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AS EXPRESSÕES VIVAS DE CORPOS IDOSOS FRENTE À QUEDA

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM GERONTOLOGIA

Ana Elisa Sena Klein da Rosa

AS EXPRESSÕES VIVAS DE CORPOS IDOSOS FRENTE À

QUEDA

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Ana Elisa Sena Klein da Rosa

AS EXPRESSÕES VIVAS DE CORPOS IDOSOS FRENTE À

QUEDA

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Gerontologia.

Área de Concentração: Gerontologia Social

Orientadora: Profa. Dra. Úrsula Margarida Karsch

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ROSA, Ana Elisa Sena Klein da

As expressões vivas de corpos idosos frente à queda

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Gerontologia.

Aprovada em:

Banca Examinadora

Prof. Dr._________________________Instituição:_______________________

Julgamento:_____________________Assinatura:_______________________

Prof.Dr._________________________Instituição:_______________________

Julgamento:_____________________Assinatura:_______________________

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por quem devo a existência e toda a honra. Sem a benção divina, não conseguiria chegar ao final de mais um degrau da construção do saber.

Ao meu amado marido, Rubens Klein da Rosa, por tudo; pela paciência, amor, amizade e dedicação. Sem você eu não seria eu.

Aos meus pais, Pedro Alves de Sena e Sonia Maria Oliveira de Sena. À minha irmã Michele Oliveira de Sena.

À Profa. Dra. Úrsula Margarida Karsch, por fazer florescer em mim a paixão pela saúde pública. Obrigada por sua orientação coerente, auxílio e dedicação. Agradeço humildemente pela oportunidade de ser orientada por uma profissional brilhante, competente e humana.

Ao prof. Dr. Roberto Dantas Queiroz por toda atenção e auxílio para que eu pudesse conjecturar uma possibilidade de desenvolvimento do trabalho. O apoio no HSPESP foi fundamental para a realização deste estudo.

À Prof. Dra. Sissy Veloso Fontes, por estar sempre presente em minha vida, desde a minha graduação. Profissional admirável na qual tenho verdadeira e inoculável admiração. Agradeço por todas as contribuições acadêmicas de extrema relevância para o enriquecimento deste trabalho. Agradeço por sua consideração, carinho e amizade.

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À professora de estatística e de epidemiologia, Dra. Maria do Rosário Dias de Oliveira Latorre, por toda dedicação com meus números e muita paciência para me ensinar a decifrá-los. Agradeço imensamente.

À minha amada, dedicada, querida e amiga de todas as horas e situações, Mercedes Maria dos Santos Botelho. Aprendo cada dia coisas muito importantes com você. Obrigada por tudo.

À minha cunhada e amiga Ester Paes Klein da Rosa, sem palavras para agradecer a dedicação, as revisões de texto e as traduções dos artigos e trabalhos em congressos. Por muitas vezes, parecia que fazia parte do meu grupo de estudos.

Às minhas irmãs quase biológicas, Bianca Isis Segantin e Fabiana Santos Fonseca. Tenho a certeza de que Deus as colocou em meu caminho para que a busca pelo saber acadêmico fosse mais descontraída, prática e leve. Senti-me acolhida e agraciada por nossa eterna amizade. Obrigada por todas as orientações e conselhos. Só Deus sabe por tudo que passamos até a entrega dessa dissertação. Formamos um trio muito mais do que acadêmico em todos os congressos nacionais e internacionais de Geriatria e Gerontologia. Obrigada minhas queridas!

À minha primeira e querida amiga do curso de mestrado, a jornalista Karen Marcelja, por me ajudar com os textos e com sua amizade sincera.

Aos meus amados e escolhidos sobrinhos do coração e da alma, Felipe Paes Klein da Rosa e Eduardo Paes Klein da Rosa, pelos carinhos e beijinhos nos momentos difíceis. Acredito que nosso amor nunca encontrará explicação nem entendimento.

A todos os colegas do curso de Gerontologia, sem vocês as discussões e os ensinamentos não seriam possíveis. Obrigada por compartilharem suas experiências comigo.

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Aos amigos que estiveram comigo durante a realização deste trabalho (em ordem alfabética), Ana Paula Klein; César Lemos; Fábio Ramos; Fabíola Rêgo Kassab; Hildegard Anna Cortellazi; Juliana Guisardi Pereira; Karina Palla; Laodicéia Mamede Oliveira; Lucas Arebolla; Marcia Chico de Oliveira; Mariana Yoshida; Monique Rocha Botelho de Farias; e Nancy Marinho de Lemos, pela inestimável amizade.

A todos os pacientes que carinhosamente aceitaram participar deste estudo.

Ao Ministério do Idoso da Associação Paulistana, da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Silvana Martinez Lopez Cazonatto seu incentivo e interesse me estimularam na construção de mais um caminho.

À querida Fabiana Andrade Santolin que gentilmente aceitou fazer a revisão de texto, sem palavras para agradecê-la.

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Quando a velhice chegar, aceite-a, ame-a. Ela é abundante em prazeres se souberes amá-la. Os anos que vão gradualmente declinando estão entre os

mais doces da vida de um homem. Mesmo quando tiveres alcançado o limite extremo dos

anos, estes ainda reservam prazeres.

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RESUMO

ROSA, A. E. S. K. As expressões vivas de corpos idosos frente à queda. 2011. 126 p. Dissertação (Mestrado em Gerontologia) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2011.

A percepção sobre o corpo na velhice é muito particular para cada ser. A esse respeito, Norbert Elias (2001) discorre sobre a dificuldade sentida pelas pessoas quando seus corpos, tão cheios de frescor e muitas vezes de sensações agradáveis, passam a ficar vagarosos, cansados e desajeitados. Não se pode imaginar tal mudança e, no fundo, não se quer. Nesse sentido, a queda acompanhada de fratura femoral causa enorme estranheza, pois há uma imagem com a qual o idoso não se identifica, ocorrendo uma desconexão entre a imagem do inconsciente do corpo e a imagem que o espelho devolve-lhe. O objetivo deste estudo foi traçar o perfil sociodemográfico de 40 idosos (31 do sexo feminino e nove do sexo masculino) com fratura de fêmur, em indicação de tratamento cirúrgico em fase pré-operatória, atendidos pelo Serviço de Ortopedia do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo. Trata-se de um estudo observacional de corte transversal, com coleta de dados através de visita a arquivos de prontuários médicos e entrevistas semiestruturadas, no período de outubro de 2010 a fevereiro de 2011. Todas as análises estatísticas foram feitas pelo Software Statistical Package for the Social Sciences para Windows, na versão 15.0. A idade dos sujeitos estudados variou de 62 a 97 anos, com média de idade de 78,9 anos, prevalecendo 77,5% do sexo feminino, e 72,5% dos idosos eram cuidados por um cuidador familiar. Um fator de extrema relevância foi que 97,5% dos sujeitos faziam uso de mais de três medicamentos concomitantes diariamente. Esses e muitos outros dados foram levantados com o intuito de cruzar fatores que incidem no processo de envelhecimento humano, pois, para a Gerontologia, a velhice deve ser entendida sob diferentes olhares, uma vez que os aspectos sociais, culturais e subjetivos permeiam e se entrelaçam na velhice. Com este estudo, foi possível notar que uma política de saúde pública faz-se necessária, com o desenvolvimento de ações que tenham como finalidade proporcionar ao idoso um melhor autoconhecimento de seu corpo, assim como identificar situações que possam lhe ser prejudiciais em relação ao maior risco de quedas, para que o índice de quedas possa ser reduzido.

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ABSTRACT

ROSA, A. E. S. K. The living expressions of elderly bodies face to fall. 2011. 126 p. Dissertation (Master in Gerontology) – Pontifical Catholic University of São Paulo, São Paulo, 2011.

The relationship of the body in old age is very particular to each individual. Norbert Elias (2001) discussed the difficulty that our own body, so full of freshness and often pleasant sensations, can be slow, tired and clumsy. We cannot imagine it, and basically we do not want it. The fall followed by femoral fracture causes huge strangeness, an image in which the elder cannot identify himself, resulting in a disconnection between the image of the unconscious of the body and the image that the mirror gives him back. The objective of this study was to delineate the socio-demographic profile of 40 elders (31 females and 9 males) with femur fracture in surgical indication for pre operative phase, attended by the Service of Orthopedics of the Hospital of the State Public Servant of São Paulo (HSPESP). It is a cross-sectional observational study, and the data were collected through visits to files of medical records and semi-structured interviews, during the period of October 2010 to February 2011. All statistical analyzes were performed by SPSS for Windows, version 15.0. The age of the subjects studied ranged from 62 to 97 years old, with an average age equal to 78.9 years old, 77.5% were female, and 72.5% cared by a family caregiver. A factor of extreme relevance was that 97.5% of the subjects use more than 3 concomitant medicines daily. These and many others facts were raised with the intention of cross factors that reflect in the trial of human ageing. For the Gerontology, old age is to be understood by different looks. The social, cultural and subjective aspects permeate and intertwine in old age. With this study was possible to notice that a public health policy is necessary for that the rate of falls can be reduced by taking actions which are intended to give the elderly a better self-awareness of his body, and identify situations that can be harmful in relation to increase the risk of falls.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Os fatores de risco para quedas e lesões relacionadas a quedas. ... 46

Figura 2 – Mostra a relação plurifatorial e fatores que contribuem como causa para quedas em indivíduos idosos. ... 48

Figura 3 – Fatores associados a quedas em idosos residentes de ILPIs. ... 49

Figura 4 Paciente MLS com dedos em garra (pé esquerdo). ... 49

Figura 5 Paciente MLS com hálux valgo, joanete e onicomicoses em diversas unhas, além de rushes cutâneos no pé direito, além de edema em tornozelo direito. ... 51

Figura 6 – Paciente MLS com ferida neuropática (diabética) em pé direito, homolateral à fratura femural. ... 51

Figura 7 – Radiografia sugestiva de baixa densidade mineral óssea evidenciando fratura em região trocantérica. Paciente AMS. ... 55

Figura 8 Conteúdo muscular normal em adulto fisicamente ativo (A) e sarcopenia em idoso sedentário (B). ... 57

Figura 9 Fratura fechada ou simples (Fig. 1). Fratura exposta ou composta (Fig. 2)... 59

Figura 10 Mostra padrões comuns de fraturas. 1 – fratura transversal. 2 – fratura oblíqua. 3

– fratura espiral. 4 – fratura cominutiva. 5 - Fratura compressiva. 6 – fraturas de galho verde. ... 59

Figura 11 –Referente a características clínicas das fraturas. Uma fratura transversa é estável, enquanto que a fratura oblíqua ou espiralada está sujeita à ação elástica dos músculos. ... 60

Figura 12 – 1. fratura do colo do fêmur; 2. fratura da região trocantérica; 3.fratura de diáfise do fêmur; 4.fratura supracondileana; 5.fratura condileana. ... 61

Figura 13 Mostra a extremidade superior do fêmur com demarcações das regiões de fraturas do colo do fêmur e do trocânter... 61

Figura 13 Diagrama dos estágios de consolidação da fratura. 1. estágio do hematoma, com necrose do osso juntamente à fratura; 2. estágio de proliferação subperiostal e endostal. 3. estágio de calo. 4. estágio de consolidação. 5. remodelação... 63

Figura 14 Descritor de sistematização de entrevista e coleta de dados. ... 68

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Esperança de vida ao nascer, segundo as grandes regiões brasileiras – 2009. .. 30

Gráfico 2 – Distribuição percentual das pessoas idosas por capacidade de andar 100

metros, segundo características etárias e sexo. ... 33

Gráfico 3 – Proporção de pessoas com 60 anos ou mais de idade que declaram sofrer de algum tipo de doença crônica, segundo os principais tipos. ... 53

Gráfico 4 Associação quanto à ocupação profissional e sexo. ... 98

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Referente às causas mais comuns de quedas... 47

Quadro 2 – Referente aos perigos, considerados como riscos ambientais mais comuns. ... 48

Quadro 3 Questionário de pacientes que sofreram fraturas no fêmur: Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo. ... 71

Quadro 4 Questionário de pacientes que sofreram fraturas no fêmur: Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo. ... 72

Quadro 5 –Questionário de pacientes que sofreram fraturas no fêmur: Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo. ... 73

Quadro 6 Questionário de pacientes que sofreram fraturas no fêmur: Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo. ... 74

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Número e porcentagem de pessoas segundo características sociodemográficas. 83

Tabela 2 Associação quanto à ocupação profissional e sexo. ... 84

Tabela 3 Número e porcentagem de pessoas segundo cuidador e família... 85

Tabela 4 Número e porcentagem de acordo com o uso de medicamentos, óculos e

frequência no oftalmologista... 86

Tabela 5 Número e porcentagem de doenças pregressas encontradas nos pacientes com fratura femoral. ... 87 Tabela 6 – Relato de números e porcentagens sobre os problemas encontrados nos pés,

realização e finalidade de fisioterapia pregressa à queda... 88

Tabela 7 – Conforme queda no último ano, demora no atendimento, horário de queda e frequência antes da fratura estudada. ... 90

Tabela 8 Número e porcentagem do local de ocorrência da queda. ... 90

Tabela 8 –Referente às atividades de vida diária, e ocorrência de alterações de movimento. ... 91

Tabela 9 Número e porcentagem consoante a utensílio ou aditamento utilizado para

deambulação, tipo de fratura e tipo de deambulante. ... 92

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LISTA DE SIGLAS

AIT Ataque Isquêmico Transitório ASA Sociedade Americana de Anestesia AVC Acidente Vascular Cerebral

AVDs Atividades de Vida Diária AVE Acidente Vascular Encefálico AVPs Atividades de Vida Prática BMC Conteúdo Mineral Ósseo

Ceamas Centros de Atendimento Médico Ambulatorial CEP Comitê de Ética em Pesquisa

DA Doença de Alzheimer

DM Diabetes Mellitus

Decam Departamento de Convênios e Assistência Médica

Dem Demência

DMO Densidade Mineral Óssea

DP Depressão

dp Desvio Padrão

DPOC Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica DXA Dual X-ray absorptiometry

EDG Escala de Depressão Geriátrica

FC Fratura do Colo do Fêmur

FCD Fratura Condiliana

FT Fratura Transtrocanteriana

Seade Sistema Educacional de Análise de Dados HAS Hipertensão Arterial Sistêmica

HSPESP Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo

HSPESP – SO Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo – Serviço de Ortopedia

Iamspe Instituto de Assistência ao Servidor Público Estadual ILPI Instituição de Longa Permanência para Idosos IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICC Insuficiência Cardíaca Congestiva

INED Instituto Nacional de Estudos Demográficos (de origem francesa) IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

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IRC Insuficiência Renal Crônica

OA Osteoartrose

OMS Organização Mundial de Saúde ONU Organização das Nações Unidas

OP Osteoporose

PK Doença de Parkinson

PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PUC Pontifícia Universidade Católica

SBOT Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia SPSS Statistical Package for the Social Sciences

SUS Sistema Único de Saúde

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 18

2 REVISÃO DA LITERATURA ... 23

2.1 Envelhecimento e Velhice ... 23

2.2 Dados Epidemiológicos do Envelhecimento Populacional Brasileiro ... 28

2.3 Geriatria e Gerontologia ... 33

2.4 Quedas ... 36

2.4.1 Etiologia e magnitude da queda ... 43

2.4.2 Mecânica da fratura ... 44

2.4.3 Fatores de risco para quedas ... 44

2.4.4 Causas de quedas... 46

2.4.5 Doenças nos pés que podem favorecer quedas ... 49

2.4.6 Patologias associadas a maior prevalência de quedas... 52

2.4.6.1 A queda no portador de osteoporose ... 54

2.4.6.2 Sarcopenia ... 56

2.4.7 Fratura ... 58

2.4.8 Fratura no fêmur ... 60

2.4.9 Consolidação de fraturas... 62

3 MÉTODO... 65

3.1 Abordagem Metodológica... 65

3.2 Local de Realização do Trabalho ... 65

3.3 Delineamento do Estudo ... 66

3.4 População de Estudo ... 67

3.5 Metodologia ... 67

3.5.1 Triagem de pacientes ... 68

3.5.2 Avaliação de prontuários e avaliação de exames complementares... 69

3.5.3 Entrevista com o paciente e/ou cuidador ... 70

3.5.3.1 Demografia geral ... 70

3.5.3.2 Grau de instrução e dados profissionais ... 71

3.5.3.3 Comportamento etílico e comportamento tabágico ... 72

3.5.3.4 Histórico pregresso patológico do paciente... 74

3.5.3.5 Sintomatologia, aparato locomotor, ocorrência de fraturas pregressas e aditamento de marcha ... 75

3.5.4 Avaliação das funções mentais e depressão geriátrica ... 76

3.5.5 Informações adicionais com o paciente e/ou cuidador... 77

3.5.6 Barthel index e informações sobre as AVDs antes da fratura ... 78

3.6 Avaliação Individual Inicial ... 79

3.7 Análise Estatística ... 80

3.8 Pacotes Estatísticos ... 80

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3.10 Variáveis de Estudo... 81

4 RESULTADOS ... 83

4.1 Número e porcentagem de pessoas segundo características sociodemográficas ... 83

4.2 Associação quanto à Ocupação Profissional e Sexo ... 84

4.3 Número e Porcentagem de Pessoas Segundo Cuidador e Família... 85

4.4 Número e Porcentagem de Pessoas Segundo o Uso de Medicamentos, Óculos e Frequência no Oftalmologista ... 86

4.5 Número e Porcentagem de Doenças Pregressas Encontradas nos Pacientes com Fratura Femoral ... 87

4.6 Número e Porcentagem de Relatos dos Problemas Encontrados nos Pés, e Realização e Finalidade de Fisioterapia Pregressa à Queda... 88

4.7 Conforme Queda no Último Ano, Demora no Atendimento, Horário de Queda e Frequência antes da Fratura Estudada. ... 89

4.8 Local de Ocorrência da Queda... 90

4.9 Referente às Atividades de Vida Diária e Ocorrência de Alterações de Movimento... 91

4.10 Número e Porcentagem referente a Utensílio ou Aditamento Utilizado para Deambulação, Tipo de Fratura e Tipo de Deambulante... 92

4.11 Associação Estatística Quanto ao Local e Frequência de Queda Atual, Segundo o Sexo... 92

5 DISCUSSÃO... 94

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 106

REFERÊNCIAS ... 108

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1 INTRODUÇÃO

O envelhecimento brasileiro e mundial é uma realidade. Segundo a Síntese de Indicadores Sociais (IBGE, 2010), os maiores de 60 anos representam 10,5% da população total e 83% deles vivem nas cidades. O destaque fica para a região metropolitana do Rio de Janeiro, que tem 1,7 milhão de idosos – 14,7% da população. De acordo com o estudo, nos próximos 20 anos, o número de idosos do Brasil poderá ultrapassar a faixa de 30 milhões de pessoas ao final deste período, o correspondente a 13% da população total do país.

A população de pessoas com 60 anos ou mais cresceu 47,8% na última década, um crescimento bastante superior aos 21,6% da população brasileira total no mesmo período. De acordo com o IBGE (2000), com base em estudos da Organização das Nações Unidas (ONU – 1995 a 2000), a população de pessoas com mais de 60 anos no Brasil aumentou 17,5%, o que significa um aumento de quase dois milhões, enquanto que a população total cresceu, de 1996 a 2000, apenas 8,1%. Em 2020, projeções da ONU preveem que teremos um acréscimo de 14,2 milhões de pessoas com mais de 60 anos em relação a 2000, perfazendo 13,1% da população total. Em 2050, serão 102 para cada 100 jovens, o que refletirá diretamente em todo sistema de saúde, público e privado, tanto nos segmentos produtores quanto nos financiadores.

Projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2000) mostraram um crescimento significativo da participação de pessoas com mais de 60 anos na formação da sociedade brasileira. A relação atual, de cerca de 25 idosos para cada grupo de 100 crianças e adolescentes até 14 anos, deverá mudar para 173 idosos para cada grupo de 100 crianças e adolescentes. De acordo com as pesquisas recentes do IBGE (2010), o Brasil deve ficar atento às prioridades econômicas e às instituições de atendimento à população, cujas necessidades devem mudar.

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importância de acrescentar anos vividos com qualidade funcional e independência adaptativa.

Antes das atuais projeções estatísticas, os sinais de envelhecimento populacional já tinham sido observados e intuídos por profissionais da área de gerontologia, conforme descreveu o Jornal Folha de São Paulo (2009). Isso porque, em estudos sobre o cotidiano, entre os anos de 2005 a 2008, o número de internações hospitalares na rede do Sistema Único de Saúde (SUS) aumentou em 8% por causa das fraturas de fêmur em idosos. No ano de 2008, foram 32.908 internações por esse motivo.

Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2010), a fratura do fêmur, maior osso humano, é uma das causas mais relevantes de mortalidade de idosos, quase um quarto das mortes nessa faixa está relacionado a quedas. As fraturas expõem um problema de saúde peculiar em pacientes idosos, a osteoporose. Em 2010, o Ministério da Saúde gastou cerca de R$ 39 milhões com medicamentos para tratamento da osteoporose. A ocorrência e a frequência de quedas em pessoas idosas é muito maior do que imaginamos, porque os idosos aceitam a queda como um acontecimento inevitável do envelhecer e não as relatam, a menos que interrogados.

O corpo humano está em constantes mudanças, cada idade apresenta suas alterações, características, riscos e problemas. Beauvoir (1990) discorre sobre a velhice que habita nosso corpo, e escreve que, por mais que tenhamos encontrado uma imagem mais ou menos convincente, mais ou menos satisfatória de nós mesmos, temos que viver essa velhice que somos incapazes de imaginar. Para tanto, em primeiro lugar, devemos vivê-la no nosso corpo. Não é nosso corpo que nos vai revelá-la; mas, uma vez que sabemos que a velhice habita nosso corpo, é ele que nos inquieta.

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Simões (1992) afirmou que o idoso, cujo corpo não se inclui nesses padrões, tem seus anseios anulados, gerando um sentimento de impotência enquanto indivíduo ativo na sociedade, o que culmina na aversão ao próprio corpo.

Para Villaça e Góes (1998), o corpo está inserido na sociedade e, dessa forma, é marcado pelo fator social. Por isso a dificuldade em examinarmos tanto o nosso corpo quanto o do outro. A consequência mais comum é a tentativa de proteção: tenta-se preservá-lo, evitar ao máximo sua exposição, resguardá-lo como se essa fosse a garantia de nos livrarmos do perigo e das ameaças. Nesse sentido, é de se presumir que quanto mais iguais formos uns aos outros, menos ameaçados nos sentiremos. Dessa forma, o envelhecimento constitui-se como uma pluralidade de experiências individuais. É preciso salientar que as alterações que ocorrem no corpo que envelhece são inevitáveis. Como proteger, preservar e resguardar esse corpo do perigo e das ameaças para evitar a queda?

No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde (BRASIL, 2010), entre os anos de 1979 e 1995, cerca de 54.730 pessoas morreram devido a quedas, sendo que 52% delas eram idosos, com 39,8% apresentando idade entre 80 e 89 anos. Ainda segundo dados do Ministério da Saúde (BRASIL, 2010), a taxa de mortalidade hospitalar por queda, em fevereiro de 2000, foi de 2,58%. A maior taxa encontrada foi na região Sudeste, seguida pela região Nordeste, Sul e Centro-Oeste.

De acordo com estudos realizados no Brasil por Zinny e Pussi (2003), a incidência anual de fraturas no país é de 1 milhão e destas 250 mil são de quadril. Sendo que, para Alarcon et al. (2001), as fraturas de quadril reduzem o tempo de vida em 36% para homens e em 21% para as mulheres. As internações hospitalares oriundas de quedas custam quase o dobro daquelas originadas de outras causas de internação hospitalar do idoso.

De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2010), o SUS gastou quase R$ 81 milhões com fraturas em idosos no ano de 2009. O número alto de internações por quedas em idosos configura alto número de incapacidade e óbitos nessa faixa etária, podendo gerar consequências, entre as quais: físicas, psíquicas e sociais. Cair pode significar que está ocorrendo um declínio das funções fisiológicas ou ainda representar sintomas de alguma patologia específica.

(22)

fratura, a dor e a redução dos movimentos podem causar isolamento pela diminuição da autoestima, tanto pela queda quanto pelo aumento da dependência. Tem sido verificado nos serviços de emergência dos EUA que as quedas são eventos frequentes causadores de lesões, constituindo a principal etiologia de morte acidental em pessoas com idade acima de 651 anos.

Para Campbel et al. (1985 apud FREITAS et al., 2006), quase todas as mortes provenientes de queda são decorrentes de fratura de colo femoral. As quedas podem representar um marcador para um risco de maior mortalidade na população idosa. Há evidências de que as quedas produzem sintomas de ansiedade e depressão, e sintomas depressivos são comuns nesses pacientes. As quedas e suas sequelas estão associadas a restrições de atividades, por vezes devido a dores persistentes. Fraturas femorais são causas reconhecidas de declínio de habilidades funcionais em relação ao estado pré-fratura.

Por tantos motivos, é necessário contextualizar a ocorrência de quedas e o perfil sociodemográfico de idosos brasileiros.

Dessa forma, a presente investigação buscou traçar o perfil sociodemográfico da população de idosos com fratura de fêmur em indicação de tratamento cirúrgico em fase pré-operatória, atendida pelo Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo – Serviço de Ortopedia (HSPESP – SO).

Além disso, teve como objetivos específicos:

 Descrever a população do estudo segundo características sociodemográficas;

 Discorrer sobre o cuidador, moradia de filhos e existência de netos;

 Descrever o uso de medicamentos, óculos e frequência ao oftalmologista;

 Delinear as doenças pregressas;

 Identificar os problemas mais comuns nos pés, realização e finalidade de fisioterapia pregressa à queda atual;

 Identificar e descrever a queda no último ano, tempo de atendimento, horário de queda e frequência de queda antes da atual fratura;

 Expor os locais mais frequentes de queda nos idosos pesquisados.

1 Consideramos e referimos alguns estudos com idade a partir de 65 anos, representando a idade

(23)

 Desvendar se o nosso paciente realizava Atividades de Vida Diária (AVDs), e ocorrências de alteração do movimento em pacientes pesquisados;

 Apresentar os aditamentos mais comuns para a deambulação, tipo de fratura e tipo de deambulante;

 Analisar a associação entre características de quedas e sexo com local de quedas.

Detectar os nossos objetivos é fundamental para prevenir as quedas. Após 10 anos de profissão e inúmeros atendimentos fisioterapêuticos de idosos, pudemos perceber como muitos profissionais envolvidos com o paciente idoso ignoram a queda e não a repelem com estranheza. Por isso construímos este estudo desafiador.

(24)

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Envelhecimento e Velhice

Para Guimarães (2007), envelhecemos desde o dia em que fomos concebidos e o envelhecimento é um processo que percorre por toda nossa vida. Tanto a criança quanto o jovem crescem, desenvolvem-se e envelhecem.

Morin (1997a) acreditava ser difícil perceber a origem, o motor do processo de envelhecer, pois, para ele, o caráter patológico da velhice manifestava-se em três planos: no social; na percepção de que a velhice sadia é patológica enquanto velhice em si; na própria morte que é patológica e é aproximada pela velhice. Finalizando suas reflexões, Morin (1997a, p. 230) aceitava que a velhice e a morte estão inscritas na herança genética humana e que são “coisas normais e naturais, porque uma e outra são universais e não sofrem qualquer exceção entre os mortais”.

Segundo Freitas et al. (2006), a incapacidade de mensurar o fenômeno do envelhecimento está intimamente vinculada à dificuldade de definir a idade biológica, o que justifica a falta de segurança para adotar quaisquer das teorias existentes sobre o envelhecimento.

Consoante a isso, para a Organização Mundial de Saúde (WHO, 2004) as sociedades ocidentais comumente associam o envelhecimento com a saída da vida produtiva pela idade. É difícil caracterizar uma pessoa como idosa utilizando como único critério a idade. Além disso, nesse segmento conhecido como terceira idade, estão incluídos indivíduos diferenciados entre si, tanto do ponto de vista socioeconômico quanto demográfico e epidemiológico.

Para Spirdurso (2005), o termo „envelhecimento‟ é usado para referir um processo ou conjunto de processos que ocorre em organismos vivos e que, com o passar do tempo, leva a uma perda de adaptabilidade, deficiência funcional, e, finalmente, à morte. Esses processos são diferentes dos ritmos biológicos diários ou de qualquer outra mudança temporária.

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reciprocidade, sociedade e sujeito. Tanto em nível da sociedade quanto de cada um de nós, esse processo revela-se profundamente interpelante e desafiante: novos comportamentos, expectativas e valores entrosam-nos a mais anos de vida e produzem novas formas de sociabilidade e convivência.

Para Fratczak (1993) o envelhecimento também pode ser definido como um processo, um estágio, que é definido de maneiras diferentes, dependendo do campo de pesquisa e objeto de interesse.

De acordo com Azevedo (2001) e Leme (1996), a preocupação acerca do envelhecimento humano apareceu na literatura científica no século XVI com os primeiros trabalhos científicos sobre o envelhecimento humano, contando com representantes, como Bacon, Descartes e Benjamim Franklin, que acreditavam ser apenas o desenvolvimento de métodos científicos eficazes para “vencer” as transformações da velhice. Francis Bacon (1561-1626) escreveu A história natural da vida e da morte e a prolongação da vida, defendendo a ideia de que um espírito jovem inserido em um corpo velho faria regredir a evolução da natureza (AZEVEDO, 2001; LEME, 1996). Benjamim (1745-1813), por sua vez, foi o primeiro a dizer que são as doenças responsáveis pela morte e não o envelhecimento, e que a velhice não é doença (AZEVEDO, 2001; LEME, 1996).

Os escritos de Netto (2007) aludiram que o século XX foi marcado pela explosão de medidas protetoras que visaram a postergar a morte. Ao longo do século XX e início do século XXI, o envelhecimento populacional é um fenômeno conhecido e que vem ocorrendo mundialmente. Segundo a ONU (2002), na Segunda Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento2, essa transformação demográfica está ocorrendo sem precedentes e sua projeção para o ano de 2050 é de que o número de idosos irá duplicar. O seu peso relativo passará de 10 para 20% de pessoas com mais de 60 anos de idade e, ainda, esse número será maior e mais rápido em países em desenvolvimento.

A OMS (2007) define a população idosa como aquela a partir dos 60 anos de idade, com uma distinção quanto ao local de residência dos idosos. Esse limite é válido para os países em desenvolvimento, subindo para 65 anos de idade quando se trata de países desenvolvidos. No Brasil a Política Nacional do Idoso (BRASIL, 1994)

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define como idoso a pessoa de 60 anos de idade ou mais, que será utilizada neste estudo.

No Brasil, onde existem muitas dificuldades socioeconômicas, homens e mulheres podem tornar-se envelhecidos antes dos 60 anos, devido à rotina pesada pela qual são obrigados a passar. Barbosa e Nascimento (2001) afirmam que, mesmo com todas essas dificuldades, a população brasileira tem aumentado, graças à redução da taxa de fecundidade associada à melhoria nutricional, elevação dos níveis de higiene pessoal, condições ambientais e residências mais adequadas.

A política nacional de saúde da pessoa idosa (BRASIL, 2006) aborda a velhice cronológica, e justifica que não se fica velho aos 60 anos de idade. O envelhecimento é um processo natural que ocorre ao longo de toda experiência da vida do ser humano, por meio de escolhas e de circunstâncias. O preconceito contra a velhice e a negação da sociedade quanto a esse fenômeno colaboram para a dificuldade de se pensar políticas específicas para esse grupo. Ainda há os que pensam que se investe na infância e se gasta na velhice. Deve ser um compromisso de todo gestor em saúde, compreender que, ainda que os custos de hospitalizações e cuidados prolongados sejam elevados na parcela idosa, também se está investindo na velhice.

O IBGE (2010) reconheceu que a idade não é o único parâmetro para definir o processo sociodemográfico do envelhecimento a fim de facilitar a análise dos dados e a construção dos indicadores selecionados.

Veras (1994), ao conjecturar sobre o assunto, afirmou que a causa do rápido aumento da expectativa de vida neste século foi uma substituição das causas de morte, anteriormente resultantes de doenças infecciosas e parasitárias, pelas doenças cardíacas e pelo câncer. Esta alteração nos padrões de moléstias foi descrita por Omran (1986), como transição epidemiológica.

Para o IBGE (2010), o crescimento desse segmento populacional no Brasil e no mundo é decorrente dos índices de mortalidade, graças aos avanços tecnológicos da medicina e da qualidade de vida, além das mudanças no coeficiente de fecundidade.

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a velhice é uma fase da vida, e o velho ou idoso é o resultado final, eles (velho e velhice) constituem um conjunto cujos componentes estão intimamente relacionados.

Do ponto de vista demográfico, Pereira et al. (2002) apontam que envelhecer significa aumentar o número de anos vividos. Contudo, paralelamente à evolução cronológica, coexistem fenômenos de natureza biopsicossocial, importantes para a percepção da idade e do envelhecimento.

Mas, em que idade a velhice tem início? Essa é uma tarefa dificílima. Observemos um trecho do poema de Mário Quitana (1906- 1994), “[...] ninguém pode estar na flor da idade, mas cada um pode estar na flor da sua própria idade [...]”. Para Beauvoir (1990), a velhice não pode ser compreendida senão em sua totalidade. Ela não é somente um fato biológico, mas também um fato cultural.

Há vasta nomenclatura no meio social e acadêmico para designar as pessoas que se encontram na velhice. Para Junqueira (1998), o termo „terceira idade‟ foi mais aceito do que „velho‟ na nossa atual conjuntura, embora tenha conotação negativa, pois tudo que é terceiro é inferior ao que é segundo e primeiro. Isso se justifica em razão de a noção de velho ser fortemente associada à decadência e confundida com incapacidade para o trabalho, concordando com o estereótipo negativo construído pela sociedade.

Spirduso (2005) salientou que um dos questionamentos mais importantes a enfrentar, tanto do ponto de vista pessoal quanto social, é saber se o ciclo de vida aumentado pode ser vivido com qualidade, ou se se trata de período com aumento de morbidades biológicas típicas do envelhecer, as quais precedem a morte.

Para Debert (1999), o impacto nas formas de viver e experimentar as diferentes fases da existência é algo que conhecemos mal: estamos perante fenômenos recentes, de evolução extremamente rápida e de complexidade crescente. Vivemos mais anos, com elevado nível de autonomia, de capacidades, potencialidades de realização pessoal e de intervenção na sociedade, a par de crescente falta de sincronia entre o percurso das idades inerentes ao processo de desenvolvimento humano e o trajeto socioprofissional: a idade biológica e a idade social têm tendências divergentes.

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denominado velho (vieux) ou velhote (veillard) aquele indivíduo que não desfrutava de status social – muito embora o termo „velhote‟ também fosse utilizado para denominar o velho que tinha sua imagem definida como “bom cidadão”. Para demonstrar uma visão menos estereotipada da velhice, Peixoto (1998) definiu o termo „idoso‟ para caracterizar tanto a população envelhecida em geral quanto aquela mais favorecida. A partir de então os “problemas dos velhos” passaram a ser vistos como “necessidades dos idosos”.

Por outro lado, Neri e Freire (2000) colocam que a substituição dos termos „velho‟ ou „velhice‟ por „melhor idade‟ já indica preconceito, pois, caso contrário, essa troca de palavras não seria necessária. As mesmas autoras ainda fazem menção ao termo „terceira idade‟. Esse termo foi cunhado nos anos 60 para designar a idade em que a pessoa se apresenta, servindo para designar a faixa etária intermediária entre a vida adulta e a velhice.

Essa distinção também traz uma dose de conotação negativa ao termo „velhice‟, porque se compreende que quem está na terceira idade ainda não é velho. Porém, ao mesmo tempo, fornece uma visão mais benéfica daqueles que se encontram com 60 anos ou mais. Essa é a idade que a ONU (2002) define como o início da velhice nos países em desenvolvimento, elevada aos 65 anos nos países desenvolvidos.

Em face desses preconceitos, estabeleceram-se conceitos sobre os termos „velho‟, „idoso‟ e „terceira idade‟. „Velho‟ ou „idoso‟ refere-se a pessoas idosas, na média de 60 anos; „velhice‟ seria a última fase da existência humana e „envelhecimento‟ estaria atrelado às mudanças físicas, psicológicas e sociais (NERI; FREIRE, 2000). Há ainda outras metáforas acerca do envelhecimento, como, por exemplo, „amadurecer‟ e „maturidade‟, que significam a sucessão de mudanças ocorridas no organismo e a obtenção de papéis sociais, respectivamente (NERI; FREIRE, 2000).

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Beauvoir (1990), em seus escritos sobre a velhice que habita nosso corpo, discorreu que, por mais que tenhamos encontrado uma imagem mais ou menos convincente, mais ou menos satisfatória de nós mesmos, temos que viver essa velhice que somos incapazes de imaginar. Sendo que, em primeiro lugar, devemos vivê-la no nosso corpo.

Bosi (1994) denotou que a velhice decorre mais da luta de classes do que de conflito de gerações; uma vez que, ao velho, não é permitida sua participação nas relações interpessoais, de modo que esse ator social tem compartilhado seu lugar de exclusão na sociedade com outros grupos, como: mulheres, negros, índios, portadores de necessidades especiais.

Para Nascimento (1982) era comum na Idade Média que os escritores fizessem referência às idades da vida. Falava-se em infância e puerilidade, juventude e adolescência, velhice e senilidade, para designar as diferentes fases da vida humana. O envelhecimento do ser humano pode ser diferenciado segundo conceitos relacionados à idade cronológica, à biológica, à social e à psicológica. Embora o envelhecimento humano seja marcado com indicadores diferentes, ainda assim o principal critério para situar as categorias etárias é a data de aniversário das pessoas.

Nas sociedades contemporâneas, o Papa João Paulo II, no ano de 1999 (ano Internacional do Idoso), escreveu uma carta aos anciãos, afirmando que estes ajudam a contemplar os acontecimentos terrenos com mais sabedoria, porque as vicissitudes os tornaram mais experientes e amadurecidos. Eles são guardiões da memória coletiva e, por isso, intérpretes privilegiados daquele conjunto de ideais e valores humanos que mantêm e guiam a convivência social.

2.2 Dados Epidemiológicos do Envelhecimento Populacional Brasileiro

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explicações para esse fenômeno é o aumento, verificado desde 1950, de 19 anos na esperança de vida ao nascer em todo o mundo. Os números mostram que, atualmente, uma em cada dez pessoas tem 60 anos de idade ou mais e, para 2050, estima-se que a relação será de 1 para 5 em todo o mundo, e de 1 para 3 nos países desenvolvidos.

No Brasil, após a divulgação pelo IBGE da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), edição de 2007, as projeções foram se confirmando com a continuidade da baixa taxa de fecundidade e mortalidade3, quando comparadas ao Censo 2010. Segundo as projeções vislumbradas pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2009), após a divulgação da pesquisa, esse fenômeno está ocorrendo de forma acelerada, acarretando rápidas mudanças no ritmo de crescimento da população e a mais importante é o crescimento populacional brasileiro. No Brasil, a expectativa do IBGE é de que a população com mais de 60 anos de idade seja aproximadamente de 11% da população geral até o ano de 2020.

Dados do IBGE (2010) confirmaram as previsões do instituto divulgadas em 2002. O índice de envelhecimento aponta para mudanças na estrutura etária da população brasileira. Em 2008, para cada grupo de 100 crianças de 0 a 14 anos existiam 24,7 idosos de 65 anos ou mais. Em 2050, o quadro mudará, e para cada 100 crianças de 0 a 14 anos existirão 172,7 idosos. Um exame das estruturas etárias projetadas mostra, também, a transformação nas relações entre pessoas que ingressam (e permanecem) nas idades ativas e aquelas que atingem as chamadas idades potencialmente inativas.

Segundo o IBGE (2000), tínhamos a seguinte realidade: para 1 pessoa com 65 anos ou mais de idade, aproximadamente, 12 estavam na faixa etária chamada de potencialmente ativa (15 a 64 anos). Já em 2050, para cada pessoa com 65 anos ou mais de idade, pouco menos de 3 estarão na faixa etária potencialmente ativa. No tocante às crianças e jovens, existirão cada vez mais pessoas em idade

potencialmente ativa “destinadas” a suprir suas necessidades.

Dados do último Censo descrito pelo IBGE (2010) nos revelaram que

[...] o aumento da esperança de vida ao nascer em combinação com a queda do nível geral da fecundidade resulta nos aumentos absoluto e relativo da população idosa. A esperança média de vida no Brasil era, em 2009, de 73,1

3 As taxas de fecundidade e mortalidade, aliado aos movimentos migratórios, fazem parte da dinâmica

(31)

anos de idade. A vida média ao nascer, de 1999 para 2009, obteve um incremento de 3,1 anos, com as mulheres em situação bem mais favorável que a dos homens (73,9 para 77,0 anos, no caso das mulheres, e 66,3 para 69,4 anos para os homens). Em 2009, a diferença entre a maior esperança de vida do sexo feminino, 79,6 anos, no Distrito Federal, e a menor do sexo masculino, 63,7 anos, no Estado de Alagoas, corresponde a uma diferença de quase 16 anos a favor dessas mulheres. (p. 31).

Para o IBGE (2010), em consonância com a PNAD (2009), a diminuição das taxas de fecundidade e de natalidade pode ser observada a partir da análise da composição etária da população brasileira. A redução da população infantil e jovem e o consequente aumento da população adulta e idosa estão associados à queda continuada dos níveis de fecundidade e ao aumento da esperança de vida. O que nos mostra um ritmo de crescimento sistemático e consistente. No período de 1999 a 2009, o peso relativo dos idosos (60 anos ou mais de idade) no conjunto da população passou de 9,1 para 11,3%, faixa etária considerada para fins de estudos demográficos e, também, como limite da condição de velhice nos países mais desenvolvidos.

Gráfico 1 – Esperança de vida ao nascer, segundo as grandes regiões brasileiras – 2009.

Fonte: IBGE (2010).

Os avanços da medicina e as melhorias nas condições gerais de vida da população repercutem no sentido de elevar a média de vida do brasileiro (expectativa de vida ao nascer) de 45,5 anos de idade, em 1940, para 72,7 anos, em 2008, ou seja, mais 27,2 anos de vida. Segundo a projeção do IBGE (2010), o país continuará galgando anos na vida média de sua população, alcançando em 2050 o patamar de

72,2%

70,4% 74,6%

75,2%

74,3%

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81,29 anos, basicamente o mesmo nível atual da Islândia (81,80), Hong Kong, China (82,20) e Japão (82,60).

Com os dados da PNAD (2009), as mulheres são a maioria (55,8%), assim como os brancos (55,4%), e 64,1% dos idosos ocupavam a posição de referência no domicílio. A escolaridade dos idosos brasileiros ainda é baixa: 30,7% tinham menos de um ano de instrução. Pouco menos de 12,0% viviam com renda domiciliar per capta de até ½ salário-mínimo e cerca de 66% já se encontravam aposentados.

O IBGE vem alertando por meio de indicadores sociais e demográficos, divulgados no Brasil, que a estrutura etária está mudando e que o grupo de idosos é, hoje, um contingente populacional expressivo em termos absolutos e de crescente importância relativa no conjunto da sociedade brasileira, daí recorrendo de uma série de novas exigências e demandas em termos de políticas públicas de saúde e inserção ativa dos idosos na vida social. (IBGE, 2010, p. 196).

Chaimowicz (1998) mencionou que o Brasil era considerado um país jovem. A partir de 1980, iniciou a observação do aumento de sua população com mais de 60 anos. A fase de aumento rápido da proporção de idosos, que já se iniciou, deverá se intensificar dentro de 10 ou 15 anos. No ano de 2020 o país terá a sexta população de idosos no mundo (33 milhões), correspondendo a quase 14% da população total: um processo que a sociedade terá que se adaptar.

Para a OMS (2007), o número de quedas aumenta em magnitude, à medida que o número de adultos mais velhos aumenta em muitas nações do mundo. As quedas aumentaram exponencialmente com as mudanças biológicas associadas à idade; portanto, um significativo número de pessoas com mais de 80 anos deverá desencadear um aumento substancial de quedas e dos ferimentos a elas relacionados, em níveis alarmantes.

Freitas et al. (2006) demonstraram preocupação com o aumento do número de idosos no Brasil, pois impacta diretamente a família que nem sempre tem condições de proporcionar-lhe a ajuda de que necessita, situação que é agravada pela pobreza e pela escassez de serviços públicos e privados de atendimento médico e social ao idoso, principalmente quando se encontra fragilizado.

(33)

os grupos de idade correspondem a 60 a 64 anos (3,5%), 65 a 69 anos (2,8%), 70 a 74 anos (2,1%), 75 a 79 anos (1,4%) e 80 anos ou mais (1,5%).

De acordo com o Suplemento de Saúde da PNAD (2008), apenas 22,6% dos idosos declararam não ter doenças crônicas. Entre aqueles com 75 anos ou mais, este percentual caiu para 19,7%. Quase metade (48,9%) dos idosos sofria de mais de uma doença crônica, e, no subgrupo a partir de 75 anos, o percentual atingia 54%. A hipertensão foi a enfermidade que mais se destacou, com proporções em torno de 50%. Dores na coluna e artrite ou reumatismo atingiram, respectivamente, 35,1% e 24,2% das pessoas de 60 anos ou mais. Enquanto 77,4% dos idosos declararam sofrer de doenças crônicas, 45,5% afirmaram que seu estado de saúde era “muito bom” ou “bom”. Apenas 12,6% disseram ter a saúde “ruim” ou “muito ruim”, e, entre estes últimos, destacaram-se aqueles com 75 anos ou mais, os pretos ou pardos e os que viviam com renda familiar de até ½ salário mínimo per capita.

Para o IBGE (2010), o percentual de idosos que não conseguiam ou tinham grande dificuldade em caminhar 100 metros passou de 12,2% no ano de 2003 para 13,6% em 2008. Esse aumento pode ser explicado pela elevação da esperança de vida. Entre aqueles com 75 anos ou mais, o percentual dos que declararam dificuldade ou incapacidade era de 27,2%. Como as mulheres são maioria nesse grupo, 15,9% das mulheres declararam ter dificuldade de caminhar 100 metros, contra 10,9% dos homens.

Kalache et al. (2000 apud OMS, 2007) afirmaram que a ausência de medidas realmente efetivas sobre o aumento da expectativa de vida e do aumento consequente de quedas

é um reflexo da saúde, na velhice, „ser negligenciada em países em desenvolvimento‟. A prevenção de quedas é uma das questões que não tem

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Gráfico 2 Distribuição percentual das pessoas idosas por capacidade de andar 100 metros, segundo características etárias e sexo.

Fonte: IBGE (2010).

Debert (1999) entendeu o envelhecimento como um processo inevitável, dinâmico e progressivo, de modificações ao longo do tempo em nível social. Em cada um de nós esse processo revela-se profundamente interpelante e desafiante: novos comportamentos, expectativas e valores participam nos anos de vida e produzem novas formas de sociabilidade e convivência.

a velhice é o que acontece às pessoas que ficam velhas; impossível encerrar essa pluralidade de experiências num conceito, ou mesmo numa noção. Pelo menos, podemos confrontá-las umas com as outras, tentar destacar delas as constantes e dar as razões de suas diferenças. (BEAUVOIR, 1990, p. 345).

2.3 Geriatria e Gerontologia

Para Maddox et al. (2001), geriatria é o estudo dos aspectos médicos de pessoas mais velhas que o jovem adulto e a aplicação dos conhecimentos relacionados com os aspectos biológicos, biomédicos, comportamentais e sociais do envelhecimento para prevenção, diagnóstico, tratamento e cuidados dessas pessoas. O termo „geriatria‟ foi utilizado pelo médico americano Ignatz Nascher (1863-1944 apud MADDOX, 2001) em reconhecimento da similaridade com o domínio da pediatria. Os aspectos médicos do envelhecimento foram estudados desde o início da civilização e receberam vários nomes, até chegar em Geriatria. O idoso deve ser integrado dentro de cuidados de saúde primários e ramos da especialidade da medicina, por exemplo, medicina Geriátrica, Psiquiátrica Geriátrica e Neurológica

13,6%

27,3% 10,9%

15,7%

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Geriátrica. Embora 65 anos de idade seja frequentemente usado em países desenvolvidos para indicar o início da idade avançada, essa idade é claramente arbitrária por parte das decisões de política social.

Susman (apud MADDOX, 2001) descreveu a Geriatria como uma disciplina médica em coordenação com os aspectos clínicos, preventivos, corretivos e sociais da doença no adulto idoso. Geriatria não é uma disciplina separada da prática diária da maioria dos clínicos, mas uma disciplina que exige que os profissionais de saúde mantenham bons princípios básicos mentais e de cuidados.

O termo „gerontologia‟ foi usado pela primeira vez por Elie Metchnikoff (1908 apud NERI, 2006), que o compôs a partir da língua grega, na qual geron significa homem velho e logia estudo.

Metchnikoff, cientista Russo e que trabalhava no Instituto Pasteur em Paris, afirmava que

[...] a velhice é uma doença infecciosa crônica, caracterizada por degeneração ou por enfraquecimento de elementos nobres e pela atividade excessiva dos macrófagos. Tais processos causariam um distúrbio no equilíbrio das células que compõem o organismo e dariam origem a uma luta interna que conduziria ao envelhecimento [...]. (NETTO, 2007, p. 38).

Metchnikoff (apud NETTO, 2007) acreditava enganosamente que uma vida longeva e uma velhice saudável dependeriam de evitar e/ou retardar esse processo. O mesmo autor profetizou que a Gerontologia teria crescente importância no decorrer do século XX, em virtude dos ganhos em longevidade para os indivíduos e para as populações, ganhos esses provocados pelos avanços das ciências naturais e da medicina.

De acordo com Green (1993) a Gerontologia pertenceu na primeira fase de sua curta história ao domínio dos médicos e biólogos. Na segunda fase foi criado um espaço para os psicólogos e sociólogos, ao lado de economistas e demógrafos. Agora a Gerontologia está no início de seu terceiro estágio, e passa por um período de renovação, baseado na cooperação de geógrafos, linguistas, hermeneutas e semiólogos em torno dos problemas do envelhecimento.

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fonoaudiologia; das ciências humanas: educação, psicologia e linguística; e das ciências sociais: antropologia, sociologia e serviço social.

De acordo com Green (1993) é uma ciência “muito jovem”. O autor localiza seu nascimento no fim da década de 1940, mas observa um atraso no seu reconhecimento acadêmico até 1970.

Harris (1998) definiu a Gerontologia como um estudo científico dos aspectos biológicos, psicológicos e sociais do envelhecimento. Para Freitas et al. (2006) a Gerontologia é um amplo campo disciplinar e profissional, que abriga numerosos temas, interesses e questões relacionados ao idoso, à velhice e ao envelhecimento. Não é campo unificado em termos de linguagem, teorias e metodologias, fato que responde pela pulverização de dados e prática que a caracteriza.

Green (1993) afirmou que a Gerontologia é a disciplina que estuda sistematicamente o envelhecimento. A partir de dois pontos de vista: como o envelhecimento afeta o indivíduo e como uma população que envelhece vai mudar a sociedade.

Os estudos na área da Gerontologia são ricos e se fazem necessários, porém estão num processo de lenta e gradual construção. Pereira et al. (2002) mencionaram que os gerontólogos e os geriatras colocam a velhice como uma questão importante a ser debatida.

Neri (2000) e Pereira et al. (2002) concordaram em definir a Gerontologia como disciplina multidisciplinar e interdisciplinar, voltada para a descrição e a explicação das mudanças típicas do envelhecimento e de seus determinantes genético-biológicos, psicológicos e socioculturais. Também está voltada para o estudo das características das pessoas maduras e idosas, das várias experiências de velhice e envelhecimento, ocorrendo em diferentes contextos socioculturais e históricos. Abrange aspectos do envelhecimento normal e patológico. Compreende a consideração dos níveis atuais de desenvolvimento e do potencial para o desenvolvimento.

Freitas et al. (2006) alertaram para a Gerontologia, como ciência do envelhecimento com a responsabilidade de ser o centro do qual emanam suas ramificações: gerontologia social, gerontologia biomédica e geriatria, que, em conjunto, atuam sobre os múltiplos aspectos do fenômeno do envelhecimento e suas consequências.

Consoante Mckee (1982), Borgatta e Mc Cluskey (1980) (apud GREEN, 1993),

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a partir de perspectivas de muitas disciplinas independentes, que juntas constroem o campo da Gerontologia quando aplicadas num mesmo objeto

Cumpre também inquirir, segundo Neri (2006), os campos profissionais específicos procurando discriminar o que eles têm para oferecer aos idosos. O que pode render programas educacionais, orientados à realidade e, nesse sentido, contribuir genuinamente para a geração de novos espaços profissionais.

Nos escritos de Freitas et al. (2006), a Gerontologia é um amplo campo disciplinar e profissional que abriga numerosos temas, interesses e questões relacionadas ao idoso, à velhice e ao envelhecimento.

Para Neri (2000), a Gerontologia hoje considera o velho como uma pessoa em desenvolvimento, dentro de um novo paradigma, que é chamado de life-span, ou curso de vida, que focaliza o desenvolvimento do ponto de vista das inter-relações do desenvolvimento individual, familiar e societário ao longo do tempo. A essência do modelo reside na análise da sincronia ou assincronia entre o tempo individual, o tempo familiar e o tempo histórico.

Para Freitas et al. (2006) o Brasil, além de enfrentar os desafios decorrentes de numerosas condições financeiras, intelectuais e políticas, os estudiosos e os profissionais que atendem às necessidades dos mais velhos têm que se haver com práticas preconceituosas e discriminativas em relação aos idosos.

2.4 Quedas

Quantos sonhos em sonhos acordo aterrado. A terrores noturnos minha alma se leva, é um insight soturno, é o futuro passando, na velocidade terrível da queda. Lobão

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As quedas têm expressiva predominância entre os fatores externos de ferimentos não intencionais. São codificadas como E880 -E880, na Classificação Internacional das doenças (9), e como W00-W19, na CID-10, que incluiu um amplo leque de quedas, abrangendo inclusive as que ocorrem no mesmo nível, de nível mais alto e outras quedas não especificadas. As quedas são definidas, comumente como “vir a inadvertidamente ficar no solo ou em outro nível inferior, excluindo mudanças de posição intencionais para se apoiar em móveis, paredes ou outros objetos”. Relatório global da OMS4 (2007, p.9).

Para Studensk e Wolter (2002), queda era definida como um deslocamento não intencional do corpo para um nível inferior à posição inicial, com incapacidade de correção em tempo hábil, determinado por circunstâncias multifatoriais que comprometem a estabilidade.

A queda teve definições semelhantes para diferentes autores, Moura et al. (1999, p. 15) a definiram como: “Um evento não intencional que tem como resultado a mudança de posição do indivíduo para um nível mais baixo, em relação à sua posição inicial.”

Guimarães e Cunha (2004) articularam que cair nos dois extremos da vida nos remete a distintos significados. Enquanto na infância marca a aquisição de mecanismos que vão garantir a postura e a locomoção, na velhice indica a deterioração desses sistemas. Cair constitui a manifestação não específica de etiologia multifatorial, que resulta da interação de fatores intrínsecos, situacionais e ambientais.

A OMS (2007) incluiu nos riscos de queda, além dos fatores socioambientais, biológicos, os riscos comportamentais, que estão relacionados às ações humanas, emoções ou escolhas diárias. Comportamento de risco: compreende excesso de medicamentos, uso excessivo de álcool e sedentarismo.

Freitas et al. (2006) aludiram que a habilidade de evitar quedas, em qualquer situação, depende inteiramente da extensão na qual a perturbação do equilíbrio e a falência do sistema de controle postural em compensar essa perturbação em situações desestabilizantes mínimas podem ser facilmente compensadas por adultos mais jovens.

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Hargreaves (2006) demonstrou, em seus estudos, a comparação entre idosos e crianças, as quais também possuem elevada taxa de queda. Os idosos apresentam dez vezes mais hospitalizações e oito vezes mais mortes consequentes a essas quedas, taxa que aumenta em proporção direta com os anos de sobrevida.

Netto (2007) contextualizou que a frequência de quedas em pessoas idosas é muito mais alta do que se imagina, documenta ou se notifica; uma vez que os idosos as aceitam como um acontecimento inevitável do envelhecer e normalmente não as relatam, a menos que interrogados.

De acordo com Netto (2007), as quedas nos idosos constituem uma importante causa de morbidade e mortalidade, pois com frequência, após uma queda, o idoso pode sofrer desde uma pequena lesão até a perda significativa da independência funcional e mesmo a morte.

Os pesquisadores Kane et al. (2004, p.201) afirmaram que os acidentes são a quinta causa principal de morte entre as pessoas de mais de 65 anos5 e as quedas são responsáveis por 66% dessas mortes acidentais. De todas as quedas registradas nos EUA, mais de 70% ocorrem entre os 11% da população que tem mais de 65 anos de idade. O medo de cair pode afetar negativamente o estado funcional dos indivíduos idosos.

Uma das grandes escritoras sobre o assunto: queda em idosos, Perracini (2000), descreveu a queda como um evento comum para a maioria dos idosos e que pode ter consequências desastrosas. A participação das quedas na mortalidade proporcional por causas externas no Brasil, entre os anos de 1984 a 1994, cresceu de 3 para 4,5%. Para Bodachine (1994), a frequência de quedas tem aumentado em função do aumento da população idosa.

Para a OMS (2007) as principais causas subjacentes de todas as admissões ao hospital relacionadas à queda são: fratura de quadril, lesões traumáticas no cérebro e ferimentos dos membros superiores. Com o aumento do envelhecimento mundial e da fragilidade, os idosos têm probabilidade de ficar hospitalizados, após uma lesão causada por uma queda, pelo resto de sua vida. Após as quedas, 20% morrem em um período de um ano depois da fratura do fêmur e quadril. Adicionalmente, as quedas podem resultar em síndromes pós-queda que incluem dependência, perda da

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autonomia, confusão, imobilização e depressão, que levarão a restrições ainda maiores nas atividades de vida diária. Para Kane et al. (2004, p. 202),

[...] os indivíduos que apresentam mais quedas tem níveis altos de utilização subseqüente dos serviços de saúde e de estado funcional mais precário. A incapacidade de levantar-se após uma queda pode ser indício de prognóstico desfavorável. O fato é que a maioria dos indivíduos que cai não procura atendimento médico. Cerca de metade de todas as quedas podem ser classificadas como acidental. Tropeço ou escorregão acidental pode ser provocado por um risco ambiental somado a outros fatores. Alguns idosos desenvolvem forte apego a objetos desarrumados e podem necessitar de estímulos ativos para fazer alterações necessárias, mas muitos podem não perceber os riscos, até que sejam especificamente assinalados.

Para Guimarães e Cunha (2004), a ocorrência de quedas aumenta o risco de hospitalização e, nos idosos mais frágeis, o risco de morte. Por vezes no caso de hematoma subdural crônico, a consequência pode demorar meses para se manifestar, e cerca de ¼ dos idosos com quedas recorrentes diminui a atividade e o relacionamento social. Segundo Kane et al. (2004, p. 201),

[...] as quedas e suas complicações associáveis deveriam ser evitáveis, é mais fácil identificar os fatores de risco para quedas do que evitar a ocorrência de quedas. Estudos cada vez mais numerosos sugerem que pelo menos alguns tipos de quedas podem ser evitados. Os autores acham possível evitar as consequências das quedas, ou seja, fraturas.

Embora seja evidente o aumento do evento queda entre a população idosa, a literatura gerontológica e geriátrica brasileira têm efetuado poucos estudos epidemiológicos sobre esse assunto. Como mostrado por Becker et al. (1999), a mesma problemática é encontrada na Alemanha.

Freitas et al. (2006) defenderam que as quedas são hoje consideradas como

um dos “gigantes da Geriatria”, ou seja, uma das formas comuns pelas quais doenças

agudas se manifestam de maneira não específica entre a população mais velha. Rubenstein (2006) denunciou em seus escritos que a queda responde a 40% de todas as mortes relacionadas por ferimentos.

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demonstrando a democratização do evento “queda” que pode ocorrer em diferentes épocas, pessoas, classes sociais e faixas etárias.

Na obra da filósofa Simone de Beauvoir, intitulada Uma morte muito suave, traduzida para o português no ano de 1984, Beauvoir relatou o sofrimento de sua mãe, ao sofrer uma queda no banheiro e fraturar o fêmur. Posteriormente, narrou o choque e a angústia ao descobrir que a mãe padecia de câncer. É uma leitura emocionante sobre o desenvolvimento da fratura femoral e posteriormente a morte de sua mãe com câncer, como podemos observar:

[...] A fratura do colo do fêmur em si mesma, não é coisa de muita gravidade; mas uma imobilidade prolongada provoca escaras que, nas pessoas idosas são difíceis de cicatrizar. A posição deitada fatiga os pulmões: o paciente contrai uma pneumonia que o leva [...]. [A mãe de Beauvoir sofreu uma queda no banheiro de casa, depois de trinta dias, morre, provavelmente de uma fratura patológica por câncer metastático de origem primária em intestino, o que provocou a síncope e a queda] [...] [Beauvoir relatou que sua mãe teve uma morte muito suave, uma morte privilegiada] [...] um câncer, uma embolia, uma congestão pulmonar, uma queda é tão brutal e imprevista como a paralisação de um motor em pleno céu. [...] Todos os homens são mortais: mas para cada homem sua morte é um acidente e, mesmo que ele a conheça e a consinta, Uma violência indevida. (BEAUVOIR, 1994, p. 98).

A falecida Rainha Mãe da Inglaterra também sofreu quedas, algumas em público; porém a mais preocupante, segundo BBC Brasil (2000), foi ocorrida em casa no dia 4 de agosto de 2000 quando estava sozinha, o que resultou em fratura da clavícula esquerda.

Em matéria do Jornal on-line Estadão (2006) há um relato sobre a queda do Papa João Paulo II, no banheiro de sua residência, no ano de 1994. Consequente ao ocorrido fraturou o fêmur com necessidade de cirurgia de protetização. Após a fratura femoral, o Papa foi impedido de beijar o solo das cidades por onde visitava.

O ex-presidente da República Federativa do Brasil Fernando Henrique Cardoso, aos 73 anos de idade, sofreu uma queda em seu sítio, no interior de São Paulo, na cidade de Ibiúna no dia 25 de agosto de 2003, em decorrência da queda fraturou 3 costelas, necessitando de hospitalização, segundo o Terra (2003).

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braço direito (LEPIANI, 2004). Essa queda levantou rumores políticos diversos sobre a saúde precária de Fidel Castro. Ao tropeçar em público e cair no chão, Fidel Castro pôs fogo nas especulações sobre sua capacidade de continuar a governar. De acordo com a Revista Veja (LEPIANI, 2004), Fidel castro falou sobre si mesmo: “[...] A idade é um inimigo que el comandante en jefe não pode prender, torturar nem fuzilar no

paredón [...]”.

A Veja (LEPIANI, 2004) expôs a fragilidade de Fidel Castro, aos 78 anos de idade, o qual quis convencer os cubanos de que “eram” falsos os rumores sobre seus problemas de saúde. A queda ocorreu após um discurso de formatura em Santa Clara, no interior da ilha. Muitos dos espectadores das primeiras filas no auditório simplesmente saíram correndo, querendo distância do que estava ocorrendo, seja lá o que fosse. Socorrido pelos guarda-costas, Fidel pegou o microfone e tentou tranquilizar o público presente à cerimônia. Com expressão de dor, explicou que havia caído, machucado o braço e o joelho, e avisou: "Estou inteiro". Apesar da queda ter sido registrada pelas câmeras de televisão e pelos fotógrafos, a televisão cubana não exibiu a cena do acidente. Só os cubanos com acesso às transmissões internacionais souberam o que tinha acontecido.

O Correio Braziliense (AGÊNCIA BRASIL, 2009) informou que Oscar Niemeyer sofreu uma queda aos 98 anos de idade com fratura em colo femoral e precisou passar por tratamento cirúrgico. Oscar foi entrevistado pelo Jornal Correio Braziliense, que relatou sobre sua aparente fragilidade após a cirurgia. O Correio Braziliense (AGÊNCIA BRASIL, 2009):

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