Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.469.119 - MG (2014/0175125-5) RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHIRECORRENTE : J ELIZIÁRIO REPRESENTAÇÕES LTDA
ADVOGADO : MAURICIO PRADO FERREIRA E OUTRO(S) - MG060242N
RECORRIDO : PVC BRAZIL INDÚSTRIA DE TUBOS E CONEXÕES LTDA
AGRAVANTE : PVC BRAZIL INDÚSTRIA DE TUBOS E CONEXÕES LTDA
ADVOGADO : DELFIM SUEMI NAKAMURA - PR023664
AGRAVADO : J ELIZIÁRIO REPRESENTAÇÕES LTDA
ADVOGADO : MAURICIO PRADO FERREIRA E OUTRO(S) - MG060242N
EMENTA
EMPRESARIAL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL E AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE. DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO. INÉPCIA. RESCISÃO SEM JUSTA CAUSA.
INDENIZAÇÃO. FORMA DE CÁLCULO. PRESCRIÇÃO. NÃO
INTERFERÊNCIA.
1. Ação ajuizada em 15/02/2006. Recurso especial interposto em 11/11/2013 e atribuído a este gabinete em 25/08/2016.
2. O agravo interposto contra decisão denegatória de processamento de recurso especial que não impugna, especificamente, os fundamentos por ela utilizados, não deve ser conhecido. Súmula 182/STJ.
3. O propósito do recurso especial é determinar se, à luz do art. 27, “j”, da Lei 4.886/65, a base de cálculo da indenização por rescisão sem justa causa deve incluir os valores percebidos durante toda a vigência do contrato de representação comercial ou se deve ser limitada ao quinquênio anterior à rescisão, devido à prescrição quinquenal (art. 44, parágrafo único, da Lei 4.886/65).
4. O direito e a pretensão de receber verbas rescisórias (arts. 27, “j”, e 34 da Lei 4.886/65) nascem com a resolução injustificada do contrato de representação comercial.
5. É quinquenal a prescrição para cobrar comissões, verbas rescisórias e indenizações por quebra de exclusividade contratual, conforme dispõe o parágrafo único do art. 44 da Lei 4.886/65.
6. Conforme precedentes desta Corte, contudo, essa regra prescricional não interfere na forma de cálculo da indenização estipulada no art. 27, 'j', da Lei 4.886/65 (REsp 1.085.903/RS, Terceira Turma, julgado em 20/08/2009, DJe 30/11/2009).
7. Na hipótese, nos termos do art. 27, “j”, da Lei 4.886/65, até o termo final do prazo prescricional, a base de cálculo da indenização para rescisão injustificada permanece a mesma, qual seja, a integralidade da retribuição auferida durante o tempo em que a recorrente exerceu a representação comercial em nome da recorrida.
8. Agravo em recurso especial não conhecido. 9. Recurso especial conhecido e provido.
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Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, não conhecer do agravo em recurso especial e conhecer e dar provimento ao recurso especial nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino, Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco Aurélio Bellizze e Moura Ribeiro votaram com a Sra. Ministra Relatora.
Brasília (DF), 23 de maio de 2017(Data do Julgamento)
MINISTRA NANCY ANDRIGHI Relatora
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.469.119 - MG (2014/0175125-5) RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHIRECORRENTE : J ELIZIÁRIO REPRESENTAÇÕES LTDA
ADVOGADO : MAURICIO PRADO FERREIRA E OUTRO(S) - MG060242N
RECORRIDO : PVC BRAZIL INDÚSTRIA DE TUBOS E CONEXÕES LTDA
AGRAVANTE : PVC BRAZIL INDÚSTRIA DE TUBOS E CONEXÕES LTDA
ADVOGADO : DELFIM SUEMI NAKAMURA - PR023664
AGRAVADO : J ELIZIÁRIO REPRESENTAÇÕES LTDA
ADVOGADO : MAURICIO PRADO FERREIRA E OUTRO(S) - MG060242N
RELATÓRIO
A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relator):
Cuida-se do julgamento conjunto do recurso especial interposto por J. ELIZÁRIO REPRESENTAÇÕES LTDA., com fundamento nas alíneas “a” e “c” do permissivo constitucional, contra acórdão do TJ/MG, e de agravo em recurso especial interposto por PVC BRASIL INDÚSTRIA DE TUBOS E CONEXÕES LTDA., com fundamento no art. 544 do CPC/73, contra decisão que inadmitiu seu recurso especial adesivo (e-STJ fls. 960-961).
Ação: de indenização decorrente de rescisão sem justa causa de
contrato de representação comercial, ajuizada pela recorrente em face da recorrida. Afirma que, desde 1991, atuava como representante comercial da recorrida e, no ano de 2005, esta rescindiu o contrato sem justa causa, celebrando nova representação comercial com outra empresa na mesma zona de atuação da recorrente. Também pleiteia o recebimento de comissões que supostamente não foram pagas pela recorrida.
Sentença: julgou o pedido parcialmente procedente para condenar a
recorrida ao pagamento de: (i) 1/15 (um quinze avos) de todas as comissões aferidas pela recorrente; (ii) aviso prévio equivalente à média das três últimas comissões aferidas pela recorrente; (iii) R$ 1.015,13 (um mil e quinze reais, e treze centavos) pelo ressarcimento de duplicatas; (iv) R$ 2.545,38 (dois mil,
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quinhentos e quarenta e cinco reais, e trinta e oito centavos), referente ao pagamento das comissões de novembro de 2004; e (v) os valores das comissões referentes a dezembro de 2004, janeiro, fevereiro e março de 2005, a serem apurados em liquidação de sentença. Fixou os honorários advocatícios no montante equivalente a 10% (dez por cento) do valor da condenação.
Acórdão: recorrente e recorrida interpuseram apelação e ambos os
recursos foram parcialmente providos pelo TJ/MG. Assim, o Tribunal de origem alterou de 1/15 (um quinze avos) para 1/12 (um doze avos) a fração a ser aplicada a título de indenização sobre as comissões percebidas durante a vigência do contrato de representação comercial, mas limitou esses valores àqueles recebidos pela recorrente nos últimos 5 (cinco) anos, em razão da prescrição quinquenal, conforme ementa do julgamento abaixo transcrita (e-STJ fl. 807):
APELAÇÃO. AÇÃO ORDINÁRIA. AGRAVO RETIDO NÃO CONHECIDO. PRELIMINAR DE JULGAMENTO ULTRA-PETITA. PRESCRIÇÃO. REPRESENTAÇÃO COMERCIAL. NÃO PAGAMENTO DAS COMISSÕES. INDENIZAÇÃO E AVISO PRÉVIO DEVIDOS.
-Não se conhece do agravo retido quando ele não é suscitado expressamente nas razões da apelação. Agravo retido não conhecido.
-Se o magistrado não extrapolou os limites impostos pelas partes quando da prolação da sentença, enfrentando devidamente as questões que lhe foram postas, não há que se reconhecer a nulidade de sentença em virtude de julgamento ultra-petita.
-Nos termos do parágrafo único do art.44 da Lei 8.420192, "prescreve em cinco anos a ação do representante comercial para pleitear a retribuição que lhe é devida e os demais direitos que lhe são garantidos por esta lei".
-O não pagamento das comissões acordadas, é causa que lastreia o pedido de rompimento da relação jurídica firmada entre representante e representado. Indenização e aviso prévio devidos, calculados com base na Lei 4.886, de 1964, alterada pela Lei 8.420, de 1992.
Embargos de declaração: o TJ/MG rejeitou os embargos de
declaração opostos pela recorrente e acolheu, em parte, os embargos opostos pela recorrida (e-STJ fls. 837-843), para fazer constar no dispositivo do acórdão recorrido o acolhimento da prejudicial de mérito da prescrição, excluindo da
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Recurso especial: alega violação ao art. 27, “j”, da Lei 4.886/65 e
sustenta a existência de dissídio jurisprudencial. Afirma que a indenização de 1/12 por rescisão sem justa causa, prevista na mencionada lei, deve incidir sobre valores percebidos durante toda a vigência do contrato de representação comercial, sem a limitação da prescrição quinquenal.
Agravo em recurso especial: a recorrida interpôs recurso especial
adesivo (e-STJ fls. 934-948), em que alega violação ao art. 535 do CPC/73. Após decisão do TJ/MG, que inadmitiu o recurso em razão da aplicação da Súmula 284/STF à hipótese, interpôs agravo em recurso especial (e-STJ fls. 964-973).
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.469.119 - MG (2014/0175125-5) RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHIRECORRENTE : J ELIZIÁRIO REPRESENTAÇÕES LTDA
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RECORRIDO : PVC BRAZIL INDÚSTRIA DE TUBOS E CONEXÕES LTDA
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VOTO
A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relator): I – Do julgamento do agravo em recurso especial
O propósito do agravo em recurso especial é afastar a incidência da Súmula 284/STF invocada pela decisão do TJ/MG que inadmitiu o recurso especial interposto pela agravante.
Às fls. 960-961 (e-STJ), o Tribunal de origem entendeu que o recurso não deveria ser admitido por este Superior Tribunal de Justiça, pelos seguintes fundamentos:
Consoante orientação da Corte ad quem, “não se admite o recurso especial por violação dos arts. 458 e 535, l, do CPC, se o recorrente não especifica o vício que inquina o aresto recorrido, limitando-se a alegações genéricas de omissão no julgado, por entender imperativo o acolhimento dos embargos para fins de prequestionamento, sob pena de tornar-se insuficiente a tutela jurisdicional. Incidência da Súmula 284/STF. 2. No caso, a recorrente não especificou em que consistiria o vicio alegado, tendo apenas apontado violação do dispositivo por força do principio da eventualidade” (REsp 1150099/MT, rel. Min. CASTRO MEIRA, DJe 10/02/2011).
Quanto ao mais, concluiu o Colegiado não se tratar a hipótese dos autos de simples atraso na liquidação das comissões devidas e eventual reforma do entendimento manifestado no acórdão combatido não prescindiria do revolvimento do conjunto fático-probatório da demanda, providência incompatível com a técnica dos apelos excepcionais. Deveras, "em sede de recurso especial, não compete ao Superior Tribunal de Justiça revisar as premissas fáticas que nortearam o convencimento das instâncias ordinárias (Súmula n. 7/STJ)" (AgRg no Ag 986030/PR. rel. Min. JOAO OTAVIO DE NORONHA, DJe de 30/03/2009).
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Nas razões do agravo em recurso especial, contudo, a agravante limitou-se a repetir o que foi apresentado em sede de recurso especial, sem apresentar nenhuma impugnação especificamente dirigida à decisão do TJ/MG que não admitiu o recurso especial.
Constata-se, portanto, que o agravante não rebateu o fundamento decorrente da aplicação da Súmula 284/STF, o que – por si – é suficiente para a manutenção da decisão agravada.
Desse modo, não merece conhecimento o agravo que não impugna, especificamente, os fundamentos da decisão agravada, conforme disposto na Súmula 182/STJ.
Forte nessas razões, NÃO CONHEÇO do agravo.
II – Do julgamento do recurso especial
O propósito do recurso especial é determinar se, à luz do art. 27, “j”, da Lei 4.886/65, a base de cálculo da indenização por rescisão sem justa causa deve incluir os valores percebidos durante toda a vigência do contrato de representação comercial ou se deve ser limitada ao quinquênio anterior à rescisão, devido à prescrição quinquenal (art. 44, parágrafo único, da Lei 4.886/65).
O direito e a pretensão de receber verbas rescisórias nascem com a resolução injustificada do contrato de representação comercial, fato que, na hipótese dos autos, ocorreu em abril de 2005. A ação, por sua vez, foi ajuizada meses depois, em 15/02/2006, não ocorrendo prescrição de exigibilidade das verbas rescisórias.
De fato, a indenização devida com amparo no art. 27, “j”, da Lei 4.886/65 tem por base o “total da retribuição auferida durante o tempo em que
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compensadas ou apenas creditadas “formarão a base de cálculo da indenização,
mesmo que extintas (...) Comissão paga não se perde por prescrição, muito menos para efeito do cálculo da indenização. Na verdade, o legislador não limitou o prazo que servirá de base para o cálculo da indenização (...)” (Rubens
Requião. Do Representante Comercial. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 295). O disposto no parágrafo único do art. 44 da Lei 4.886/65, por sua vez, não afeta a base de cálculo do valor da indenização por rescisão sem justa causa e, assim, não afasta da base que formará o valor da indenização as comissões recebidas ou creditadas em favor do representante há mais de 5 (cinco) anos, contados da rescisão contratual.
Em realidade, segundo a jurisprudência deste STJ, incide a prescrição quinquenal sobre as comissões não pagas, não reclamadas ou pagas a menor, cujo prazo se inicia a parte da data em que ocorre o inadimplemento. Assim, a cada mês em que houve comissões pagas a menor e a cada venda feita por terceiro em sua área de exclusividade, faz surgir para o representante comercial o direito de obter a devida reparação. Consequentemente, em tese, valores eventualmente prescritos não integrariam a base de cálculo da indenização por rescisão sem justa causa.
Deve-se atentar, assim, para a existência de dois fenômenos jurídicos diversos. O primeiro envolve a indenização por rescisão sem justa causa e a fórmula de seu cálculo, enquanto o segundo diz respeito à prescrição quinquenal de comissões ou outros direitos.
Conforme já julgado por esta Corte Superior, “a regra prescricional
não interfere na forma de cálculo da indenização estipulada no art. 27, 'j', da Lei 4.886/65, pois, embora ela tenha por base o 'total da retribuição auferida durante o tempo em que exerceu a representação', isso não significa dizer que, no
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1.085.903/RS, Terceira Turma, julgado em 20/08/2009, DJe 30/11/2009).
Na hipótese, como se trata de indenização por rescisão sem justa causa, haveria prescrição apenas se o recorrente deixasse transcorrer um lapso temporal superior a 5 (cinco) anos desde a data da rescisão contratual, o que não se verifica nos autos. Desse modo, até o termo final do prazo prescricional, a base de cálculo da indenização de que trata o art. 27, “j”, da Lei 4.886/65 permanece a mesma, qual seja, a integralidade da retribuição auferida durante o tempo em que a recorrente exerceu a representação comercial em nome da recorrida.
Forte nessas razões, CONHEÇO do recurso especial e DOU-LHE PROVIMENTO, com fundamento no art. 255, § 4º, III, do RISTJ, para determinar que a indenização prevista no art. 27, “j”, da Lei 4.886/65 engloba a totalidade da retribuição auferida pela recorrente em todo o período em que exerceu a representação comercial.
Por fim, diante da modificação da sucumbência, as custas processuais devem ser arcadas integralmente pela recorrida, mantendo-se o valor dos honorários sucumbenciais determinados na sentença de 1º de grau de jurisdição (e-STJ fls. 691-705), equivalente a 10% (dez por cento) do valor da condenação.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO TERCEIRA TURMA
Número Registro: 2014/0175125-5 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.469.119 / MG
Números Origem: 10105061784184002 10105061784184003 10105061784184005 10105161784184004 105061784184
PAUTA: 23/05/2017 JULGADO: 23/05/2017
Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. JOSÉ ADONIS CALLOU DE ARAÚJO Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : J ELIZIÁRIO REPRESENTAÇÕES LTDA
ADVOGADO : MAURICIO PRADO FERREIRA E OUTRO(S) - MG060242N RECORRIDO : PVC BRAZIL INDÚSTRIA DE TUBOS E CONEXÕES LTDA AGRAVANTE : PVC BRAZIL INDÚSTRIA DE TUBOS E CONEXÕES LTDA ADVOGADO : DELFIM SUEMI NAKAMURA - PR023664
AGRAVADO : J ELIZIÁRIO REPRESENTAÇÕES LTDA
ADVOGADO : MAURICIO PRADO FERREIRA E OUTRO(S) - MG060242N ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos - Representação comercial
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Terceira Turma, por unanimidade, não conheceu do agravo em recurso especial e conheceu e deu provimento ao recurso especial, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora.
Os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino, Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco Aurélio Bellizze (Presidente) e Moura Ribeiro votaram com a Sra. Ministra Relatora.