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6. Hidrologia do Estuário 1

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6. Hidrologia do Estuário

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6.1. Comentários à Execução do Trabalho

Verificou-se atraso significativo na e6.3cução das acções tendentes à aquisição de dados sobre a hidrologia do estuário devido à morosidade na entrega do equipamento adquirido para o efeito (correntómetros, marégrafos, etc.), a problemas relacionados com o funcionamento inicial de alguns aparelhos, e ao tempo necessário para adaptação a do pessoal. No momento presente todo o equipamento se encontra em condições funcionais.

Além das acções singulares de medição, verificaram-se duas campanhas de aquisição intensiva de dados: as campanhas WADI ANA, promovida pelo projecto EMERGE e realizada em Novembro de 2000; e a campanha SIRIA 2001, promovida pelo projecto SIRIA em cooperação com o projecto EMERGE, e concretizada em Fevereiro de 2001. Esta cooperação viabilizou a utilização de equipamentos e meios navais diversificados, designadamente navios na plataforma continental e embarcações variadas no estuário, procedendo a medições em simultâneo. É de referir que, tal como estava previsto na proposta inicial, a cooperação com os projectos SIRIA e SWAMIEE viabilizaram a forte ampliação dos trabalhos realizados, dando-lhe uma maior abrangência. O projecto SIRIA, desenvolvido pelo Instituto Hidrográfico e pela Universidade do Algarve, está mais vocacionado para a plataforma continental, pelo que, neste contexto, surge como complemento óbvio ao projecto EMERGE. O projecto EMERGE (do programa europeu Training and Mobility of Researchers) é desenvolvido por várias instituições europeias, designadamente a Universidade do Algarve, e tem como objectivos principais a formação complementar de jovens doutorados e a mobilidade de investigadores, viabilizando potenciação recíproca com o projecto EMERGE, designadamente pelas possibilidades que abre de cooperação com outros investigadores europeus.

No momento presente está-se em plena fase de processamento da grande quantidade de dados adquiridos nestas campanhas, pelo que se apresentam, aqui, apenas alguns resultados e6.3mplificativos.

Face à grande carência de dados que existia sobre a hidrologia do estuário do Guadiana, o conjunto de observações efectuadas permitirá, em breve, ter uma panorâmica bastante mais precisa sobre o seu funcionamento, a qual se reveste de especial importância dadas as prováveis grandes modificações que se verificarão em breve, com a entrada em funcionamento do empreendimento do Alqueva.

6.2. Escoamentos Fluviais 6.2.1. Escoamentos Anuais

O escoamento anual médio calculado para o Guadiana, na estação de Pulo do Lobo, para o período 1946/47 a 1984/85 era de 5,2 km3. O “módulo” respectivo é de 164 m3/s, a que corresponde o caudal específico médio de apenas 2,7 l/s/km2 (Ribeiro et al., 1988).

No entanto, parte deste caudal deve-se à contribuição dos afluentes portugueses, visto que o caudal específico do Guadiana em Badajoz é de somente 1,6 l/s/km2. A contribuição dos afluentes portugueses está estimada em 4,6

l/s/km2 (Ribeiro et al., 1988; Garcia, 1996).

É interessante verificar que os valores dos índices aludidos, determinados para o período 1946/47 a 1998/99 (com mais 14 anos), decrescem significativamente. O escoamento médio anual, por e6.3mplo, decresce de 5,2 km3 para 4,4 km3. Os valores característicos para este período encontram-se expressos na Tabela 6.I.

Verifica-se que os valores médios anuais têm reduzido significado dada a forte variabilidade internual dos escoamentos, os quais, no período considerado, variam entre um máximo de 13,9km3, em 1963/64 (caudal de 436 m3/s) e um mínimo de apenas 0,18km3, em 1994/95 (caudal de 5,8 m3/s).

Aliás, esta variabilidade extrema é realçada quando se comparam os escoamentos do Guadiana com os dos outros rios cujas bacias hidrográficas são compartilhadas com Espanha. Com base na série hidrológica de Pulo do Lobo referente ao período 1946/47 a 1984/85, Ribeiro et al. (1988) determinaram o valor 55 para a relação entre os escoamentos máximo e mínimo, valor este muito superior aos calculados para o Douro (6), para o Tejo (17) e para o Minho (7). Considerando o período 1946/47 a 1998/99 o valor da referida relação é, ainda, mais expressivo, sendo superior 77!

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Por J. Alveirinho Dias, Óscar Ferreira, Alexandre Braga Coli, Sandra Fachin e Carla Garcia

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Dias & Ferreira (Coord) Projecto EMERGE – Estudo Multidisciplinar do Estuário do Rio Guadiana (2001)

Tabela 6.I – Valores característicos do escoamento, em Pulo do Lobo, para o período 1946/47 a 1998/99 Escoamentos e caudais médios anuais

Escoamento

(km3) Caudal médio (m3/s) Caudal específico (l/s/km2)

Valor Médio 4,4 139 2,3

Valor Máximo (1963/64) 13,9 436 7,2

Valor Mínimo (1994/95) 0,18 5,6 0,1

Média de Anos Húmidos (escoamento anual > 9km3) 11,1 352 5,8

Média de Anos Médios (3 a 9km3) 5,8 183 3,0

Média de Anos Secos (escoamento anual < 3km3) 1,3 41 0,7

Escoamentos e caudais mensais

Máximo (Jan 1970) 6,7 2 565 42,1

Médio Mensal 0,4 11,7 0,2

Mínimo (p.ex. Set.1954 e Set.1995) 0 0 0

A grande irregularidade interanual dos escoamentos do Guadiana fica bem evidenciada quando se observa a sua representação gráfica (fig. 6.1). A observação desta figura permite também concluir que, por vezes, se verificam sequências de anos húmidos (p.ex.: 1961/62 a 1963/64) e, outras vezes, de anos secos (p.ex.: 1991/92 a 1994/95). A capacidade de armazenamento das barragens que têm sido construídas na bacia hidrográfica do Guadiana é da mesma ordem de grandeza, actualmente, do escoamento médio plurianual, o qual será e6.1edido quando a barragem do Alqueva entrar em funcionamento.

Mesmo sob influência das várias barragens construídas a partir da década de 50 e, especialmente, do Plano de Rega de Badajoz, a variação de caudal de ano para ano continua a ser notável.

Na figura 6.1 é possível, também, constatar que, após o grande aumento da capacidade de armazenamento conferido pelas aludidas barragens (construídas principalmente nas décadas de 50 e de 60), o número de anos com escoamentos baixos parece ter aumentado. Todavia, o reduzido período, na série analisada, correspondente ao funcionamento do rio em regime natural (isto é, sem estar afectado por barragens), torna difícil concluir se tal se deve a influência efectiva destes empreendimentos ou apenas a fenómenos de variabilidade climática.

Fig. 6.1 - Escoamentos anuais em Pulo do Lobo, durante o período 1946/47 a 1998/99. Assinalou-se, também, a linha representativa do módulo interanual, bem como a capacidade de armazenamento das barragens existentes na bacia hidrográfica vertente para Pulo do Lobo. Do lado direito, a vermelho, está assinalada a capacidade de armazenamento prevista para a barragem do Alqueva.

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6.2.2. Escoamentos Mensais

Os escoamentos mensais do Guadiana apresentam, como é natural nesta região climática, contraste muito marcado entre os meses de inverno e os de verão.

Fig. 6.2 – Escoamentos médios mensais, em Pulo do Lobo, no período 1946/47 a 1998/99. A tracejado vermelho representou-se o escoamento médio mensal referente a todos os meses do ano.

O mês em que, em média, se registam os maiores escoamentos é o de Fevereiro (Fig. 6.2), logo seguido pelos meses de Março e de Janeiro. Nos meses de Julho e Agosto os escoamentos reduzem-se ao mínimo, tendo-se mesmo já verificado escoamentos nulos, isto é, em que o rio deixa de existir como fluxo hídrico. Todavia, a variabilidade interanual dos escoamentos mensais é muito elevada.

Fig. 6.3 - Escoamentos de Fevereiro e de Agosto, em Pulo do Lobo, no período 1946/47 a 1998/99. Para aumentar a legibilidade, foram utilizadas diferentes escalas de escoamentos nos gráficos correspondentes a cada um dos meses.

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Dias & Ferreira (Coord) Projecto EMERGE – Estudo Multidisciplinar do Estuário do Rio Guadiana (2001)

Na figura 6.3 representaram-se os escoamentos registados em Pulo do Lobo em Fevereiro e em Agosto de cada ano do período 1946/47 a 1998/99. No sentido de tornar as figuras legíveis, utilizaram-se escalas bastante diferenciadas. Tal como se verifica nos escoamentos anuais, também a variabilidade dos escoamentos verificados em cada mês é muito elevada, principalmente nos meses mais húmidos. A razão entre os escoamentos máximo e mínimo é de cerca de 110 em Agosto, ascendendo a quase 320 em Fevereiro.

Efectivamente, em Fevereiro de 1979 registou-se um escoamento de quase 4,9 km3, enquanto que no mesmo mês de

1981 o volume determinado foi de, apenas, 0,02 km3. Comparem-se estes valores com o do escoamento médio da

série referente a este mês, que é de cerca de 1 km3.

Em Agosto, obviamente, os escoamentos reduzem-se ao mínimo, sendo a média mensal da ordem dos 0,04 km3.

Ainda assim, em Agosto de 1979 o escoamento ascendeu a mais de 0,11 km3. Pelo contrário, em Agosto de 1995 o

rio deixou completamente de correr (escoamento nulo).

Na figura 6.4 representaram-se os escoamentos máximo, mínimo e médio determinados em Pulo do Lobo no período 1946/47 - 1998/99. Os escoamentos mínimos mensais são tão reduzidos relativamente aos escoamentos médios e máximos que praticamente não são detectáveis na figura.

Fig. 6.4 - Escoamentos mensais máximo, médio e mínimo, em Pulo do Lobo, no período 1946/47 a 1998/99. No que se refere aos escoamentos máximos mensais, estes apresentam valores particularmente elevados entre Dezembro e Março, atingindo-se mesmo valores superiores ao escoamento médio anual determinado para o período em referência. Foi o que se verificou em Março de 1947 e em Janeiro de 1970.

Porém, estes valores particularmente elevados ocorrem apenas esporadicamente, o que aliás se depreende da comparação com os valores médios mensais, muito mais reduzidos. Pode mesmo concluir-se que os escoamentos mensais do Guadiana têm tendência para apresentar valores relativamente baixos. Na realidade, os escoamentos médios mensais de Dezembro, Janeiro, Fevereiro e Março apenas são excedidos em cerca de 30% dos anos.

A referida assimetria dos valores dos escoamentos mensais no sentido dos valores baixos é também evidenciada por outros índices. Efectivamente, em 57% dos anos o escoamento mensal de Dezembro foi inferior a metade do escoamento médio mensal desse mês. Essa percentagem para os meses de Janeiro, Fevereiro e Março foi, respectivamente, de 55%, 49% e 55%.

Tal assimetria ressalta ainda mais quando se analisam as classes de escoamentos mensais em função da percentagem de ocorrências (Fig. 6.5). É aí bem evidente que as maiores percentagens, nos meses considerados, ocorrem nos escoamentos muito fracos (entre 0,1 e 0,2 km3). Á medida que os valores dos escoamentos aumentam, as percentagens de ocorrências diminuem rapidamente, seguindo uma tendência aparentemente exponencial. Os

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escoamentos superiores a 2 km3 correspondem a percentagens relativamente modestas (principalmente quando se considera que os escoamentos máximos mensais registados em Dezembro, Janeiro, Fevereiro e Março, no período considerado, foram superiores a 4 km3, atingindo mesmo valor superior a 6,5km3 em Janeiro).

Fig. 6.5 – Escoamentos mensais em Pulo do Lobo, durante o período 1946/47 – 1989/99, em função da percentagem de ocorrências.

Resumindo, pode afirmar-se que o Guadiana é um rio caracterizado por escoamentos mensais geralmente pequenos (tipicamente inferiores a 1 km3 nos meses húmidos e inferiores a 0,1 km3 nos meses secos), mas em que,

ocasionalmente, podem ocorrer escoamentos muito elevados (chegando a ultrapassar largamente 5 km3 nos meses de

inverno).

6.2.3. Caudais Diários

Tal como é reconhecido por Garcia (1996), a grande variabilidade que caracterizava o Guadiana, em regime natural, é bem exemplificada pelos três anos hidrológicos 1946/47, 1947/48 e 1948/49, cuja evolução dos caudais médios diários está expressa nos gráficos da figura 6.6. Na tabela 6.II indicam-se os valores dos escoamentos anuais e dos respectivos módulos.

Fig. 6.6 - Evolução anual dos caudais médios diários, em Pulo do Lobo, nos anos 1946/47, 1947/48 e 1948/49 (adaptado de Garcia, 1996)

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Dias & Ferreira (Coord) Projecto EMERGE – Estudo Multidisciplinar do Estuário do Rio Guadiana (2001)

O ano 1946/47 corresponde a um ano húmido e exemplifica bem a variabilidade diária dos caudais. O ano hidrológico de 1947/48 corresponde ao que se pode considerar um ano “normal” ou “médio” (escoamento anual de 5,2km3, próximo do escoamento médio anual no período 1946/47 a 1985/86), não obstante o reduzido significado de

que estes termos se revestem para o Guadiana. Os valores do ano hidrológico de 1948/49 são representativos de um ano muito seco.

Tabela 6.II – Escoamentos anuais e módulos em Pulo do Lobo entre 1946/47 e 1948/49 ano hidrológico escoamento anual (km3) Módulo (m3/s) 1946/47 12,02 381,1 1947/48 5,19 164,1 1948/49 0,45 14,3

No ano de 1946/47, os valores, que se mantinham muito pequenos desde o início de Outubro (de 0,05 a 22 m3/s), têm

um primeiro acréscimo a partir da primeira semana de Janeiro mas, sobretudo, um mês mais tarde. Os caudais começam então a aumentar muito rapidamente, até atingirem o valor máximo de 8,053 m3/s no dia 6 de Março. A

diminuição dos caudais é brusca, de tal forma que, uma semana após a ocorrência dos grandes caudais aludidos, o valor corresponde, apenas, a um décimo desses máximos. Nos finais de Março e princípios de Abril ocorre ainda outro pequeno aumento de caudal, que surge de forma brusca, após o que se dá um decréscimo progressivo até final de Abril. A partir de Junho os caudais são mínimos, atingindo o valor de 0,6 m3/s em meados de Agosto (Garcia,

1996).

Comparativamente ao ano anterior, os caudais do inverno de 1947/48 foram muito mais pequenos. Registam-se, todavia, três picos, no final de Janeiro, nos fins de Fevereiro e em meados de Maio, os quais surgem de forma mais ou menos brusca. Não se registam nunca caudais diários que se aproximem dos máximos observados no ano anterior. A partir de Julho os caudais são extremamente fracos, chegando a ser nulos em 15 e 16 de Setembro de 1948 (Garcia, 1996).

No ano hidrólogo de 1948/49 o valor máximo do caudal médio diário é de apenas 87 m3/s, ocorrido a 7 de Janeiro.

No verão registaram-se os caudais mais baixos, com o valor de 0,1 m3/s (Garcia, 1996). 6.2.4. Efeito das Barragens nos Escoamentos Anuais

O regime, muito contrastado, do Guadiana, com uma estação húmida que pode ser marcada por grandes caudais e uma estação seca em que, com frequência, o rio quase seca, bem como a enorme variabilidade interanual dos escoamentos, foram desde sempre fonte de grande preocupação para as populações que se fixaram na sua bacia hidrográfica. Muitos são os testemunhos de secas prolongadas no vale do Guadiana, produzindo destruição das colheitas e morte dos rebanhos, períodos esses em que a fome e as epidemias alastravam. Estes problemas, recorrentes desde a antiguidade, estão muito provavelmente na origem da construção, no período romano, das barragens de Proserpina e de Cornalbo, as mais antigas da Península ibérica.

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Actualmente, a bacia hidrográfica está afectada por mais de três dezenas de barragens, cuja capacidade total de armazenamento excede os 4,5km3 (tabela 6.III; fig. 6.7), isto é, ultrapassa o escoamento médio anual determinado

para o período 1946/47 – 1998/99, o qual será largamente excedido com a entrada em funcionamento da barragem de Alqueva, prevista para o inverno de 2001/2002. Todavia, não é fácil determinar, com precisão, as consequências que as barragens tiveram no regime do rio Guadiana.

Tabela 6.III – Barragens existentes na bacia hidrográfica do rio Guadiana (segundo Loureiro et al., 1986)

Ano de Características

Nome Rio Construção Tipo Altura Capacidade de Área

(m) Armazenamento (106 m3) inundada (ha)

Cornalbo Albarregas 200 TE 24 10 44

Proserpina Arroyo Pardillas 200 TE 19 4 7

Albuera de Castelbar Alconera 1500 PG 19 0,3 4

Albuera de Feria Ribera de Feria 1747 PG/CB 24 0,7 12

Zelamea Ortigas 1800 PG/CB 17 0,2 47

Albuera Casabaya Arroyo Casabaya 1840 PG 15 0,1 3

Peña del Aguila Zapaton 1897 PG 22 18 300

Gasset Arroyo Becea 1909 TE 19 23 482

Montijo Guadiana 1954 PG 22 8 400

Cijara Guadiana 1956 PG 81 1670 635

Piedra Aguda Olivenza 1956 PG 30 16 258

Peñarroya Guadiana 1959 PG 50 48 412

Valuengo Ardila 1959 PG 34 20 150

Brovales Arroyo Brovales 1960 CB 25 7 159

Orellana Guadiana 1961 PG 63 824 554

Guadajira Guadajira 1962 PG 27 1 9

Garcia de Sola Guadiana 1963 PG 66 554 365

Zujar (Collado) Zujar 1964 PG 23 0 0

Zujar (Collado) Zujar 1964 PG 61 723 452

Caia (P) Caia 1967 TE/CB 52 192 1970

El Mosquil Arroyo los Labrados 1971 PG 10 0,2 3

Vigia (P) Vale de Vasco 1981 TE 30 17 262

Lucefece (P) Lucefece 1981 TE 23 10 169

Torre de Albraham Bullaque 1988 PG 51 60 762

El Vicario Guadarrama 1988 PG 22 7 336

Zafra Alconera 1988 PG 37 240 37

M. Novo (P) Degebe 1988 PG 28 15 277

Efectivamente, a grande variabilidade interanual dos escoamentos (fig. 6.8), bem como a reduzida série de observações efectuadas em regime “natural”, não permitem evidenciar, com clareza, as alterações que, com certeza, ocorreram.

O período mais intensivo de construção de barragens na bacia hidrográfica do Guadiana verificou-se entre 1956 e 1967, tendo então a capacidade total de armazenamento passado de 0,064km3 para 4,120km3.

Porém, a série de observações em Pulo do Lobo iniciou-se apenas em 1946/47. Tal deixa apenas um período de 10 anos para deduzir qual seria o regime “natural” do rio, período este que, obviamente, é curto, designadamente se se considerar a variabilidade aludida e a tendência, por vezes bastante evidente, para a ocorrência de sequências de anos húmidos e de anos secos.

Curiosamente, o período mais intensivo de construção de barragens correspondeu a uma época bastante húmida, tendo o escoamento médio anual, entre 1955/56 e 1966/67, excedido os 7km3. Aliás, entre 1961/62 e 1965/66 o

escoamento médio foi mesmo superior a 10,5km3, isto é, mais do dobro do valor determinado para a série completa (1946/47 a 1998/99).

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Dias & Ferreira (Coord) Projecto EMERGE – Estudo Multidisciplinar do Estuário do Rio Guadiana (2001)

Fig. 6.8 – Escoamentos anuais em Pulo do Lobo, entre 1946/47 e 1998/99

A figura 6.9 representa a evolução dos valores do escoamento médio anual ao longo da série de observações considerada. Os primeiros valores não são, obviamente, estatisticamente significativos devido ao pequeno número de anos considerado. Porém, á medida que a extensão da série se vai ampliando, a significância estatística dos valores vai sendo progressivamente maior.

Verifica-se que, após a construção das grandes barragens, existe tendência bem marcada para que o valor do escoamento médio anual decresça progressivamente até ao final da série. Esta deriva dos valores, atendendo à extensão da série, é significativa e pode ser interpretada como consequência do represamento das águas e sua utilização no regadio e outras actividades.

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Após 1967 o aumento da capacidade total de armazenamento atenuou-se drasticamente. Efectivamente, após o grande acréscimo verificado no período 1956-67 (correspondente a mais de 0,300km3/ano), entre 1967 e 1988 a

capacidade de armazenamento aumentou em apenas 0,350km3, isto é, em média, 0,017km3/ano.

No sentido de averiguar melhor qual foi o efeito das barragens nas afluências ao estuário, provenientes de montante, construiu-se o gráfico da figura 6.10, que representa os escoamentos médios anuais ao longo da série de Pulo do Lobo, considerando períodos de 21 anos. Escolheu-se este período alargado para atenuar as forte variabilidade interanual do rio e para evitar qualquer periodicidade climática de curto período.

Fig. 6.10 – Escoamentos anuais médios observados em Pulo do Lobo, considerando períodos de 21 anos Verifica-se a existência de um período inicial, sem tendência definida, como seria de esperar num rio ainda muito marcado pelo seu regime natural. No entanto, após 1968/69 até à actualidade, existe tendência marcada para decréscimo consistente dos valores. É provável que tal comportamento reflicta o efeito das barragens construídas principalmente na década de 60.

Este comportamento corresponde ao que seria de esperar perante uma cascata de barragens que, além da exploração hidro-eléctrica, tem como objectivos a irrigação (designadamente do Plano de Rega de Badajoz), o abastecimento de populações e indústrias, e várias outras actividades consumidoras de água. Efectivamente, além das perdas decorrentes da evaporação verificada nos grandes planos de água constituídos pelas albufeiras das barragens, a irrigação, na medida em que aumenta a evapo-transpiração, é responsável, também, por grandes perdas de água. Estas alterações ao funcionamento do sistema natural têm de se reflectir, de igual modo, nos anos extremos.

No sentido de analisar a influência das barragens (e das actividades por elas proporcionadas, designadamente a irrigação) nos regimes de cheias e de secas, construiu-se o gráfico da figura 6.11. Um pouco arbitrariamente, consideram-se, como anos “húmidos” aqueles em que o escoamento anual ultrapassou o dobro do escoamento médio anual na totalidade da série, e como anos “secos” aqueles em que o escoamento foi inferior a metade do escoamento médio. Nos anos designados como “normais” o escoamento localizou-se entre os dois valores limite referidos. Pelas mesmas razões apontadas atrás, consideraram-se médias móveis referentes a 21 anos.

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Dias & Ferreira (Coord) Projecto EMERGE – Estudo Multidisciplinar do Estuário do Rio Guadiana (2001)

Fig. 6.11 – Distribuição percentual, ao longo do tempo, de anos “húmidos” (com escoamento anual superior ao escoamento médio entre 1946/47 e 1998/99), anos “secos( com escoamento inferior a metade do escoamento médio) e de anos “normais”, considerando médias móveis com janelas de 21 anos.

Verifica-se que, após o final da década de 60, a percentagem de anos “húmidos” diminui de forma bastante clara, estabilizando-se nos 10%. Pelo contrário, a frequência de anos “secos” aumenta nitidamente, podendo considerar-se que talvez exista tendência para se estabilizar por volta dos 60%. Aparentemente, a frequência de anos “normais” não apresenta grande variação, sendo, em média, de cerca de 30%.

Assim, pode concluir-se que o efeito das barragens se manifesta por um decréscimo acentuado dos anos “húmidos” e aumento nítido dos anos “secos”, isto é, cerca de 75% dos anos “húmidos” são convertidos pelas barragens em “normais”, e cerca de 75% destes transformam-se em anos “secos”. Este comportamento corresponde, também, ao que seria de esperar.

Efectivamente, os grandes escoamentos são aproveitados para encher as albufeiras, criando reservas estratégicas, passando para o estuário, de forma significativa, apenas os caudais excedentes. Deste modo, os anos com elevada pluviosidade são convertidos em anos com escoamentos “normais”, exceptuando aqueles em que a precipitação é invulgarmente elevada e provavelmente as sequências de anos húmidos. Em muitos dos anos em que a precipitação está próxima dos valores médios, a necessidade de manter as reservas estratégicas conduz a retenção de grande parte dos caudais afluentes, conduzindo à ocorrência de anos “secos” em termos de escoamento. É provavelmente essa a razão porque a frequência de anos “secos” praticamente duplicou após o final da década de 60.

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6.3. Marés

6.3.1. Enquadramento

Dos estudos maregráficos anteriores realizados no estuário do Guadiana destaca-se o realizado pelo Instituto Hidrográfico entre 1984 e 1985, o qual viabilizou a determinação das constantes harmónicas.

Posteriormente foram realizadas, pelo Instituto Hidrográfico, mais duas curtas campanhas de observações, por encomenda do Gabinete de Coordenação do Alqueva. A primeira foi efectuada entre Setembro e Novembro de 1989, com observações em Alcoutim, Foz do Odeleite e V.R.Sto. António. A segunda decorreu em Fevereiro e Março de 1992, tendo sido analisada a maré no Pomarão e em V.R.Sto. António. Não se conhece a existência de outros dados prévios além dos aludidos.

No estuário do Guadiana as marés são do tipo semi-diurno regular. Na tabela 6.IV expressam-se os elementos de maré em V.R.Sto. António.

Tabela 6.IV – Elementos de maré em V.R.Sto.António

Preia-mares Baixa-mares

Valores médios Valores médios

máximo

Águas vivas Águas mortas Águas vivas Águas mortas

mínimo

3,72 3,28 2,64 0,72 1,36 0,28

Fonte: Roteiro da Costa de Portugal (1990)

Segundo Silva et al. (1998), o atraso médio da maré entre Vila Real de Santo António e o Pomarão é da ordem de duas horas e meia, sendo superior em baixa mar; a onda de maré apresenta distorção significativa, tendo as vazantes, no Pomarão, duração que excede a das enchentes em quase uma hora.

Tabela 6.V – Atrasos da propagação da maré, relativamente a V.R.Sto.António (em minutos)

Estação Atraso da preia-mar Atraso da baixa-mar Amplificação da M2

Odeleite 44 58 0%

Alcoutim 81 107 -2%

Pomarão 132 154 -6%

Fonte: Silva et al. (1998)

6.3.2. Instalação e Exploração do Marégrafo

Para a instalação do marégrafo fez-se uma vistoria aos locais ribeirinhos de V.R.Sto.António que poderiam ser apropriados para o efeito. O local óbvio para a instalação seria, em princípio, aquele em que funcionou o antigo marégrafo, há muito desactivado. Todavia, as más condições de conservação das infra-estruturas (casa, poço, etc.), associadas ao assoreamento que se verificou junto ao cais (e do próprio poço do marégrafo), impossibilitaram a instalação neste local.

Após a análise de várias hipóteses, decidiu-se instalar o marégrafo no Porto de Recreio de V. R. Sto. António, mais precisamente na estaca de ancoragem mais externa do cais flutuante.

Obtidas as necessárias autorizações, construiu-se uma régua maregráfica, que foi fixada na estaca aludida, juntamente com o sensor do marégrafo. Adicionalmente, fez-se uma caixa para protecção do marégrafo que não chamasse muito a atenção (para evitar eventuais danos causados por curiosos), tendo-se utilizado para tal uma vulgar caixa de correio (fig. 6.12).

O marégrafo instalado é da marca Valeport, modelo de sensor de pressão, com acurácia de 1,0mm. A taxa de aquisição dos dados foi ajustada para 5 minutos. Possui armazenamento interno das medições requerendo, por isso, que os dados sejam retirados periodicamente.

Todas as vezes que se retiram os dados efectua-se, também, a aferição da leitura digital do marégrafo com a leitura visual da régua maremétrica, como forma de controle da qualidade dos dados adquiridos.

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Dias & Ferreira (Coord) Projecto EMERGE – Estudo Multidisciplinar do Estuário do Rio Guadiana (2001)

Figura 6.12 - Marégrafo e Régua Maregráfica instalados na estaca externa do Porto de Recreio de V.R.Sto.António.

Para a inserção dos dados maregráficos no contexto geodésico nacional, utilizou-se uma estação total para determinar, com precisão, a localização geográfica, tendo-se para tal “transportado” as coordenadas a partir do vértice geodésico do castelo de Castro Marim (visto que o ponto coordenado do Farol de V.R.Sto.António não é estacionável). Assim, as medições efectuadas pelo marégrafo estão inseridas na rede geodésica do IPCC, o que viabiliza a utilização das referências de base normalmente utilizadas, como sejam o Zero Topográfico / Nível Médio do Mar e o Zero Hidrográfico.

Figura 6.13 - Desenho esquemático do nivelamento efectuado para o marégrafo instalado no porto de V.R.Sto.António. O Nível Médio do Mar corresponde ao Zero Topográfico e o Nível de Redução ao Zero Hidrográfico.

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6.3.3. Nível do Plano de Água e Episódios de Sobreelevação

A análise dos dados adquiridos, desde Setembro, pelo marégrafo instalado no porto de recreio de V. R. Sto. António revela que existe muito boa correlação com os níveis previstos pelo Instituto Hidrográfico, para antiga localização do marégrafo de V. R. de Sto. António, como pode ser verificado nas figuras 6.14 a 6.16, referentes aos meses de Setembro, Outubro e Novembro.

O nível médio do plano de água, considerando os meses aludidos é de 2,06 m (ZH). Tal está de acordo com o nível calculado por Cardoso (1990) para a série obtida entre 20 de Fevereiro e 2 de Abril de 1992, que foi de 2,05m (ZH). Todavia, para a série maregráfica de 20 de Setembro a 22 de Novembro, o valor do nível médio foi de 2,27m (ZH), o que provavelmente se deve aos caudais elevados que ocorreram durante o período de observação (Cardoso, 1990). Efectivamente, o nível da água em V.R.Sto. António parece estar bastante dependente dos caudais afluentes ao estuário (além, obviamente, das influências meteorológicas), como o comprova o nível determinado para Dezembro com base na série agora obtida (Fig. 6.17), o qual atingiu o valor de 2,16 m.

Figura 6.14 - Maregrama de Setembro de 2000. O registo de marés adquirido pelo marégrafo está representado a azul e a previsão efectuada pelo Instituto Hidrográfico está em vermelho.

Figura 6.15 - Maregrama de Outubro de 2000. O registo de marés adquirido pelo marégrafo está representado a azul e a previsão efectuada pelo Instituto Hidrográfico está em vermelho.

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Dias & Ferreira (Coord) Projecto EMERGE – Estudo Multidisciplinar do Estuário do Rio Guadiana (2001)

Figura 6.16 - Maregrama de Novembro de 2000. O registo de marés adquirido pelo marégrafo está representado a azul e a previsão efectuada pelo Instituto Hidrográfico está em vermelho.

Figura 6.17 - Maregrama de Dezembro de 2000. O registo de marés adquirido pelo marégrafo está representado a azul e a previsão efectuada pelo Instituto Hidrográfico está em vermelho.

Como se referiu, os dados maregráficos de Dezembro afastam-se bastante mais da previsão, principalmente na segunda quinzena do mês. Tal deve-se aos grandes caudais afluentes ao estuário e à sobreelevação, de índole meteorológica, do nível do mar (storm surge), induzida essencialmente por baixas pressões atmosféricas e pelo vento.

Na realidade, a possibilidade de ter o marégrafo instalado nesta altura, permitiu registar este evento de alta energia e os que se lhe seguiram, o que viabilizará uma maior compreensão da actuação e das consequências, a nível hidrológico e hidro-sedimentar, das cheias no estuário. Aliás, o facto de ter existido uma campanha intensiva de medidas em Fevereiro de 2001 (campanha SIRIA 2001), ainda no decurso do período excepcional de escoamentos que foi o inverno hidrológico de 2000/2001, e na qual se fizeram observações simultâneas tanto em diferentes pontos do estuário como na plataforma adjacente (estações móveis e fixas), permitirá uma visão abrangente da actuação das cheias do Guadiana, até ao momento nunca efectuada neste estuário. Neste contexto, as observações efectuadas pelo marégrafo instalado em V.R.Sto.António adquirem dimensão e valor bastante mais latos.

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No sentido de compreender melhor o fenómeno, determinaram-se, para os quatro meses em referência, as residuais da comparação entre a maré observada e a maré teórica. Após retirar, da maré observada, o valor da maré teórica, aplicou-se uma linha de tendência aos dados resultantes, a qual representa a variação do nível médio das águas no estuário do Guadiana (figuras 6.18 a 6.21).

Verifica-se que, nos meses de Setembro a Novembro (figuras 6.18 a 6.20), apenas ocorreram pequenas oscilações de ordem centimétrica entre os dois níveis comparados, localizando-se o nível das águas em torno do zero maregráfico. Essas pequenas variações, positivas e negativas, devem-se, seguramente, a influências meteorológicas, principalmente a variações da pressão atmosférica.

Todavia, no mês de Dezembro, a situação é radicalmente diferente. O nível do plano de água sofre sobreelevação relativamente ao nível médio, principalmente na segunda quinzena do mês.

O primeiro episódio de sobreelevação iniciou-se no dia 3, atingindo o máximo, de quase 0,5m, na transição dos dias 7 para 8. A taxa de elevação foi reduzida, inferior a 0,5cm/hora.

Figura 6.18 - Variação do nível médio das águas, em Setembro, no estuário Guadiana, em V.R.Sto. António.

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Dias & Ferreira (Coord) Projecto EMERGE – Estudo Multidisciplinar do Estuário do Rio Guadiana (2001)

Figura 6.20 - Variação do nível médio das águas, em Novembro, no estuário Guadiana, em V.R.Sto. António.

Figura 6.21 - Variação do nível médio das águas, em Dezembro, no estuário Guadiana, em V.R.Sto. António. No dia 18 inicia-se nova sobreelevação, do tipo polifásico. A primeira fase atingiu o máximo de 0,38m no dia 20, sendo a taxa de subida de 1,3cm/hora. Após alguma estabilização por volta do nível 0,30m no dia 21 ocorreu nova fase de elevação, bastante rápida ( taxa de subida de 5cm/hora), a qual atingiu o máximo de cerca de 1 metro entre as 19:00 do dia 21 e as 7:20 do dia 22. O decaimento não se verificou de forma homogénea. No dia 25 o nível da água estuarina era, já, inferior a 0,50m acima do nível normal. Verificou-se, então, nova fase de elevação, relativamente pequena, após o que o decaimento se deu de forma consistente, encontrando-se o nível das águas já próximo do normal na passagem do ano.

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Segundo o Jornal do Algarve de 28 de Dezembro, em V.R.Sto. António “grande parte do paredão junto ao rio aluiu, um barco da carreira fluvial e outro da Guarda Fiscal partiram as amarras indo parar à margem espanhola, junto aos estaleiros”. No porto de recreio verificaram-se danos graves em muitas embarcações, algumas das quais se afundaram. Foram ainda registados estragos noutros locais do estuário do Guadiana (ex. Alcoutim). De acordo com o jornal Região Sul de 27 de Dezembro, “a Estrada Nacional 122, que liga Vila Real de Santo António a Mértola, foi cortada junto à ribeira da Foupana devido a cedência do tabuleiro da ponte que a atravessa, causada pela força da água corrente naquela ribeira que escavou o pilar central, provocando o abate do referido tabuleiro em mais de um metro”.

Os grandes caudais do Guadiana, nesta altura, tiveram, seguramente, importância decisiva na ocorrência e no tipo desta sobreelevação. Todavia, a amplitude e as características deste episódio resultaram da convergência de influências meteorológicas e hidrológicas. Efectivamente, na altura, faziam-se sentir ventos fortes (com rajadas até 130km/h), bem como baixas pressões. Aguarda-se a disponibilização dos dados sobre os escoamentos fluviais, o vento, a pressão atmosférica e a agitação marítima para se poder interpretar correctamente este interessante episódio de sobreelevação.

6.3.4. Assimetria da Maré em V.R.Sto. António

No sentido de analisar a assimetria da maré em V.R.Sto. António, analisaram-se os maregramas referentes ao período de 30 de Agosto a 6 de Dezembro, não se tendo utilizado os restantes dados referentes a este mês devido aos episódios de sobreelevação verificados nessa altura.

Numa primeira abordagem determinaram-se os intervalos de tempo que mediavam entre as estofas de maré, ou seja, entre preia-mares e baixa-mares, ao longo de toda a série maregráfica referida. Numa segunda abordagem calcularam-se as durações das marés altas e baixas, sendo estas consideradas como correspondentes aos intervalos de tempo em que o nível de água permanece acima ou abaixo do nível médio do estuário. A figura 6.22 exemplifica os métodos adoptados.

Determinando as médias das diferenças de todas os intervalos de tempo entre estofas de maré, considerando valores positivos quando a duração da maré de enchente era maior do que a da vazante e negativa no caso contrário, obteve-se o valor de 2 minutos e 31 obteve-segundos. Conobteve-sequentemente, pode concluir-obteve-se que, possivelmente, a duração da enchente é ligeiramente maior do que a da vazante.

Figura 6.22 - Gráfico demonstrativo dos métodos utilizados para analisar a assimetria da maré em V.R.Sto. António. Os dados utilizados na figura correspondem aos de 14 de Setembro de 2000. O nível médio corresponde a 2,0 metros acima do Z.H.

Considerando as diferenças absolutas (tabela 6.VI), verifica-se que a média destas corresponde a cerca de 25 minutos, obtendo-se resultado análogo quando se calculam as médias das diferenças para os casos em que a duração das vazantes é maior do que as enchentes consecutivas e vice-versa.

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Tal significa que a diferença verificada entre os ciclos consecutivos é, em média e em valor absoluto, de cerca de 25 minutos, equivalendo-se após vários ciclos de maré. Por essa razão, ao fim de cerca de 3 meses, a diferença média foi, apenas, de cerca de 2 minutos. Todavia, é de referir que o nível de significância dos valores determinados é relativamente pequeno, porque a série maregráfica é pequena, correspondendo, apenas, a cerca de 3 meses.

Tabela 6.VI - Médias relativas às diferenças entre durações de enchentes e vazantes

Média das Diferenças: 2’ 31”

Média das Diferenças Absolutas: 25’ 34”

Média da Vazante > Enchente: 25’ 46”

Média da Enchente > Vazante: 25’ 12”

Todavia, como se pode verificar na tabela 6.VII, o resultado obtido está em relativa concordância com outros obtidos anteriormente.

Tabela 6.VII - Diferença entre as durações das enchentes e das vazante, em minutos. V. R. Sto. António 1989 V. R. Sto. António 1992 Odeleite 1989 Alcoutim 1989 Pomarão 1992 +4 -2 -24 -40 -49

Fonte: Silva et al. (1998)

Como se referiu, no segundo tipo de abordagem para calcular a assimetria da maré, determinaram-se as diferenças entre o tempo em que o nível de água ultrapassa o nível médio do estuário (maré alta) com o tempo em que o nível da maré fica abaixo do nível médio (maré baixa). Este tipo de análise indica a forma da onda de maré, a qual implica significativamente na hidrodinâmica estuarina e, consequentemente, na dinâmica sedimentar.

A duração média calculada para as situações de maré alta foi de 5 horas e 50 minutos, enquanto que para a maré baixa o valor determinado foi de 6 horas e 35 minutos (tabela 6.VIII). Constata-se, consequentemente, uma diferença de 45 minutos, isto é, o nível de água, em V.R.Sto. António, permanece mais tempo abaixo do nível médio do que acima, o que implica uma forma assimetria da curva de maré.

Tabela 6.VIII - . Médias das durações das marés altas e das marés baixas e diferenças determinadas (em horas:minutos)

Média das Marés Altas 5:49.6

Média das Marés Baixas 6:35.2

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6.4. Correntes

6.4.1. Enquadramento

Até ao início do Projecto EMERGE, os conjuntos de dados correntométricos conhecidos, referentes ao estuário do Guadiana, eram reduzidos, existindo duas campanhas de obtenção de dados que se destacaram. Os dados mais antigos foram colhidos, no final da década de 1970, pelo Service Environnement da Université Libre de Bruxelles, no quadro de cooperação com o Serviço de Estudos do Ambiente, correspondendo a séries temporais curtas, de 1 a 2 dias. Mais recentemente, em 1989 e 1990, o Instituto Hidrográfico efectuou, para o Gabinete de Coordenação do Alqueva, observações correntométricas mais longas (cerca de um mês), cobrindo situações de verão e de inverno. A análise dos dados efectuada por Silva et al. (1998) revela que as velocidades no estuário apresentam muito pouca rotação, o que se deve à pequena largura do estuário. As velocidades atingem valores de 1 a 1,5m/s nas várias estações, sendo superiores no inverno. As correntes residuais, calculadas para o troço jusante do estuário (na região de Ayamonte e da Capitania), são dirigidas para montante na camada mais profunda (observações a 6m da superfície) e para jusante mais próximo da superfície (observações a 4m da superfície), o que sugere a influência de diferenças de pressão dissimétricas, associadas à estrutura salina vertical, no escoamento. No inverno as velocidades residuais são mais acentuadas, o que sugere a estratificação da coluna de água.

6.4.2. Resultados

Como já foi referido, além das observações pontuais efectuadas exclusivamente por elementos da equipa científica do projecto, a cooperação interprojectos (principalmente entre os projectos EMERGE e SIRIA) viabilizou a aquisição de um volume muito grande de dados. Atendendo a que a maioria desses dados foi obtida em Novembro de 2000 e em Fevereiro de 2001, não houve, ainda, possibilidade de proceder à sua validação completa e tratamento, tarefa esta que terá a duração de alguns meses. Quando esse trabalho estiver concluído, dispor-se-á de uma conhecimento do estuário muitíssimo mais completo do que existia até agora, o que permitirá uma gestão mais cientificamente suportada e não, como tem acontecido, baseada em pressupostos e hipóteses carecedoras de confirmação.

Apresentam-se seguidamente, a título exemplificativo, alguns dos resultados obtidos até ao momento. 6.4.3.1. Secção Transversal Correntométrica

No sentido de compreender melhor o comportamento tridimensional da correntometria estuarina, efectuaram-se observações (velocidade e direcção) numa secção transversal localizada, aproximadamente, entre Vila Real de Santo António e Ayamonte (figura 6.23).

Figura 6.23 - Mapa de localização da secção transversal de correntometria no estuário do Guadiana

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Nessa secção realizaram-se perfis correntométricos em 3 estações localizadas no meio do canal de navegação e entre este e as margens portuguesa e espanhola, cujas coordenadas militares são as seguintes:

estação junto à margem direita: 63806,01; -273005,10 estação no canal de navegação: 63943,61; -272971.73 estação junto à margem esquerda: 64141.27; -272889.22

As observações foram efectuadas em diferentes estados de maré, designadamente em preia-mar, em meia vazante, em baixa-mar e em meia enchente. Os dados apresentados foram obtidos no dia 15 de Fevereiro de 2001.

Neste trabalho utilizou-se um correntómetro Aanderaa, modelo RCM9 que, além de medições acústicas da velocidade da corrente, do seu módulo e direcção, está dotado de outros sensores que permitem medir, designadamente, a salinidade, a temperatura, a turbidez e o oxigénio dissolvido. O sensor de turbidez foi aferido com sedimentos presentes amostras de água colhidas no próprio local das medições, nos três perfis realizados, tendo-se obtido a correlação de 98,66%.

Nas figuras 6.24 a 6.27 os resultados obtidos estão expressos de forma a possibilitar a sua compreensão em função da topografia da secção analisada. Nas figuras 6.28 a 6.31 encontram-se os perfis de correntes para cada situação de maré.

Figura 6.24 - Velocidade da corrente no eixo longitudinal da secção do Rio Guadiana, em situação de preia-mar. . Velocidades negativas indicam corrente para jusante e positivas para montante

Figura 6.25 - Velocidade da corrente no eixo longitudinal da secção do Rio Guadiana, em situação de meia vazante. . Velocidades negativas indicam corrente para jusante e positivas para montante

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Figura 6.26 - Velocidade da corrente no eixo longitudinal da secção do Rio Guadiana, em situação de baixa-mar. . Velocidades negativas indicam corrente para jusante e positivas para montante

Figura 6.27 - Velocidade da corrente no eixo longitudinal da secção do Rio Guadiana, em situação de meia enchente. Velocidades negativas indicam corrente para jusante e positivas para montante. Verifica-se que o comportamento vertical das velocidades tende a ser oposto em situações de enchente relativamente às de vazante, com domínio da corrente dirigida para jusante durante a vazante e predominância da corrente dirigida para montante durante a enchente. No entanto, na zona central da secção (canal) há a assinalar a existência de inversões pontuais.

Em situação de enchente, verifica-se que a zona superficial do canal apresenta fluxo para jusante, provavelmente por influência do fluxo fluvial. Na situação de vazante, a corrente, na parte mais funda do canal, está dirigida para montante, o que está associado à presença da cunha salina e à influência da estrutura salina vertical no escoamento.

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Figura 6.28 - Perfis de correntes em situação de baixa-mar.

Figura 6.29 - Perfis de correntes em situação de enchente.

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Figura 6.31 - Perfis de correntes em situação de vazante.

Tal situação encontra-se bem expressa no gráfico relativo à resultante da corrente, após integração da totalidade do ciclo de maré analisado (figura 6.32), havendo a destacar o predomínio do fluxo fluvial na parte superior da secção e da entrada de água salina pela parte inferior. A resultante da corrente dirigida para a foz é, genericamente, mais intensa, provavelmente por influência dos fluxos fluviais existentes. Verifica-se, ainda, que existem maiores velocidades médias no lado espanhol do que na margem portuguesa, podendo tal facto resultar do controlo topográfico exercido a montante, onde o canal sofre um estrangulamento com meandrização dirigida para o lado nascente.

Todos os resultados obtidos apontam para a existência de uma clara estratificação das massas de água durante a amostragem realizada, com repercussões a nível correntométrico, 0 que corrobora a opinião de Silva et al. (1998), que indicam uma influência da estrutura salina vertical no escoamento do estuário do Guadiana.

Figura 6.32 - Resultante da corrente, após integração da totalidade do ciclo de maré analisado. Os valores negativos indicam que a corrente está direccionada para jusante, e os positivos que o sentido é para montante.

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5.4.3.2. Correntometria junto à Desembocadura

Durante a Campanha WADI ANA, uma das acções empreendidas foi a colocação de um correntómetro Aanderaa, modelo RCM9, junto ao fundo, a 7,5m (ZH), na porção jusante do estuário junto à Ponta da Areia. A aquisição de dados efectuou-se entre os dias 14 e 25 de Novembro de 2000,em simultâneo com outras componentes integrantes da campanha, designadamente as referidas como estação fixa no estuário, estação fixa na plataforma (frente à desembocadura), subidas do estuário e observações na plataforma.

Os dados obtidos (figuras 6.33 a 6.35) revelam, como era de esperar, um efeito muito marcado da maré, verificando-se a existência de corrente muito forte, alternadamente para montante e para jusante, verificando-sem predomínio claro de uma das situações. Os gráficos expressos são exemplo dos resultados obtidos, e que se encontram presentemente em fase de processamento.

Figura 6.33 - Gráfico da variação da velocidade (em centímetros por segundo) ao longo do eixo Norte-Sul, que é aproximadamente o eixo longitudinal do Guadiana.

Figura 6.34 - Gráfico da variação da velocidade (em centímetros por segundo) ao longo do eixo Leste-Oeste, que é aproximadamente o eixo transversal ao Guadiana.

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Figura 6.35 - Gráfico da variação da profundidade (em metros), a qual está relacionada com as variações do nível da água causado pelas marés. Valores não reduzidos ao Zero Hidrográfico.

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6.5. Salinidade e Temperatura 6.5.1. Enquadramento

Que seja do nosso conhecimento, os primeiros dados sistemáticos sobre salinidade no estuário do Guadiana foram os obtidos em Novembro de 1977 pelo Service Environnement da Université Libre de Bruxelles, no quadro de cooperação com o Serviço de Estudos do Ambiente (Wollast et al., 1978). Trata-se de séries curtas (1 a 2 dias), de perfis longitudinais e de perfis verticais. Posteriormente, em 1989 e 1990, o Instituto Hidrográfico efectuou, para o Gabinete de Coordenação do Alqueva, novas observações em séries mais longas mais longas (cerca de um mês). Mais recentemente, nos últimos 5 anos, várias equipas da Universidade do Algarve obtiveram dados de salinidade em perfis ao longo do estuário (p.ex.: Rocha et al., submetido).

Segundo os dados de Wollast et al. (1978), reproduzidos na figura6.36, o limite da intrusão salina situa-se, consoante o estado da maré e, obviamente, o caudal, entre 14 e 26km da foz,. Todavia, em condições de grandes caudais fluviais, mesmo a embocadura do estuário pode ser dominada pela presença de água doce, chegando mesmo a constituir-se uma pluma de água doce na plataforma continental adjacente à desembocadura (Wollast & Michel, 1980). Os perfis verticais de salinidade obtidos em 1977 revelam, com frequência, heterogeneidade na estrutura da coluna de água, principalmente no troço terminal do estuário (figura6.37). O conjunto de observações efectuadas pela equipa de Bruxelas revela que, nas condições de caudais em que foram realizadas, a estrutura salina apresenta estratificação, sendo possivelmente a profundidade da haloclina crescente para montante. Na figura6.38 reproduz-se uma secção salinográfica longitudinal do estuário.

Figura 6.36 - Perfis longitudinais de salinidade obtidos em Novembro de 1977 (modificado de Wollast et al., 1978).

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Figura 6.38 - Perfis verticais de salinidade obtidos em 7 Novembro de 1977 (modificado de Wollast et al., 1978). Os resultados referentes á temperatura são pouco conclusivos pois que, principalmente na época do ano em que foram efectuadas as observações, a água doce e a água marinha têm temperaturas da mesma ordem de grandeza (17,5 a 18,5ºC).

Segundo Silva et al. (1998), os dados obtidos pelo IH em 1989 revelam que, em situação de fortes caudais (da ordem de 300-400m3/s), existem salinidade bastante baixas (da ordem de 5%

o) junto à foz; após o estabelecimento da

haloclina, as marés requerem cerca de 15 dias para misturarem a coluna de água.

Figura 6.39. Estrutura salina ao longo de perfis longitudinais do estuário do Guadiana, obtidos em Março de 1997, durante marés mortas (A) e marés vivas (B). Os círculos representam os pontos de amostragem. (adaptado de Rocha et al., submetido)

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De acordo com o trabalho desenvolvido por Rocha et al. (submetido), que analisa campanhas efectuadas entre Abril de 1997 e Março de 1998, o limite de intrusão salina foi relativamente constante para o período entre a Primavera e o Outono, em que os caudais fluviais foram pequenos. Contudo, no Inverno de 1997/98 não se observou estrutura salina no estuário, com os valores de salinidade a atingirem 14%o na zona de pluma estuarina, junto à foz. Os autores concluem que o Guadiana é um estuário que pode ser dominado por água doce, mas apenas em situação de elevada descarga fluvial, enquanto que no período estival é controlado pela acção marinha, condicionada pelo efeito de maré. Tal efeito induz uma forte mistura vertical durante marés vivas (correntes mais elevadas, figura 6.39a) e a formação de intrusão salina marcada durante marés mortas (figura 6.39b). O limite máximo da intrusão salina observado pelos autores no período amostrado foi sempre inferior a 40 km.

6.5.2. Resultados

Atendendo a que o vasto conjunto de dados obtidos no âmbito deste projecto está, actualmente, em fase de processamento, apresentam-se, seguidamente, apenas alguns dos resultados preliminares obtidos até ao momento. 6.5.2.1. Secção Transversal

As observações efectuadas com o RCM9 na secção transversal localizada entre V.R.Sto. António e Ayamonte (figura 6.23) indicam que, nas condições existentes aquando das medições, existia estratificação salina da coluna de água (figuras 6.40 a 6.43).

Efectivamente, são identificáveis duas massas de água, uma mais salina (água marinha) localizada na parte mais profunda, e outra, superficial, constituída por água doce (água fluvial). A representatividade destas massas de água na secção em referência depende do estado da maré. Em preia-mar verifica-se incremento da espessura correspondente a água salgada (reduzindo-se a de água doce) e, na baixa-mar, ocorre o inverso. Tal indica que a acção da maré, designadamente os desníveis por ela criados, têm influência maior na circulação estuarina.

Figura 6.40 – Salinidade observada na secção transversal do estuário do Guadiana, em situação de preia-mar.

Figura 6.41 – Salinidade observada na secção transversal do estuário do Guadiana, em situação de vazante.

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Figura 6.42 – Salinidade observada na secção transversal do estuário do Guadiana, em situação de baixa-mar.

Figura 6.43 – Salinidade observada na secção transversal do estuário do Guadiana, em situação de enchente. É, ainda, observável que a massa de água salgada (salinidade entre 30 e 30%o) está sempre presente, junto ao fundo,

mesmo em situações de baixa-mar, indicando que a cunha salina aí permanece praticamente sem mistura. Tal facto está de acordo com a existência de caudais fluviais moderados aquando da obtenção dos dados.

Verifica-se, também, que existe assimetria na distribuição destas massas de água relativamente às margens. Tendencialmente, em todas as situações de maré, na margem esquerda ocorre mais água salgada e, na direita, mais água fluvial. Este comportamento é particularmente nítido em vazante e em baixa-mar.

Nas figuras 6.44 a 6.47 pode observar-se a estrutura térmica da secção no ciclo de maré analisado. A temperatura da água não apresentou variação muito significativa no seu comportamento, havendo a assinalar a distinção de duas camadas, uma superficial (mais fria) e outra próxima do fundo (ligeiramente mais quente), em todas as situações de maré. As temperaturas mais quentes correspondem à presença de água marinha, verificando-se que a estrutura térmica acompanha as variações de salinidade acima descritas.

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Figura 6.44 – Temperatura observada na secção transversal do estuário do Guadiana, em situação de preia-mar.

Figura 6.45 – Temperatura observada na secção transversal do estuário do Guadiana, em situação de vazante.

Figura 6.46 – Temperatura observada na secção transversal do estuário do Guadiana, em situação de baixa-mar.

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6.5.2.2. Salinidade e Temperatura junto à Desembocadura junto à Desembocadura

Os dados de salinidade e de temperatura observados durante a Campanha WADI ANA, pelo RCM9 localizado no fundo junto à Ponta da Areia, estão expressos nas figuras 6.48 e 6.49. É, aí, possível observar o efeito muito marcado da maré na variação da salinidade. Verifica-se que em situação de maré alta a água na foz era sempre água marinha praticamente não misturada, enquanto que na maré baixa ocorreu sempre um decréscimo da salinidade por mistura entre águas fluviais e marinhas. Essa mistura possuiu maior intensidade no final do período de amostragem, provavelmente devido à ocorrência de caudais fluviais mais elevados.

A variação da temperatura é marcada por ciclos diários (dia/noite), sendo as temperaturas mais baixas coincidentes com as situações de maior mistura de água, em maré baixa nocturna. Tal indica que a água fluvial possuía temperatura genericamente inferior à da água do mar. Existe, no entanto, uma perturbação no registo, com aumento da temperatura média na fase terminal do período de amostragem, responsável pela diminuição de intensidade dos ciclos diários da temperatura.

Figura 6.48 - Variação da salinidade detectada pelo RCM9 fundeado junto à Ponta da Areia no período de 14 a 25 de Novembro de 2000.

Figura 6.49 - Variação da temperatura registada pelo RCM9 fundeado junto à Ponta da Areia no período de 14 a 25 de Novembro de 2000.

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Dias & Ferreira (Coord) Projecto EMERGE – Estudo Multidisciplinar do Estuário do Rio Guadiana (2001)

6.6. Turbidez e Matéria em Suspensão 6.6.1. Enquadramento

Os primeiros dados sistemáticos sobre a matéria em suspensão obtidos no estuário do Guadiana foram os adquiridos em Novembro de 1977 pelo Service Environnement da Université Libre de Bruxelles, no quadro de cooperação com o Serviço de Estudos do Ambiente (Wollast et al., 1978). Trata-se de perfis longitudinais e de medições efectuadas em estação fixa (fig. 6.50).

Os dados do perfil longitudinal revelam um aumento nítido da matéria em suspensão na zona de confluência da ribeira de Odeleite (fig. 6.51). Os da estação fixa indicam a existência de um mínimo de turbidez na baixa-mar, e de um máximo na preia-mar (Wollast et al., 1978).

Figura 6.50 – Salinidade, turbidez e profundidade registadas numa estação fixa localizada frente a Ayamonte, em 9/10 de Novembro de 1977 (modificado de Wollast et al., 1978).

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6.6.2. Resultados

Embora se esteja, ainda, em fase de validação e processamento da informação, apresentam-se, seguidamente, alguns dos resultados já obtidos.

6.6.2.1. Secção Transversal de Turbidez

A informação sobre turbidez obtida na secção transversal localizada, aproximadamente, entre V.R.Sto. António e Ayamonte, e referida no ponto 6.4.3.1., está expressa nas figuras 6.52 a 6.55.

Figura 6.52 – Turbidez (convertida em mg/l) na secção transversal do estuário, em situação de preia-mar.

Figura 6.53 – Turbidez (convertida em mg/l) na secção transversal do estuário, em situação de vazante.

Figura 6.54 – Turbidez (convertida em mg/l) na secção transversal do estuário, em situação de baixa-mar.

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Dias & Ferreira (Coord) Projecto EMERGE – Estudo Multidisciplinar do Estuário do Rio Guadiana (2001)

Figura 6.55 – Turbidez (convertida em mg/l) na secção transversal do estuário, em situação de baixa-mar. Existe tendência para as águas superficiais serem mais túrbidas do que as águas próximo do fundo, o que é mais nítido no canal de navegação e em situações de preia-mar e de vazante. É possível que tal esteja relacionado com o facto da água fluvial ter maior carga em suspensão do que a água marinha, e com a litologia do fundo que, no canal, é essencialmente arenosa, e nas margens predominantemente lodosa.

6.6.2.2. Correntometria junto à Desembocadura

Os dados de turbidez (convertidos em mg/l) observados durante a Campanha WADI ANA, pelo RCM9 localizado no fundo junto à Ponta da Areia, estão expressos na figura 6.56. Tal como os outros dados observacionais, estão actualmente em fase de processamento. É, aí, possível observar o efeito muito marcado da maré.

Figura 6.56 – Variação dos valores de turbidez (convertidos em mg/l) obtidos pelo RCM9 fundeado junto à Ponta da Areia no período de 14 a 25 de Novembro de 2000.

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6.6.2.3. Perfil Longitudinal 6.6.2.3.1. Métodos Utilizados

No sentido de determinar a variação da matéria em suspensão na coluna de água ao longo do estuário, foram efectuados, durante a campanha WADI ANA, perfis longitudinais, em dias consecutivos, em diferentes fases da maré: maré cheia, no dia 24 de Novembro entre as 11:40 e as 15:37, e maré vazia, no dia 25 entre as 06:10 e as 10:30. No primeiro dia foram ocupadas 13 estações, localizando-se a cerca de 4,5km para o exterior da desembocadura e a última em Alcoutim. No segundo dia efectuaram-se observações em 11 locais, com início a cerca de 2km a montante da foz e finalização na mesma estação do dia anterior.

O equipamento utilizado consistiu num equipamento RCM9 (conjunto correntómetro, turbidímetro, transdutores de pressão e sensores de salinidade e temperatura), 2 Garrafas de Niskin (de 8 e de 5 litros), 2 rampas de filtração de 6 copos, bombas de vácuo e balanças de precisão.

Em cada estação foram colhidas águas a 2 níveis: a cerca de 2 metros do fundo e a 2 metros da superfície. As águas colhidas foram armazenadas em contentores de 1,5 litros e, posteriormente, filtradas nas instalações do CIACOMAR. Os resultados obtidos estão expressos na figura 6.57.

Perfis Longitudinais do Guadiana - Campanha WADI ANA

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 -5000 0 5000 10000 15000 20000 25000 30000 35000 40000 45000 50000 Distância à Foz (m) C o n c. ( m g /l)

PMSup BMSup PMFundo BMFundo

Figura 6.57 – Perfis longitudinais de concentração de matéria em suspensão perto da superfície e junto ao fundo. Os perfis representados a vermelho e laranja correspondem ao dia 24 (durante a enchente), e os azuis ao dia 25 (maré vazante).

6.6.2.3.2. Interpretação Preliminar

Os valores máximos (correspondentes ao máximo de turbidez) foram encontrados entre 20 e 35km da foz. Como era de esperar, em situação próxima de preia-mar esses máximos encontram-se localizados mais para montante do que em situação próxima de baixa-mar. Tal parece indicar que, em situações de baixo escoamento como as existentes aquando das observações, o máximo de turbidez se desloca, em cada maré, cerca de 15km.

Como é normal, a água junto ao fundo está sistematicamente mais carregada de matéria em suspensão do que a de superfície. Se, à superfície, as concentrações são análogas nos dois estados de maré, o mesmo não se verifica nas águas mais profundas, em que os valores correspondentes a preia-mar parecem ser mais elevados do que em baixa-mar.

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6.6.2.3.3. Mineralogia da Matéria Particulada em Suspensão

A mineralogia da matéria em suspensão foi determinada, na Universidade de Aveiro, por difracção de Raios X, utilizando directamente os filtros que serviram para separar essa matéria da água em que se encontrava dispersa. Os resultados obtidos estão expressos nas figuras 6.58 e 6.59.

Figura 6.58 – Mineralogia da matéria particulada em suspensão próximo da superfície.

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Referências

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