, F) e por ouriços das espécies Centrostephanus longispinus (A-C) e Sphaerechinus granularis (O).

(16)

MDS blocos profundo laje banco Dollabarat e Formigas baixas Faial baixas Corvo e S.Maria superfície interm. costeiras profundos

Ordenação das estações monitorizadas no Faial, S. Maria, Corvo e Banco das Formigas. Dados referentes ao

segmento móvel da comunidade de peixes.

2.2.4. Recife Intermédio 2.2.4.1. Fisiografia

As sondagens batimétricas efectuadas permitiram a detecção de um recife com profundidade inferior a 40 metros entre as Formigas e o Dollabarat. A sua coroa estava situada a uma profundidade de 20-25m e o seu substrato era formado por um leito rochoso irregular com várias fendas e fissuras.

2.2.4.2. Comunidades bentónicas

Apenas uma prospecção foi efectuada neste recife. A comunidade algal era dominada por Cystoseira cf. usneoides, tal como o recife Dollabarat. Catorze espécies de invertebrados foram registadas no recife: 2 espongiários, 4 hidrários, 1 poliqueta, 1 crustáceo, 2 gastrópodes, 1 briozoário e 3 equinodermes. Os escassos dados disponíveis parecem indicar maiores semelhanças com o Dollabarat do que com os Ilhéus.

3. COMUNIDADES DE PEIXES

Um total de 45 espécies de peixes foi registado no Banco das Formigas durante as prospecções efectuadas no âmbito do projecto MARÉ.

Se compararmos as comunidades de peixes das estações amostradas nas diferentes ilhas através de análise multivariada (MDS), constatamos que as estações do banco das Formigas aparecem claramente diferenciadas das restantes, revelando o carácter único deste Sítio.

Estes resultados evidenciam ainda o valor dos SIC no seu conjunto para gestão e conservação dos recurso marinhos do Arquipélago. De facto, para além do valor individual de cada um dos complexos considerados no projecto MARÉ (Ilha do Corvo, Canal Faial-Pico e Banco das Formigas), existe um claro valor acrescentado decorrente da integração dos vários SIC numa futura rede açoreana de áreas marinhas protegidas.

Utilizando os resultados da análise da estrutura das comunidades de peixes costeiros como indicador da biodiversidade marinha, destaca-se a evidência de que as variáveis ambientais têm uma clara influência na estruturação das comunidades de peixes costeiros. A profundidade e o tipo de fisiografia/grau de exposição parecem ser os principais descritores da comunidade subtidal de peixes costeiros, distinguindo as comunidades associadas à área superficial (0-40 mt) de recifes de largo (por exemplo, Banco das Formigas), a baixas intermédias (por exemplo Baixas do Canal), os pináculos submarinos adjacentes à costa (como o Moldinho no Corvo) e a zonas costeiras das próprias ilhas (onde o grau de exposição é o principal discriminador de comunidades). O tipo de fundo exerce uma influência menor (exceptuando a distinção entre fundos arenosos e rochosos). Estas conclusões revestem-se de grande importância na gestão dos SIC, indicando que se deverão proteger uma série de sítios representativos da variedade de habitats e comunidades dos Açores e assim precaver a degradação das várias comunidades biológicas características desta região. Os mesmos dados realçam ainda a necessidade de ter em conta o aspecto funcional dos diferentes tipos de habitat na dinâmica das populações, que as usam como zonas de reprodução, crescimento e alimentação ao longo do seu ciclo de vida.

(17)

Jamantas Mobula tarapacana nº espécies / transecto 0 4 8 12

16 Formigas Corvo Faial Sta. Maria

log (nº+1) / transecto

0 2 4 6

8 Corvo Faial Sta. Maria Formigas

Corvo Faial S.ta Maria Formigas

Riqueza específica, abundância e índice de diversidade de Shannon-Wienner médios da comunidade de peixes móveis por ilha (substrato rochoso, todas as obervações de Maio a Setembro). as barras representam a média e as linhas o desvio padrão; as estações unidas por linhas no topo de cada gráfico não diferem significativamente após comparação post-hoc (p<0.05)

n=125 n=187 n=88 n=87

Patruça xântica

Kyphosus sp.

Analisando ainda a variação de alguns índices ao nível do Arquipélago, continua a verificar-se a distinção das comunidades de peixes do Banco das Formigas. Agrupando as contagens em fundo rochoso realizadas entre Maio e Setembro de 1999 (o período em que se efectuaram contagens nas quatro ilhas), verificamos que existem variações significativas para a riqueza específica (gl=3, F=5.1, p=0.002) e abundância (gl=3, H=77.0, p<0.001) – vide figuras anexas. A riqueza específica média nas contagens das Formigas é a mais elevada, sendo significativamente maior do que a encontrada na outra ilha do Grupo Oriental que foi prospectada (Santa Maria). O número de indivíduos por transecto também é o mais elevado, sendo significativamente diferente da abundância encontrada nas ilhas dos grupos Ocidental e Central. Em resumo, pode descrever-se a comunidades de peixes que habita estes recifes da forma que se segue.

O povoamento de peixes pelágicos dos recifes é particularmente rico e exuberante. As espécies mais abundantes são a serra (Sarda sarda), os lírios (Seriola rivoliana e S.

dumerili), o peixe-porco (Balistes carolinensis), a bicuda (Sphyraena viridensis) e a

patruça (Kyphosus sp.). Em relação a esta última, é de realçar a presença de indivíduos de coloração xântica nos grandes cardumes observados sobre os recifes. As espécies pelágicas migratórias que visitam os Açores nos meses de temperatura mais elevada são também avistadas com frequência, como o atum-patudo (Thunnus obesus), o bonito (Katsuwonus

pelamis) e a jamanta (Mobula tarapacana). Algumas espécies de

tubarões, como o tubarão-das-Galápagos (Carcharinus galapagensis) e o tubarão-martelo (Sphyrna zygaena), foram também já registadas nesta área. A nível bentónico, a abundante cobertura algal suporta múltiplas espécies que a usam para se alimentarem, abrigarem, ou mesmo nidificarem. Cardumes numerosos de rainhas juvenis (Thalassoma

pavo) e bodiões-verdes (Centrolabrus trutta) podem ser

observados com grande frequência, enquanto se movimentam sobre e por entre as bem desenvolvidas frondes de Cystoseira.

(18)

Peixe-cão

Pseudolepidaplois scrofa

Neste aspecto, é de realçar que este habitat único, embora situado em pleno ambiente oceânico, parece constituir uma zona de excelência para algumas espécies típicas de zonas costeiras mais abrigadas, como é o caso do bodião-verde que, beneficiando da exuberante cobertura de Cystoseira que utiliza na construção do seu ninho, apresenta nesta área uma população nidificante muito maior do que nas restantes zonas do arquipélago. As inúmeras fendas que rasgam o substrato abrigam várias espécies crípticas como o congro (Conger conger), moreia

(Muraenidae spp.), mero (Epinephelus marginatus) e grandes abróteas (Phycis phycis).

Um pouco acima do substrato, ocorrem espécies bentopelágicas como a veja (Sparisoma cretense), o

badejo (Mycteroperca fusca), o peixe-cão

(Pseudolepidaplois scrofa) e a garoupa (Serranus

atricauda).

De particular relevância é o facto de, em ambos os recifes, se observar nitidamente uma abundância e

ocorrência mais elevadas de indivíduos de maiores dimensões de espécies carnívoras predadoras, quer pelágicas quer bentónicas, quando comparadas com outras zonas do Arquipélago.

4. ESPÉCIES DE INTERESSE COMERCIAL 4.1. Caranguejos e Lapas

De especial realce é a população de caranguejo-fidalgo Grapsus grapsus encontrada nos Ilhéus das Formigas - provavelmente, a mais bem conservada do Arquipélago. Já muito raramente e só em trechos de costa inacessíveis de algumas das ilhas menos povoadas do Arquipélago, se encontram indivíduos tão grandes como os que se observaram nos Ilhéus. Tal situação pode ser atribuída ao facto de esta espécie estar a auferir, provavelmente, de raramente se verificar presença humana nos Ilhéus durante a noite, altura em que estes caranguejos estão mais disponíveis na zona intertidal e são tradicionalmente capturados.

O mesmo já não acontece com as lapas, que estando disponíveis para captura ao longo de todo o ciclo diário, revelaram um declínio brutal relativamente aos valores populacionais encontrados uma década antes: as capturas por unidade de esforço (kg/30min) decresceram de 13 kg em 1989 para 400 g em 1999 – vide tabela anexa.

Ilha/Área Ano Captura máxima (kg/30min)

Formigas 1989 13,0 1999 0,4 São Miguel 1986 3,0 1989 0,3 2000 0,8 Pico 1986 1,9 1998 4,9 Faial 1986 1,5 1989 0,9 1998 3,5

Monte da Guia (Zona de interdição à 1989 2,0

captura de lapas) 1997 3,8

Flores 1987 11,5

1989 8,0

Corvo 1989 10,0

1999 8,4

Monitorização do estado das populações de lapas no Arquipélago. Dados gentilmente cedidos pelo Projecto RIVA.

(19)

A diminuição das capturas nas Formigas é a mais drástica de todas as verificadas no Arquipélago, e a captura obtida em 1999 é a mais baixa de todas as efectuadas, sendo apenas comparável às efectuadas na ilha de São Miguel em 1989 e 2000. Estes dados parecem mostrar que o manacial de lapas das Formigas mostra sinais evidentes de colapso. Esta evidência é ainda mais preocupante pois mostra que as medidas de protecção de que a área goza, quer pelo estatuto de Reserva Natural, quer pela regulamentação da apanha de lapas instituída após 1989 (zona de interdição de captura de lapas), não estão a ser cumpridas.

Vários factores devem concorrer para este decréscimo. Em primeiro lugar, existem indicações de que a captura ilegal nos ilhéus tem sido, durante a última década, prática corrente. Esta captura é efectuada não só por visitantes sazonais que se deslocam aos ilhéus durante os meses com condições de mar mais favoráveis (Verão), mas também pelas tripulações de embarcações de pesca profissional, que reconhecem aproveitar as deslocações ao Banco das Formigas para desembarcar e apanhar lapas, fidalgos e cracas.

Em segundo lugar, o efeito das capturas terá sido potenciado pelo facto de a superfície de habitat disponível nesta área ser extremamente reduzida, facilitando a deplecção do stock. Em terceiro lugar, sendo a lapa uma espécie hermafrodita protândrica (Martins et al., 1987), a captura dos indivíduos maiores e decréscimo dos tamanhos médios da população deverá ter conduzido ao rápido decréscimo de fêmeas e, consequentemente, de produção de ovos. Finalmente, o isolamento geográfico do Banco e, provavelmente, as condições oceanográficas de meso-escala, reduzem significativamente as probabilidades de recolonização a partir de stocks das ilhas mais próximas.

Estes factores apontam também para grandes dificuldades na recuperação do stock. É, por isso, absolutamente necessária o respeito absoluto pela proibição de capturas.

4.2. Peixes costeiros

A análise da importância do Banco das Formigas em termos de reserva de populações menos degradadas de espécies de valor comercial pode ser efectuada se tomarmos como exemplo a estrutura etária (tamanhos) e sexual das populações de três das espécies de maior valor comercial e mais capturadas pela frota regional costeira: a garoupa, o mero e a veja.

Na garoupa, espécie hermafrodita simultânea, as classes de tamanho grande e muito grande aparecem melhor representadas nas Formigas e na ilha do Corvo, comparativamente às ilhas de Santa Maria e Faial, onde o esforço de pesca dirigida a esta espécie é substancialmente maior.

O mesmo sucede com o meros, substancialmente maiores nas Formigas, quando comparados com as ilhas do Corvo e, sobretudo, Faial, onde o esforço de pesca por anzol e caça submarina ilegal é mais elevado. Consequentemente, o sex ratio operacional (neste caso, sem a classe de tamanho pequena, que engloba os indivíduos imaturos) também revelou diferenças substanciais entre as ilhas. Apenas nas Formigas o sex ratio se aproxima de um macho para uma fêmea, em resultado da maior abundância relativa de indivíduos grandes e muito grandes, ao contrário das ilhas do Faial e Corvo, onde os machos constituem apenas cerca de um quarto da população. No caso da veja, a contribuição relativa dos tamanhos maiores é mais elevada na ilha do Corvo, a única onde não é exercida a pesca com redes fundeadas dirigida a esta espécie. O sex ratio também mostra variações significativas entre estas ilhas, com garoupa 0% 20% 40% 60% 80% 100%

S. Maria Faial Corvo Formigas

frequência relativa mero 0% 20% 40% 60% 80% 100%

S. Maria Faial Corvo Formigas

frequência relativa

(20)

metade da contribuição das fêmeas nas ilhas exploradas. Mesmo nas Formigas, ambiente oceânico e altamente hidrodinâmico onde a espécie aparece em reduzida abundância, o sex

ratio operacional é semelhante ao da Ilha do

Corvo.

Nota: Nos gráficos as ilhas estão ordenadas por ordem decrescente de esforço de pesca dirigida às três espécies; os números acima das barras representam o

sex ratio M:F operacional (sem contribuição dos indivíduos imaturos).

Entre as duas áreas amostradas no Banco das Formigas, Ilhéus das Formigas e Recife do Dollabarat, as diferenças de abundância e biomassa para as espécies de valor comercial não foram, no geral, significativas. As excepções são a garoupa e o mero, com biomassa mais elevada no Recife do Dollabarat.

Os dados informais disponíveis (provenientes de entrevistas a pescadores, a utilizadores recreativos e a cientistas participantes em expedições efectuadas às Formigas ao longo dos anos) indicam que estas são duas das espécies bentónicas mais capturadas na pesca de anzol sobre os fundos baixos da área e também pela caça submarina, que nos últimos anos ali tem sido praticada clandestinamente. Essa informação indica igualmente que a pesca, sobretudo a caça submarina, incide maioritariamente sobre a zona dos ilhéus das Formigas. Deste modo, a coincidência entre os dados dos censos visuais e da pesca pode indicar que as populações no Banco das Formigas mostrem já algum impacto da sua exploração.

A possibilidade de impacto da pesca no banco das Formigas ganha também maior consistência se tivermos em consideração que a comunidade ‘costeira’ do Banco das Formigas é particularmente vulnerável à sua exploração e de mais difícil recuperação, pois i) o habitat disponível na zona é muito reduzido (a área acima dos 200 metros é de 3628 ha de área plana, e a área acima dos 50 metros é ainda mais reduzida e ii) a distância superior a 20 milhas e as grandes profundidades (>1000 metros) que separam o Banco das Formigas das costas mais próximas tornam muito reduzida a taxa de imigração de indivíduos adultos a partir daqueles habitats. A ser assim, estas evidências indicam que o estatuto de protecção da Reserva Natural das Formigas não é actualmente eficaz para proteger a comunidade daquela área, e que a protecção da área em função dos objectivos de conservação actualmente consagrados pela lei (reserva e SIC) implica uma revisão das medidas de conservação aí implementadas.

4.3. Comunidades demersais

Cobrindo uma área e habitats que variam desde a superfície até profundidades de 1700 metros, o Banco das Formigas representa um ambiente de monte submarino, onde a área acessível a mergulho com escafandro autónomo é apenas uma reduzida porção do seu total. Por outro lado, se as comunidades identificadas naquela área superficial parecem definitivamente distintas das demais que ocorrem no arquipélago, elas partilham também um grande grau de interligação funcional com as comunidades mais profundas que utilizam o monte como área vital durante a sua vida ou parte dela. Esta interligação, típica dos ambientes de monte submarino, resulta sobretudo da acentuada troca de energia entre os componentes da comunidade, que se comportam como um todo, e da produtividade elevada que caracteriza estes ambientes quando comparada com os ambientes pelágico, mesopelágico e abissal adjacentes (Rogers, 1994; Koslow, 1997). De facto, os indicadores utilizados apontam para que o Banco das Formigas apresente uma produtividade comparativamente elevada. Este facto parece evidente, por exemplo, quando consideramos a cobertura algal anormalmente elevada no topo do recife do Dollabarat, a presença de comunidades profundas de Laminaria ochroleuca ou os fácies exuberantes de organismos sésseis suspensívoros, como os corais-negros Antipathes e as anémonas Corynactis. Esta produtividade deverá ser suportada por um forte aporte de

veja 0% 20% 40% 60% 80% 100%

S. Maria Faial Corvo Formigas

frequência relativa

pequeno médio grande muito grande

1:0,5

(21)

Peixes demersais: composição do lance efectuado em 1995 junto dos Ilhéus das Formigas. Dados gentilmente cedidos por Gui Menezes

(DOP/UAç) 0 20 40 60 80 100 120 140 160 51-100 101-150 151-200 201-300 301-400 401-500 501-600

Estratos de profundidade (em metros)

CPUE

(nº de ind. capturados/1000 anzóis)

Abrótea Phycis phycis Bagre Pontinus kuhlli

Boca-negra Helicolenus dactylopterus Ruivo Aspitrigla cuculus

Cavala Scomber japonicus Goraz Pagellus bogaraveo Pargo Pagrus pagrus Rocaz Scorpaena scrofa

nutrientes provenientes de afloramentos de águas profundas, fenómeno típico do ambiente de monte submarino em resultado das condições oceanográficas de circulação e retenção que normalmente ocorrem nestes ambientes. Por exemplo, muitas espécies bentopelágicas e mesopelágicas típicas de ambientes de monte submarino efectuam migrações verticais associadas a alimentação (Rogers, 1994; Koslow, 1997).

Desta forma, a compreensão e gestão de todo o Banco das Formigas de forma integrada afigura-se quase obrigatória. Infelizmente, o conhecimento da ecologia das comunidades de áreas mais profundas deste e de outros ambientes similares na região dos Açores encontra-se ainda numa fase precoce, particularmente no que diz respeito aos grupos taxonómicos mais baixos e aos povoamentos bentónicos.

Em 1995, o cruzeiro de demersais do DOP/UAç efectuou um lance experimental com palangre de fundo (trole) junto das Formigas (Gui Menezes, dados não publicados). Da composição em profundidade da captura efectuada destacam-se o boca-negra

Helicolenus dactylopterus, o goraz Pagellus bogaraveo, o bagre Pontinus kuhlli, e a

abrótea Phycis phycis – vide figura anexa.

Por serem escassos e provenientes de apenas um lance de pesca, tais dados apresentam óbvias

limitações em termos de representatividade, pelo que devem ser entendidos apenas como uma primeira aproximação à caracterização das espécies piscícolas comerciais que habitam o Banco das Formigas para além das profundidades exploráveis por mergulho. No entanto, esta informação permite-nos verificar que as espécies mais

representativas deste lance são fundamentalmente espécies que constituem os segmentos típicos da comunidade demersal nos bancos submarinos dos Açores, tal como caracterizados pelos programas de caracterização e monitorização efectuados pelo grupo de trabalho das pescas do DOP/UAç na última década (ver Menezes et al., 2000, e respectivas referências). É assim de esperar que as comunidades demersais que habitam o Banco apresentem uma composição no essencial semelhante àquela, que é constituída por três grande povoamentos interligados entre si (ver figura na página seguinte):

- um povoamento característico dos estratos menos profundos (até aos 150-200 m), dominado por espécies como a moreia Muraena helena, o sargo Diplodus sargus, a garoupa Serranus atricauda, a cavala Scomber japonicus, o besugo Pagellus acarne, a boga Boops boops, a abrótea Phycis phycis e o cação Galeorhinus galeus;

- um povoamento típico de profundidades intermédias (dos 200 aos 650 m) que integra a maioria das espécies alvo da pescaria demersal, como o goraz, o boca-negra, o bagre, o alfonsim Beryx splendens, o imperador Beryx decadactylus, a abrótea-do-alto Phycis

blennoides, o congro Conger conger, o cherne Polyprion americanus, o

peixe-espada-branco Lepidopus caudatus e várias espécies de macrurídeos;

- um povoamento típico dos estratos mais profundos (entre os 650 e os 1200 m), menos diverso e dominado por espécies carnívoras como a melga Mora moro, o congrinho-da-fundura Synaphobranchus kaupi, as sapatas Deania spp., as lixinhas Etmopterus spp., a escamuda Epigonus telescopus e o peixe-espada-preto Aphanopus carbo.

(22)
(23)

A estas comunidades piscícolas deverão estar associadas biocenoses de invertebrados bentónicos típicas de montes submarinos no Atlântico Norte, com cnidários e esponjas de profundidade (Rogers, 1994).

Por outro lado, as abundâncias obtidas no único lance efectuado no Banco das Formigas são substancialmente mais reduzidas quando comparadas com as capturas efectuadas em outros bancos do grupo central no mesmo cruzeiro (G. Menezes, dados não publicados). Embora de representatividade reduzida, este facto pode ser indicativo de menor produtividade da comunidade demersal do Banco, reflectindo menor disponibilidade de habitat vital para as espécies que a compõem – o Banco das Formigas apresenta vertentes de pendor mais elevado quando comparado com os outros bancos submarinos estudados –, mas pode igualmente indicar alguma sobre-exploração dos stocks residentes associados ao monte. Os dois factores podem ainda actuar em conjunto, o primeiro acentuando o efeito do segundo. A este propósito, a evolução das capturas no grupo Oriental do Arquipélago, quer em descargas oficiais, quer proveniente dos dados independentes do Cruzeiros, mostra um decréscimo acentuado nos últimos anos, com tendência para aumentar (Menezes, et al., 2000).

Do que atrás foi dito, pode-se dizer que:

- As comunidades demersais e bentopelágicas associadas aos estratos mais profundos do banco das Formigas estão ainda muito mal estudadas, incluindo as comunidades de invertebrados bentónicos. Só o preenchimento desta lacuna através do estabelecimento de programas futuros de caracterização e monitorização das espécies, comunidades e habitates ao nível do SIC (até aos 200 m de profundidade) e ao nível da actual Reserva Marinha, que inclui o banco na sua totalidade (até aos 1700 m), permitirá compreender o valor conservacionista do Banco como unidade ecológica representativa de banco submarino da região.

- A protecção do Banco das Formigas, para além de promover a manutenção do estado de conservação actual das comunidades associadas e garantir, assim, um nível aceitável de representatividade, constitui uma boa oportunidade para avaliar o potencial do efeito de reserva no repovoamento das comunidades de peixes de interesse comercial no banco e nos bancos adjacentes.

4.4. Tunídeos

No âmbito do Programa de Observação para as Pescas dos Açores (POPA), que anualmente cobre cerca de 50% da frota atuneira através do embarque de observadores, foram recolhidos alguns dados sobre as actividades de pesca de atum na área. Utilizando um rectângulo definido pelos paralelos 37º09’N e 37º21’N e pelos meridianos 25º53’W e 25º37’W, que abarca aproximadamente a área da Reserva, foram analisadas as capturas de tunídeos nas embarcações atuneiras com observador a bordo que pescaram na área nos anos de 1998 e 1999. Ano 1998 1999 2000 Katsuwonus pelamis 6497 kg 10845,5 kg 0 kg Thunnus obesus 5184 kg 0 kg 0 kg Thunnus albacares 183 kg 0 kg 0 kg

Capturas totais de tunídeos na área da Reserva Natural dos Ilhéus das Formigas em embarcações atuneiras com observador a bordo. Dados gentilmente cedidos pelo Programa

POPA.

Os resultados (R. Feio, dados não publicados) apontam o bonito Katsuwonus pelamis e o patudo Thunnus obesus como espécies mais capturadas, a exemplo do que acontece a nível do Arquipélago. De resto, apenas mais uma espécie foi capturada na área, o albacora Thunnus albacares, mas em muito menor quantidade. Tais capturas valores apontam para uma reduzida importância deste Banco ao nível da pesca de tunídeos pois tais valores totais são facilmente atingidos numa única descarga.

(24)

Na mesma base de dados, nenhum registo de captura de isco vivo existe na área da reserva, o que parece indicar que também para esta actividade a área apresenta uma importância muito reduzida. Segundo o mesmo programa, os barcos que mais frequentemente demandam o Banco das Formigas são provenientes da Ilha de Santa Maria e visitam a área da Reserva quase exclusivamente durante o mês de Agosto.

5. CETÁCEOS E TARTARUGAS Cetáceos

Recorrendo ao mesmo rectângulo geográfico utilizado no caso dos tunídeos, foram analisados os avistamentos realizados por observadores do mesmo Programa (POPA) embarcados nos atuneiros que utilizaram a área nos anos de 1998, 1999 e 2000. Os escassos dados destacam a toninha-pintada Stenella frontalis (3 ocorrências na área), as baleias-de-bico da família Ziphidae (3 ocorrências), os roazes Tursiops truncatus (2 ocorrências), o cachalote Physeter macrocephalus (1 ocorrência) e o golfinho-comum

Delphinus delphis (1 ocorrência) como espécies registadas para a área. É de admitir que,

à semelhança dos outros montes submarinos dos Açores, o banco das Formigas represente uma área de alimentação preferencial para os cetáceos, embora os escassos dados disponíveis não o reflictam ainda. Tal processo estaria associado à processos de afloramento (“upwelling”) responsáveis por uma maior produtividade - notória a nível das comunidades bentónicas e pelágicas - que gerará maiores concentrações de espécies-presa.

Devido à distância que separa o Banco das Formigas das ilhas adjacentes, os cetáceos que aí ocorrem não estão actualmente submetidos a pressões provenientes da actividade turística de observação de cetáceos (whale-watching).

Tartarugas

São ainda escassos os dados disponíveis sobre a ocorrência da espécie Caretta caretta no SIC. Dados provenientes do Programa POPA, registam 10 ocorrências da espécie no rectângulo de busca definido pelos paralelos 37º09’N e 37º21’N e pelos meridianos 25º53’W e 25º37’W, entre 1998 e 2000.

Durante a viagem Ponta Delgada-Formigas-Ponta Delgada, realizada em 31 de Julho - 1 de Agosto de 2000 por um elemento do projecto, foram registados 5 tartarugas-careta. Destas, 3 encontravam-se dentro da área da Reserva. Salvaguardando a limitação que representa a pontualidade de tal “transecto”, esta densidade de avistamentos pode constituir um indicador da utilização preferencial que esta espécie faz dos bancos submarinos, já que o percurso efectuado dentro da Reserva (16M aprox.) foi apenas cerca de 14% do percurso total (112M aprox.). Ao associarem-se aos bancos submarinos, organismos pelágicos como as tartarugas deverão usufruir da maior produtividade gerada por processos de afloramento (“upwelling”) responsáveis por uma maior concentração de espécies-presa.

6. AVES MARINHAS

Não se conhecem registos de nidificação de aves marinhas nos Ilhéus das Formigas. Porém, durante uma visita aos Ilhéus das Formigas efectuada em 31 de Julho - 1 de Agosto de 2000 por um elemento do projecto, foi verificada a utilização de uma zona a NW do farol como local de descanso de um grupo de mais de uma centena de garajaus-comuns (Sterna hirundo). A quantidade de dejectos acumulados sobre as rochas indiciou uma permanência de, pelo menos, algumas semanas. Uma prospecção do local de concentração do grupo permitiu a recolha de alguns pellets fragmentados (por analisar) e a detecção da presença de um ovo (abandonado).

Em fotografias tiradas alguns anos antes (ver Jorge & Valdemar, 1998; pág 4), esta acumulação de dejectos é visível tanto no local referido, como no Formigão, o que indicia alguma assiduidade na utilização dos Ilhéus por aves ao longo dos anos.

Durante esta estada nos Ilhéus, foi ainda verificada a utilização das zonas em redor dos rochedos para alimentação de algumas destas aves.

(25)

7. CONCLUSÕES

À escala do arquipélago, o banco das Formigas constitui um local claramente distinto dos ambientes costeiros conhecidos nas restantes ilhas, com povoamentos bentónicos e pelágicos únicos. Embora a conservação de uma área como esta seja uma tarefa complexa, por se tratar de uma área inabitada remota de difícil acesso e fiscalização, os resultados dos levantamentos biológicos apontam claramente para o seu valor como habitat de elevada biodiversidade e características específicas, podendo esta área ser considerada como representativa de um habitat oceânico que ostenta uma combinação única, ao nível do Arquipélago, de um ambiente característico de monte submarino com recifes pouco profundos de características mais costeiras. Para além do seu valor conservacionista, esta zona constitui um excelente local para desenvolver estudos de ecologia e dinâmica das populações e testar os eventuais efeitos benéficos das reservas para as áreas adjacentes, neste caso os bancos submarinos vizinhos. Esta zona deve, por isso, merecer medidas de gestão que impeçam actividades extractivas, de forma a assegurar a manutenção das suas características naturais e a sua função como santuário oceânico.

(26)

8. BIBLIOGRAFIA

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ANEXO I

Tabelas

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Formigas (7 prospecções)

Dollabarat

(2 prospecções) Total

Rhodophyta 11 espécies 8 espécies 14 espécies

Asparagopsis armata X X

Ceramiales indet. spp. X X X

Ceramiales indet. polissifonadas X X

Corallinacea indet. (crostas) X X X

Corallinacea spp. (articuladas) X X Delesseriacea spp. X X Gelatinosas/Carnudas indet. spp. X X X Hypoglossum hypoglossoides X X Meredithia microphylla X X X Osmundea sp. X X Plocamium cartilagineum X X Pterocladiella capillacea X X

Rhodophyta indet. (crostas não calc.) X X X

Sphaerococcus coronopifolius X X

Phaeophyta 12 espécies 9 espécies 13 espécies

Colpomenia spp. X X X

cf. Cutleria multifida (fase Aglaozonia) X X X

Cystoseira cf. usneoides X X X Dictyopteris membranacea X X X Dictyota spp. X X X Halopteris filicina X X Nemoderma tingitana X X Padina pavonica X X Phaeophyta indet. X X X Sargassum spp. X X X cf. Sphaerotrichia sp. X X Stypocaulon scoparium X X Zonaria tournefortii X X X

Chlorophyta 4 espécies 3 espécies 5 espécies

Anadyomenacea spp. X X X

Chlorophyta indet. X X

Cladophora sp. 2 X X X

Codium adhaerens X X

Ulva sp. X X

Total: 27 espécies 20 espécies 32 espécies

Tabela 1 – Lista das Macroalgas registadas nas amostras recolhidas durante as prospecções efectuadas nos recifes do Banco das Formigas.

Referências

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