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O PAPEL DA EQUIPE DE SAÚDE NO PROCESSO DE ADESÃO AO TRATAMENTO

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O PAPEL DA EQUIPE DE SAÚDE NO PROCESSO DE ADESÃO AO TRATAMENTO

Maira Rafaela Röhrig da Costa (Apresentador) Ana Cristina Garcia Dias (Orientador)

INTRODUÇÃO

Considerar o paciente enquanto ser social, dotado de expectativas, conhecimentos, interesses, e que possui valores socioculturais, que produzem sentidos e ressignificações torna-se essencial para pensar sobre a resistência ou aderência às prescrições do tratamento. A adesão à terapêutica prescrita pode ser entendida como o resultado de um processo de avaliação e aceitação do paciente de seu estado enquanto doente. Neste âmbito, percebe-se a relevância de considerar a co-responsabilidade que profissionais e serviços de saúde devem assumir no processo de adesão ao tratamento, a fim de que este possa ser efetivado. Cardoso et al (2011) aponta que alguns estudos estabelecem uma analogia entre o sucesso da adesão ao tratamento e diferentes níveis de comprometimento, relacionados ao papel do paciente, à sua relação com serviços/profissionais de saúde e com a qualidade de assistência prestada pelo profissional.

A adesão ao tratamento provoca efeitos diretos na saúde e no bem estar do sujeito que se encontra em adoecimento, físico ou psíquico. Dessa forma, discutir sobre o papel da equipe de saúde neste processo é de suma importância para pensar em uma intervenção adequada que contribua com o sucesso do plano de tratamento.

OBJETIVOS

Considerando os fatores que influenciam na adesão ao tratamento em saúde mental e os efeitos desta na vida do paciente, pretende-se, através deste trabalho, discutir o papel da equipe de profissionais neste processo. Para tanto, objetiva-se aprofundar a discussão em torno dessa temática, por meio da revisão de literatura sobre publicações recentes sobre o tema.

MÉTODO

Foi realizado um estudo bibliográfico, a partir de uma pesquisa no banco de dados Scielo (www.scielo.org), considerando as publicações no período de 2002 a 2012.

Foi utilizada uma abordagem qualitativa com o intuito de verificar publicações

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referentes ao papel dos profissionais em relação à adesão ao tratamento em saúde mental. A busca foi realizada por meio da combinação dos seguintes descritores: adesão ao tratamento, saúde mental, psicoeducação e equipe de saúde mental. Foram considerados como critérios de inclusão: abordar no resumo a questão da adesão ao tratamento em saúde mental; fazer referencia à equipe de saúde; publicação brasileira realizada nos últimos dez anos. Como critérios de exclusão: todos os aspectos que não se encaixam nos critérios de inclusão.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A pesquisa no banco de dados, por meio da combinação dos descritores, resultou em vinte e cinco artigos, sendo que entre estes treze se encaixavam nos critérios de inclusão. Contudo, devido à proposta do trabalho, somente seis artigos serviram como referência bibliográfica. Alguns estudos sobre a adesão ao tratamento apresentam, mesmo que de maneira implícita, a noção de que os pacientes deveriam aderir, pois essa é a sua obrigação e, quando tal não acontece, a responsabilidade é, em grande parte, deles próprios (Klein & Gonçalves, 2005). A partir desse ponto de vista, a adesão está estreitamente ligada a uma perspectiva em que os pacientes, por vezes, são encarados como agentes passivos. Em contrapartida, outros estudos sugerem que os pacientes pretendem obter mais informação e mais oportunidades de se tornarem ativos na sua interação com o profissional de saúde (Donovan & Blake, 1992 citado por Klein &

Gonçalves, 2005). Tem-se ressaltado o papel ativo do sujeito no tratamento, tendo em vista a importância do conhecimento ou crenças do paciente acerca da terapêutica (Conrad, 1985 citado por Klein & Gonçalves, 2005). Outra evidência de que a responsabilidade pela adesão ao tratamento não se restringe ao paciente é encontrada nas teorias que tem identificado as fontes da baixa adesão na interação médico/equipe–

paciente.

Considera-se essencial entender o paciente como um ser biopsicossocial, partindo do principio da integralidade, assim o sujeito se estrutura na estreita interação de suas diversas dimensões e por suas relações com o meio. Esta concepção que considera o indivíduo em sua totalidade orienta o entendimento do processo saúde/doença incidindo sobre a prática dos profissionais de saúde, influenciando seu modo de tratar o paciente e colocando o foco da atenção na pessoa e não na doença.

Como um princípio orientador, transforma as relações de quem cuida com quem é

cuidado, na medida em que a partir dele a impessoalidade da relação sujeito-objeto dá

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lugar à relação sujeito-sujeito, possibilitando aproximações mais compromissadas e humanizadas. Tal aproximação permite o conhecimento recíproco e abre caminho para o diálogo, por meio do qual se constrói uma relação interpessoal que “descoisifica” os sujeitos, possibilita perceber diversidades, cria vínculos, facilita a compreensão das necessidades de quem sofre e influencia o processo de trabalho e as ações de saúde (Silveira & Ribeiro, 2005).

Com o intuito de transformar o processo de formação dos profissionais da saúde, colocam-se como estratégicas a reflexão e a discussão dos diferentes elementos que constituem este processo, entre os quais se destaca o homem, enquanto objeto de estudo ao qual se destina a formação. Destacam-se também outros elementos constituintes desse processo, como o conceito de saúde, o processo saúde/doença, as práticas assistenciais, os espaços onde se desenvolvem e os sujeitos nelas envolvidos. Assim, cria-se um campo ideal para desenvolver uma articulação transformadora que se configure em um novo cenário de atenção à saúde (Silveira & Ribeiro, 2005). Segundo Pinho, Hernández e Kantorski (2010)

Os trabalhadores em saúde são produto de um sistema de relações assim como coprodutores deste mesmo sistema. Em um contexto tão complexo como este, marcado pela diversidade de formações, concepções, opiniões e visões de mundo, unir esforços para processar as mudanças necessárias torna-se uma tarefa essencialmente coletiva.

Dessa forma, administrar os conflitos, as diferenças e, principalmente, resgatar a singularidade dos atores sociais são desafios importantes para definir o projeto terapêutico e evitar a alienação do trabalhador (p. 262).

Ressalta-se que o sucesso da adesão só se torna possível a partir do

estabelecimento de bom relacionamento interpessoal, conhecimento, compreensão e

técnicas que auxiliem a manutenção dos tratamentos. Além disso, é de suma

importância as competências de comunicação e as atitudes dos médicos quanto aos

pacientes. Bishop (1994 citado por Klein & Gonçalves, 2005) aponta que, na realidade,

uma das principais razões pelas quais os pacientes deixam de implementar os

procedimentos é a falha do profissional em fornecer informação. Klein e Gonçalves

(2005) também indicam que os problemas relacionados com a comunicação podem

começar logo no momento em que o profissional pede aos pacientes o relato dos seus

sintomas e falha em ouvir as suas preocupações. Além destes problemas na

comunicação, as diferenças na linguagem, nível educacional e classe social podem

contribuir para o agravamento da não adesão ao tratamento.

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Uma intervenção deve ser considerada como não efetiva se seus usuários a consideram como inaceitável ou a rejeitam. O que nos leva a acreditar que é necessário que a equipe esteja atenta, para repensar e reformular as estratégias de tratamento, adequando-as ao público que a procura. Algumas atitudes da equipe (como linguagem, tempo dispensado para a consulta, atendimento acolhedor, respeito com as verbalizações e questionamentos dos pacientes, motivação para o cumprimento do tratamento) são assinaladas como fatores que reforçam a adesão. Se a boa relação pode auxiliar na adesão ao tratamento, a relação negativa estabelecida com a equipe como um todo, pode atrapalhar esse processo (Cardoso & Galera, 2009). Assim, incorporar o diálogo como recurso de cuidado em saúde passa por uma crítica à forma tradicional de conversar nessa relação. Muitas vezes, os profissionais atuam como detentores de saber, falando para um usuário desprovido de saber, com o intuito de educá-lo para um melhor comportamento em saúde. Com isso não se está negando o discurso científico dos profissionais de saúde, do que vem a ser considerado saúde e doença, mas se enfatiza a necessidade da interlocução, do diálogo. De acordo com Camargo-Borges e Japur (2008), dessa forma pode haver viabilidade na proposta de um novo paradigma em Saúde Pública, em que ações conjuntas entre profissionais e população rompam com a tradicional hierarquia rígida nas relações de saber/poder, legitimando assim, outras descrições de vivências de saúde/doença. Assim, enfatiza-se a importância da interlocução como propulsora de ações transformadoras.

COMENTÁRIOS FINAIS

Ao pensar sobre adesão ao tratamento, é necessário considerar não só fatores

terapêuticos, mas também educativos, que estão relacionados aos pacientes. Para tanto,

é preciso envolver aspectos referentes ao modo como o paciente reconhece e aceita suas

condições de saúde. A orientação, a informação, os esclarecimentos e a adequação dos

esquemas terapêuticos ao estilo de vida do paciente são fundamentais para aumentar as

probabilidades de adesão ao tratamento. Considera-se esses fatores importantes, pois,

muitas vezes, a decisão de aderir ou não ao tratamento pode estar associada às

percepções e compreensões que o paciente faz de si mesmo, de sua doença e de seu

tratamento. A forma como é visto o papel do paciente no seu tratamento é refletida

também na forma como são discutidos os fatores relativos ao paciente na adesão,

incluindo a tentativa de compreensão de seus valores e crenças em relação à saúde, à

doença e ao tratamento.

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O papel dos profissionais e da equipe de saúde, por sua vez, é fundamental para estabelecer uma relação de confiança, que repercute na maneira como o paciente aceita o tratamento como um todo. O profissional de saúde influenciará na adesão na medida em que atingir o universo cultural do paciente e estabelecer com este um nível de comunicação e de relacionamento que sejam efetivos. Para tanto, percebe-se a importância de que as ações de saúde estejam centradas na pessoa e não exclusivamente nos procedimento. Ressalta-se, por conseguinte, a importância de estudos que avaliem as estratégias utilizadas pelos profissionais de saúde no atendimento dos pacientes, bem como investimentos para a capacitação profissional para tal atividade. É preciso, ainda, implementar novas estratégias nos serviços de saúde, que permitam aos pacientes expor suas dúvidas, seus anseios, dificuldades, opiniões e experiências relacionadas ao tratamento. Para tanto, tais estratégias, incluindo as educacionais, devem entender a adesão enquanto relação colaborativa e, acima de tudo, de co-responsabilidade, voltada para a humanização dos pacientes e atrelada à sua realidade. Consolidar a concepção do homem em sua integralidade, portanto, amplia a compreensão do processo saúde/doença, o que possibilita pensar o homem de modo contextualizado.

REFERÊNCIAS

Camargo-Borges, C. & Japur, M. (2008) Sobre a (não) adesão ao tratamento: ampliando sentidos de autocuidado. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, Jan-Mar; 17(1): 64-71.

Recuperado em 12 maio, 2012, em http://www.scielo.br/pdf/tce/v17n1/07.pdf.

Cardoso, L. & Galera, S. A. F. (2009) Doentes mentais e seu perfil de adesão ao tratamento psicofarmacológico. Rev Esc Enferm USP; 43(1): 161-7. Recuperado em 12 maio, 2012, em http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v43n1/21.pdf.

Cardoso, L.; Miasso, A. I.; Galera, S. A. F.; Maia, B. M. & Esteves, R. B. (2011) Grau de adesão e conhecimento sobre tratamento psicofarmacológico entre pacientes egressos de internação psiquiátrica.

Rev. Latino-Am. Enfermagem 19(5) set.-out. Recuperado em 12 maio, 2012, em

http://www.scielo.br/pdf/rlae/v19n5/pt_12.pdf

.

Klein, J. M. & Gonçalves, A. G. A. (2005) A adesão terapêutica em contexto de cuidados de saúde primários. Psico-USF, 10(2):113-120, jul./dez. Recuperado em 12 maio, 2012, em http://www.scielo.br/pdf/pusf/v10n2/v10n2a02.pdf.

Pinho, L. B.; Hernández, A. M. B.; Kantorski, L. P. (2010) Trabalhadores em saúde mental: contradições e desafios no contexto da reforma psiquiátrica. Esc Anna Nery Ver Enferm, 14(2):260-267, abr-jun. Recuperado em 25 junho, 2010, em http://www.scielo.br/pdf/ean/v14n2/07.pdf.

Silveira, L. M. C. & Ribeiro, V. M. B. (2005) Grupo de adesão ao tratamento: espaço de

“ensinagem” para profissionais da saúde e pacientes. Interface - Comunic., Saúde,

Educ., 16(9):91-104, set.2004/fev.2005. Recuperado em 12 maio, 2012, em

http://www.scielo.br/pdf/icse/v9n16/v9n16a08.pdf.

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