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HOSPITALIDADE E O ENSINO DE PORTUGUÊS AOS IMIGRANTES NAS UNIVERSIDADES DO PARANÁ

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Academic year: 2021

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Desafio Online, Campo Grande, v.8, n.3, Set./Dez. 2020

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Peer Review under the responsibility of Escola de Administração e Negócios da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul ESAN/UFMS.

This is an open access article.

HOSPITALIDADE E O ENSINO DE PORTUGUÊS AOS IMIGRANTES NAS UNIVERSIDADES DO PARANÁ

HOSPITALITY AND PORTUGUESE LANGUAGE TEACHING FOR IMMIGRANTS IN THE UNIVERSITIES OF PARANÁ STATE

Daiane Aparecida Hass

Paraná Turismo daianehass_ap@hotmail.com https://orcid.org/0000-0002-3606-049X

Elisa Marina Fonseca

Universidade Estadual de Ponta Grossa, PR, Brasil elisafonseca.jus@gmail.com https://orcid.org/0000-0002-3167-613X

Mirna de Lima Medeiros

Universidade Estadual de Ponta Grossa, PR, Brasil mirnadelimamedeiros@gmail.com http://orcid.org/0000-0002-7198-9835

___________________________________________________________________________ Resumo

A forma como os migrantes internacionais são acolhidos em um novo país (hospitalidade) possibilita novas interações e significações (ao anfitrião e ao recebido) que podem se desdobrar em processos positivos de enriquecimento mútuo ou de exclusão. Dentre as questões cruciais nessa interação encontra-se a língua local já que o seu domínio tem estreita relação com a possibilidade de efetiva comunicação, socialização e inserção no mercado de trabalho, e, consequentemente, pleno acolhimento e adaptação ao território nacional. Nesse contexto, tendo em vista a função social das universidades, buscou-se verificar a hospitalidade nas universidades públicas paranaenses por meio da oferta de língua portuguesa para estrangeiros. Discute-se as terminologias ligadas aos fluxos migratórios e relaciona-se a hospitalidade e a oferta de cursos de línguas para estrangeiros para em seguida verificar a existência de programas e cursos de língua portuguesa para estrangeiros em Universidades do Paraná por meio de análise documental de dados secundários. Foram encontradas ações e programas em oito das dez instituições pesquisadas. O resultado demonstra que a hospitalidade através do

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ensino de línguas está presente dentro das universidades públicas paranaenses. Ressalva-se, contudo, que a hospitalidade se concretiza efetivamente por intencionalidades e ações integradas com o ensino de português nessas instituições.

Palavras-chave: Hospitalidade; Imigrante; Língua Portuguesa; Universidade Pública; Paraná.

Abstract

The mode of welcoming international migrants into a new country (hospitality) enables new interactions and meanings (for the host and the arriving one) that can unfold into positive processes of mutual enrichment or exclusion. Among the crucial issues in this interaction is the local language since its knowledge is closely related to the possibility of effective communication, socialization and insertion in the labor market, and, consequently, full acceptance and adaptation to the national territory. In this context, in view of the social function of universities, we sought to verify the hospitality though Portuguese language teaching for foreigners in the public universities of Paraná State. We discuss the terminologies related to migratory flows and the linkage between hospitality and the offer of language courses for foreigners in order to, subsequently, verify the existence of Portuguese language programs and courses for foreigners in Universities of Paraná through documentary analysis. Specific actions and programs exists in eight of the ten institutions analyzed. The result demonstrates that hospitality through language teaching is present within public universities in Paraná. It should be noted, however, that hospitality is effectively realized through intentions and actions integrated with the teaching of Portuguese in these institutions.

Keywords: Hospitality; Immigrant; Portuguese language; Public university; Paraná.

1. Introdução

Na história do Brasil, a representação dos migrantes internacionais está intrinsicamente associada a constituição do povo brasileiro. O processo de imigração ainda acontece de forma frequente no país e possui variadas motivações. Na história recente nota-se que a saída das pessoas de seus países de origem nem sempre se dá de forma voluntária. Globalmente, muitos são os deslocamentos forçados. Conforme números divulgados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, atualmente existem no mundo 41,3 milhões de deslocados internos, ao lado de 25,9 milhões de refugiados, e 3,5 milhões de solicitantes de refúgio, que somam o total de 70,8 milhões de pessoas forçadas a se deslocar no mundo (Acnur, 2019b). Ao

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chegar de outra localidade, o estrangeiro precisa submeter-se às leis e regras de convívio social, mesmo que essas sejam diferentes das existentes em seu local de origem (Pereira, 2014).

Independente das diferenças, o acolhimento, ou o direito de ser tolerado se faz presente e tem relação com o processo de inclusão do indivíduo no novo espaço. Nesse caso, a hospitalidade pode ser relacionada à forma como os sujeitos são acolhidos em um novo país. No Brasil, a Lei de Migração, nº 13.445/2017 garante ao migrante a condição de igualdade com os nacionais, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (Brasil, 2017). Todavia, não há registros de como essas pessoas estão sendo recebidas e se adaptando ao território.

A linguagem é outro aspecto relevante nessa relação. Geraldi (1984) associa a concepção de linguagem como expressão do pensamento, instrumento de comunicação, e uma forma de interação. Nesses três casos, há certa dependência da linguagem oral. Diante disso, a compreensão do idioma pode ser um empecilho para a adaptação do estrangeiro. O domínio da língua tem estreita relação com a “possibilidade de plena participação social, já que é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo, produz conhecimento” (Brasil, 1997). Dessa forma, entender a língua local é um importante passo para o processo de interação e socialização entre estrangeiros e a população. Nessa perspectiva, a proposta dessa pesquisa relaciona-se a questões relativas à adaptação dos imigrantes ao uso da língua oficial brasileira, a língua portuguesa.

Algumas universidades brasileiras possuem projetos voltados à população de migrantes e refugiados. Por meio da extensão universitária são realizados trabalhos, ações, atividades, projetos e programas voltados a esse público-alvo. Tais iniciativas correspondem ao compromisso social de construir uma relação entre instituição e sociedade. Além disso, tem capacidade de contribuir para o processo de inclusão social e da hospitalidade. Nessa perspectiva, essa pesquisa busca saber: qual a oferta de línguas para estrangeiros nas Instituições de Nível Superior públicas do Estado do Paraná?

Deste modo, seu objetivo geral foi: analisar a oferta de línguas para estrangeiros nas Instituições de Nível Superior públicas do Estado do Paraná. Para isso, discute-se especificamente as terminologias referentes aos fluxos migratórios e a relação entre a hospitalidade e a oferta de cursos de línguas para estrangeiros na fundamentação teórica que se apresenta adiante. Em seguida, se descreve o processo de coleta e análise dos dados. Por fim, os resultados referentes à existência de programas e cursos de língua portuguesa para estrangeiros em Universidades do Paraná são apresentados e discutidos.

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2 Referencial Teórico 2.1 Fluxos Migratórios

No decorrer da história da humanidade, fluxos migratórios estiveram presentes no cotidiano dos povos por variadas razões. De acordo com a Organização Internacional para as Migrações – OIM (2009), os fluxos migratórios são caracterizados pela “contagem do número de migrantes que se deslocam ou têm autorização para se deslocar para (ou de) um país a fim de ter acesso a um emprego ou fixar-se durante um determinado período de tempo”. Já os fluxos migratórios mistos são “movimentos de população complexos, que incluem refugiados, solicitantes de asilo, migrantes econômicos e outros migrantes” (OIM, 2009, p. 29).

Toda pessoa que não é nacional de um determinado Estado pode ser identificada como “estrangeira” (OIM, 2009). O termo abrange, entre outros, o apátrida, o exilado, o refugiado e o trabalhador migrante (que pode ser regular ou irregular). Os migrantes podem ser incluídos em variadas categorias de acordo com a motivação que os leva a sair de seu local de origem. Um caso recorrente de equívoco é o uso dos termos “refugiado” e “imigrante” como sinônimos, sendo que esses possuem significados distintos. Desse modo, torna-se importante diferenciá-los.

A Convenção de Genebra, de 28 de julho de 1951, de forma pioneira, conceituou legalmente o termo “refugiado”, posteriormente ampliado pelo Protocolo Adicional do Estatuto do Refugiado de 1967. Pela normativa internacional, refugiado é aquele que está fora do país do qual é nacional, e não está sob a proteção desse país, devido a fundados temores de perseguição pelos seguintes motivos: raça, religião, nacionalidade, pertencimento a grupo social ou devido a suas opiniões políticas. Na maioria dos casos, a situação desses indivíduos é tão perigosa e intolerável que necessitam cruzar fronteiras internacionais para buscar segurança e asilo nos países mais próximos. Ao se tornar um refugiado reconhecido internacionalmente, o indivíduo possui acesso à assistência dos Estados, do ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados) e de outras organizações (ACNUR, 2019).

O Brasil destaca-se como precursor na América Latina na destinação de uma lei específica ao Refúgio (Lei n. 9.474, 1997) e na criação de um órgão próprio destinado a este campo – o CONARE (Comitê Nacional para os Refugiados). Segundo Barreto (2010, p. 19) a lei brasileira, redigida em parceria com o ACNUR e a sociedade civil, foi considerada “pela própria ONU como uma das leis mais modernas, mais abrangentes e mais generosas do mundo”. A lei de Refúgio ainda incorporou em seu texto a definição ampliada da Convenção de Cartagena de 1984, um instrumento regional das Américas Latina e Central, que inclui a grave e generalizada violação de direitos humanos como uma das motivações para o pedido de

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refúgio.

Já com relação aos imigrantes (no sentido mais tradicional dado), não existe um fator externo que os forcem a sair do seu país. Eles escolhem se deslocar principalmente para melhorar sua vida em busca de trabalho ou educação, por reunião familiar ou por outras razões. Diferente dos refugiados que não podem voltar ao seu país, os imigrantes continuam recebendo a proteção do seu governo (ACNUR, 2019).

Aqui existe a ressalva dos imigrantes econômicos e dos ambientais (ou ainda refugiados ambientais, não há consenso na doutrina jurídica quanto ao uso desses novos termos). Como exemplo tem-se os haitianos que foram recebidos no Brasil a partir de 2010; tais imigrantes não foram enquadrados na categoria de refugiados pela ausência do fundado temor de perseguição, mas foram tratados de maneira diferenciada pela condição excepcional do país, que havia sido devastado por um terremoto (Friedrich & Gediel, 2014).

Assim, a expressão “migração forçada” é utilizada como um “termo generalista e aberto que cobre diversos tipos de deslocamentos ou movimentos involuntários – tanto os que cruzam fronteiras internacionais quanto os que se deslocam dentro do mesmo país” (ACNUR, 2016). Tem-se utilizado tal expressão para identificar os indivíduos deslocados em decorrência de desastres ambientais, conflitos, fome ou projetos de desenvolvimento em larga escala”, mas não é conceito legal ou uníssono (ACNUR, 2016).

Outro uso de termos que costuma ser empregado erroneamente em discursos políticos e midiáticos é o das palavras migrante, imigrante/emigrante e imigrado/emigrado. Segundo Vianna (2017, p. 50), “os substantivos ou adjetivos migrante e imigrante/emigrante servem para situar a pessoa no momento em que realiza a ação de migrar, de passar de um lugar a outro, ou o fato de que realiza tais traslados de maneira periódica”. Já os substantivos ou adjetivos imigrado/emigrado referem-se a um estado de natureza mais permanente, à situação de uma pessoa que saiu de um lugar para instalar-se em outro. Imigrado refere-se ao lugar de chegada e emigrado a partir do lugar de partida (Vianna, 2017).

Também se diferencia os termos imigrante e emigrante, e tal distinção vem expressa no artigo 1º, §1º da lei de migração brasileira: “[...] II - imigrante: pessoa nacional de outro país ou apátrida que trabalha ou reside e se estabelece temporária ou definitivamente no Brasil; III - emigrante: brasileiro que se estabelece temporária ou definitivamente no exterior”. Assim, o termo a ser utilizado depende do ponto de observação que a pessoa entrou ou saiu: se entra no país, é imigrante, se sai, emigrante.

As distinções de termos, num geral, são importantes para os governos, pois os países tratam os migrantes de acordo com sua própria legislação e procedimentos relacionados à

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imigração, enquanto tratam os refugiados através da aplicação de normas sobre refúgio e a proteção dos refugiados – definidas tanto em leis nacionais como no direito internacional (ACNUR, 2019). Já dentro do tratamento aos migrantes, existem diferenciações entre os imigrantes e os emigrantes, o que é verificável na Lei 13.445/2017, que abre capítulos diferentes para cada um dos temas.

No complexo tema das migrações, o ato de deixar uma região ou um país, sua terra, suas raízes, põe em risco ao indivíduo a condição de cidadania e de direitos. Os deslocamentos vinculados aos movimentos migratórios implicam, além das questões legais, na perda da origem e do sentimento de pertencimento. Segundo Dencker (2013, p.5) é a territorialidade que “marca a formação dos grupos sociais e determina sentimentos de pertencimento, na medida em que os membros dos grupos desenvolvem conjuntos próprios de códigos a partir das relações primárias que estabelecem entre si”. Por esse motivo, a inclusão e a adaptação em novos territórios comportam, além de discussões políticas, jurídicas e culturais, questões sociais.

É possível observar que a hostilidade e até mesmo a violência estão presentes nas relações sociais que acontecem dentro de fronteiras nacionais e entre os Estados, o que gera medo, desconfiança e dificulta a interação entre os povos. A falta de intérpretes nas fronteiras brasileiras, nos aeroportos, portos e terminais rodoviários, nos serviços migratórios e até mesmo na Polícia Federal abre um abismo entre quem chega e quem os recebe, o que também dificulta a relação (Gediel, Casagrande & Kramer, 2016).

Outra variável importante na explicação da hostilidade que acontece entre os grupos sociais é o sentimento de rivalidade decorrente da competição por postos de trabalho, própria do sistema capitalista de produção (Dencker, 2013). Nessa perspectiva, a hospitalidade passa a ser um direito do estrangeiro de não ser tratado de forma hostil pelo fato de estar em território alheio (Bauman, 2017, p. 73).

Seja por tolerância ou como forma de solidariedade, a hospitalidade é primordial para que o imigrante ou refugiado tenha condições de conviver em sociedade e acesse seus direitos, como previsto em lei. A língua torna-se fator fundamental para o bom andamento desse processo. É essa relação que será abordada no próximo tópico.

2.2 A hospitalidade e a língua

O ato de acolher é domínio da hospitalidade e pode ser exercido de várias maneiras. Segundo Camargo (2003, p.9), a hospitalidade é considerada um fenômeno social e é caracterizada pelo “ato humano, exercido em contexto doméstico, público ou profissional de recepcionar, hospedar, alimentar e entreter pessoas temporariamente deslocadas de seu hábitat”.

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Esse fenômeno concretiza-se no encontro de alguém que recebe (anfitrião) e alguém que é recebido (hóspede) num determinado espaço que pode ser o espaço doméstico, comercial ou o espaço público (Camargo, 2004).

Como fato social, a hospitalidade pode ser relacionada à forma como os imigrantes são acolhidos em um novo país. De acordo com Fedrizzi (2009), entre as facetas da hospitalidade, pode ser encontrada a hospitalidade comportamental. Tal termo é referente à prática dentro de um ambiente receptor, em como tratam do comportamento da sociedade, grupos, segmentos e ou comunidades (locais ou não), seus significados e envolvimento (processos de inclusão e exclusão social), em diversas situações (receptividade dos turistas, migrantes, imigrantes, emigrantes e outros, como o mercado de trabalho).

Bakhtin (1997) considera o diálogo como uma das formas mais importantes da interação verbal, e, por consequência, da interação social. Dias (2014, p.2) argumenta que “o domínio da linguagem verbal, seja ela escrita ou falada, possibilita a construção de novos saberes, conceitos, paradigmas que aperfeiçoam a ação humana e pode tornar o homem um sujeito esclarecido”.

Para Duroux (2011, p.1061) o não domínio da língua, em qualquer dos níveis, representa “um déficit a ponto de induzir ao desemprego, à exclusão de certos serviços sociais e à ‘não representatividade’, nas instâncias sindicais, municipais e culturais, podendo conduzir ao isolamento social”. Isso não significa que o domínio da língua deva ser exigido como condição para o acolhimento de estrangeiros. Tal ato seria uma forma de violência com o indivíduo que já enfrenta diversas outras questões de adaptação ao novo ambiente, mas facilitar o seu aprendizado pode ser considerado um ato de acolhimento. Isso porque estrangeiros que desejem falar inglês ou outras línguas no Brasil podem enfrentar dificuldades. Segundo pesquisa do British Concil (2014), apenas 5,1% da população brasileira (a partir de 16 anos) afirma possuir algum conhecimento do idioma inglês. Nesse caso, possuir noções básicas do português constitui-se em um importante passo para o processo de interação e socialização entre estrangeiros e a população brasileira.

A língua portuguesa é a quarta mais falada do mundo, com 261 milhões de usuários, atrás apenas do mandarim, do espanhol e do inglês, conforme reportagem da Rádio e Televisão de Portugal – RTP (2016). Contudo, embora ocupe uma posição importante entre o número de idiomas existentes, o português ainda não é uma língua de expressão internacional significativa (Amado, 2015).

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Em pesquisa realizada pelo Instituto ADUS (2016), a respeito das dificuldades na integração de refugiados no Brasil, o relatório informa que todos os entrevistados apontaram como o primeiro desafio na integração o aprendizado da língua portuguesa.

No complexo processo de integração dos imigrantes, a capacidade de comunicar-se com o idioma principal da sociedade receptora é um ponto identificado como essencial, sendo uma área-chave de competência cultural na efetiva integração na nova comunidade (Ager & Strang, 2008). É um ponto que demanda a hospitalidade por parte da sociedade receptora, pois é quem oferece o suporte para o aprendizado da língua ao imigrante.

O ensino, a pesquisa e a extensão apresentam-se, no âmbito das universidades públicas, como uma de suas maiores virtudes e expressão de compromisso social (Martins, 2012). Nesse contexto, algumas universidades têm progressivamente implementado cursos em seus programas. Entretanto, grande parte ainda fica restrita a cursos de extensão voltados à comunidade interna e, em alguns casos, ao público externo (Amado, 2015). Nunes (2011) destaca o papel da extensão como elemento de grande importância enquanto forma de estabelecer uma relação transformadora entre instituição e sociedade.

Sabe-se que essas questões se tornam complexas devido à enorme dimensão e diversificação cultural do país, mas, com o devido apoio (por meio de políticas públicas e envolvimento da sociedade), essa relação apresenta um potencial de intercâmbio e mudanças para a sociedade e para o processo de ensino que podem beneficiar todas as partes envolvidas. Essas iniciativas podem ser compreendidas como forma de hospitalidade e serão abordadas nos resultados deste trabalho.

3. Metodologia

A pesquisa é de caráter exploratório-descritivo e apresenta uma abordagem qualitativa. Tendo em consideração os temas dispostos nos objetivos, a investigação utilizou-se de levantamento bibliográfico e documental.

A busca por instituições foi efetuada através do sistema e-MEC, base de dados oficial dos cursos e Instituições de Educação Superior do Ministério da Educação. Por meio do modo de consulta avançado, foram delimitadas as Instituições de Ensino Superior (especificamente universidades com ensino presencial) das categorias administrativa Pública Federal e Pública Estadual no Estado do Paraná. O relatório da consulta foi processado em outubro de 2019 e foram encontrados 10 registros (Quadro 1).

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Quadro 1 – Instituições de Ensino Superior paranaenses credenciadas

Instituição (IES) Sigla Município Categoria Administrativa

Universidade Estadual de Londrina UEL Londrina Pública Estadual Universidade Estadual de Maringá UEM Maringá Pública Estadual Universidade Estadual de Ponta Grossa UEPG Ponta Grossa Pública Estadual Universidade Estadual do Centro Oeste UNICENTRO Guarapuava Pública Estadual Universidade Estadual do Norte do Paraná UENP Jacarezinho Pública Estadual Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE Cascavel Pública Estadual Universidade Estadual do Paraná UNESPAR Paranavaí Pública Estadual Universidade Federal da Integração Latino-Americana UNILA Foz do Iguaçu Pública Federal

Universidade Federal do Paraná UFPR Curitiba Pública Federal Universidade Tecnológica Federal do Paraná UTFPR Curitiba Pública Federal Fonte: Sistema e-MEC, 2019.

Em seguida, levantou-se informações sobre cursos de português ofertados para comunidades interna e externa das universidades. A busca virtual, realizada entre novembro de 2019 e julho de 2020, deu-se nos sites institucionais, centros de línguas e escritórios internacionais das respectivas instituições. Foram utilizados os descritores “Português para estrangeiros”, “Português como língua adicional” e “curso de português”.

Os resultados foram compilados e analisados por meio de análise de conteúdo. Nessa etapa as informações coletadas foram interpretadas e categorizadas entre Universidades que possuem projetos de extensão e/ou cursos voltados ao público pesquisado. O conteúdo analisado está descrito e discutido na seção que segue.

4. Resultados

Após adentrarem ao Brasil, muitos refugiados e imigrantes ficam à mercê da ajuda solidária, do trabalho realizado por ONGs, instituições religiosas e projetos de extensão desenvolvidos por algumas universidades (Anonni & Del Carpio, 2016). O ensino de línguas está dentro dos projetos desenvolvidos pelas Instituições de Ensino Superior que se constitui em forma de apoio e hospitalidade a esse público que já possui diversas outras questões que desafiam sua estadia em um novo país.

Em todas as universidades paranaenses estudadas há a oferta de cursos de idiomas às comunidades interna e externa. A quantidade de opções varia de IES para IES e também entre os campi das instituições com maior abrangência. Foram encontrados os idiomas: alemão, espanhol, francês, grego clássico, inglês, italiano, japonês, latim, mandarim, libras e português para estrangeiros. Este último, objeto da presente análise, não foi verificado em todos os casos. Por meio da coleta de dados nas instituições dispostas no Quadro 1, foram identificados programas, cursos e projetos de extensão que envolvem o ensino de português para estrangeiros. Os resultados da investigação podem ser visualizados no Quadro 2.

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Quadro 2 – IES que possuem programas, projetos e/ou cursos de língua portuguesa para estrangeiros

Instituição Oferta

Universidade Estadual de Londrina SIM

Universidade Estadual de Maringá SIM

Universidade Estadual de Ponta Grossa SIM

Universidade Estadual do Centro Oeste SIM

Universidade Estadual do Norte do Paraná NÃO

Universidade Estadual do Oeste do Paraná NÃO

Universidade Estadual do Paraná SIM

Universidade Federal da Integração Latino-Americana SIM

Universidade Federal do Paraná SIM

Universidade Tecnológica Federal do Paraná SIM

Fonte: Dados da pesquisa, 2019.

Nas Universidade Estadual do Centro-Oeste e Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP) não houve registro de cursos ou ações de português para estrangeiros nos anos de 2019 ou 2020. Contudo, na UNIOESTE encontrou-se registro de cursos de português para estrangeiros aplicado em anos anteriores. O Programa de Ensino de Línguas (PEL), do campus de Cascavel da Universidade Estadual do Oeste do Paraná ofereceu, em 2016, o curso de Português para estrangeiros. Atualmente o curso não se encontra na grade (Unioeste, 2016). Já no Centro de Ensino de Línguas de Toledo (CELTO) da UNIOESTE o curso de português é voltado ao ensino de gramática e redação, e portanto, não se encaixa nas características delimitadas na presente pesquisa (UNIOESTE, 2019).

Algumas vezes a oferta do ensino de português se dá por meio de laboratórios de cursos de graduação ou pós-graduação organizados, ou centros de línguas. Como o Laboratório de Línguas do Centro de Ciências Humanas (CCH/UEL), Centro de Línguas (CEL/UNIOESTE), Curso de Língua Estrangeira para Comunidade (CLEC/UEPG), Centro de Línguas e Interculturalidade, Órgão Suplementar do Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes (SCHLA) da UFPR, Departamento Acadêmico de Línguas Estrangeiras Modernas (DALEM) da UTFPR, entre outros. Há ainda casos de escritórios voltados para relações internacionais interinstitucionais ofertando o português, principalmente devido ao interesse na internacionalização e recebimento de acadêmicos e/ou docentes estrangeiros por meio de convênios de cooperação internacional. É o caso do Escritório de Cooperação Internacional da UEM; Escritório de Relações Internacionais da UNICENTRO e UEPG. Além disso há projetos de extensão vinculados a cursos distintos e ações pautadas no voluntariado e/ou empreendedorismo social de discentes das instituições de ensino superior analisadas.

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Para participar das ações há diferentes exigências de acordo com a IES. Há questões como a idade (na UEL, por exemplo, a idade mínima para participação é de 16 anos), vínculos, horários e custos que podem impactar na possibilidade de realização dos mesmos. Os custos variam de opções gratuitas até R$1850,00 por módulo. Os propósitos e públicos dos cursos e atividades relacionadas à aprendizagem da língua portuguesa variam. Há opções focadas em alunos estrangeiros e opções mais amplas abertas a qualquer imigrante internacional. É interessante detalhar seus propósitos e formatos tendo em vista o aspecto da hospitalidade aqui focalizado.

Tendo como público os intercambistas pode-se exemplificar os casos da UEM, UFPR e UNICENTRO. O curso de português da UEM, que é parte da política de internacionalização, tem como objetivo proporcionar melhor acolhimento aos alunos estrangeiros, dando-lhes a possibilidade de uma integração mais rápida na comunidade. Na UFPR há o projeto “Português como Língua Estrangeira”, destinado a estrangeiros que frequentam à instituição (CELIN, 2019) que foi o curso com maior valor por módulo encontrado na pesquisa, mas ao mesmo tempo há outras ações gratuitas e com público mais abrangente como será mencionado adiante. Já a UNICENTRO possui o Programa de Acolhimento ao Estudante Internacional, que tem como objetivo mobilizar membros da comunidade acadêmica para a recepção de estudantes internacionais e promover orientações e possibilidades de desenvolvimento da fluência em língua portuguesa. Para isso, são disponibilizadas aulas gratuitas de português e ações de acolhimento por meio dos projetos “Amigo Internacional” e “Voluntário pela língua”. Esses últimos promovem encontros entre falantes nativos de português (não necessariamente vinculado à UNICENTRO) com estudantes internacionais, para conversar e interagir em português sobre quaisquer temas, de forma espontânea, contribuindo para uma melhor adaptação e aprendizado do idioma (Unicentro, 2019).

Para o público de forma mais abrangente (interno e externo à Universidade) foram encontradas propostas relacionadas ao ensino de português na UEL, UEPG, UNESPAR, UFPR, UTFPR. Na UEPG há um projeto de extensão conhecido como “PLA - Português Língua Adicional” que “oferece aulas de português para imigrantes e refugiados moradores de Ponta Grossa e região”. Não há muitos detalhes com relação ao seu conteúdo, além da existência de três níveis e certificação. Nas demais há maiores detalhes com relação às intencionalidades que são descritas a seguir.

Na UTFPR, campus de Curitiba, o projeto de extensão denominado “Português para Falantes de Outras Línguas” orienta-se para duas vertentes: formação de usuários proficientes em português do Brasil em diferentes contextos de formalidade e em diferentes situações –

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interação com os pares, interações nas relações comerciais; interações no mundo de estudo e de trabalho; e profissionalização docente/formação inicial de professores de português para falantes de outras línguas (UTFPR, 2019).

Na UEL aponta-se que o curso denominado de “Português para estrangeiros” tem como objetivo desenvolver as quatro habilidades (compreensão e expressão oral e escrita), além de conhecer aspectos socioculturais do Brasil, bem como seu sistema linguístico. Com semelhante preocupação com a integração dos imigrantes, estudantes de letras e pedagogia da UNESPAR, campus de Paranavaí, ministram aulas de português para estrangeiros. As aulas são ministradas para adultos e crianças, em turmas de diferentes níveis. Segundo o portal da UNESPAR as aulas de português ofertadas “contribuem com um melhor desempenho no trabalho e escola, auxiliando na estadia das famílias” (UNESPAR, 2019).

Na Universidade Federal do Paraná, oPrograma Política Migratória e Universidade Brasileira (PMUB) “desenvolve pesquisas sobre migrações, fornece assessoria jurídico-administrativa, promove aulas de português, informática e história do Brasil e oferece atendimento psicológico ao grupo”. Os projetos envolvem os cursos de Direito, Informática, Psicologia, Sociologia, Letras e o Centro de Línguas e Interculturalidade (CELIN), além do Programa de Educação Tutorial (PET) História da UFPR (UFPR, 2019).

Também envolvendo diversas questões há uma ação extensionista na UNILA intitulada “Português para Estrangeiros em Foz do Iguaçu: integração pela diversidade e interdisciplinaridade”. O projeto iniciou em 2014 e “leva em consideração a necessidade dos cidadãos estrangeiros tanto falantes de espanhol quanto falantes de outras línguas diversas do espanhol residentes em Foz do Iguaçu de terem contato com o ensino formal da Língua Portuguesa” (Sigaa, 2017). O público-alvo interno são os docentes, técnicos estrangeiros, discentes estrangeiros que frequentam a UNILA e que queiram reforçar estudos em língua portuguesa. O público-alvo externo são estrangeiros trabalhadores/estudantes em Foz do Iguaçu e/ou arredores, permanentes ou temporários.

A proposta é favorecer a integração linguístico-cultural interregional, uma boa convivência com a língua-cultura do deslocar-se e conviver nesse espaço geográfico fronteiriço, por meio de curso de Língua Portuguesa falada no Brasil, abordando o falar, ouvir, ler, escrever e interagir, ofertado em turmas multiníveis. Trabalho a ser desenvolvido com embasamento na visão Sociolinguística, a qual considera a heterogeneidade linguístico-cultural, a especificidade necessária ao atendimento aos diversos falantes-aprendizes e o respeito à diversidade cultural (Sigaa, 2019)

O Centro de Línguas de Relações Internacionais e Integração (CELIRII) da Universidade Federal da Integração Latino-Americana também oferta o curso “O canto como ferramenta no aprendizado da pronúncia do português falado no Brasil”, que tem como foco a

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pronúncia numa abordagem de ensino-aprendizagem fundamentada em conteúdos básicos de fonética/fonologia e sua aplicação prática na canção brasileira (UNILA, 2019).

Por fim, há uma iniciativa virtual desenvolvida por universitários da UEM apoiados pela ENACTUS (organização internacional sem fins lucrativos dedicada a inspirar os alunos a melhorar o mundo através de ações empreendedoras). Trata-se de uma plataforma virtual voltada ao ensino da língua portuguesa para imigrantes denominada “Raízes e Asas” lançado em 2019 pensando inicialmente em “auxiliar os imigrantes haitianos na inserção à cultura brasileira através da língua portuguesa”. O nome do projeto, segundo explicação do site, “foi atribuído pensando em estimular os impactados do projeto a manter a sua cultura e costumes, suas raízes, e, ao mesmo tempo, proporcionar uma adaptação à nova realidade, oferecendo asas para que possam voar”. O curso é aberto para pessoas de qualquer nacionalidade que queiram ter aulas de português, do básico ao avançado. Para acessar, basta fazer um cadastro e usufruir dos conteúdos, vídeos e questões disponíveis e é fornecido certificado para os alunos que concluem o curso (Raízes e Asas, 2019).

Pode-se observar, mesmo pela breve descrição dos objetivos, que há iniciativas vinculando não só o ensino do português, mas o amarrando com outras questões importantes aos imigrantes que perpassam desde a manutenção de sua identidade até o apoio e orientação com relação ao local de recepção. Esse fato demonstra compreensão para a complexidade do processo de aprendizagem da língua, bem como integração, já que envolve outros fatores como a: “[...] falta de possibilidade de alimentação, necessidade de uma pessoa para cuidar das crianças no período de aulas e preço do transporte foram alguns dos motivos citados para o abandono das aulas” (Adus, 2016, p. 18). A falta de auxílio em outras áreas pode interferir diretamente no aprendizado da língua, cuja falta de domínio dificulta a inserção no mercado de trabalho, caracterizando um ciclo vicioso, que demonstra que as ações devem estar conectadas para alcançarem eficácia.

Fica evidenciado o uso do ensino de português como parte da hospitalidade das instituições, sendo os acolhidos vinculados ou não às mesmas. Aponta-se que oferecer a oportunidade de compreender o idioma local constitui-se como forma de hospitalidade e também contribui para a inclusão social desses indivíduos, sendo elemento essencial do processo de integração efetivo, mas sem desconsiderar que a integração é um processo abrangente. Para além do oferecimento de um tipo de assistência, é necessário que o imigrante seja incluído em programas ou políticas de integração amplos, tendo acesso a: “[...] emprego, moradia, educação e saúde; cidadania e direitos; processos de relações sociais com grupos dentro da comunidade receptora [...]” (Moreira, 2014, p. 89), ao que se apresenta como

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essencial a identificação de quais são os obstáculos a esses acessos em termos de língua, cultura e ambiente local.

O número de instituições preocupadas com o ensino de português para estrangeiros nas universidades do Paraná demonstra a importância social do assunto abordado e a preocupação de cumprir seu compromisso de estabelecer relações com a sociedade. Através da pesquisa, foram verificados programas e cursos de língua portuguesa disponíveis para estrangeiros nessas Universidades do Paraná. Os resultados anteriormente discutidos estão sintetizados no Quadro 3 a seguir.

Quadro 3 – Lista de ações voltadas ao ensino de português para estrangeiros

Instituição Público

destinado Ações/ programas

Custo Carga Horária Requisitos

UEL Público interno e externo Curso de Português para estrangeiros Comunidade interna: R$ 300,00; Externa: R$ 390,00

60 h/a Idade mínima: 16 anos

UEM

Público interno

Curso de Português para acadêmicos

estrangeiros

Gratuito 8 meses (em 2019)

Vínculo institucional

Público interno

e externo Raízes e asas Gratuito

Módulos (básico, intermediário e avançado) com diferente número de vídeo-aulas e questionários Cadastro na plataforma online

UEPG Público externo Português Língua

Adicional (PLA) Gratuito

Semestre Letivo, níveis básico, intermediário e avançado Não mencionado

UNICENTRO Público interno

Programa de Acolhimento ao

Estudante Internacional

Gratuito especificado Não Institucional Vínculo

UENP - - - - -

UNIOESTE - - - - -

UNESPAR Público interno e externo

Aulas de Português

para Estrangeiros Gratuito especificado Não

Não mencionado UNILA Imigrantes O canto como ferramenta no aprendizado da pronúncia do português falado no Brasil

Gratuito especificado Não mencionado Não

Público interno e externo Português para Estrangeiros em Foz do Iguaçu: integração pela diversidade e interdisciplinaridade

Gratuito especificado Não Não mencionado

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UFPR Intercambistas Português como língua estrangeira (PLE) R$1850,00 por módulo 100 h/a por módulo Vínculo Institucional Imigrantes e refugiados Programa Política Migratória e Universidade Brasileira (PMUB)

Gratuito especificado Não Não mencionado

UTFPR Público interno e externo Português para Falantes de Outras Línguas Não mencionado Não especificado Não mencionado Fonte: Dados da pesquisa, 2019.

Os projetos de extensão são a forma mais adotada nas Instituições pesquisadas como forma estabelecer essa relação transformadora. Ao envolver acadêmicos e público externo, esses projetos contribuem para o processo de ensino de ambas as partes e todos são beneficiados. Trazem ainda, para a Universidade, parcela da responsabilidade no acolhimento e inclusão daqueles que chegam ao Brasil, contribuindo para o desenvolvimento e aprimoramento da hospitalidade.

O ensino do português como língua de acolhimento implica na inserção cidadã efetiva do imigrante que aprende a nova língua, e um ensino pensado nas demandas especiais desse público poderá acelerar o sentimento de integração. Barbosa e São Bernardo (2014/2015) citados por Barbosa e Ruano (2016), explicam sobre o possível conflito na relação entre o imigrante, a nova língua e a sociedade acolhedora. Isso existe pela tensão e vulnerabilidade que acontecem com a chegada de um estrangeiro. Nesse momento, é possível a emersão do sentimento de rejeição ou descaso no estrangeiro em relação à nova língua, especialmente se sua intenção não é fixar-se de forma permanente no local. Assim: “Acolher pressupõe dinâmicas que representem a inserção da pessoa acolhida em todos os aspectos das relações sociais, incluindo os materiais (assistência imediata, acesso à educação, à tradução de documentos, por exemplo)” (Barbosa & São Bernardo, 2014/2015, apud Barbosa & Ruano, 2016, p. 325).

5. Considerações Finais

O trabalho teve como objetivo verificar a hospitalidade nas instituições de ensino superior públicas paranaenses por meio da oferta de língua portuguesa para estrangeiros. Para isso, foram discutidas as terminologias referentes aos fluxos migratórios e a relação entre a hospitalidade e a oferta de cursos de línguas para estrangeiros. Em seguida foram identificados e analisados os projetos e cursos encontrados.

Foram identificados onze projetos, programas e/ou cursos de extensão em oito das dez instituições pesquisadas. A existência destas ações demonstra a preocupação das universidades públicas em contribuir para o processo de adaptação dos estrangeiros no Brasil. Ademais,

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reforçam o processo de ensino, pesquisa e extensão e fortalecem o elo e a ação transformadora entre universidade e sociedade. Além do processo de adaptação linguística, o ensino da língua local contribui para o processo de hospitalidade e inclusão de imigrantes e refugiados à sociedade, além de colaborar para que este público possa alcançar resultados mais satisfatórios no mercado de trabalho brasileiro.

Ainda, conforme aporte teórico apresentado, verificou-se que o ensino da língua local constitui uma importante ação de hospitalidade, mas que é uma coluna, dentre tantas outras, que farão essa integração ser realmente efetiva. As ações relacionadas à língua portuguesa coordenadas e com propósitos explícitos de acolhimento e integração podem contribuir com tais dinâmicas, mas a adoção de políticas paralelas de auxílio para moradia, trabalho, assistência básica, etc., são importantes a fim de possibilitar aos imigrantes a inserção na sociedade e até mesmo nestes projetos.

Verificou-se que é necessário que os cursos de línguas ainda pensem nas demandas diferenciadas dos imigrantes, a fim de que haja, por exemplo, “[...] oferta de horários alternativos ao período trabalho e/ou procura de trabalho; classes avançadas específicas para a área de atuação no mercado de trabalho [...]” (Adus, 2016, p. 28), entre outras medidas que se mostrem necessárias, a serem verificadas no decorrer das atividades extensionistas. Tais demandas devem ser pensadas por cada projeto em específico, conforme seu público. Trata-se de ouvir as necessidades dos imigrantes, estabelecer um processo dialogal onde eles passam a ser sujeitos com voz ativa e participativa.

A atenção à opinião dos imigrantes é essencial para a efetiva integração, afinal são os maiores interessados. Esse tipo de ação por parte dos projetos extensionistas poderá firmar um processo de integração em potencial, em sua melhor expressão de hospitalidade e acolhimento. Ao longo do desenvolvimento deste estudo identificaram-se limitações em decorrência da busca virtual. Alguns sites apresentaram falhas. Mensagens como “página não encontrada” e “Esta página não está funcionando” são exemplos de problemas encontrados. Desta forma, há possibilidade que haja mais ações que se encaixam nas características pesquisadas. Por se tratar de um estudo exploratório, o presente trabalho evidencia a necessidade de mais pesquisas serem feitas, a fim de solidificar resultados e enfatizar a importância do papel da universidade em incluir imigrantes e refugiados na sociedade.

Sugere-se a realização de pesquisas com os envolvidos (participantes, voluntários, membros da equipe e coordenadores) nas ações descritas. Registra-se ainda a possibilidade, em pesquisas futuras, de realizar um levantamento dos cursos oferecidos por outras instituições além da universidade pública. A análise poderá se estender para o ensino superior privado,

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instituições da sociedade civil e instituições estatais que ofertem esses serviços de ensino de língua portuguesa para imigrantes. Outra possibilidade de aprofundamento da pesquisa é uma análise mais descritiva sobre o funcionamento dos projetos aqui listados, verificando se estão relacionados, em alguma medida, com outros projetos e/ou políticas de apoio aos imigrantes.

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