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Neoliberalismo, Industria do Salmão e lutas territoriais/maritoriais no Arquipélago de Chiloé.

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Neoliberalismo, Industria do Salmão e lutas

territoriais/maritoriais no Arquipélago de Chiloé.

Manuel Ansaldo Roloff (PPGAS-UFSC)

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Introdução

O trabalho visa refletir sobre a atividade da indústria no salmão, especificamente no Arquipélago de Chiloé no Chile, assim como mostrar as resistências e disputas que os diversos grupos sociais chilotes tem levado adiante para manter os modos de vida tradicionais e disputar um processo de conversão em “zona de sacrifício” produto de uma indústria que tem trazido na região constantes crises econômicas, sociais e ambientais. Para entender tais processos, a categoria neoliberalismo é útil devido a que o Chile tem sido “o primeiro experimento neoliberal na américa latina” produto do golpe militar no ano 1973 e da expansão e hegemonia das ideias da Escola de Chicago de Milton Friedman.

O contexto neoliberal permitiu a privatização dos bens públicos e naturais e da expansão das atividades extrativistas, provocando fortes transformações e complicações nos territórios atingidos. Um desses casos é a indústria do salmão no arquipélago de Chiloé, no sul do Chile, onde desde há vários anos tem se desenvolvido fortes críticas ao modelo de desenvolvimento, desde diversos movimentos e grupos sociais, tomando a forma de movimentos de defesa do território, chamado também de maritorio devido as características particulares da cultura do arquipélago que, a diferencia da racionalidade capitalista que divide os espaços para quantificar, nunca separou o mar, a costa e a terra (ÁLVAREZ, et. al., 20191). nem fixou territorialidades que tem sido sempre fluxo de pessoas e bens, contrário ao projeto moderno/colonial de sedentarizarão das populações com orientação puramente mercantil.

Produto da falta de regulação como condição do neoliberalismo, os dados mostram que na última década tem acontecido mais de 70 vazamentos de salmões, os quais ao não serem nativos, depredam e ameacam a vida de outras espécies. Em maio de 2016, mais de 4659 toneladas de salmão morto foram vertidas na costa norte da ilha, criando a maior crises e movimento local e político das últimas décadas, denominado como o “mayo chilote”, integrando as demandas de pescadores artesanais, trabalhadoras e trabalhadores

1 O maritorio representa “la fluidez, hibridez y yuxtaposición con que se dan los procesos socioambientales

y socioculturales, donde se entiende a los seres humanos en su mutua dependencia con las demás especies. El maritorio es también una provocación frente a una concepción convenientemente instrumental del medio que busca – como aquí se sugiere – imponer un modo de vida que no hace sino servir los intereses económicos del mercado y que, como contraparte, acarrea consigo el desarraigo de las poblaciones locales y la destrucción de sus medios de vida” (ÁLVAREZ, et. al., 2019, p. 124)

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da indústria, povos indígenas e grande parte da cidadania em geral, descontente com o trato de periferia que tem tido o estado chileno com o arquipélago.

Neoliberalismo no Chile

O neoliberalismo como categoria analítica tem sido tratado de forma bastante ampla no Chile, devido as formas específicas que adotou o capitalismo ao longo da ditadura cívico-militar do General Augusto Pinochet Ugarte (FFRENCH-DAVID, 2003; GARRETÓN 2012; RUIZ; BOCCARDO, 2014; VIDAL, 2019). Chile foi, talvez, o país onde se levou adiante o processo mais neoliberal na região, “o primeiro experimento neoliberal na américa latina”, confluindo um governo autoritário e uma ideologia que pensa e dispõe o mercado como eixo articulador da vida social. Tratou-se de um programa de transformação estrutural económica, de repressão aos movimentos e sindicatos de trabalhadores e da privatização de bens públicos (GARRETÓN, 2012, p. 71).

Para entender a radicalidade da transformação, é preciso chamar atenção que o golpe feito ao governo de Salvador Allende em 1973 significou a derrota de um movimento socialista popular democrático, mas não foi uma derrota qualquer. A violência exercida com o único objetivo de aniquilamento dos partidários da Unión Popular (UP), criou uma espécie de tabula rasa sobre uma população totalmente fragmentada e desarticulada, impondo uma nova intensidade de um espaço da morte (TAUSSIG, 1993) que permitiu a imposição de um experimento societal, sem nenhum tipo de contestação política2.

Nesse contexto de total controle e terror, uma das estratégias desse neoliberalismo foi a apertura ao comercio internacional a traves da exportação de matérias primas com baixa manufatura, com a instalação de indústrias extrativas privadas apoiadas pelo estado chileno. Assim, o sonho neoliberal do “mercado regulando a vida social sem interferências estatais”, tem se desdobrado ao longo do território nacional, com características particulares longe da capital Santiago de Chile. No retorno democrático em 1990, período que coincide com a expansão da indústria do salmão trabalhada aqui, o neoliberalismo chileno adquiriu novas configurações, lideradas por um pacto de centro-esquerda que continuou o projeto neoliberal da ditadura, fundamentado na constituição

2 Em 2005 foi publicado o “Informe de la Comisión Nacional Sobre Prisión Política y Tortura” com o objetivo de esclarecer a violência do estado da ditadura por médio dos depoimentos de quem a sofreram. Em 2011 foi publicado o segundo informe. Ambos podem ser baixados aqui: https://www.indh.cl/destacados-2/comision-valech/

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de 1980, o qual operava através de mecanismos específicos para que qualquer mudança fundamental no modelo socioeconómico fosse rapidamente sufocada pelas minorias de direita no congresso nacional. Um consenso político em matéria económica guiou esse pacto:

“en el terreno económico y también en el orden institucional se impuso un consenso tácito en relación con las orientaciones económicas; el mantenimiento del mercado libre y la economía abierta; el manejo macroeconómico estricto; la responsabilidad fiscal; el gasto social controlado y la aceptación de todas las transformaciones relativas a la propiedad llevadas a cabo durante el régimen militar. Por otro lado, la institucionalidad de la política económica se definió por su debilidad reguladora; el mantenimiento de un Estado reducido; un diseño presupuestario muy centralizado y la renuncia al fomento productivo. Esto significó que, en la práctica, se hiciera muy difícil para una propuesta progresista modificar el estilo de desarrollo generado hasta entonces” (GARRETÓN, 2012, p. 85)

Qualquer alteração constitucional só podia ser conduzida com os 2/3 dos votos na câmara, situação impossível devido ao sistema binominal que equilibrava as forças politicas no congresso. Porém, existia um pacto político mais profundo e menos evidente entre os distintos setores políticos, sejam de direita ou de esquerda. Esse pacto foi o responsável da condução homogênea do estado chileno ao longo das últimas três décadas, chegando ao seu fim no dia 18 de outubro de 2019 com as revoltas massivas e populares do outubro chileno, as quais foram canalizadas institucionalmente com o processo constituinte que está em andamento. Logo da vitória da opção “Apruebo” com quase um 80% dos votos, serão elegidos em abril do ano 2021 os e as constituintes para escrever uma nova constituição no Chile. Nunca antes na história do país uma constituição foi escrita com a participação da sociedade civil.

Neoliberalismo e instalação da indústria do salmão em Chiloé

O salmão é um peixe exógeno. Desde a década dos anos 20 o estado chileno junto com pesquisadores científicos tem tentado experimentar processos de adaptação do salmão nas frias águas insulares. Mas foi desde a década dos anos 70 no contexto da ditadura onde as iniciativas privadas, impulsionadas pelo estado chileno por meio de instituições como

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a subsecretaria de pesca (SUBPESCA) e o serviço nacional de pesca (SERNAPESCA), foram se constituindo como um ator industrial na região. No retorno à democracia no ano 1990, a indústria passou por um processo de grande expansão, com o estado chileno outorgando concessões aquícolas às novas empresas que iriam a se criar nesses anos. Atualmente, o Chile ocupa o segundo lugar de países exportadores de salmão, por trás da Noruega (MONDACA, 2018, p. 241) tendo como um dos principais países de chegada do salmão-mercadoria o Brasil.

Entretanto, tal expansão foi só possível através da ampliação de um mercado de trabalho extenso com condições de trabalho precárias, um tipo de proletarização em chave local que introduz mudanças nas formas de vida tradicionais, já que até esses anos os chilotes e as chilotas não acostumavam a trabalhar por um salário fixo, nem receber tais quantidades de dinheiro. Era muito mais comum a migração sazonal para o sul do Chile e a Argentina, assim como atividades imbricadas com formas de vida tradicionais, familiares e comunitárias (TORRES; MONTAÑA, 2018, p.64-65).

No ano 2007 uma infecção nos salmões chamada de Anemia Infecciosa del Salmón (ISA), provocou uma grande crise económica e social, sendo demitidos mais de 30.000 trabalhadores e trabalhadoras da indústria do salmão. Isto porque o processo produtivo viu-se fortemente afetado (TORRES; MONTAÑA, 2018, p.67) Na época, e acredito que ainda acontece a mesma coisa, na imprensa nacional, na mídia e outros meios de comunicação, pouco ou praticamente nada se falava da relação entre o arquipélago de Chiloé e a indústria do salmão, como se estas fossem duas realidades diferentes: De um lado, o Chiloé mágico, profundo, de terras e bosques indomáveis e do outro lado, uma indústria de produção de salmão (peixe exógeno, trazido de fora) amigável com o meio ambiente e produtora de uma das mercadorias chilenas dominantes no mercado mundial. Uma importante característica da indústria do salmão é a sua relação com a pesca industrial. Um grande volume do peixe extraído pela indústria (em forma de arrasto) é utilizado para farinha de peixe, principal alimento na cria de salmão em forma de pellet. Segundo vários diálogos que pude ter em Chiloé, os salmões são alimentados a mão, ou seja, os pellets de farinha de peixe são jogados nas piscinas ou gaiolas manualmente, sendo consumidos pelos peixes só um 25% dos pellets. O restante 75% vai parar no fundo das águas do mar interior, juntando-se com as fezes, o que provoca e acelera a eutrofização do mar, provocando normalmente a morte de milhares de toneladas de

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salmões que morrem intoxicados. Daí cria-se um problema, o que fazer com tanto peixe morto? Muitas das vezes, é levado em camião ou enterrado em áreas permitidas, tratado oportunamente sem causar problemas aparentes. Infelizmente, no ano 2016 4.659 toneladas foram derramadas próximo da comuna de Ancud e das áreas de extração da luga, provocando o conflito relatado acima conhecido como maio chilote.

As lutas territoriais no Chile como contexto de mobilizações sociais

O ano 2011 foi um ano de grandes mobilizações sociais, que será lembrado pela frase “Educación pública y de calidad”. Porém, esse ano os protestos não começaram pela educação pública como de costume e sim por um conflito territorial na patagônia, especificamente pela construção de uma hidrelétrica chamada Hidroaysén que iria poluir um dos rios mais importantes, o Rio Baker. A forte pressão cidadã conseguiu adiar a construção da hidrelétrica e ainda mais importante, inaugurou-se uma nova etapa de lutas territoriais no Chile, as quais têm um denominador comum nas populações atingidas pelas industrias extrativistas. Assim, tornou-se comum falar hoje em dia de “zonas de sacrifício” nos locais onde as populações tem sido literalmente sacrificadas diante de uma produção industrial inserida nos mercados internacionais. Mineradoras e diversas indústrias de alimentos fazem parte desse leque extrativista.

Um ano depois, no ano 2012, na região de Aysén um novo conflito desencadeia-se, dessa vez por causa dos altos custos da vida, pela forte pressão que os pescadores patagônicos estavam sofrendo por causa das indústrias e também por um forte sentimento de abandono por parte do estado chileno (LARA, 2020) , sentimento que será partilhado por muitas lutas territoriais. Agora a luta não era só pela construção de um projeto hidroelétrico, mas também pelo abandono e a injustiça, configurando-se um sentimento regionalista baseado na ideia de uma certa cidadania de segunda classe e da falta de preocupação por parte do estado, manifestada na falta de hospitais, universidades e altos preços para a manutenção da vida. As águas do sul do Chile se agitaram nesses primeiros anos da década de 2010 e não iriam se acalmar nunca mais até hoje em dia.

Nesse contexto nacional de lutas territoriais na patagônia chilena, no arquipélago de Chiloé o colapso provocado pelo vírus ISA como mencionado acima e as contradições cada vez mais manifestas entre a indústria do salmão e a sustentabilidade da vida aguçaram as relações com as populações locais. Múltiplas crises de diversa intensidade

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foram acontecendo ao longo da década no arquipélago, produto da expansão da indústria e uma forte precarização da vida dos trabalhadores e das comunidades tradicionais, com ênfase nas mulheres que são as que acostumam ter as piores condições de trabalho. Os anos 2014 e 2015 foram especialmente difíceis no arquipélago com protestos principalmente na cidade de Quellón, no extremo sul da ilha grande, local que apresenta as maiores contradições do modelo extrativista: pobreza, falta de serviços básicos, drogadição, desemprego, etc.

Porém, o ano 2016 foi totalmente diferente. Segundo historiadores locais, o mayo chilote é o maior conflito social do que se tem registro desde 1712, quando grupos huilliches se levantaram contra as encomiendas e os encomenderos espanhóis. Á diferença daquele episódio dieciochesco, do qual existem poucos registros, o conflito desencadeado recentemente revelou uma vontade política territorial que questiona os modos de vida capitalistas, os usos e abusos da natureza, a exclusão e hierarquização de grupos locais (MONDACA, 2019), ao mesmo tempo que crescem e se posicionam pequenas burguesias que disfrutam da riqueza produzida pela indústria e transformam aceleradamente o arquipélago numa região com uma estética cosmopolita que pouco ou nada tem a ver com a tradição chilota.

Mobilização popular no arquipélago: “El mayo chilote”

“Ya no hay pescao, ya no hay pescao, ya no hay pescao Porque los grandes y aquellos barcos se lo han llevado” Ramón Yañez "La mala pesca de José Chauquel" 1988. Em 2016, o estado chileno como medida sanitária contingente permitiu as empresas de salmão derramar 4.000 toneladas de peixe morto na costa norte da ilha grande de Chiloé. As mortes do salmão assim como os vazamentos das suas gaiolas são situações comuns (situações isoladas segundo as empresas) que atingem diretamente aos grupos locais e a natureza, já que o salmão é um peixe exógeno que não tem predador conhecido, além das grandes quantidades de antibióticos que são usadas na sua criação, em circunstancias que a maioria das vezes consegue-se recuperar somente o 10% do salmão que escapou. Além disso, aquele ano tinha acontecido um fenômeno de afloramento de algas conhecido como marea roja que acontece normalmente no verão, mas que esse ano específico teve

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volumes históricos que prejudicaram fortemente as atividades da pesca e da mariscagem, contaminando grande parte da vida marítima no arquipélago. Se a marea roja é um fenômeno natural que afeta aos pescadores e recolhedores, porem cada vez mais vozes locais estão questionando o papel da indústria do salmão e da ação humana em geral na sua aparição e potência, o derramamento em março de 4.659 toneladas de salmão morto foi “la gota que rebalsó el vaso” para os chilotes e as chilotas em geral.

Os impactos da indústria do salmão podem ser entendidos desde uma lógica neoliberal de desregulação das atividades económicas, assim como de uma disposição da natureza e das populações locais como simples recursos dentro de um sistema de produção que visa alimentar os mercados mundiais de salmão. Isto, além da lógica neoliberal, é pensado por académicos e ativistas chilotes como uma forma histórica de trato colonial interno por parte do estado chileno, que explicaria a profundidade dos abusos e dos impactos nos bens naturais e comuns que tem acontecido ao longo das últimas décadas no arquipélago (MONDACA, 2019, p. 242). A complexidade histórica do território, as tensões acumuladas por décadas de extrativismo e um trato colonial de séculos, culminou com um “vómito e desabafo históricos” (MONDACA, 2019, p. 297), materializado pela toma do arquipélago por parte da população local. Múltiplos grupos se levantaram em luta pelo território e contra um modelo de desenvolvimento. Os pescadores por serem diretamente atingidos por causa do salmão morto no mar, mas também por conflitos históricos devido a privatização do mar; trabalhadores e trabalhadoras da indústria do salmão pelas extensas jornadas de trabalho, os baixos salários e a falta de garantias laborais; os povos indígenas por despojos históricos e falta de reconhecimento dos seus territórios ancestrais; e a cidadania em geral por um sentimento de abandono e desproteção num arquipélago rico em biodiversidade convertido em “zona de catástrofe” por causa de um desastre ambiental.

No caso dos pescadores artesanais, várias situações detonaram aquele maio de 2016, aliás da mais evidente que é a poluição das águas marinhas. Uma lei conhecida como a lei Longueira (formalmente chamada “Ley de Pesca y acuicultura N°20657”) tinha sido aprovada de forma corrupta por meio de propinas a senadores outorgadas por empresas dos setores privados com interesses na pesca industrial. A nova lei de pesca permite, entre outras coisas, a pesca de arrasto, danando o fundo marinho, e dá em “concessão a perpetuidade” parcelas de mar para serem exploradas privadamente. Entre as beneficiadas

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estão 7 das famílias mais ricas do país (Cooper, 2016). O problema se acrescenta já que esses grupos económicos da pesca industrial, por médio da pesca de arrasto, extraem muitas espécies ao mesmo tempo que danam o fundo marinho, com o único objetivo de produzir farinha de peixe, a qual é usada, em forma de pellets, como alimento para os salmões que irão ser exportados logo depois. Assim, criado esse círculo interindústrias, os chilotes são deixados de fora da equação, vendo como o seu maritorio é contaminado para interesses das grandes empresas pesqueiras.

Conclusões

A manutenção do livre mercado e da economia aberta tem significado a expansão do salmão-mercadoria no mercado mundial, criando grandes riquezas privadas ao longo dos últimos 30 anos. Isto com a ajuda estratégica do estado, quem tem outorgado concessões para a criação do salmão assim como uma institucionalidade que não tem dado conta quando desastres naturais acontecem. A preocupação pela população local, a reprodução do meio ambiente e o bem estar social (não só económico) foram há pouco tempo externalidades de uma indústria que visa produzir mercadorias ao menor custo possível, possibilitando a concorrência no mercado mundial.

De certa forma, em maio de 2016 esse modelo de desenvolvimento teve uma das suas maiores crises sociais e de legitimidade, quando os habitantes do arquipélago de Chiloé se juntaram e pararam totalmente as atividades comerciais com barricadas e assembleias populares, conseguindo fechar ao longo de um mês o acesso a ilha, refletindo coletivamente sobre o passado, o presente e o futuro das comunidades, demandando a presença das autoridades do estado chileno para resolver um conflito que tem raízes tão profundas quanto a história colonial do arquipélago, devido ao trato colonial que tem sofrido historicamente a população chilota (Mondaca, 2019). Nesse sentido, as comunidades afetadas pelos processos de industrialização na ilha de Chiloé tem respondido de diversas formas contra um modelo socioeconômico que consideram injusto e ameaçante dos modos de vida tradicionais e não tradicionais. Uma delas tem sido a organização de diversos movimentos e espaços de luta pela defesa do território/maritorio, que vão além das críticas a indústria do salmão e buscam refletir sobre um passado e trato coloniais, mesmo que possibilita a emergência de novos sentidos políticos de autodeterminação e soberania.

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Bibliografia

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VIDAL, Paula. Coordenadora. Neoliberalismo, Neodesarrollismo y Socialismo Bolivariano: Modelos de Desarrollo y políticas públicas en América Latina. 1° ed. Santiago de Chile: Ariadna Ediciones, 2019.

Referências

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