NOVAS TENDÊNCIAS PARA O EMPREENDEDOR INDIVIDUAL EIRELI EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA

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NOVAS TENDÊNCIAS PARA O EMPREENDEDOR INDIVIDUAL EIRELI – EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA

Cristina Dias da Silva Torres⁽¹⁾

Graduada em Letras/Literatura pela FAFI Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Madre Gertrudes de S. José (2001).

Graduanda em Direito pelo Centro Universitário São Camilo - Espírito Santo.

Especialização (em andamento) em Gestão de Políticas Públicas para Gênero e Raça pela Universidade Federal do Espírito Santo.

Kétcia Cristiana Quintino Rocha Barros⁽²⁾

Priscila Paulucio de Souza⁽³⁾

Tamara Moureth Rosa⁽⁴⁾

Alda Cristina Mariano Pimentel⁽⁵⁾

Advogada, graduada em Direito - FDCI, pós-graduada em Gestão Integrada: Inspeção, Orientação e Supervisão - FESAV, Professora Titular do Centro Universitário São Camilo - ES.

Endereço⁽¹⁾: Rua Santino Samuel de Aguiar, 45 – Bairro São Francisco de Assis – Cachoeiro de Itapemirim – ES – CEP: 29317-485 – cristina.dias.kaxu@hotmail.com

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo mostrar as vantagens e desvantagens relativas à criação de um novo tipo de empresa denominada EIRELI (Empresa Individual de Responsabilidade Limitada), inserida no ordenamento jurídico brasileiro através da promulgação da Lei nº 12.441, de 11 de julho de 2011. Para cumprir tal objetivo, busca-se analisar alguns aspectos, como a separação do patrimônio da pessoa jurídica daquele que pertence à pessoa física, a ordem tributária, o capital mínimo a ser integralizado e a capacidade para ser titular, demonstrando quais os avanços alcançados por essa nova modalidade empresarial, bem como as dificuldades e obstáculos trazidos pela norma que a regulamenta. Por tratar de assunto novo no direito brasileiro, a Lei da EIRELI necessita de adequações que viabilizem uma melhor compreensão da lei por parte dos órgãos competentes e dos empreendedores quando da decisão sobre novos investimentos.

PALAVRAS-CHAVE: EIRELI, empreendedor, responsabilidade jurídica, Junta Comercial, modalidade empresarial.

INTRODUÇÃO

A EIRELI possibilita que um empresário, pessoa natural, constitua uma empresa com apenas um titular, na qual sua responsabilidade fica ligada ao valor do capital por ele integralizado, o que vale dizer, que esse titular poderá distinguir o seu patrimônio pessoal daquele da empresa (EIRELI) formada, diferentemente do que ocorre com o empresário individual. Portanto, é como se ele destacasse parte de seu patrimônio para eventualmente servir de garantia a terceiros, sem expor a outra parte de seus bens aos riscos das atividades que por ventura exerça.

Cabe ressaltar que a administração da EIRELI é regulada, subsidiariamente, pelas regras das sociedades limitadas, prevendo inclusive, que em certas situações seja declarada a desconsideração da personalidade jurídica, prevista no art. 50 do Código Civil. Essa desconsideração poderá ocorrer quando a pessoa jurídica se desviar dos fins determinantes de sua constituição ou quando houver confusão patrimonial, em razão de abuso da personalidade jurídica. Assim poderá o juiz, a requerimento da parte ou do Ministério Publico (quando lhe

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couber intervir no processo), desconsiderar, episodicamente, a personalidade jurídica, a fim de coibir fraudes de sócios que dela se valeram como escudo, porém sem importar essa medida numa dissolução da pessoa jurídica.

MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia adotada nesta pesquisa, do ponto de vista da sua natureza, pode ser entendida como pesquisa básica, já que objetiva gerar novos conhecimentos úteis para o avanço da ciência sem aplicação prática prevista. Do ponto de vista da abordagem do problema, pode ser considerada quantitativa e qualitativa. Já sobre seus objetivos (GIL, 1991), pode ser entendida como pesquisa exploratória, pois envolve entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas relacionadas ao escopo do trabalho, e descritiva, já que visa descrever as características de determinada modalidade de pessoa jurídica; envolve igualmente o uso de entrevistas semiestruturadas. Ademais, do ponto de vista dos procedimentos técnicos (GIL, 1991), pode ser considerada como uma pesquisa bibliográfica, elaborada a partir de material já publicado e pesquisa documental, organizada a partir de materiais que não receberam tratamento analítico.

REFERENCIAL TEÓRICO

Com a publicação da Lei nº 12.441/2011 foi alterado o Código Civil, acrescentando o inciso VI ao artigo 44 e incluindo o artigo 980-A, a fim de contribuir para a inclusão no ordenamento jurídico brasileiro de mais uma modalidade de pessoa jurídica de direito privado, já conhecida em outros países, a chamada Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI).

Essa nova modalidade acolhe a constituição de uma pessoa jurídica com a participação de apenas um titular. Tem como objetivos restringir o risco daquele que a exerce, garantindo-lhe maior segurança jurídica, já que o seu maior atrativo é a incomunicabilidade entre o patrimônio social e o patrimônio pessoal de quem a constitui e, ainda, eliminar a figura do sócio com pequena participação ou sócio fictício, que, em muitos casos, fazia parte da sociedade apenas para atender a legislação.

Para constituir uma EIRELI, a legislação salienta ser necessário atender à algumas exigências, como a integralização do capital inicial de 100 vezes o salário mínimo vigente no país pelo seu titular, sendo possível que bens suscetíveis de avaliação em dinheiro, componham esse capital integralizado; inclusão da expressão "EIRELI" após a firma ou a denominação da empresa, já que a omissão da expressão ao final do nome empresarial implica na responsabilidade solidária e ilimitada do seu titular; e o titular, que deverá ser pessoa natural, só poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade.

A EIRELI poderá resultar da concentração de quotas de outra modalidade societária num único sócio, não importando os motivos que levaram a esse acúmulo.

Em se tratando da titularidade, o fato de a EIRELI ser constituída por apenas uma pessoa gerou considerações por parte de operadores do Direito e outros profissionais. Além de que a integralização total do capital é obrigatória, num valor, considerado por muitos, como sendo alto (R$ 62.200,00 atualmente) para um único titular integralizar, levando-se em conta, nesta análise, as classes de renda baixa e média, o que pode dificultar que alguns empresários individuais alcancem essa nova modalidade de empresa.

Em reportagem realizada por Abnor Gondim, o presidente da Confederação Nacional das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Comicro), José Tarcísio da Silva afirma que “não deveria haver exigência nenhuma de capital para se montar uma Eireli”. O presidente também considera injustificável tal exigência para uma empresa constituída por mais de um sócio que necessita ser transformada em EIRELI. E mais, “uma empresa que já tem CNPJ não precisar comprovar mais nada para se manter na atividade em que atua, mesmo passando ater apenas um sócio”, destaca SILVA (2012).

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Entende-se portando, que o legislador abre as portas incluindo a inovação e as vantagens trazidas por essa modalidade de empresa no direito brasileiro, e ao mesmo tempo supõe-se criar barreiras para o seu exercício.

Nesse sentido, está tramitando na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei nº 2468/2011, que visa alterar o Código Civil, e cujo texto reduz de 100 para 50 vezes o maior salário-mínimo vigente no País para constituir o novo valor mínimo do capital social da EIRELI.

O projeto já foi aprovado pela Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio (CDEIC) em março de 2012 e continua em trâmite.

Outro ponto a ser analisado é que a lei que rege a empresa individual de responsabilidade limitada não versa sobre a eventual necessidade de aporte de capital pelo titular sempre que houver aumento no salário mínimo, deixando uma lacuna pendente de regulamentação.

Quanto à pessoa que pode ser titular da empresa há outro ponto a ser considerado, pois, a lei estabeleceu que a EIRELI pode ser constituída por qualquer “pessoa”, o que leva a presumir que possa ser tanto física quanto jurídica. Contudo, foi expedida a Instrução Normativa nº 117/2011 do Departamento Nacional de Registro do Comércio (DNRC) para que as Juntas Comerciais não autorizem o registro da EIRELI quando o titular da mesma for pessoa jurídica. Tal determinação tem sido questionada por juristas pelo fato do DNRC se tratar de um órgão do Poder Executivo estando, nesse caso, delimitando a intenção do Poder Legislativo. Deste modo, pondera-se pela alteração no texto legal a fim de que este especifique quais pessoas podem constituir uma EIRELI, se somente naturais ou também as jurídicas.

Estas dúvidas, se não saneadas, poderão, em curto prazo, levar interessados a buscar a tutela jurisdicional para fazer valer seus interesses. Conforme já ocorrido, demonstrado através de uma decisão liminar da Justiça do Rio de Janeiro garantiu a uma consultoria americana, que pretende iniciar suas atividades no Brasil, dar continuidade ao processo de transformação da sua empresa limitada em Empresa Individual de Responsabilidade Individual (Eireli). A decisão (em março de 2012) foi a primeira do país nesse sentido.

Segundo a juíza Gisele Guida de Faria, da 9ª Vara da Fazenda Pública, a instrução normativa trouxe expressa restrição não prevista na Lei 12.441. "Decorrendo, pois, do princípio constitucional da legalidade a máxima de que ‘ninguém é obrigado a fazer, ou deixar de fazer algo, senão em virtude de lei’, não cabia ao DNRC normatizar a matéria inserindo proibição não prevista na lei", declarou na liminar.

Para ser titular dessa modalidade de empresa é necessário ser pessoa natural, não impedida por lei, civilmente capaz, brasileiro ou estrangeiro. Porém, a Constituição Federal de 1988 faz ressalvas ao empresário estrangeiro, restringindo suas atividades empresariais em relação às empresas jornalísticas, de radiodifusão, bem como aquelas de responsabilidade editorial e de atividades de seleção e direção da programação veiculada em qualquer meio de comunicação social, pois estas são privativas de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos.

Em se tratando de menor emancipado, de acordo com as hipóteses do atual Código Civil, a prova da emancipação deverá ser comprovada no processo ou ser arquivada em separado, simultaneamente, com o ato constitutivo da empresa.

No que tange ao aspecto da tributação foi possibilitado expressamente pela Lei Complementar 139/11, o ingresso das EIRELI's no Simples Nacional. Assim, o titular da empresa poderá escolher normalmente o regime fiscal que melhor servir às suas pretensões.

Todavia, deverá cumprir os demais requisitos legais que são exigidos.

A administração da EIRELI só poderá ser feita por pessoas naturais designadas no ato constitutivo. Os impedidos de serem administradores são aqueles enquadrados nas hipóteses do art. 1011, § 1º do Código Civil, brasileiro naturalizado há menos de dez anos, estrangeiro que não tenha visto permanente, funcionário público civil ou militar na ativa, magistrado, os indivíduos absolutamente e relativamente incapazes, dentre outros. O impedimento dos

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membros do Ministério Público e funcionários públicos municipais e estaduais dependerão da Constituição Estadual ou Lei Orgânica do Município.

Outra observação é a respeito de falência da EIRELI. Neste caso, como a responsabilidade é limitada, incorrerá apenas na arrecadação dos bens da pessoa jurídica de atividade empresarial, não cabendo arrecadação dos bens do particular, para o pagamento dos credores. Mesmo que seja decretada a inabilitação (art. 102, Código Civil), e esta se estenda até a sentença que efetivamente declare a extinção das obrigações, essa inabilitação não dirá respeito ao titular da EIRELI, que poderá ser sócio de outras sociedades empresariais ou registrar-se como empresário individual, só não poderá criar nova EIRELI.

De acordo com informações obtidas da Junta Comercial do Estado do Espírito Santo – JUCEES, desde a vigência da lei, 09 de janeiro de 2012, até 27 de abril de 2012, foram constituídas ou modificadas 159 empresas na modalidade EIRELI no Estado Espírito Santo.

Considerando as entrevistas realizadas junto às empresas constituídas na modalidade EIRELI, verificou-se a satisfação dos empresários no tocante a escolha por este tipo de pessoa jurídica para desenvolvimento de suas atividades empresariais.

Ademais, informações colhidas junto à titular da PORTAL CONTABILIDADE EIRELI ME, constatou-se que a constituição da empresa sob esta forma foi benéfica no sentido de não haver a necessidade de incluir um ou mais sócios na sua gestão. Além do mais, a entrevistada relatou que “em alguns casos o proprietário constituía outro sócio com quotas mínimas no contrato por mero efeito legal”.

Em continuidade ao pensamento que considera a EIRELI uma modalidade que traz benefícios, o proprietário da LLED INFORMÁTICA EIRELI relatou que a sua constituição foi favorável no sentido de que “a legislação prevê que o patrimônio da empresa responde pelas dívidas do negócio, ficando resguardados os bens pessoais”.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Apesar de ser ainda muito cedo para afirmar e elaborar maiores e melhores comentários acerca desse novo modelo de empresa introduzido pela lei n.º 12.441/11, nota-se que a possibilidade de sua utilização em diversos casos poderá facilitar e resolver questões de organização patrimonial, bem como societária, sobretudo nos casos de empresas familiares.

A lei ainda deixa dúvidas sobre, por exemplo, a eventual possibilidade de uma pessoa jurídica ser titular de uma empresa individual de responsabilidade limitada.

Apesar das lacunas existentes na lei que originou a EIRELI, essa nova modalidade de pessoa jurídica foi bem recepcionada pelos empresários individuais, haja vista os vários registros de EIRELI’s arquivados nas Juntas Comerciais desde a sua vigência.

Observou-se que esta modalidade empresarial poderá garantir certa movimentação na economia nacional, já que pode estimular novos empreendimentos.

CONCLUSÕES

Após estudos, percebe-se que a EIRELI trouxe aos empresários individuais vantagens competitivas, pois, além de o patrimônio pessoal não se confundir com o patrimônio da empresa, também não exige a figura do sócio fictício que, em muitos casos, existia apenas para atender a legislação.

Não obstante, a EIRELI traz o benefício de separação da personalidade jurídica do titular, visto que, não se confunde o patrimônio da pessoa jurídica com o da pessoa física, salvo em casos de desvios de conduta, hipóteses em que se aplicará a desconsideração da personalidade jurídica.

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Cabe lembrar também que na EIRELI existe o benefício de ordem, assim como ocorre na Sociedade Limitada, em que primeiramente os bens da empresa serão utilizados para o pagamento de suas dívidas e se esse patrimônio não for suficiente, será utilizado o patrimônio do titular da mesma.

Mesmo com as debates que envolvem a EIRELI, como o valor exigido para o capital mínimo e a possibilidade dessa modalidade ser constituída por pessoa jurídica, nota-se que ela foi bem recebida pelos empresários e que já está impulsionando a economia nacional.

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