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Retrato em light painting de Albertino, chefe de uma família kalunga, descendentes de quilombolas, que vive em Vão de Almas, norte de Goiás

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Retrato em light painting de Albertino, chefe de uma família kalunga, descendentes de quilombolas, que vive em Vão de Almas, norte de Goiás

O fotógrafo carioca Renan Cepeda usa com maestria a técnica de light painting

para a criação de imagens artísticas, de retratos a paisagens rurais fantásticas

pintura com luz

A fotografia com filme que vira uma

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Fotografe Melhor 65

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urante muitos anos, Renan

Cepeda subia e descia morros da cidade do Rio de Janeiro atrás de flagrantes que pudessem ilustrar reportagens policiais. Do fotojornalismo diário à fotografia de arte, um longo percurso foi

percorrido. Atualmente, aos 43 anos, ele é reconhecido pelas pesquisas

artísticas sobre técnicas fotográficas um tanto incomuns, como a fotografia infravermelha (que estuda desde 1991) e as técnicas de light

painting, que aplica nas fotos. “Não é

fácil imprimir um estilo visual em fotografia como se faz em pintura. Sempre sentia falta de uma marca minha, pessoal, inalienável, nos

trabalhos. Queria desenvolver algo inédito, com uma caligrafia própria, em imagens que as pessoas reconhecessem e pensassem: isso só pode ser um Renan”, afirma ele.

A busca por essa identidade pessoal no trabalho coincidiu com as fotos que passou a fazer usando o

light painting que, traduzindo para o

Por Valmir Moratelli

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Fotografe Melhor 67

português, significa “pintura com luz”. É uma técnica que consiste em mover uma fonte luminosa diante da câmera durante uma longa exposição. Com o movimento, conseguem-se formas interessantes com a luz, como riscos e até desenhos abstratos. Também é possível aplicar sobre um determinado objeto uma luz

específica, que dá um efeito diferente à imagem, como se imprimisse tintura sobre ela.

O interesse por esse estilo peculiar para fotografar surgiu no caminho de Renan, mais

precisamente, em 1991, quando ele fez as primeiras experiências no Jardim Botânico do Rio. Entre 1996 e 97, fotografou antigos casarões da Lapa e Santa Teresa, bairros cariocas, o que lhe rendeu menção honrosa no Prêmio Marc Ferrez, concedido pela Fundação Nacional de Artes (Funarte). “Eu realizava uma iluminação de varredura, espocando flashes de mão, em alguns segundos com o obturador aberto, para que a iluminação pública não estourasse a exposição”, conta. Depois de sete anos, em 2004, ele desengavetou de vez o projeto de mudar a iluminação de varredura para light painting.

A técnica já era comumente usada em estúdios para fotografar pequenos objetos em table top. “Me pareceu possível aplicá-la em paisagens, desde que não houvesse qualquer lâmpada acesa por perto, ou seja, na roça”, diz. Para isso, então, ele precisava colocar o pé na estrada. O Jardim Botânico da cidade, ainda que à noite fosse bastante escuro, não era totalmente propício para a sequência de fotos que desejava fazer. Aliada a essa pendência técnica, somou-se a vontade de conhecer os confins do País.

Para Renan, era a oportunidade que faltava para pegar a estrada e ir, literalmente, a caminho da roça. “Essa vontade de conhecer o Brasil profundo combinou muito bem com a busca pelo sossego e paz, estados que tanto desejamos e cada vez mais nos é raro”, afirma ele, que

Imagem feita no cemitério de trens no Salar de Uyuni, na Bolívia, com longuíssima exposição, que captou até o movimento das estrelas

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Retratos de Miranda (acima) e Denilson (abaixo, à dir.) feitos por Renan (abaixo, à esq.), que usa uma antiga Rolleiflex com filme 6x6

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rumou para Nova Friburgo, na região serrana do Rio de Janeiro, além de cidadezinhas do sertão nordestino e para a caatinga do Centro-Oeste.

FERRAMENTAS

Para a técnica de “pintura”, ele utiliza os seguintes equipamentos: uma câmera 6x6 ‘tijolinho’ (Rolleiflex/Flexora), de 1952, e filmes apropriados para luz tungstênio (tipo de lâmpada que usa na lanterna). Os retrato são feitos em 20 segundos. Já as paisagens, de 10 a 180 minutos. “Abro o obturador e entro na cena com uma lanterna, escaneando o que quero que apareça na foto. O que não contemplo com a luz não existe no resultado”, explica.

Em tempos exacerbadamente tecnológicos, os efeitos criados a partir de uma técnica dessas podem até se confundir com o que faz um programa de computador qualquer. Mas Renan ressalta que todos os efeitos resultantes são fotográficos, ou seja, realizados no ato da obtenção, diante do sujeito ou objeto fotografado. “Por isso, faço questão de usar filmes. Assim, além de ter um arquivo físico, tenho um original impresso por luz, ou seja, uma ‘foto-grafia’. Sem falar que ter toda a produção em um HD é altamente temerário”, diz ele, a respeito da possibilidade de problemas técnicos ao lidar com o mundo digital.

Renan não concorda com a afirmação de que fotos em ligth

painting são o que se consegue

fazer de mais próximo a uma pintura. O resultado final, garante, não tem nada a ver com uma tela pintada, por exemplo. “Trata-se de outra onda, sob limites fotográficos. Não pretendo realizar pinturas. A intenção é fazer uma foto, sob uma técnica incomum, no ato de fotografar. A luz passa a ser maleável, dosada e dirigida da forma como o autor desejar. A luz está literalmente em minhas mãos”, diz. Renan ressalta ainda que essa é uma técnica fotográfica estritamente limitada à arte. “Não tente fazer isso em casa”, brinca. E se a diversão que a luz pode proporcionar à criação é uma vertente a mais para a criatividade, ele vai além. “A noite é

Casinha de pau a pique na zona rural de Caraíva (BA), que Renan pintou com luz na escuridão total e transformou em uma obra de arte

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um papel em negro, o céu é o limite e qualquer fonte de luz pode te fazer Deus”, compara.

O fotógrafo tem uma série de retratos feitos a partir da técnica de

light painting que foram destaque na

primeira edição do World Photography Award, em 2008, patrocinada pela Sony. O júri foi composto por nomes como Elliott Erwitt, Martin Parr, Mary Ellen Mark, Tom Stoddart, Bruce Davidson, Martine Franck, Nan Goldin e Susan Meiselas. “Ser um dos três finalistas entre milhares de candidatos e ir a Cannes conhecê-los pode ter sido o melhor prêmio da minha vida”, afirma ele, que foi um dos três finalistas na categoria Portrait. Eram onze categorias, totalizando 33 finalistas,

Casa de Tia Edite, sede da Fazenda Dois Riachos, em Brejo da Cruz, sertão da Paraíba; abaixo, Renan no Salar de Uyuni: locações distantes

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dentre mais de 11 mil fotógrafos inscritos de várias partes do mundo. Entre outros trabalhos, com a coleção “Pichações”, em que aplica processos de iluminação pontual sobre casas desabitadas, Renan foi premiado três vezes: pelo

International Agfa Photo Award em 2004; pela bolsa-prêmio da Fundarpe (Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco) e com o prêmio-aquisição no Salão de Santo André (SP), em 2005.

PREMILINARES

A paixão pela fotografia veio cedo na vida dele. O pai era fotógrafo amador. “Desde bem criança as câmeras, filmes e laboratório caseiro me são bem familiares. Meu pai me deu de presente de aniversário uma Olympus Trip 35, câmera que era a coqueluche dos turistas em meados dos anos de 1970. Além disso, a vontade de conhecer o mundo profundamente e viver disso foi o que mais me motivou”, relembra ele.

Em 1987, Renan entrou no mercado de fotojornalismo, colaborando para algumas das maiores publicações do País - jornais como Jornal do Brasil e Folha de S.

Paulo, e revistas como Veja, Época, Isto É, Elle, Exame, entre outras. Além

disso, foi correspondente da agência francesa SIPA-Press no Rio, de 1993 a 1995. Até 1999, vivia de frilas para muitas publicações. “Engraçado, depois que comecei a expor aqui e ali, o pessoal foi parando de me chamar. Um dia um amigo editor me contou que nas redações achavam que eu tinha virado artista e não iria mais topar. Tive problemas

financeiros nessa migração”, afirma. Outra questão pertinente ao seu trabalho é que, enquanto no fotojornalismo trabalha-se com o factual aliado ao fator tempo, nas fotos trabalhadas artisticamente tem-se ‘todo o tempo do mundo’ para a realização. Essa discussão foi levada à série “Night Paintings”, em que Renan questiona o paradigma do ‘momento decisivo’ de uma foto. “Quando abro a câmera por minutos ou horas, congelo o tempo por uma outra dimensão. Então, entro em cena e construo a imagem com minhas mãos, no ritmo da escrita”, diz.

Quanto ao mercado de arte voltado à fotografia, Renan analisa que o cenário tem melhorado nos

últimos anos, mesmo que ainda não seja o mundo ideal. “Os artistas plásticos têm lançado mão desse suporte, aumentado ainda mais a valorização da fotografia no mercado geral de arte contemporânea, embora, por isso mesmo, a oferta tenha se multiplicado em todas as partes do planeta. Uma coisa é certa: a fotografia está valorizada, o fotógrafo não”, afirma, categórico.

Se mais alguém se animar a seguir a trajetória dele, seja para o lado do fotojornalismo, nos tempos de cobertura de pautas em jornais diários, seja no caminho das criações de arte, Renan dá seu conselho: “Vendam as câmeras still e comprem uma de vídeo HD, com um bom programa de edição. Fotógrafo será uma profissão em extinção”, diz.

Pessimismo à parte, e ainda que a modéstia talvez não lhe permita afirmar isso, Renan já conseguiu o objetivo inicial, aquele que projetou quando ainda era fotojornalista: imprimiu sua identidade ao trabalho, a ponto de as pessoas o reconhecerem por uma fotografia de sua autoria. “Ah, isso só pode ser um Renan”.

Domínio da luz na escuridão: um moizeiro (à esq.) na Chapada Diamantina, Bahia, e casa abandonada no Vale do Catimbau, Pernambuco

F OTOS : R ENAN C EPED A

Referências

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