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DESAFIOS AO EDUCADOR: ciência e arte

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Academic year: 2021

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DESAFIOS AO EDUCADOR: ciência e arte

Ruy Pinto Pereira Mestre em Literatura Brasileira (UERJ/2004) ETE Oscar Tenório Mário Pedrosa identifica na arte moderna um momento diferenciado da história ao perceber que é a primeira vez que a humanidade ocidental se vê “sem uma concepção cosmogônica intuitiva ou mesmo cosmológica do universo”

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. Diz isso em função da presença desde sempre, em todas as épocas, das mitologias de começo e fim de mundo, mitos da morte e da vida etc.

Sua opinião se baseia na observação de que um grande grupo de artistas se apresenta para preencher essa ausência, grupo que ele divide em dois: os cegos e os de olhos infantilmente abertos. Estes, ele vincula aos matemáticos, por parecerem viver num mundo inteiramente abstrato, com a liberdade da pura criação; aqueles, ele identifica como os artistas propriamente ditos, que, embora mantenham contato com o mundo de alguma forma, confiam mesmo é na intuição, na sua função de antena do mundo.

Considerando a ciência uma construção mítica, faz a junção com a arte moderna, que, “consciente ou inconscientemente, refaz os mitos como fez toda a arte do passado”

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. O autor traça um paralelo entre o homem do passado, arcaico, que diante da natureza, assim como os de hoje, diante da ciência, esforçam-se por fazer uma cosmogonia dos novos tempos. Numa breve comparação, alude a Demócrito e sua teoria atômica, só mais tarde explicada pela ciência.

Mas é pós Newton e sua física clássica, que ordena a modernidade, que vai se ver o surgimento dessa nova era: “para fins do século XIX, porém, essas bases começaram a ser postas em dúvida com o advento de uma nova ciência, a termodinâmica”

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. Baseando-se na sua segunda lei, a passagem do calor à outra energia, na idéia de entropia, afirma que essas idéias, assim como o grande desenvolvimento da teoria da eletricidade, por Faraday e Maxwell, que introduzem a teoria do campo magnético, “os artistas contemporâneos passam também a fundar suas pesquisas nesse dinamismo novo, nessa visão em

1 Pedrosa, 2006, p.49

2 Idem, p.50

3 Ibidem, p.50-51

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movimento”

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, pondo fim à série superada de visão metafísica aristotélica e, consequentemente, geométrica newtoniana.

Os artistas modernos são, portanto, para o autor, determinados pelas novas idéias oriundas da nova cosmogonia emprestada pela nova ciência: “superação do diálogo energia-massa pelo de dinamização da massa, descontinuidade da matéria, etc.”

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:

Cubistas e futuristas, expressionistas e pós-expressionistas, Klee, Mondrian, Kandinsky, Malevitch,Moholy-Nagy, Doesburg, Arp, Presvner, suprematistas, vorticistas, raionistas, neoplasticistas, construtivistas, abstracionistas, expressionistas, todos recorrem com maior ou menor propriedade a essas noções para explicar as concepções que os movem.

Klee, que além de artista visionário foi professor eminente e um fino teórico, dividiu seu livro de Esboços pedagógicos, resumo das lições na Bauhaus, em quatro partes bem sintomáticas: Linha proporcionada e Estrutura; Dimensões e Equilíbrio; Curvas de Gravitação; e Energia cinética e Cromática. (Pedrosa, 2006, p. 51)

Paul Klee

4 Pedrosa, 2006, p.51

5 Idem, p.51

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Wassily Kandinsky

Piet Mondrian

Destacando Klee, Kandinsky e Mondrian, Mário Pedrosa atribui a cada um uma visão da arte nova, dentro da nova ciência: ao primeiro, a energia da cor, que se move como num sistema termodinâmico, por intensificação, que vai do extremo negro ao extremo branco; ao segundo, os objetos são campos de energia-tensão, e a composição um arranjo de linhas; e para o último, o ritmo, que expressa o movimento dinâmico através da oposição dos elementos da composição. Em síntese, a pintura é uma obra de arte que se realiza como um campo eletromagnético de forças contraditórias, mas organizadas, ação, vida:

Os processos tradicionais de criar espaço como a perspectiva, o esforço, os planos em diagonal, ou inclinados, o claro-escuro, nos davam do espaço uma imagem passiva, não criando o que é essencial à mentalidade e à sensibilidade moderna: um sentido de força espacial.

(...) Assim, artistas e teóricos nos falam cada vez mais dessas qualidades dinâmicas – tensão, energia, força, vibração, atração – e cada vez menos dos velhos termos surrados das receitas acadêmicas. A idéia de balanceamento tende por isso mesmo a ser substituída pela de relações espaciais; a de composição pela de campo de forças; a de desenho pela de inter-relações de linha e planos etc. (Pedrosa, 2006, p.53)

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Clemente Greenberg, no artigo Vanguarda e Kitsch, identifica, nesse mesmo momento, nessa mesma sociedade, nesses mesmos artistas, os fatos de que se ocupou Pedrosa: uma vanguarda em erupção, que surge em meio à crise de referências do período e que se agarra, então, aos fatores sociais e históricos relativos ao meado do século XIX: o surgimento de uma nova mentalidade, que, para Greenberg, foi um fato de evolução social e, embora não por acaso, uma feliz coincidência com o surto cientificista europeu de fim de século:

Assim, nossa atual ordem social burguesa revelou-se não uma condição de vida eterna, “natural”, mas apenas o último termo de uma sucessão de ordens sociais. Novas perspectivas desse tipo, tornando-se parte da consciência intelectual avançada das quinta e sexta décadas do século XIX, logo foram absorvidas por artistas e poetas, ainda que de forma inconsciente na maior parte dos casos. Não foi por acaso, portanto, que o nascimento da vanguarda coincidiu cronologicamente – e geograficamente também – com o primeiro surto de desenvolvimento do pensamento revolucionário científico na Europa. (Greenbreg, 2001, p.28)

Greenberg vê no contexto histórico e cultural razões de sobra para esse fato, na medida em que atribui aos artistas a recusa ora à agitação revolucionária que tomou conta da sociedade, ora à oportunidade de se livrar do caráter burguês e conservador que dominava as artes, então.

Apartados das razões burguesas explícitas e das obrigações da tradição artística (“alexandrismo inerte”, definia...), a vanguarda das artes plásticas e da poesia chegaram à arte “abstrata” ou “não-objetiva”: “Ao desviar sua atenção do tema da experiência comum, o poeta ou artista a dirige para os meios de sua própria prática”

6

.

O autor se alonga ainda em estudar o fenômeno até sua crise paradoxal, isto é, ser uma arte de elite que renega o seu público de origem. A nós, chamou a atenção a diversidade do olhar sobre o mesmo, nessa aproximação entre dois críticos que se debruçam sobre a vanguarda e se completam, trazendo-nos, com clareza, a orientação estética segura para apreciarmos a arte desses grandes mestres.

Indubitavelmente não se pode mais estudar ou ensinar artes sem o concurso às ciências de toda ordem. O desafio à educação se dá pela necessidade de superação das

6 Greenberg, 2001, p. 29

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relações estanques entre os conhecimentos; e a proposição criativa da multivisão, da

interdisciplinaridade na formação dos professores, o que vai exigir, a princípio, uma grande

parcela de esforço individual na busca por uma educação transformadora de ambos,

mestres e alunos, até que sejam estabelecidos novos parâmetros e novas perspectivas para o

que entendemos ser uma construção de cidadania plena e consistente para o homem de

hoje.

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Referências bibliográficas

GREENBERG, Clement. Vanguarda e Kitsch, in: Clement Greenberg e o debate crítico.

Org. FERREIRA, Glória; COTRIM, Cecília. Ed. Zahar, 1ª edição, 2001.

PEDROSA, Mário. Ciência e arte, vasos comunicantes, in: Crítica de arte no Brasil:

temáticas contemporâneas. Org. FERREIRA, Glória. Ed. Funarte, 1ª edição, 2006 http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://artforsaleamerica.com/paintings- image/paul-klee/paul-klee-fire-in-the-evening-

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