III JORNADA INTERAMERICANA DE
DIREITOS FUNDAMENTAIS E I
SEMINÁRIO NACIONAL DA REDE
BRASILEIRA DE PESQUISA EM
DIREITOS FUNDAMENTAIS | RBPDF
ANAIS III JORNADA INTERAMERICANA DE
DIREITOS FUNDAMENTAIS E I SEMINÁRIO
NACIONAL DA REDE BRASILEIRA DE PESQUISA
COMISSÃO CIENTÍFICA
Profa. Dra. Ana Cândidada Cunha Ferraz (UNIFIEO) Prof. Dr. Carlos Luiz Strapazzon (UNOESC)
Prof. Dr. Cesar Landa (PUC, Lima – Peru) Prof. Dr. Cezar Bueno de Lima (PPGDH/PUCPR) Prof. Dr. Eduardo Biacchi Gomes (UNIBRASIL) Profa. Dra. Elda Coelho de Azevedo Bussinger (FDV) Profa. Dra. Gina Vidal Marcílio Pompeu (Unifor)
Prof. Dr. Gonzalo Aguillar (Universidade de Talca - Chile) Prof. Dr. Ingo Wolfgang Sarlet (PUCRS)
Prof. Dr. Luis Henrique Braga Madalena (ABDCONST) Prof. Dr. Lucas Gonçalves da Silva (UFS)
Profa. Dra. Margareth Anne Leister (UNIFIEO) Profa. Dra. Mônia Clarissa Hennig Leal (UNISC) Prof. Dr. Narciso Leandro Xavier Baez (UNOESC)
Prof. Dr. Pedro Paulino Grandez Castro (PUC, Lima – Peru) Prof. Dr. Rubens Beçak (USP-Ribeirão Preto-SP)
Prof. Dr. Vladimir Oliveira da Silveira (PUCSP)
UNIVERSIDADES E INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES
ABDCONST | Academia Brasileira de Direito Constitucional, Curitiba, PR
CONPEDI – Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito - Brasil FDV | Faculdade de Direito de Vitória, ES, Brasil
IDP | Instituto Brasiliense de Direito Público, Brasília, DF, Brasil PUCP | Universidade Católica do Perú, Lima, Perú
PUCPR | Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, PR, Brasil
PUCRS | Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil RBPDF | Rede Brasileira de Pesquisa em Direitos Fundamentais
Rede Interamericana de Pesquisa em Direitos Fundamentais UEXTERNADO | Universidade Externado, Colômbia
UFMS | Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Campo Grande, MS, Brasil UFMT | Universidade Federal do Mato Grosso, Cuiabá, MT, Brasil
UFS |Universidade Federal de Sergipe, Aracaju, SE, Brasil
UNIBRASIL-PR |Centro Universitário Autônomo do Brasil, Curitiba, PR, Brasil UNIFIEO | Centro Universitário FIEO – São Paulo, SP, Brasil
UNIFOR | Universidade de Fortaleza, Fortaleza, CE, Brasil
UNISC | Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul, RS, Brasil UNINOVE | Universidade Nove de Julho, SP, Brasil
UNOESC | Universidade do Oeste de Santa Catarina, Chapecó, SC, Brasil UPF | Universidade de Passo Fundo, RS, Brasil
USP | Universidade de São Paulo - Ribeirão Preto, SP, Brasil UTALCA | Universidade de Talca, Chile
A532
Anais III Jornada Interamericana de Direitos Fundamentais e I Seminário Nacional da Rede Brasileira de Pesquisa em Direitos Fundamentais [Recurso eletrônico on-line] organização Rede Brasileira de Pesquisa em Direitos Fundamentais;
Coordenadores: Carlos Luiz Strapazzon, Lucas Gonçalves da Silva, Vladimir Oliveira da Silveira – São Paulo: RBPDF, 2017.
Inclui bibliografia
ISBN: 978-85-5505-384-9
Modo de acesso: www.conpedi.org.br em publicações
11. Direito – Estudo e ensino (Graduação e Pós-graduação) – Brasil – Congressos internacionais. 2. Direitos humanos. 3. Direitos fundamentais. 4. Jurisdição constitucional. 5. Direitos Civis. 6. Direitos políticos. 7. Direitos sociais. 8. Direitos econômicos. 9. Direitos culturais. I. III Jornada Interamericana de Direitos Fundamentais e I Seminário Nacional da Rede Brasileira de Pesquisa em Direitos Fundamentais (1:2016 : São Paulo, SP).
CDU: 34
III JORNADA INTERAMERICANA DE DIREITOS
FUNDAMENTAIS E I SEMINÁRIO NACIONAL DA REDE
BRASILEIRA DE PESQUISA EM DIREITOS FUNDAMENTAIS |
RBPDF
ANAIS III JORNADA INTERAMERICANA DE DIREITOS
FUNDAMENTAIS E I SEMINÁRIO NACIONAL DA REDE BRASILEIRA DE PESQUISA EM DIREITOS FUNDAMENTAIS | RBPDF
Apresentação
APRESENTAÇÃO
Os Anais da III Jornada Interamericana de Direitos Fundamentais e I Jornada Brasileira do
Seminário da Rede Brasileira de Pesquisa em Direitos Fundamentais, realizado entre os dias
26 a 28 de outubro do ano de 2016, na cidade de São Paulo, contou com a apresentação de
artigos científicos nos Grupos de Trabalho Temáticos que analisaram os mais relevantes
temas correlatos e conexos aos direitos fundamentais.
Os trabalhos foram avaliados pela Comissão Científica do Seminário, mediante o processo da
dupla avaliação cega por pares, de forma a atender aos critérios Qualis Eventos da CAPES.
Na presente publicação, foram selecionados os resumos dos trabalhos apresentados e que
foram criteriosamente selecionados.
Conforme pode ser verificado, os resultados disponibilizados na publicação resultam de
temais mais importantes da a Rede Brasileira da Pesquisa em Direitos Fundamentais e da
Rede Latino Americana de Pesquisa em Direitos Fundamentais. Naturalmente, como se trata
da primeira publicação, existe uma tendência de que as pesquisas venham a se consolidar e
que para o próximo Seminário, os resultados possam trazer elementos mais concretos de
análise, inclusive em relação ao aumento do fator de impacto dos trabalhos.
Vale destacar que os temas ligados aos direitos fundamentais, direitos sociais, acesso à
justiça, tanto no plano interno como internacional, cada vez estão mais presentes em nossa
sociedade, principalmente quando vivemos em tempos de reduções e de limitações dos
direitos sociais e fundamentais.
Naturalmente debater os temas mais importantes que estão na pauta nacional e mundial são
Portanto, os resultados aqui publicados, demonstram parte das pesquisas realizadas dentro da
Rede Brasileira de Pesquisa em Direitos Fundamentais e que pretende-se consolidar, cada
vez mais, como um espaço de referência e de debate sobre os mais importantes temas que
ocupam as agendas nacional e internacional.
São Paulo, 15 de novembro de 2016.
Prof. Dr. Carlos Luiz Strapazzon
Prof. Dr. Lucas Gonçalves da Silva
O DIREITO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA A VIVER EM RESIDÊNCIAS INCLUÍDAS NA COMUNIDADE
THE RIGHT OF PEOPLE WITH DISABILITIES TO LIVE IN RESIDENTIAL INCLUDED IN THE COMMUNITY
Elda Coelho De Azevedo Bussinguer Maristela Lugon Arantes
Resumo
Trata do direito fundamental à moradia adequada das pessoas com deficiência. Reconhecido
por diplomas legais internacionais e domésticos, esse direito é essencial para que essas
pessoas vivam com autonomia e independência. Garantir o Direito à moradia da pessoa com
deficiência é papel do poder público e incluí-la na sociedade é dever de todos. Somente com
políticas públicas voltadas para a educação e a conscientização do protagonismo da pessoa
com deficiência na sociedade se torna possível quebrar as barreiras atitudinais que impedem
sua inclusão social. O exemplo das residências inclusivas nos ensina que a sociedade ainda
não se despiu dessas amarras.
Palavras-chave: Pessoas com deficiência, Direito à moradia adequada, Barreiras atitudinais
Abstract/Resumen/Résumé
It deals with the right to adequate housing of persons with disabilities. Recognized by
international and domestic legislation, this right is essential for these people to live with
autonomy and independence. Ensure the right to housing the person with disabilities is the
role of government and include it in society is the duty of everyone. Only with public policies
for education and awareness of the role of people with disabilities in society it becomes
possible to break down attitudinal barriers that prevent their social inclusion. The example of
inclusive residences teaches us that society has not stripped of these bonds.
Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: People with disabilities, The right to housing,
INTRODUÇÃO
Direito reconhecido ao longo da história como inerente à condição humana, a moradia faz parte
de um rol de elementos essenciais à sobrevivência e procriação de espécie. Não somente no
plano material, mas também no plano psicológico, a moradia representa segurança, conforto e
aconchego para seus habitantes.
Enquanto uma pequena parcela da população reside em moradias bem estruturadas e com todos
os recursos indispensáveis ao atendimento de suas necessidades básicas e desejos de conforto,
a maioria está mal acomodada em regiões periféricas e sem infraestrutura necessária ao seu
bem-estar, privada das condições mais elementares que caracterizam um padrão aceitável de
moradia capaz de garantir uma qualidade de vida compatível com a dignidade humana. Parte
significativa da população humana mundial vive em aglomerados humanos que se encontram
fora dos limites do mínimo padronizado. Quando tratamos de Brasil, os dados nos evidenciam
uma condição ainda mais grave. Segundo o IBGE (2010) apenas 52% das moradias brasileiras
atendem aos padrões para serem consideradas adequadas ao bem estar da pessoa humana.
No plano internacional, o Direito à moradia foi declarado como Direito Humano em 1948, por
meio da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Outros importantes documentos
internacionais, como o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos – PIDCP e o Pacto
Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais – PIDESC, em 1966, também
reconheceram o Direito à moradia como Direito Humano. Especificamente sobre o tema aqui
tratado, destacamos que a Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, em 2006,
declarou o Direito de moradia para as pessoas com deficiências, além de sua liberdade de
escolher com quem e onde morar.
No Brasil, o primeiro relato de movimento social por moradia data de 1920, conforme tratam
Lilia Schwarcz e Heloisa Starling (2015) em obra sobre a história brasileira, quando fazem
relação entre a revolta de Canudos e o começo das favelas no Rio de Janeiro.
Como se pode notar, campo e cidade mostravam mais identificações que rupturas. O melhor exemplo talvez esteja na relação entre o nome Canudos e a realidade das favelas que se desenvolviam nos arredores da cidade. Foi no morro da Providência, na zona portuária, que se localizou a primeira favela do Rio de Janeiro, povoada pelos ex-combatentes de Canudos. Contam os cronistas que, junto com suas mulheres – as
O texto constitucional de 1934 foi pioneiro a tratar do Direito à moradia, “com forte caráter
social, passando a ser previsto como um benefício social de caráter coletivo, no que diz respeito
ao direito de propriedade”. (MONTEIRO, 2015, p. 65). Somente no ano de 2000, esse direito foi acrescido, expressamente, ao rol dos direitos sociais constitucionais, por meio da Emenda
Constitucional n° 26, embora esse direito já houvesse sido reconhecido por meio de Tratados
Internacionais.
Destacamos aqui o Direito à moradia adequada, tal qual determinado pelo Alto Comissariado
da Organização das Nações Unidas, com seus sete elementos componentes, quais sejam:
segurança na posse, disponibilidade de serviços, infraestrutura e equipamentos públicos, custo
acessível, habitabilidade, não discriminação e priorização de grupos vulneráveis, localização
adequada, adequação cultural.
No que se refere especificamente às pessoas com deficiência, o direito à moradia foi
reconhecido pela Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD) e seu
Protocolo Facultativo, aprovada pelo Senado Federal em 09 de julho de 2008, por meio do
Decreto Legislativo n° 186/2008e promulgada, posteriormente em 25 de agosto de 2009, pela
Presidência da República, sob Decreto n° 6949/2009.
Além de reconhecer inúmeros direitos fundamentais às pessoas com deficiência, a CDPD
quebrou o velho paradigma da pessoa com deficiência como destinatário de caridade e incapaz,
para colocá-la como protagonista da própria vida, sujeito de direitos e obrigações, objetivando
um tratamento igualitário com as pessoas sem deficiência.
Analisamos ainda, de forma prioritária, a liberdade de escolha reconhecida pela CDPD e pela
Lei Brasileira de Inclusão (LBI – Lei n° 13.146/15) e o direito de moradia das pessoas com
deficiência, sob o foco das residências inclusivas. Esse tipo de moradia tem como objetivo
principal incluir na sociedade as pessoas com deficiência, para que elas possam ter uma vida
com dignidade e em iguais condições com as outras pessoas.
Muitas barreiras são enfrentadas por esse grupo de pessoas para exercerem seus direitos.
Buscamos compreender se as barreiras atitudinais representam a materialização do preconceito
1 O DIREITO À MORADIA ADEQUADA COMO DIREITO FUNDAMENTAL
SOCIAL
Já no século XIX o problema da moradia desperta discussões acaloradas. Na Alemanha, em
1872, Friedrich Engels publicou a obra “Sobre a questão da moradia”, que criticava o
socialismo pequeno-burguês e burguês. Engels atribuía a escassez de moradia à Revolução
Industrial que ocorria na Alemanha e ainda questionava as soluções apresentadas por Proudhon
para o problema, as quais chamou de “charlatanice social”.
No momento em que os trabalhadores afluem em massa, as moradias dos trabalhadores são derrubadas aos montes. O resultado disso é a repentina escassez de moradia para os trabalhadores e a crise do pequeno comércio e da pequena indústria que dependem deles como clientela. Nas cidades que já nasceram como centros industriais, essa escassez de moradia é praticamente desconhecida. (ENGELS, 2015, p.26)
Engels (2015, p.39) alertava para a questão da expansão das metrópoles modernas, que atribuía
aos imóveis de determinadas áreas um valor irreal, que acabava por empurrar as classes
trabalhadores para as periferias. Esse problema ainda hoje assombra as cidades e faz surgir
inúmeras favelas nas zonas marginais das cidades.
Os primeiros sinais de reconhecimento do direito à moradia surgiram nas Constituições
Mexicana de 1917 e a de Weimar de 1919. “Nessas constituições é que surgem as primeiras menções à ideia de função social da propriedade que podem ser entendidas como correlatas do
direito à moradia.” (PANSIERI, 2012, p. 36) Em 1948, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a moradia adequada foi reconhecida como direito humano universal, aceito
e aplicável em todas as partes do mundo. Quando nos referimos ao Direito à moradia adequada,
devemos nos ater ao fato de que ele deve representar acesso a um lar e a uma comunidade que
lhes dê segurança para viver em paz, com dignidade e saúde física e mental. Fujamos da ideia
de que moradia é apenas uma construção pura e simples. Ela é um complexo que inclui a parte
física e sentimental da pessoa humana e, nela estão fincados os alicerces de sua vida.
Após a Segunda Guerra, com a desordem econômica e política instalada na Europa, o problema
da moradia agrava-se e faz crescer o movimento de luta por esse direito, Henri Lefebvre cita
que
descontentamento engendrado pela crise. Entretanto, não é reconhecido formal e
praticamente, a não ser como um apêndice dos “direitos do homem” (LEFEBVRE, 2015, p.26).
No Brasil, a Constituição de 1934, embora pioneira no reconhecimento de direitos sociais, teve
breve vigência e não teve força para preservar os direitos constitucionais que reconhecia. Os
direitos sociais limitavam-se a mera diretriz ética a ser seguida a gosto do Poder Executivo. Na
era Vargas, a Carta de 1937 apesar de outorgar alguns direitos sociais, provocou toda a
desarticulação da “hipótese de construção coletiva desses direitos, alinhando exercício do poder
no Executivo e desconstituindo todo espaço de luta que, enfim, poderiam caracterizar
verdadeiramente a conquista de direitos” (GONÇALVES, 2013, p.93-95).
A demora pela inclusão do Direito à moradia no texto constitucional demonstra a “histórica
resistência do Brasil ao cumprimento de alguns pontos centrais da agenda normativa
internacional em matéria de Direito à moradia”. (MONTEIRO, 2015, p.65)
Essa lentidão de reconhecimento de direitos fundamentais nas sociedades periféricas, como o
Brasil, se deve ao fato de que o sentido de igualdade nunca existiu de forma a contribuir para a
constituição da sociedade. Para Nelson Camatta Moreira, no Brasil, como em muitos países
periféricos e de modernidade tardia há o reflexo da desigualdade, por meio da “prevalência das
hierarquias, das relações personalistas e de parentesco, da apropriação privada do público, da
lei como expressão de privilégios, afinal da “naturalização da desigualdade” e da “construção
social da subcidadania” (MOREIRA, 2010, p.128).
A Organização das Nações Unidas promoveu, em Vancouver, no ano de 1976, a primeira
Conferência das Nações Unidas sobre Povoamentos Humanos (Habitat I). Desse encontro
resultaram a Declaração de Vancouver sobre os Povoamentos Humanos e o Plano Global
Vancouver. A importância desses planos se deve ao fato de que, além de prescreverem
recomendações para as ações nacionais e cooperações internacionais, atribuem aos
Estados-partes a responsabilidade pela implementação do direito à moradia adequada, “particularmente
no que se refere à criação de comunidades integradas nos aspectos social e racial, impondo-lhes
metas para a remoção de obstáculos à efetivação desse direito.” (MONTEIRO, 2015, p.46)
O Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, em sua sexta sessão de 1991, emitiu a
Observação Geral nº 04 estabelecendo os sete elementos componentes de uma moradia
do Direito à moradia não poderá ser feita de forma restritiva, posto que esse direito não se iguala
ao de propriedade. No Direito à moradia devem estar incluídos o direito a viver em paz, com
segurança e dignidade.
A historicidade é característica marcante do direito à moradia, sobretudo quando visto pelo
enfoque do direito fundamental constitucional. Em toda a história da humanidade, a questão
habitacional se fez presente na relação homem-sociedade, posto que está ligada ao exercício do
direito fundamental à vida. “Há muito o ser humano deixou de ser nômade e de ter uma vida
cada dia em um local. O homem, na Antiguidade, vivia de forma precária” (IGLESIAS, 2013,
p. 96).
Além da historicidade, temos que a inalienabilidade, a imprescritibilidade, a irrenunciabilidade,
a ilicitude de sua violação e a universalidade também constituem características do Direito à
moradia. Ele é inerente ao ser humano, pertencente à personalidade do indivíduo, ou seja,
inalienável. No máximo poderá haver uma variação no exercício desse direto, porém nunca
poderá ser considerado alienável.
Para melhor entendermos tais características, necessário se faz apresentar uma diferenciação do
direito de habitação para o direito à moradia. Temos, no direito à habitação, que “o elemento
volitivo que vincula a pessoa a determinado local pode ter caráter meramente temporário,
provisório” (MONTEIRO, 2015, p.25), consistindo numa relação de fato, que pode ser rompido a qualquer tempo.
Em outra via, o Direito à moradia deve estar sempre acompanhado de sua inviolabilidade e
proteção. Nele está incluído o Direito à subsistência, que é a expressão mínima do Direito à
vida. Esta também é a opinião de Loreci Nolasco, acrescentando que
O direito à moradia consiste na posse exclusiva e, com duração razoável, de um espaço onde se tenha proteção contra a intempérie e, com resguardo da intimidade, as condições para a prática dos atos elementares da vida: alimentação, repouso, higiene, reprodução, comunhão. Trata-se de um direito erga omnes. Nesse sentido, moradia é o lugar íntimo de sobrevivência do ser humano, é o local privilegiado que o homem normalmente escolhe alimentar-se, descansar e perpetuar a espécie. Constitui abrigo e proteção para si e os seus; daí nasce o direito à sua inviolabilidade e à constitucionalidade de sua proteção (NOLASCO, 2008, p.88).
Quando tratamos da imprescritibilidade do Direito à moradia nos referimos ao fato dele nunca
“É de certa notoriedade que o direito à moradia se exerce continuamente e jamais prescreve, apenas extingue-se com a morte de cada ser humano.” (IGLESIAS, 2013, p.98)
Outra importante característica do Direito à moradia é o da irrenunciabilidade. Se pensarmos
que viver de modo digno e adequado à condição inerente a todo ser humano,
independentemente de sua origem, sexo, raça, etnia ou religião, por lógico podemos inferir que
os direitos aí englobados são irrenunciáveis, posto que não se pode abrir mão de morar
dignamente. Também devemos alertar que morar de forma alternativa, livre e desapegada por
opção da própria pessoa é um direito de escolha que lhe cabe, isso não representa uma vida sem
dignidade. As pessoas são livres para escolherem onde, como e com quem morar. Cabe ao
Estado garantir o direito à moradia, com qualidade de vida a um nível adequado, com
observância dos princípios da cidadania, dignidade da pessoa humana e os valores sociais do
trabalho e da livre-iniciativa, elencados no art. 1° da Constituição da República. Ao Estado
também cabe o papel de defender o direito à moradia de qualquer ameaça ou violação,
regulamentando os procedimentos de desapropriação e os desapossamentos que por ventura se
fizerem necessários, com a finalidade de se garantirem direitos fundamentais dos moradores
das comunidades atingidas (NASCIMENTO, 2014, p.26)
Assim como todo direito fundamental, o direito à moradia deve estar protegido de qualquer ato
que inviabilize seu exercício ou importe em seu retrocesso. Da mesma forma, qualquer conduta
que se constitua em violação a esse direito, deverá ser considerado ilícita. Atos legislativos
infraconstitucionais ou de autoridade pública que importem em lesão, retrocesso do direito já
conquistado ou que tendam a inviabilizá-lo, não devem se sustentar. Também não cabe aqui a
alegação, por parte do poder público, da tese da reserva do possível para se justificar a falta de
respeito a esse direito. Embora o direito à moradia tenha aplicabilidade imediata, pois é norma
de direito fundamental, cabe ao Estado o dever atuar para proteger e garantir seu pleno
exercício.
A alegação, por parte do poder público, das teses da reserva do possível e do mínimo existencial
para se justificar a falta de respeito a esse direito são inaceitáveis. O mínimo existencial,
segundo Ingo Sarlet, deve ser diferenciado do chamado mínimo vital ou mínimo de
sobrevivência. Estes, apenas dizem respeito à garantia da vida humana, biológica, enquanto o
A universalidade é outra marca do direito à moradia, posto que inerente a todos os indivíduos,
independentemente de qualquer outra característica ou ideologia adotada. “Apesar das
diferenças, todos gozam plenamente do exercício desse direito fundamental. Dessa forma, não
só os nacionais, mas também os estrangeiros domiciliados no país são destinatários da norma
constitucional.” (IGLESIAS, 2013, p. 99)
No sentido de uma melhor compreensão dos elementos que devem compor o Direito à moradia
adequada utilizamo-nos da Observação Geral nº 04, do Comitê de Direitos Econômicos, Sociais
e Culturais, emitida em sua sexta sessão de 1991. (UNITED NATIONS, 1991)
a) Segurança da posse: a moradia não é adequada se os seus ocupantes não têm um grau de segurança de posse que garanta a proteção legal contra despejos forçados, perseguição e outras ameaças.
b) Disponibilidade de serviços, materiais, instalações e infraestrutura: a moradia não é adequada, se os seus ocupantes não têm água potável, saneamento básico, energia para cozinhar, aquecimento, iluminação, armazenamento de alimentos ou coleta de lixo.
c) Economicidade: a moradia não é adequada, se o seu custo ameaça ou compromete o exercício de outros direitos humanos dos ocupantes.
d) Habitabilidade: a moradia não é adequada se não garantir a segurança física e estrutural proporcionando um espaço adequado, bem como proteção contra o frio, umidade, calor, chuva, vento, outras ameaças à saúde.
e) Acessibilidade: a moradia não é adequada se as necessidades específicas dos grupos desfavorecidos e marginalizados não são levados em conta.
f) Localização: a moradia não é adequada se for isolada de oportunidades de emprego, serviços de saúde, escolas, creches e outras instalações sociais ou, se localizados em áreas poluídas ou perigosas.
g) Adequação cultural: a moradia não é adequada se não respeitar e levar em conta a expressão da identidade cultural.
Todas as pessoas têm o direito de morar sem o medo de sofrer remoção, ameaças indevidas ou
inesperadas. Muitas são as formas de se garantir essa segurança da posse. Elas variam de acordo
com o sistema jurídico e a cultura de cada país, região, cidade ou povo. Garantir a tranquilidade
do morador contra tomadas repentinas da posse é elemento essencial para que a pessoa possa
se estabelecer com sua família, criando vínculos com o lugar e a comunidade à sua volta. A
segurança da posse é muito importante quando tratamos de grupos vulneráveis, como mulheres,
idosos, comunidade indígenas e negras e pessoas com deficiência.
O Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas denunciou os desalojamentos forçados produzidos
por obras públicas para abrigar os grandes eventos esportivos são motivo de preocupação da
comunidade internacional. Um relatório apresentado pela Relatora Especial da ONU sobre
Moradia Adequada, Raquel Rolnik na 22ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU,
em Genebra, na Suíça, alerta sobre as remoções forçadas por ocasião da Copa do Mundo de
Além da posse segura, a moradia deve ser conectada às redes de água, saneamento básico, gás
e energia elétrica; em suas proximidades deve haver escolas, creches, postos de saúde, áreas de
esporte e lazer e devem estar disponíveis serviços de transporte público, limpeza, coleta de lixo,
entre outros. Tais serviços são de fundamental importância para a saúde e a qualidade de vida
do indivíduo. “Dar ao indivíduo o direito de morar é promover-lhe o mínimo necessário a uma
vida decente e humana.” (NOLASCO, 2008, p.88)
O custo para a aquisição ou aluguel da moradia deve ser acessível, adequado ao orçamento
familiar, de modo a permitir o atendimento de outros direitos humanos, como o direito à
alimentação, ao lazer, educação, saúde etc. Da mesma forma, gastos com a manutenção da casa,
como as despesas com luz, água e gás, também não podem ser muito onerosos, sob pena de
inviabilizar esse direito e levar o indivíduo à condição de miséria. A moradia adequada tem que
apresentar boas condições de proteção contra frio, calor, chuva, vento, umidade e, também,
contra ameaças de incêndio, desmoronamento, inundação e qualquer outro fator que ponha em
risco a saúde e a vida das pessoas.
Além disso, o tamanho da moradia e a quantidade de cômodos (quartos e banheiros,
principalmente) devem ser condizentes com o número de moradores. Espaços adequados para
desenvolver as atividades diárias necessárias para uma vida digna. Essas condições ajudam a
prevenir doenças, melhoram a qualidade de vida e a saúde dos moradores. Para ser classificada
como adequada, a moradia deve atender aos padrões mínimos de habitabilidade, oferecer o
conforto necessário à proteção e ao descanso de seus habitantes.
Os grupos vulneráveis devem ser contemplados com o acesso à moradia adequada. Idosos,
mulheres, crianças, pessoas com deficiência, pessoas com HIV, vítimas de desastres naturais
devem ter prioridade nas políticas públicas voltadas para a moradia. As leis e políticas
habitacionais devem priorizar o atendimento a esses grupos e levar em consideração suas
necessidades especiais. Além disso, para realizar o Direito à moradia adequada é fundamental
que o direito a não discriminação seja garantido e respeitado.
A efetivação do direito à moradia está intimamente ligada à efetivação do direito à cidade, que
compreende a integração dos segmentos sociais excluídos e marginalizados de nossa sociedade
ao desenvolvimento econômico, de modo que possam obter e usufruir os benefícios e a riqueza
No Brasil, existem milhões de pessoas vivendo em lugares ainda não contemplados com esses
itens e muitas vivem sem o básico, em comunidades que apenas é possível o acesso de avião
ou barcos. As comunidades ribeirinhas do Amazonas são um bom exemplo dessa realidade. A
falta de recursos, a falta de instalações sanitárias e de desenvolvimento fazem com que essas
comunidades permaneçam na invisibilidade social.
A forma de construir a moradia e os materiais utilizados na construção devem expressar tanto
a identidade quanto a diversidade cultural dos habitantes da morada. Reformas e modernizações
devem também respeitar as dimensões culturais da habitação.
A importância das questões culturais fica clara nas palavras de Vitor Monteiro, que cita,
A título ilustrativo, menciona-se o caso das populações de origem indígena, para quem os direitos habitacionais são indissolúveis do direito sobre a terra. Nesse contexto, apresenta-se como de grande relevância o aspecto da tradição e do conhecimento intergeracional como forma de manutenção da identidade, sobrevivência e viabilidade cultural dessas populações (MONTEIRO, 2015, p.57)
Diante do estudo realizado do Direito à moradia como direito social fundamental, do qual o
Estado figura como principal garantidor, podemos extrair a importância desse direito para o ser
humano. Ele está umbilicalmente ligado ao Direito à vida sob todos os seus aspectos. Há uma
complementaridade entre esse direito e o direito à saúde física e mental, à integridade física, à
inviolabilidade de domicílio, ao segredo doméstico e outros. “A propósito, os direitos
fundamentais não devem ser interpretados isoladamente, mas sempre de uma forma conjunta
com a finalidade de alcance dos objetivos previstos pelo legislador constituinte.” (IGLESIAS,
2013, p. 100)
Na mesma esteira, Sarlet (2015, p.596) ensina que os direitos sociais têm uma dupla dimensão,
uma subjetiva e outra objetiva. Aquela tem o condão de torná-los exigíveis em favor de seus
respectivos titulares em face de seus destinatários. Quando da visão objetiva, esta reflete a
estreita ligação desses direitos com os fins e valores constitucionais aos quais todos devem
respeito.
Os direitos fundamentais sociais de cunho prestacional, como é o caso do Direito à moradia,
estão voltados para a igualdade e da liberdade material, objetivando, “a proteção da pessoa
contra as necessidades de ordem material e a garantia de uma existência com dignidade”
As lutas dos movimentos sociais sempre tiveram sua importância na conquista por esse direito.
Seja qual for o momento histórico vivido, “a questão habitacional é um problema do indivíduo e da sociedade, que está relacionado ao exercício de outro direito: o direito à vida. Há muito o
ser humano deixou de ser nômade e de ter uma vida cada dia em um local “(IGLESIAS, 2013,
p. 96).
Conforme há o crescimento das manifestações sociais, nota-se que há uma descrença nos
direitos fundamentais. Estes passam a ser apontados, pelos movimentos sociais, como
privilégios para determinados grupos sociais. Aponta Sarlet que basta uma simples análise das
manifestações sociais da última década para se notar o clamor público por redução desses
direitos, tais como pela pena-de-morte; pela redução da maioridade penal; pela redução da
ampla defesa. Diante dessas situações, fica claro que a cada dia os direitos fundamentais são
levados menos a sério. Nesse contexto, “abre as portas para a manipulação e toda a sorte de medidas arbitrárias e erosivas do Estado democrático de Direito, ainda que sob o pretexto de
serem indispensáveis para a segurança social, parece evidente e reclama medidas urgentes”
(SARLET, 2003, p.336).
A conscientização em torno da fundamentalidade dos direitos sociais fez surgir uma maior
exigibilidade por parte dos movimentos sociais que cresceram ao longo dos anos, sobretudo
após a Constituição de 1988. Esses movimentos reforçam e remoldam o conceito de cidadania,
além de renovarem as lutas populares por prestações estatais que permitam o desfrute desses
direitos. Também Ingo Sarlet (2009, p. 253) afirma que há uma necessidade constante de se
apostar numa ideia republicana, democrática responsável e inclusiva para que realmente todos
possam ter os direitos fundamentais, em especial os sociais, presentes em suas vidas.
São os movimentos sociais que impulsionam a luta pelos direitos, sobretudo dos grupos
vulneráveis, historicamente empurrados para as margens das metrópoles e massacrados pelo
Poder Público. Bruno Pereira Nascimento, ao tratar do Direito à moradia no que tange aos
grupos vulneráveis, ensina que
Além das classes pobres, outro grupo que sofre a segregação para as periferias é o das pessoas
com deficiência, principalmente quando são desprovidos de laços familiares que lhes dêem o
apoio necessário para uma vida digna. Os abrigos e instituições para pessoas com deficiência
se localizam em bairros de classe baixa, onde ficam invisíveis aos olhos da sociedade. Ali, essas
pessoas passam anos de sua vida, muitas vezes sem ao menos sair dos muros institucionais.
Após breves considerações a respeito do direito à moradia, passaremos a examinar o direito à
moradia das pessoas com deficiência, considerando-o em suas peculiaridades.
3. O DIREITO À MORADIA DAS PESSOAS COM DEFICIENCIA
Para tratar de tão importante tema, temos que primeiro entender o conceito de deficiência que
passou por várias transformações na história. Em tempos não muito distantes, as pessoas com
deficiência eram vistas como incapazes de exercerem direitos e ficavam excluídas da sociedade,
relegadas às instituições ou aprisionadas em seus próprios lares. De acordo com Débora Diniz
(2007, p.11) somente a partir de 1970 os primeiros estudos sobre deficiência começaram a ser
divulgados no Reino Unido e nos Estados Unidos. O que antes era restrito ao campo médico
passou também ao campo das humanidades.
O conceito de deficiência deixa de se basear em uma simples expressão de uma lesão que
restringe a participação da pessoa em sociedade e se torna um conceito complexo, que
reconhece o corpo com lesão, mas denuncia a estrutura social que oprime a pessoa deficiente.
“Assim como outras formas de opressão pelo corpo, como o sexismo ou o racismo, os estudos sobre deficiência descortinaram uma das ideologias mais opressoras de nossa vida social: a que
humilha e segrega o corpo deficiente.” (DINIZ, 2007/p.11)
E a segregação foi a base do tratamento das pessoas com deficiência durante longos anos. Com
o passar do tempo e o reconhecimento dos direitos da pessoa com deficiência, em especial por
meio da Convenção sobre os Direitos da Pessoa (CDPD) com Deficiência (CDPD) que trouxe
em seu artigo 19, o direito de viver na comunidade e de fazer escolhas. Direito igualmente
reconhecido para todas as pessoas, sem qualquer distinção. Esse artigo da (CDPD) veio no
sentido de combater as antigas práticas sociais, que mantinham pessoas com deficiência em
Além de outros importantes direitos, a CDPD reconhece o direito das pessoas com deficiência
a viverem em comunidade, escolhendo o modo e com quem desejam morar. Ainda obriga aos
Estados partes a tomarem medidas que possibilitem a vida independente da pessoa com
deficiência. O Direito à moradia da pessoa com deficiência deve observar todos elementos que
compõem a moradia adequada, já estudados no item anterior, além de suas peculiaridades, a
fim de atender às características pessoais de cada pessoa, no que tange à acessibilidade.
A Lei Brasileira de Inclusão vem na mesma esteira da CDPD no sentido de garantir o Direito à
moradia da pessoa com deficiência.
CAPÍTULO V DO DIREITO À MORADIA
Art. 31. A pessoa com deficiência tem direito à moradia digna, no seio da família natural ou substituta, com seu cônjuge ou companheiro ou desacompanhada, ou em moradia para a vida independente da pessoa com deficiência, ou, ainda, em residência inclusiva.
§ 1o O poder público adotará programas e ações estratégicas para apoiar a criação e a
manutenção de moradia para a vida independente da pessoa com deficiência. § 2o A proteção integral na modalidade de residência inclusiva será prestada no
âmbito do Suas à pessoa com deficiência em situação de dependência que não disponha de condições de autossustentabilidade, com vínculos familiares fragilizados ou rompidos.
Art. 32. Nos programas habitacionais, públicos ou subsidiados com recursos públicos, a pessoa com deficiência ou o seu responsável goza de prioridade na aquisição de imóvel para moradia própria, observado o seguinte:
I - reserva de, no mínimo, 3% (três por cento) das unidades habitacionais para pessoa com deficiência;
II - (VETADO);
III - em caso de edificação multifamiliar, garantia de acessibilidade nas áreas de uso comum e nas unidades habitacionais no piso térreo e de acessibilidade ou de adaptação razoável nos demais pisos;
IV - disponibilização de equipamentos urbanos comunitários acessíveis;
V - elaboração de especificações técnicas no projeto que permitam a instalação de elevadores.
§ 1o O direito à prioridade, previsto no caput deste artigo, será reconhecido à pessoa
com deficiência beneficiária apenas uma vez.
§ 2o Nos programas habitacionais públicos, os critérios de financiamento devem ser
§ 3o Caso não haja pessoa com deficiência interessada nas unidades habitacionais
reservadas por força do disposto no inciso I do caput deste artigo, as unidades não utilizadas serão disponibilizadas às demais pessoas.
Art. 33. Ao poder público compete:
I - adotar as providências necessárias para o cumprimento do disposto nos arts. 31 e 32 desta Lei; e
II - divulgar, para os agentes interessados e beneficiários, a política habitacional prevista nas legislações federal, estaduais, distrital e municipais, com ênfase nos dispositivos sobre acessibilidade.
Devemos lembrar que uma moradia acessível é aquela onde o seu habitante pode se locomover
e desenvolver todas as suas tarefas diárias, sem que precise de ajuda de um terceiro, a menos
que suas próprias limitações físicas o impeçam. E, se esse for o caso, a CDPD diz que se a
pessoa com deficiência necessitar de auxílio para atividades cotidianas ele deverá ter ao seu
dispor um assistente pessoal, ou seja, um profissional treinado para auxilia-lo nas tarefas diárias,
porém, sem interferir na vontade de seu assistido. Ele apenas serve de facilitador para que a
pessoa com deficiência seja independente. Uma pessoa com deficiência pode querer morar
sozinho ou constituir sua própria família. Ela jamais poderá ser condenada a morar com seus
pais, com sua família de origem ou numa residência inclusiva, pelo fato da dependência na
realização de tarefas. O Lei Brasileira de Inclusão (LBI) também trouxe, em seu artigo 3°, o
conceito de atendente pessoal, que pode ser pessoa, mas não necessariamente, membro da
família, que, com ou sem remuneração, assiste ou presta cuidados básicos e essenciais à pessoa
com deficiência no exercício de suas atividades diárias, excluídas as técnicas ou os
procedimentos identificados com profissões legalmente estabelecidas;
A Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência reconhece, em seu artigo 19, o
Direito à Moradia, à vida independente e inclusão na sociedade. Frisando que essas pessoas a
viver em comunidade, com a mesma liberdade de escolha que as demais pessoas. Além de
imputar aos Estados que a ratificaram, a responsabilidade de tomarem medidas efetivas e
apropriadas para facilitar às pessoas com deficiência o pleno gozo desse direito e sua plena
inclusão e participação na comunidade, inclusive assegurando que elas possam escolher seu
local de residência e onde e com quem morar, em igualdade de oportunidades com as demais
pessoas, e que não sejam obrigadas a viver em determinado tipo de moradia; que tenham acesso
a serviços de apoio em domicílio ou em instituições residenciais ou a outros serviços
apoio para que vivam e sejam incluídas na comunidade e para evitar que fiquem isoladas ou
segregadas da comunidade; que os serviços e instalações da comunidade para a população em
geral estejam à sua disposição, em igualdade de oportunidades, e atendam às suas necessidades.
Outro aspecto importante desse artigo é que ele traz a moradia para vida independente como
opção para pessoa com deficiência. Esse modelo foi criado em Berkeley, Califórnia, em 1972
e chamado de Centro para Vida Independente. Seus idealizadores foram estudantes
universitários com deficiência que, desejando tomar o controle das suas vidas, recusaram a
institucionalização. Trata-se de um projeto inspirado na filosofia da Vida Independente, onde o
sujeito com deficiência deixa de ser cuidado passivamente para ingressar numa situação de
autonomia de vida. É uma política de fomento à autodeterminação desse grupo que sempre foi
excluído da vida em comunidade. Foi a partir desta experiência que se consolidou o conceito
de Vida Independente, que e muito anterior a Convenção dos Direitos da Pessoa com
Deficiência e teve um papel importante na sua adoçado, pois para que haja sua efetivação, deve
existir vida independente.
Segundo a European Network on Independent Living (ENIL)1 que é uma das maiores
organizações sociais do mundo, integrada por vários movimentos sociais pelos direitos
humanos e sobretudo das pessoas com deficiência no que tange à sua independência e
autodeterminação,
A vida independente é a demonstração diária dos direitos humanos, baseados em políticas para a deficiência. A vida independente é possível por meio da combinação de vários fatores ambientais e individuais que permitem às pessoas com deficiência ter controle sobre suas próprias vidas. Isto inclui a oportunidade de fazer escolhas e tomar decisões sobre onde, com quem e de que modo queiram viver. Os serviços devem ser acessíveis a todos e fornecidos com base na igualdade de oportunidades, permitindo às pessoas com deficiência uma maior flexibilização em sua vida diária. Vida independente requer ambiente construído e transporte acessíveis, disponibilidade de ajuda técnica, acesso ao assistente pessoal e serviços de base da comunidade. É necessário salientar que vida independente é para todas as pessoas com deficiência, independentemente do grau de suporte que necessitem. (ENIL, 2014, p.22)2
1The European Network on Independent Living (ENIL) is a Europe-wide network of disabled people,
with members throughout Europe. ENIL is a forum for all disabled people, Independent Living organisations and their non-disabled allies on the issues of Independent Living. ENIL represents the disability movement for human rights and social inclusion based on solidarity, peer support, deinstitutionalisation, democracy, self-representation, cross disability and self-determination.
2 Independent Living is the daily demonstration of human rights-based disability policies. Independente
As residências Inclusivas são outra modalidade de moradia para pessoas com deficiência.
Surgidas no contexto da desinstitucionalização e empoderamento desse grupo, esse tipo de
moradia foi pensado para ser uma opção para as pessoas com deficiência que tiveram seus laços
familiares rompidos e/ou viveram desde a tenra idade em abrigos, não tendo condições de viver
com independência. Esse tipo de moradia consiste em residências com estruturas adequadas,
contando com apoio psicossocial para o atendimento das necessidades individuais de cada
morador. No Brasil a implementação dessas moradias começou em 2011, com o Plano Nacional
dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Plano Viver sem limite, instituído pelo Decreto nº
7.612/2011.
A residência inclusiva é uma modalidade de serviço de acolhimento do Sistema Único de
Assistência Social - SUAS. Cada moradia está organizada em pequenos grupos de até 10
pessoas, cuja acolhida e convivência promove o desenvolvimento de capacidades adaptativas à
vida diária, autonomia e participação social. Atua em articulação com os demais serviços no
território para garantir a inclusão social dos residentes.
A moradia deve estar em local que ofereça oportunidades de desenvolvimento econômico,
cultural e social. Nas proximidades do local da moradia deve haver oferta de empregos e fontes
de renda, meios de sobrevivência, rede de transporte público, supermercados, farmácias,
correios, escolas e outras fontes de abastecimento básicas. A localização da moradia também
deve permitir o acesso a bens ambientais, como terra e água, e a um meio ambiente equilibrado.
É importante uma observação sobre a abrangência das pessoas com doenças psiquiátricas pela
CDPD. No conceito de deficiência trazido pela Convenção não há nenhuma objeção quanto às
pessoas com doenças mentais ou psiquiátricas. Assim, entendemos que não podemos fazer
distinção entre pessoas com deficiência ou doença mental ou qualquer outro tipo de deficiência.
Abrir as portas das instituições e permitir que essas pessoas vivam suas vidas com dignidade é
um dos objetivos trazidos pela CDPD. No Brasil, ao contrário de muitos países da Europa, as
pessoas com transtornos psiquiátricos ainda são abrangidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS)
e com plano de desinstitucionalização semelhante ao Viver Sem Limites. Trata-se do plano De
Volta pra Casa, que cuida de abrigar em residências terapêuticas os egressos dos hospitais
psiquiátricos brasileiros. Assim, temos dois planos de governo com projetos semelhantes: O
Plano Viver Sem Limites, no âmbito do SUAS, para pessoas com deficiência e o Programa De
Volta para Casa, no âmbito do SUS, para pessoas com distúrbios psiquiátricos.
O Programa de Volta para Casa foi instituído pela Lei Federal 10.708 de 31 de julho de 2003 e
dispõe sobre a regulamentação do auxílio-reabilitação psicossocial a pacientes que tenham
permanecido em longas internações psiquiátricas. O objetivo deste programa é contribuir
efetivamente para o processo de inserção social dessas pessoas, incentivando a organização de
uma rede ampla e diversificada de recursos assistenciais e de cuidados, facilitadora do convívio
social, capaz de assegurar o bem-estar global e estimular o exercício pleno de seus direitos civis,
políticos e de cidadania. O Programa De Volta para Casa atende ao disposto na Lei 10.216/01,
que determina que os pacientes longamente internados ou para os quais se caracteriza a situação
de grave dependência institucional, sejam objeto de política específica de alta planejada e
reabilitação psicossocial assistida. O auxílio-reabilitação psicossocial, instituído pelo Programa
de Volta para Casa, também tem um caráter indenizatório àqueles que, por falta de alternativas,
foram submetidos a tratamentos aviltantes e privados de seus direitos básicos de cidadania.
A desinstitucionalização advinda da reforma psiquiátrica, não significa a simples
desospitalização, mas sim a desconstrução do modelo arcaico abstrato, focado na doença e no
erro, para um tratamento onde o sujeito é tratado na sua existência, de forma concreta, com base
na sua condição de vida. “O tratamento deixa de ser a exclusão em espaços de violência e
mortificação para tornar-se criação de possibilidades concretas de sociabilidade a
subjetividade” (AMARANTE, 1995, p.492).
Os modelos de desinstitucionalização das pessoas com doença psiquiátrica e as pessoas com
deficiência são semelhantes em propósitos e em reconhecimento dessas pessoas como sujeito
de direitos. Não importa se um ou outro grupo more em Residências Inclusivas ou Residências
Terapêuticas, o direito a viver em comunidade está assegurado a qualquer pessoa.
Amarante (1995, p.494) ainda ensina que essa é uma questão ética e que de o sucesso
terapêutico-assistencial está também fundado na resposta da sociedade a esse novo modo de
tratar o diferente, sobretudo, o que vive em desvantagem social.
A inclusão social da pessoa com deficiência ainda está longe do considerado bom, pois, muitas
e maus momentos, o trabalho e o lazer, a educação e a saúde e muitos outros direitos já
conquistados ao longo do tempo. O cuidado de não se criar novamente quistos segregatórios
deve estar em primeiro lugar e o poder público não pode se negar a cumprir o seu papel. Para
Henri Lefebvre a segregação não pode ser decretada publicamente nos países democráticos e
disfarçadamente, estes adotam uma ideologia humanista, porém demagógica. “A segregação
prevalece mesmo nos setores da vida social que esses setores públicos regem mais ou menos
facilmente, mais ou menos profundamente, porém sempre” (LEFEBVRE, 2015, p.98).
O grande fator impeditivo da efetivação do Direito à moradia para pessoas com deficiência,
sobretudo as que vivem em residências inclusivas, são as barreiras atitudinais. O preconceito e
a discriminação dificultam a inserção dos moradores nas comunidades. A falta de aceitação
dessas pessoas nos bairros onde as residências inclusivas estão implantadas é ainda um ponto a
ser trabalhado em políticas públicas voltadas para as comunidades. O interesse da sociedade
em inserir essas pessoas é fundamental para que elas se sintam abrigadas e protegidas no seio
da comunidade.
Zigmund Bauman explica o motivo pelo qual a grande maioria dos moradores da comunidade
se opõe ao novo, ao diferente, à novidade. O fechamento hermético das comunidades em torno
de si mesmas, embaça o olhar sobre o outro e o transforma em “alien”, como cita o filósofo.
Segundo essa noção, comunidade significa mesmice, e a “mesmice” significa a ausência do Outro, especialmente um outro que teima em ser diferente, e precisamente por isso capaz de causar surpresas desagradáveis e prejuízos. Na figura do estranho
(não simplesmente o “pouco familiar”, mas o alien, o que está “fora do lugar”), o medo da incerteza, fundado na experiência da vida, encontra a largamente procurada, e bem-vinda corporificação (BAUMAN, 2003, p.104).
O modelo de moradia inclusiva pode ser comparado às instituições abertas que Franco Basaglia
sustenta quando trata de instituições psiquiátricas, posto que inúmeras vezes a deficiência
intelectual é confundida com a doença mental. Tal confusão agrava a discriminação, posto que
o estigma da loucura ainda está muito presente na sociedade.
tomada de consciência de seu grau de escravidão diante de um sistema social que se mantêm graças a executantes ignaros e silenciosos. (BASAGLIA, 1985:311)
.
A LBI imputa ao poder público o dever de adotar medidas que tornem efetivo o direito de viver
em residências para vida independente, apoiando sua criação e manutenção e deixa claro o
dever do Estado de apoiar a criação e manutenção desse tipo moradia. Alguns modelos de
Centros de Vida Independente para pessoas com Deficiência ou Idosos vêm dando bons
resultados na Europa. No Brasil, começam a surgir programas semelhantes, com base no
modelo europeu. O que nos falta é a dificuldade de enxergar a pessoa com deficiência como
sujeito de direitos e capaz de exercer quase todas as atividades cotidianas, mesmo que de
maneira diversa da padronizada. O legislador também não deixou de abordar a questão da
prioridade de aquisição de imóvel para moradia própria, nos programas habitacionais públicos
ou subsidiados com recursos públicos, desde que observadas as regras dos incisos do artigo 32,
que são bem autoexplicativos.
A reserva de no mínimo 3% (três por cento) das unidades habitacionais não foi novidade trazida
pela LBI. Ela apenas reproduziu a regra da Portaria nº 610, do Ministério das Cidades, publicada
em 27 de dezembro de 2011 que já estabelecia esse percentual para idosos e pessoas com
deficiência quando beneficiários do Programa Minha Casa Minha Vida do governo federal.
Desta forma, a LBI veio a confirmar a prioridade da pessoa com deficiência para aquisição de
unidades habitacionais adaptadas.
Além disso, há a garantia de acessibilidade em todas as áreas de uso comum, ou seja, todas as
áreas compartilhadas pelos moradores devem ser realmente acessíveis, para que a pessoa com
deficiência possa desfrutar de tudo o que o conjunto habitacional proporcione aos demais
moradores. Até mesmo as áreas infantis devem ser adaptadas para as crianças com deficiência,
com brinquedos que proporcionem seu lazer e inclusão social. Ainda se a unidade residencial
não estiver localizada no piso térreo, deverá ser plenamente acessível.
Devemos também atentar para o fato de que as adaptações razoáveis, assim como conceitua a
lei devem proporcionar que a pessoa com deficiência possa gozar e exercer seus direitos com
liberdade e igualdade de condições com outras pessoas. Talvez o termo adaptações razoáveis
possa induzir ao raciocínio errôneo de que essas não precisem ser ótimas e que possam ser
como o que é justo, que leva à equidade e que deve estar dentro do direito (MICHAELIS,
2016), logo, observando as regras do Decreto 5296/04.
A obrigatoriedade de que todo mobiliário urbano seja acessível deve ser observada, permitindo
assim o uso por todas as pessoas e não somente as com deficiência ou mobilidade reduzida.
Obras que não observam as regras de acessibilidade se tornam grandes problemas para as
pessoas com deficiência ou que tenham dificuldade de locomoção, impedindo-as de se
locomover ou exercer seus direitos. O artigo 16 do Decreto 5296/04 também esclarece as
normas para a instalação dos equipamentos públicos, garantindo segurança e mobilidade das
pessoas com as mais variadas deficiências, além das que têm mobilidade reduzida. Quando um
imóvel não apresenta acessibilidade, ele não pode abrigar uma pessoa com deficiência, o que
faz se sentir excluída do ambiente. Esses constantes atos discriminatórios praticados ao longo
do tempo pela sociedade são responsáveis por reduzir a liberdade e os direitos das pessoas com
deficiência.
O poder público deve ser responsável por garantir o acesso à moradia da pessoa com deficiência
e suas famílias. Em qualquer nível de governo, seja federal, distrital, estadual ou municipal, as
ações em prol da política habitacional sempre deverão garantir o direito à moradia da pessoa
com deficiência, com todas as suas características próprias. Garantir a inclusão social desse
grupo é dever de todos e o administradores não podem se negar a promover políticas públicas
de incentivos aos programas de moradia e inclusão social. Essas políticas deverão ser
divulgadas de forma acessível, de modo a atingir todas as pessoas com deficiência. Quando
tratamos de deficiência, essa divulgação significa transmitir a informação por todos os meios
necessários para atingir esse grupo, seja com a língua brasileira de sinais – Libras, com a
utilização de tecnologia assistiva, áudio-descrição, informativos impressos em Braille, dentre
outros.
A inclusão social do deficiente ainda está longe do considerado bom, muitas barreiras físicas e
comportamentais impedem esse grupo de partilhar com a sociedade os bons e maus momentos,
o trabalho e o lazer, a educação e a saúde e muitos outros direitos já conquistados ao longo do
tempo. O cuidado de não se criar novamente quistos segregatórios deve estar em primeiro lugar
e o poder público não pode se negar a cumprir o seu papel. Henri Lefebvre critica com
propriedade,
transforma em utopia no sentido mais desusado, quando não em demagogia. A segregação prevalece mesmo nos setores da vida social que esses setores públicos regem mais ou menos facilmente, mais ou menos profundamente, porém sempre (LEFEBVRE, 2015, p.98).
E é essa responsabilidade do poder público pela garantia do Direito à moradia, direito social
fundamental, que não pode ser afastada pelos argumentos de mínimo existencial e da reserva
do possível. Os direitos fundamentais, uma vez reconhecidos no sistema jurídico, criam para o
Estado a obrigação de não supressão ou de não restrição inadequada, ou seja, há para essa
categoria de direitos a necessidade de observação do princípio do não retrocesso. As pessoas
com deficiência têm um histórico de lutas por seus direitos, poucas são as que chegam a cargos
de chefia ou ocupam lugares de destaque na sociedade. Já não deve mais haver na sociedade
lugar para discriminação e preconceito por qualquer que seja o motivo. Vivemos numa
sociedade plural, diversificada e somente entendo os valores da convivência com o outro é que
poderemos aprender o verdadeiro significado de dignidade humana.
4. CONCLUSÃO
A trajetória de lutas sociais percorrida pelas pessoas com deficiência culminou com o
reconhecimento desse grupo como sujeito de direitos. Dentre todos os direitos fundamentais até
hoje conquistados, o Direito à moradia é um dos mais importantes, pois, ele garante a proteção,
o abrigo da família, o repouso e o referencial na vida da pessoa.
A pessoa com deficiência tem seu Direito à moradia reconhecido pela Convenção sobre os
Direitos da Pessoa com Deficiência e pela Lei Brasileira de Inclusão, além de outros diplomas.
Mas, esse grupo goza de Direito à moradia adequada, adaptada às suas necessidades, para que
possa viver com autonomia e independência. A quebra de paradigma trazido pela LBI
representa um avanço no olhar sobre a pessoa com deficiência, que sai do papel de destinatário
da caridade para protagonista de sua vida.
Garantir o Direito à moradia da pessoa com deficiência é papel do poder público e incluí-la na
sociedade é dever de todos, Estado, sociedade e família. Somente com políticas públicas
voltadas para a educação e a conscientização do lugar da pessoa com deficiência na sociedade
é que conseguiremos quebrar as barreiras atitudinais que impedem sua inclusão social.
representando as maiores barreiras atitudinais impeditivas da efetivação dos direitos dos grupos
vulneráveis. Romper essas barreiras não é tarefa fácil, porém possível.
O exemplo das residências inclusivas nos ensina que a sociedade contemporânea ainda não se
despiu das amarras do preconceito. Os grupos que nelas vivem lutam por seu lugar ao sol numa
comunidade fechada em seus conceitos arcaicos, que não possibilitam a convivência
harmônica, voltada para a alteridade, na qual todos seriam beneficiados pelo aprendizado
mútuo. Até quando?
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