• Nenhum resultado encontrado

Metodologias interdisciplinares em estudos de geoconservação de património geológico-mineiro: o caso da antiga mina de volfrâmio das Aveleiras (Mire de Tibães) Interdisciplinary methodologies in geoconservation studies of geological and mining heritage: t

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2019

Share "Metodologias interdisciplinares em estudos de geoconservação de património geológico-mineiro: o caso da antiga mina de volfrâmio das Aveleiras (Mire de Tibães) Interdisciplinary methodologies in geoconservation studies of geological and mining heritage: t"

Copied!
7
0
0

Texto

(1)

~ 91 ~

Metodologias interdisciplinares em estudos de geoconservação de

património geológico-mineiro: o caso da antiga mina de volfrâmio das

Aveleiras (Mire de Tibães)

Interdisciplinary methodologies in geoconservation studies of geological and

mining heritage: the case of ancient Aveleiras wolfram mine (Mire de Tibães)

Lopes, M.E., Laboratório de Cartografia e Geologia Aplicada (LABCARGA), Departamento de Engenharia Geotécnica, Instituto Superior de Engenharia do Porto, ISEP, Rua Dr. A. Bernardino de Almeida 431; 4200-072 Porto, mel@isep.ipp.pt

Meixedo, P., Laboratório de Cartografia e Geologia Aplicada (LABCARGA), LEMA-ISEP; e Centro CIGAR, Univ. do Porto Neto, E. P., Laboratório de Cartografia e Geologia Aplicada (LABCARGA), ISEP

Gama Pereira, L. C., Departamento de Ciências da Terra, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade de Coimbra Gomes, A., Departamento de Geografia, Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Afonso, M.J., Laboratório de Cartografia e Geologia Aplicada (LABCARGA), Dep. Engenharia Geotécnica, ISEP; e Centro GeoBioTec (Grupo de Georrecursos, Geotecnia e Geomateriais), Universidade de Aveiro

Dias Costa, M.J., Direcção Regional de Cultura do Norte, Mosteiro de S. Martinho de Tibães Trigo, J.F.C., Laboratório de Cartografia e Geologia Aplicada (LABCARGA), Dep. Engenharia Civil, ISEP Chaminé, H.I., Laboratório de Cartografia e Geologia Aplicada (LABCARGA), Dep. Engenharia Geotécnica, ISEP e Centro GeoBioTec (Grupo de Georrecursos, Geotecnia e Geomateriais), Universidade de Aveiro, hic@isep.ipp.pt

Resumo

Este trabalho enfatiza a importância dos processos de recuperação do património mineiro abandonado, como um exemplo do processo transformador de uma organização, no sentido de promover um segundo ciclo de vida. Esta perspectiva reflecte uma importante medida para a sustentabilidade, quer para o promotor quer para o meio ambiente envolvente. A Mina das Aveleiras é uma antiga mina de volfrâmio, pertencente ao Mosteiro de São Martinho de Tibães, próximo de Braga, no Norte de Portugal. Foi a casa mãe da ordem Beneditina em Portugal. Por iniciativa do Mosteiro de Tibães pretende-se que esta mina seja reconvertida, parcialmente, num geossítio e, provavelmente, num futuro próximo, num museu geomineiro. Este trabalho tem como objectivo apresentar uma abordagem metodológica, do ponto de vista da geoconservação, para a recuperação e estabilização parciais da antiga mina das Aveleiras.

Palavras-chave: Geoconservação, geodiversidade, património geológico-mineiro, mina das Aveleiras, Mire de Tibães.

Abstract

This work emphasizes the importance of recovery processes of abandoned mining heritage, as an example of the transformative process of an organization towards a second life cycle. This perspective reflects an important measure for sustainability, either for the organization and the surrounding environment. The Aveleira Mine is an old wolfram mine, belonging to the Monastery of St Martin of Tibães, near Braga, in the North of Portugal. It was the mother house of the Benedictine order in Portugal. By the initiative of the Tibães Monastery this mine will probably reconverted, partially, in a geosite and, probably, near future in mining museum. The work aim was to present a methodological approach, in a geoconservation point of view, allowing an ulterior partially recovering and stabilization of the Aveleiras ancient mine.

(2)

~ 92 ~

1. Introdução

A geoconservação tem como objectivo principal a protecção e a valorização do património geológico. Este património consiste no conjunto de geossítios previamente inventariados e caracterizados numa

dada região (Brilha et al., 2006). Por seu turno, um

geossítio pode ser considerado como uma ocorrência geológica com particular valor científico, pedagógico ou turístico. A conservação de geossítios de interesse pedagógico constitui, para os variados níveis de ensino, um suporte fundamental para o ensino/aprendizagem das Geociências (Brilha, 2002, 2005a,b). O património

geológico é, assim, uma expressão da

geodiversidade (e.g., Badman, 1994; Sharples,

1998; Marks, 1999; Theodossiou-Drandaki, 2000). Gray (2004) atribui à geodiversidade um conjunto de valores como o intrínseco, cultural, estético, económico, funcional, científico e educativo. Sendo a Natureza constituída por elementos abióticos e

bióticos, em muitos casos com grande

interdependência, é imperioso que a Conservação da Natureza seja encarada numa perspectiva holística, integrando estratégias de conservação, quer da geodiversidade quer da biodiversidade

(Brilha et al., 2006). A nível internacional tem-se

realizado inúmeros estudos sobre a presente

temática (e.g., Wilson, 1994; Badman, 1994;

Dowling & Newsome, 2005) enquanto que a nível nacional, os estudos de geoconservação encetaram-se há menos de uma década, tal como transparece

dos trabalhos de Brilha et al. (2005), de Brilha

(2005a,b) e de Galopim de Carvalho (2008). Sobre arqueologia mineira e património geológico-mineiro, em particular da Península Ibérica, de assinalar, por exemplo, os documentos de Tanelli & Benvenuti (1999), de Rabano Gutiérrez (2000), de Brandão (2002), de Orche (2003) e da SEDPGYM (2006).

2. A Mina das Aveleiras (Tibães): um caso de estudo

Generalidades

Através do estudo de um caso paradigmático, no domínio das Ciências da Terra, pretende-se encetar um ensaio de novas estratégias interdisciplinares no

âmbito da geodiversidade, inventariação,

caracterização e conservação do património geológico-mineiro para produzir conteúdos técnico-científicos/pedagógicos para a divulgação das geociências aplicadas à engenharia, indutores de uma maior sensibilização para as questões da Conservação da Natureza num prisma da geodiversidade e geoconservação.

A Mina das Aveleiras é uma antiga mina de volfrâmio, pertencente ao Mosteiro de São

Martinho de Tibães (Braga). Na Cerca do Mosteiro de Tibães e área envolvente, existe uma série de minas de água destacando-se a Mina do Moinho de Água, a Mina da Cabrita, a Mina da Preguiça, a

Mina das Aveleiras e a Mina de S. Bento. A

maioria das minas de água é constituída, na generalidade, por galerias de pequenas dimensões (à excepção das galerias principais da mina das Aveleiras), baixas, estreitas e, obviamente, sem iluminação natural.

O presente estudo visou, em traços muito gerais, a avaliação das características geológico-geotécnicas e geomecânicas de um tramo principal com cerca de 80 m (e galerias transversais envolventes) de extensão da antiga mina de volfrâmio das Aveleiras (também conhecida por mina de Tibães) com o objectivo de viabilizar, futuramente, a sua visita no âmbito das actividades de extensão cultural e científica promovidas pelo Mosteiro de Tibães (Direcção Regional de Cultura do Norte, DRCN).

Baseada nessa avaliação geológica, geotécnica e estrutural, elaborou-se um projecto de estabilização, protecção e segurança da antiga Mina das Aveleiras (LABCARGA, 2008), a definir de acordo com os

materiais, ferramentas e equipamentos utilizados na época da construção da mina. Posteriormente, serão desenvolvidas acções concretas no sentido de reabilitar os espaços de modo a viabilizar a sua inclusão selectiva em itinerários classificados. Por iniciativa da direcção do Mosteiro de Tibães, a mina das Aveleiras será objecto de eventual reabilitação parcial para se constituir um geossítio que, a longo-prazo, poderá ser considerado o estabelecimento de um geomuseu. Antes de se decidir quais as acções a desenvolver e a implementar na mina, será necessário definir o seu estado estrutural e a estabilidade geotécnica do maciço rochoso. A equipa técnica multidisciplinar

do LABCARGA (Laboratório de Cartografia e

Geologia Aplicada) do ISEP assumiu, em 2006, a

responsabilidade da coordenação deste estudo em estreita articulação com os técnicos do mosteiro de Tibães. Para o estudo mais aprofundado da reabilitação estrutural e para as investigações interdisciplinares subsequentes, em curso no âmbito

do trabalho de Lopes (in prep.), foram encetadas

uma série de acções. Estas envolveram, entre outras, a compilação exaustiva da documentação histórica, patrimonial e técnico-científica existente, a realização de estudos geológico-geotécnicos do terreno, bem como de ensaios geomecânicos de campo e laboratoriais. Todas estas acções tiveram sempre em linha de conta os aspectos patrimoniais, históricos e geoambientais que contextualizam a presente investigação numa perspectiva de um novo

ciclo de sustentabilidade (Meixedo et al., 2008;

(3)

~ 93 ~

Breve apontamento histórico

São conhecidos, pelo menos desde 1632, referências a trabalhos de encanamento das águas da Mina de Água da Cabrita para o Mosteiro. Há também referências, datadas do período de 1776/1778, nos arquivos do Mosteiro de Tibães, em que os frades Beneditinos procederam à reforma da

denominada “fonte das Aveleiras”, sendo construído, entre 1795-1797, um lago no sítio das Aveleiras com cascata e bancos laterais. O lago era alimentado por quatro novas minas de água, que também alimentavam um engenho de serra acabado de construir. Nos anos 40, do século XX, o substrato rochoso da área do monte de S. Gens, em Tibães, é calcorreado por pesquisadores em busca do volfrâmio motivado pelas cotações excepcionais deste minério no período da Segunda Grande Guerra Mundial (Vilar, 1998). Em 20 de Janeiro de 1940 foi efectuado o registo na Câmara Municipal de Braga, tendo atribuído à sociedade por cotas

“Silva, Barbosa & Marques, Lda” (Porto) a

concessão da mina de volfrâmio denominada de

“Tibães”, situada na freguesia de Mire de Tibães. A

Direcção Geral de Geologia e Minas (DGGM) atribuiu, em 12 de Abril de 1948, com o alvará nº 2314, à sociedade supracitada, a concessão da exploração da mina de volframite denominada

“Tibães” (ou “Tibais”). No período de 1941 a 1963 o jazigo de volframite desta mina, de pequenas

dimensões, sofreu intensa exploração,

especialmente no período da última grande guerra mundial, muito embora não oferecesse especiais condições económicas. As cotações excepcionais permitiram, assim, um grande volume de trabalhos que conduziu, praticamente, ao esgotamento do jazigo mineral (Lagoa, 1941; Fonseca, 1943; Pousada, 1947). Porém, esta mina foi envolta em alguma polémica, devido a vários contenciosos judiciais relativos ao seu registo, desde o seu arranque até ao seu fecho nos anos 60, do século XX. Assim, por despacho ministerial de 8 de Outubro de 1963 a concessão mineira de Tibães nº 2314 é declarada campo livre para novos registos a área nela consignada. Os dados da Delegação Regional da Indústria e Energia do Norte indicam uma produção de 12200 toneladas na mina de

Tibães (Teixeira et al., 1973).

Enquadramento

A região de Mire de Tibães (Oeste de Braga)

enquadra-se na denominada Unidade

Metassedimentar Parautóctone do Minho Central e

Ocidental (Ferreira et al., 2000), ladeada pelos

maciços graníticos de Braga, de Gondizalves e de Aveleda. Na Cerca de Tibães há raros afloramentos de rochas devido, especialmente, à luxuriante cobertura arbórea e à cobertura dos solos dos terrenos agrícolas. Em termos litológicos ocorrem

essencialmente rochas metassedimentares (xistos argilosos, quartzofilitos) e rochas filonianas (aplitos, aplito-pegmatitos, quartzo). Do ponto de vista regional, na área envolvente à Cerca do Mosteiro de Tibães, afloram, para além das rochas metassedimentares referidas, granitos de duas micas de grão médio (fácies de Gondizalves) e

turmalinitos (Leal Gomes et al., 1997). A região

abrangida pelo estudo foi alvo, no passado, especialmente no período da Segunda Guerra Mundial, de intensa pesquisa e exploração mineira. Os principais minérios extraídos foram o volfrâmio e o estanho, contidos em filões quartzosos e em filões aplito-pegmatíticos, respectivamente. A característica topográfica mais evidente da área em apreço consiste no contraste entre o fundo plano dos vales e as vertentes íngremes das elevações que os ladeiam.

A antiga exploração mineira das Aveleiras, localiza-se a Sul do lago da Cerca do Mosteiro de Tibães, em Mire de Tibães, Braga (Mata & Dias

Costa, 1998; Mata, 2002). Na sua origem a mina

das Aveleiras é uma das muitas minas de água

construídas pelos frades Beneditinos de Tibães (Oliveira, 1974; Mata, 2002). Esta mina está situada na encosta Norte do monte de S. Filipe (outrora S. Gens; Fontes, 2005) abrange parte dos terrenos da Cerca do Mosteiro de Tibães, prolongando-se já fora da Cerca, para a zona mais elevada do monte. Trata-se de um jazigo de volfrâmio formado por uma cortejo filoniano, donde se destacam duas direcções principais distintas de estruturas quartzosas (N170ºE e N40ºE; oscilando as inclinações desde 65º até à vertical) e com possanças variáveis, desde alguns centímetros a cerca de 3 m. Além da volframite, ocorrem ainda, embora em pequenas quantidades, arsenopirite, pirite, blenda e turmalina.

Os trabalhos mineiros realizados na área das Aveleiras constam de algumas sanjas, numerosos poços e chaminés de ventilação, e várias galerias, quer em direcção (longitudinais) quer transversais (designadas na linguagem geológico-mineira por travessas ou galerias transversais, TE), com algumas centenas de metros de extensão. Estes trabalhos permitiram verificar a continuidade da mineralização, tanto em extensão como em profundidade. Em algumas zonas ocorrem escombreiras de material retirado das galerias usadas para extracção do minério. Esse material é constituído, essencialmente, por fragmentos de quartzo angulosos e rocha encaixante (xistos). As escombreiras originam, por vezes, relevos artificiais como a plataforma que ocorre a Nordeste do lago

principal, constituída essencialmente por

(4)

~ 94 ~

Traçado subterrâneo da Mina de Aveleiras A antiga mina de volfrâmio das Aveleiras (figuras 1, 2) tem duas entradas, uma das quais de

dimensões apreciáveis (ca. 1,80 m de largura por

2,40 m, de altura), sendo considerada como entrada principal da mina e uma outra, de menores dimensões, que corresponde a uma entrada estreita

(“mina de água das Aveleiras”). A galeria

principal, até aos 80 m de extensão, é muito ampla, tendo 1,50 m de largura média e 1,90 m de altura média. Nas galerias transversais (travessas TE I e TE III), próximas à galeria principal, existem dois poços de ventilação (P) em que um comunica com a superfície (P III) e outro, com cerca de 6 m de altura, sem aparente comunicação (P II).

Figura 1 - Várias perspectivas, recorrendo à modelação digital de terreno da área da Cerca do Mosteiro de

Tibães, do enquadramento da Mina das Aveleiras (ou de Tibães).

A mina tem, no total, seis ramificações principais das quais se destacam a que conduz à entrada secundária (mina de água) e a travessa TE III, por ser a mais extensa e aquela donde provém grande parte da água circulante na mina. A estreita galeria da mina de água tem uma largura média de 0,70 m e desenvolve-se em ziguezague, tendo uma chaminé (PI), sem aparente comunicação com a superfície. Esta galeria faz o escoamento de toda a água proveniente da mina. A ramificação TE III, com dimensões equivalentes às da galeria principal, desenvolve-se para o lado direito desta galeria e é interceptada por quatro poços. De realçar o mau estado de conservação da maioria dos poços de ventilação. As ramificações TE I e TE II têm desenvolvimento para o lado esquerdo da galeria principal, apresentando dimensões, em geral, inferiores àquela. É de destacar que a galeria principal se encontra abatida a cerca de 80 m do seu início, obstruindo possível continuação. São raros os pontos da mina onde há revestimento das paredes, as quais foram suportadas, no geral, por um entivamento de madeira que, em consequência da humidade da mina e da falta de manutenção, se encontra em muito mau estado ou sendo mesmo inexistente. Em alguns troços existe o risco de abatimento, tanto do tecto como dos próprios hasteais, devido à ausência de entivação ou degradação avançada do existente. Por outro lado, existem já troços abatidos na mina das Aveleiras. Outro ponto essencial é a limpeza dos leitos por onde circula a água para não ocorrer obstrução por acumulação de materiais transportados pela

circulação da água, dificultando ou mesmo invertendo o escoamento das mesmas, já que o declive é, em regra, muito suave e irregular.

Figura 2 – Planta subterrânea da mina das

(5)

~ 95 ~

Metodologias de recuperação

Actualmente, é de toda a importância que, uma vez terminada a lavra de uma exploração mineira, a planificação do encerramento da mina não seja

descurada (e.g., Gerbella, 1947; Simões Cortez,

1965; Brady & Brown, 2004; FFV-MML, 2006). A finalidade a destinar à área que integra a

exploração, quer ao nível superficial

(especialmente, escombreiras e instalações), quer ao nível das galerias subterrâneas, deve ter em conta o enquadramento regional, bem como os antecedentes históricos que contextualizam a exploração. A recuperação poderá passar por requalificar as galerias explorando, em termos de geodiversidade, a vertente turística, ambiental e histórica, quer ao nível da geologia mineira, quer ao nível dos minérios explorados, quer ao nível das técnicas de mineração utilizadas.

Figura 4 – Aspectos diversos sobre o estado de

conservação da antiga mina de volfrâmio das Aveleiras: A) Aspecto do maciço na zona de entrada (emboquilhamento); B) poço de ventilação vertical; C) aspecto do sustimento de madeira em estado avançado de degradação; D) esquema do sustimento de C) (segundo Gerbella, 1947); E), F) estrutura filoniana quartzosa; G) entrada da mina de água associada à mina das Aveleiras; H) galeria estreita da mina de água das Aveleiras.

O objectivo de reabilitar a mina das Aveleiras, de modo a que o público possa testemunhar, num regresso ao passado, a sua função de abastecimento de água subterrânea e a de antiga mina de volfrâmio, condicionou a selecção das possíveis soluções de estabilização (figura 4). Por outro lado, a antiguidade desta obra e o seu isolamento nas últimas décadas, aliados a um conjunto de condições ambientais favoráveis, levou a que a

mina constitua, hoje em dia, um importante habitat,

onde proliferam essencialmente anfíbios, ocupando um lugar de relevo, entre outros, a

salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica) e a salamandra de

pintas amarelas. Nalguns casos, as galerias servem de abrigo para algumas espécies animais que

deverão ser preservadas (e.g., morcegos,

salamandras, rãs,…) em termos de biodiversidade

(figura 5).

Figura 5 – Aspectos diversos sobre os ecossistemas

terrestres e aquáticos na mina das Aveleiras.

Este conjunto de factores levou a que a escolha da solução de reforço e de protecção seja, essencialmente, constituída por elementos de madeira tratado, reproduzindo a solução de reforço outrora adoptada na mina. Definiu-se um conjunto de treliças constituídas por barrotes de madeira, que se procuraram localizar, preferencialmente, nas posições escolhidas pelos antigos mineiros, projectando-se alinhamentos adicionais de suportes, sempre que se entendeu necessário. A estes elementos associou-se o revestimento localizado do tecto e/ou dos hasteais. Este revestimento é também materializado por pranchas de madeira, que se apoiam nas treliças. Em zonas dos hasteais onde se verificou a derrocada de alguns blocos e o consequente descalçamento de outros, a estes sobrejacentes, preconizou-se uma solução de recalçamento com enrocamento que poderá ser constituído pelo próprio material oriundo das

derrocadas (LABCARGA, 2008).

3. Considerações finais

As investigações encetadas encontram-se, de momento, em fase de pormenorização e aprofundamento de determinados aspectos da geomecânica e hidrogeologia mineiras, entre outros. Não obstante, na sequência destes estudos e face ao nível de conhecimento adquirido e de

A

F

C D

B

E

(6)

~ 96 ~

trabalho, entretanto, realizado foi possível ensaiar uma primeira aproximação com o grande público através de um trilho pela Cerca do Mosteiro de Tibães que enfatiza os aspectos da geodiversidade e, em particular, com uma visita à mina das

Aveleiras. Esta iniciativa enquadra-se na Geologia

no Verão do programa Ciência Viva, em estreita

cooperação com a Direcção do Mosteiro de Tibães

e o ISEP (Chaminé et al., 2008).

Assim, pretende-se que este projecto culmine, a médio a longo-prazo, com o estabelecimento de um geossítio onde se possam realizar visitas públicas regulares, com fins didácticos e/ou de investigação técnico-científica, no âmbito das actividades de promoção cultural do Mosteiro de Tibães. Desta forma, há subjacente um triplo objectivo: i) a recuperação de uma área degradada com um importante valor patrimonial, em termos geológico-mineiros, e histórico, ii) a contribuição para a promoção social e económica da comunidade local, e iii) a sensibilização cultural do grande público, através de actividades recreativas e pedagógicas, sobre as actividades geológico-mineiras no passado e a sua importância no futuro.

Por fim, o objectivo geral deste trabalho é constituir um contributo preliminar para aprofundar a temática da geodiversidade e da conservação do património geológico-mineiro através de um caso de estudo, num meio rural, em que se desenvolveu

uma abordagem interdisciplinar (geologia,

geomorfologia, hidrogeologia, geologia e

geomecânica mineiras, modelação geotécnica,

geoambiente, …) para recuperação de parte duma

antiga mina de volfrâmio, a mina das Aveleiras, enquadrada num património paisagístico e arquitectónico singular, i.e, a Cerca do Mosteiro de Tibães.

Agradecimentos

Este estudo insere-se no projecto LABCARGA-ISEP/

Mosteiro de Tibães-IPPAR “Minas das Aveleiras:

elaboração do estudo geológico-geotécnico e projecto da estrutura de reforço e de protecção” e

no projecto “HidroUrban: Hidrogeologia, geomecânica e geoconservação de antigas minas de água: contribuição para a gestão dos recursos hídricos subterrâneos em áreas urbanas e peri-urbanas” apoiado pelo IPP|PADInv’2007. São

devidos agradecimentos ao colega Carlos M. Arrais (ISEP) pela partilha da sua experiência mineira em muitas conversas, quer em gabinete quer na mina das Aveleiras. Aos colegas Ana Pires e José

Teixeira (LABCARGA) pelo apoio na vectorização

da cartografia e na produção de algumas figuras. Gratos a José Brilha (Univ. Minho) pela revisão minuciosa e sugestões críticas a uma primeira versão do manuscrito.

Referências bibliográficas

Badman, T. (1994). Interpreting Earth Science sites for the public. In: O'Halloran, D., Green, C., Harley, M., Stanley, M. & Knill, J. (eds), Geological and Landscape Conservation, London, Geological Society, pp. 429-432.

Brady, B.H.G. & Brown, E.T. 2004. Rock mechanics for underground mining. Kulwer Academic Publishers,

Dordrecht. 628 pp.

Brandão, J.M. (Ed.) (2002). Actas do Congresso Internacional sobre Património Geológico e Mineiro.

IGM/SEDPGYM/FCT. Instituto Politécnico de Beja. 705 pp.

Brilha, J. (2002). Geoconservation and protected areas.

Environmental Conservation, 29 (3): 273–276.

Brilha, J. (2005a). A general overview of geoconservation in Portugal. IV Int. Symp. ProGeo,

Braga (Portugal), pp 3-4.

Brilha, J. (2005b). Património geológico e geoconservação: a conservação da natureza na sua vertente geológica. Palimage Editores, Viseu, 190 pp. Brilha J., Andrade C., Azeredo A., Barriga F.J.A.S.,

Cachão M., Couto H., Cunha P.P., Crispim J.A., Dantas P., Duarte L.V.,. Freitas M.C, Granja M.H., Henriques M.H., Henriques P., Lopes L., Madeira J., Matos J.M.X., Noronha F., Pais J., Piçarra J., Ramalho M.M., Relvas J.M.R.S., Ribeiro A., Santos A., Santos V. & Terrinha P. (2005). Definition of the Portuguese frameworks with international relevance as an input for the European geological heritage characterisation.

Episodes, 28 (3): 177-186.

Brilha, J., Dias, G. & Pereira, D. (2006). A geoconservação e o ensino/aprendizagem da geologia. In: Livro de Actas do Simpósio Ibérico do Ensino da Geologia. Aveiro, pp. 445-448.

Chaminé, H.I., Lopes, M.E., Afonso, M.J. Gomes, A. & Trigo, J.F.C. (2008). As antigas minas do Mosteiro de São Martinho de Tibães (Braga): um percurso pela geoconservação e geodiversidade. Um guia de apoio.

Geologia no Verão / Ciência Viva. Edição em Cd-Rom. ISEP, Porto.

Dias Costa, M.J. (2002). A cerca do mosteiro de São Martinho de Tibães. Património e Estudos. IPPAR – Instituto Português do Património Arquitectónico, Lisboa. 2: 86-95.

Dowling, R. & Newsome, D. (2005). Geotourism.

Elsevier. 352 pp.

Ferreira, N., Dias, G., Meireles, C. & Braga, M.A.S. (2000). Carta Geológica de Portugal, na escala 1/50000. Notícia Explicativa da Folha 5- D (Braga). 2ª edição. Instituto Geológico e Mineiro. Lisboa, 68 pp.

FFV-MML – Fundação Frédéric Velge / Museu Mineiro do Lousal, (2006). Modelos de Minas do Séc. XIX: engenhos de exploração mineira. Museu Mineiro do Lousal / Instituto Superior Técnico. 394 pp.

Fonseca, A.N. (1943). Adicional ao plano de lavra da mina de volfrâmio Tibais: memória descritiva. 3 pp.

(inédito).

(7)

~ 97 ~ Galopim de Carvalho, A.M. (2008). Como bola colorida:

A Terra, património da humanidade. Âncora Editora. Gerbella, L. (1947). Arte mineraria. Volume primo.

Terza Edizione. Editora Ulrico Hoepli, Milano. 370 pp. Gray, M. (2004). Geodiversity: valuing and conserving abiotic nature. John Wiley and Sons, Chichester,

England, 434 pp.

LABCARGA – LABORATÓRIO DE CARTOGRAFIA E GEOLOGIA APLICADA (2008). Mina das Aveleiras: estudo geológico-geotécnico e projecto da estrutura de reforço e de protecção. Relatório para o Mosteiro de S.

Martinho de Tibães, Instituto Português do Património Arquitectónico. Laboratório de Cartografia e Geologia Aplicada, Instituto Superior de Engenharia do Porto. 5 volumes + 4 anexos. (relatório inédito).

Lagoa, A.M. (1941). Mina de Wolframite de Tibais, plano de lavra: memória descritiva e justificativa. 4pp

+ 5 mapas/perfis em anexo. (inédito).

Leal Gomes, C., Meireles, C. & Castro, P. (1997). Estudo preliminar sobre a natureza poligénica de turmalinitos das Unidades de Valença-Vila Nune e Minho Central-Ocidental (NW de Portugal): I. análise estrutural e paragenética. In: Pires, C. C.; Gomes, M. E. P. & Coke, C. (coords.), Comunicações da XIV Reunião de Geologia do Oeste Peninsular, UTAD, Vila Real. pp.

85-90.

Lopes, M.E. (in prep.). Geoconservação, geodiversidade e património geológico-mineiro: os casos dos subterrâneos do Porto e da mina das Aveleiras (Braga). Universidade de Coimbra. (em preparação).

Marks, A. (1999). Interpreting geology at Portreath, Cornwall: a resource for geological education. Geology Today, 15 ( 4): 149-157.

Mata, A.M.R. & Dias Costa, M.J. (1998). Natureza, memória, vida nova na Cerca do Mosteiro de Tibães. In: Prémio Internacional Carlo Scarpa para o Jardim. Instituto Português do Património Arquitectónico, Mosteiro S. Martinho de Tibães. pp. 8-25.

Mata, A.M.R. (2002). Fragmentos do Mosteiro de São Martinho de Tibães. Património e Estudos. IPPAR – Instituto Português do Património Arquitectónico, Lisboa. 2: 80-85.

Meixedo, J.P., Lopes, M.E., Neto, E.P., Afonso, M.J., Gama Pereira, L.C., Dias Costa, M.J., Trigo, J.F.C., Chaminé, H.I. (2008). Sustainable conversion processes of mining heritage in a second life cycle: a geoconservation perspective. In: Proceedings of the Business Sustainability Conference, Management, Technology and Learning for Individuals, Organisations and Society in Turbulent Environments.

UM/ISEP/ IPCA, Ofir. 10 pp. (Cd-Rom).

Neto, E.P. (2007). Estudo geológico e geomecânico em antigas explorações mineiras: o caso da mina das Aveleiras. Universidade de Aveiro. (Tese de Mestrado).

Oliveira, A.A. (1974). A abadia de Tibães e o seu domínio (1630-1680): estudo social e económico.

Publicações da Faculdade de Letras do Porto. Universidade do Porto, 406 pp.

Pousada R.V. (1947). Relatório de novo reconhecimento da mina de volfrâmio denominada Tibais, situada na freguesia de Mire Tibais. 4 pp. (inédito).

Rabano Gutiérrez, I (Ed.) (2000). Patrimonio Geológico y Minero en el marco del desarrollo sostenible. Ed. Univ. Jaén-ITGE-SEDPGYM, Col. Temas Geológico-Mineros, Madrid. Vol. 31, 547 pp.

SEDPGYM – Sociedad Española para la defensa del Património Geológico y Minero (2006). Actas da mineração e metalurgia históricas no Sudoeste Europeu, SEDPGYM / IPPAR /FCT. Faculdade de

Engenharia do Porto. 622 pp.

Sharples, C. (1998). Landform conservation progress in Tasmanian forestry management. In: Bliss, E. (ed),

Islands: Economy, Society and Environment, Conference Series, New Zealand Geographical

Society, 19, pp. 447-450.

Simões Cortez, J.A. (1965). Métodos de exploração por desabamento (exposição crítica). Estudos Notas e Trabalhos do Serviço Fomento Mineiro, 37 (1-2):

5-338.

Tanelli, G. & Benvenuti, M. (1999). Minerals and mines from Elba Island (Italy): conservation of an outstanding heritage and its use as an educational tool towards the growth of a "geologic culture". Memorie Descrittive della Carta Geologica d'Italia, 64: 465-470.

Teixeira, C., Medeiros, A.C. & Macedo, J.R. (1973).

Carta Geológica de Portugal, na escala 1/50000. Notícia Explicativa da Folha 5- D (Braga). Serviços

Geológicos de Portugal. Lisboa, 57 pp.

Theodossiou-Drandaki, I. (2000). No conservation without education. In: Barettino, D., Wimbledon, W.A.P., Gallego, E., (Eds), Geological Heritage: Its Conservation and Management. ITGE, Madrid, pp.

111-125.

Vilar, A. (1998). O volfrâmio de Arouca no contexto da segunda guerra mundial (1939-1945). Edição Câmara Municipal de Arouca. 290 pp.

Wilson, C. [ed.] (1994). Earth heritage conservation. The

Imagem

Figura  2  –  Planta  subterrânea  da  mina  das  Aveleiras (Tibães).
Figura 5 – Aspectos diversos sobre os ecossistemas  terrestres e aquáticos na mina das Aveleiras

Referências

Documentos relacionados

Os candidatos serão convocados para matrícula obedecendo estritamente à ordem de sorteio e classificação e conforme calendário estabelecido no Anexo I do presente Edital, por meio

Neste tipo de situações, os valores da propriedade cuisine da classe Restaurant deixam de ser apenas “valores” sem semântica a apresentar (possivelmente) numa caixa

Este dado diz respeito ao número total de contentores do sistema de resíduos urbanos indiferenciados, não sendo considerados os contentores de recolha

A mãe do Roberto, antes de sair – tem sempre alguma coisa para fazer, o seu curso de Italiano, a inauguração de uma exposição, um encontro no clube de ténis –, faz- -lhe

A Figura 17 apresenta os resultados obtidos por meio da análise de DSC para a amostra inicial da blenda PBAT/PHBH-0 e para as amostras PBAT/PHBH-4, PBAT/PHBH-8 e

Contribuir para o desenvolvimento de produtos finais concretos (metodologias, processos, ferramentas de trabalho, políticas públicas, etc.), que sejam “novas portas

Frondes fasciculadas, não adpressas ao substrato, levemente dimórficas; as estéreis com 16-27 cm de comprimento e 9,0-12 cm de largura; pecíolo com 6,0-10,0 cm de

Se você vai para o mundo da fantasia e não está consciente de que está lá, você está se alienando da realidade (fugindo da realidade), você não está no aqui e