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The Fields of Combat of the Power: the Dialogue Between Foucault and Raffestin

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Academic year: 2020

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AS MODERNAS DEFINIÇÕES DE PODER

O

conceito de poder é investigado, definido e debatido, recorrentemente, no âmbito das ciências humanas. Isso porque, como afirma o politólogo Stoppino (2000, p. 940), “não existe praticamente relação social na qual não esteja presente, de qualquer forma, a influência voluntária de um indivíduo ou de um grupo sobre o compor-tamento de outro indivíduo ou de outro grupo”. Lasswell e Kaplan (1950, p. 75), inclusive, consideram que talvez o conceito de poder seja o mais fundamental da ciência política, uma vez que os estudos políticos tratam das relações entre os homens, seja em termos de associação e competição, seja em termos de submissão e controle.

Resumo: este artigo discute o conceito de poder, destacando os variados sentidos que aparecem

nos dicionários. Discute-se também a forma como esse termo foi abordado na obra de Michel Foucault, cujos estudos, fundamentados em uma abordagem interdisciplinar de investigação, repercutiram e influenciaram inúmeros pesquisadores das ciências humanas, entre eles o geógrafo Claude Raffestin. Contudo, por tratar de questões mais empíricas, a concepção de poder de Raffestin torna-se mais tangível do que o pensamento foucaultiano, na medida em que ele territorializa os indivíduos e as relações de poder.

Palavras-chave: Relações de Poder. Foucault. Raffestin.

* Recebido em: 27.09.2017. Aprovado em: 11.0.2018.

** Doutora em História Social (IFCS/UFRJ). Professora no Programa de Mestrado Profissional em História e do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura e Território da Universidade Federal do Tocantins, Campus de Araguaína.

*** Doutorado e Mestrado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus de Presidente Prudente (SP). Formado em Geografia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL).

AS ARENAS DO PODER:

O DIÁLOGO ENTRE FOUCAULT

E RAFFESTIN*

MARTHA VICTOR VIEIRA** JEAN CARLOS RODRIGUES***

DOI 10.18224/frag.v28i1.5938

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Em virtude do reconhecimento desse fenômeno nas relações existentes no mundo social, são vários os significados dessa palavra. O dicionarista Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (2004) define poder como sendo relacionado às funções constitutivas do Estado e as suas instâncias no âmbito do Executivo, Legislativo e Judiciário, e também como sinônimo de ter direito, autorização, capacidade, recursos, força física e moral, etc. Ao todo são cerca de dezoito definições da forma como a palavra poder pode ser utilizada na língua portuguesa falada ou escrita.

Os significados apontados pelo Aurélio revelam a polissemia do conceito, devido à variedade de sentidos, que abrangem desde as modernas instituições estatais até os detentores de capital econômico e simbólico, seja esse tradicional, intelectual ou religioso. No

Voca-bulário, técnico e crítico de filosofia encontra-se outra definição bastante sintética de poder,

associando-o a autoridade dos poderes estatais, e também como sinônimo de potência e capa-cidade “legal ou moral” de ter direitos de fazer determinada ação (LALANDE, 1999, p.819). Entretanto, é na leitura do Dicionário de Ciências Sociais que podemos identificar a relação causal associada a essa palavra. Nesse Dicionário, o poder pode ser relacionado: 1) “a capacidade de produzir determinada ocorrência”; 2) a autoridade política/estatal e 3) a “influ-ência intencionalmente exercida por uma pessoa ou grupo, através de qualquer meio, sobre a conduta alheia”. Na terceira acepção, o poder corresponderia “a influência, efetivamente, exercida” e não somente a capacidade de exercê-la (BROWN, 1986, p. 907). Assim definido, o poder se caracteriza pela ação produzida sobre outrem com a finalidade de induzir o reco-nhecimento e a obediência.

O Dicionário Crítico de Sociologia, por sua vez, reforça o caráter assimétrico da re-lação de poder e enfatiza a importância dos recursos e da capacidade de gestão dos mesmos para que possa existir essa relação. Esse Dicionário aponta ainda que o poder não está restrito ao uso da força física, embora a mesma possa ser condição para o seu exercício. O poder existe porque quem o mobiliza explora as expectativas comuns de determinada coletividade (BOU-DON; BORRICARD, 1993). Robert Dahl (1957, p. 203), que discute o conceito de poder, explica que os “recursos” que podem ser mobilizados por um presidente de uma democracia para influenciar o voto do Parlamento são: o patrocínio, o veto constitucional, o carisma, a influência sobre o eleitorado, os convites para reuniões/ jantares, etc.

Uma visão bastante ampla de poder, que concentra uma série de outras definições correntes na contemporaneidade, pode ser encontrada no Dicionário de Política, organizado por Bobbio, Matteuci e Pasquino. No verbete desse Dicionário, escrito por Stoppino (2000, p. 933-42), o poder envolve a capacidade, de um indivíduo ou grupo, de produzir “efeitos”. Stoppino apresenta o poder social, que pode ser de um pai ou do governante, como uma re-lação entre indivíduos, na qual se verifica em uma das partes a “capacidade de determinação intencional ou interessada no comportamento dos outros”. Além de enfatizar que o poder é uma relação de dominação entre os seres humanos, esse cientista político aponta para dimen-são simbólica do poder, ao afirmar que as “Imagens do poder exercem uma influência sobre os fenômenos do poder real”.

Podemos inferir assim que a imagem que se tem do poder depende do tipo de socie-dade e dos valores da mesma, na medida em que A terá maior capacisocie-dade de influenciar o com-portamento de B, se houver uma equivalência na comunidade de sentido a que pertencem esses dois agentes. Dessa forma, justifica-se a premissa que: “Forms of power can be distinguished

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value practices and patterns” (LASSWELL; KAPLAN, 1950, p. 75). Ter poder é ter posição e

potencial de valores socialmente reconhecidos e, por consequencia, exercer influência. Portanto, se A participa da tomada de decisão que atinge (prejudicando ou be-neficiando) o valor de B, tem-se instaurada uma relação de submissão e dependência do segundo em relação ao primeiro. A possibilidade do uso da força física pode fazer parte da comunidade de sentido construída em relação aos poderes que estão instituídos em determi-nada sociedade. O medo ou a expectativa de proteção do uso dessa força física serviria para moldar comportamentos individuais e coletivos, inibir infrações, conseguir aliados no âmbito geopolítico mundial, fazer mobilizações ou negociações, resultando, por fim, na submissão voluntária de B para com A.

É comum nas formulações dos dicionários que circulam na atualidade a associação da palavra poder ao fato de ter a capacidade ou recursos para fazer determinada coisa e tam-bém aos poderes do Estado. No Dicionário de Filosofia de Nicola Abbagnano (2007, p. 766) nem sequer encontra-se a definição de poder, havendo apenas uma referência remetendo o leitor ao verbete de Estado.

A associação de poder com o Estado, nas teorias políticas modernas, já pode ser en-contrada em O Príncipe de Maquiavel, mas essa ideia aparece melhor delineada no Leviatã (1651) de Thomas Hobbes. Na versão hobbsesiana para ter poder é preciso ter meios à dis-posição, podendo ser esses meios “naturais” (força, beleza, prudência, capacidade, eloqüência, liberalidade, nobreza) ou “instrumentais”, adquiridos pelos requisitos anteriores ou por acaso, é o exemplo da riqueza, da reputação e da “boa sorte”. O maior poder humano, no entanto, é o do Estado, que reúne, por consentimento, os poderes de todos os homens, adquirindo assim o “poder supremo” (HOBBES, 2008, p. 70). Com esse poder supremo, adquirido por meio de um pacto social, o Estado, representado por um homem ou uma assembleia de homens, teria a força necessária para combater inimigos estrangeiros e manter a paz interna. Hobbes teria sido o primeiro pensador a dizer que o Estado é o nome de uma “pessoa artificial” que detém o poder soberano por ser autorizado pelos “próprios súditos” (SKINNER, 1999, p. 18).

Já no século XX, outro autor que pensou a materialidade e os meios de exercício do poder foi Weber (1999, p. 33), segundo o qual: “Poder significa toda probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra resistências, seja qual for o fundamento dessa probabilidade. [...].” Para Weber (1999, p. 34), poder é diferente de dominação, que envolveria “a probabilidade de encontrar obediência a uma ordem”, podendo ser esta ordem a instituição política, denominada Estado, que possui o “monopólio legítimo da coação física”. Na opinião desse estudioso podem existir três tipos de dominação legítima: tradicional, ca-rismática e racional legal. Essa última forma de dominação seria típica dos modernos Estados ocidentais, cuja característica fundamental é a existência de uma administração burocrática.

A tradição hobbesiana e weberiana, contudo, ao enfatizar a materialidade e as ma-croestruturas, não se preocupou em explicar as razões da obediência de todos os sujeitos à determinada ordem social fora do uso da força física. Nesse sentido, os estudos de Pier-re Bourdieu (2002, p. 14) são complementaPier-res, ao Pier-ressaltaPier-rem a dimensão simbólica do poder. O poder simbólico é aquele que só se exerce se for reconhecido (ignorado como arbitrário) e pode produzir “efeitos reais sem dispêndio aparente de energia”. Esse tipo de poder, na compreensão do sociólogo, pode obter o equivalente ao que é obtido com o uso da coação física, podendo “confirmar ou mudar a visão de mundo” e a “ação sobre o mundo” (BOURDIEU, 2002, p. 14).

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As inferências de Bourdieu (1996, p. 97), apesar de destacarem a relevância do uni-verso simbólico e das instituições sociais, como a escola e a igreja, nas práticas de poder, ainda estão muito atreladas às macroestruturas e ao funcionamento do próprio Estado, que seria um “corpo fictício” detentor de um mega-poder por concentrar vários tipos de capital (força física, capital econômico, cultural e simbólico). Por essa razão, para entender o exercício do poder nas suas micro-esferas são fundamentais as contribuições de Michel Foucault, haja vista que, como diz Roberto Romano (2007, p. XI), as análises feitas por esse filósofo francês “pro-duziram um importante deslocamento com relação à ciência política, que limita ao Estado o fundamental da sua investigação sobre o poder”.

Como a questão das relações de poder permeia toda a produção foucaultiana, es-pecialmente seus escritos a partir de 1970, neste artigo nós optamos por fazer alguns apon-tamentos mais gerais, abordando o livro História da Sexualidade: a vontade de saber e a co-letânea, intitulada Microfísica do Poder, que reúne várias entrevistas, aulas e conferências do filósofo. Nosso intuito nesse capítulo é entender as contribuições inovadoras de Foucault sobre as estratégias do poder e, por fim, apresentar as apropriações feitas pelo geógrafo Claude Raffestin dessas formulações teóricas.

MICHEL FOUCAULT E OS DISPOSITIVOS DO PODER

Michel Foucault é considerado um dos mais importantes filósofos do século XX, devido ao fato de que seu pensamento influenciou inúmeros estudos e debates acadêmicos no mundo contemporâneo. Nas suas reflexões, o aspecto que mais chama a atenção são as inferências inovadoras que relacionavam a produção de saberes (médicos, jurídicos, sexuais) com os dispositivos de poder.

Na visão de Chatelet e Duhamel (2000, p. 373-4), ao redefinir a concepção de poder, Foucault pretendia repensar a “ordem tradicional” e demonstrar a relação entre saber e poder. O poder, conforme sua análise, não estaria localizado em um único lugar ou relação social, mas em toda parte, porque ele consistiria em estratégias e práticas de controle, disci-plina e adestramento dos corpos. O poder atua nas escolas, nas prisões, nos quartéis e nos hospitais. Pode-se dizer que, para esse filósofo, os saberes e as ações dos profissionais ligados a essas instituições seriam formas de atuação do poder, ou seja, estratégias do poder que visam à disciplinarização das condutas individuais.

Os estudos de Foucault podem ser incluídos na conjuntura histórica que se se-guiu após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). De um lado, as denúncias sobre os crimes nazistas, especialmente, contra os judeus, chocaram as pessoas em todo mundo havendo uma demanda no âmbito internacional, por parte de lideranças políticas e mo-vimentos sociais, para a feitura de uma declaração em prol dos direitos humanos de todos os povos (HUNT, 2009, p. 202-203). Por outro lado, o fracasso soviético levou muitos intelectuais a se desgarrarem do marxismo e elaborarem novas teorias sociais e políticas. Neste contexto, teria emergido uma “recusa radical, que afasta teorias e práticas, socialistas e liberais, assim como seus avatares do Terceiro Mundo. Em nome das liberdades, todo poder é posto em questão [...]” (CHÂTELET; DUHAMEL, 2000, p. 370-371). Dentre os intelectuais engajados na análise desse fenômeno sob novos parâmetros e questionamentos, além de Foucault, estavam: Herbert Marcuse, Gilles Deleuze, Jean-François Lyotard, Jean Baudrillard e outros.

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Analisando a trajetória de Foucault, nota-se que a sua produção intelectual tem muita relação com suas experiências pessoais e as suas leituras, por isso é interessante conhe-cermos um pouco a sua biografia. Paul-Michel Foucault nasceu em Poitiers na França, em 1926, e pertencia a uma classe social abastada. O desejo do seu pai era que ele fosse médico, para seguir uma carreira tradicional na família. Contudo, o jovem apreciava mesmo era a história, a filosofia e a literatura. Motivado por essa paixão, contrariou a vontade paterna, formando-se em filosofia e psicologia pela Sorbone. Doutorou-se com o tema História da

Loucura na Idade Clássica. Lecionou em várias Universidades. É lembrado pelos amigos como

um leitor voraz. Mas declarava-se herdeiro da filosofia de Martin Heidegger e Friedrich Niet-zsche (ERIBON, 1991).

Sua juventude foi marcada pelo trauma da grande guerra que se abateu sobre a Eu-ropa, pelo internato no hospital psiquiátrico, em virtude das várias tentativas de suicídio que cometeu. Foucault teria tido dificuldade em aceitar a sua homossexualidade e isso fazia com que se isolasse e se maltratasse moralmente. Era muito difícil romper com a heteronormati-vidade nas décadas de 1940 e 1950, ainda hoje é. Por influência de seu amigo Louis Althusser aderiu ao Partido Comunista Francês, por um curto período. A partir de 1969, começou a se projetar como um intelectual politicamente engajado, chegando a enfrentar a polícia. Em 2 de dezembro 1970, Foucault apresentou a sua aula inaugural, intitulada A Ordem do Discurso, no Collège de France, na cátedra de História dos Sistemas de Pensamento (ERIBON, 1991).

Roberto Romano divide a produção escrita de Foucault em duas etapas. A primei-ra compreende os livros História da Loucuprimei-ra (1961), O Nascimento da Clínica (1963), As

Palavras e as Coisas (1966) e A Arqueologia do Saber (1969). Nessa etapa o filósofo, ao fazer

uma investigação arqueológica, estaria interessado em “estabelecer a constituição dos saberes privilegiando as interrelações discursivas e sua articulação com as instituições”, respondendo a “como os saberes apareciam e se transformavam” (ROMANO, 2007, p. X). Na segunda etapa, que reúne os livros Vigiar e Punir (1975) e A Vontade de Saber, primeiro volume de História

da Sexualidade (1976), Foucault estaria interessado no porquê dos saberes, bem como na

rela-ção dos saberes com as relações de poder.

Na visão de Emanuel do Santos Sasso (2014), Vigiar e Punir e o primeiro volume da História da Sexualidade seriam os textos mais peculiares da fase genealógica de Foucault porque neles o autor demonstra estar interessado em investigar a formação do “indivíduo moderno”. Indivíduo esse que “[...] seria uma espécie de produto moderno e objetivo dos sis-temas de saber e de poder. O indivíduo moderno é, portanto, correlativo dos dispositivos es-tratégicos políticos que lhe impõe uma identidade constringente” (SASSO, 2014, p. 26-27). Ao escrever a História da Sexualidade, o projeto inicial de Foucault era fazer seis volumes, mas ele somente conseguiu terminar três, antes de sua morte, ocorrida em 1984, cujos subtítulos, respectivamente, são: A vontade de saber; O uso dos prazeres e O cuidado de

si. O primeiro volume, contudo, é o que mais chamou atenção dos estudiosos porque nele

Foucault investigou as transformações ocorridas nas instâncias de produção discursiva sobre a sexualidade humana, que foram instauradas, sobretudo, a partir do século XVI. O discurso sobre o sexo, veiculado por diferentes instituições (Estado, igreja, hospitais e escola), e apri-morado ao longo do tempo, teria como objetivo controlar as condutas e disciplinar os corpos, instituir um bio-poder, com base em um saber moral e científico.

Na História da Sexualidade: a vontade de saber, Foucault (1988, p. 102-3) rejeita as concepções tradicionais de poder presentes em dicionários e nos pensadores clássicos, tanto as

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que o designam como “o conjunto de instituições e aparelhos garantidores da sujeição dos cida-dãos em um Estado” quanto o “modo de sujeição que, por oposição à violência, tenha a forma da regra”. De modo geral, ele rejeita a definição de poder como um “sistema geral de domina-ção”, que uma pessoa ou grupo detenha e que atinge toda a sociedade. Sua opinião é que o Esta-do, as normas jurídicas e as formas de dominação seriam apenas as “formas terminais” do poder.

Romano (2007) afirma que Foucault não nega o poder do Estado, mas focaliza a sua atenção para entender os “micro-poderes” que estão relacionados ao aparato estatal. Ao rejeitar as teorias contratualistas e as teses que se referem à legalidade do uso da violência, os estudos foucaultianos elaboram uma análise genealógica “não-jurídica” do poder, buscando apontar a positividade e a produtividade do poder, especialmente, do poder disciplinar que fabrica individualidades e é capaz de produzir realidade e “verdades”. Na interpretação de Romano, as relações de poder para Foucault,

[...] Funcionam como uma rede de dispositivos ou mecanismos a que nada ou ninguém escapa, a que não existe exterior limites ou fronteiras. Daí a importante e polêmica ideia de que o poder não é algo que se detém como uma coisa, como uma propriedade que se possui ou não [...] Rigorosamente falando, o poder não existe, existem sim práticas ou relações de poder. O que significa dizer que o poder é algo que se exerce [...] (ROMANO, 2007, p. XIV). A partir da afirmativa de que o poder se exerce, a pergunta crucial que Foucault faz é: como esse poder é exercido, quais os mecanismos do poder? Para buscar responder essa indagação ele se debruçou sobre a tríade poder, direito e verdade. De um lado, Foucault inter-pela o arcabouço jurídico que define o poder em termos formais, de outro ele questiona a base filosófica que produz os discursos, tidos como verdadeiros, que circulam e se reproduzem, estabelecendo e legitimando as relações de poder.

Para Foucault, não se pode entender o poder procurando aqueles que o possuem e os que estão destituídos desse potencial, porque o “poder deve ser analisado como algo que circula, ou melhor, como algo que só funciona em cadeia” (FOUCAULT, 2007, p.183). Igualmente, o poder não pode ser analisado a partir de cima, mas sim nos níveis mais baixos, onde os procedimentos de poder atuam. Ademais, os indivíduos estão propensos a exercer e a sofrer a ação do poder. Como o poder fabrica indivíduos, o “indivíduo não é o outro do poder”, mas sim o seu “centro de transmissão” (FOUCAULT, 2007, p. 183-4).

Em entrevista, publicada no livro Microfísica do Poder, Foucault esclarece o sentido que conferiu ao termo “dispositivo” no primeiro volume da História da Sexualidade, visto que esse termo é fundamental para o entendimento do que ele denominava de “analítica do poder”. Nas suas palavras, o dispositivo abrange:

[...] um conjunto decididamente heterogêneo que engloba discursos, instituições, organi-zações arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados científicos, proposições filosóficas, morais, filantrópicas. Em suma, o dito e o não dito são os elementos do dispositivo. O dispositivo é a rede que se pode estabelecer entre esses elementos (FOUCAULT, 2007, p. 244).

Para Foucault (1988), o que se chama poder engloba “uma multiplicidade de corre-lações de força”, por essa razão, o poder está em toda parte, é onipresente. O poder “[...] não

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é uma instituição ou uma estrutura, não é uma certa potência de que alguns sejam dotados: é o nome dado a uma situação estratégica complexa numa sociedade determinada” (FOU-CAULT, 1988, p. 104).

Tomando como referência o método esboçado na História da Sexualidade: a

von-tade de saber, as formulações de poder de Foucault podem ser resumidas da seguinte forma:

1) o poder não é algo que se adquire, ele se exerce nas relações humanas; 2) o poder é algo intrínseco nas relações econômicas, sexuais e de conhecimento; 3) o poder vem de baixo, mas atravessa toda a sociedade; 4) as relações de poder são intencionais e não subjetivas; 5) onde há poder há resistência. Com esse livro, pode-se dizer que Foucault rompe com os estudos tradicionais sobre o conceito de poder, na medida em que realiza uma “análise do poder priorizando a observação de suas práticas e estratégias, não com base na relação ordem/obedi-ência, mas aos processos de sujeição no que diz respeito à construção de identidades pessoais e sociais” (FOUCAULT, 1988, p. 104-8).

Nesse sentido, na visão iconoclasta de Foucault, não interessa apenas a razão pela qual A é submisso à vontade de B, porque essa seria apenas uma motivação visível, terminal. O que interessa investigar então são os dispositivos utilizados por A para submeter, disciplinar e controlar B. Tais dispositivos teriam sido implantados em determinado contexto histórico, com algum objetivo intencional e estratégico, estando presentes nas relações de força das quais A e B participam e sendo, portanto, irradiados a partir de micros e macros poderes existentes na sociedade. As relações de força seriam dinâmicas, podendo comportar as resis-tências sociais. O dispositivo da sexualidade, ao instituir um saber e normatizar o que é lícito e o que é ilícito sobre o sexo, seria um exemplo de como o poder atua e interfere no cotidiano das pessoas.

A GEOGRAFIA DO PODER DE RAFFESTIN E O PENSAMENTO FOUCAULTIANO Claude Raffestin, geógrafo suíço, publicou sua mais influente obra, Por uma

Geo-grafia do Poder, em 1980, a qual foi traduzida para o português por Maria Cecília França em

1993, e até hoje é uma importante referência na área de estudos de Geografia Política e aos seus desdobramentos. Como esclarece o autor: “apoiamo-nos na geografia política clássica, tal como ela foi ilustrada desde Ratzel, e lhe fizemos a crítica [e propomos] uma problemática relacional, na qual o poder é a chave” (RAFFESTIN, 1993, p. 7).

O livro de Claude Raffestin está dividido em quatro partes. Na primeira parte, in-titulada “de uma problemática a outra”, o autor elabora uma critica a Geografia Política Clás-sica, apresentando elementos para uma problemática relacional até apresentar sua concepção de poder, com base em Michel Foucault, especialmente nas considerações feitas em História

da Sexualidade: a vontade de saber. A concepção de poder, definida, logo de saída, como algo

relacional e que se exerce, orienta todo o debate desenvolvido ao longo do livro.

Na segunda parte do livro, denominada “a população e o poder”, estabelece-se uma série de vínculos entre a dinâmica populacional e o poder. Ele começa apresentando a relação entre recenseamento e o poder, e depois aborda questões como: a língua e o poder, a religião e o poder e as raças e etnias e sua interface com o poder. Mas por que abordar a população e o poder? O próprio Raffestin (1993, p. 7) responde: “porque é a fonte do poder, o próprio fundamento do poder, por sua capacidade de inovação ligada ao seu po-tencial de trabalho”.

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É somente na terceira parte do livro que Raffestin enfoca a relação entre território e poder, apresentando, de forma mais específica, as quadrículas do poder, as noções de nodo-sidade, centralidade e marginalidade e a relação entre as redes e o poder. Para o autor, o terri-tório é um produto dos atores sociais. De modo que há “um ‘processo’ do territerri-tório, quando se manifestam todas as espécies de relações de poder, que se traduzem por malhas, redes e centralidades, cuja permanência é variável, mas que constituem invariáveis na qualidade de categorias obrigatórias” (RAFFESTIN, 1993, p. 7-8).

Na quarta parte do livro, Raffestin problematiza os recursos e o poder. Nesta parte, debate-se sobre o que são os recursos, aborda-se a questão dos atores e suas estratégias quanto a esses recursos e, por fim, trata-se dos recursos como “armas políticas”. Na interpretação do autor, “um recurso não é uma coisa, é uma relação cuja conquista faz emergir propriedades necessárias à satisfação das necessidades” (RAFFESTIN, 1993, p. 8).

É interessante a forma como Raffestin inicia a sua abordagem sobre o poder e suas relações. Ele se ampara em um quadro do artista espanhol Francisco José de Goya y Lucientes (1746-1828) denominado “Manuel Osorio Manrique de Zuñiga” (1787-1788). A descrição do quadro se resume a uma criança de vermelho cercada por seus animais de estimação, sen-do três gatos de olhos arregalasen-dos, uma gaiola com pássaros menores e um pássaro preso a um cordão e um cartão de visitas preso ao bico. Raffestin afirma que “a obra de Goya é uma fascinante metáfora pictural de um sistema de poder. Sem dúvida a criança domina por sua presença realçada pelo vermelho, mas só domina porque todas as relações passadas, presentes e futuras passam por ela” (RAFFESTIN, 1993, p. 6).

Para Raffestin (1993, p. 7), os animais presentes no quadro de Goya são “trunfos para a criança, que os controla e com eles mantém relações de poder”. Pode-se dizer que essa criança é uma alegoria de um indivíduo que possui capacidade de produzir recursos. Os recursos, renováveis e não-renováveis, por exemplo, são produzidos na relação do indivíduo com as coisas, as pessoas e o espaço e constituem trunfos que podem ser mobilizados nas variadas esferas do poder.

Mas qual a explicação dada por Raffestin para justificar a onipresença desse poder que perpassa todas as análises contidas na obra escrita em 1980, desde a população, passando pelo território e finalizando no debate sobre os recursos? Ora, respaldando-se nas definições feitas por Foucault, no primeiro volume do livro História da sexualidade (1988, p. 102-103), Raffestin parte do pressuposto de que “o poder é consubstancial com todas as relações” (RA-FFESTIN, 1993, p. 52). Para o autor existe o “Poder” e o “poder”. O Poder, com letra

mai-úscula, seria o mais visível e postularia a soberania do Estado, as normas jurídicas e as formas de dominação.

Na outra ponta, insere-se o poder, que baseado em Lefebvre, “‘nasceu muito cedo, junto com a história que contribuiu para fazer’” (LEFEBVRE, 1972, apud RAFFESTIN, 1993, p. 52). Esse poder, com letra minúscula, está “[...] presente em cada relação, na curva de cada ação: insidioso, ele se aproveita de todas as fissuras sociais para infiltrar-se até o cora-ção do homem”. O “poder se manifesta por ocasião da relacora-ção” (RAFFESTIN, 1993, p. 53). Das duas formas de poder, o Poder e o poder, Raffestin (1993, p. 52) considera que o primeiro “[...] é mais fácil de compreender porque se manifesta sob intermédio dos aparelhos complexos que encerram o território, controlam a população e dominam os recursos”. O segun-do, entretanto, é o mais perigoso, porque é “[...] aquele que não se vê, ou que não se vê mais por-que se acreditou tê-lo derrotado, condenado à prisão domiciliar” (RAFFESTIN, 1993, p. 52).

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Muito embora Foucault tenha sido criticado por ter-se silenciado em relação à geo-grafia (FOUCAULT, 2007, p. 153), Raffestin, de forma pertinente, se apropria das formula-ções foucaultianas de poder para pensar a questão da ação humana sobre o espaço-tempo. Na visão de Raffestin, há uma notória relação entre poder e saber, e os elementos que atravessam e desligam essa relação são a energia e a informação. Contudo, “a energia pode ser transfor-mada em informação, portanto em saber; a informação pode permitir a liberação da energia, portanto de força” (RAFFESTIN, 1993, p. 56).

Ao falar da importância da informação, Raffestin está se apropriando da discussão foucaultiana sobre a relação entre poder e saber. O saber seria um tipo de dispositivo que circula e é acionado pelo indivíduo para a constituição da sua identidade e para a sua ação prática no mundo. Lembrando que o indivíduo, para Foucault (2007, p. 182-3), é o “efeito do poder” e também o seu “centro de transmissão”.

Os trunfos do poder, que objetiva controlar e dominar os homens e as coisas, esta-riam na população, no território e nos recursos. Na população porque o autor considera que ela esta na origem de todo poder. No território porque “[...] é a cena do poder e o lugar de todas as relações, mas sem a população, ele se resume a apenas uma potencialidade, um dado estático a organizar e a integrar numa estratégia” (RAFFESTIN, 1993, p. 58). Por fim, os recursos porque são eles que determinam os horizontes possíveis da ação.

No que diz respeito ao território, um dos trunfos do poder, o autor esclarece que ele não se equivale ao espaço. Para Raffestin (1993, p. 143), “[...] o espaço é anterior ao território. O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível”, sendo este ator compreen-dido como as organizações da sociedade civil que vão desde a família ao Estado. Enfim, o autor defende que o território é um espaço no qual se projetou um trabalho e que revela as relações marcadas pelo poder.

No sistema territorial de Raffestin (1993, p. 150), “[...] os atores vão proceder à repartição das superfícies, à implantação de nós e à construção de redes”. A essa tríade o autor denomina como “essencial visível”, embora considere que malhas, nós e redes nem sempre sejam diretamente observáveis, por se constituírem, em muitos casos, como apenas decisões. E, portanto, estarem presentes, sem, contudo, terem suas origens explicadas por homens e/ ou grupos.

Nessas proposições raffestinianas, novamente, se observa a apropriação de Foucault (1988, p. 105), que foca o seu olhar para a análise das micro-esferas do poder, nas táticas “in-tencionais e não subjetivas”, que se encadeiam entre si e formam um “dispositivo de conjun-to”. Raffestin, por sua vez, se debruça sobre como tanto a malha, como nós e redes expressam e representam o poder de indivíduos e/ou grupos, em outras palavras, de atores sintagmáticos. Na interpretação do geógrafo suíço, a implantação do sistema territorial (produ-to e meio de produção) não se dá de forma aleatória ou desinteressada, ao contrário, ela se implanta a partir das intencionalidades desses atores. Sobre a rede, por exemplo, Raffestin afirmou que “toda rede é uma imagem do poder ou, mais exatamente, do poder do ou dos atores dominantes” (RAFFESTIN, 1993, p. 157).

Nessa abordagem do território e de seu sistema territorial, Raffestin discute tam-bém outro componente importante: a territorialidade, que pode “[...] ser definida como um conjunto de relações que se originam num sistema tridimensional sociedade-espaço-tempo em vias de atingir a maior autonomia possível, compatível com os recursos do sistema”

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(RA-FFESTIN, 1993, p. 160). Para o autor, a territorialidade se manifesta como uma relação com os atores e as mesmas se manifestam em todas escalas espaciais e sociais: é a “face vivida” da “face agida” do poder.

Analisando os estudos de Raffestin sobre o território, a territorialidade, a população e os recursos, pode-se reconhecer a influência que o pensamento de Michel Foucault tem na geografia política raffestiniana, a qual é compreendida tendo em vista as relações de poder presentes em diversas escalas, e não somente no Estado, como privilegiava a análise de Frie-drich Ratzel (1990, p. 73) em fins do século XIX.

Esses estudos foucaultianos, além de provocarem controvérsias entre os geógrafos, que discordam da crítica de Raffestin feita a Ratzel no que se refere às relações de poder que atuam fora do Estado moderno (CASTRO, 2005, 71-72), servem como um referencial im-portante para a compreensão dos fenômenos contemporâneos, pois, conforme o autor, “a análise geográfica do poder que extrai das ciências do homem os seus conceitos fundamentais deve [...] enfrentar aquilo que se convencionou chamar de ‘atualidade’ aparentemente incoe-rente e incompreensível” (RAFFESTIN, 1993, p. 269). Apenas apaincoe-rentemente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme demonstramos, as definições dos dicionaristas, seguindo as formulações que circularam na teoria política moderna, sobretudo pelos contratualistas, identificaram o poder ao aparelho e às atribuições jurídicas do Estado. Dentro dessa concepção mais macro, o poder estava relacionado ao direito de agir com base em um pacto social, à posse e ao uso legítimo da força física e a detenção de recursos financeiros, que levaria, em última instância, ao domínio das estruturas estatais por uma determinada classe social. O que daria funda-mento e legitimidade a esse poder estatal seriam as escalas de valores de uma dada sociedade e os aspectos simbólicos que são mobilizados pelos diferentes agentes sociais, especialmente, aqueles que atuam em instituições encarregadas de produzir discursos autorizados.

A correlação entre Estado e poder, porém, é questionada por Michel Foucault que quer analisar esse fenômeno de outros ângulos, pensando especificamente a relação entre poder e saber, seja esse saber o discurso do médico, do professor ou dos juristas. O poder se manifestaria por meio de discursos de verdade construídos por diferentes sujeitos sociais. Os discursos induziriam a disciplinarização dos corpos e a padronização de valores.

Ao fazer uma genealogia dos dispositivos de poder, Foucault faz uma espécie de his-tória das ciências ou mais especificamente dos sistemas de pensamento científico, relacionan-do essa ciência aos vários atos de poder que foram desencadearelacionan-dos, tenrelacionan-do como meio de difu-são as instituições (prisões, hospitais, fábricas, quartéis, igrejas e escolas) que se incumbem da parte pragmática nesse processo de disciplinarização e submissão dos corpos. Os dispositivos de poder, presentes nos discursos e nas práticas correntes no mundo social, transcendem e aprisionam os sujeitos. Daí a grande crítica feita a Foucault, que, ao falar do poder como algo onipresente e onipotente, como se sugere na metáfora do Panopticon, restringe a autonomia dos sujeitos em suas formulações teóricas. Esses sujeitos podem até fazer resistências, mas es-sas são móveis e transitórias e não conseguem romper, de modo definitivo, com as correlações de poder vigentes.

Um dos aspectos que caracteriza as formulações teóricas bastante positivas e inova-doras de Foucault é forma como ele dialoga com várias disciplinas (história, filosofia,

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psica-nálise, psicologia, análise do discurso). Essa perspectiva interdisciplinar torna mais fácil ele demonstrar como o poder pode atuar e se reproduzir a partir de diferentes lugares. É como se o poder tivesse várias arenas de atuação, vários campos de combate que estão sincronizados.

O caráter interdisciplinar das formulações teóricas foucaultianas repercutiu e influen-ciou vários estudiosos das ciências humanas, entre eles o geógrafo Claude Raffestin, que ao ana-lisar o processo de produção do território e da territorialidade, o fez a partir de uma abordagem relacional de poder. Respaldado no pensamento de Foucault, que rejeita a análise do poder que prima pela supremacia da concepção jurídica da soberania do Estado, como fizeram os contra-tualistas, Raffestin critica a concepção de Ratzel (1990), que entende a geografia política a partir do poder do Estado. Raffestin, assim como Foucault, discorda que o Estado seja o lócus privile-giado para entender as relações de poder existentes em determinado espaço-tempo.

Contudo, ao conferir destaque à ação do ator sintagmático (seja esse o Estado, as instituições, as empresas ou os indivíduos), especialmente do trabalho humano, sobre o espa-ço territorial, Raffestin se distancia do pensamento foucaultiano que está mais interessado em realizar uma análise genealógica das estratégias de poder inventadas e utilizadas para produzir determinado efeito em determinadas circunstâncias históricas.

Esse distanciamento entre os dois intelectuais talvez se deva ao próprio foco do ob-jeto de estudo, haja vista que Raffestin está investigando a materialidade das relações de poder (território, população e recursos) e Foucault está interpelando as táticas simbólicas, de forte caráter disciplinar, presentes nessas relações e que conferem sentido à materialidade do poder. Foucault está mais interessado nas produções discursivas (nos saberes) e nas suas transforma-ções ao longo da história. Raffestin está interessado nas relatransforma-ções existentes entre informação e energia na produção do território. A análise de Foucault é mais histórico-filosófica e a de Raffestin mais voltada para a geografia política, com nuances semânticas e antropológicas. De modo que, podemos dizer, sem sombra de dúvidas, que a contribuição teórica de ambos são interdisciplinares.

Por tratar de questões empíricas mais tangíveis, a concepção de poder de Raffestin torna-se mais clara do que o pensamento foucaultiano, na medida em que ele territorializa os indivíduos e as relações de poder. Para Raffestin, o poder, com letra minúscula, existe nas re-lações e pode ser identificado. Esse poder não é algo abstrato, embora possa não ser evidente. Raffestin, nesse sentido, complementa os estudos de Foucault, ao demonstrar por meio de um estudo de geografia política, a forma como as relações de poder estão presentes na produ-ção do território e nas práticas de territorialidade.

THE FIELDS OF COMBAT OF THE POWER: THE DIALOGUE BETWEEN FOUCAULT AND RAFFESTIN

Abstract: this article discusses the concept of power, highlighting the varied meanings that appear

in dictionaries. It is also discussed how this term was approached in the work of Michel Foucault, whose studies, based on an interdisciplinary approach to research, reverberated and influenced countless scholars of the human sciences, among them the geographer Claude Raffestin. However, by addressing more empirical questions, Raffestin’s conception of power becomes tangible than Fou-cault’s, insofar as it territorializes individuals and power relations.

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