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Relatório de Estágio no Camões, I.P.: a tradução e a área do ensino de línguas

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Academic year: 2023

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE LETRAS

Relatório de Estágio no Camões, I.P.:

A Tradução e a Área do Ensino de Línguas

Joana Outerelo João Soeiro

Relatório de estágio orientado pelo Prof. Doutor Telmo Lopes Móia, especialmente elaborado para a obtenção do grau de Mestre em Tradução

MESTRADO EM TRADUÇÃO

2022

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AGRADECIMENTOS

Gostaria, em primeiro lugar, de agradecer às Dras. Fátima Páscoa e Paula Alves pelo acompanhamento durante toda a duração do estágio curricular no Camões, I.P., tal como ao Prof. Dr. Telmo Móia pelo auxílio nos processos de planeamento e escrita do relatório de estágio.

Gostaria, também, de agradecer à Prof. Dra. Sara Mendes, pelo esclarecimento de dúvidas durante todo o processo de candidatura ao estágio e, também, ao longo dos dois anos de Mestrado.

Agradeço à minha colega de estágio, Sofia Filipe, por toda a colaboração na tradução de documentos e produção do glossário.

À minha família e aos meus amigos – obrigada por todo o apoio e por zelarem pelo meu bem-estar nesta fase.

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RESUMO

O presente relatório baseia-se no trabalho realizado durante o estágio curricular no Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, no âmbito do Mestrado em Tradução da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Pretende-se, a partir do trabalho realizado, realçar questões de tradução relacionadas com a área do ensino de línguas e salientar a importância da atividade nesta área.

O primeiro capítulo do relatório inclui uma apresentação da entidade de acolhimento, assim como uma descrição detalhada do trabalho executado durante o estágio. Também é apresentada a metodologia utilizada, o trabalho colaborativo entre mim e outra estagiária e a descrição e características de cada texto traduzido.

No segundo capítulo, expõem-se várias teorias sobre a área da Tradução, com foco na tradução do texto técnico. Neste capítulo, existe uma discussão ampla dos conceitos de “Tradução” e “Texto Técnico”, navegando as ideias, por vezes contraditórias, de vários autores, e uma reflexão sobre a tradução de manuais e guias de utilizador de áreas de especialidade, o papel do tradutor (nomeadamente no que toca a textos técnicos) e o processo de retroversão.

No terceiro e último capítulo, faz-se uma análise sobre a área do ensino de línguas e, de seguida, sobre questões de tradução que ocorreram durante o estágio, sendo estas divididas em vários subtipos: questões lexicais (tendo estas o maior volume), questões morfossintáticas e sintáticas e questões sintático-semânticas. Por fim, reflete-se sobre o processo de revisão, considerado essencial durante a realização do estágio.

Palavras-chave: Tradução; tradução técnica; terminologia; questões lexicais; ensino de línguas

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ABSTRACT

This report is based on the work completed during a curricular internship at Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, as part of the master’s degree in Translation offered by Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Its aim is to highlight phenomena in translation connected to language teaching, as well as the importance of translation in this area, through samples of the work completed during the internship.

The first chapter of the report includes a presentation of the organization and a detailed description of the work completed during the internship. It also presents the methodology that was used, the collaborative work between me and another intern and the description and characteristics of each translated text.

The second chapter examines various theories on Translation, focusing on technical texts. In this chapter, I discuss the concepts of “Translation” and “Technical Text”, navigating the sometimes-contradictory ideas of different authors. There are also reflections on the translation of specialized manuals and user guides, the role of the translator (especially in translating technical texts) and L1 to L2 translation.

On the third and last chapter, there is an analysis of language teaching as a subject matter in translation, followed by the analysis of selected translation phenomena that were relevant during the internship. These are divided into various subtypes: lexical issues (which are predominant), morphosyntactic and syntactic issues and syntactic-semantic issues. Finally, there is a reflection on the revision process, considered essential throughout the internship.

Keywords: Translation; technical translation; terminology; lexical issues; language teaching

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ÍNDICE

Introdução ... 7

Capítulo 1: Relatório de Atividades ... 8

1.1. O Camões, I.P. ... 8

1.2. Descrição do estágio – objetivos e funções ... 10

1.3. Textos traduzidos no âmbito do estágio ... 13

1.4. Métodos de trabalho e materiais utilizados ... 20

Capítulo 2: Algumas reflexões sobre a Tradução (com destaque para a tradução de texto técnico) ... 24

2.1. Sobre o conceito de Tradução e as Teorias da Tradução ... 24

2.2. A Tradução e a Cultura ... 28

2.3. (Três grandes) Tipos de Tradução ... 31

2.4. A Retroversão ... 33

2.5. O Texto Técnico (em sentido lato) ... 37

2.5.1. O público-alvo e o papel do tradutor técnico ... 39

2.5.2. A Tradução de manuais e guias de utilizador ... 43

Capítulo 3: Análise de questões de tradução recolhidas durante o estágio ... 47

3.1. A área do ensino de línguas (domínio privilegiado de trabalho durante o estágio)... 47

3.2. Questões lexicais ... 49

3.2.1. Questões de léxico comum e especializado ... 50

3.2.2. Estrangeirismos ... 65

3.2.3. Idiomatismos e jogos de palavras ... 67

3.3. Questões morfossintáticas e sintáticas... 70

3.3.1. Pronomes e concordância nominal ... 71

3.3.2. Tempos verbais ... 76

3.4. Questões sintático-semânticas ... 79

3.4.1. Construções ativas vs. passivas ... 79

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3.4.2. Conectores interproposicionais ... 82

3.4.3. Modificadores nominais (dúvidas de interpretação e questões de ambiguidade) ... 86

3.5. O processo de revisão ... 88

Considerações finais ... 90

Referências ... 92

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7

INTRODUÇÃO

Após ter concluído a Licenciatura em Línguas, Literaturas e Culturas, decidi expandir os meus conhecimentos de Tradução, área que sempre me atraiu devido ao meu interesse por várias línguas. No ano letivo de 2020/2021, concluí as dez unidades curriculares necessárias para completar a componente teórica do Mestrado, tendo optado, no seguinte ano letivo, pela realização de um estágio curricular.

Esta decisão foi influenciada pelo desejo de obter experiência prática em Tradução, integrada num contexto próximo ao profissional, após o estudo das várias teorias e metodologias de tradução no primeiro ano letivo do Mestrado. A entidade que me acolheu para que isto fosse possível foi o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, ou Camões, I.P., escolhido devido ao meu interesse pelas áreas com as quais trabalha.

O presente relatório é realizado a partir da recolha e análise de questões lexicais que surgiram ao longo do estágio, estando estas maioritariamente relacionadas com a área do ensino de línguas, e também de outras questões linguísticas relevantes não relacionadas com o léxico. Grande parte do léxico comum e de especialidade que ocorreu no trabalho de tradução realizado é apresentado no último capítulo do relatório, estando também presente, em anexo, um glossário elaborado em conjunto com a colega de estágio Sofia Filipe, com alguns termos já apresentados no relatório e, também, outros que não foram discutidos.

O relatório está dividido em três capítulos. O primeiro constitui uma apresentação da entidade de estágio e uma análise breve do trabalho aí realizado. O segundo capítulo é mais teórico e explora várias teorias da Tradução, com ênfase na tradução do texto técnico.

No terceiro capítulo, após a análise da importância da tradução na área do ensino de línguas, realizo uma análise detalhada das questões mais relevantes que surgiram durante o estágio, entre as quais dúvidas de léxico comum e de especialidade e, também, questões morfossintáticas, sintáticas e sintático-semânticas, apresentando, também, reflexões sobre o processo de tradução. Após estes três capítulos, seguem-se as considerações finais sobre o trabalho realizado.

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8 CAPÍTULO 1 Relatório de Atividades 1.1. O Camões, I.P.

O presente relatório de estágio é elaborado após a conclusão do estágio curricular do Mestrado em Tradução da FLUL, realizado no Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, I.P. Trata-se de um instituto público sediado em Lisboa, criado para a promoção da língua e da cultura portuguesas no mundo, que, apesar de estar sob tutela do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), tem autonomia administrativa e financeira, assim como património próprio, e representação em 84 países.

De acordo com as informações apresentadas no Decreto-Lei n.º 21/2012, de 30 de janeiro, o Camões, I.P. é «um organismo central com jurisdição sobre todo o território nacional», que realiza, ainda, missões diplomáticas e detém postos consulares nos países que beneficiam do auxílio do Instituto, instituições pertencentes à rede de ensino de português no estrangeiro e centros culturais portugueses no estrangeiro.

O Camões, I.P., tem um vasto número de projetos, que planeia, financia, promove e executa em vários países, nomeadamente nos PALOP e em Timor-Leste. Os seus focos principais são a cooperação, a língua e a cultura, sendo frequente o desenvolvimento, pelo Instituto, de numerosas atividades nas áreas da promoção da língua e da cultura portuguesas e da divulgação dos conhecimentos sobre Portugal e os PALOP.

O Instituto Camões apoia, por isso, projetos na área da Educação, e bem assim nas áreas da Saúde, do Ambiente e do combate às Alterações Climáticas. Para além disso, de acordo com informações disponíveis no site do Camões, I.P., foram desenvolvidas intervenções visando o fortalecimento da Governação e do Estado de Direito e o reforço de competências institucionais relacionadas com a modernização e a formação de profissionais, nos setores da segurança interna, da justiça e das instituições superiores de controlo.

No que toca à área da Educação, o Instituto estabeleceu programas de apoio à criação de departamentos de português, ou equivalentes, em universidades estrangeiras.

Estes Centros de Língua Portuguesa são espaços de apoio ao ensino, à aprendizagem, à investigação e à dinamização cultural, fundados em parceria com universidades e organizações internacionais. O Camões, I.P., faz parte da rede EUNIC (European Union

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National Institutes for Culture) e EFNIL (European Federation of National Institutions for Language). É também membro da Eaquals e da ALTE, duas associações que integram um conjunto de instituições e organizações envolvidas no ensino de línguas. Muitos dos textos traduzidos durante o estágio pertenceram, aliás, ou estiveram relacionados com estas associações e os seus valores, estando, também, relacionados com o ensino de línguas.

A missão do Camões, I.P., de acordo com as informações presentes no site oficial do Instituto, prende-se com a proposta e execução da política de cooperação portuguesa, bem como da política de ensino e divulgação da língua e cultura portuguesas no estrangeiro, a coordenação de «atividades de cooperação desenvolvidas por outras entidades públicas», a garantia de gestão da rede de ensino português no estrangeiro, abrangendo os níveis básico, secundário e superior, o apoio à colocação de professores locais em instituições de ensino superior e organizações internacionais e a promoção da internacionalização da cultura portuguesa.

Ainda com base nas informações disponíveis no site oficial do Instituto, este visa ser «um organismo de referência na coordenação e articulação da política externa do governo nas áreas da cooperação internacional, promoção da língua e cultura portuguesas enquanto domínios crescentemente entendidos pelos Estados como instrumentos de projeção da sua influência e defesa dos seus interesses». No que toca à sua organização, tem como objetivo principal a modernização dos serviços com base numa gestão por objetivos e resultados, partindo «de uma cultura colaborativa e de partilha de valores».

De acordo com o Decreto-Lei n.º 21/2012 de 30 de janeiro, já referido acima, o Camões, I.P., é composto pelo Conselho Diretivo – que integra um presidente, um vice-presidente e dois vogais –, o fiscal único e o Conselho Consultivo para a Língua e Cultura Portuguesas. Na Portaria n.º 194/2012, de 20 de junho, consta que a organização interna dos serviços do Camões, I.P., integra a Direção de Serviços de Cooperação, a Direção de Serviços de Língua e Cultura e a Direção de Serviços de Planeamento e Gestão.

Este detém, também, unidades orgânicas flexíveis que não excedem, em cada momento, um máximo de doze, entre as quais o Gabinete de Avaliação e Auditoria, «que se subordina hierárquica e funcionalmente ao conselho diretivo» e avalia a execução dos projetos, planos e programas definidos, em função dos seus objetivos. As Direções de Serviços são dirigidas por diretores de serviços e as unidades orgânicas flexíveis são dirigidas por chefes de divisão.

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Ao longo de toda a duração do estágio, tanto eu como a minha colega Sofia Filipe fomos acompanhadas pelas Dras. Fátima Páscoa, da Divisão de Programação, Formação e Certificação da Direção de Serviços da Língua, e Paula Alves, da Divisão de Coordenação do Ensino Português no Estrangeiro.

1.2. Descrição do estágio – objetivos e funções

O estágio curricular no Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, foi realizado entre outubro de 2021 e maio de 2022, para fins de conclusão do Mestrado em Tradução da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Este ocupou a maior parte do 2.º ano letivo do Mestrado, conforme definido em conjunto com as supervisoras da entidade de acolhimento, e proporcionou uma experiência bastante diferente da que foi obtida durante o 1.º ano letivo, no qual foi requerida a participação em seminários na Faculdade, para aprendizagem e desenvolvimento de ferramentas a utilizar no futuro.

O horário, planeado juntamente com a colega de estágio, Sofia Filipe, e aprovado pelas supervisoras, as Dras. Fátima Páscoa e Paula Alves, foi segunda-feira, das 9h às 17h, e terça e quarta-feira, das 9h às 13h, após desejo expresso pela entidade de o estágio ser realizado durante os dois semestres letivos, ao invés de ocupar apenas o período letivo até janeiro de 2022. Desta forma, mais espaçadamente e com um horário menos severo, concluíram-se cerca de 16 horas de estágio por semana. Este horário permitiu a satisfação das 352 horas de estágio requeridas pela Faculdade para conclusão do estágio curricular do Mestrado.

O estágio foi, na sua totalidade, realizado à distância, devido aos constrangimentos da pandemia de Covid-19, tendo sido feita apenas uma visita ao Camões, I.P., para assinatura do termo de estágio e definição das datas de início e conclusão do estágio, e ainda para apresentação dos departamentos e órgãos constituintes do Instituto. Apesar de o plano inicial ter sido a realização de uma reunião mensal com as supervisoras atribuídas, para que existisse um acompanhamento mais pessoal e consistente, acabou por haver, no total, quatro reuniões que, à exceção da primeira, já referida, foram realizadas online, através da plataforma Microsoft Teams.

No entanto, o contacto com as supervisoras, que se disponibilizaram para esclarecer quaisquer dúvidas, de tradução ou de outros aspetos do estágio, foi frequente

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e estabelecido sempre que necessário, por e-mail. Foi-nos dada uma grande independência e flexibilidade para permitir a familiarização com os textos, a pesquisa necessária para a tradução dos mesmos, o processo de tradução em si e a sua revisão, atendendo sempre aos prazos estipulados.

Esta independência também se fez notar na gestão de tempo, pois os textos a traduzir eram enviados, geralmente, no início de cada mês, podendo ser-nos atribuído um texto extenso ou até três textos mais curtos por mês. Desta forma, apesar de termos tido um horário estabelecido, foi necessário haver uma organização individual e uma coordenação entre as duas estagiárias, que ficou apenas dependente de nós, para que cada texto fosse traduzido e revisto e para que fossem todos enviados à entidade dentro dos prazos estipulados.

O trabalho de tradução, em si, foi integralmente realizado através de um computador pessoal, sem o uso de qualquer software fornecido pela entidade de estágio, apenas com o auxílio de ferramentas e recursos gratuitos ou que já possuíamos anteriormente, e que serão referidos em 1.4. Isto fez com que houvesse uma enorme autonomia da nossa parte, para procurarmos e utilizarmos os recursos mais adequados tendo em conta o tema do texto a traduzir.

Os textos traduzidos estiveram, na sua maioria, relacionados com uma área sobre a qual eu ainda não tinha realizado quaisquer traduções no âmbito do Mestrado – a área do ensino de línguas. Por isso, durante o primeiro semestre do ano letivo 2021/2022, senti mais dificuldades, não só de organização – pois, como referido, foi-nos concedida bastante independência nesta área e foi necessário haver uma adaptação à mesma –, mas também de tradução, porque, como a área principal que os textos tratavam não tinha sido explorada anteriormente por mim, foi necessário fazer, pelo menos no início, uma pesquisa bastante extensa sobre o tema. As línguas de trabalho foram, durante todo o estágio, inglês e português.

A colaboração já mencionada com a minha colega foi essencial durante a experiência de estágio, pois, apesar de os textos terem sido traduzidos individualmente no primeiro semestre, os textos a traduzir no segundo semestre, entre janeiro e maio, foram, na sua maioria, divididos entre nós: quando os textos eram demasiado extensos, as supervisoras indicavam que cada estagiária traduzisse metade do texto. A divisão em si ficava ao nosso critério. Desta forma, foi necessário contacto constante com a colega,

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não só para realizar a divisão, mas também para harmonizar (após debate) alguns termos que não poderiam ser traduzidos de forma diferente na primeira e na segunda metade do documento, algo bastante importante devido ao facto de estes serem textos com bastante léxico de especialidade. Considerando esta questão, realizámos um glossário em conjunto, que será descrito na secção 1.4. com mais pormenor.

O processo de tradução alterou-se bastante do primeiro semestre para o segundo, algo que não se deve atribuir apenas à mudança já referida que levou à divisão de textos entre as duas estagiárias, mas também ao progresso decorrente da aquisição de experiência durante o estágio, que resultou numa crescente rapidez de tradução que proporcionou a evolução da tradução de cerca de quatro ou cinco páginas num dia, nas semanas iniciais do estágio, para cerca de dez páginas, no horário das 9h às 17h. Na maior parte dos casos, a resolução das questões de tradução ficava ao nosso critério, não havendo, no geral, uma preferência a nível lexical comunicada pela entidade de estágio.

Os textos eram-nos enviados todos os meses, pela Dra. Paula Alves. Houve uma exceção, nos meses de março e abril, durante os quais apenas foi atribuído um texto extenso, devido às pausas do Carnaval e da Páscoa e ao feriado do dia 25 de abril. Nos últimos dias do estágio, visto que só abrangeram 9 dias do mês de maio, houve outra exceção, tendo-nos sido atribuído um texto mais curto, a dividir entre as duas estagiárias, em vez de um texto mais extenso para o mês inteiro.

Após a tradução e revisão individual da respetiva parte de cada documento, as duas partes de cada texto eram combinadas no formato .docx, através do programa Word, sendo depois, se necessário, convertidas para o formato do texto de origem (caso este tivesse sido recebido, originalmente, em .pdf). A norma era o envio do documento nos dois formatos para as supervisoras da entidade de estágio, para o caso de ser necessário efetuar algumas alterações posteriores e também para facilitar o processo de revisão e avaliação dos documentos.

A experiência no Camões, I.P., teve, assim, como resultado o aprofundamento de conhecimentos e a aprendizagem a trabalhar não apenas sozinha, algo característico do trabalho de um tradutor, mas também em colaboração, neste caso com a colega de estágio do Mestrado, o que proporcionou uma oportunidade para praticar as aptidões de trabalho em equipa e, como já referido, possibilitou a exploração de hipóteses e métodos de

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tradução, por termos as duas perspetivas diferentes, que, por vezes, se complementavam e resultavam na descoberta de traduções mais apropriadas a cada contexto.

Era esperada, através da realização do estágio, uma familiarização com o trabalho de Tradução num ambiente mais profissional, de forma a pôr à prova e, também, aprofundar os conhecimentos obtidos durante os seminários do Mestrado de Tradução.

As funções exercidas durante estes meses – tradução e revisão – foram praticadas durante o ano letivo anterior, nos seminários frequentados, mas apenas em contexto académico, não tendo criado uma perceção tão realista do que seria o processo de tradução no mundo de trabalho. Por isso, o estágio revelou-se um complemento verdadeiramente crucial da parte teórica do Mestrado.

1.3. Textos traduzidos no âmbito do estágio

Durante o período de estágio, foram traduzidos, no total, 14 documentos – 8 no primeiro semestre e 6 no segundo. Entre eles, documentos técnicos, como artigos, manuais e guias de apoio, na sua maioria relacionados com o ensino de línguas, e textos jurídicos, geralmente relacionados com protocolos internacionais de cooperação.

Após alguns meses de estágio, comecei a conseguir estabelecer uma relação mais clara entre os textos traduzidos sobre a área do ensino de línguas. Havia uma referência bastante frequente a organizações como a ALTE e a Eaquals, tendo eu traduzido documentos distribuídos pelas mesmas e disponíveis nos respetivos sites. A ALTE é a Associação dos Examinadores de Línguas da Europa, ou seja, é uma associação constituída por instituições que concebem exames de línguas, de forma a «promover a avaliação justa e a capacidade linguística dentro e fora da Europa», de acordo com as informações disponíveis no seu site oficial. A ALTE dispõe de múltiplos recursos de apoio à aprendizagem, ao ensino e à avaliação de línguas. A Eaquals é uma associação com os mesmos objetivos, fundada em 1991, e apresenta-se, no seu site oficial, como líder mundial no ensino de línguas. A colaboração entre estas duas associações é bastante frequente, algo que foi exemplificado na sua colaboração para a construção de um dos documentos traduzidos – o European Language Portfolio. O Camões, I.P., é membro de ambas as associações.

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Foi, também, necessário familiarizar-me com a Pearson, uma empresa que fornece serviços relacionados com a educação, produzindo conteúdos digitais, métodos de avaliação, qualificações e dados, entre outros recursos. Esta criou o PTE Academic, o primeiro teste de inglês integralmente realizado em computador considerado válido mundialmente. De acordo com o site do PTE Academic, através da tecnologia IA, este teste fornece uma solução rápida e conveniente, sem a interferência da «subjetividade humana». Durante o estágio, foi traduzido um manual bastante extenso da Pearson sobre o PTE Academic, com vários termos que eu desconhecia relacionados com o ensino e a avaliação de línguas, neste caso a língua inglesa.

Também foi realizada a retroversão de um texto jurídico, mas este foi o único exemplo deste tipo de trabalho durante o período de estágio. Por isso, e também devido a questões de confidencialidade que tornariam complicada a compreensão de termos descontextualizados e das dúvidas de tradução que ocorreram, não serão apresentados excertos do mesmo no capítulo 3. No entanto, é relevante mencionar as diferenças entre a tradução e a retroversão, pois é necessário haver uma preparação completamente diferente para cada uma delas, devido às divergências entre a escrita na língua materna, geralmente mais natural, e a escrita numa língua não-materna – neste caso, o inglês –, com a necessidade de utilizar as expressões mais naturais possíveis e de conhecer a língua-alvo de uma forma (quase) equivalente à nativa. Assim, como será explorado em 2.4, a retroversão exige uma formação diferente da necessária para a produção de traduções.

Como já foi dito, o volume de textos da área do ensino de línguas foi o que se estabeleceu como principal ao longo do estágio. Assim, a familiarização com terminologia do ensino de línguas, e do ensino em geral, em Portugal, mostrou-se essencial. A tradução de textos desta área foi bastante adequada ao estágio, tendo em conta o papel do Camões, I.P. na área da Educação, já mencionado em 1.1. Apesar de os textos terem como objeto, maioritariamente, o ensino da língua inglesa ou o ensino da língua portuguesa no estrangeiro, estes apresentam metodologias pedagógicas e regras aplicáveis ao ensino de línguas no geral e em países europeus, com referência ao Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas.

De seguida, apresentam-se duas tabelas. A primeira contém a extensão de cada texto traduzido durante o estágio curricular e a segunda tem a mesma função, mas para a única retroversão realizada. Posteriormente, farei uma descrição mais detalhada de cada

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um dos textos, expondo parte das reflexões que fiz para a produção de cada tradução e da retroversão. Segui, na elaboração da tabela abaixo, a ordem cronológica em que os textos foram atribuídos:

Traduções

n.º

Documentos

Extensão total do documento

original (n.º de palavras)

Extensão da parte que me

foi atribuída (n.º de palavras)

Extensão da tradução realizada por

mim (n.º de palavras) 1 Artigo sobre aulas no

regime híbrido

1260 1260 1292

2 Quadro Eaquals para Formação

e Desenvolvimento de Professores de Línguas

14569 14569 15752

3 Memorando de

Entendimento 759 759 756

4 Proposta para a formação contínua dos docentes na Namíbia

2000 2000 2108

5 Artigo sobre a construção de um teste de colocação em espanhol, multimédia e por computador

7096 7096 7334

6 Memorando de Entendimento #2

1070 1070 1051

7 Protocolo de cooperação 1125 1125 1091

8 Programa de um Curso para Professores de Português

Língua Estrangeira 18165 7975 8411

9 Grelha de Perfis Europeia 12546 12546 12765

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16 10 Orientações para o

Desenvolvimento dos Testes de Línguas para Fins Específicos

11722 6407 6735

11 Guia de Autoajuda da Eaquals sobre o Portefólio Europeu de Línguas

9015 9015 9161

12 Guia de Classificação da

Pearson 15139 9869 10240

13 Quadro de Competências de Gestão Académica da Eaquals

5854 2701 2924

Total 76392 79620

Tabela 1. Traduções realizadas durante o relatório de estágio1. Retroversão

Documentos

Extensão total do documento

original (n.º de palavras)

Extensão da parte que me foi

atribuída (n.º de palavras)

Extensão da retroversão realizada

(n.º de palavras) Contrato no âmbito

do programa de bolsas do Camões, I.P.

1012 1012 925

Tabela 2. Retroversões realizadas durante o relatório de estágio.

O primeiro texto a ser traduzido foi um curto artigo denominado «Hybrid Lessons», de Julie Wallis, que descreve o que são aulas híbridas e como prepará-las, remetendo para um tipo de ensino que se tornou mais popular após a disseminação da Covid-19 e que combina aulas presenciais com aulas online e integra nas primeiras, por meios digitais, os alunos que não podem comparecer presencialmente. Este artigo mostrou-se um pouco complicado, pois foi o primeiro que traduzi e incluía léxico de

1 Usarei esta numeração para futura referência aos textos em causa no resto do relatório.

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especialidade referente ao ensino de línguas com o qual eu ainda não estava familiarizada, como synchronous distributed course, web-enhanced course e flexible mode course.

A segunda tradução realizada foi bastante mais extensa, como se pode verificar na tabela 1. Trata-se de The Eaquals Framework for Language Teacher Training &

Development, um manual sobre o Quadro referido no título e a sua utilização no contexto de formação de professores. Este é um texto destinado tanto a formadores como a professores independentes que queiram desenvolver as suas competências, tendo sido importante considerar que seria esse o público-alvo. Como se trata de um manual, que inclui instruções, houve uma pressão maior para tornar o texto inteligível e não produzir uma tradução totalmente mecânica, que não permitiria aos leitores a compreensão das informações necessárias para o desenvolvimento das suas aptidões.

Traduzi, em terceiro lugar, um Memorando de Entendimento. Esta foi a primeira tradução jurídica realizada por mim durante o estágio – o primeiro texto jurídico trabalhado foi uma retroversão. Apesar de não ter permissão para desenvolver os detalhes do texto, este incluía alguns termos que eu desconhecia, que acabaram por ser úteis devido à sua ocorrência noutros textos jurídicos traduzidos posteriormente, nomeadamente noutro Memorando de Entendimento que será referido adiante nesta secção.

Nesse mesmo mês, foi-nos atribuída a tradução de uma proposta do Camões, I.P., para a formação contínua dos docentes na Namíbia, entre janeiro e dezembro de 2022, escrita com uma linguagem formal e explicativa, à qual tive de me adaptar, considerando que o público-alvo seriam professores de português na Namíbia. Neste texto, eram atribuídos professores do Camões, I.P., a escolas namibianas e eram definidas atividades para o desenvolvimento e a formação dos professores de português namibianos.

Em dezembro de 2021, traduzi, primeiramente, um artigo científico sobre a construção de um teste de colocação em espanhol, multimédia e por computador. Este integrava léxico de especialidade bastante complicado e previamente desconhecido, relacionado com o lado mais técnico da construção de testes de língua, como item discrimination, item facility, test-authoring software e distractors. Foi necessário adaptar-me à linguagem do artigo, tendo em mente as idiossincrasias do autor e o assunto em causa: as questões dos testes de línguas multimédia.

Os restantes documentos traduzidos nesse mês foram um segundo Memorando de Entendimento e um Protocolo de Cooperação, ambos relacionados com a cooperação

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entre o Camões, I.P., e institutos de educação na Namíbia. Estes textos também apresentavam expressões que tiveram de ser pesquisadas em fontes diferentes relacionadas com a área jurídica, à semelhança do que aconteceu na tradução do Memorando de Entendimento mencionado acima. Também tive de verificar atentamente o próprio título dos documentos e os termos cuja tradução é “semelhante”, em termos fonéticos e ortográficos, à expressão original, pois é comum haver “falsos amigos” na tradução jurídica. Os textos apresentaram termos como scope, joint working group, notices (termo que exige uma tradução diferente na tradução jurídica, dependendo do contexto) e domicilium, que exigiram especial atenção.

Em janeiro de 2022, foi feita a primeira divisão entre estagiárias para a tradução do programa de um curso para professores de Português Língua Estrangeira. Este era uma espécie de rascunho, ainda para ser revisto, e tinha como objetivo a utilização de

«linguagem inclusiva e antiopressiva» (conforme indicado no próprio texto), tendo havido, assim, uma maior reflexão sobre este assunto. O texto foi realizado em colaboração com a Ontario College of Teachers, visando preparar professores para a criação de um programa de língua portuguesa.

O segundo e último texto traduzido neste mês foi a Grelha de Perfis Europeia, ou The European Profiling Grid, um manual para professores, escolas e formadores de professores sobre este instrumento de verificação das competências dos docentes e os seus usos. Este documento contém linhas orientadoras para professores, formadores e gestores, assim como grelhas de avaliação, que estes podem utilizar para desenvolvimento das capacidades dos docentes ou futuros docentes. Sendo este um documento europeu, como o título indica, cria padrões utilizados na União Europeia. Isto levou, portanto, à consulta de recursos relacionados com a UE.

Em fevereiro, para início das atividades do segundo semestre, foram traduzidos dois guias complementares de manuais. O primeiro, da ALTE, continha orientações para o desenvolvimento de testes de línguas para fins específicos. Assim, foram utilizados vários termos de especialidade relacionados com a avaliação por computador, à semelhança do que aconteceu no texto 5, sobre a construção de um teste de colocação de línguas por computador.

O segundo texto do mês foi um guia de ajuda prática da Eaquals, para auxílio na utilização do Portefólio Europeu de Línguas. Este destinava-se a escolas e professores e

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incluía uma linguagem menos formal, utilizando, até, jogos de palavras e idiomatismos, que tiveram de ser investigados e serão explorados com mais pormenor no capítulo 3.

Muitas das questões aqui encontradas relacionaram-se com as diferenças entre as avaliações e o ensino em inglês e em português, como, por exemplo, a tradução do termo can-do statements, que, como referirei mais tarde, teve de ser debatida com a colega.

Em março e abril, foi traduzido, com a colega, um guia de classificações da Pearson, relativo ao PTE Academic, o teste de línguas concebido pela empresa. Este incluía uma descrição detalhada de como realizar avaliações e de como classificar exercícios de produção e compreensão escrita e oral. Foi necessário consultar o Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas, pois o texto estabelece uma relação entre os níveis de aptidão nele apresentados e as classificações do PTE Academic. Também houve um foco nas classificações automáticas, já que estas fazem parte das principais características do teste.

O último texto traduzido no âmbito do estágio, mais curto e também dividido entre estagiárias, foi, novamente, da Eaquals – o Quadro de Competências de Gestão Académica da Eaquals, como foi traduzido. Este é, de novo, um manual relacionado com o ensino, na medida em que pretende auxiliar a gestão académica, estando destinado tanto à autogestão como a indivíduos que exerçam funções administrativas em estabelecimentos de ensino. Foi importante realizar uma pesquisa exaustiva para a tradução deste documento, pois, estando relacionado com a área da gestão académica, e não apenas com o ensino de línguas, apresentou léxico que não tinha sido utilizado anteriormente nos textos traduzidos por mim.

A única retroversão realizada durante o estágio, que já foi apresentada brevemente, foi bastante interessante para mim devido ao facto de ter sido muito infrequente, para mim, a produção de retroversões. Neste caso, tratava-se de um contrato no âmbito do programa de bolsas do Camões, I.P, entre o Instituto e uma aluna. Não podendo divulgar detalhes sobre este documento, pois inclui informações pessoais, refiro apenas que foi necessário utilizar estratégias e estruturas frásicas diferentes das que utilizei quando realizei as traduções, algo que será explorado no capítulo 2, onde falarei, brevemente, sobre a Retroversão e sobre como esta se distingue da Tradução.

Todos os textos trabalhados, apesar de serem de diferentes géneros, são técnicos, isto é, inscrevem-se na área da Tradução Técnica em sentido lato, como será explicado

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no capítulo 2, e exigem o uso de métodos diferentes dos que seriam usados, por exemplo, para a produção de uma Tradução Literária ou Audiovisual. As diferenças a destacar passam também pelos subgéneros dentro do Texto Técnico, como os textos jurídicos e os manuais, que também têm linguagem diferente entre si e, por isso, não são traduzidos da mesma maneira.

Apesar de os textos atribuídos não terem sido muito variados, tendo havido sempre um tema comum, a estabilidade que este proporcionou foi importante na medida em que facilitou a aquisição de conhecimentos sobre a área do ensino de línguas e a construção de um glossário que poderá ser útil para o futuro, com termos frequentemente utilizados nesta área.

1.4. Métodos de trabalho e materiais utilizados

Tendo em conta a tipologia dos textos traduzidos, referida anteriormente, foi necessário adotar métodos de trabalho que se adequassem ao texto de especialidade, nomeadamente à tradução de termos relacionados com a área do ensino de línguas e, menos frequentemente, com a área do Direito.

Entre outubro e dezembro de 2021, a tradução dos documentos foi feita individualmente e em simultâneo. Durante este processo, cada estagiária traduzia os mesmos textos, de forma independente, e ambas as versões eram enviadas para a entidade de estágio. Havia, assim, uma sobreposição de textos. Eram, por vezes, realizadas consultas mútuas quando algum termo se mostrava mais complicado, mas a tradução era, em grande parte, feita individualmente, tal como a revisão.

A partir de janeiro de 2022, após uma reunião na qual se discutiu a extensão e o volume dos textos a traduzir, começou a ser realizada uma divisão dos documentos, quando estes eram considerados demasiado extensos para serem traduzidos apenas por uma estagiária num período que não excedesse dois meses, sendo que a maior parte das traduções tinha o prazo de entrega de um mês e o volume de textos a traduzir durante esse mês podia chegar a três, como referido anteriormente.

Desta forma, assim que definimos um novo método de trabalho na reunião, foi necessário haver uma cooperação com a colega de forma a manter as traduções coesas,

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ou seja, para não traduzirmos os mesmos termos de formas diferentes no mesmo texto.

Cada uma de nós realizava a sua tradução de cada parte do texto, mas a consulta passou a ser mais frequente, devido à constante ocorrência dos mesmos termos nas partes de cada estagiária. Especialmente no caso dos manuais e dos seus guias complementares, era frequente haver expressões repetidas no índice, na introdução, na parte explicativa ou instrutiva e, também, na conclusão. Como a divisão não permitia que todas essas partes fossem atribuídas apenas a uma pessoa, a consulta foi importantíssima para se manter a coesão e a coerência dos textos.

Esta consulta mútua entre estagiárias foi, assim, bastante importante durante o processo de tradução. Era, por exemplo, frequente a ocorrência de termos e conceitos sobre os quais uma de nós já tinha traduzido um capítulo inteiro, ou subcapítulo, tendo assim um conhecimento mais vasto sobre a tradução em questão e fontes que comprovassem o seu uso na língua de chegada. Estes conhecimentos que começámos a adquirir durante o processo de tradução também foram bastante importantes para a nossa evolução e, consequentemente, para a evolução das traduções produzidas. Assim, tornou-se mais fácil a compreensão mútua e a definição da ideia geral do texto, do público-alvo e dos métodos de tradução a utilizar – algo que não foi estabelecido pela entidade de acolhimento e que nos competiu avaliar, definir ou compreender através da análise do texto.

Os recursos de tradução também foram, claramente, muito importantes durante o estágio, tendo sido necessário, em várias ocasiões, utilizar não só meios digitais, mas também meios físicos. Estes incluíram livros de linguagem jurídica, dicionários e sites sobre léxico especializado, entre outros. Houve a necessidade de recorrer a estes meios não apenas por causa do nosso desconhecimento dos termos, mas também porque, nesta área, a tradução nem sempre é feita através dos termos mais evidentes ou dos que se utilizam no quotidiano. Assim, a pesquisa, através dos recursos que serão referidos com mais pormenor adiante, foi essencial para verificação dos termos mais adequados a cada caso específico nos textos que nos foram atribuídos.

No que toca aos meios digitais, usaram-se alguns dos sites mais comummente visitados para a tradução de texto técnico, como o IATE e o Eur-Lex (tendo este sido mais útil durante a tradução dos textos relacionados com a área jurídica). Também foi utilizado o Linguee, um site mais generalista e frequentemente utilizado para traduções simples, mas útil na medida em que indica a fonte das traduções disponíveis para cada

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termo e facilita a análise da fiabilidade de cada uma. Também foi consultada a Infopédia, da Porto Editora, que dispõe de variados recursos para tradução, comparação e verificação dos termos. Este último site também foi, por vezes, utilizado como forma de confirmar se as traduções efetuadas eram adequadas àquela área, pois o dicionário digital contém informações adicionais relevantes sobre os contextos em que os termos podem ser usados.

Caso os textos tivessem sido enviados no formato .pdf, nós tínhamos de convertê-los para .docx, de forma a conseguirmos traduzi-los. No meu caso, optei por realizar a conversão através da ferramenta gratuita PDF Converter. Ponderei utilizar a ferramenta Wordfast Anywhere, por também ser gratuita e por ser uma ferramenta de Tradução Assistida por Computador (TAC). No entanto, acabei por descartar o uso desta devido à complexidade da formatação da maior parte dos documentos atribuídos, sendo que as tentativas de conversão de documentos realizadas através da plataforma acabavam por não ter uma formatação satisfatória. Assim, utilizei o conversor gratuito já referido e traduzi os textos através do Microsoft Word, de forma a conseguir verificar a formatação em tempo real.

Os meios físicos aos quais recorri com maior frequência foram o Dicionário Inglês-Inglês do Círculo de Leitores e o Longman Active Study Dictionary da Pearson Education – empresa já referida em 1.3 –, para obter uma compreensão mais vasta sobre alguns termos e, também, procurar sinónimos e expressões mais adequadas. Também foi utilizado o livro Direito – Noções Fundamentais, de Carlos José Batalhão, para verificação de alguns termos jurídicos e do seu uso em Portugal, e o livro Introdução à Linguística Geral e Portuguesa (Faria et al., 1996), para a procura de termos relacionados com a área da linguística. Além disso, foram consultadas, com menos frequência, outras fontes que serão referidas no capítulo 3, durante a análise de casos mais específicos.

O Camões, I.P., não disponibilizou glossários internos, tendo sido encorajada a elaboração de um glossário por mim e pela colega de estágio, Sofia Filipe. Este foi atualizado por cada uma, quando necessário, através da plataforma online Google Sheets, equivalente ao programa Excel. Assim, a partilha de informações sobre os termos e a confirmação de cada um eram instantâneas. Houve o cuidado de referir as fontes onde foi encontrada cada tradução e criou-se, também, uma coluna para observações, caso houvesse alguma ambiguidade ou explicação que cada uma de nós quisesse apresentar à colega, detalhes a recordar em traduções posteriores, ou caso o termo tivesse mais de uma opção de tradução. Esta última situação ocorreu com mais frequência no primeiro

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semestre, quando traduzíamos os mesmos textos individualmente e não realizávamos um trabalho em conjunto. Com a ajuda do glossário, particularmente durante o segundo semestre, foi possível evitar equívocos e incoerências entre partes diferentes dos mesmos textos e entre textos sobre os mesmos temas.

O glossário elaborado contém uma folha de Excel relacionada com o léxico da área do ensino, predominante nos textos traduzidos, assim como uma segunda folha, com termos da área jurídica, que contém bastante menos entradas devido ao volume inferior de textos jurídicos traduzidos. Decidimos fazer esta divisão porque a tradução jurídica, como será analisado no capítulo 2, tem as suas próprias características e porque grande parte dos seus termos necessitam de traduções com uma linguagem bastante específica, que devem ser ponderadas de maneira diferente em comparação com textos de outras áreas. Foi, portanto, necessário haver uma distinção entre as questões lexicais relacionadas com o Direito e as questões lexicais relacionadas com a área do ensino de línguas.

Todos estes métodos e recursos foram muito importantes durante o processo de tradução, para assegurarmos que escolhíamos a melhor hipótese possível tendo em conta a pesquisa efetuada, e também durante o processo de revisão, essencial para a confirmação de que não havia termos usados incorretamente, nem erros ortográficos, ou desvios gramaticais, morfossintáticos, ou outros tipos de anomalias causadas por pequenas distrações ou por pesquisa insuficiente. A familiarização com o léxico da área do ensino de línguas tornou as traduções, com o passar do tempo, cada vez melhores, e também ajudou na definição dos nossos métodos de trabalho, tendo-se notado algumas diferenças entre o trabalho realizado durante o início do estágio e as traduções produzidas numa fase mais avançada do mesmo, assim como na velocidade do trabalho executado.

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24 CAPÍTULO 2

Algumas reflexões sobre a Tradução (com destaque para a tradução de texto técnico)

2.1. Sobre o conceito de Tradução e as Teorias da Tradução

A Tradução é uma área bastante complexa que abrange vários tipos de texto.

Inicialmente denominada «ciência da tradução» ou «tradutologia» (Lima, 2010: 29), acabou por estabelecer-se de forma independente e transformar-se no que conhecemos, atualmente, como Tradução. Existem várias teorias sobre a Tradução, com diferentes definições e opiniões sobre esta prática, desenvolvidas ao longo do tempo por teóricos e tradutores. Estas foram-se alterando de acordo com o aparecimento de novas perspetivas e das constantes evoluções socioculturais.

O ato da tradução é, geralmente, realizado entre duas línguas diferentes, ou seja, é um processo interlinguístico. Existe, também, o conceito de tradução intralinguística – a tradução de termos entre variações da mesma língua, como a tradução de português do Brasil para português de Portugal e vice-versa –, mas muitos autores, como Machado (apud Eco, 2011), consideram que este é apenas um ato de reformulação e, portanto, não se integra verdadeiramente na definição canónica de Tradução.

Assim, o conceito de Tradução explorado no presente relatório será o mais tradicional e geralmente adotado por teóricos e tradutores – a tradução entre duas línguas diferentes, sendo uma denominada a língua de partida e a outra a língua de chegada, ou língua-alvo. A Tradução não deve ser confundida com o processo de adaptação, que «não é, geralmente, aceite enquanto tradução, mas reconhece-se que representa um texto de partida» (Baker e Saldanha, 2009). Apesar de não fazer parte do conceito de Tradução, a adaptação pode ser considerada uma das suas várias estratégias (ibid.).

Newmark, em Anderman e Rogers (2003: 56), define Tradução como o processo de integrar o significado de um texto de partida, doravante TP, num texto de chegada, doravante TC, para um público novo e, por vezes, diferente. Também destaca duas noções principais da palavra «significado», da teoria de Ogden e Richards (1960), apresentando a noção do «significado integral», com as denotações e conotações do texto original, e a da «mensagem» – ou o sentido pragmático do conceito, ou seja, a forma como o autor

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desejava que o leitor se sentisse e pensasse ao ler o seu texto. Newmark afirma, também, que a tradução depende da função do texto. Considero que a reflexão sobre a função de cada texto é bastante importante, pois, dependendo dela e do tipo de texto a traduzir, o tradutor deve escolher uma estratégia que se adeque ao resultado pretendido no TC. Estes conceitos de «significado», das funções da tradução e da intenção do autor original são essenciais para o tradutor e foram explorados por vários teóricos, que serão apresentados sumariamente de seguida.

Kirsten Malmkjær, também em Anderman e Rogers (2003: 76-80), afirma que a base da Tradução é o reflexo do texto de partida, desafiando os conceitos de equivalência, significado e comunicação. Fala de Toury e da relação entre o texto de partida e o texto de chegada de forma a definir este novo conceito de «equivalência», já que a «verdadeira equivalência» não pode ser atingida, de acordo com esta teoria. Para Toury, se é impossível atingir a «equivalência ideal», o que chamamos «traduções» não pode realmente ter este nome. A autora afirma que, como cada ocorrência de uso da língua é única e dificilmente pode ser replicada, a visão ideal de equivalência é substituída pelo conceito de equivalência centrada no TC de Toury. Segundo Malmkjær, a abordagem à Teoria da Tradução centrada no TC, ou seja, com uma preferência pela cultura de chegada, deve ser integrada na pedagogia da Tradução, se esta tiver como objetivo preparar os futuros tradutores para as funções que irão exercer profissionalmente.

Ainda no que toca a equivalências, Pinho (2006) declara que a escolha destas

«resulta de um trabalho subjetivo de interpretação individual e depende não só dos sistemas linguísticos, mas também da forma como o autor produz e como o tradutor interpreta e, na sua formulação final do texto traduzido, manipula os sistemas linguísticos em questão». Podemos ligar este ponto de vista à perspetiva de Newmark já exposta, pois também apresenta a ideia de que o tradutor pode fazer as suas escolhas de forma a considerar a «mensagem» original do autor do TP, para que esta seja transmitida e compreendida no TC, mas também está ligado às escolhas linguísticas que os tradutores devem fazer para que o «significado» do texto chegue ao público-alvo.

Como vemos, para além de considerarem as intenções do autor original, os tradutores devem, também, considerar o público-alvo da tradução a produzir, pelo que é necessário escolher entre a aproximação ao texto original e a mudança de certos aspetos deste texto para que o trabalho final se adeque melhor à cultura de chegada. Existem várias estratégias de Tradução que podem ser utilizadas para o efeito, tendo algumas delas

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sido definidas e popularizadas mais recentemente. Como afirma Costeleanu (2009), traduzir um texto não é apenas o ato de substituir as palavras pelos seus equivalentes noutras línguas e, para além disso, o conhecimento linguístico de uma certa área de especialidade na língua de partida e na língua de chegada não é suficiente para se produzir uma boa tradução. Esta atividade relaciona-se com a flexibilidade e a capacidade de adaptação do tradutor às necessidades específicas do texto a traduzir.

De acordo com Jorge (2012: 73), pode haver traduções etnocêntricas e de alteridade. Uma tradução etnocêntrica utiliza sistematicamente a equivalência, ou seja,

«transforma o outro à sua própria imagem». Esta é outra ideia do conceito já explorado por Newmark, Toury e Malmkjær, considerando-se nesta versão do conceito de

«equivalência» a aproximação mais fiel ao TP, mas maioritariamente com características da cultura de chegada. Desta forma, o tradutor transforma a fraseologia de uma língua numa fraseologia que existe na outra. Uma tradução de alteridade, por sua vez, visa preservar a língua de partida e a sua cultura, através da abertura de um espaço para a

«língua de tradução» no TC. Este último tipo de tradução, ao manter traços da língua de partida – algo relacionado com a sua tonalidade –, inscreve o «outro» na tradução (Jorge, 2012), não sendo tão claro para os leitores.

Estes processos realizam-se comummente, através do uso das estratégias de tradução de domesticação e de estrangeirização, respetivamente. A domesticação prende-se com o uso de termos e expressões mais próximos da língua de chegada, por exemplo, a tradução de idiomatismos de outra cultura por idiomatismos da língua portuguesa. Isto pode verificar-se na tradução de have your cake and eat it (too), exemplificada de seguida através de debates do Parlamento Europeu retirados do site Europarl:

ENG: «You cannot have your cake and eat it» – García-Margallo y Marfil (PPE-DE).

PT: «Não se pode ter sol na eira e chuva no nabal» – García-Margallo y Marfil (PPE-DE).

Quinta-Feira, 15 de maio de 2003 - Estrasburgo

ENG: «You cannot have your cake and eat it» – Pervenche Berès.

PT: «Porém, não se pode ter tudo» – Pervenche Berès.

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Quinta-feira, 26 de abril de 2007 - Estrasburgo

Outra forma de praticar a estratégia de domesticação, ou a tradução etnocêntrica, prende-se com a tradução de unidades lexicais de origem estrangeira (ou estrangeirismos), por exemplo, tradução de standard por padrões, apesar de a expressão standard já ser geralmente aceite como parte integrante do vocabulário da língua portuguesa (ainda que não esteja adaptada à ortografia portuguesa). O seu principal objetivo é tornar as traduções o mais naturais possível para o público do TC e integrar, até onde for possível, a cultura de chegada.

A estrangeirização, ou tradução de alteridade, por sua vez, prende-se com o seguimento do texto original de forma mais “fiel”, ou seja, sem efetuar grandes alterações e sem colocar, no texto, marcas da cultura de chegada. Apesar de esta estratégia constituir uma tradução mais rígida e acompanhar rigorosamente o TP, pode apresentar problemas de compreensão para o público-alvo do TC e acaba por resultar na produção de uma

«língua de tradução», como afirmado por Jorge (2012), que acaba por não conter propriamente características da língua de partida, nem da língua de chegada, e por não ser adequada a nenhuma das culturas de cada língua.

Utilizando, de novo, a expressão have your cake and eat it (too), exemplifica-se, agora, a estratégia de estrangeirização aplicada a uma tradução presente no Europarl relativa a um debate de 6 de setembro de 2005 do Parlamento Europeu:

ENG: «I have the impression, and I shall use a proverb to express myself, that you want to have your cake and eat it» – Giovanni Pittella (PSE).

PT: «Tenho a impressão, e vou usar um provérbio para o ilustrar, de que os Senhores querem ficar com o bolo e querem comê-lo» – Giovanni Pittella (PSE).

Referindo-se às estratégias de tradução e às preferências referidas, Pinho (2006), através da teoria de Bell (1991), defende que, devido às necessidades de comunicação intercultural que se mostraram cada vez mais evidentes ao longo dos anos, a tradução deixou de ser vista exclusivamente como uma arte, tendo-se tornado cada vez mais objetiva. O autor defende, também, que as exigências dos textos técnicos são, agora,

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aplicadas a outros tipos de tradução, de forma a «melhorar os padrões de rapidez de execução e qualidade na tradução de textos literários». Desta forma, o autor pretende defender que a tradução passou a ser um processo com pouca criatividade e que tem, cada vez mais, regras específicas. No entanto, considero que a estratégia de domesticação exige a criatividade do tradutor e a importância desta tem sido defendida com cada vez mais frequência por teóricos, pois permite a compreensão do texto pelo público-alvo de uma forma que a estrangeirização não permite, pelas razões já expostas.

Munday (2001) conclui, após análise de casos de estudo, que o vocabulário utilizado na Teoria da Tradução mais antiga continua a ser utilizado atualmente, com referência recorrente à tradução «literal» e «livre» e aos termos «lealdade», «fidelidade»,

«precisão», «significado», «estilo» e «tom». De acordo com o autor, privilegia-se a naturalidade do TC, como se este tivesse sido escrito originalmente na língua de chegada, ou seja, é privilegiado o uso da estratégia de domesticação, que tem em mente a compreensão do TC pelo público-alvo. O papel que o tradutor deve assumir para que isto seja possível, nomeadamente na tradução técnica, será explorado em 2.5.1.

2.2. A Tradução e a Cultura

Apesar de a prática de tradução estar relacionada primacialmente com certas escolhas linguísticas, começou, recentemente, a haver uma noção cada vez maior de que os aspetos extralinguísticos – nomeadamente, a cultura – também são bastante importantes para se realizar uma boa tradução. De acordo com Nord (1997: 43), os tradutores permitem a comunicação entre membros de comunidades culturais diferentes, mas o seu papel nem sempre envolve a tradução literal. Os textos podem ter símbolos verbais e não-verbais cujo significado se pode alterar conforme a cultura, pelo que o tradutor tem de tornar os códigos verbais em códigos não-verbais e vice-versa.

Nord (1997) define Tradução como uma interação intencional, intercultural e parcialmente verbal que envolve um texto de partida. Lima (2010: 33) defende que a língua é uma parte integrante da cultura e não um fenómeno isolado. Por isso, na ocorrência do cruzamento de duas línguas diferentes, também se cruzam duas culturas diferentes. De acordo com a autora, a cultura abrange os nossos conhecimentos e as

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nossas competências e perceções, estando ligada, também, aos comportamentos e às ocorrências, expectativas e normas sociais.

Desta forma, a Tradução pode ser vista como um meio de comunicação entre duas culturas diferentes. Esta «tradução cultural», de acordo com Baker e Saldanha (2009: 67), contrapõe-se às traduções «linguísticas» ou «gramaticais», que se limitam à conversão das frases que constituem os textos, e inclui elementos culturais que diferem entre as culturas presentes no TP e no TC. Como afirma Azenha Jr. (1996), «o texto técnico passa a ser visto como uma estrutura multidimensional ancorada historicamente, isto é, como um todo articulado com um momento histórico, formado por diferentes planos interrelacionados, todos eles portadores de sentido e, portanto, de relevância para o tradutor», assumindo, assim, a cultura um papel de bastante relevância no processo de tradução.

De acordo com Abbasi et al. (2012), as dificuldades relacionadas com as diferenças entre culturas constituem os maiores problemas para os tradutores e são os principais responsáveis pela incompreensão entre os leitores, pois a própria cultura impõe limites no que toca à transferência do TP para o TC. Segundo os autores, isto acontece porque cada sociedade ou grupo formado através de raízes históricas, locais e religiões constrói, com a sua linguagem específica, a sua própria cultura, que é respeitada, executada e aceite, mas que também tem os seus limites. Assim, os autores defendem que uma das características da cultura é a sua limitação no que toca à Tradução e, atualmente, o principal problema nesta área é a influência de normas culturais diferentes no TP e no TC. Como será explorado de forma mais exaustiva em 2.5.1, é uma das funções do tradutor escolher que estratégias aplicar para aproximar, da melhor forma que conseguir, as duas culturas, para que o TC seja compreendido por uma cultura que poderá ser bastante diferente da cultura do TP.

Durante o estágio curricular realizado, foram encontradas várias questões culturais relativas à área do ensino de línguas, pois cada país tem um sistema de ensino diferente e, desta forma, foi necessário analisar o sistema da cultura de chegada e encontrar os seus equivalentes mais próximos para a produção do TC, quando não existia um “equivalente ideal”. As dificuldades de tradução entre duas culturas podem, também, incluir idiomatismos e questões como a delicadeza, a cortesia e outras normas sociais relacionadas com a comunicação. Por exemplo, em Portugal, é possível traduzir o pronome you de várias formas, seja por títulos correspondentes a funções desempenhadas

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(ex.: [senhor] engenheiro, professor, doutor, etc.), ou por senhor(a), em vez de você, em situações formais. Apesar de a questão das formas de tratamento também ser uma questão linguística (da área da Pragmática), é influenciada por normas socioculturais.

Toury, em Brownlie (1999: 8), afirma que «a aquisição de um conjunto de normas para determinar a adequação de um comportamento [social] e manipular todos os fatores que poderão restringi-lo (…) é um pré-requisito para alguém se tornar tradutor num ambiente cultural». Em linha com esta posição, considero bastante importante, para que uma tradução seja compreendida pelo público-alvo, que o Tradutor considere a cultura deste público e adote estratégias domesticantes que tornem o texto culturalmente adequado, mesmo que isso signifique eliminar alguns traços da cultura do TP que não seriam compreendidos ou aceites pelo público do TC.

No entanto, não considero necessário traduzir sempre os termos mais específicos que realmente não é possível traduzir de forma eficaz, nomeadamente termos culturalmente marcados relacionados com comida, vestuário ou costumes característicos de uma cultura. Nestes casos, pode optar-se, em vez da substituição do termo por outro na língua de chegada, pela estratégia de explicitação, ou seja, manter o termo original no texto de chegada, em itálico, mas explicando, através de notas de tradutor, ou mesmo na própria frase, a que se refere. Vejamos um exemplo através da palavra culturalmente marcada fika. Eis uma definição do termo sueco:

«Fika, a Swedish custom where people gather to eat, drink, and talk, is a welcome workplace tradition in the country».

BBC (2016)

Este é um termo cuja tradução por encontro/festa/reunião de trabalho, por exemplo, não captaria a sua essência e importância na cultura de partida. Desta forma, considero que seria preferível, em vez de tentar adaptar a tradução à língua de chegada, incluir a expressão original no TC e explicar em que consiste, ou explicitá-la. No entanto, a estratégia de explicitação poderá não ser necessária em textos de especialidade, se o público-alvo já tiver conhecimentos sobre os assuntos em causa. Além disso, é provável o método referido não poder ser usado, por exemplo, em Tradução Audiovisual, onde os tradutores têm de considerar a extensão das legendas, talvez sendo preferível simplificar ou adaptar a expressão à cultura-alvo. Tendo em conta todas estas particularidades,

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considero bastante importante refletir sobre o contexto sociocultural presente no TP, o tipo de tradução a produzir e o seu público-alvo, de forma a avaliar as estratégias que devem ser utilizadas em cada caso, para que seja possível captar a cultura de partida e transmiti-la à cultura de chegada de uma maneira compreensível e que se adeque ao formato no qual o texto será apresentado.

2.3. (Três grandes) Tipos de Tradução

Tradicionalmente, no mundo académico, são estudados três tipos principais de tradução – a Tradução Audiovisual, a Tradução Literária e a Tradução do Texto Técnico e Científico, que também será referida como Tradução Técnica no presente relatório, por razões que serão expostas em 2.5. Apesar de o texto técnico deter uma maior importância no contexto do presente relatório, pois foi este o tipo de texto mais vezes traduzido durante o estágio, considero importante explorar, brevemente, os três tipos principais de tradução, de forma a analisar brevemente as suas diferenças e semelhanças. Depois, explorar-se-á de uma forma mais aprofundada a tradução do texto técnico.

A Tradução Audiovisual consiste, geralmente, na introdução de texto escrito ou oral em conteúdos audiovisuais de forma sincronizada. A tradução pode ser produzida e integrada nestes conteúdos previamente (por exemplo, no caso de filmes e séries) ou em tempo real (como no caso de peças de teatro ou transmissões em direto). De acordo com a Associação Portuguesa de Tradutores Audiovisuais, esta área abrange a Tradução para Legendagem, para Dobragem e para Localização de Jogos, os principais subgéneros de Tradução Audiovisual. Engloba, também, a Audiodescrição e a Legendagem para surdos.

Como referido anteriormente, as traduções podem ser produzidas para exposição oral ou escrita. O processo de sincronização que se segue à tradução é, muitas vezes, realizado pelo tradutor.

Este tipo de tradução pode ter semelhanças com a Tradução Técnica quando se produzem traduções de conteúdos relacionados com áreas de especialidade, na medida em que também será necessário realizar uma pesquisa mais extensa que permita uma tradução precisa, com termos que realmente são utilizados na área. Tal como veremos que acontece em Tradução Técnica, também na tradução deste tipo de conteúdo se levanta a questão de contratar, ou não, um especialista na área para traduzir os termos de

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especialidade. No entanto, a Tradução Audiovisual privilegia bastante a naturalidade na tradução dos diálogos, pois estes têm de ser produzidos de forma semelhante ao que um indivíduo produziria em situações reais, o que não tem de acontecer em Tradução Técnica, que abrange textos de caráter mais formal com construções complexas.

A Tradução Literária assemelha-se à Tradução Audiovisual na medida em que também é necessário, no caso dos diálogos, produzir um texto natural e fluente com marcas orais realistas. No entanto, este tipo de tradução não é, geralmente, colocado em conteúdos audiovisuais e tem tipicamente construções mais complexas do que as que são utilizadas em Tradução Audiovisual. Existem muitos géneros a traduzir dentro desta área, como textos dramáticos, narrativos ou poéticos. Cada um destes géneros tem características bastante diferentes: nos textos dramáticos, é essencial considerar as marcas orais e o tipo de peça que se traduz, de forma a avaliar a linguagem mais adequada – por exemplo, se esta deve ser natural ou mais expressiva. No caso da tradução de textos narrativos, é importante reter as idiossincrasias do autor original e manter a fluidez da história, evitando que o tipo de escrita se aproxime do que se encontra em traduções técnicas. Por fim, na tradução de textos poéticos, é necessário ter em conta os esquemas rimáticos, os versos e outros aspetos característicos dos poemas que influenciam as escolhas lexicais do tradutor. Newmark, em Anderman e Rogers (2003: 14), afirma que a Tradução Literária apresenta uma estética e imaginação que permitem ver a tradução enquanto arte e que esta se assemelha à literatura, na medida em que ambas têm um foco no público-alvo.

Tal como acontece na Tradução Técnica, também a Tradução Literária tem vários subgéneros que devem ser traduzidos de maneiras diferentes. Na última, isto acontece devido à adaptação a cada género textual, ao passo que na Tradução Técnica acontece devido às áreas de especialidade pertencentes a este tipo de tradução. Na Tradução Literária, também pode haver a ocorrência de termos de especialidade que, geralmente, estão presentes em textos técnicos (por exemplo, num livro de ficção com personagens que trabalham numa área científica), mas o tipo de escrita, a estrutura e as funções deste tipo de texto são bastante diferentes.

A Tradução Técnica, que será explorada com mais detalhe em 2.5, requer metodologias e recursos específicos, pois os textos técnicos têm, como já foi referido, muita terminologia de especialidade e, devido às suas funções, requerem traduções bastante rigorosas. Dentro da tradução do texto técnico, integra-se a Tradução Jurídica,

Referências

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