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Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Sexta Câmara Criminal

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Poder Judiciário

Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Sexta Câmara Criminal

APELAÇÃO CRIMINAL Nº 0002027-76.2005.8.19.0033 Relator: Des. Paulo de Oliveira Lanzellotti Baldez Apelante: Erivan de Araujo Soares

Apelado: Ministério Público

Corréu: Anderson Luis Almeida da Cruz Corréu: Rogério Tomas da Silva

Corréu: Suely Soares Lima Braga Corréu: Geraldo Machado Luci

APELAÇÃO CRIMINAL. JÚRI. IMPUTAÇÃO DE DOIS HOMICÍDIOS QUALIFICADOS CONSUMADOS, DE UM HOMICÍDIO QUALIFICADO TENTADO, DE UM ROUBO DUPLAMENTE CIRCUNSTANCIADO E DE CÁRCERE PRIVADO. CONDENAÇÃO PELOS DELITOS CONTRA A VIDA E PATRIMONIAL. RECURSO DEFENSIVO ARGUINDO, PRELIMINARMENTE, NULIDADES DECORRENTES DO ADITAMENTO DA DENÚNCIA EM SESSÃO PLENÁRIA DE JULGAMENTO, PARA O FIM DE RETIFICAR A DATA DO DELITO, BEM COMO EM RAZÃO DE TER O REPRESENTANTE DO MINISTÉRIO PÚBLICO SUSTENTADO, EM PLENÁRIO, ACUSAÇÃO DIVERSA DAQUELA CONSTANTE DA DENÚNCIA E DA DECISÃO DE PRONÚNCIA. NO MÉRITO SUSTENTA A DEFESA QUE A DECISÃO DOS JURADOS É MANIFESTAMENTE CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS, REQUERENDO, EM QUALQUER CASO, A SUBMISSÃO DO APELANTE A NOVO JULGAMENTO PELO TRIBUNAL DO JÚRI OU, DE FORMA SUBSIDIÁRIA, A REVISÃO NA DOSIMETRIA DA PENA E O

RECONHECIMENTO DA CONTINUIDADE DELITIVA.

1. A alteração na data dos fatos se refere à mera retificação de erro material, sem nenhuma influência na produção da prova ou no exercício da ampla defesa do apelante, que inclusive admitiu ter estado no local dos fatos no dia do crime. Tendo em vista a inexistência de prejuízo para a Defesa, deve ser rejeitada a primeira preliminar defensiva de nulidade.

PAULO DE OLIVEIRA LANZELLOTTI BALDEZ:000014991 Assinado em 22/08/2013 19:58:26

Local: GAB. DES PAULO DE OLIVEIRA LANZELLOTTI BALDEZ

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participação nos delitos de homicídio, narrando que ele teria determinado o valor do serviço, transportado os corréus ao local e rendido, inicialmente, duas das vítimas. A denúncia não foi aditada e o apelante foi pronunciado nos termos da denúncia. O Ministério Público, entretanto, já na Sessão Plenária de Julgamento, alterou completamente a imputação original, passando a sustentar que o apelante também havia efetuado disparos de arma de fogo.

3. A inovação da imputação em Sessão Plenária viola de forma flagrante a plenitude da defesa assegurada pela Constituição nos procedimentos do Tribunal do Júri, com evidente prejuízo ao apelante, estando em contrariedade também com a norma do art.

476 do Código de Processo Penal, que estabelece os limites da acusação.

4. Acolhimento da segunda preliminar defensiva para reconhecer a nulidade do julgamento e de todos os atos subsequentes, devendo o apelante ser submetido a novo julgamento perante o Tribunal do Júri, nos limites da decisão de pronúncia.

5. Manutenção da prisão cautelar que se afigura imprescindível para assegurar a aplicação da lei penal, nos termos do art. 312 do Código de Processo Penal, principalmente porque o apelante permaneceu longo tempo foragido, somente sendo preso no Estado do Ceará.

ACOLHIMENTO DA PRELIMINAR DE NULIDADE, DETERMINANDO-SE A SUBMISSÃO DO APELANTE A NOVO JULGAMENTO.

ACÓRDÃO

VISTOS, relatados e discutidos estes autos da Apelação Criminal nº. 0002027-76.2005.8.19.0033 em que é apelante ERIVAN DE ARAUJO SOARES e apelado o MINISTÉRIO PÚBLICO,

ACORDAM os Desembargadores da Sexta Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por UNANIMIDADE, em CONHECER E DAR PROVIMENTO AO APELO para decretar a nulidade do julgamento por violação ao direito de defesa decorrente de afetação ao princípio da correlação, devendo o apelante ser submetido a novo julgamento, mantida a prisão, nos termos do voto do Des. Relator.

Sessão de Julgamento: 30 de julho de 2013.

Rio de Janeiro, 22 de agosto de 2013.

PAULO DE OLIVEIRA LANZELLOTTI BALDEZ

Desembargador Relator

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Poder Judiciário

Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Sexta Câmara Criminal

APELAÇÃO CRIMINAL Nº 0002027-76.2005.8.19.0033 Relator: Des. Paulo de Oliveira Lanzellotti Baldez Apelante: Erivan de Araujo Soares

Apelado: Ministério Público

Corréu: Anderson Luis Almeida da Cruz Corréu: Rogério Tomas da Silva

Corréu: Suely Soares Lima Braga Corréu: Geraldo Machado Luci

RELATÓRIO

O Ministério Público ajuizou ação penal pública, perante o Juízo da Vara Única da Comarca de Miguel Pereira, em face de Anderson Luis Almeida da Cruz, Rogério Tomas da Silva, Erivan de Araujo Soares, Suely Soares Lima Braga e Geraldo Machado Luci, devidamente qualificados nos autos, dando Anderson, Rogério e Erivan como incursos nas penas do art.

121, § 2º, incisos I e IV; art. 121, § 2º, inciso IV, art. 121, § 2º, inciso IV, c/c 14, inciso II; art. 157, § 2º, incisos I e II e art. 148, caput (quatro vezes), todos do Código Penal, em concurso material, sendo que quanto aos homicídios Erivan foi denunciado na forma do art. 29 do Código Penal; Suely foi dada como incursa nas penas do art. 121, § 2º, incisos I e IV, art. 121, § 2º, inciso IV, art. 121, § 2º, inciso IV, c/c 14, inciso II, todos do Código Penal e Geraldo nas penas do art. 121, § 2º, incisos I e IV, do Código Penal, na forma de seu art. 29, consoante denúncia de fls. 02A/02C, lavrada nos seguintes termos:

“1 - No dia 22 de novembro de 2003, por volta das 12h30, na Fazenda Soledade, Lagoa das Lontras, Miguel Pereira, os dois primeiros denunciados (Anderson, Rogério), com consciência e vontade e em comunhão de ações e desígnios entre si e com os demais imputados, animus necandi, efetuaram disparos de arma de fogo contra Adriana Ramos de Carvalho, Luis Albano Schmitd, e Américo Dias Nunes, causando-lhe as lesões constantes, respectivamente, dos Autos de Exame Cadavéricos

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de fls. 64/70 e AECD de fl. 137, que foram a causa efetiva da morte das duas primeiras vítimas, não se consumando o homicídio quanto à Américo por ter sido socorrido à tempo.

2 - O homicídio da vitima Luiz Albano foi praticado mediante paga e promessa de recompensa, tendo Suely, pago inicialmente a quantia de R$

30.000,00, sendo que os R$ 50.000,00 restantes seriam pagos aos demais participantes e co-autores do crime (Rogério, Geraldo, Anderson e Erivan) parceladamente.

3 - Foi também cometido de emboscada, permanecendo os executores escondidos à espera da vítima, quando, de surpresa, foi interceptada e alvejada, tendo sua defesa dificultada.

4 - Os dois homicídios e a tentativa deram-se ainda, em razão da superioridade numérica de seus algozes, por motivo que também dificultou a defesa das vítimas.

5 - A denunciada e mandante Suely, ex-compaheira de Luiz Albano, foi quem, igualmente de forma livre e consciente e assumindo o risco quanto à morte de Adriana e à tentativa do homicídio de Américo, idealizou dias antes o assassinato e contratou os denunciados Anderson, Rogério e Erivan, pelo que pagaria cerca de R$ 80.000,00, através da intermediação direta do denunciado e amigo Geraldo, pessoa que indicou e travou os primeiros contatos com os executores e quem lhe apresentou ao pistoleiro-chefe, Rogério, tendo Erivan determinado o valor do “serviço”, transportado os demais ao local do crime e da mesma forma rendido inicialmente as vítimas Adriana e Américo, pelo que receberia a quantia de R$ 10.000,00.

6 - No mesmo local e momentos antes das mortes, os denunciados Anderson, Rogério e Erivan, com consciência e vontade e união de ações e desígnios, subtraíram, para si, mediante violência e grave ameaça exercida com o emprego de armas de fogo, após outras pessoas presentes na Fazenda, a pistola Taurus calibre .40 da vítima e policial civil Américo, pertences e documentos dos cerca de 06 reféns e mais a quantia de R$

180,00, privando os 3 primeiros denunciados, com vontade livre, ainda no mesmo local e mediante cárcere privado, a liberdade de Américo, Adriana, Marcelo Luis Pereira, José dos Santos da Silva, por certo período enquanto aguardavam a chegada de Luis Albano.”

Encerrada a primeira fase do procedimento do Júri, os acusados foram pronunciados na forma descrita na denúncia, consoante decisão de fls. 635/640.

O processo foi desmembrado em relação aos réus aos réus Erivan e Suely, por não ter ocorrido, quanto a estes a preclusão da decisão de pronúncia (fls. 779 e 780), sendo, em seguida, suspenso o curso do processo e do prazo prescricional quanto ao acusado Erivan e determinada a renovação da expedição do mandado de prisão em seu desfavor (fls. 781).

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O acusado Geraldo foi submetido a julgamento perante o Plenário do Júri e absolvido, conforme sentença de fls. 989/ 991.

Em data posterior os réus Rogério e Anderson foram também submetidos a julgamento perante o Tribunal do Júri, ambos absolvidos da prática dos delitos de cárcere privado e condenados, cada um deles, por infração ao art. 121, §2º, IV, art. 121, §2º, I e IV, art. 121, §2º, IV c/c 14, II e art. 157, § 2º, I e II, n/f do art. 69, todos do Código Penal, às penas definitivas de 50 (cinquenta) anos e 06 (seis) meses de reclusão e ao pagamento de 75 (setenta e cinco) dias-multa, à razão de 1/30 do salário mínimo vigente, em regime fechado, de acordo com sentença de fls. 1.023/1.043.

A acusada Suely, de seu turno, foi também submetida a julgamento perante o Tribunal do Júri, sendo absolvida conforme a Ata da Sessão de Julgamento de fls. 1.197/1.204.

Às fls. 1.114 consta Ofício da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social da Superintendência do Estado do Ceará comunicando, em 06/10/2010, o cumprimento do Mandado de Prisão expedido em desfavor de Erivan de Araújo Soares, datado de 15/07/2005, tendo sido, então, determinada a intimação pessoal do ora apelante da decisão de pronúncia, o que ocorreu em 28/01/2011.

A partir daí o processo retomou seu curso regular, tendo sido o apelante transferido para o sistema prisional de nosso Estado.

Designada data para o julgamento em Sessão Plenária do Tribunal do Júri, em 13.02.12, o Conselho de Sentença foi dissolvido pelo juiz presidente a fim de evitar eventual prejuízo à Defesa diante da manifestação de um dos jurados de que não tinha ouvido algumas das perguntas formuladas pela Defensora e ainda em razão de um dos jurados ter demonstrado parcial convencimento acerca de questões que seriam objeto de quesitação, designando-se nova data para o julgamento do réu Erivan (fls. 1362/1365).

Submetido novamente a julgamento perante o Tribunal do Júri,

o acusado Erivan, ora apelante, foi absolvido das imputações de cárcere

privado e condenado como incurso nas sanções do art. 121, § 2º, IV, art. 121, §

2º, I e IV, art. 121, § 2º, IV, c/c 14, II, e art. 157, § 2º, I e II, n/f do art. 69,

todos do Código Penal, às penas totais de 66 (sessenta e seis) anos e 10

(dez) meses de reclusão e de 106 (cento e seis) dias-multa, à razão de

1/30 do salário mínimo vigente, em regime fechado, consoante sentença

de fls. 1595/1604.

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Inconformado com a r. sentença a Defesa interpôs o presente recurso de apelação, apresentando razões às fls. 1612/1641, nas quais argui, preliminarmente, a nulidade da sentença ao argumento de violação ao direito de defesa porque teria havido aditamento da denúncia durante os debates finais para alterar a data do crime e ainda sustentação, pelo Ministério Público, diversa daquela constante na denúncia e na pronúncia. No mérito, a Defesa persegue a submissão do apelante a novo julgamento sob a alegação de que a decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos, pugnando, de forma subsidiária, pela revisão na dosimetria da pena, com o afastamento do cúmulo material e o reconhecimento de crime continuado.

Contrarrazões do Parquet às fls. 1643/1646 postulando o desprovimento do apelo defensivo e, por conseguinte, a manutenção integral da r. sentença vergastada.

Parecer da Procuradoria de Justiça às fls. 1920/1929, da lavra do eminente Procurador Antônio Carlos Coelho dos Santos, opinando pela rejeição das preliminares de nulidade e, no mérito, pelo desprovimento do recurso defensivo.

É o relatório.

VOTO

Presentes os requisitos de admissibilidade do recurso, que possibilitam o seu conhecimento, passo à análise das razões recursais apresentadas.

A Defesa suscitou duas preliminares de nulidade ocorridas durante a Sessão Plenária de Julgamento: uma referente à data em que os fatos teriam ocorrido; outra relativa à sustentação, pelo Ministério Público, de imputação diversa da constante na denúncia e na decisão de pronúncia.

Rejeita-se a preliminar referente à alteração da data dos fatos,

na medida em que se trata de mera retificação de erro material – na denúncia

constou o dia 22 de novembro de 2003 quando o correto é 20 de novembro do

mesmo ano – que nenhuma influência exerceu sobre as provas produzidas e

nem tampouco ocasionou qualquer prejuízo à Defesa do apelante, mormente

porque o próprio apelante admitiu ter estado no local do crime no dia dos

fatos, apenas apontando motivação diversa daquela apresentada pela acusação.

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Assiste razão à Defesa, porém, quanto à nulidade decorrente da sustentação, pelo Ministério Público, em Sessão Plenária, de imputação diversa da denúncia, o que a toda evidência interfere no direito de defesa, que é assegurado pela Constituição em toda a sua plenitude nos procedimentos perante o Tribunal do Júri.

Na denúncia de fls. 02A/02B, quanto ao delito de homicídio, o Ministério Público imputou aos acusados Anderson Luis e Rogério Tomas a conduta de efetuar disparo de arma de fogo contra as vítimas, “tendo Erivan determinado o valor do ‘serviço’, transportado os demais ao local do crime e da mesma forma rendido inicialmente as vítimas Adriana e Américo, pelo que receberia a quantia de R$ 10.000,00”.

A capitulação quanto à prática do delito de homicídio foi, no tocante à Erivan, efetuada na denúncia com a norma de extensão do artigo 29 do Código Penal, que trata da participação.

O apelante foi pronunciado na forma da denúncia, a saber, como incurso nas penas do art. 121, § 2º, incisos I e IV; art. 121, § 2º, IV; art.

121, § 2º, IV, c/c art. 14, II; art. 157, § 2º, I e II e art. 148, caput, (quatro vezes) todos do Código Penal, em concurso material, “aplicando-se a Erivan o art.

29 do CP quanto aos homicídios”.

Entretanto, na Sessão Plenária de Julgamento o Ministério Público, sustentou, conforme consignação na ata de julgamento requerida pela Defesa, “ao reverso do que está lançado na denúncia e na pronúncia, a coautoria e não a participação porque afirmou que o acusado efetuou disparos de arma de fogo contra uma das vítimas”.

O artigo 476 do Código de Processo Penal estabelece, de forma expressa, que na Sessão Plenária de Julgamento, o Ministério Público “fará a acusação, nos limites da pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, sustentando, se for o caso, a existência de circunstância agravante”.

No caso, no entanto, o Ministério Público alterou

completamente a imputação contida na denúncia, que foi acolhida na

pronúncia, apresentando nova descrição fática do delito, o que a toda evidencia

interferiu de forma prejudicial na Defesa do apelante.

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O magistrado de piso, que negou o pedido defensivo de imediata dissolução do Conselho de Sentença, sob o fundamento de que “A denúncia afirma que o acusado Erivan praticou 2 homicídios na modalidade consumada e 1 homicídio na modalidade tentada, na forma do art. 29 do CP, ou seja, ‘quem de qualquer modo concorre para o crime...’ – atirando ou não atirando – ‘incide nas penas a este cominadas na medida de sua culpabilidade’”, incorreu em flagrante equívoco, olvidando-se que a denúncia delimita a acusação e que a atividade probatória se desenvolve a partir dos fatos narrados e não da capitulação dada pela Acusação.

Não se discute que a participação pode se dar com o réu

“atirando ou não atirando”. A premissa, no entanto, não é suficiente para autorizar que em Sessão Plenária se diga que o réu atirou quando toda a instrução criminal foi realizada com o pressuposto de que sua participação se limitou a determinar o valor do serviço, transportar os corréus ao local e render, inicialmente, duas das vítimas.

A conduta do representante do Ministério Público, chancelada pelo Juiz Presidente, representa clara ofensa à plenitude de defesa assegurada pela Constituição da República, estando bem configurada a nulidade suscitada nesta apelação.

Não é outro o entendimento do Egrégio Superior Tribunal de Justiça:

HABEAS CORPUS. JÚRI. PRONÚNCIA. HOMICÍDIO QUALIFICADO. RECLASSIFICAÇÃO DA CONDUTA PELO CONSELHO DE SENTENÇA. LATROCÍNIO. EXCESSO DE ACUSAÇÃO EM PLENÁRIO CONFIGURADO. NULIDADE.

1. Com o advento da Lei n. 11.689/2008, o legislador ordinário extirpou do ordenamento jurídico pátrio a figura do libelo-crime acusatório, restando como fonte principal do questionário a decisão de pronúncia, a qual, juntamente com a denúncia, fixa os limites da acusação.

2. O Ministério Público não pode inovar sua tese principal durante o julgamento em Plenário, devendo ater-se ao que narrado na denúncia e contido na pronúncia, sob pena de ofensa ao contraditório expressamente garantido na Constituição Federal.

3. Na hipótese, a pretensão do órgão acusatório de obter a condenação do paciente pela prática do crime de latrocínio já havia sido rechaçada pelo Tribunal de origem, por ocasião do julgamento do recurso em sentido estrito defensivo.

4. Com a preclusão da decisão de pronúncia autorizando a submissão do paciente a julgamento pelo Tribunal do Júri pela suposta prática do crime de homicídio qualificado, encerrou-se o judicium accusationis, razão pela qual se mostra atentatória ao princípio do contraditório a sustentação pelo Ministério Público, por ocasião do julgamento em

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Plenário, da tese reclassificatória outrora afastada pelo Tribunal de origem. Ofensa à coisa julgada e à competência constitucional atribuída ao Tribunal do Júri.

CUSTÓDIA CAUTELAR. FUGA DO DISTRITO DA CULPA.

GARANTIA DE APLICAÇÃO DA LEI PENAL. NECESSIDADE CONCRETAMENTE DEMONSTRADA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO.

1. Conforme precedentes desta Corte Superior de Justiça, a fuga do paciente do distrito da culpa, fato que inclusive redundou no atraso na prestação jurisdicional, é motivação suficiente para embasar a manutenção da custódia cautelar, ordenada para garantir a aplicação da lei penal.

2. Ordem parcialmente concedida apenas para anular o julgamento ao qual foi submetido o paciente perante o Tribunal do Júri, determinando- se que outro seja realizado com a observância aos limites estabelecidos pela decisão de pronúncia.

(HC 125.069/SP, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Rel. p/ Acórdão Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 08/02/2011, DJe 29/08/2011)

Assim, impõe-se o reconhecimento da segunda preliminar defensiva, a fim de que seja anulado o julgamento que condenou o apelante.

A prisão do apelante, no entanto, deve ser mantida, pois se apresenta como indispensável à aplicação da lei penal, como fundamentadamente decidido pelo magistrado de primeiro grau.

Com efeito, o apelante permaneceu foragido da Justiça por longo período, somente sendo preso no ano de 2010, no Estado do Ceará, havendo concreto risco de que empreenda fuga novamente acaso posto em liberdade, colocando em risco a aplicação da lei penal em caso de eventual condenação, estando, pois, presentes, os requisitos previstos no art. 312 do Código de Processo Penal.

Pelo exposto, voto pelo CONHECIMENTO E PROVIMENTO DO APELO DEFENSIVO para, acolhendo a preliminar defensiva, declarar a nulidade do julgamento por violação aos direitos constitucionais do contraditório e da plenitude de defesa, decorrente da afetação ao princípio da correlação, devendo ser submetido a novo julgamento perante o Tribunal do Júri, mantendo-se a segregação cautelar.

Rio de Janeiro, 22 de agosto de 2013.

Paulo de Oliveira Lanzellotti Baldez

Desembargador Relator

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