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UM NOVO OLHAR PARA EDUCAÇÃO

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UM NOVO OLHAR PARA EDUCAÇÃO

Ana Tarna Mendes1 Elane da Rocha Nogueira Barros2 Lilian Virgínia Carneiro Gondim3 Vanessa de Lima Marques Santiago Sousa4 INTRODUÇÃO

A educação é compreendida, no texto Constitucional de 1988, como um direito de todos, dever do Estado e da família e que deve ser prestada em cooperação com a comunidade, tendo como objetivo o pleno desenvolvimento, o preparo para o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho. Em uma de suas formas de efetivação, a educação é prestada através da educação escolar, corpo no qual se aproximam e distanciam as realidades dos alunos, professores, diretores, funcionários em geral e comunidade.

O objetivo deste artigo é destacar um dos sujeitos do processo de ensino/aprendizagem: os/as professores/as, apontando os múltiplos olhares para educação, através de uma perspectiva quântica, sistêmica e prática, acima de tudo, acolhedora e inclusiva.

Para tanto, faremos uso de pesquisa bibliográfica e de experiência desenvolvida através do Projeto de Constelação Familiar Sistêmica da Escola de Ensino Fundamental e Médio (EEFM) João Mattos, no Estado do Ceará, que acontece desde outubro de 2016, uma vez por mês.

A princípio, somente os alunos seriam o público alvo do referido projeto. No entanto, a situação dos professores chamou a atenção e estes foram incluídos nos atendimentos com Constelações Familiares a fim de ajudá-los a serem mais saudáveis e, portanto, melhores tanto na sala de aula como em suas vidas pessoais.

1Advogada. Professora. Mentora Sistêmica. Mestranda em Ciências Jurídicas, CEO da Consultoria Sistêmica Elos Conectados. Facilitadora de Constelação Familiar. Formação em Direito Sistêmico pela CUDEC - Faculdade Innovare Hellinger Sciencia, co autora de livros com ênfase em Direito Sistêmico.

2Secretária Adjunta, Advogada - Procuradora da INFRAERO. Terapeuta Holística. Consteladora Familiar pós graduada. Pós-graduanda em conciliação, mediação e arbitragem. Pós-graduanda em Neuropedagogia Sistêmica.

Coordenadora do grupo de leitura da Comissão de Direito Sistêmico da OAB/CE. Voluntária no projeto Atendimento Popular Jurídico Sistêmico, parceria entre a CDS e Projeto Atendimento Jurídico Sistêmico e Direitos Humanos e o Escritório de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Fortaleza.

3Mestre em Planejamento e Políticas Públicas pela Universidade Estadual do Ceará. Professora Universitária (UNIP). Coordenadora de Pós Graduação e do Grupo de Estudo e Extensão Interdisciplinar de Resolução de Conflitos (GEEINTERC/UNI7). Psicopedagoga. Mediadora e Facilitadora de Diálogos.

4Mestre e Doutoranda em Direito pela Universidade Federal do Ceará. Servidora Pública (UFC). Professora Universitária (UNINASSAU). Membro do Núcleo de Estudos Aplicados Direitos, Infância e Justiça (NUDIJUS/UFC).

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UNISANTA LAW AND SOCIAL SCIENCE; EDIÇÃO ESPECIAL VOL. 10, Nº 1 (2021)

A partir das Constelações Familiares, técnica utilizada na Escola de Ensino Fundamental e Médio (EEFM) João Mattos, no Estado do Ceará, de acordo com Bert Hellinger, seu grande entusiasta, instigou profissionais das mais diversas áreas e lugares, a viverem em coerência com os princípios sistêmicos, e a adotarem a postura fenomenológica e o pensamento sistêmico no seu dia a dia, reverberando naturalmente no trabalho, alcançando também a área educacional, surgindo assim a Educação Sistêmica.

1 QUAIS LAÇOS UNEM A EDUCAÇÃO?

“Escola é ... o lugar que se faz amigos.

Não se trata só de prédios, salas, quadros, Programas, horários, conceitos...

Escola é sobretudo, gente Gente que trabalha, que estuda Que alegra, se conhece, se estima. [...]”

(Paulo Freire, “A Escola é”).

Através de “A Escola é” e de seus outros escritos, Paulo Freire nos apresenta o que a escola é (ou deveria ser): lugar de gente. A escola é, fundamentalmente, um lugar de pessoas, aprendizados, socialização, cultura e crescimento. Mas é claro que a educação não está adstrita às paredes da escola, ela se dá por meio de todas as relações sociais e familiares.

Especificamente, quando se pensa na educação proporcionada através da escola, a Constituição de 1988, no seu artigo 205, a estabelece como um direito de todos, dever da família e do Estado, que deve ser prestada em colaboração com a sociedade, tendo como objetivo o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Ou seja, a educação seria a responsável por abrir as portas do desconhecido e por ajudar a alcançá-lo, “abrangendo os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais”, como prevê o artigo 1º da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

A própria previsão constitucional a respeito da educação está em consonância com as previsões internacionais, a exemplo da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, que firmou, no que diz respeito ao direito à educação, o ensino elementar obrigatório e gratuito, a generalização da instrução técnico-profissional e a igualdade de acesso ao ensino superior.

Ou do artigo 13 do Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais

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(PIDESC), celebrado em 1966, que fixou o reconhecimento ao direito à educação como direito de toda pessoa, devendo permitir o pleno desenvolvimento de sua personalidade, de sua dignidade e a participação em uma sociedade livre.

Como direito humano e social que é, a educação “exprime, simultaneamente, uma posição jurídica subjetiva, individual, difusa e coletiva, fundamental e universal, e um dever jurídico subjetivo, igualmente individual, difuso, coletivo, fundamental e universal”

(RANIERI, 2013, p.56).

E na efetivação desse dever/direito/serviço (RANIERE, 2013), destacamos o elemento convivência: alunos e alunas, professores, corpo técnico, coordenação, direção, pais e comunidade em geral fazem parte desse todo que é a escola e assumem, cada um a seu modo, um papel fundamental.

Como tecido social, a escola passa por momentos de ajuntamento e de divisão, a exemplo da dificuldade de comunicação entre a escola, a família e a comunidade ou entre professores/as e alunos/as, até mesmo, “a falta de significado do currículo e dos programas para os horizontes culturais e as necessidades mais prementes dos alunos” (GOMES et al., 2013, p.690), revelando uma dificuldade de diálogo entre universos culturais diferentes.

O fazer docente é permeado por desafios e ausência de suporte, especialmente, considerando a estrutura tradicional assumida pelo ensino no Brasil, que considera a educação como um processo através do qual “as gerações mais velhas “moldam” o caráter das novas gerações, transmitem-lhes os conhecimentos necessários, as socializam” (GOMES et al., p.

691).

Necessário, pois, mudar não apenas as dinâmicas internas de ensino/aprendizagem, mas a própria compreensão social a respeito do que seja a escola e a educação: “é preciso refletir sobre a vida que lá se vive, em uma atitude de diálogo com os problemas e frustrações, os sucessos e os fracassos, mas também em diálogo com o pensamento, o pensamento próprio e o dos outros” (ALARCÃO, 2001, p. 15).

A proposta é, portanto, que a escola seja um ambiente reflexivo, ou seja, uma instituição que está em constante busca de aprimoramento e “que qualifica não apenas os que nela estudam, mas também os que nela ensinam ou apóiam estes e aqueles” (ALARCÃO, 2001, p. 15). E assim, que permita a realização de um fazer docente equilibrado entre as práticas de sala de aula, autocuidado e autoconhecimento.

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UNISANTA LAW AND SOCIAL SCIENCE; EDIÇÃO ESPECIAL VOL. 10, Nº 1 (2021)

2 A FÍSICA QUÂNTICA E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA EDUCAÇÃO

A educação, nas últimas décadas, tem passado por processos de grandes transformações individuais e coletivas. Sob o aspecto do conhecimento, este se manteve em constante evolução no que se diz respeito às mudanças sociais, econômicas, culturais, tecnológicas e dentre outras de fundamental ênfase para a construção de uma nova sociedade.

A escola adquiriu uma mudança significativa no âmbito educacional, que visa, além do currículo escolar e institucional, uma inovação na relação entre docentes e discentes, da convivência à construção do ser ao responder às expectativas e necessidades da sociedade contemporânea.

Por ser a escola o espaço de interação de conhecimentos e aprendizagens entre alunos e professores, torna-se evidente que o aspecto relacional, entre estes, promove dedicação e compartilhamentos de ensinos quanto à formação do ser, seja no aspecto isolado como indivíduo ou no aspecto coletivo como social. A energia que os aproxima é conhecida pela ciência como física quântica que promove na convivência escolar um campo universal energético de experiências vitais.

A ciência da Física Quântica, do físico Werner Heisenberg, pertence à Física Moderna que desenvolveu dentre suas teorias a compreensão do universo que cerca o homem em suas diversas transições, sendo elas a não linearidade em que os fenômenos são apresentados de diversos sentidos e caminhos; a complexidade que a configuração de que o mundo é multidisciplinar com várias interações a todo momento e a fenomenalidade que, como o princípio da incerteza, ou princípio da indeterminação é uma relação e probabilidades.

(VIDEIRA, 2008).

Ampliar o saber estudantil por meio de diálogo, escuta, conscientização dos valores humanos, promover autonomia e empoderamento de raciocinar o que verbaliza, reconhece assim, a busca de aprofundar em conhecimentos que estimulam a criatividade e o significar de cada mudança da vida. Os seres humanos estão interligados em razões e emoções, saber e ser.

Há uma conexão de energias que a física explica como natural, que vai além da explicação que só resulta da matéria. A energia quântica permeia por uma conscientização da importância e do pertencer do homem como sujeito protagonista, assim como é o “ser” aluno e o “ser” professor na escola.

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A energia quântica promove o alinhamento dos 4 Pilares da Educação: o saber conhecer, o saber fazer, o saber ser e o saber conviver, este último referenciando a relação do indivíduo com o indivíduo e do indivíduo com o coletivo. As ondas energéticas da física corroboram com a formação do ser e de sua convivência consigo e com os outros. De um modo peculiar, a Ciência da Física tem acompanhado o homem durante muitos séculos, pois sendo uma ciência natural ela estuda a interação da matéria com a energia, abordando elementos simples aos mais complexos. (SKINNER, 1967).

Desde a descoberta da galáxia ao entendimento da sociedade, a Física compreende ciclos de fenômenos que são de grande importância para o homem, assim, tem-se que o estudo dos fenômenos naturais é um exemplo de que a Física está ativa na vida da humanidade.

A física quântica busca compreender como a realidade se apresenta a cada pessoa, se preocupando com o “como” ela observa e interage e não com o “por que” da realidade, conforme os estudos de Einstein que afirmou que o tempo não é absoluto, pois a vivência de um fenômeno acontece, relativamente, em “x” pontos e assim, o cientista sente a necessidade de buscar compreender o seu sentido naquilo que se apresenta. (AGUIAR, 2005). Tudo está conectado no tempo que é fundamental para o ser humano em sua existência. (GOBBI, 2002).

De acordo com a epistemologia da física quântica todos os fenômenos são percebidos na vida do ser, que interage e busca entender, compreender e assimilar o momento como forma de conscientizar o significado do que se apresenta naquele momento. (GOMES, 1997). A energia quântica facilita esse liame de busca da essência dos momentos, através da conscientização que se processa como experiência do que vivenciou. “No universo quântico nada é premeditado, a realidade é um labirinto móvel e indeterminado de possibilidades”.

(RIBEIRO, 1994, p.78).

Assim, entende-se que a relação aluno e professor resgata o olhar inovador da física quântica como uma percepção sistêmica do universo, proporcionando qualidade de vida quanto à convivência e uma conscientização do ser como protagonista do seu próprio desenvolvimento pessoal. Segundo Zahar (1990), a Pedagogia Quântica promove fenômenos em momentos de vivência entre docentes e discentes que a percepção é refletida de um universo de saberes entre mundos do interior e exterior do ser, em suas infinitas possibilidades de conexão.

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3 POSTURA SISTÊMICA NA EDUCAÇÃO

"A escola é um enriquecimento do que já existe".

(Marianne Franke)

Como vimos acima, a física quântica tem um papel fundamental na desconstrução do pensamento mecanicista, contribuindo diretamente para a expansão do pensamento sistêmico5, nos moldes dos ensinamentos de Frijof Capra.

Sob esse paradigma emergente no século XX, denominado holístico ou sistêmico, o mundo é analisado como um todo integrado, compreendendo as interdependências entre as suas partes, tendo como principal característica a mudança da perspectiva do estudo dessas partes para o todo (CAPRA, 2018, p.40).

Pode-se afirmar que o pensamento sistêmico é um dos pilares da Educação Sistêmica, bem como os princípios sistêmicos de Bert Hellinger6 (HELLINGER, 2010). A inclusão da abordagem sistêmica como recurso para educadores e alunos nas escolas, difundiu-se através do trabalho de Marianne Franke7, na Alemanha.

Mas o que é Educação Sistêmica? Para Jean Lucy Toledo Vieira, além de ser um caminho de transformação e amor, seria:

A educação sistêmica não implica em(sic) novas metodologias ou novas técnicas pedagógicas. Ela é, por excelência, uma nova postura. Pode ser aplicada e utilizada em todos os espaços escolares, mesmo que a escola não seja, ela toda, adepta deste olhar, justamente por tratar-se de uma postura interna, uma forma de ver e se colocar na vida (VIEIRA,2019, p.47).

Já para a professora Fátima Mello (2018) que utiliza o termo Pedagogia Sistêmica, a inclusão da abordagem sistêmica e das constelações familiares no ambiente escolar, é uma nova

5O pensamento sistêmico, pode ser definido como uma nova forma de percepção da realidade, sendo inerentemente multidisciplinar, que pode ser aplicado a disciplinas acadêmicas integradas para descobrir similaridades entre diferentes fenômenos dentro de uma ampla faixa de sistemas vivos, ou seja, a nova percepção do mundo se pauta na consciência das inter-relações e na interdependência inerente aos fenômenos físicos, psicológicos, biológicos, sociais e culturais. (CAPRA, 2018).

6Nasceu na Alemanha, em 1925. Com vinte anos, se tornou padre e foi trabalhar como missionário e educador na África do Sul entre os zulus, onde permaneceu por dezesseis anos. Depois abandonou o sacerdócio e resolveu diplomar-se em Teologia, Filosofia e Pedagogia. Estudou psicanálise e acabou se interessando pela Gestalt-Terapia e pela Análise Transacional. Foi graças ao envolvimento posterior com a terapia familiar que ele se deparou pela primeira vez com as constelações familiares, marca registrada de sua obra terapêutica, e abordagem à qual ele acrescentou novos níveis de significação e possibilidades, cujo foco foi a criação dos sistemas familiares.(HELLINGER, 2010)

7Marianne Franke-Gricksch nasceu em 1942, em Munique, Alemanha. Em 1975, participou de cursos de aperfeiçoamento e treinamentos em terapia primal, constelações familiares com Bert Hellinger, hipnoterapia com Gunther Schmidt, terapia breve com Steve de Shazer e tem formação em naturopatia. Lecionou durante 25 anos em escolas de primeiro e segundo grau e possui longa experiência profissional paralela em psicoterapia e trabalho com constelações familiares; facilita workshops de constelações familiares e oferece terapia individual e de casal.

(GRICKSCH, 2005)

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visão que resulta em uma mudança de postura por parte das pessoas que compõem direta ou indiretamente o sistema educacional, destacando os educadores e familiares.

Esse novo paradigma na educação surge como uma nova postura profissional, que tem como base os princípios sistêmicos ou leis naturais das relações humanas, que são: Ordem, Pertencimento e Equilíbrio, sendo um modelo ancorado nos vínculos constituídos entre a escola e a família.

Resumidamente, pode-se explanar que a primeira lei, ordem, consiste que os entes mais velhos preferem aos mais novos e deve haver uma hierarquia entre os membros da família, um respeito aos ascendentes, e a quem chegou primeiro; já a segunda lei, pertencimento, trata que todos devem fazer parte do sistema familiar, sem haver qualquer tipo de exclusão, seja com falecido, doente, pobre, deficiente, idoso, criminoso, etc, e a terceira ordem do amor, equilíbrio, significa que deve haver um equilíbrio entre o dar e o receber nas relações, compreendendo que se deve retribuir tudo aquilo que foi recebido, trata-se da compensação ou reciprocidade.

(HELLINGER, 2010)

Então, a educação sistêmica convida a todos que fazem parte do sistema educacional (professores, alunos, pais, comunidade, direção, coordenação, equipe técnica e administrativa, equipes de cozinha, limpeza, apoio, etc.), a olharem as relações escolares através das lentes sistêmicas, assim todos percebendo a escola como um sistema vivo, contribuindo com as concepções pedagógicas e psicopedagógicas vigentes.

Nos moldes dos ensinamentos da professora Fátima Mello, a postura sistêmica pode ser acolhida, praticada, aprofundada e estimulada pelos educadores, proporcionando uma postura de autonomia, e com isso o professor sistêmico: “Não impõe(sic) ele sempre convida o aluno - “Aqui eu sou apenas o professor e vocês são os meus alunos. Eu concordo com vocês como vocês são. Eu estou aqui para todos. Quem quiser vir comigo, venha!”. (MELLO, 2018, p.105)

Portanto, trata-se de uma postura e não apenas uma técnica, na qual o professor ocupa o seu lugar, entendendo que o mesmo não é o pai ou salvador do aluno, e sim, um educador que realiza o seu trabalho sem intenção ou julgamento, apenas inclusão, já que como apresentado antes, todos pertencem.

Ressalta-se, que o educador não precisa ser um facilitador de constelação, mas sim, um multiplicador das leis sistêmicas. Veja algumas das situações que podem se beneficiar dessa abordagem como: bullying; dificuldade de comunicação entre docentes e instituição de ensino;

dificuldade em inserir os pais no processo da educação escolar; nos emaranhados emocionais

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entre educadores e alunos; no trato dos sintomas depressivos dos professores; problemas comportamentais dos alunos; limitações de aprendizagem; conflitos e outras questões surgidas no sistema escolar, direta ou indiretamente.

Por fim, a aplicação da ferramenta das constelações pedagógicas nas escolas, tem proporcionado um ambiente de fortalecimento de vínculos, acolhimento, de soluções conscientes e equilibradas, como tem ajudado no trato da saúde mental e emocional dos professores, como será apresentado a seguir.

4 USO DA CONSTELAÇÃO FAMILIAR NA PRÁTICA

Cerca de 500 a.C Pitágoras, pai do conceito de Justiça, norteadora do Direito, declarou:

“Educai as crianças e não será preciso punir os homens”. Tem-se que, frequentemente, além dos conflitos escolares, as crianças e adolescentes são cooptados por criminosos pois: “São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial” (art. 228, CF). A participação da escola nessa prevenção, inclusive da criminalidade, é essencial.

Não se está romantizando muito menos defendendo a impunidade ou mesmo pessoas que costumam tumultuar os ambientes onde vivem, trabalham ou estudam, mas é traço comum a muitas pessoas ditas “desajustadas” o abandono parental ou relações familiares não saudáveis.

A mudança da compreensão do mundo, sob a ótica das leis sistêmicas, e o emprego da Constelação Familiar ou Constelação Sistêmica podem ser decisivos nessa tomada de consciência tanto dos alunos como professores. A Constelação Familiar é a ciência das relações humanas que tem como objeto de estudo as consequências e ligações do indivíduo ao seu sistema familiar.

É uma técnica terapêutica recentemente incorporada ao rol das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) do SUS (PORTARIA N° 702, DE 21 DE MARÇO DE 2018). O uso das Constelações Familiares é comum em problemas de saúde tanto física como mental.

O reconhecimento da efetividade da Constelação Familiar vai além do SUS - Sistema Único de Saúde. Seu uso vai além de questões relacionadas à saúde, tendo o CNJ - Conselho Nacional de Justiça, reconhecido que esta prática está alinhada à Resolução nº 125/2010 do órgão que visa incentivar práticas para solução de conflitos.

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Seguindo essa tendência, o novo Código de Processo Civil (LEI Nº 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015.), em seu art. 3º, §3º encoraja outros métodos de solução consensual de conflitos entre os quais a Constelação Familiar se enquadra sendo diversa da mediação e da conciliação. Evitando assim que certos conflitos tomem proporções inadequadas podendo ser resolvidos sem a intervenção do judiciário.

Temos como exemplo, aqui no Ceará, o Projeto de Constelação Familiar Sistêmica da Escola de Ensino Fundamental e Médio (EEFM) João Mattos que acontece desde outubro de 2016, uma vez por mês, atendendo sistematicamente os alunos.

O projeto, inicialmente, visava atender somente aos alunos, mas, surpreendentemente, constatou-se que os Professores eram os mais necessitados desse amparo estando adoecidos, o que interfere no seu desempenho profissional. Vários procuraram auxílio desta terapia.

A sessão de Constelação Familiar individual é a preferida pelos Professores por conta da privacidade. Nestas sessões, os Professores podem trazer suas questões pessoais que os afetam tanto em suas vidas particulares como profissional.

O Professor, ao entrar na sala de aula, traz consigo todas as suas questões particulares.

Essa ideia de que o bom profissional é aquele que ao entrar no local de trabalho deixa sua vida pessoal para trás, está totalmente ultrapassada porque todo ser humano é uma soma de várias partes ou versões. É impossível pedir a um profissional que deixou um filho doente em casa, por exemplo, que se desligue completamente desse assunto.

Assim, por não estarem bem e no seu lugar, os Professores “aceitam” que alunos, cujos pais ou os abandonaram ou são ausentes, transfiram-lhes essa carência e isso gera muitos conflitos. Não raro, a relação professor/aluno não obedece às Leis Sistêmicas nem às Ordens da Ajuda.

Aqui cabe um pequeno parêntese, houve um equívoco ao se traduzir do alemão para o inglês a palavra “constelação”, por isso o nome correto da técnica seria “colocação familiar”

(Familien Stellen). Dessa forma, o constelado, pessoa que é atendida numa sessão de Constelação Familiar, é “colocado” em seu devido lugar no seu sistema familiar. Essa

“recolocação” atende à segunda Lei de Newton pois, dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço. Por exemplo, um filho órfão de pai não pode ser filho e assumir as funções de seu falecido pai sem ter prejuízos em sua vida. Assim, ele estaria descolado do seu lugar originário de filho em seu sistema familiar ferindo a Lei do Pertencimento.

A lei sistêmica da ordem ou da hierarquia trata do respeito natural que devemos ter por todas as pessoas que nasceram antes de nós na nossa família. A lei do equilíbrio diz que o

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dar e receber entre as pessoas precisa se equivaler para que assim a paz possa existir. A única exceção a essa lei é o dar e o receber entre pais e filhos porque estes jamais poderão dar aos seus pais algo tão valioso quanto a vida que deles receberam. A lei do pertencimento assegura que cada um de nós tenha posição irrevogável na família.

Desta forma, muitos conflitos escolares têm sua gênese na infração das leis sistêmicas.

Os professores muitas vezes “aceitam” essa transferência do papel do pai ou da mãe que os alunos tendem a fazer e isso é extremamente prejudicial a ambos.

Além da sessão de Constelação Familiar em si, tentamos conscientizar os professores sobre as Ordens da Ajuda para que não haja emaranhamentos quando da sua atuação em sala de aula e nas demais atividades escolares. Sendo as ordens da ajuda as seguintes:

A primeira ordem da ajuda consiste, portanto, em dar apenas o que temos, e em esperar e tomar somente aquilo de que necessitamos.

A segunda ordem da ajuda, o destino da outra pessoa pode parecer difícil, e gostariam de modificá-lo.

A terceira ordem da ajuda seria, portanto, que, diante de um adulto que procura ajuda, o ajudante se coloque igualmente como um adulto.

A quarta ordem da ajuda diz que o indivíduo é parte de uma família. Somente quando o ajudante o percebe assim é que ele percebe de quem ele precisa, e a quem ele possivelmente está devendo algo.

A quinta ordem da ajuda é o amor a cada pessoa como ela é, por mais que ela seja diferente de mim. Quem realmente ajuda, não julga.

Diante de tais esclarecimentos, os professores tendem a melhorar sua visão geral da escola. Tornam-se pessoas mais tranquilas e cientes do seu papel importantíssimo na educação de seus alunos sem tentar ou aceitar substituir seus pais. Colocando-se em sua posição de educador sem tentar salvar os alunos do que quer que seja.

O Professor “X”, atendido no programa desenvolvido na escola João Mattos, estava com sérios problemas com seus alunos porque estava se equiparando aos mesmos como se estes fossem irmãos/amigos. Trocando apelidos, usando linguajar inadequado para relação professor/aluno.

Após a sessão de constelação familiar, ficou claro para ele que a ausência do seu próprio pai em sua vida estava sendo reproduzida por ele em relação ao seu próprio filho. Ele se deu conta que tratava o filho como seu irmão/amigo, assim como estava fazendo com seus alunos, a fim de compensá-lo pelas várias horas de ausência devido ao seu trabalho na escola.

A perda de respeito nessa relação foi a sua primeira constatação, o que lhe trouxe muita dor.

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O respeito e certo distanciamento necessário entre pais e filhos havia sido esquecido pelo Professor “X” no afã de ter o amor de seu filho. Houve um reconhecimento do lugar de pai do genitor do Professor “X” em relação a ele, o que lhe deu força para assumir seu papel de pai em relação ao seu filho. Tempos depois da sessão, o Professor “X” relatou melhora significativa em sua vida familiar e inclusive profissional porque agora estaria conseguindo se impor perante os alunos e, com isso, obtendo o respeito necessário para atuar em sala de aula e nas demais atividades escolares.

Outro fato marcante em relação à aplicação das Constelações Familiares na escola João Matos, foi a presença de dois adolescentes, somente como espectadores, na sessão constelação de uma aluna. Chamou muita atenção o fato de estes alunos não levantarem a cabeça para ao menos olhar para os voluntários do projeto. Todos os outros alunos envolvidos na sessão estavam bem à vontade durante a constelação, à exceção destes dois.

Uma das professoras presentes, discretamente e após a sessão, comunicou que ambos eram suspeitos de envolvimento em crimes. Ficou claro que ambos não estavam à vontade naquele ambiente de cura porque suas condutas não estavam em sintonia com o objetivo do grupo. Como diria Berth Hellinger “uma sessão de Constelação Familiar é para todos”, ou seja, inclusive as pessoas que só assistem são beneficiadas como foi o caso dos adolescentes citados que, de alguma maneira, foram tocados pelo assunto que foi objeto daquela sessão e dali podem, inclusive, analisar suas condutas.

Mesmo os Professores mais céticos se renderam à terapia da Constelação Familiar ao observarem a melhora visível no humor e modo ser dos colegas e alunos que já haviam sido atendidos. O Projeto continua mesmo na pandemia. Os atendimentos acontecem de forma remota. Os alunos e professores continuam a procurar os consteladores voluntários do projeto para resolverem suas questões pessoais e, consequentemente, melhorarem em outras áreas de suas vidas, inclusive, na escola.

Neste artigo, fala-se especificamente de experiências em uma escola pública, mas que são corriqueiras em qualquer ambiente escolar, seja ele público ou privado. Ressaltamos que o aluno se torna vulnerável ao assédio de criminosos pela sua própria imaturidade. Essa premissa também se aplica aos Professores que enfrentam as mesmas dificuldades tanto na rede pública quanto particular de ensino.

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5 CONCLUSÃO

A garantia do direito à educação, enquanto direito de todos, relaciona-se, sobremaneira, ao fazer docente, o qual, com suas potencialidades e fragilidades, revela a necessidade de construção de um ambiente escolar reflexivo que, acima de tudo, respeite o espaço docente e contribua para práticas de autocuidado, aceitação, inclusão e não julgamento.

Despertar a consciência da existência humana é potencializar a essência da educação. A Pedagogia enquanto quântica auxilia a fortalecer a relação entre aluno e professor ao contribuir reflexões que valorizam e constroem o ser e sua convivência como também se instrumentaliza para transformações significativas de uma nova realidade social sistêmica.

Além disso, foi apresentado que através das lentes da visão sistêmica, pode-se fazer um trabalho efetivo e inclusivo, que potencializará a aprendizagem dos alunos e o desenvolvimento criativo do processo escolar, já aos professores, contribui para o bem estar enquanto pessoas, através de uma postura sistêmica para a vida, bem como, profissionalmente, amplia a capacidade de compreender o comportamento dos alunos, permitindo a compreensão das dinâmicas sistêmicas que estão atuando em sua aprendizagem, favorecendo assim a resolução dos conflitos e dificuldades através do movimento.

Devido ao grande índice de sucesso das Constelações Familiares em ambiente escolar, o uso dessa técnica só tende a crescer. O que renova a esperança na evolução mais saudável da sociedade, na qual cada indivíduo ocupará seu devido lugar no sistema familiar de origem possibilitando o desenvolvimento de todas as suas habilidades.

REFERÊNCIAS

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Referências

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