RBEn, 29 : 60-65, 1976
CONTROLE BACTERIOLóGICO DA TtCNICA DE PREPARO
DA PELE DE PACIENTES SUBMETIDOS A ARTROPLASTIA
DE QUADRIL DURANTE O PRt-TRANS E O PÓS-OPERATóRIO
Ana Maria Palermo da Cunha
(1)
Carlos Solé-Vernin (2)Camilo ndré Mércio Xavier (3) Isabel Amélia Costa Mendes
(1)
Maria Aparecida Teixeira Roque(4)
RBEn/06 CUNHA, A.M.P. e colaboradores - Controle bacteriológico da técnica de preparo da pele
de pacientes submetidos a artroplstia de ql durane o pré-trans e pós-operató rio. Rev. Bs. Enf.; DF, 29 : 60-65, 1976.
Um dos fatores de grande importân cia para o sucesso de qualquer procedi mento cirúrgico é a profilaxia da in fecção pós-operatória da ferida cirúrgica.
A assistência de enfermagem ao pa ciente proporciona segurança, no traba lho da equipe cirúrgica, refletindo m c1ma de bem estar junto ao paciente e sua família, tranquilizando-os.
A profilaxia da infecção Cirúrgica está diretamente ligada ao controle da assep sia utilizada pela equipe médica e de en fermagem concomitante com os cuidados dedicados ao ambiente e equipamentos hospitalares.
Neste trabalho, consideramos apenas os fatos importantes em relação ao
pre-paro da ele de pacientes submetidos ao ato Cirúrgico.
Preparar a pele de pacientes submeti dos a artroplastia de quadril, no pré, tras e pós-operatório constitui, entre outros, fator preponderante para preve nir a infecção da ferida Cirúrgica, prin Cipalmene considerando o local da in cisão.
A antissepsia cuidadosa da pele é fun damental na apresentação do paciente, na sala de operação, pois, do contrário todos os requintes empregados na assep sia cirúrgica do ato operatório deixam de ter valor diante de qualquer ponto da pele que poderá iniciar a infecção pós-operatória.
(1) Professor Asistente do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Es cola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da Universidde de São Paulo.
(2) Profesor Titular de Microbiologia do Departmento de Prsitologia, Microbiologia e Imunologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo.
(3) Professor Adjunto do Departamento de Cirurgia, Ortoedia e Traumatologia da Fa culdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
(4) nfermeira responsável pelo Centro Cirrgico do Hospital das "Clínics de Ribeirão Preo.
CNHA, A.M.P.
e
colaboradores - Controle bacteriológico da técnica de preparo da pele de pcintes submetidos a artroplastia de quadril durante o pré-trans e ós-operató rio. Rev. Bs. Enf.; DF, 29 : 60-65, 1976.A ulação de antissépticos para de
gemação- da pele exige cuidados ese
ciis como demonsrou price (98) o
primeiro investigador a introduzir testes
quanitativos e qualitativos para ava
liar os efeitos de qualquer méodo de
antissepsia da pele. Dunn (198) de
monstrou que o efeito gemicida ds
compostos quaenáios de mônio não
fica reduida em presença de matéria
orgâica conra o
Stapglococ8 aureus.ller e colaboradores (1943) demons
traram que mãos escovadas ou subme
tidas'
àimersão em um' composto qua
ternário de mônio a 1%, durane um
a três minuos, davam culturas negati
vas. Os auores afirmaram ainda que s
compostos quaenários de amônio for
mm uma pelicula invisivel, na superfi
cie cutânea, a qual resise a traumas
mecânicos e a expsição
gânica e a breves imersões em água ou
àmatéria or
sangue, mas desintegra-se or continuas
exposições a golpes de água corrente por
15 a 30 segundos, em presença de sabões
ou álcool concentrado.
Gibertoni (1972) e Cunha (1975) de
monstrarm que os compostos quatená
rios de amônio usados como antissépticos
de pele exibem ótima ação contra os
microorganisms.
O desaparecimeno total dos micror
ganismos da pele nem sempre é possivel,
pois, outros fatores ambienais entram
em contato com a pele alerando a sua
população bacteriana.
A artroplastia de quadril ou a prótese
total do quadril é a substituição da ca
beça femura! e do acetábulo por elemen
tos artificiais.
Vários estudiosos têm enfatizado a im
portância da assesa que deve ser me
tdicamene seguida para poder reali
zar esta cirurgia.
Com bases ness Dtomaçóes decidiu
se proteger a
ut1zando um antiséplco cmposto qua
ee e ancisão cirúrgica,
tenário de amônio a 0,2% com o obje
tivo de reduzir ao máximo a flora bac
teriana da pele corporal
eavaliar e
riodicamene estes cuidados através de
culturas laboratoriais de material co
lhido da pele.
AR
L
E tTODO
Solução Anttsséptica usada na pele
Fómula: Cloreto de BenzUdimetil 2
(2.p.1.1.3.3. tetrametil - butU-fenoxi
etoxi) etil amônio: 0,2 g.; Propllene Gli
col: 0,6 g.: Aquilarll PolietUene Glicol
éter: 0,4 g. Veiculo aquoso indicador
q.s.p. 100 ml-.
Técnica e Aplicação do Antsséptico
A solução foi aplicada com compressa
cirúrgica estéril em toda extensão da
pele a qUal foi dividida em dez regiões.
Após calçar um par de luvas estéril, cada
região foi friccionada vinte e cinco ve
zes cm uma compressa embebida
ean
tsséptico em movimentos semelhantes a
um banho.
sdez regiões consideradas
foram: face e' pescoço, órx (face an
erior), membro suerior direito, mem
bro superior esquerdo, abdmen, tórax
(face posterior), região glútea, membro
inferior direito, membro inferior esquer
do e perineo.
Esta antisepsia foi realizada nas se
guines fases: 1) Internação do paciente
(após tricotomia do abdomem, coxas
e
períneo) ; 2) Véspera da cirurgia (12 ho
ras antes e após revisão da tricotomia) ;
3)Antes da incisão cirúrgica (na sala
de oeração) ; 4) Quarto dia de pós-pe
ratório; 5) Oitavo dia de pós-operatório;
6) Décimo segundo dia de pós-operató
rio. Após a antissepsia da
véspera da Cirurgia o paCiene foi levado
.
intenação e
- egermação - Termo usado or Price (1938) para caractezar a rdução do número de micorganismo patogênicos ou não, da pele, por qualquer méodo,
ao chuveiro para enxaguar-se e lavar a cabeça com o antlséptico abundane mente.
Na véspera da cirurgia, após o banho geral, o antisséptico era apllcado outra vez na pele das regiões consideradas como campo operatório (abdomem, coxa e perineo) , sendo a seguir enfaixados com ataduras de crepe estéril.
Diariamente, com exceção dos dis ci tados, apllcava-se ma vez o antissép tlco em odas as regiões, em substituição do banho tradicional.
M ateriaZ para Colhita
Foram utllizadas placs Rodac· com meis de cultura para colheita de mate rial da pele e roupas.
Os meios de cultura colocadas nas placas foram :
1 ) Agar-infusão-sangue (celho)
2) Chapman-meio seletivo para cres cimento de Staphllococcus aure8.
3) Teague-meio seletivo para cresci mento de bastonetes gram-negativo.
Para neutralizar o efeito baceriostá Uco-bactericida dos resíduos do deger mante, adicionmos aos meios de cu� tura: ween 80 a 1 % em tdos os meios; gema de ovo a 0,5% nos meios de Tea gue e Agar-sangue; gema de ovo a 0,8% no meio de Chapman.
Após a colheita do material, as placas com Teague e Agar-sangue foram incu badas em estufa a 350 C por 24 horas e as placas cm Chapmn em estufa a 40 C por 48 horas, após ese tempo foi realizada a leitura das placas conando se o número de colônias crescidas nas superfícies dos meios.
Cohemos também, zaragatos do na riz e garganta para cultura, nos paci entes observados.
Técnica para colheita do material
Colhemos material dos pacientes nas seguines fses:
1 ) Inenação do paciene (3 a 4 S anes da cirurgia)
2) Véspera da Cirurgia ( 12 horas an-es, paciente j á preparado)
3) Quaro a do pós-oeraório.
4) Oitavo dia do pós-operatório
5) Décimo segundo dia do pós-opera tório.
Nos perids refeidos, colhems ma erial, batendo como carimbo s placs rodac sobre os seguintes locais:
1) Pele próxima à região da ferida
Cirúrgica.
2) Geniais do Paciene.
3) Vestuário em contato com a pee. Para cada local acima referido, bae-mos em áreas contígus, 3 placs, uma com agar-sangue, outa com Chapman e outra com Teague.
Controle de reprdutbiZiãade o resul tado
Para assegurar confiabllldade ao mé todo, a rotina adotada para degermar a pele dos pacienes foi tesada exausti vmene por três vêzes, com reetição de todo o controle microbiológlco, conse guindo-se obter sempre o memo re sultado.
RESULTDOS
Os resultados referem-se aos primeiros 10 pacienes observados no pré e pós operatório, durane 7 meses consecuti vos, dando-lhes assistência médica e de enfermagem diariamene. Com esta ob servação procuramos sisematizar e pa dronizar a antissesia de pele dos pa cientes para evitar a infecção hopitalar.
Apresenaremos um caso como Uustra ção dos dados (Tabela 1) .
-• odac plates 15 m Style, 6 cm de diâmetro. Falcon plastics Division oí B-D abo
ratoris Inc. - Ls Angeles - Califónia. Sua conformação permite que s tamps ds msmas formem um encaixe, não tcando na suerfície do Agar. São recupe radas por lavagem e desinfecção química a frio (deergente, glutaraldefdo 2% e álool etllico 70% ) ,
62
F A S E S NTES A EEo.
INTENAAO
EGIeS A i T
25 ! 150
P E l E COL CaL. N
STAPH STAPH
Cal Cal 10 OLo PERfNEO lNCNl INCOl BAC.
M.
STPH STPH
-Cal. 300 20 R
o
U P A lN - CaL. OL.S . CNT . STPH mM.
-0
T A B E L A I - COROLE BACTRIOL6GICO O PCIENTE
CASO Ng 8
uRNTE O PERfoOO E E E RMAÇ\o
49 orA 89 DIA
�SPEA CIRORGICA pOS - PERATORlO pS - PERATORIO
,
A H T A H T A C�I T
3 Cal .
N N N N N N STREP . N N
1 Cal. STPH
16 1 4 Cal .
OL o Cal . STAPH .
N N N N N N
STAPH 1 Cal.
STAPH
BAC.
- 1 1 , 1 "1
3 CaL .
CaL. Cal. Cal
COLo N N STAH N N
3
�
TAPH . PSEU- BAC. STPHCOL •. STRP .
_�A�S
{
A • AAR - INFÂO - SANGE i • iPN
T • TEAGE
STPH STYLOCOCCUS EPlERMIOIS
lAS • BASTONETES
STEP • STEPTOOCS
KLEBS • KLEBSlElLA
PEU PSEUONA
129 DIA
PS - OPERATORIO .
A i T
2 CaL. 4 STAPH . COLo
. N 1 CaL .
s
TAPH.C .
1 7 Cal. STPH .
50 N N
L.
"LESS .
2
N CaL. N
STAPH.
CHA,
A.M.P.
e
colaboradors
-Controle
bacteriológico
da
técnica
de
prepro
da
ele
de
pcintes
submetidos
a
artroplsti.
de
quadtU
durante
o
pré-trans
e
ós-oeraó
rio.
Rev.
Bas.
Ef.;
DF,
29
:
60-65,
CA, A.M.P. e colaboradors - Controle bacteriológico da técnica de preparo da pele de pcintes submetidos a artroplstia de quadril durne o pré-trans e ós-oerató rio. Rev. Brs. Ef.; DF, 29 : 60-65, 1976.
DISCUSSAO
Analizando a tabea demostrada ob servamos que o paciente apresenta-se ao hospial para a intenação com a pele contaminada com staphyZcoccus não patogênico, ms com uma população bac teriana multo grande, isto é, variou de 25 colônias até número incontável de colônias crescidas nas placas.
Não encontrmos bastonetes Gram negativos na pee, consideramos este fato relacionado ao tipo de higiene que cada paciente mantém normalmente.
O períneo mostrou-se sempre com con taminação multo grande e bastante su perior a da pele mais contaminada. Sem pre tivemos de classificá-lo com número de colônias incontáveis para StaphyZo coceus, bastonetes Gram-negativo.
O períneo muito contaminado preo cupou-nos bastante devido a proximida de deste com o local da incisão cirúrgica que preCisa er assepsia rigorosa.
A roupa com a quaL o paciente chegou ao hospital mstrou-se bastante conta minada, não tanto quanto o períneo, ms com maior contaminação do que a pele. Aquele vestuário que apresentavam limpos, as olhos do observador, dimi nuiam ligeiramene o número de colô nias das placas.
Realmente, com base nestes dados tonou-se cada vez mas imporante o preparo pré-opreratório dos pacienes, pois, do contrário a contminação da ferida cirúrgica é bastante facidtada.
Esta conaminação que o paciente traz ao hospital em que ser reduzida atra vés de um método eficiente e por pro fisisonal de enfemagem para surtir efeito, do contrário o risco de contami nação da ferida cirúrgica é muito grande.
Após a degermação do paciente para a Cirurgia foram avaliadas s condições bacteriOlógicas da pele, perineo e roupa limpa do paciene para ser enviado à sala de operação.
64
Uma redução bacteriana marcante as sinalou os resultados obtidos.
A pele não apresentou colônis bace rianas crescidas na placa com agar-san gue, chapman e teague. O perineo ape nas 18 colônias de StaphyZoeoccus não patogênicos na placa com agar-sangue e não cresceu colônias nas placas de chapman e teague. A roupa limpa que envolveu o paciente apresentou apenas
3 colônias de Staphyloeoeeus não pato gênicS na placa com agar-sangue e não cresceu colônis nos meios de chapman e teague.
Estes resultados demonstraram exce lente preparo do paciente para o ato
cirúrgico como tmbém a eficácia do método e do antisséptico empregado, contribuindo sem dúvida para a preven ção da infecção da ferida cirúrgica.
No pós-operatório preocupamo-nos em manter a flora bacteriana em baixos niveis como j á tinhamos conseguido até a completa cicatrização da ferida ci rúrgica.
O 4.0 dia de pós-operatório também apresentou resultados muio bons como demonstrou a tabea, ou seja, ausência de cOlônias, na pele, nos três meios de cultura. Uma colônia de StaphlZococcus apareceu no meio de agar-sangue, mas nas placas com meio de chapman e tea gue não houve crescimeno baceriano demonstrando ótimo preparo para peri neo. A roupa apresentou no meio de agar-sangue uma colônia de StaphuZo coccus e três colônias de Streptcoccus, enquanto que s pacas com chapman e teague apresentaram uma colônia de
StaphyZococcus, e uma colÔnia de Pseu
domona respectivamene, indices baixos tratando-se de vestuário.
A,
MP.
e colaoradors - Conle bcteriolo da nia de epro da le de cins submetidos a arroplsia de ql durne o ré-s e ós-oaório. v. s. Ef.; DF, 29 : 60-65, 1976.
colôia de balll/; na roupa, a co
.
de blZ/.s
placas com meis decultura Chapmn e Teague não apre sentarm colônias bacerianas crcidas em nenhum local observado.
No 12.0 a de ós-operaório ainda estavm reduzids os níveis de colônias bacterinas. Na pele, o melo de agar sangue apresentou duas colônias de Stap/locccus e uma colônia de bcllZs, no melo de Chapman quatro colônls de Staphylcccus, no melo de Teague não houve crescimento bac�rlano. No peri neo, o melo de agar-sangue apresenou dezessee coónias de staphylcoccus e cinquena colônias de lesiellas, não houve crescimento bacterino nas placas com meios de chapman e eague. A roupa apresentou duas colônias de Stapllo ccs no melo de Chapman e culturas negativas para os mel8 de Agar-Bangue e Teague.
nallzndo a tabea como um tdo verificmos que o paCiente chegou ao
hspial m a cnação multo
grane e com a degemaAo que receeu reduziu eficienemene a flora bace rina.
CONCLUSOES
1) Os pacienes apresentram-e ao hospital, para inenação bastane con taminad8. Esta contaminação foi acen tuada no perineo.
2) Os hábios higlênicos cotidianos do paciente infiulrm para que a conami nação fosse maior ou menor dentro de alos índices.
3) : mpescindível degemar o paci ene no pré-eraório e no pós-opera tório até a completa cicatriação
a
fe rida cirúrgica.4) O método de anlssepsia e o pró prio nlsséptlco foram eficienes con forme demonstou o estudo reallzado.
NCIAS BBIOGICB
1 . , A.M.P. ; - A avallçAo de de g.o ds mis com hxcloro fO, omosto quaniio de amO mo e sabAo comum. io de Jneiro,
1975. (DsertaçAo de Mestrado) .
2. DNN, C . O . ; - A omprative stuy of some ntseptlcs and gemicids lth seclal reference o ayll
entyl-beyl-amonlumachloids
-Amr. J. Surg., 41: 268-271, 1938.
I. OBROI, J.; - AvallaçAo de um
médo de ntsepsla a ele de
s e e-braçs de quis c11r
laa,
om m omosto quateiode amto, sem O prévio de escova
e saio. BAo Paulo, 1972. (Tse de
ouormento) .
4. R, B . F . ; BS, R.; BR,
D . A . ; N, . - Fomatlon of
lnlble, n-eceptlble fs on
hans
y
catlomc Soaps. rc. SCoEp. So - Md., 4: 174-176, 1M3.
5. PICE, P.B. ; -Nw stules n
ll
bacterioloy d g1cl lc
lh l referene o denfct10n
of the . J. Am. Md. A,C. 111;
1993-1996, 1938 .
6. PICE, P. B . ; - he bateioloy of
ol n a new quantltative t
aplld o a study of he bacerll
flora nd the desfetnt action of
mehalcl clg. J. Infet. a.,
3: 301-318, 1938 b.