Gilberto Moreira, domiciliado em São Vicente, onde reside na Rua X, n° 100,
celebrou, em 23/08/2005, um contrato de abertura de crédito em conta corrente
com o Banco Esperança S/A, mediante o qual este último se obrigou a
disponibilizar na conta corrente de Gilberto a quantia de R$ 10.000,00. O banco
não informou previamente acerca do conteúdo do contrato, limitando-se a lhe
apresentar o instrumento contratual para assinatura. As cláusulas e condições
gerais desse contrato foram previamente elaboradas pelo banco, sendo redigidas
em letras minúsculas e sem nenhuma forma de destaque. A cláusula 16 dispõe
que a não restituição do crédito no prazo de trinta dias contados de sua efetiva
utilização, caracterizará, de pleno direito, o inadimplemento absoluto do contrato,
ensejando a incidência de multa no valor de 20% sobre o saldo devedor, mais
juros capitalizados compostos de 36% ao mês ou fração. Por outro lado, a
cláusula 22 preceitua que as partes declaram, para todos os fins e efeitos de
direito, que tomaram conhecimento prévio de todas as cláusulas e condições do
contrato, com elas concordando plenamente. Ao ler o contrato com atenção,
Gilberto julgou ser abusiva a referida cláusula 16, haja vista que o valor da multa
seria superior ao teto legal e, no seu entender, o ordenamento jurídico brasileiro,
veda a prática de anatocismo, ou seja, a cobrança de juros sobre juros.
Questão: Na qualidade de advogado de Gilberto prepare a petição cabível
RELAÇÃO
DE
Consumidor
O art. 2º da Lei nº 8.078/90 (Código de Defesa do
Consumidor) estabelece o consumidor como
toda pessoa
física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço
como destinatário final
.
Dentro ainda da definição de consumidor é preciso ter cuidado
com os temos da lei. Notadamente, a expressão "adquire ou
utiliza produto ou
serviço”
.
O correto é entender
adquirir o produto
e
utilizar do
Fornecedor
O Código de Consumidor estabelece no seu art. 3° o conceito
de fornecedor, afirmando que é
toda pessoa física ou
jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem
como os entes despersonalizados, que desenvolvem
atividades de produção montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou
comercialização de produtos ou prestação de serviços
.
Com efeito, toda pessoa que oferta produtos ou serviços
mediante remuneração com atividade é fornecedor.
•
Produto
é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou
imaterial.
Relação de Consumo
Relação jurídica é o vínculo que une duas ou mais pessoas,
caracterizando-se uma, como o sujeito ativo, e outra, como
passivo da relação. Assim, se houver incidência do
Código de
Defesa do Consumidor
na relação acima indicada, isto é, se
uma das partes se enquadrar no conceito de
consumidor
e a
outra no de
fornecedor
e entre elas houver nexo de
causalidade capaz de obrigar uma a entregar a outra uma
prestação, estaremos diante de uma relação de consumo.
Direitos do Consumidor
Segundo o Código de Defesa do Consumidor, são direitos
básicos do consumidor:
•
a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos
provocados por práticas no fornecimento de produtos e
serviços considerados perigosos ou nocivos;
•
a educação e divulgação sobre o consumo adequado
dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha
e a igualdade nas contratações;
•
a informação adequada e clara sobre os diferentes
Direitos do Consumidor
Segundo o Código de Defesa do Consumidor, são direitos
básicos do consumidor:
•
a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva,
métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra
práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de
produtos e serviços;
•
a
modificação
das
cláusulas
contratuais
que
estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em
razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente
onerosas;
Direitos do Consumidor
Segundo o Código de Defesa do Consumidor, são direitos
básicos do consumidor:
•
o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com
vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e
morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a
proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;
•
a facilitação da defesa de seus direitos,
inclusive com a
inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil
,
quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando
for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências;
Contrato de Adesão
Quando no negócio celebrado entre o Autor e a Ré o existe o
caráter de contrato de adesão, afasta-se de pronto o princípio
“pacta
sunt
servanda”
.
Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.
§ 3º Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor.
Cláusula Abusiva
Art. 51 do CDC:
São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
...
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;
XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor;
§ 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vontade que:
Problema - Modelo
Leporácio Januário, domiciliado em Santo André, onde reside na Rua Amadeu, n° 100, celebrou, em 23/08/2007, um contrato de abertura de crédito em conta corrente com o Banco Topa Tudo S/A, mediante o qual este último se obrigou a disponibilizar na conta corrente de Leporácio a quantia de R$ 12.000,00. O banco não informou previamente acerca do conteúdo do contrato, limitando-se a lhe apresentar o instrumento contratual para assinatura. As cláusulas e condições gerais desse contrato foram previamente elaboradas pelo banco, sendo redigidas em letras minúsculas e sem nenhuma forma de destaque. A cláusula 23 dispõe que a não restituição do crédito no prazo de trinta dias contados de sua efetiva utilização, caracterizará, de pleno direito, o inadimplemento absoluto do contrato, ensejando a incidência de multa no valor de 20% sobre o saldo devedor, mais juros capitalizados compostos de 33% ao mês ou fração. Por outro lado, a cláusula 28 preceitua que as partes declaram, para todos os fins e efeitos de direito, que tomaram conhecimento prévio de todas as cláusulas e condições do contrato, com elas concordando plenamente. Ao ler o contrato com atenção, Leporácio julgou ser abusiva a referida cláusula 23, haja vista que o valor da multa seria superior ao teto legal e, no seu entender, o ordenamento jurídico brasileiro, veda a prática de anatocismo, ou seja, a cobrança de juros sobre juros.
Modelo de Ação do Consumidor
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL DO FORO DA COMARCA DE SANTO ANDRÉ - SP.
(dez linhas)
LEPORÁCIO JANUÁRIO, brasileiro, (estado civil), (profissão), portador da Cédula de Identidade RG (número) e inscrito no CPF sob o nº (número), residente e domiciliado nesta cidade, na Rua Amadeu, n° 100, CEP 11350-000, (e-mail), por seu advogado que esta subscreve, conforme mandato anexo, com escritório nesta cidade, na Rua (endereço), local onde receberá intimações, (e-mail), vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento no art. 6º, VII da Lei 8.078, de 11 de
setembro de 1990, propor a presente AÇÃO REVISIONAL
Modelo de Ação do Consumidor
DOS FATOS
Em 23/08/2007 o autor firmou um contrato de abertura de crédito em conta corrente com o Banco da Topa Tudo S/A, mediante o qual este último se obrigou a disponibilizar na conta corrente de Leporácio a quantia de R$ 12.000,00.
Naquela oportunidade o banco não informou previamente acerca do conteúdo do contrato, limitando-se a lhe apresentar o instrumento contratual para assinatura.
As cláusulas e condições gerais desse contrato foram previamente elaboradas pelo banco, sendo redigidas em letras minúsculas e sem nenhuma forma de destaque.
Modelo de Ação do Consumidor
Ocorre, porém, que ao analisar as sanções que lhe foram impostas no referido contrato, o autor entendeu que as mesmas são abusivas, caracterizando a possibilidade de revisão por três motivos, a saber: a) juros abusivos; b) anatocismo e c) multa ilegal.
Para fins do art. 330, § 2º do CPC, nos termos do laudo contábil anexo, entende o autor que o valor devido é R$ (...), e que o montante de R$ (...) é o valor que pretende controverter, por ser ilegal e abusivo, conforme se demonstrará a seguir.
Exposta a fundamentação fática, passa a parte autora a analisar as questões jurídicas que envolvem a lide, vez que não pretende se submeter ao rigor imposto pelo contrato ora discutido.
DO DIREITO
A adesividade contratual e seus efeitos jurídicos
Modelo de Ação do Consumidor
O art. 54 do CDC estabelece:
Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.
...
§ 3º Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor.
§ 4° As cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão.
Como se vê, o contrato dos autos não observa a lei, motivo pelo qual suas cláusulas não tem validade, devendo ser considerado nulo de pleno direito nos termos art. 51 do CDC, senão vejamos:
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
Modelo de Ação do Consumidor
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
...
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;
...
XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor; ...
§ 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vontade que: ...
III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.
Modelo de Ação do Consumidor
Dos juros abusivos
Como se pode observar o contrato em questão pactuou juros com taxa de 33% ao mês, o que caracteriza abusividade.
Com efeito, após a revogação do §3º do art. 192, da Constituição Federal, o STJ tem adotado o entendimento de ser possível a intervenção judicial para o necessário equilíbrio da relação entre as partes no caso de cobrança excessiva de juros, configurada pela discrepância com o mercado, destacamos:
"DIREITO COMERCIAL. EMPRÉSTIMO BANCÁRIO. JUROS REMUNERATÓRIOS. Os negócios bancários estão sujeitos ao Código de Defesa do Consumidor, inclusive quanto aos juros remuneratórios; a abusividade destes, todavia, só pode ser declarada, caso a caso, à vista de taxa que comprovadamente discrepe, de modo substancial, da média do mercado na praça do empréstimo, salvo se justificada pelo risco da operação. Recurso especial conhecido e provido".
Modelo de Ação do Consumidor
Ora, esse é exatamente o caso dos autos, posto que o mercado cobra juros entre 5,35% a.m. até 5,44% a.m., conforme indica a Fundação Procon/SP, senão vejamos:
PESQUISA DE TAXAS DE JUROS – PESSOA FÍSICA - EMPRÉSTIMO PESSOAL SETEMBRO/2010
Empréstimo Pessoal - a taxa média dos bancos pesquisados foi de 5,35% a.m., inferior à do mês anterior que foi de 5,44% a.m., significando um decréscimo de 0,09 ponto percentual. A única alteração na taxa do empréstimo pessoal foi promovida pelo Banco Itaú que elevou sua taxa de 5,98% para 6,02% a.m., o que significa um acréscimo de 0,04 ponto percentual, representando uma variação positiva de 0,67% em relação à taxa de agosto/10.
Demonstrada a abusividade, impõe-se a redução dos juros nos patamares aplicados pelo mercado.
Da capitalização mensal dos juros
Modelo de Ação do Consumidor
Reza a Súmula n. 121 do STF que: "É vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada".
No mesmo sentido é o entendimento do STJ, como se infere da ementa lavrada pelo Min. MENEZES DIREITO (RESP 188514/RS, DJU de 28/06/1999):
Recurso especial assentado em dissídio jurisprudencial. Contrato de abertura de crédito. Capitalização dos juros. Súmula nº 121/STF.
1. No tocante à capitalização dos juros, permanece em vigor a vedação contida na Lei de Usura, exceto nos casos excepcionados em lei, o que não ocorre com o mútuo bancário comum, tratado nos presentes autos. 2. Recurso especial não conhecido.".
Modelo de Ação do Consumidor
Da multa moratória superior a 2%
Como é cediço, unânime é o entendimento de que o Código do Consumidor aplica-se às instituições financeiras, motivo pelo qual a multa contratual moratória não pode ser superior a 2% do saldo devedor corretamente calculado.
Nesse sentido, dispões cristalinamente a lei:
Art. 52. No fornecimento de produtos ou serviços que envolva outorga de crédito ou concessão de financiamento ao consumidor, o fornecedor deverá, entre outros requisitos, informá-lo prévia e adequadamente sobre:
§ 1° As multas de mora decorrentes do inadimplemento de obrigações no seu termo não poderão ser superiores a dois por cento do valor da prestação.
Demonstrada a ilegalidade da multa moratória, impõe-se a exclusão da mesma, com o recálculo da divida.
Modelo de Ação do Consumidor
DO PEDIDO
Diante do exposto, requer a parte autora a procedência da ação para, operando-se a revisão integral da relação contratual, declarar-se o valor devido conforme demonstrado na inicial, com o reconhecimento da nulidade das cláusulas abusivas e o consequente expurgo do anatocismo, da multa moratória e da capitalização mensal, com a condenação da ré ao pagamento das custas e honorários advocatícios.
DOS REQUERIMENTOS
Outrossim, requer a autora:
a) a citação da empresa ré, pela via postal, para contestar a presente ação, sob pena de revelia;
b) a inversão do ônus da prova nos termos do art. 6º, da Lei 8.078/90;
c) a produção de provas testemunhal, documental e pericial, além do depoimento pessoal da ré e demais que se fizerem necessárias;
Em observância ao art. 292, II do CPC, o autor atribui à causa o valor de R$ (valor) (valor por extenso).