Superior Tribunal de Justiça
HABEAS CORPUS Nº 296.972 - SP (2014/0144043-9)
RELATOR : MINISTRO GURGEL DE FARIA
IMPETRANTE : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ADVOGADO : JULIANE TAGAMI
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PACIENTE : JACKSON MENEZES MENDES
EMENTA
PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS
SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL. NÃO
CONHECIMENTO DO WRIT. EXECUÇÃO PENAL. APURAÇÃO DE FALTA GRAVE. ALTERAÇÃO DA DATA-BASE PARA OBTENÇÃO DE BENEFÍCIOS. ILEGALIDADE FLAGRANTE.
LIVRAMENTO CONDICIONAL, INDULTO E COMUTAÇÃO DE PENA. EXCEÇÃO. PERDA DOS DIAS REMIDOS. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO PARA A IMPOSIÇÃO DA PERDA MÁXIMA.
1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, acompanhando a orientação da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, firmou-se no sentido de que o habeas corpus não pode ser utilizado como substituto de recurso próprio, sob pena de se desvirtuar a finalidade dessa garantia constitucional, insculpida no art. art. 5º, LXVIII, exceto quando a ilegalidade apontada for flagrante e estiver influenciando na liberdade de locomoção do indivíduo.
2. A Terceira Seção desta Corte, em sede de recurso especial representativo da controvérsia, firmou entendimento no sentido de que a prática de falta grave interrompe o prazo para a progressão de regime – acarretando a modificação da data-base e o início de nova contagem do lapso necessário para o preenchimento do requisito objetivo –, não havendo a interrupção para fins de obtenção de livramento condicional, o indulto e a comutação de pena, salvo disposição expressa em contrário no decreto presidencial.
3. Com o advento da Lei 12.433, de 29 de junho de 2011, que alterou a redação do art. 127 da Lei nº 7.210/84, a prática de falta grave no curso da execução implica em perda de até 1/3 (um terço) dos dias remidos, devendo o Juízo das Execuções aplicar a fração cabível à espécie, levando em conta a natureza, os motivos, as circunstâncias e as conseqüências do fato, bem como a pessoa do faltoso e seu tempo de prisão.
4. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício.
ACÓRDÃO
Superior Tribunal de Justiça
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do pedido e conceder "Habeas Corpus" de ofício, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Newton Trisotto (Desembargador convocado do TJ/SC), Walter de Almeida Guilherme (Desembargador convocado do TJ/SP), Felix Fischer e Jorge Mussi votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília (DF), 23 de outubro de 2014(Data do Julgamento)
MINISTRO GURGEL DE FARIA Relator
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HABEAS CORPUS Nº 296.972 - SP (2014/0144043-9)
RELATÓRIO
O EXMO. SR. MINISTRO GURGEL DE FARIA:
Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de JACKSON MENEZES MENDES, apontando como autoridade coatora o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
Consta nos autos que o Juízo da 1ª Vara das Execuções Criminais e Anexo do Júri Araçatuba/SP, reconhecendo a prática de falta grave pelo paciente, determinou a perda de 1/3 dos dias remidos, bem como o reinício da contagem do prazo de cumprimento de pena para fins de benefícios a partir da data da última infração.
A defesa interpôs recurso de agravo em execução, que foi desprovido pelo Tribunal a quo.
No presente writ, alega a impetrante, em síntese, que o paciente sofre constrangimento ilegal decorrente da determinação de reinício da contagem do prazo para fins de obtenção de livramento condicional e indulto.
Ao final, pleiteia a concessão da ordem a fim de que seja anulada a decisão proferida pela autoridade coatora no que se refere ao reinício da contagem do prazo para fins de livramento condicional, indulto e comutação.
Parecer do Ministério Público Federal opinando pela parcial concessão da ordem quanto ao livramento condicional e comutação de penas (fls. 30/34).
É o relatório.
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HABEAS CORPUS Nº 296.972 - SP (2014/0144043-9)
VOTO
O EXMO. SR. MINISTRO GURGEL DE FARIA(Relator):
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, acompanhando a orientação da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, firmou-se no sentido de que o habeas corpus não pode ser utilizado como substituto de recurso próprio, sob pena de se desvirtuar a finalidade dessa garantia constitucional, insculpida no art. art. 5º, LXVIII.
Em hipóteses excepcionais, este Tribunal Superior tem concedido, de ofício, ordem de habeas corpus, nos termos do art. 654, § 2º, do Código de Processo Penal, quando a ilegalidade apontada for flagrante e estiver influenciando na liberdade de locomoção do indivíduo, situação que se verifica na espécie.
Com efeito, no julgamento do Recurso Especial nº 1.364.192/RS, representativo da controvérsia, Relator Ministro Sebastião Reis Júnior, a Terceira Seção desta Corte firmou entendimento no sentido de que a prática de falta grave interrompe o prazo para a progressão de regime – acarretando a modificação da data-base e o início de nova contagem do lapso necessário para o preenchimento do requisito objetivo –, não havendo a interrupção para fins de obtenção de livramento condicional, o indulto e a comutação de pena. A ementa sintetizou o julgado com o seguinte teor:
RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA (ART. 543-C DO CPC). PENAL. EXECUÇÃO. FALTA GRAVE.
PROGRESSÃO DE REGIME. INTERRUPÇÃO. PRAZO. LIVRAMENTO CONDICIONAL. AUSÊNCIA DE EFEITO INTERRUPTIVO.
COMUTAÇÃO E INDULTO. REQUISITOS. OBSERVÂNCIA.
DECRETO PRESIDENCIAL.
1. A prática de falta grave interrompe o prazo para a progressão de regime, acarretando a modificação da data-base e o início de nova contagem do lapso necessário para o preenchimento do requisito objetivo.
2. Em se tratando de livramento condicional, não ocorre a interrupção do prazo pela prática de falta grave. Aplicação da Súmula 441/STJ.
3. Também não é interrompido automaticamente o prazo pela falta grave no que diz respeito à comutação de pena ou indulto, mas a sua concessão deverá observar o cumprimento dos requisitos previstos no decreto presidencial pelo qual foram instituídos.
4. Recurso especial parcialmente provido para, em razão da prática de falta grave, considerar interrompido o prazo tão somente para a progressão de
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desconformidade, em parte, com o entendimento desta Corte.
Ainda, cumpre destacar que com o advento da Lei 12.433, de 29 de junho de 2011, que alterou a redação do art. 127 da Lei nº 7.210/84, a prática de falta grave no curso da execução implica em perda de até 1/3 (um terço) dos dias remidos, devendo o Juízo das Execuções aplicar a fração cabível à espécie, levando em conta a natureza, os motivos, as circunstâncias e as consequências do fato, bem como a pessoa do faltoso e seu tempo de prisão. Neste sentido:
HABEAS CORPUS. SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO.
DESVIRTUAMENTO. EXECUÇÃO PENAL. FALTA GRAVE. PERDA DE 1/3 DOS DIAS REMIDOS. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA. MANIFESTO CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO.
(...)
2. A Lei de Execução Penal estipula como um dos seus vetores o mérito do apenado, cuja avaliação realizar-se-á a partir do cumprimento de seus deveres (art. 39), da disciplina praticada dentro do estabelecimento prisional (art. 44) e, por óbvio, do comportamento observado quando em gozo dos benefícios previstos na aludida norma de regência, quais sejam, o trabalho externo (arts. 36 a 37), as saídas temporárias (arts. 122 a 125), o livramento condicional (art. 131), a progressão de regime (art. 112), a anistia e o indulto (arts. 187 a 193).
3. Caracteriza coação ilegal a decretação da perda dos dias remidos na fração máxima de 1/3, sem fundamentação concreta.
4. Ordem não conhecida. Habeas corpus concedido, de ofício, tão somente para que o Juízo da Vara de Execuções Criminais da Comarca de Santa Rosa/RS fundamente, de maneira concreta, a fração da perda dos dias remidos aplicável ao caso. (HC 282.265/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 22/04/2014, DJe 02/05/2014)
Na hipótese dos autos, verifica-se que não houve qualquer fundamentação concreta que justificasse a perda dos dias remidos no patamar máximo de 1/3, havendo apenas alusão – genérica – à natureza e consequências dos fatos (fl. 7).
Ante o exposto, NÃO CONHEÇO do writ. CONCEDO o habeas corpus de ofício, para reconhecer que o cometimento de falta grave pelo paciente no curso da execução da pena não acarreta a interrupção do lapso temporal necessário à obtenção de livramento condicional, indulto e comutação de penas, salvo disposição expressa em contrário no decreto presidencial, bem como para determinar que o Juízo da Execução decida, de maneira fundamentada, a fração da perda dos dias remidos cabível à espécie.
É como voto.
Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO QUINTA TURMA
Número Registro: 2014/0144043-9 PROCESSO ELETRÔNICO HC 296.972 / SP MATÉRIA CRIMINAL
Números Origem: 02028838220138260000 2028838220138260000 613118
EM MESA JULGADO: 23/10/2014
Relator
Exmo. Sr. Ministro GURGEL DE FARIA Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro JORGE MUSSI Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. FRANKLIN RODRIGUES DA COSTA Secretário
Bel. MARCELO PEREIRA CRUVINEL
AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO ADVOGADO : JULIANE TAGAMI
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO PACIENTE : JACKSON MENEZES MENDES
ASSUNTO: DIREITO PROCESSUAL PENAL - Execução Penal CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, não conheceu do pedido e concedeu "Habeas Corpus" de ofício, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator."
Os Srs. Ministros Newton Trisotto (Desembargador convocado do TJ/SC), Walter de Almeida Guilherme (Desembargador convocado do TJ/SP), Felix Fischer e Jorge Mussi votaram com o Sr. Ministro Relator.