• Nenhum resultado encontrado

1. SURGIMENTO DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL MILITAR: O texto do CPPM inicia-se com a seguinte disposição:

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "1. SURGIMENTO DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL MILITAR: O texto do CPPM inicia-se com a seguinte disposição:"

Copied!
14
0
0

Texto

(1)

1 P R O C E S S O P E N A L M IL IT A R

PROCESSO PENAL MILITAR

1. O surgimento do Código de Processo Penal Militar. 2. Processo penal militar, seu surgimento e necessidade. 3. Lei processual penal militar no tempo e no espaço. 4. Outras regras de aplicação do processo penal militar. 5. Código de Processo Penal Militar e a Justiça Militar Estadual.

1. SURGIMENTO DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL MILITAR:

O texto do CPPM inicia-se com a seguinte disposição:

“Os Ministros da Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica Militar , usando das atribuições que lhes confere o art. 3º do Ato Institucional nº 16, de 14 de outubro de 1969, combinado com o § 1º do art. 2º do Ato Institucional n° 5, de 13 de dezembro de 1968, decretam:”

Tomando-se o texto acima por parâmetro, para que se entenda a sequência lógica da entrada em vigor do Código de Processo Penal Militar, é necessário retroceder até 13 de dezembro de 1968, quando, em um período excepcional da história da nação brasileira, surgiu o Ato Institucional n. 5 (AI-5), dotando o Poder Executivo, concentrado em mãos militares, de poderes amplos.

Especificamente no § 1º do art. 2º do referido ato institucional havia a previsão de que, uma vez decretado o recesso do Poder Legislativo, pelo Presidente da República, passaria o Poder Executivo a exercer a função legislativa. Por força do Ato Complementar n. 38, tal recesso foi efetivamente decretado, a partir da mesma data (13 de dezembro de 1968), operando-se, então, uma situação de exceção, por muitos combatida.

(2)

2 P R O C E S S O P E N A L M IL IT A R

República, sofre um derrame, devendo ser sucedido, nos termos do que consignava a Constituição, pelo Vice-Presidente, Pedro Aleixo. Uma Junta Militar composta por integrantes das três Forças Armadas, a saber, o General Aurélio de Lyra Tavares, o Almirante Augusto Hamann Rademaker Grunewald e o Brigadeiro Márcio de Souza e Mello, entretanto, convencida de que Costa e Silva não se recuperaria, decretou, em 14 de outubro de 1969, o Ato Institucional n. 16, declarando vagos os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República e assumindo a chefia do Poder Executivo até entregá-la ao General Garrastazu Médici.

Foi durante o governo dessa Junta que, em 21 de outubro de 1969, nasceu, pelo Decreto-Lei n. 1.002, o Código de Processo Penal Militar, que entrou em vigor em 1º de janeiro de 1970, sobrevivendo até os dias atuais com poucas alterações. Este Código é fruto de um anteprojeto elaborado por uma comissão indicada pelo Superior Tribunal Militar, pela Portaria n. 90-B, de 11 de maio de 1965, comissão esta presidida pelo Ministro General-de-Exército Olympio Mourão Filho e integrada pelo Almirante-de-Esquadra Waldemar Figueiredo da Costa, pelo Dr Orlando Ribeiro da Costa (substituído pelo Dr João Romeiro Neto), pelo Dr Washington Vaz de Mello e pelo Dr Ivo d’Aquino, que foi o relator1.

Até a entrada em vigor do atual Código de Processo Penal Militar, o processo penal castrense era regido, juntamente com a organização judiciária militar, pelo Decreto-lei n. 925, de 02 de dezembro de 1938, o Código da Justiça Militar.

1

(3)

3 P R O C E S S O P E N A L M IL IT A R

2. PROCESSO PENAL MILITAR, SEU SURGIMENTO E NECESSIDADE:

O processo penal militar deve, antes de qualquer outra ilação, ser conceituado. A idéia de processo está intimamente ligada à existência de um conflito, ou seja, um litígio, que se resume em conflito de dois ou mais interesses, resistido por uma das partes, dando origem ao significado do termo lide. Lide, assim, na visão de Carnelutti descortinada pela pena de Tourinho Filho, é “um conflito de interesses, qualificado por

uma pretensão resistida ou insatisfeita”2.

Ocorre que essa lide, por sua própria natureza, ainda que se caracterize por um conflito, tende a ser solucionada, passiva ou agressivamente entre as partes ou com a intervenção de terceiro, conformação que representa também uma certa evolução histórica da afirmação da jurisdição.

Em primeiro plano essa solução foi alcançada pelo emprego da força entre os interessados, naquilo que se chamou autodefesa, prevalecendo, neste caso, o vigor, a força, resolvendo-se em favor do mais forte.

Outra espécie de solução do conflito caracterizador da lide, que historicamente deveria suceder a autodefesa, foi a autocomposição, marcada pelo entendimento voluntário entre os interessados, sem violência e despesas, geralmente com concessões recíprocas (transação), mas também podendo se operar por renúncia à pretensão por uma das partes (desistência) ou pela submissão (renúncia à resistência). A autocomposição podia ser alcançada pela interferência de um terceiro, colocado como árbitro, que com senso de justiça, busca por termo à lide fazendo as partes se ajustarem.

Em resumo, como bem dispõem Grinover, Dinamarco e Cintra, na “autotutela, aquele que impõe ao adversário uma solução não cogita de apresentar ou pedir a declaração de existência ou inexistência do direito; satisfaz-se simplesmente pela força (ou seja, realiza sua pretensão). A autocomposição e a arbitragem, ao contrário, limitam-se a fixar a existência ou inexistência do direito: o cumprimento da decisão, naqueles termos iniciais, continuava dependendo da imposição de solução violente e

parcial (autotutela)”3.

2 FILHO, Fernando da Costa. Manual de processo penal. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 2.

3 CINTRA, Antonio Carlos de Araujo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do processo. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 28.

(4)

4 P R O C E S S O P E N A L M IL IT A R

Ainda hoje, na legislação brasileira, é possível encontrar pontos que evidenciam a autodefesa e a autocomposição, como veremos mais adiante, mas em mais um passo evolutivo, chegou-se à conclusão de que as formas acima, nem sempre, traziam (ou trazem) o resultado esperado –, uma porque implica em violência e outra por nem sempre ser possível já que uma das partes pode decidir resistir até seu limite –, de sorte que outra maneira teve de ser idealizada, uma maneira que contasse com a intervenção de alguém fora da relação que pudesse ditar a forma de solução, devendo essa decisão ser acatada pelas partes interessadas. Para ter essa força de imposição, obviamente, o “interventor” na relação deveria ser o Estado, que passou a ter o monopólio processual, ou seja, somente ele pode administrar a justiça, mormente a criminal que envolve a discussão sobre bens jurídico de alta relevância para a sociedade. Surge o conceito de jurisdição.

O Estado, entretanto, para administrar a justiça deve trazer com sua intervenção um conjunto de regras claras e garantidoras na medida certa, das quais todos devem ter ciência e por todos devem ser seguidas, constituindo-se o conjunto dessas regras naquilo que conhecemos por processo.

Nesse contexto, o processo é um conjunto de atos logicamente coordenados que buscam uma espécie de composição pela intervenção do Estado, com o escopo de solucionar uma lide, um conflito de interesses com pretensão resistida por uma das partes. Em outros termos e em síntese, pela jurisdição, “os juízes agem em substituição às partes, que não podem fazer justiça com as próprias mãos (vedada a autodefesa); a elas, que não mais podem agir, resta a possibilidade de fazer agir, provocando o exercício da função jurisdicional. E como a jurisdição se exerce através do processo, pode-se provisoriamente conceituar este como instrumento por meio do

qual os órgãos jurisdicionais atuam para pacificar as pessoas conflitantes, eliminando os conflitos e fazendo cumprir o preceito jurídico pertinente a cada caso que lhe é apresentado em busca de solução” 4.

4 CINTRA, Antonio Carlos de Araujo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do processo. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 29.

(5)

5 P R O C E S S O P E N A L M IL IT A R

Claro que podemos, em alguns pontos, encontrar as espécies de solução de conflitos anteriormente mencionadas, mas constituem-se elas em exceções, a exemplo da legítima defesa no Direito Penal Militar (art. 44 do CPM), exemplo claro de

autodefesa, e da transação penal trazida pela Lei n. 9.099/95, nos Juizados Penais

Criminais, que se constitui exemplo de autocomposição5.

Frise-se, no entanto, que tradicionalmente a regra é a solução da lide por intermédio do processo.

Ocorre que essa lide pode ser adjetivada de acordo com o ramo do Direito ao qual é atrelado o assunto em discussão, de sorte que se pode falar, por exemplo, em uma lide penal e, portanto, em um processo penal para solucioná-la. Mais ainda, é possível idealizar um processo penal possuidor de uma adicional adjetivação, como o caso do processo penal militar, definido como conjunto de atos ordenados que buscam por termo a uma lide penal militar.

Essa lide, assim como no processo penal comum, é marcada pela intenção do Estado em punir, de exercer seu jus puniendi, e a resistência a essa pretensão por parte daquele que pretensamente será o sujeito do exercício desse direito, porém, com motes ligados ao Código Penal Militar. Essa intenção do Estado em punir surge no momento em que alguém quebra uma expectativa social de não agressão a bens jurídicos penais militares, de elevada estima comunitária, expectativa esta que, por sua vez, vem resumida nos tipos penais militares incriminadores.

Assim, poderíamos eleger, a título de premissa, que quando alguém comete um crime militar, surge para o Estado um direito de exercício de punição, resistido pelo acusado, direito esse que somente pode ser alcançado pelo desencadeamento de um conjunto de regras pré-definidas e coordenadas, denominado processo penal militar, com suas peculiaridades e arrimado em postulados constitucionais.

Essas regras coordenadas, conforme estipula o artigo em foco, estão no Código de Processo Penal Militar, seja em tempo de paz ou de guerra, a exceção de surgimento de legislação especial aplicável estritamente ao processo penal militar.

5

(6)

6 P R O C E S S O P E N A L M IL IT A R

O Código de Processo Penal Militar, nesse cenário, constitui-se na fonte formal do processo penal militar – ou do Direito Judiciário Militar, como dispõe a rubrica do art. 1º do CPPM –, valendo lembrar que sua edição somente é possível por lei lavrada pela União, o que configura o Estado como fonte material do Direito Processual Penal Militar, nos termos do inciso I do art. 22 da Constituição Federal. Em face do mesmo dispositivo constitucional, frise-se, embora se trate de decreto-lei, o CPPM foi recepcionado com força de lei ordinária.

Essa conclusão – o CPPM como fonte formal do processo penal militar – está muito evidente na disposição do art. 1º do referido Código:

“Art. 1º O processo penal militar reger-se-á pelas normas contidas

neste Código, assim em tempo de paz como em tempo de guerra, salvo

legislação especial que lhe for estritamente aplicável.”

Ao trazer a ressalva de aplicação de legislação especial o art. 1º se referia a qualquer lei extravagante que remeta à aplicação do processo penal, tenha ela o escopo de apurar crime militar ou mesmo um crime não militar, como o caso da Lei de Segurança Nacional, a Lei n. 7.170, de 14 de dezembro de 1983, que no art. 30 dispõe que compete “à Justiça Militar processar e julgar os crimes previstos nesta Lei, com observância das normas estabelecidas no Código de Processo Penal Militar, no que não colidirem com disposição desta Lei, ressalvada a competência originária do Supremo Tribunal Federal nos casos previstos na Constituição”. Urge lembrar que com advento da Constituição Federal de 1988, por força do art. 109, inciso IV, o processo e julgamento dos crimes contra a segurança nacional passaram a ser de competência da Justiça Federal.

Sobre esse assunto, Célio Lobão dispõe:

“(...). As leis especiais seriam as de segurança do Estado (impropriamente denominada lei de segurança nacional). Com a Constituição de 88, a competência foi deferida à Justiça Federal, embora com a denominação também imprópria de crimes

políticos, em vez de crimes contra a segurança do Estado(...).”6.

6

(7)

7 P R O C E S S O P E N A L M IL IT A R

Na atualidade, como as justiças militares (da União e dos Estados) somente podem processar e julgar crimes militares, nos termos doas art. 124 e 125, § 4º, da Constituição Federal, a lei extravagante a que se refere o artigo em comento, somente pode tratar de processo e julgamento de crimes militares.

Frise-se, ainda, que o § 1º do art. 1º do CPPM estabelece claramente a prevalência do Direito Internacional Público, versado em tratados ou convenções, sobre as estritas regras do próprio Código.

Assim, em tempo de paz ou de guerra, havendo a participação do Brasil, por exemplo, em uma determinada atividade por suas Forças Armadas, havendo norma de tratados ou convenções que excepcionem o CPPM, prevalecerão elas sobre as regras do Código Processual Castrense.

Por fim, o § 2º do art. 1º dispõe que são aplicadas, subsidiariamente, as normas do CPPM, aos processos regulados em leis especiais.

Ao possibilitar a aplicação das regras do CPPM aos processos regulados em leis especiais, mais uma vez o Código permite que ocorram casos previstos em lei extravagante que remeta à aplicação do processo penal militar, tenha ela o escopo de apurar crime militar ou mesmo um crime não militar, como o caso da já citada Lei de Segurança Nacional, cujos crimes nela previstos, com advento da Constituição Federal de 1988, por força do art. 109, inciso IV, são processados e julgados pela Justiça Federal.

Ademais, na atualidade, como as justiças militares (da União e dos Estados) somente podem processar e julgar crimes militares, nos termos dos art. 124 e 125, § 4º, da Constituição Federal, a lei extravagante a que se refere o artigo em comento, somente pode tratar de processo e julgamento de crimes militares.

Sobre o assunto, com muita razão, dispõe Jorge César de Assis:

“Por aí se vê que o dispositivo do § 2º em análise, foi derrogado, não mais havendo aplicação subsidiária a processos regulados por leis especiais.

(8)

8 P R O C E S S O P E N A L M IL IT A R

Pela Constituição anterior, em seu art. 129, § 1º, era prevista a extensão do foro

militar ao civil, para a repressão dos crimes contra a segurança nacional” 7.

3. LEI PROCESSUAL PENAL MILITAR NO TEMPO E NO ESPAÇO 3.1. Lei processual penal militar no tempo:

O art. 2º do Código de Processo Penal comum consagra que a “lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior”, consagrando o princípio do efeito imediato, princípio da aplicação imediata ou princípio do tempus regit actum.

O art. 5º do CPPM traz disposição semelhante, ao dizer que as “normas deste Código aplicar-se-ão a partir da sua vigência, inclusive nos processos pendentes, ressalvados os casos previstos no art. 711, e sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior”.

Essa previsão permite entender que a regra também é válida para a lei processual penal militar, podendo-se dizer que a lei processual penal militar, ao adotar o princípio do tempus regit actum, traz como conseqüência a validade de atos processuais praticados sob égide da lei processual anterior e a aplicação imediata de todas as normas inauguradas no processo penal militar.

Em outros termos, se houver uma mudança legal, por exemplo, no processo especial de deserção (melhor seria procedimento especial da deserção), essa nova previsão será aplicada a partir do momento em que a lei entrar em vigor, mesmo nos processos ainda em curso, ou seja, no “meio do caminho”, como dispõe Denilson

Feitoza8. Todavia, os atos processuais já praticados naquele processo, serão

perfeitamente válidos, não trazendo nulidade ao curso processual.

7 Cf. ASSIS, Jorge César de. Código de processo penal militar anotado. Curitiba:Juruá, 2004, p. 20. 8

(9)

9 P R O C E S S O P E N A L M IL IT A R

Como exemplo dessa aplicação imediata, tome-se o surgimento da Lei n. 9.299/96, que remeteu para o Tribunal do Júri a competência para processar e julgar os crimes militares dolosos contra a vida de civis, com a inclusão do novo texto do § 2º do art. 82 do CPPM. Indiscutivelmente, tivemos uma nova lei processual penal militar, embora questionável sua constitucionalidade, que teve aplicação imediata, posto que, regra geral, os processos penais militares que processavam tais espécies de crimes foram enviados ao Tribunal do Júri competente, para fazer valer imediatamente a lei processual nova.

Nesse sentido, tome-se o julgamento no Tribunal de Justiça do Espírito Santo, dos Embargos de Declaracao Rec Sentido Estrito Nº 24089014260 (24089014260), julgado em 06/05/09, pela Segunda Câmara Criminal, sob relatoria do Desembargador Sérgio Luiz Teixeira Gama:

“EMBARGOS DE DECLARAÇAO NO RECURSO EM SENTIDO ESTRITO.

PRONÚNCIA. OMISSAO QUANTO ÀS QUESTÕES RELACIONADAS À

COMPETÊNCIA PARA O JULGAMENTO DO FEITO. HOMICÍDIO PRATICADO POR MILITAR CONTRA CIVIL. JUSTIÇA COMUM. CONSTITUCIONALIDADE DA LEI 9299/96. APLICABILIDADE IMEDIATA. EMBARGOS PROVIDOS PARA SANAR A OMISSAO APONTADA.

I - A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, mesmo antes do advento da Emenda Constitucional n. 45/04, era firme no sentido de que competia à Justiça Comum Estadual processar e julgar os crimes dolosos contra a vida, supostamente praticado por militar contra civil, a teor do que dispunha a Lei 9.299/96.

II - A Lei 9.299/96, que alterou a redação do art. 9º, II, do C.P.M., tem natureza processual, devendo, em razão disso, ter aplicação imediata sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da redação anterior.

III - A transferência à Justiça Comum do julgamento dos crimes especificados pela Lei 9.299/96 se opera automaticamente, mesmo que o fato tivesse ocorrido antes de sua entrada em vigor. Desta forma, a referida sistemática legal impôs a remessa imediata dos autos da ação penal, oriunda de homicídio praticado por militar contra civil, ao Tribunal do Júri, a quem caberia o destino da persecutio criminis, tal como se deu no caso em exame.

(10)

10 P R O C E S S O P E N A L M IL IT A R

qualquer alteração no resultado do julgamento” (g.n.).

A ressalva do art. 5º menciona o art. 711 do CPPM, que assim dispõe:

“Art. 711. Nos processos pendentes na data da entrada em vigor deste Código, observar-se-á o seguinte:

a) aplicar-se-ão à prisão provisória as disposições que forem mais favoráveis ao indiciado ou acusado;

b) o prazo já iniciado, inclusive o estabelecido para a interposição de recurso, será regulado pela lei anterior, se esta não estatuir prazo menor do que o fixado neste Código;

c) se a produção da prova testemunhal tiver sido iniciada, o interrogatório do acusado far-se-á de acordo com as normas da lei anterior;

d) as perícias já iniciadas, bem como os recursos já interpostos, continuarão a reger-se pela lei anterior”.

Tratam-se de regras de transição que visam não prejudicar o acusado e, ao mesmo passo, garantir a instrução criminal.

Deve-se tomar o cuidado, nesse contexto, com as normas processuais que, embora preponderantemente processuais, possuam reflexos penais, conhecidas como híbridas ou mistas. Sobre essa possibilidade, nos ensina Denilson Feitoza:

“Se uma norma processual penal tem ‘reflexos penais’, ela deve se submeter aos princípios de temporalidade da lei penal, e não ao princípio do efeito imediato. Assim, tal norma estaria sujeita ao princípio da retroatividade da lei mais benéfica (ao investigado, réu ou condenado), (...) e ao princípio da irretroatividade da lei mais

gravosa” 9.

Frise-se, porém, que se na lei híbrida puderem claramente ser identificados os dispositivos penais distinguindo-os claramente dos processuais, cada dispositivo deverá conhecer a aplicação temporal adequada a sua natureza.

9

(11)

11 P R O C E S S O P E N A L M IL IT A R

Por derradeiro, resta indicar que, assim como a lei processual penal comum, a militar caracteriza-se por sua entrada em vigor 45 dias após sua publicação, no território nacional, salvo se a própria lei dispuser de forma diversa, conforme art. 1º da Lei de Introdução ao Código Civil, vigendo, em regra, por período indeterminado (também se não houver disposição determinando prazo ou período para sua auto-revogação ou vigência), até que uma outra lei de mesmo cunho a revogue.

3.2. Lei processual penal militar no espaço:

A aplicação da lei processual penal militar brasileira no espaço encontra íntima relação com a aplicação no espaço da lei penal militar.

Em outros termos, como o CPM consagrou como regra de aplicação da lei penal no espaço o princípio da territorialidade e o princípio da extraterritorialidade, por previsão do art. 7º, a lei processual penal militar também segue esses princípios.

Assim, parafraseando Jorge César de Assis, se o Código de Processo Penal Militar é o instrumento pelo qual se aplica o Código Penal Militar e este diploma adota, como regra geral, a extraterritorialidade, inevitavelmente o CPPM deve também ter

sua aplicação além do território nacional10.

No entanto, o CPPM trouxe também regras amiúde para sua aplicação territorial, especificamente no art. 4º:

“Art. 4º Sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, aplicam-se as normas deste Código:

Tempo de paz I - em tempo de paz:

a) em todo o território nacional;

b) fora do território nacional ou em lugar de extraterritorialidade brasileira, quando se tratar de crime que atente contra as instituições militares ou a segurança nacional, ainda que seja o agente processado ou tenha sido julgado pela justiça estrangeira;

10

(12)

12 P R O C E S S O P E N A L M IL IT A R

força militar brasileira, ou em ligação com esta, de força militar estrangeira no cumprimento de missão de caráter internacional ou extraterritorial;

d) a bordo de navios, ou quaisquer outras embarcações, e de aeronaves, onde quer que se encontrem, ainda que de propriedade privada, desde que estejam sob comando militar ou militarmente utilizados ou ocupados por ordem de autoridade militar competente;

e) a bordo de aeronaves e navios estrangeiros desde que em lugar sujeito à administração militar, e a infração atente contra as instituições militares ou a segurança nacional;

Tempo de guerra II - em tempo de guerra:

a) aos mesmos casos previstos para o tempo de paz;

b) em zona, espaço ou lugar onde se realizem operações de força militar brasileira, ou estrangeira que lhe seja aliada, ou cuja defesa, proteção ou vigilância interesse à segurança nacional, ou ao bom êxito daquelas operações;

c) em território estrangeiro militarmente ocupado”.

Mais uma vez, ressalte-se a exceção de convenções, tratados e regras de direito internacional, que podem dispor de forma diversa à acima transcrita pelo CPPM.

4. OUTRAS REGRAS DE APLICAÇÃO DO PROCESSO PENAL MILITAR

Apenas para completar a compreensão da aplicação da lei processual penal militar, trazemos alguns dispositivos complementares que auxiliarão na compreensão da norma processual castrense.

Conforme dispõe o art. 2º do CPPM, a lei processual penal militar “deve ser interpretada no sentido literal de suas expressões. Os termos técnicos hão de ser entendidos em sua acepção especial, salvo se evidentemente empregados com outra significação”.

(13)

13 P R O C E S S O P E N A L M IL IT A R

Pelo § 1º deste artigo, será admitida a interpretação extensiva ou a interpretação restritiva, quando for manifesto, no primeiro caso, que a expressão da lei é mais estrita e, no segundo, que é mais ampla, do que sua intenção. Serão vedadas essas interpretações, de acordo com o § 2º, quando cercear a defesa pessoal do acusado, prejudicar ou alterar o curso normal do processo, ou lhe desvirtuar a natureza ou quando desfigurar de plano os fundamentos da acusação que deram origem ao processo.

Por fim, em havendo omissão no CPPM, pelo art. 3º, poderá ela ser suprida pela legislação de processo penal comum, quando aplicável ao caso concreto e sem prejuízo da índole do processo penal militar, pela jurisprudência, pelos usos e costumes militares, pelos princípios gerais de Direito ou pela analogia.

5. CÓDIGO DE PROCESSO PENAL MILITAR E A JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL

O Código de Processo Penal Militar encontra sua aplicabilidade mais adequada no seio da Justiça Militar da União, responsável por processar e julgar os crimes militares no âmbito ou que afetem as Forças Armadas (CF, art. 124).

Todavia, como no âmbito dos Estados também há Justiças Militares, responsáveis pelo processo e julgamento de militares do Estado em crimes militares definidos em lei (CF, art. 125, § 4º), também há a necessidade de regras processuais para a persecução de crimes militares estaduais.

Pela aplicação do art. 6º, o CPPM também se aplica ao processo penal militar nas Justiças Militares Estaduais, com exceção das regras de organização da Justiça, dos recursos e de execução de sentença.

Para alguns doutrinadores, a aplicação do art. 6º não mais é possível, por ter sido ele colidente com a CF. Nesse sentido, Jorge César de Assis dispõe:

“De nossa parte, entendemos que, mesmo nos Estados em que não existem Tribunais Militares – a imensa maioria, o referido art. 6º do CPPM não tem mais aplicação. Isto se depreende de simples e singela leitura do art. 125, § 3º, da Constituição Federal, já que ali se distinguiram duas subespécies de Justiças Militar Estadual: aquela em que o segundo grau é o Tribunal de Justiça Militar e, aqueloutra

(14)

14 P R O C E S S O P E N A L M IL IT A R

Estado ou do Distrito federal.

Sendo assim, a aplicação integral, das normas no CPPM aos processos da

Justiça Militar Estadual é uma conclusão lógica – e óbvia”11.

Discutível, de fato, a sobrevivência do art. 6º do CPPM na atual estrutura constitucional. Contudo, tem-se observado, por exemplo, que no que concerne à execução da sentença, em especial o cumprimento da pena, há aplicação de norma extravagante ao CPPM, mesmo porque este Código é lacunoso na pormenorização desse tema.

À guisa de exemplo, no Estado de São Paulo, a execução da sentença criminal segue regras próprias, embora muito próximas daquelas previstas na LEP, regras essas trazidas pela Portaria Nº 003/04-CECRIM, que instituiu o Regimento Interno de Execução Penal do Presídio Militar “Romão Gomes”, da Polícia Militar de São Paulo.

Por essa norma, e.g., é possível a progressão de regime de cumprimento de pena, como, por exemplo, se verifica no art. 164 da citada Portaria:

“Art. 164 – Os pedidos de progressão de regime e livramento condicional, quando encaminhados a Juízo pelo Comandante, deverão vir instruídos com atestado de comportamento carcerário atualizado até pelo menos a data do cumprimento do requisito objetivo (um sexto, para progressão; um terço, metade ou dois terços para livramento condicional, dependendo do crime)”.

11

Referências

Documentos relacionados

O Reitor da Fundação Universidade Federal do Vale do São Francisco - UNIVASF, no uso das suas atribuições conferidas pelo Decreto de 28 de março de 2016, publicado

Endereço: Rodovia Prefeito Quintino de Lima, nº 2100, Paisagem Colonial São Roque, SP. Jerônimo Figueira da Costa, nº 3014, Pozzobon

(Talvez ele também quer que você vá com ele, <não irá quer / não iria querer/ não quer>? Vocês dois são fãs de futebol.). Tutor: Yes,

O objetivo principal do Museu da Vida Esco- lar é a pesquisa do passado educacional e escolar em todos os períodos da História local e, de ma- neira mais geral, da História Cretense,

caracterizando a culpa do tomador, os contratos de prestação de serviço das empresas de asseio e conservação, firmados com o poder público e com as empresas privadas, que não

artistas/brincantes da cultura popular, Amelu Clarindo e Adriana Possan, a professora Daniela Kuhn do Departamento Acadêmico de Educação Física/UTFPR e a professora

Há dezesseis anos leciona as disciplinas Direito Penal, Direito Penal Militar, Direito Processual Penal Militar e Criminologia em universidades, escolas militares

LEIA CUIDADOSAMENTE O ENUNCIADO DE CADA QUESTÃO, FORMULE SUAS RESPOSTAS COM OBJETIVIDADE E CORREÇÃO DE LINGUAGEM E, EM SEGUIDA, TRANSCREVA COMPLETAMENTE CADA UMA NA