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O ensino de química e o multiculturalismo como possibilidade de reconstrução das representações de índios e quilombolas / Teaching chemistry and multiculturalism as the possibility of reconstructing the representations of indians and kilombols

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Academic year: 2020

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.24995-25004 may. 2020. ISSN 2525-8761

O ensino de química e o multiculturalismo como possibilidade de reconstrução

das representações de índios e quilombolas

Teaching chemistry and multiculturalism as the possibility of reconstructing the

representations of indians and kilombols

DOI:10.34117/bjdv6n5-087

Recebimento dos originais:10/04/2020 Aceitação para publicação:06/05/2020

Giovanna Conrado Quadros

Acadêmica de Licenciatura em Química da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Endereço: Rua Rosalina Maria Ferreira, 1233 - Vila Carola, Campo Mourão - PR, Brasil

E-mail:giovannaquadros@alunos.utfpr.edu.br

Gustavo Pricinotto

Doutor em Ensino de Ciências e Educação Matemática pela Universidade Estadual de Maringá

Professor do curso de Licenciatura em Química – Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Endereço:Rua Rosalina Maria Ferreira, 1233 - Vila Carola, Campo Mourão - PR, Brasil E-mail:gustavopricinotto@gmail.com

Ana Carolina Hyrycena

Licenciada em Química pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná Endereço:Rua Rosalina Maria Ferreira, 1233 - Vila Carola, Campo Mourão - PR, Brasil

E-mail:anahyrycena@gmail.com

Sara Silva Soares

Acadêmica de Licenciatura em Química da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Endereço:Rua Rosalina Maria Ferreira, 1233 - Vila Carola, Campo Mourão - PR, Brasil

E-mail:sarasoares.01@hotmail.com

Danielle da Silva

Acadêmica de Licenciatura em Química da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. E-mail:Rua Rosalina Maria Ferreira, 1233 - Vila Carola, Campo Mourão - PR, Brasil

E-mail:dannymrosa5@gmail.com

Estela dos Reis Crespan

Doutora em Química pela Universidade Federal de Santa Maria

Professora do curso de Licenciatura em Química – Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Endereço:Rua Rosalina Maria Ferreira, 1233 - Vila Carola, Campo Mourão - PR, Brasil E-mail:ercrespan@gmail.com

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.24995-25004 may. 2020. ISSN 2525-8761 Alexandre Luiz Polizel

Doutorando em Ensino de Ciências e Matemática pela Universidade Estadual de Londrina Endereço:Rua Paranaguá, 1058, apt 14 - centro - Londrina - Paraná – Brasil

E-mail: alexandre_polizel@hotmail.com

RESUMO

Por meio da legislação 11.645 de 2008, a temática História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena começa a ser inserida na educação básica. Desde então, tem se discutido a possibilidade de incluir essa temática no Ensino de Ciências e como realizar essa abordagem. Deste modo, o presente trabalho apresenta uma articulação entre o conhecimento cientifico e os conhecimentos populares, da cultura indígena e quilombola, utilizando como meio de contextualização a química dos carboidratos, percebendo a importância de trabalhar a história do nosso país em prol da construção de uma sociedade antirracista apresentamos uma proposta para ser ministrado nas aulas de Química para estudantes do terceiro ano do Ensino Médio. Para isso, desenvolvemos uma sequência didática embasando-se em Delizoicov e Angotti (2002), intitulada: Mandioca Raiz do Brasil. Pensar a articulação entre raízes históricas do Brasil, conceitos químicos e a diversidade de povos indígenas e quilombolas, ultrapassa a ideia de um currículo tradicional, dando possibilidades para repensarmos as relações de poder na sociedade atual, e recriando articulações de sobrevivência entre homens brancos e negros. Palavras-chave: Ensino de Química. Cultura Indígena. Cultura Quilombola. Integração de Saberes.

ABSTRACT

Through legislation 11,645 of 2008, Afro-Brazilian and Indigenous History and Culture begins to be inserted in basic education. Since then, he has been discussing the possibility of including this theme in science education and how to approach it. In this way, the present work presents an articulation between scientific knowledge and popular knowledge of indigenous and quilombola culture, using as contextualization the chemistry of carbohydrates, realizing the importance of working the history of our country in the development of a social construction. The anti-racist presents a proposal to teach chemistry classes to third year high school students. For this, we developed a didactic sequence based on Delizoicov and Angotti (2002), entitled: Cassava Root of Brazil. To think of an articulation between Brazil's historical roots, concepts and diversity of indigenous and quilombola peoples, to surpass an idea of a traditional curriculum, to allow possibilities of remuneration as power relations in today's society and to recreate the articulations of white men and women.

Keywords: Chemistry teaching. Indigenous culture. Quilombola Culture. Knowledge Integration.

1 INTRODUÇÃO

A Química é uma Ciência que estuda as transformações da natureza, e está presente em nosso cotidiano diariamente, e este deve ser um dos nossos interesses nos estudos da área de Ensino de Química. Deste modo, ao ensiná-la devemos relacioná-la com acontecimentos

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.24995-25004 may. 2020. ISSN 2525-8761 do cotidiano dos alunos, em suas mais distintas possibilidades. Todavia, a maneira com que é desenvolvido o ensino de Ciências atualmente, o torna distante da possibilidade de uma formação crítica e cidadã, o qual os estudantes necessitam conhecer para exercer a cidadania e mostra-se distante também do cotidiano dos estudantes. (VANUCHI, 2019)

Diante desta realidade, para que o Ensino de Química possa contribuir para a formação de uma consciência cidadã, ele deve ser desenvolvido de maneira que a Ciência, a Tecnologia e o Sociocultural sejam trabalhadas de forma conjunta, articulada e que se complementem. Ao ser inserido no contexto escolar com o diálogo permanente, mostra-se como alternativa de ensino que busca minimizar esse distanciamento do cotidiano. No entanto, deve-se compreender de que estes campos não se produzem independentemente da sociedade, e possuem a marca da sua condição histórico-cultural. (VANUCHI, 2019) Também é importante compreender, que a aproximação do cotidiano aos conteúdos científicos devem ocorrer de forma articulada e plural, pois o cotidiano muitas vezes é apresentado de forma singularizada e limitada, deixando de lado outras possibilidades de existências, principalmente no que tange a existência de corpos muitas vezes silenciados por um currículo limitado e de distanciamento das suas formas ocultas.

A aproximação do ensino de ciências com o cotidiano do aluno é relatado por Mendonça e Eleutério em suas pesquisas, em que os pesquisadores ressaltam a importância da inclusão do multiculturalismo no ensino, tendo em vista a pluralidade cultural em que estamos inseridos e o rico conhecimento presente nesse laços culturais:

“[...] a educação escolar não se limita à escola, é importante saber como as comunidades pensam e produzem os saberes relacionados à natureza e os laços históricos que são criados nesses grupos a partir desses conhecimentos, os quais estabelecem um “troco de aprendizagem” e o valor pedagógico que esse saberes fornecem como temática contextualizando o ensino-aprendizagem. Porém, esse conhecimento que adquirido no meio social desse aluno nem sempre são levados em conta, fazendo com que a sociedade e a escola se tornam distantes essa forma de conhecimento se torna até mesmo irrelevante.” (MENDONÇA; ELEUTÉRIO, 2011, pág. 6)

Ao discutirmos sobre o conhecimento sociocultural permitisse pensar numa escola focada em um ensino multicultural, plural e heterogêneo. Este tipo de ensino, permitirá a valorização e promoção da diversidade cultural, construção de novos saberes fundamentados

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.24995-25004 may. 2020. ISSN 2525-8761 na experiência e nas práticas dessas populações (MENDONÇA; ELEUTÉRIO, 2011). Através do ensino multicultural, obtém-se uma igualdade de direitos e possibilidade de uma educação verdadeiramente democrática, em que pessoas comuns - independentemente da sua especificidade, condição de minorias linguísticas, étnicas ou culturais e de áreas ou grupos desfavorecidos ou marginais - possam ter seus saberes valorizados e seus interesses contemplados, com isso, reafirmando vozes que até eram silenciadas e marginalizadas.

Buscando o ensino verdadeiramente democrático e heterogêneo, os parâmetros que orientam a educação nacional defendem a inserção e valorização da pluralidade cultural presente na sociedade brasileira no ensino, sendo estes tópicos incorporados no currículo escolar como obrigatoriedade seguindo a Lei nº 11.645 de 2008. Tendo em vista, essa perspectiva curricular de aproximação dos conhecimentos científicos do cotidiano do estudante e a bagagem sociocultural, presente na cultura afro-brasileira e indígena, o Ensino de Ciências pode apropriar-se desses e transformá-los em instrumentos de ensino, buscando por meio desse diversificar as metodologias a serem usadas no ambiente escolar através da contextualização. (VANUCHI, 2019)

Acreditamos nesta potencialidade de articulação do ensino de Química por partilharmos da ideia de que o Brasil é um país com diferentes composições étnicas, ou seja, a população brasileira é formada por uma mistura de grupos étnicos, povos que vieram de vários países como Portugal, Itália, África entre outros e povos que já habitavam essas terras, os indígenas. Nesse sentido, encontramos dentro de uma sala de aula uma diversidade de raça entre os alunos, cada um com uma personalidade, história cultural e religiosa diferentes.

Em 1998 mesmo com essa multiplicidade de raça nas escolas e na sociedade, no Brasil não se falava de leis que expressassem a educação raciais e evitava a falar sobre a importância dos negros e indígenas na participação dos povos brasileiros, mesmo com toda contribuição para formação da população brasileira e injustiça da escravidão passado por eles. (SILVA, 2017)

A lei Nº 11.645, de 10 de março de 2008 possibilitou o debate a favor da educação a serviço da diversidade, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional a obrigatoriedade das escolas públicas e privadas a incluir no currículo a temática “História e Cultura Afro-Brasileira e indígena”.

A lei rege no Art.26-A § 2o que “[...] conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar [...]”(Brasil, 2003). Assim, possibilitando a abordagem dentro de todas matérias

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.24995-25004 may. 2020. ISSN 2525-8761 escolares. Percebendo a importância de trabalhar a história do nosso país em prol da construção de uma sociedade antirracista o presente trabalho traz uma proposta para ser ministrado nas aulas de Química no ensino médio.

A escola está articulada com a sociedade, elas não são distintas, o que acontece em uma reflete na outra, desta maneira é importante olharmos em nossa sociedade e identificarmos o que necessitam para a formação de um cidadão crítico e sem discriminação étnico-social. Deste modo, temos a finalidade com esse presente trabalho desconstruir uma série de estereótipos, principalmente no que se refere aos afrodescendentes e indígenas, mostrando as suas peculiaridades culturais e históricas desses sujeitos, falando sobre o que está acontecendo atualmente em nosso país (a demarcação de terras) e o genocídio dessas pessoas, que muitos momentos são marginalizados na sociedade e em consequência recebem o mesmo na escola. (CRUZ, 2013)

2 METODOLOGIA

Diante desta realidade, buscamos nesta atividade da disciplina de Estágio Curricular Supervisionado 3 do curso de Licenciatura em Química da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campo Mourão, realizar a contextualização da cultura indígena e quilombola no Ensino de Química com o desenvolvimento de uma sequência didática, para uma turma de 3º ano do Ensino Médio Regular de uma escola de região marginalizada da cidade de Campo Mourão, envolvendo a química dos carboidratos, em específico os presentes na mandioca, assim conhecido na região Sul do Brasil. Ao trabalharmos com o tema carboidratos, introduzimos conceitos de nomenclatura IUPAC e usual para grupo funcionais oxigenados - álcoois, aldeídos e cetonas - sendo este conteúdo presente no currículo do Ensino Básico e de difícil contextualização na área de Química Orgânica.

Pensando em desenvolver uma metodologia diferenciada, desenvolvemos a sequência didática com a temática: Mandioca Raiz do Brasil. Nesta, abordamos a planta em diversos aspectos, buscando articular a proposta multicultural e de elementos diversificados para o Ensino de Química, articulando a pluralidade destes povos diante da alimentação saudável, envolvendo fatores tais como: Cultural, Político, Social, Econômico, Tecnológico e Conceitual\Científico.

No aspecto Cultural, abordamos a simbologia da planta para os povos indígenas e quilombolas, visando articular o âmbito histórico e cultural. Para tal, utilizamos a Lenda da Mandioca de origem indígena para exemplificar a importância da mesma para esse povo, bem

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.24995-25004 may. 2020. ISSN 2525-8761 como, os materiais desenvolvidos por eles para a produção de subprodutos alimentícios, tais como: o Titipi, Esteira de Palha, entre outros, e os processos que utilizam para tal, que carregam com si potencialidades históricas desses povos e que ainda são empregadas atualmente.

Outro aspecto cultural abordado foi a diversificação regional que a planta apresenta, primeiramente no que tange as possiblidades linguísticas. O que aqui conhecemos como Mandioca, percorre outras possibilidades de existência: macaxeira, aipim, castelinha, uaipi, mandioca-doce, mandioca-mansa, maniva, maniveira, pão-de-pobre, mandioca-brava e mandioca-amarga, são termos brasileiros para designar a espécie Manihot esculenta. Além das variações quanto ao nome, a mandioca é utilizada em pratos típicos regionais, podendo ser empregada como símbolo da cultura de alguns estados, como no caso do Tucupi, caldo produzido da manipueira-líquido extraído da mandioca-brava, que apresenta alto grau de toxidade, devido a presença de elevada concentração de ácido cianídrico presente nesta espécie- conhecido pela característica de deixar a boca dormente, oriundo da região norte do Brasil, dando diversificada possibilidade para articulação entre Ensino de Química e cultura.

Diante das possibilidades de pensar a formação cidadã na articulação entre Ciência, Tecnologia e Sociedade, temos de pensar neste processo de tecer uma teia muito bem estruturada para trabalharmos os seus distintos âmbitos, neste sentido, no aspecto Tecnológico abordamos as aplicações tecnológicas empregadas a planta, para a produção de seus diversificados subprodutos. Foram discutidos diversas aplicações e os processos químicos que estas envolvem, tais como: etanol de mandioca – álcool combustível produzido através da planta de mandioca, em que este apresenta um rendimento maior que o álcool de cana de açúcar mais utilizado -, aplicação na indústria têxtil para a melhora na maleabilidade das fibras – onde amido é introduzido na produção do tecido para melhorar a maleabilidade e consequentemente a durabilidade do material-, produção de bioplásticos e produtos alimentícios.

Articulando as diversas possiblidades, também visamos neste âmbito trabalhar com questões referentes a política e economia, tratando de temas alimentícios, seus subprodutos e processo de fabricação, lucros e dividendos, buscando trabalhar com os estudantes as questões referentes a tomada de decisão diante da diversidade de possibilidades.

A articulação dos teores tecnológicos com os aspectos Conceitual/Científico discutimos os processos químicos para extração do ácido cianídrico, para tornar o produto propicio para o consumo humano, bem como, os processos para modificação da planta para o

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.24995-25004 may. 2020. ISSN 2525-8761 polvilho. Foram abordados também a conceito de carboidratos, onde discutimos a definição das classes de carboidratos utilizando dos conhecimentos já estudados sobre a mandioca, promovendo assim uma melhor compreensão desses conceitos. Junto aos conceitos de carboidratos trabalhamos os conteúdos de nomenclatura IUPAC de funções oxigenadas, sendo elas: álcoois, aldeídos e cetonas.

Para a melhor abordagem desses aspectos, utilizamos de atividades diferenciadas, no intuito de tornar o ensino mais participativo por parte dos alunos, sendo elas: debate, análise sensorial e atividades experimentais investigativas. Essa articulação foi feita embasando-se nos três momentos pedagógicos de Delizoicov e Angotti (2002), buscando em um tema gerador a sequência de uma problematização inicial, a organização do conhecimento e aplicação do conhecimento. Neste sentido, partindo do tema “Mandioca: a raiz do Brasil”, desenvolvemos três momentos, que diferente do que esta perspectiva possa fazer parecer, em três momentos distintos, foram sempre articulados, buscando uma problematização baseando-se em um ensino humanizado e pós-crítico, dando possibilidades para pensarmos currículos que até então estiveram ocultos. Por fim, antes de reproduzirmos currículos descontextualizados e deslocados da realidade dos estudantes, visamos questionar o porque de determinados conteúdos terem sido silenciados, buscando evidencia-los.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para que pudéssemos iniciar o debate, buscamos através de uma problematização inicial, compreender os conhecimentos prévios dos estudantes, as provocações introdutórias se decorreram a partir de questionamentos sobre os processos de produção dos subprodutos obtidos a partir da mandioca e os contextos ambientais, sociais, culturais e químicos que os permeiam. A realização do debate teve como objetivo avaliar se os estudantes compreendiam a relação destes diversos fatores com os conhecimentos químicos e históricos dos povos indígenas e quilombolas. Apresentar estas possibilidades faz-se necessária, exatamente por possibilitar aos estudantes uma “vivencia” muitas vezes silenciadas nos currículos escolares, buscando romper com a dicotomia entre conhecimento científico e dos saberes de senso comum.

Através dessa atividade buscamos articular o conhecimento científico com os conhecimentos populares, por meio da discussão dos processos químicos envolvidos na produção de polvilho nos processos industriais e na cultura indígena. Nesta atividade exploramos uma discussão com o intuito de quebrar estereótipos e discriminação etno-social

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.24995-25004 may. 2020. ISSN 2525-8761 que ocorre para com povos indígenas e quilombolas. Observa-se que as relações culturais estão atravessadas por questões de poder, marcadas pelo preconceito e pela discriminação de determinados grupos, e é neste intuito que nos parece importante apresentarmos essa articulação aos estudantes, buscando questionar essas relações de poder presentes no currículo, que excluem e marginalizam estes sujeitos de etnias “diferentes”.

Neste sentido, faz se necessário a inserção de conhecimento populares no Ensino de Ciências, favorecendo a integração dialética das diferenças para combater os conflitos provocados pela assimetria de poder entre os diferentes grupos socioculturais (CREPALDE et al., 2019). Segundo Latour, essa assimetria, em que vencedores e vencidos são apresentados distanciados e já estabilizados, dão espaço, em atividades como a aqui desenvolvida, a uma articulação, em que os vencedores e vencidos, são reativados em meio as discussões de poder, sendo estes rearticulados e tomados de nova rede, com novas possibilidades de existência.

Para uma articulação destes conhecimentos, realizamos a análise sensorial, buscando articular diferentes formas de produtos alimentícios da mandioca, tendo em vista como os múltiplos produtos que podem ser produzidos através da mesma se articulam com a produção de conhecimentos, em uma articulação interdisciplinar entre as diversas perspectivas curriculares. Com esta atividade, buscamos articular os aspectos culturais e conceituais, produzindo e organizando novos conhecimentos para os estudantes.

Posterior a organização, buscamos uma nova aplicação do conhecimento, desenvolvemos uma atividade experimental, buscando rearticular os conceitos em meio a nova aplicação, por meio de no qual buscamos compreender como os carboidratos se articulam aos conhecimentos científicos químicos, na identificação de amido em alguns alimentos e a observação da célula vegetal para problematização do amido como reserva energética das plantas e a utilização do mesmo na alimentação. Esta articulação propõe uma possibilidade de interdisciplinaridade para o Ensino de Ciências.

4 CONCLUSÃO

Pensar a articulação entre raízes históricas do Brasil, conceitos químicos e a diversidade de povos indígenas e quilombolas, superar inicialmente a ideia de um currículo tradicional, no qual visamos somente uma reprodução de um currículo hegemônico, que destitui a possibilidade de existência de sujeitos marginalizados no currículo.

Em um segundo momento, a própria ideia de um currículo crítico é superada, ao visarmos não somente a apresentação das relações de poder presentes no currículo, mas de

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.24995-25004 may. 2020. ISSN 2525-8761 questionar essas relações, dando possibilidades para repensarmos as relações de poder na sociedade atual, e recriando articulações de sobrevivência entre homens brancos e negros.

Ao nos depararmos com a realidade política que nos é apresentada hoje, estamos lidando com (im)possibilidades de existência de determinados sujeitos. Isso principalmente no que tange a nova diretriz proposta pelo atual governo, de extrema direita, no qual extingue-se a possibilidade de discutirmos a ideia de diversidade, excluindo ainda mais os sujeitos que divergem a verticalidade da norma dos currículos.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003. D.O.U de 10/01/2003.

CREPALDE, R.; KLEPKA, V.; HALLEY, T.; SOUSA, M. A Integração de Saberes e as Marcas dos Conhecimentos Tradicionais: Reconhecer para Afirmar Trocas Interculturais no Ensino de Ciências. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v. 19, p. 275-297, 21 maio 2019.

CRUZ, C. S.; JESUS, S. S. Lei 11.645/08: A escola, as relações étnicas e culturais e o ensino de história - algumas reflexões sobre essa temática no PIBID. XXVII Simpósio nacional de história. Ampuh Brasil. Natal - RS, 2013.

DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J. A.; PERNAMBUCO, M. M. Ensino de ciências: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002

MENDONÇA, Andréa de Souza; ELEUTÉRIO, Célia Maria Serrão. O etnoconhecimento e o saber popular do caboclo amazônico: uma abordagem no ensino de ciências naturais e química a partir da extração artesanal do óleo de Copaiba (Copaifera sp.) e Andiroba (Carapa sp.). 2011.

SILVA, E. S; ALVEZ, C. X. Trabalhando a diversidade étnico-racial por meio da ludicidade. XVII SEDU - Semana da educação UEL. Londrina/PR: Universidade Estadual de Londrina. 2017.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n.5, p.24995-25004 may. 2020. ISSN 2525-8761 VANUCHI, Vânia Costa Ferreira. Corantes naturais da cultura indígena no ensino de química. 2019. 252 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Educação em Ciência, UFMS, RS, 2019.

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