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A NOÇÃO FENOMENOLÓGICA DAS EMOÇÕES ESBOÇADA NA TEORIA DE SARTRE. Keywords: Sartre. Emotions. Phenomenology. Existencialism. Contemporary Philosophy.

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A NOÇÃO FENOMENOLÓGICA DAS EMOÇÕES ESBOÇADA NA TEORIA DE SARTRE

Jorge-Américo Vargas-Freitas Petrópolis, 02 de Dezembro de 2013 Resumo: A pesquisa objetiva examinar as concepções de Sartre acerca da paixão em sua Teoria das Emoções. Com tal intenção, será aproveitada a classificação teórica elaborada pelo filósofo nos Capítulos I, II e III da obra. Assim, o estudo abordará: as teorias clássicas, a teoria psicanalítica e a teoria fenomenológica.

Palavras-chave

:

Sartre. Emoções. Fenomenologia. Existencialismo. Filosofia Contemporânea.

Abstract: The research objects to examinate the conceptions of Sartre about passion in his Theory of Emotions. With such intention, will be appropriated the theorical classification elaborated by the philosopher in the Chapters I, II and III of the work. Hence, the study will approach: classical theories, psychoanalytic theory and phenomenological theory.

Keywords: Sartre. Emotions. Phenomenology. Existencialism. Contemporary Philosophy.

Introdução

Haverá então, por exemplo, uma fenomenologia da emoção que, após ter "colocado o mundo entre parênteses", estudará a emoção como fenômeno transcendental puro, e isto se dirigindo não a emoções particulares, mas buscando atingir e elucidar a essência transcendental da emoção como tipo organizado de consciência. (SARTRE, 2008, Esboço para uma Teoria das Emoções, Fenomenologia E Psicologia Fenomenologia, p. 22)

Sartre nota, preliminarmente, ao considerar o papel contemporâneo da psicologia, que, apesar de pretender ser uma disciplina positiva, baseada na experiência, há uma limitação no que se entende como experiência dentro do contexto da psicologia, contudo. Como o filósofo observa, a linguagem psicológica compreende como experiência o seguinte par terminológico:

percepção espaço-temporal e experiência reflexiva

1

.

Nesse contexto, os fatos ganham relevância como matéria de investigação;

consequentemente, a própria noção psicológica de homem tem caráter empírico, não arbitrário, como sugere Sartre: “há no mundo um certo número de criaturas que oferecem à experiência caracteres análogos”, “outras ciências, a sociologia e a fisiologia, nos ensinam que existem certas ligações objetivas entre essas criaturas”, “não é preciso mais para que um

1 Esboço para uma Teoria das Emoções, Psicologia, Fenomenologia E Psicologia Fenomenologia, p. 13.

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psicólogo, com prudência e a título de hipótese de trabalho, aceite limitar provisoriamente suas pesquisas a esse grupo de criaturas”

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. Tal empirismo, dependente mediato dos fatos, emprega-se, em favor do acidental e do contingencial, à coleção sem fins de dados, contra o essencial e o necessário, como o filósofo pontua: “por positivismo”

3

.

Ponderando sobre a caracterização das emoções sob o ponto de vista psicológico, o filósofo tenta demonstrar a insuficiência da metodologia positivista apontando que: os conhecimentos sobre a emoção são extrínsecos aos conhecimentos sobre o ser psíquico e a emoção é irredutível aos fenômenos positivados

4

. Ora, Sartre percebe que a ciência psicológica, fixada em fatores preconcebidos, tende a explicar o assunto segundo “processos da própria emoção” em vez de explicar as emoções segundo “estruturas gerais e essenciais da realidade humana”

5

, fórmula que se aplica, metonimicamente, a todo gênero de ciência formal.

Eis que, então, surge, em oposição à psicologia, a fenomenologia, em busca da

“experiência das essências”, como adianta Sartre, a fenomenologia da emoção “estudará a emoção como fenômeno transcendental puro, e isto se dirigindo não a emoções particulares, mas buscando atingir e elucidar a essência transcendental da emoção como tipo organizado de consciência”

6

: “a fenomenologia é o estudo dos fenômenos – não dos fatos”

7

. A função da fenomenologia é, conforme o caso, “estudar a significação da emoção” e o que lhe resta saber é “se a emoção, por exemplo, é verdadeiramente um fenômeno significante”

8

.

Assim, identificando o interesse na abordagem de Sartre conforme seu Esboço Para uma Teoria das Emoções,

a

pesquisa compreenderá tanto as teorias clássicas, como a teoria psicanalítica, quanto a teoria fenomenológica, respectivamente.

Teorias Clássicas

As teorias clássicas postulam que as emoções constelam estruturas organizadas de forma que se relacionam entre si por meio dialético entre ação e reação em que os modos

2 Esboço para uma Teoria das Emoções, Psicologia, Fenomenologia E Psicologia Fenomenologia, p. 14-15.

3 Esboço para uma Teoria das Emoções, Psicologia, Fenomenologia E Psicologia Fenomenologia, p. 16.

4 Esboço para uma Teoria das Emoções, Psicologia, Fenomenologia E Psicologia Fenomenologia, p. 18.

5 Esboço para uma Teoria das Emoções, Psicologia, Fenomenologia E Psicologia Fenomenologia, p. 19.

6 Esboço para uma Teoria das Emoções, Psicologia, Fenomenologia E Psicologia Fenomenologia, p. 20-22.

7 Esboço para uma Teoria das Emoções, Psicologia, Fenomenologia E Psicologia Fenomenologia, p. 24.

8 Esboço para uma Teoria das Emoções, Psicologia, Fenomenologia E Psicologia Fenomenologia, p. 26-29.

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exteriores do corpo e os estados mentais interiores se refletem. Sartre resume as doutrinas com base na distinção entre fenômenos fisiológicos e fenômenos psicológicos

9

.

Adotando uma perspectiva mais voltada à natureza psíquica da emoção, objetivamente, foca-se sobre as manifestações exteriores da emoção. Porém, como Sartre constata, sustenta a mesma categorização bivalente característica da doutrina, mantendo a emoção relegada em detrimento do que se tem por conduta, estimando as emoções ainda com efeito meramente reativo, o que implica no estatuto da emoção como conduta de fracasso em que “a energia nervosa seria descarregada ao acaso e segundo a lei do menor esforço”

10

.

Tal orientação leva a considerar o fracasso como reação orgânica, reduzindo-o a nada e envolve a acepção da proposta que defende a existência de um sistema nervoso básico na criança que se adapta organicamente ao ambiente e se desenvolve conforme o passar do tempo, que, entretanto, diante de situações adversas, regride em direção do sistema nuclear

11

. Essa tese soma à teoria clássica a suposição de uma estrutura orgânica mediadora das manifestações emotivas, o que, como reconhece Sartre, permite a consideração de que “a conduta emocional não é de modo algum uma desordem: é um sistema organizado de meios que visam a um fim”

12

.

Sartre, então, procura analisar o papel funcional da cólera, dentro dessa estrutura emocional, como evasão. Nessa vertente, pressupõe-se que o homem, em circunstância tensa, encontra um absurdo lógico em que não há soluções, passando de uma conduta superior de racionalidade para uma conduta inferior de irracionalidade

13

.

Pois, conferindo os fundamentos comuns às teorias clássicas no tocante às emoções, a pesquisa prossegue ao conteúdo relativo à teoria psicanalítica, antes de mencionar, de fato, a teoria fenomenológica de Sartre.

Teoria Psicanalítica

A teoria psicanalítica postula a finalidade da emoção que pode ser captada pela análise objetiva da conduta emocional, conduzida por intuição empírica, direcionada à significação.

9 Esboço para uma Teoria das Emoções, As Teorias Clássicas, p. 32.

10 Esboço para uma Teoria das Emoções, As Teorias Clássicas, p. 34-36.

11 Esboço para uma Teoria das Emoções, As Teorias Clássicas, p. 37.

12 Esboço para uma Teoria das Emoções, As Teorias Clássicas, p. 40.

13 Esboço para uma Teoria das Emoções, As Teorias Clássicas, p. 44.

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Sartre, no entanto, pretende tratar sobre natureza da interpretação psicanalítica, a maneira como que, para a psicanálise, “o significado é inteiramente separado do significante”

14

.

Como “a teoria psicanalítica concebe o fenômeno consciente como a realização simbólica de um desejo recalcado pela censura”, que “não está implicado em sua realização simbólica”, “ele é unicamente aquilo pelo qual se apresenta”, portanto, “a significação de nosso comportamento consciente é inteiramente exterior a esse próprio comportamento”

15

. Levando a teoria psicanalítica ao absurdo, Sartre impõe uma contradição na seguinte axiomatização de seus postulados: “a consciência se constitui como significação sem ser consciente da significação que ela constitui”

16

.

Contrariando as conquistas do sujeito na modernidade, a teoria da psicanálise desassocia a significação do significado, não obstante, resguarda algum vínculo entre as polaridades, justamente porquanto “o fato consciente simboliza com o complexo exprimido”

17

. Mas Sartre percebe que a teoria da psicanálise comporta uma incompatibilidade instrínseca: “se a simbolização é a constitutiva da consciência, é lícito admitir uma ligação imanente de compreensão entre a simbolização e o símbolo”; “só que será preciso convir que a consciência se constitui como simbolização”; “nesse caso, não há nada por trás dela e a relação entre símbolo, simbolizado e simbolização é uma ligação infraestrutural da consciência”; “mas se acrescentarmos que a consciência é simbolização sob a pressão causal de um fato transcendente que é o desejo recalcado, recaímos na teoria precedentemente assinalada que faz da relação do significado ao significante uma relação causal”: tal composição presume desta ciência a combinação da psicanálise teórica com a psicanálise prática em uma ordem maleável em que o equilíbrio se perfaz pela ligação entre a simbolização e o símbolo

18

.

Inserindo-se nesse contexto, Sartre não descarta o valor da psicanálise clínica, justamente por sua prática se fundar em dados obtidos pela compreensão sob os moldes da técnica empírica. O filósofo, porém, retoma sua ideia de que “uma teoria da emoção que

14 Esboço para uma Teoria das Emoções, A Teoria Psicanalítica, p. 50-51.

15 Esboço para uma Teoria das Emoções, A Teoria Psicanalítica, p. 51.

16 Esboço para uma Teoria das Emoções, A Teoria Psicanalítica, p. 52.

17 Esboço para uma Teoria das Emoções, A Teoria Psicanalítica, p. 53.

18 Esboço para uma Teoria das Emoções, A Teoria Psicanalítica, p. 54.

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afirma o caráter significante dos fatos emotivos deve buscar essa significação na consciência mesma”, uma vez que “é a consciência que se faz ela mesma consciência”

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.

Contudo, Sartre não desconhece o problema efetuado por motivo de que, ao mesmo tempo em que a consciência padroniza internamente suas respostas na adaptabilidade com o exterior, desconhece inteiramente tal mecanismo. Ressalta-se que, essa omissão, complica a situação do indivíduo ao lidar com as emoções, justamente na proporção que se define emoção não por ação, senão por paixão.

Assim, antecedida pelas doutrinas clássicas, pela avaliação acerca da psicanálise, a pesquisa sucede à contemplação do trato fenomenológico de Sartre sobre as emoções.

Teoria Fenomenológica

A teoria fenomenológica postula que as emoções são, por concepção, consciência do mundo, “a emoção é uma certa maneira de apreender o mundo”, o que em palavras de Sartre significa: “o sujeito emocionado e o objeto emocionante estão unidos numa síntese indissolúvel”

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. O filósofo estabelece, então, vínculos entre a consciência irrefletida como ação e a consciência irrefletida como paixão.

A ação “constitui uma camada de objetos certos num mundo provável”, é “consciência espontânea irrefletida”, de forma que “não há necessidade de ser consciente de si como agente para agir”

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. Sartre, por conseguinte, concebe a emoção como “transformação do mundo”, ou seja, “deve-se conceber do mesmo modo a mudança de intenção e de conduta que caracteriza a emoção”, isto é, “na emoção é o corpo que, dirigido pela consciência, muda suas relações com o mundo para que o mundo mude suas qualidades”

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.

Conforme o contexto: a alegria, como emoção, “caracteriza-se por uma certa impaciência”, pois “é uma conduta mágica que tende a realizar por encantamento a posse do objeto desejado como totalidade instantânea”; a tristeza passiva, como evasão, “visa suprimir a obrigação de buscar esses novos meios, de transformar a estrutura do mundo substituindo sua constituição presente por uma estrutura totalmente diferenciada”; a tristeza ativa, como recusa, “trata-se, antes de tudo, de uma conduta negativa que visa a negar a urgência de certos

19 Esboço para uma Teoria das Emoções, A Teoria Psicanalítica, p. 54.

20 Esboço para uma Teoria das Emoções, Esboço de uma Teoria Fenomenológica, p. 56-57.

21 Esboço para uma Teoria das Emoções, Esboço de uma Teoria Fenomenológica, p. 60-61.

22 Esboço para uma Teoria das Emoções, Esboço de uma Teoria Fenomenológica, p. 63-66.

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problemas e substituí-los por outros”

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. Contanto, Sartre, esboçando a estrutura funcional das emoções, propõe que é fundamental tecê-la, recordando que não se pode, nem se deve confundir as condutas puras e simples com emoções, justamente porque o filósofo se apóia na compatibilidade entre a conduta emotiva e a realidade.

Em um ponto de virada, então, Sartre introduz o conceito de emoção como paixão, por seu caráter como sofrimento, desalinhado da vontade, pois, como Sartre sintetiza, “para crer nas condutas mágicas, é preciso estar perturbado”

24

. A ideia de corpo em seu caráter dúplice, como objeto no mundo e experiência consciente, leva o filósofo a entender que a consciência não apenas se limita a projeções entre o externo e o interno, muito mais, “ela vive o mundo novo que acaba de constituir”

25

.

Sartre coloca que a consciência não é consciente da própria paixão por que é afetada, tem consciência apenas do grau de emoção que percebe no mundo e a consciência, crente de si mesma, tende a confiar em suas próprias representações, fluindo em lógica própria, melhor, a consciência é, respectivamente, não tética e cativa

26

. Assim, há uma estrutura emotiva no mundo objetivo com que o sujeito lida condicionado entre espontaneidade e passividade, num misto de atividade interna com consciência apassivada, entre duas formas de emoção:

“conforme somos nós que constituímos a magia do mundo como sucedâneo a uma atividade determinista que não pode se realizar” ou “conforme é o próprio mundo que não pode se realizar”

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.

Então, explicadas as concepções de Sartre a respeito da teoria das emoções desde as teorias clássicas, pela teoria psicanalítica, até teoria, a pesquisa conclui sua tarefa.

Conclusão

Sartre é crítico em relação ao cunho reflexivo que a consciência emotiva apresenta dentro da abordagem psicológica da teoria das emoções por considerar que a consciência emocional é, primordialmente, autorreflexiva. Conclui, tendo o esboço de sua teoria fenomenológica como parâmetro, que a emoção não é a variação do sujeito em relação a um

23 Esboço para uma Teoria das Emoções, Esboço de uma Teoria Fenomenológica, p. 68-71.

24 Esboço para uma Teoria das Emoções, Esboço de uma Teoria Fenomenológica, p. 76-77.

25 Esboço para uma Teoria das Emoções, Esboço de uma Teoria Fenomenológica, p. 77.

26 Esboço para uma Teoria das Emoções, Esboço de uma Teoria Fenomenológica, p. 79-81.

27 Esboço para uma Teoria das Emoções, Esboço de uma Teoria Fenomenológica, p. 84-86.

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mundo constante, senão a representação da mudança no estado de coisas apreendidos paralelamente entre a corporeidade objetiva e mentalidade subjetiva.

A consciência, para Sartre, pode “ser-no-mundo” por via de dois modos distintos:

como composto organizado ativo e como mágica modificadora passiva, justapondo racionalismo e idealismo, ligados pela emoção: modo de existência da consciência.

Logo, a consciência existencialista de Sartre, produto do estudo fenomenológico das emoções, mantém a natureza reflexiva das emoções. “É a partir dessa reflexão que a paixão vai se constituir”.

Bibliografia

SARTRE, Jean-Paul. Esboço para uma Teoria das Emoções. Trad. de Paulo Neves. Porto

Alegre: L&PM, 2008.

Referências

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