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ANÁLISE CRÍTICA DISCURSIVA DOS GÊNEROS TEXTUAIS CONTESTAÇÃO E SENTENÇA

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Academic year: 2021

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II Congresso Internacional de Estudos em Linguagem UEPG – Ponta Grossa – PR 24 a 26 de Outubro de 2017

ANÁLISE CRÍTICA DISCURSIVA DOS GÊNEROS TEXTUAIS CONTESTAÇÃO E SENTENÇA

Célia Iarosz Frez (graduanda) - UNICENTRO Cláudia Maris Tullio (doutora) - UNICENTRO

Resumo: O presente trabalho tem como base a análise centrada no gênero textual jurídico: contestação e sentença. Propôs-se um estudo interdisciplinar dos Estudos da Linguagem e do Direito, especialmente, o Direito e Processo Civil, com o propósito de elaborar um estudo linguístico do gênero textual jurídico Contestação e Sentença, a fim de verificar a hipótese de adequação do texto jurídico aos interesses e necessidades da sociedade contemporânea. Para isso, optamos pela realização de uma pesquisa de abordagem qualitativa. A pesquisa bibliográfica foi baseada em autores como Adam (2004), Bakhtin (1992), Bronckart (1999, 2003), Koch (1984 e 2003), Marcuschi (2004), Fairclough (2001) e outros teóricos dos Estudos da Linguagem e do Direito, além de autores de manuais de prática forense no tocante a elaboração das peças processuais. Também compuseram o referencial bibliográfico as jurisprudências publicadas as quais contemplaram os assuntos delineados neste texto.

Palavras-chave: Direito, Linguagem, Contestação, Sentença.

Abstract: The current work is based on the centered analysis in the juridical text genre:

Contestation and Sentence. Is proposed an interdisciplinary study of the Language Studies and the Law, especially, Law and the Civil Process, with the propose of elaborating a linguistic study of the textual genre Contestation and Sentence, in order to verify the hypothesis of adequacy of the juridical text in the interests and need of contemporary society. To this end, we choose the accomplishment of a qualitative approach research. The bibliographic research was based on authors like Adam (2004), Bakhtin(1992), Bronckart (1999, 2003), Koch (1983 e 2003), Marcuschi (2004), Fairclough (2001) and other theorists from the Language Studies and of the Law, beyond authors of forensic action manuals in this regard and the construction of the procedural pieces. Also included in the bibliographic reference were the published jurisprudence which contemplated the subjects outlined in this text.

Key-words: Law, Language, Contestation, Sentence.

Introdução

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Propomos um estudo interdisciplinar dos Estudos da Linguagem e do Direito, particularmente, o Direito e Processo Civil. Consideramos a interdisciplinaridade como algo além do “diálogo” entre os saberes e/ou as disciplinas, pois ela resulta da atitude dos especialistas, dos pesquisadores, dos professores envolvidos. Assim, constatamos o pensar de Pombo (2005, p.13),

Finalmente uma última palavra para dizer que a interdisciplinaridade se deixa pensar, não apenas na sua faceta cognitiva - sensibilidade à complexidade, capacidade para procurar mecanismos comuns, atenção a estruturas profundas que possam articular o que aparentemente não é articulável - mas também em termos de atitude - curiosidade, abertura de espírito, gosto pela colaboração, pela cooperação, pelo trabalho em comum. Sem interesse real por aquilo que o outro tem para dizer não se faz interdisciplinaridade. Só há interdisciplinaridade se somos capazes de partilhar o nosso pequeno domínio do saber, se temos a coragem necessária para abandonar o conforto da nossa linguagem técnica e para nos aventurarmos num domínio que é de todos e de que ninguém é proprietário exclusivo. Não se trata de defender que, com a interdisciplinaridade, se alcançaria uma forma de anular o poder que todo saber implica (o que equivaleria a cair na utopia beata do sábio sem poder), mas de acreditar na possibilidade de partilhar o poder que se tem, ou melhor, de desejar partilhá-lo. Como? Desocultando o saber que lhe corresponde, explicitando-o, tornando-o discursivo, discutindo-o.

Partindo desse pressuposto, interessamo-nos em saber se o gênero textual jurídico é realmente enigmático devido às peculiaridades de sua comunidade discursiva e/ou de seu domínio discursivo?

Assim, buscamos relacionar o Direito e os Estudos da Linguagem (desde as concepções bakhtinianas, perpassando os gêneros textuais e indo ao encontro da Análise Crítica do Discurso), a fim de que estas áreas auxiliem a compreensão da arquitetura linguística jurídica, pensada por nós como o espelho das possíveis mudanças no seio forense.

Tendo como aporte teórico as teorias do texto e do discurso (sobretudo no que refere-se aos gêneros textuais e à Análise Crítica do Discurso) buscamos os gêneros jurídicos contestação e sentença por constituírem a base processual em 1ª instância.

Essa escolha justifica-se pelo fato do primeiro tratar, respectivamente, ora da iniciativa da prestação jurisdicional, ora da defesa da outra parte e o último por dar fim a essa prestação.

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Consideramos este estudo relevante para os Estudos da Linguagem, dada a possibilidade de contribuição da pesquisa para a comprovação das mudanças na organização (no léxico, por exemplo) de um texto considerado hermético e, portanto, de sua adequação à dinamicidade do gênero textual, e, também na construção de um referencial teórico para o assunto.

Para isso, optamos pela realização de uma pesquisa de abordagem qualitativa.

Segundo Bogdan e Biklen (1982), “A investigação qualitativa é descritiva” (p.48) e “os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo processo do que simplesmente pelos resultados ou produtos” (p. 49).

De acordo com Chizzotti (2006, p.221), “O termo qualitativo implica uma partilha densa com pessoas, fatos e locais que constituem objetos de pesquisa, para extrair desse convívio os significados visíveis e latentes que somente são perceptíveis a uma atenção sensível”.

Os métodos utilizados foram revisão de literatura e a pesquisa de campo. A pesquisa bibliográfica foi baseada em autores como Adam (2004), Bakhtin (1992), Bronckart (1999, 2003), Koch (1984 e 2003), Marcuschi (2004), Fairclough (2001) e outros teóricos dos Estudos da Linguagem e do Direito, além de autores de manuais de prática forense no tocante a elaboração das peças processuais. Também compuseram o referencial bibliográfico as jurisprudências publicadas as quais contemplaram os assuntos delineados neste texto. Desse modo, empreendemos a seguinte etapa:

1. Revisão da literatura dos autores acima descritos, os quais subsidiaram este estudo.

A pesquisa de campo foi composta pela coleta de contestações e sentenças produzidas na Comarca de Guarapuava. Os autores das peças processuais aqui analisadas serão tratados como autor 01 e autor 02, os profissionais com mais de 10 anos de experiência; autor 03, o profissional com 05 anos de experiência; e autor 04, o profissional com 03 anos de experiência.

Dentre o campo do Direito, optamos por selecionar os gêneros produzidos na área cível, como alvarás, execução, cobrança e outros. Uma das motivações para a escolha dessa área foi o fato de a mesma possuir um leque extenso de gêneros de contestação e sentença, e não serem tão propícias a “espetáculos circenses em termos de linguagem

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apelativa”, presentes em alguns gêneros da área penal. Também, excluímos a área de família, pois, muitas vezes, a coleta deste tipo de material é inacessível a pessoas que não sejam partes das ações. Quanto à área trabalhista, já há uma tendência, desde a sua instituição, de produzir gêneros mais sucintos em razão da necessária agilidade dos trâmites legais trabalhistas.

Quanto aos critérios linguísticos, podemos citar: o léxico empregado, a presença de jargões, as expressões latinas e os possíveis neologismos utilizados.

1. Perspectivas no estudo dos Gêneros

A terminologia gênero remonta aos gregos, com Platão e Aristóteles e seus estudos sobre a retórica. Para Aristóteles os gêneros textuais se dividiam em três categorias: o deliberativo (no sentido de aconselhamento ou desaconselhamento relativo ao tempo futuro); o jurídico (com a função acusativa ou de defesa, por isso referente ao passado) e o demonstrativo ou epidítico (com vista à censura ou ao elogio no tempo presente).

Essas categorias depois passaram a dizer respeito a categorias literárias bastante sólidas: lírico, épico e dramático; que foram ampliadas e subdividas até “entrarem em crise com a crítica do romantismo à estética clássica, hoje a noção de gênero ampliou- se para toda a produção textual” (MARCUSCHI, 2005, p.17).

Segundo Marcuschi (2010), os gêneros textuais caracterizam-se como eventos textuais altamente maleáveis, dinâmicos e práticos. Surgem emparelhados a necessidades e atividades socioculturais e com inovações tecnológicas.

É impossível existir uma comunicação verbal sem um gênero textual e sem um texto. Os gêneros textuais são textos materializados que encontramos em nossa vida diária como: bilhete, cardápio de restaurante, conferencia, charges, entre muitos outros.

A principal função dos gêneros textuais é a social, por meio deles podemos nos comunicar de maneiras diversas.

Os estudos a respeito dos gêneros textuais têm como ponto de partida as reflexões bakhitinianas acerca de gênero, discurso e enunciado. As reflexões programáticas de Bakhtin (1979) com a ideia central de gênero como um enunciado de natureza

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histórica, sócio-interacional, ideológica e linguística ‘relativamente estável’, levaram a uma séria de posições que beiram a incoerência. Pois, segundo Marcuschi (2005, p.17),

“parece que para Bakhtin era mais importante frisar o ‘relativamente’ do que o

‘estável’”.

Para Bakhtin (1997), os gêneros são tipos “relativamente estáveis” de enunciados produzidos pelas mais diversas esferas da atividade humana. São eventos linguísticos, mas que não são definidos por características linguísticas, mas como atividades sóciodiscursivas. Sendo os gêneros fenômenos sócio-históricos e culturalmente sensíveis, não há como fazer uma lista fechada de todos os gêneros. (MARCUSCHI, 2003, p. 29). Nas palavras de Bakhtin,

Todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão relacionadas com a utilização da língua. Não é de surpreender que o caráter e os modos dessa utilização sejam tão variados como as próprias esferas da atividade humana [...]. O enunciado reflete as condições específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas, não só por seu conteúdo temático e por seu estilo verbal, ou seja, pela seleção operada nos recursos da língua - recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais - mas também, e sobretudo, por sua constituição composicional. Assim sendo, todos os nossos enunciados se baseiam em formas-padrão e relativamente estáveis de estruturação de um todo (BAKHTIN, 1972, p.179).

Conforme o autor citado, os elementos do enunciado são: conteúdo temático, o estilo e a construção composicional. Eles influenciam a escolha dos itens lexicais utilizados, a fim de se adequar ao gênero e à finalidade do dito enunciado (TULLIO, 2012).

Marcuschi (2005) considera o estudo dos gêneros textuais uma área interdisciplinar muito fértil especialmente para o funcionamento da língua e para as atividades culturais e sociais. No entanto, não podemos pensar “os gêneros como modelos estanques nem como estruturas rígidas, mas como formas culturais e cognitivas de ação social corporificadas de modo particular na linguagem, temos de ver os gêneros como entidades dinâmicas. [...]”. (MARCUSCHI, 2005, p.18)

Retornando aos preceitos de Bakhtin. Ele define os gêneros em primários e secundários. Segundo Faraco (2003, p. 62), trata-se de uma distinção “entre duas esferas da criação ideológica: a ideologia do cotidiano e os sistemas ideológicos constituídos”. Sendo elas independentes, a primeira delas compreenderia a totalidade

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das atividades sócio-ideologicas centradas na vida cotidiana e a segunda compreende a totalidade das práticas sócio-ideologicas culturalmente mais elaboradas, como as artes, as ciências, o direito, a filosofia, a religião etc.

Essas duas esferas dão origem ao que Bakhtin chamou de gêneros do discurso, sendo, segundo Faraco (2003, p. 62), “os gêneros primários aqueles da ideologia do cotidiano e os gêneros secundários aqueles do sistema ideológicos constituídos”.

Assim, para Bakhitn, os gêneros do discurso e atividades são mutuamente constitutivos. Isto é, o pressuposto principal da criação de Bakhtin é que o agir humano não se dá independentemente da interação; nem o dizer fora do agir. Segundo Marcuschi (2005, p. 23), pode-se afirmar que, “nessa teoria, estipula-se que falamos por meio de gêneros do interior de determinada esfera da atividade humana.” Portanto, falar não é somente atualizar um código gramatical no interior de uma atividade.

2. Linguagem e Argumentação

Bakhtin compreendia a linguagem como prática social numa ótica dinâmica, “sua natureza relaciona-se com o social e o ideológico” (TULLIO, 2012, p. 36), por isso deve interpretada na interação entre os sujeitos socialmente organizados. Lembrando que as interações possuem várias esferas de comunicação e cada uma delas têm propósitos comunicativos peculiares. “Assim, na esfera jurídica, os advogados, promotores e juízes têm propósitos comunicativos específicos de acordo com a intencionalidade da ação judicial”. (TULLIO, 2012, p. 36)

Na concepção bakhtiniana, a linguagem se expressa por meio de enunciados, eles

“refletem as condições em que se manifestam e são pré-determinados pelas finalidades das esferas de comunicação” (TULLIO, 2012, p 36).

Para a Análise Crítica do Discurso, a linguagem é vista como prática social e observa a ligação entre linguagem, poder e sociedade, assim, uma das suas grandes inquietações é revelar as relações de dominação e hegemonia produzidas discursivamente. Para isso, ela descreve e interpreta todos os meios responsáveis pela mudança de tais relações.

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Para a Análise Crítica do Discurso, a linguagem é vista como prática social e observa a ligação entre linguagem, poder e sociedade, assim, uma das suas grandes inquietações é revelar as relações de dominação e hegemonia produzidas discursivamente. Para isso, ela descreve e interpreta todos os meios responsáveis pela mudança de tais relações.

O uso da linguagem é essencialmente argumentativo, pois quando produzimos enunciados pretendemos orientá-los para determinadas conclusões. Segundo Koch (2008), “procuramos dotar nossos enunciados de determinada força”. Para que possamos indicar a força argumentativa dos enunciados, a direção para o qual apontam usamos os operadores argumentativos. Além deles, usamos os indicadores modais ou índices de modalidade que “São igualmente importantes na construção do sentido do discurso e na sinalização do modo como aquilo que se diz é dito” (KOCH, 2008, p.50).

A coerência, segundo Koch (1997), “diz respeito ao modo como os elementos subjacentes à superfície textual vêm a constituir, na mente dos interlocutores, uma configuração veiculadora de sentidos”.

Embora não seja possível apreender o sentido de um texto embasado apenas nas palavras e na sua estrutura sintática, é indiscutível a importância dos elementos linguísticos para que seja coerente. Pois “esses elementos servem como pistas para a ativação dos conhecimentos armazenados na memória, constituem o ponto de partida para elaboração de inferências, ajudam a captar a orientação argumentativa dos enunciados que compõem o texto.” (KOCH, 1991, p.61).

O conhecimento de mundo desempenha um papel fundamental no estabelecimento da coerência: pois se o texto falar de coisas que nunca ouvimos antes, não vamos conseguir captar a mensagem que está sendo nos passada. Portanto esse conhecimento é aquele que adquirimos à medida que vivemos, conforme vamos tomando contato com o mundo que nós cerca mais conhecimento ganhamos.

O conhecimento partilhado é os conhecimentos que o produtor e o receptor de um texto possuem em comum, pois para que o texto seja coerente é preciso haver equilíbrio entre as informações dadas e as informações novas.

A “Inferência é a operação pela qual, utilizando seu conhecimento de mundo, o receptor (leitor/ouvinte) de um texto estabelece uma relação não explícita entre dois

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elementos (normalmente frases ou trechos) deste texto que ele busca compreender e interpretar.” (KOCH, 1991, p.65).

Koch (1991) afirma que os fatores de contextualização são aqueles que

“ancoram” o texto em uma situação comunicativa determinada. Segundo Marcuschi (1983), podem ser de dois tipos: os contextualizadores propriamente ditos e os perspectivos ou prospectivos. Entre os primeiros estão a data, o local, a assinatura, elementos gráficos, timbre etc., que ajudam a situar o texto.

A situacionalidade exerce, também, um papel de relevância, pois um texto que é coerente em dada situação pode não sê-lo em outra: daí a importância da adequação do texto a situação comunicativa.

Outro fator que interfere na construção da coerência é a informatividade, que diz respeito ao grau de previsibilidade (ou expectabilidade) da informação contida no texto.

(KOCH, 1991, p. 70-71). Mais um fator importante de coerência é a intertextualidade, que ocorre quando vamos escrever um texto e recorremos ao conhecimento prévio de outros textos para produzi-los.

3. Seleção e análise do corpus

Como objetivos do presente trabalho, cite-se a elaboração de um estudo linguístico comparativo entre os gêneros textuais jurídicos: contestação e sentença, com o propósito de constatar a hipótese de adequação do texto jurídico aos interesses e necessidades da sociedade contemporânea.

Para a elaboração deste trabalho a metodologia adotada foi a pesquisa bibliográfica baseada em autores como, Bakhtin (1992), Koch (1984 e 203), Marcuschi (2004), e outros teóricos da Linguística e do Direito, além de autores de manuais de prática forense no tocante a elaboração das peças processuais.

Procuramos elaborar uma pesquisa de campo (explorando o viés qualitativo), cujo corpus é composto por contestações e sentenças produzidas na Comarca Guarapuava, observado o lapso temporal de cinco (05) anos.

O motivo que nos levaram à escolha das referida comarca foi: a) O fato de Guarapuava ser considerada extremamente conservadora em seus costumes e tradições,

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aspectos profissionais e sociais, na linguagem etc. Não existe um estudo a respeito de tal situação, mas o relato de pessoas que estabelecem residência nesta localidade corrobora o mencionado.

Tomemos alguns excertos retirados de contestações e sentenças para análise:

Os Autores buscam através dos holofotes de Vossa Excelência, tentar abiscoitar uma pecúnia, uma viagem onírica, sendo impossível na realidade social e jurídica. (Autor 01, 2012)

Ao invés de "tentar abiscoitar uma pecúnia, uma viagem onírica", poderia apenas dizer "tentar ganhar um dinheiro, uma viagem fantasiosa", pois, conforme o Dicionários Houaiss (2004, p. 3,557, 532) "abiscoitar: 1. conseguir, ganhar"; "pecúnia:

dinheiro" e "onírica: relativo a sonho, fantasia". Vejamos outro trecho:

Tais e insanáveis anomalias de caráter congênito, impede que seja conferida credibilidade, a tal e falsa peça alegada pelos Requerentes, uma vez que, foi elaborada em transgressão aos mais rudimentares princípios de direito, cabendo aqui, condená- la por se utilizarem da Justiça em lide temerária, subvertendo totalmente a verdade dos fatos. (Auto r03, 2013)

Diz-se "insanáveis anomalias de caráter congênito", isto é, irremediáveis irregularidades de caráter inato, por isso, não passam credibilidade. Conforme o dicionário Houaiss (2004, p. 418, 180, 46), "insanáveis: que não pode ser sanado, irremediável"; "anomalia: o que não é normal, irregularidade"; "congênito: nasce do indivíduo, inato, natural".

Vejamos um excerto de sentença:

Com efeito, restou demonstrado que a inscrição nos órgãos de proteção ao crédito do requerente foi indevida, porquanto não comprovada a origem do débito. Todavia, o dever de indenizar encontra óbice diante da preexistência de outras inscrições lícitas.

(Autor 04, 2014)

Neste excerto de sentença, encontramos a palavra "óbice", que segundo o dicionário Houaiss (2004, p. 525), significa "obstáculo, empecilho", assim, pode-se substitui-la por obstáculo, isto é, o deve de indenizar encontra um obstáculo diante da preexistência de provas licitas.

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Quanto às marcas linguísticas notamos a presença de algumas expressões latinas:

in casu, quantum, mens legis, A quo, data venia, In re ipsa, In verbis, Sub Judice. As expressões latinas fazem com que o leitor comum tenha dificuldade ao ler a peça, assim, prejudicando na interpretação do texto.

Considerações Finais

Das peças analisadas, nesta pesquisa, pudemos observar que profissionais do Direito com mais tempo de profissão, fazem muito uso de palavras rebuscadas e expressões latinas. Já os profissionais com cinco anos de profissão, procuram utilizar uma linguagem de fácil compreensão, no entanto, não deixa de ser culta.

Assim, pudemos notar que os profissionais têm procurado utilizar uma linguagem de fácil compreensão por conta da agilidade do procedimento jurídico. Além do mais, com o passar do tempo, tem-se a necessidade de uma linguagem acessível ao cliente e também nas redações das peças processuais.

Referências

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BOGDAN, Robert; BIKLEN, Sari (1994). Investigação Qualitativa em Educação:

uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora, 1991. (Coleção Ciências da Educação).

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POMBO, Olga. Interdisciplinaridade e integração dos saberes. Liinc em Revista, v.1, n.1, p.3 -15. mar. 2005. Disponível em:<http://www.ibict.br/liinc>. Acesso em: 05 nov. 2016.

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