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Barreiras à entrada em Portugal

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Alexandra Isabel Correia do Couto

UMinho|20 14 outubro de 2014 Barreiras à entrada em P or tugal

Universidade do Minho

Escola de Economia e Gestão

Barreiras à entrada em Portugal

Ale

xandr

a Isabel Corr

eia do Cout

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Dissertação de Mestrado

Mestrado em Economia Industrial e da Empresa

Trabalho realizado sob a orientação da

Professora Doutora Natália Maria Carvalho Barbosa

Alexandra Isabel Correia do Couto

outubro de 2014

Universidade do Minho

Escola de Economia e Gestão

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iii AGRADECIMENTOS

A realização e conclusão deste trabalho nunca teria sido possível sem a contribuição direta ou indireta de várias pessoas. Para todos, os meus sinceros agradecimentos!

Porém, um agradecimento muito especial:

– Aos meus pais, por não medirem esforços para que alcançasse esta etapa da minha vida, pelas palavras de incentivo nas horas mais difíceis e pelo carinho, compreensão e paciência disponibilizada. Também ao meu irmão pelas mesmas razões e, principalmente, pelos gestos tidos e pelas palavras ditas nos momentos em que mais precisei de sorrir;

– À minha orientadora Doutora Natália Maria Carvalho Barbosa pela sua orientação traduzida numa presença sempre constante e numa resposta sempre atempada aos meus apelos, fazendo-se sempre acompanhar de palavras de confiança e incentivo. Agradeço-lhe igualmente os ensinamentos, críticas e sugestões dadas ao longo deste trabalho;

– A todos aqueles que se demonstraram disponíveis para esclarecer dúvidas ou para fornecer material imprescindível para o trabalho. Em especial, ao Doutor Satwinder Singh e ao Doutor Clemens Lutz e a todas as empresas que responderam ao questionário, possibilitando, assim, a realização do estudo empírico;

– Ao Diogo por acreditar que sou capaz e pela sua dedicação e apoio incansáveis, pela amizade incondicional, pela força e confiança que deposita em mim. Um agradecimento que não cabe em palavras ao namorado, ao amigo, ao companheiro;

– Aos meus avós maternos, aos meus tios Lúcio e Bela, ao meu primo Ricardo, ao meu afilhado, à Rita, ao Sr. Adelino e à Dona Ana pelo apoio, amizade e incentivo ao longo deste percurso;

– Ao avô Côto e à avó Lurdes que, mesmo não estando presentes, continuam a seguir todos os meus passos. A eles, dedico todo este trabalho.

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v Barreiras à entrada em Portugal

Resumo

A questão levantada por Smiley (1988) e Singh et al. (1998) sobre a falta de estudos empíricos sobre a importância das barreiras à entrada tem extrema importância. Algumas das barreiras identificadas pelos vários estudos parecem meramente baseados na teoria. Porém, existem algumas barreiras que na realidade desempenham um papel relevante e necessitam de atenção por parte das autoridades da concorrência. Como tal, o objetivo deste estudo é identificar as barreiras à entrada que têm sido mais frequentemente usadas por empresas portuguesas para inibir a entrada de novas empresas e quais as que afetam mais a decisão de entrada no mercado.

Através de um questionário dirigido às empresas portuguesas dos setores da construção, indústria transformadora e comércio por grosso e a retalho conclui-se que as barreiras com mais importância estão relacionadas com custos afundados, necessidade de capital, custos de capital e desvantagens de custo. Como tal, as autoridades deveriam dar atenção especial ao funcionamento dos mercados financeiros. As barreiras que parecem ter menor importância para as empresas portuguesas são os acordos estratégicos, o acesso a I&D, os custos de mudança e a garantia do input/controlo sob os recursos.

Apesar de algumas diferenças pouco significativas, a ordem de importância das várias barreiras à entrada é coerente entre os diferentes setores de atividade e entre as empresas de diferentes dimensões. Ainda assim, as micro empresas têm uma perceção mais baixa no que concerne às barreiras à entrada do que as PME’s e grandes empresas.

Uma análise fatorial permitiu identificar as seis dimensões subjacentes das barreiras à entrada: I&D, comportamento estratégico, risco de investimento, publicidade, desvantagens de custo e capacidade. Estes resultados demonstram que, na perceção das empresas, tanto as barreiras estruturais como as estratégicas são importantes e a eficácia das barreiras estratégicas depende das características estruturais do mercado.

Apesar de os dados indicarem que as barreiras à entrada não são um fenómeno com elevada gravidade na economia portuguesa, elas podem criar restrições às forças competitivas em determinados mercados pelo que merecem atenção por parte das autoridades da concorrência.

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vii Barriers to entry in Portugal

Abstract

The question raised by Smiley (1988) and Singh et al. (1998) about the absence of empirical studies on the importance of barriers to entry is extremely important. Some of the barriers identified by several studies seem merely based on the theory. However, there are some barriers that actually play an important role and need attention from competition authorities. So, the aim of this study is to identify the barriers to entry that have been most frequently use by Portuguese firms to inhibit the entry of new firms and which of the barriers affect more the decision to enter in the market.

Through a questionnaire sent to Portuguese firms from the sectors of construction, manufacturing, wholesale and retail is concluded that the most important barriers are related to sunk costs, capital requirements, capital costs and cost disadvantages. So, the authorities should give special attention to the functioning of financial markets. The barriers that seem to have minor importance to Portuguese firms are strategic agreements, access to R&D, switching costs and securing the input/control over strategic resources.

Despite some minor differences, the ranking of the importance of the various barriers to entry is consistent between different sectors and between firms of different sizes. Still, micro firms have lower perceptions regarding barriers to entry than SMEs and large firms.

A factor analysis identified six underlying dimensions of barriers to entry: R&D, strategic behavior, risk of investment, advertising, cost disadvantages and capacity. These results demonstrate that in the perception of firms, both structural and strategic barriers are important and that the efficacy of strategic barriers depends on the structural characteristics of the market. Although the data indicates that barriers to entry are not a phenomenon with high severity in the Portuguese economy, they can create restrictions on competitive forces in certain markets and therefore deserve special attention from competition authorities.

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ix Índice

Capítulo I – INTRODUÇÃO ...1

1.1. Escolha e justificação do tema ...1

1.2. Objetivos do estudo e questões de investigação ...2

1.3. Estrutura da dissertação ...3

Capítulo II – ENTRADA DE NOVAS EMPRESAS: IDENTIFICAÇÃO E MECANISMOS DE INIBIÇÃO DE ENTRADA ...5

2.1. “Barreira à entrada”: em busca de uma definição ...5

2.2. Diferentes mecanismos de inibição de entrada ...7

2.3. Barreiras à entrada: será que são efetivamente eficazes na inibição de entrada de novas empresas no mercado? ... 22

Capítulo III – DADOS E METODOLOGIA ... 27

3.1. Tipo de dados e instrumento de recolha ... 27

3.2. O questionário ... 29

3.3. Descrição da população e seleção da amostra ... 34

Capítulo IV – RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 37

4.1. Caracterização da amostra ... 37

4.2. As barreiras à entrada percecionadas pelas empresas portuguesas ... 41

4.3. As dimensões subjacentes das barreiras à entrada ... 56

Capítulo V – CONCLUSÃO... 70

5.1. Principais conclusões e recomendações ... 70

5.2. Fiabilidade, validade e principais limitações do estudo ... 71

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Referências bibliográficas ... 74

ANEXOS ... 81

Anexo 1 – Questionário ... 82 Anexo 2 – Classificação Portuguesa das Actividades Económicas do Instituto Nacional de Estatística ... 91 Anexo 3 – E-mail enviado às empresas no pré-teste e no envio definitivo ... 95 Anexo 4 – Carta e declaração enviada às empresas de forma a comprovar a autenticidade e veracidade do questionário ... 96 Anexo 5 – “Regras do polegar” ou “Rules of thumb” para determinar o dimensão ideal de amostras de modo a aplicar várias técnicas estatísticas ... 99 Anexo 7 – Teste Kolmogorov-Smirnov à normalidade das variáveis por setor de atividade 100 Anexo 8 – Teste Kolmogorov-Smirnov à normalidade das variáveis por dimensão das empresas ... 103

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xi Índice de Tabelas

Tabela 1 – Barreiras à entrada ...8

Tabela 2 – Distribuição das empresas por setor de atividade e classe/dimensão... 38

Tabela 3 – Estratégias adotadas pelas empresas instaladas ... 40

Tabela 4 – Tipo de empresas que procuram entrar no mercado onde as empresas respondentes operam ... 40

Tabela 5 – Barreiras à entrada mais e menos importantes na perceção das empresas ... 42

Tabela 6 – Importância das barreiras à entrada na perceção das empresas por setor de atividade ... 45

Tabela 7 – Teste Kolmogorov-Smirnov à normalidade da distribuição dos setores ... 46

Tabela 8 – Teste Kruskal-Wallis para as diferenças setoriais ... 47

Tabela 9 – Testes adicionais de Mann-Whitney com correção de Bonferroni para as diferenças setoriais ... 48

Tabela 10 – Importância das barreiras à entrada na perceção das empresas por dimensão da empresa ... 49

Tabela 11 – Proveniência do volume de negócios e tipo de empresas observadas ... 53

Tabela 12 – Teste Kolmogorov-Smirnov à normalidade da distribuição das dimensões das empresas... 53

Tabela 13 – Teste Kruskal-Wallis para as diferenças entre as dimensões das empresas ... 54

Tabela 14 – Testes adicionais de Mann-Whitney com correção de Bonferroni para as diferenças entre as dimensões das empresas ... 55

Tabela 15 – A atratividade do mercado por dimensão e setor da empresa observada ... 55

Tabela 16 – Matriz das correlações ... 59

Tabela 17 – Testes de KMO e de Bartlett para medir a adequação da amostra... 60

Tabela 18 – Eigenvalues iniciais ... 60

Tabela 19 – Loadings dos fatores antes da rotação ... 62

Tabela 20 – Fatores que representam as dimensões subjacentes das barreiras à entrada (Modelo de 6 fatores) ... 64

Tabela 21 – Fatores que representam as dimensões subjacentes das barreiras à entrada (Modelo de 7 fatores) ... 65

Tabela 22 – Fatores que representam as dimensões subjacentes das barreiras à entrada (Modelo de 8 fatores) ... 66

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xii Índice de Gráficos

Gráfico 1 – Distribuição das empresas observadas por tipo de empresa... 39

Gráfico 2 – Objetivo principal das empresas instaladas ... 39

Gráfico 3 – Distribuição das empresas por tipo de mercado principal onde operam ... 41

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1 Capítulo I – INTRODUÇÃO

Este capítulo da dissertação tem como objetivo discutir a relevância do tema e apresentar a justificação da escolha do mesmo para este trabalho. Além disso, são delimitados não só os objetivos do estudo mas também as questões de investigação. Por último, é feita uma apresentação da estrutura deste trabalho.

1.1. Escolha e justificação do tema

A criação de empresas pode trazer grandes vantagens para o desenvolvimento económico através da inovação que promove o avanço tecnológico, trazendo consigo novos processos produtivos e produtos, novas fontes de oferta e promovendo a exploração de novos mercados (Audretsch e Thurik 2001; Szirmai et al. 2011). A entrada de novas empresas no mercado é uma fonte de mudança que tende a gerar melhorias na produtividade e na competitividade económica (Sanyang e Huang 2010). Espera-se também que estas novas empresas criem novos postos de trabalho e fomentem a dinâmica de uma indústria pois, de facto, são as pequenas empresas e, em particular as novas, que são mais bem-sucedidas na criação de emprego (Audretsch e Thurik 2001).

As novas empresas são atraídas para o mercado por lucros acima do nível competitivo de longo prazo. Quando entram, elas acabam por ter uma função de equilíbrio do mercado na medida em que podem contribuir para a convergência dos níveis de preço e lucro para o nível competitivo. Resumidamente, a entrada de novas empresas contribui para a promoção da eficiência alocativa e dinâmica do mercado (Audretsch e Thurik 2001).

Todavia, existem uma série de mecanismos que podem dificultar ou até mesmo barrar a entrada de novas empresas e, consequentemente, não permitir que a eficiência alocativa e dinâmica do mercado seja alcançada (Blees et al. 2003; Dijksta et al. 2006; Kemp e Lutz 2006; Lutz et al. 2010). Por esta razão, o estudo dos tipos de barreiras à entrada que existem e o efeito que têm sobre a entrada de novas empresas no mercado é um tópico relevante e integrante de uma qualquer política de concorrência. São vários os estudos que demonstram que há uma relação positiva entre a criação de novas empresas e o crescimento económico (Holcombe 1998; Acs e Armington 2003; Audretsch 2007; Smith 2010), daí ser fundamental perceber os fatores que facilitam a criação de barreiras à entrada.

Vários estudos discutem a variedade de barreiras à entrada possíveis de existir nos mercados (ver, por exemplo, Stigler 1968; Porter 1980; Shepherd 1997; Blees et al. 2003; Lutz et al.

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2010). Blees et al. (2003) tiveram como base a vasta literatura acerca deste tópico e acabaram por identificar trinta e sete barreiras à entrada, tanto estruturais como estratégicas. Contudo, algumas questões cruciais ainda persistem. A importância de cada uma das barreiras e quais as que afetam mais a decisão de entrada no mercado são questões que merecem estudo adicional. Os trabalhos empíricos acerca deste tópico não abundam. Smiley (1988), Singh et al. (1998) e Lutz et al. (2010) destacam a importância da realização deste género de trabalhos nesta área em vários países de forma a determinar até que ponto se podem generalizar os resultados obtidos em estudos já realizados e entender que barreiras realmente influenciam o processo de entrada no mercado.

Dada a dificuldade que existe em levar a cabo um estudo empírico sobre barreiras à entrada (Smiley 1988; Bunch e Smiley 1992) e em estudar o comportamento estratégico de uma empresa, nesta dissertação tentar-se-á avaliar as perceções que as empresas portuguesas têm em relação a barreiras à entrada específicas. As perceções que as empresas têm acerca das barreiras à entrada são fundamentais para perceber quais as que realmente impedem a entrada de potenciais entrantes numa indústria (Lutz et al. 2010). Alguns estudos realçam a importância das barreiras estratégicas (Bunch e Smiley, 1992), enquanto outros enfatizam a relevância das barreiras estruturais (Bain 1956). Como tal, serão tidas em conta potenciais barreiras estruturais bem como estratégicas que foram identificadas na revisão de literatura (ver, por exemplo, Dixit 1980; Demsetz 1982; Klemperer 1987; Bunch e Smiley 1992; Singh et al. 1998; Han et al. 2001; Blees et al. 2003; Lutz et al. 2010).

1.2. Objetivos do estudo e questões de investigação

A questão de investigação que tem orientado os vários estudos empíricos neste tópico é: qual a importância empírica dos vários tipos de comportamento estratégico que foram modelados? (Kemp e Lutz 2006). No caso de Portugal parece que não existe nenhum estudo empírico que identifique o tipo e intensidade de barreiras à entrada mais frequentemente encontradas pelas novas empresas. Assim, o objetivo desta dissertação é proceder à elaboração de um estudo empírico de forma a encontrar resposta às seguintes questões de investigação:

1. Na perceção das empresas portuguesas, que barreiras à entrada desempenham um papel relevante no mercado em que operam?

2. Quais as barreiras que afetam mais a decisão de entrada no mercado?

Este estudo tem como principal objetivo replicar o estudo de Lutz et al. (2010) em Portugal, para que seja possível determinar até que ponto se podem generalizar os resultados obtidos em

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estudos já realizados e entender que barreiras realmente influenciam o processo de entrada no mercado.

1.3. Estrutura da dissertação

Esta dissertação encontra-se organizada no formato que melhor permite atingir os objetivos delineados. Desta forma, encontra-se dividida em cinco capítulos, cada um constituído por três subcapítulos.

No capítulo I é feito o enquadramento da dissertação na temática das barreiras à entrada e a escolha do tema é justificada. Além disso, são descritos os objetivos do estudo que motivaram a sua execução, bem como as questões de investigação. Por fim, é descrita a estrutura da dissertação.

No capítulo II, e com base na pesquisa bibliográfica efetuada, abordam-se sucintamente as diferentes perspetivas existentes acerca do tópico “barreiras à entrada” com o objetivo de definir este conceito e fazer a distinção entre os dois tipos de barreiras existentes: barreiras estruturais e barreiras estratégicas. São também apresentados uma série de modelos teóricos que permitem a identificação de dezasseis barreiras, tanto estruturais como estratégicas, as quais foram objeto de avaliação no questionário enviado às empresas. Por último, são ainda apresentados os poucos estudos empíricos realizados acerca desta temática e que comprovam a existência de algumas destas barreiras em determinados setores económicos de alguns países.

No capítulo seguinte é feita a descrição do tipo de dados e metodologia utilizada neste estudo. É discutido o tipo de dados mais adequados a usar, tendo em conta os objetivos e as questões de investigação deste trabalho, assim como o tipo de pesquisa efetuada e as razões da escolha de um questionário como método de recolha dos dados. Adicionalmente, são analisados os prós e contras das diferentes formas de envio dos questionários e é apresentada a escolha mais adequada para este caso.

É também descrito de que forma os dados vão ser analisados e que instrumentos vão ser utilizados para o efeito. Seguidamente, o questionário utilizado é descrito pormenorizadamente bem como os objetivos de cada questão feita. Mais, a população em estudo e a forma como a amostra foi selecionada são apresentadas. Para finalizar, são enumeradas algumas bases de dados secundárias que foram necessárias utilizar.

Já o capítulo IV tem início com a caracterização da amostra recolhida no que concerne aos setores de atividade, à dimensão das empresas, ao tipo de estratégias adotadas pelas empresas instaladas, entre outros aspetos relevantes. É igualmente apresentada alguma informação básica acerca do mercado onde as empresas observadas operam. Seguidamente, os resultados obtidos

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no que diz respeito às barreias que desempenham um papel relevante no mercado em que as empresas operam e quais as que afetam mais a decisão de entrada no mercado são apresentados. É ainda realizada uma análise fatorial com o objetivo de identificar as dimensões subjacentes das barreiras à entrada.

Finalmente, no capítulo V são apresentadas as conclusões retiradas com este estudo e são sugeridos possíveis trabalhos futuros que poderão ser feitos acerca desta temática. É ainda feita uma breve discussão da validade e das limitações do estudo.

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Capítulo II – ENTRADA DE NOVAS EMPRESAS: IDENTIFICAÇÃO E MECANISMOS DE INIBIÇÃO DE ENTRADA

Este capítulo da dissertação tem como objetivo a definição do conceito de “barreira à entrada”, bem como a identificação dos diferentes tipos de barreiras existentes. Primeiramente, são apresentadas as diferentes perspetivas existentes acerca das barreiras à entrada – a perspetiva da economia industrial e a perspetiva da gestão estratégica – com o objetivo de definir o conceito de “barreira à entrada”.

Além disso, é feita uma revisão de literatura existente acerca deste tópico, levando à identificação de dezasseis barreiras à entrada, tanto estruturais como estratégicas. Por último, são revistos os diferentes estudos empíricos já realizados de forma a perceber que conclusões foram retiradas para posterior comparação com os resultados obtidos com este trabalho.

2.1. “Barreira à entrada”: em busca de uma definição

Ao longo das últimas décadas a discussão sobre o tópico “barreiras à entrada” tem sido grande. Inicialmente, a análise deste tópico foi desenvolvida por Bain (1956), mas muitos outros autores o seguiram (ver, por exemplo, Stigler 1968; Fisher 1979; Porter 1980; Von Weizsacker 1980; Gilbert 1989) surgindo, assim, diferentes definições do conceito “barreira à entrada”. Analisando a vasta literatura existente acerca deste tema, é possível fazer a distinção entre duas perspetivas: a perspetiva da economia industrial (ver, por exemplo, Bain 1956; Stigler 1968; Von Weizsacker 1980; McAfee et al. 2004) e a perspetiva da gestão estratégica (ver, por exemplo, Porter 1980; Singh et al. 1998; Robinson e McDougall 2001).

A economia industrial foca-se na indústria como unidade de análise, estudando as suas características estruturais e as reações que as diferentes empresas dessa indústria têm a essas características (Bain 1956). Para este autor, uma barreira à entrada é definida como uma vantagem que as empresas instaladas numa dada indústria têm sobre as potenciais entrantes. Esta vantagem reflete-se na capacidade que as empresas instaladas têm em aumentar o preço acima dos níveis competitivos sem atrair novas entradas para a indústria (Bain 1956).

Mais tarde, Stigler (1968) enriquece a visão de Bain (1956) ao juntamente considerar as condições de pós-entrada e focando-se na eficiência das empresas instaladas versus eficiência das empresas entrantes. Uma barreira à entrada é definida como um custo que as entrantes têm de suportar ao ingressar no mercado, mas que as empresas instaladas não têm (pois já o fizeram na altura em que entraram no mercado) (Stigler 1968).

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Alguns anos mais tarde foi a vez de Von Weizsacker (1980) dar o seu contributo para esta linha de pensamento, focando-se nos efeitos que as barreiras à entrada poderão ter no bem-estar social. Para este autor, uma barreira à entrada é definida como um custo de produção que tem de ser suportado pelas novas empresas mas que não tem de ser suportado pelas empresas instaladas, o que implica uma distorção no uso dos recursos económicos do ponto de vista social (Von Weizsacker 1980).

Gilbert (1989) também deu o seu contributo para a definição do conceito “barreira à entrada”. A sua definição foca-se nas vantagens que as empresas instaladas têm, em vez de se focar nas desvantagens que as novas empresas sofrem. Uma barreira à entrada é o lucro adicional que as empresas que já estão no mercado podem ter como única consequência de já estarem instaladas (Gilbert 1989). Pouco tempo depois Geroski et al. (1990) deram a sua colaboração, realçando a importância do comportamento como um determinante do desempenho e da estrutura do mercado no longo prazo. Esta perspetiva aproxima-se da perspetiva da gestão estratégica, uma vez que os aspetos comportamentais são considerados como a chave para a análise da indústria. Todavia, e em linha com a perspetiva da economia industrial, a unidade de análise continua a ser a indústria (Lutz et al. 2010).

A perspetiva da gestão estratégica centra-se no estudo da empresa em si e o que é que ela pode fazer para conservar ou aumentar a sua rentabilidade. Por exemplo, ao desenvolverem um recurso singular e difícil de imitar, as empresas instaladas podem criar um produto/serviço diferente dos outros todos que já existem no mercado, o que poderá aumentar as barreiras à entrada (Blees et al. 2003). Se as potenciais entrantes não conseguirem oferecer o mesmo produto/serviço que a empresa instalada oferece – porque não têm aquele recurso singular –, a empresa instalada pode praticar um preço mais elevado e ter lucros acima do normal. Este tipo de comportamento estratégico permite às empresas tentar barrar a entrada de novas empresas no mercado (Blees et al. 2003). Esta capacidade de gerar um valor superior ao das novas empresas é conhecida como vantagem competitiva e está fortemente relacionada com os recursos que as empresas possuem (Barney 1991).

Contudo, o objetivo deste trabalho não é discutir qual destas perspetivas é a mais correta, mas sim identificar as barreiras que desempenham um papel relevante na decisão de entrada num determinado mercado na perceção das empresas (Smiley 1988; Singh et al. 1998; Chang e Tang 2001; Lutz et al. 2010), sendo a unidade de análise a empresa. Ambas perspetivas têm a sua importância e a escolha correta dependerá da questão/problema em estudo (Lutz et al. 2010). Assim, tendo em conta o objetivo deste estudo decidiu-se adotar uma definição mais abrangente do conceito “barreira à entrada”, encontrada no trabalho de Dijksta et al. (2006):

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uma barreira à entrada pode ser definida como todas as vantagens que as empresas instaladas numa determinada indústria têm sobre as potenciais entrantes, na perceção das empresas que querem entrar num novo mercado. Esta definição foca-se na perceção que as empresas têm acerca de maior ou menor dificuldade de entrada num novo mercado (Dijksta et al. 2006), aspetos cruciais para tentar encontrar uma resposta às questões de investigação levantadas neste estudo.

2.2. Diferentes mecanismos de inibição de entrada

As barreiras à entrada podem ser de dois tipos: barreiras estruturais e barreiras estratégicas. As barreiras estruturais estão relacionadas com as características estruturais – como a procura e os custos – da indústria em que as empresas operam. A existência deste género de barreiras poderá dever-se a determinadas condições do mercado, como a existência de economias de escala ou a regulação governamental (Bain 1956). Contrariamente, as barreiras estratégicas são concebidas propositadamente pelas empresas instaladas de forma a influenciar o comportamento de potenciais entrantes, isto é, de forma a dissuadirem a sua entrada no mercado (Gilbert 1989).

Após uma revisão da literatura existente sobre barreiras à entrada foi possível identificar diferentes barreiras (ver, por exemplo, Bain 1956; Porter 1980; Tirole 1988; Gilbert 1989; Blees et al. 2003). Ainda que muitas delas tenham uma relação umas com as outras, estas barreiras foram nitidamente distinguidas nos estudos anteriores. Mais, muitas das barreiras identificadas podem ser consideradas tanto estruturais como estratégicas, dependendo da influência que as empresas instaladas têm sobre essa barreira. No total foram identificadas dezasseis barreiras à entrada realçando que, à semelhança do estudo de Lutz et al. (2010), algumas barreiras foram agrupadas, uma vez que muitas vezes são usados nomes diferentes para barreiras semelhantes, como por exemplo, o “controlo sobre recursos estratégicos”, a “localização” e a “integração vertical” dizem respeito a uma barreira mais abrangente que poderá ser denominada de “garantia/controlo sob recursos produtivos” (Lutz et al. 2010). As barreiras identificadas são apresentadas na Tabela 1, juntamente com uma breve descrição de cada uma delas e alguns dos diferentes estudos que as analisam, quer na perspetiva de barreira estrutural e/ou estratégica.

As características estruturais de uma indústria podem ser bastante relevantes uma vez que podem criar condições adversas à entrada de novas empresas no mercado (Bain 1956). De facto, o sucesso das potenciais entrantes depende de condições de entrada como as economias de escala, a diferenciação de produto e as vantagens absolutas de custo (Bain 1956). As economias de escala, se forem significativas, podem atuar como uma barreia à entrada pois as potenciais

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Tabela 1 Barreiras à entrada

Barreira Descrição da barreira

Fonte na perspetiva de barreira estrutural

Fonte na perspetiva de barreira estratégica

Economias de escala

A diminuição dos custos de produção e distribuição por unidade de produção gera assimetria de custos. As empresas instaladas poderão aumentar o volume de produção, o que leva ao estabelecimento de preços abaixo dos níveis rentáveis para as empresas entrantes.

Bain (1956); Stigler (1968); Scherer (1973); Porter (1980); Harrigan (1981); Tirole (1988); Geroski et al. (1990); Blees et al. (2003); Kemp e Lutz (2006); Lutz et al. (2010)

Desvantagens de custo

As empresas instaladas podem ter vantagens de custo independentes da escala (localização favorável, subsídios governamentais…), que podem não ser possíveis de replicar pelas empresas entrantes.

Bain (1956); Tirole (1988); Shepherd (1997);

Han et al. (2001); Blees et al. (2003) –

Excesso de capacidade

As empresas instaladas que não estiverem a utilizar em pleno as suas instalações aumentam o volume

de produção até ao máximo na tentativa de servir o mercado todo e diminuir os níveis dos preços. Lieberman (1987)

Spence (1977); Eaton e Lipsey (1979); Dixit (1980); Harrigan (1983); Lieberman (1987); Shepherd (1997); Blees et al. (2003)

Custos afundados

Custos que não podem ser recuperados, mas que são necessários para entrar no mercado. Podem ser uma barreira à entrada significativa, especialmente se o investimento necessário for significativo.

Bain (1956); Porter (1980); Sutton (1991);

Harbord e Hoehn (1994); Blees et al. (2003) –

Publicidade

Muita publicidade por parte das empresas instaladas aumenta o custo de entrada para as potenciais entrantes e afeta a lealdade dos consumidores a determinado produto/serviço, bem como a dimensão das economias de escala.

Spence (1980); Harrigan (1981); Netter (1983); Schmalensee (1983); Karakaya e Stahl (1989); Blees et al. (2003)

Bunch e Smiley (1992); Singh et al. (1998); Chang e Tang (2001); Blees et al. (2003)

Acesso a

conhecimento/Know-how/ I&D

As empresas instaladas poderão ter elevado conhecimento/know-how resultante da experiência que foram ganho ao longo dos anos, bem como patentes que lhes permite ter um certo poder de mercado durante um período de tempo limitado.

Karakaya e Stahl (1989); Shepherd (1997); Blees et al. (2003); Lutz et al. (2010)

Karakaya e Stahl (1989); Blees et al. (2003); Lutz et al. (2010)

Necessidade de capital

Necessidade de investir em grandes recursos como infreaestruturas, maquinaria e I&D de forma a competir ou entrar no mercado.

Bain (1956); Porter (1980); Tirole (1988); Shepherd (1997); Blees et al. (2003); Lutz et al. (2010)

Diferenciação de produto

Os produtos/serviços das empresas instaladas são reconhecidos e são alvo da lealdade dos consumidores devido à publicidade, por serem os primeiros do mercado, pelo atendimento ao consumidor ou por diferenças ao nível do produto/serviço.

Bain (1956); Porter (1980); Schmalensee (1982); Gilbert (1989); Shepherd (1997); Robinson e McDougall (2001)

Bain (1956); Porter (1980);

Karakaya e Stahl (1989); Shepherd (1997); Blees et al. (2003)

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Tabela 1 Barreiras à entrada (Continuação)

Custos de mudança

Os custos de mudança evitam que os consumidores mudem de fornecedor e, geralmente, as mudanças tecnológicas podem aumentar ou diminuir estes custos.

Porter (1980); Karakaya e Stahl (1989); Klemperer (1995); Shepherd (1997); Blees et al. (2003)

Regulação governamental (licenças e políticas)

Os governos limitam o número de empresas numa determinada indústria através da exigência de determinadas licenças, pondo limites ao acesso de matérias-primas, etc.

Porter (1980); Dixit e Kyle (1985); Tirole

(1988); Blees et al. (2003)

Acesso a canais de distribuição

Os principais canais de distribuição são bloqueados restando canais inferiores ou até mesmo nenhum, tendo que as novas empresas estabelecer o seu próprio canal, o que poderá ser dispendioso.

Porter (1980); Robertson e Gatignon (1991); Han et al. (2001); Blees et al. (2003)

Robertson e Gatignon (1991); Blees et al. (2003); Lutz et al. (2010)

Garantia do input/Controlo sob os recursos

O controlo sobre recursos estratégicos implica que as empresas instaladas podem manter na sua posse

os recursos que as potenciais entrantes necessitam para entrar no mercado.

Karakaya e Stahl (1989); Rey e Stiglitz (1995); Shepherd (1997); Cabral (2000); Blees et al. (2003)

Preço limite

As empresas instaladas fixam um preço baixo, e uma taxa elevada de produção, de maneira a que as

potenciais entrantes não consigam ter lucro a esse preço.

Bain (1956); Milgrom e Roberts (1982); Gilbert (1989); Blees et al. (2003)

Retaliação Pode deter a entrada apenas se as empresas instaladas forem capazes de influenciar as expetativas das

potenciais entrantes acerca da reação que irão ter após a entrada ocorrer. –

Karakaya e Stahl (1989); Robertson e Gatignon (1991); Gatignon et al. (1997); Shepherd (1997); Clark e Montgomery (1998); Thomas (1999); Prabhu e Stewart (2001); Blees et al. (2003) Assimetria de informação / Informação incompleta

As empresas entrantes não irão ter todo o conhecimento da indústria disponível para usarem e poderão tomar decisões erradas acerca das suas estratégias de entrada baseadas em informação incompleta. Exemplo: custos de entrada.

Milgrom e Roberts (1982, 1987); Geroski et al. (1990); Bunch e Smiley (1992); Shepherd (1997); Clark e Montgomery (1998); Blees et al. 2003)

Acordos estratégicos

Alguns acordos estratégicos permitem às empresas instaladas ganharem algumas vantagens sobre as

empresas entrantes. Por exemplo: limitar ou bloquear o acesso a canais de distribuição. –

Bain (1956); Shepherd (1997); Singh et al. (1998); Blees et al. (2003)

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entrantes seriam obrigadas a ingressar no mercado em grande escala e arriscarem-se a uma forte reação por parte das empresas instaladas, ou a ingressar em pequena escala e sujeitarem-se a incorrer em deseconomias significativas (Bain 1956; Scherer 1973). Noutras palavras, se as potenciais entrantes entrarem com capacidade abaixo da escala mínima de eficiência irão incorrer em desvantagens de custo relativamente às empresas instaladas.

Porém, se entrarem à escala ótima ou perto dela, geralmente leva a que os preços baixem e, consequentemente, também os lucros. Todavia, na maioria das indústrias existem tanto grandes empresas como pequenas empresas logo, o efeito das economias de escala poderá não ser muito importante devido às escalas mínimas de eficiência serem relativamente pequenas (Stigler 1968; Geroski et al. 1990).

Existe ainda outro efeito das economias de escala que poderá inibir a entrada de novas empresas no mercado: a necessidade de elevados montantes de capital quando os níveis das escalas mínimas de eficiência são altos (Bain 1956). Quando isto acontece, as empresas entrantes irão necessitar de investir quantidades avultadas de capital de forma a conseguirem produzir eficientemente (Blees et al. 2003).

As desvantagens de custo existem quando os potenciais custos unitários de produção são mais altos para as empresas entrantes do que para as empresas instaladas (Bain 1956). As potenciais entrantes que sabem que vão enfrentrar custos unitários mais altos ponderam melhor a sua decisão de entrada no mercado e, desta forma, as desvantagens de custo poderão funcionar como uma barreira à entrada (Blees et al. 2003). Segundo Bain (1956), o controlo de técnicas de produção superiores por parte das empresas instaladas – por exemplo, exercido através da posse de patentes –, os preços mais baixos dos fatores produtivos resultantes de imperfeições do mercado, o controlo sob fatores estratégicos – especialmente relativos a recursos naturais – resultante, por exemplo, de contratos de exclusividade e taxas de juro mais baixas para as empresas instaladas do que para as potenciais entrantes são as principais fontes de vantagens de custos para as empresas instaladas.

Blees et al. (2003) realçam ainda que as empresas instaladas podem conquistar uma vantagem competitiva caso tenham acesso a conhecimento (know-how), uma vez que possibilita-lhes obter maiores ganhos de eficiência nas suas operações. Estes ganhos de eficiência resultam da personalização de sistemas e rotinas para as características dos seus trabalhadores podendo tornar-se uma vantagem de custo para as empresas instaladas e, consequentemente, uma desvantagem para as potenciais entrantes (Blees et al. 2003).

Quando há entrada de novas empresas num determinado mercado, as empresas instaladas que não estiverem a utilizar em pleno a sua capacidade produtiva poderão aumentar o volume

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produzido até ao máximo com o intuito de servir todo o mercado e baixar os níveis dos preços criando, assim, uma desvantagem de custo para as empresas entrantes (Spence 1977; Eaton e Lipsey 1979; Harrigan 1983). Segundo Lieberman (1987), o excesso de capacidade pode ser uma barreira estratégica e não-estratégica.

O excesso de capacidade como barreira não-estratégica relaciona-se com os aspetos estruturais das instalações das empresas instaladas que estão a ser subutilizadas devido à procura cíclica ou devido a estarem sujeitas a deseconomias de escala. Os níveis de procura muitas vezes sofrem oscilações ao longo do tempo, o que por vezes leva as empresas instaladas a investir em excesso de capacidade para conseguirem dar resposta a períodos de pico de procura (Lieberman 1987). Assim, poderá dizer-se que o excesso de capacidade não-estratégico a maior parte das vezes relaciona-se com a curva da procura (Blees et al. 2003). Já o segundo tipo de excesso de capacidade relaciona-se com o facto de as empresas instaladas tentarem barrar a entrada de novas empresas no mercado através da ameaça de retaliação competitiva (Lieberman 1987).

Todavia, não existe consenso entre os vários autores acerca de o excesso de capacidade ser ou não utilizado estrategicamente pelas empresas instaladas como barreira à entrada, pelo que se levantam várias questões relativas à sustentabilidade desta barreira. Shepherd (1997) diz que o excesso de capacidade permite às empresas instaladas retaliarem contra a entrada de novas empresas no mercado e até mesmo tornar essa ameaça credível. Já Dixit (1980) defende que essa ameaça não é credível porque as empresas instaladas cujo objetivo é a maximização do lucro nunca vão ter as suas instalações subutilizadas se não tiverem a certeza que a entrada de novas empresas no mercado vai ocorrer. De facto, se a entrada não ocorrer, essa subutilização das suas instalações origina deseconomias de escala e lucros mais baixos. Mais, Dixit (1980) assume ainda que, sobre determinadas circunstâncias, as empresas instaladas não terão como objetivo tornarem-se líderes de mercado pelo que irão evitar o excesso de capacidade. Spence (1977) refere que as empresas entrantes julgam que as empresas instaladas vão sempre manter a capacidade de produção que tinham antes de a entrada ocorrer.

Em suma, o excesso de capacidade usado estrategicamente pelas empresas instaladas tem várias limitações e, caso seja utilizada, não se sabe se é ou não eficaz (Blees et al. 2003). Estes autores afirmam que é seguro dizer que as empresas, por vezes, mantêm níveis de excesso de capacidade mas por motivos essencialmente não-estratégicos. Todavia, admitem que o excesso de capacidade, se usado eficazmente pelas empresas instaladas, poderá resultar numa séria desvantagem de custo para as empresas entrantes podendo, assim, barrar a sua entrada no mercado (Blees et al. 2003).

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Os custos afundados são custos que no curto ou médio prazo não podem ser eliminados, mesmo se as empresas pararem totalmente a sua produção (Blees et al. 2003). Sutton (1991) faz a distinção entre dois tipos de custos afundados: endógenos e exógenos. O primeiro tipo diz respeito a custos afundados que derivam de escolhas por parte das empresas entrantes, tais como a Investigação e Desenvolvimento (I&D) e a publicidade. Já o segundo tipo refere-se a custos afundados que têm de ser suportados por todas as empresas entrantes, como aqueles que derivam de economias de escala (Sutton 1991).

Segundo Harbord e Hoehn (1994), há alguns aspetos acerca dos custos afundados que se devem ter em consideração. Primeiro, estes custos não podem ser recuperados aquando a saída. Depois, geram uma assimetria de custos entre as empresas instaladas e as potenciais entrantes porque, quando as empresas se comprometem, os custos afundados deixam de ser uma porção dos custos de oportunidade de produção. Por fim, são uma forma de compromisso por parte das empresas instaladas para não saírem do mercado. Assim, se a probabilidade de recuperar estes custos for baixa, as potenciais entrantes poderão ver a sua entrada no mercado dificultada (Harbord e Hoehn 1994).

A sustentabilidade desta barreira é bastante grande (Blees et al. 2003). Para estes autores, os custos afundados exógenos são sustentáveis até ao ponto em que a estrutura da indústria sofre mudanças drásticas resultantes, por exemplo, de grandes alterações tecnológicas. Como os custos endógenos implicam uma escolha por parte das empresas entrantes como, por exemplo, investir fortemente em publicidade, a sustentabilidade deste tipo de custos afundados depende do facto de as empresas entrantes terem ou não realmente uma escolha para fazer. As empresas entrantes poderão optar por não ter grandes custos (com um carácter irrecuperável) em publicidade, mas competir através do preço ou desenvolver um canal de distribuição superior (Blees et al. 2003).

Netter (1983) defende que a publicidade provoca uma melhoria na alocação dos recursos, uma vez que melhora a transparência do mercado através da partilha de informação com os consumidores acerca dos produtos e serviços oferecidos pelas empresas. Os consumidores podem usar esta informação para os auxiliar na comparação de produtos/serviços e tomar decisões mais acertadas. Contrariamente, Karakaya e Stahl (1989) referem que a publicidade distorce a alocação dos recursos pois aumenta o custo de produção e os custos de mudança do consumidor. Além disto, a publicidade das empresas instaladas pode afetar a eficácia da publicidade das empresas entrantes, já que muitas vezes cria o reconhecimento do produto/serviço da empresa instalada e angaria a lealdade dos consumidores (Karakaya e Stahl

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1989). É através destes objetivos que a publicidade pode tornar-se uma barreira à entrada (Blees et al. 2003).

Existem ainda outras três formas de a publicidade funcionar como barreira à entrada (Schmalensee 1983). Este autor refere que a publicidade são custos afundados e para que seja eficaz, requer uma escala mínima de eficiência grande. Se os níveis de publicidade forem constantemente altos acabam por gerar custos adicionais que são fixos para cada um dos níveis de produção das empresas entrantes. A lealdade dos consumidores para com os produtos/serviços das empresas instaladas e o receio que poderão ter dos produtos/serviços das empresas entrantes exige que estas empresas tenham elevados custos em publicidade ou, caso contrário, a sua publicidade poderá não ser eficaz. Como tal, ou as despesas em publicidade são mais altas para as empresas entrantes do que para as instaladas, ou a publicidade das entrantes poderá ser menos eficaz (Schmalensee 1983).

Outra forma de a publicidade funcionar como barreira à entrada relaciona-se com o facto de poder criar economias de escala porque, por vezes, algumas empresas dedicadas à elaboração de campanhas publicitárias oferecem descontos para grandes campanhas às empresas instaladas (Schmalensee 1983). Estes descontos levam ao decréscimo do custo de cada campanha publicitária que a empresa comprar nas vezes seguintes e, consequentemente, o custo médio por campanha publicitária diminui. As grandes empresas instaladas terão economias de escala sobre as pequenas empresas entrantes e, por consequência, o seu custo de publicidade por produto/serviço vendido será inferior ao custo de publicidade por produto/serviço vendido pelas empresas entrantes (Schmalensee 1983). Por último, a publicidade poderá originar informação imperfeita relativa ao preço e à qualidade dos produtos/serviços para os consumidores, o que poderá criar algumas vantagens duradouras para os produtos/serviços das empresas instaladas e até mesmo bloquear a entrada de novos produtos/serviços no mercado (Schmalensee 1983). Assim, as empresas entrantes têm necessidade de fazer um investimento significativo em publicidade com o intuito de contrariar esta oferta desequilibrada de informação, quando poderiam utilizar esse investimento numas instalações ou maquinaria pois, caso a entrada no mercado não seja bem-sucedida, o dinheiro em publicidade é perdido (custo afundado) (Schmalensee 1983). Já o investimento em instalações ou maquinaria pode ser, pelo menos parcialmente, recuperado. Como consequência, o risco aumenta para os financiadores de capital e, deste modo, os custos de financiamento para as empresas entrantes poderão ser mais elevados (Schmalensee 1983).

As empresas instaladas poderão ter elevadas taxas de conhecimento/know-how resultante da experiência que foram ganho ao longo dos anos que têm estado no mercado. Muitas vezes, as

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potenciais entrantes não têm este conhecimento/know-how necessário para entrarem nesse mercado (Karakaya e Stahl 1989; Lutz et al. 2010). Outras vezes, as empresas instaladas possuem patentes que lhes permite ter um certo poder de mercado durante um período de tempo limitado, limitando a entrada durante esse período já que se torna difícil para as potenciais entrantes terem acesso aos conhecimentos protegidos por patente (Karakaya e Stahl 1989; Lutz et al. 2010).

Uma das grandes dificuldades que as potenciais entrantes normalmente têm é a necessidade de capital. Quando o mercado onde pretendem entrar necessita de tecnologias ou instalações especializadas e equipamentos específicos, poderá haver alguma relutância por parte das potenciais entrantes em possuir uma quantidade significativa de capital para poder investir em atividades arriscadas e irrecuperáveis (como publicidade ou I&D) ou em ativos muito específicos, o que poderá ser uma barreira à entrada (Porter 1980). Mais, o facto de serem novas empresas poderá gerar-lhes grandes dificuldades em conseguir financiamento para os seus investimentos devido ao elevado risco para os credores (Tirole 1988).

A diferenciação de produto pode surgir de várias formas que vão desde diferenças físicas à criação de uma marca ou o atendimento ao cliente (Bain 1956; Gilbert 1989). Quando usada estrategicamente pelas empresas instaladas, pode ser uma das maiores barreiras à entrada num determinado mercado (Bain 1956; Karakaya e Stahl 1989; Shepherd 1997). Esta barreira pode ter dois efeitos distintos, estando o primeiro relacionado com as empresas instaladas ganharem a lealdade dos consumidores (Bain 1956). Estas empresas podem ganhar a lealdade dos consumidores bem como fazer com que o seu produto/serviço seja reconhecido através da publicidade já que, habitualmente, assume-se que esta lealdade faz com que os consumidores escolham os produtos/serviços das empresas instaladas, em vez dos das empresas entrantes (Bain 1956; Karakaya e Stahl 1989; Shepherd 1997). Os consumidores irão dar preferência aos produtos/serviços das empresas instaladas pois, geralmente, não têm muita informação acerca da qualidade dos produtos/serviços das empresas entrantes (Schmalensee 1982).

O segundo efeito da diferenciação de produto resulta diretamente da lealdade ao produto/serviço que as empresas instaladas criaram entre os consumidores (Blees et al. 2003). Esta barreira elimina parcialmente o efeito do uso do preço como arma por parte das empresas entrantes, pois os consumidores tornam-se menos sensíveis aos preços e, desta forma, a elasticidade preço diminui (Schmalensee 1982). De facto, a lealdade dos consumidores ao produto/serviço criado pelas empresas instaladas permite-lhes aumentar os seus preços até um determinado ponto sem perder clientes. Ao mesmo tempo, têm a possibilidade de aumentar os custos das empresas entrantes uma vez que têm despesas de venda – como os custos em

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publicidade para criar diferenciação de produto –, o que força as empresas entrantes a fazer o mesmo caso desejem competir com os produtos/serviços diferenciados das empresas instaladas (Bain 1956; Shepherd 1997).

Os custos que as empresas entrantes têm para tentarem diferenciar os seus produtos/serviços de maneira a conseguirem competir com os produtos/serviços diferenciados das empresas instaladas são sempre mais altos em relação aos custos que as empresas instaladas têm. Estes custos são mais elevados paras as empresas entrantes porque, como resultado da queda da sensibilidade dos consumidores aos preços, as empresas instaladas conseguem manter preços mais elevados do que as entrantes (Bain 1956; Shepherd 1997). Além disto, através do aumento dos custos totais das empresas entrantes e do nível de preços, as empresas instaladas podem aumentar a escala mínima de eficiência das entrantes – isto é, forçar as empresas entrantes a comprometerem-se com um nível de produção mais elevado –, caso tenham economias de escala suficientes para o fazer (Bain 1956; Shepherd 1997).

Quando uma empresa entrante tem que enfrentar a barreira à entrada “diferenciação de produto”, os principais obstáculos que tem de enfrentar são os custos mais elevados juntamente com a redução da elasticidade preço e a lealdade dos consumidores para com os produtos/serviços das empresas instaladas (Blees et al. 2003). Noutras palavras, a diferenciação de produto é uma barreira à entrada quando o produtor (uma empresa entrante) de um novo produto/serviço não consegue replicar outro produto/serviço das empresas instaladas sem incorrer em custos ou perdas nas suas vendas (Gilbert 1989).

É ainda importante realçar que a diferenciação de produto nem sempre é uma barreira à entrada. Robinson e McDougall (2001) referem que um nível alto de diferenciação de produto está geralmente associado à limitação da entrada de novas empresas no mercado ou até mesmo à não-entrada. De igual modo, um nível baixo também pode ser eficaz como barreira mas, geralmente isto está mais relacionado com economias de escala. Ainda segundo estes autores, níveis moderados de diferenciação de produto não funcionam tão bem como barreira à entrada já que, geralmente, as empresas entrantes tentam diferenciar o seu produto/serviço num nicho de mercado que ainda não esteja servido pelas empresas instaladas.

Sempre que os consumidores têm de incorrer em custos elevados para aderirem a novos produtos/serviços de novos concorrentes em deterioramento de produtos/serviços já existentes, estes custos de mudança poderão funcionar como uma barreira à entrada (Porter 1980; Karakaya e Stahl 1989; Shepherd 1997). Segundo Klemperer (1995), os custos de mudança podem estar relacionados com a necessidade de os produtos/serviços de um novo fornecedor serem compatíveis com os equipamentos existentes, com os custos de transação relativos à

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mudança de fornecedores, com os custos de aprender a usar novas marcas de produtos/serviços e a incerteza acerca da qualidade dos produtos/serviços que ainda não foram testados.

Os custos de mudança permite às empresas instaladas aumentar os níveis de preços até um certo ponto sem perder clientes porque estes custos, na maioria dos casos, não permite aos consumidores regulares mudar de fornecedor. De certa forma, isto acaba por ser uma vantagem substancial para as empresas instaladas porque acabam por ter um certo grau de poder monopolístico sobre os seus consumidores regulares (Klemperer 1995). A verdade é que os consumidores estão de certa maneira “presos” ao produto/serviço fornecido pelas empresas instaladas e, uma empresa entrante irá ter elevados custos para conseguir que os consumidores mudem do produto/serviço das empresas instaladas para o seu produto/serviço (Shepherd 1997). Custos de mudança elevados vão aumentar a lealdade dos consumidores ao produto/serviço das empresas instaladas, bem como tornar os consumidores dependentes dessas empresas (Blees et al. 2003).

No que concerne à política governamental, nomeadamente às licenças, Tirole (1988) e Blees et al. (2003) referem que o governo pode restringir ou até mesmo barrar a entrada através da emissão de licenças para certas atividades de uma indústria quando a querem regular – por exemplo, uma licença para vender bebidas alcoólicas ao público. Estas licenças governamentais geralmente estão vinculadas a um determinado período de tempo, sendo que podem limitar a entrada de novas empresas no mercado de duas formas. A primeira está relacionada com o facto de o número de licenças que podem ser emitidas terem um limite máximo e, desta maneira, não ser possível ter no mercado mais que um determinado número de empresas (Blees et al. 2003). A segunda forma tem a ver com os requisitos que têm de ser cumpridos de maneira a obter essa licença. Estes requisitos podem aumentar a necessidade de capital e/ou os conhecimentos necessários, ou até mesmo excluir determinados grupos de potenciais entrantes porque nunca irão conseguir cumprir esses requisitos para a obtenção da licença (Blees et al. 2003).

Ainda a respeito da política governamental, os governos também podem limitar ou barrar a entrada de novas empresas no mercado através de determinadas políticas restritivas relativas, por exemplo, à segurança do produto ou instalações e ao controlo da poluição (Tirole 1988; Blees et al. 2003). Políticas governamentais como estas podem aumentar as economias de escala, a necessidade de capital e outras potenciais barreiras. Também os regulamentos de licenciamento, monopólios estatais, subsídios para as empresas instaladas, encargos administrativos para as empresas entrantes e administrações públicas pouco desenvolvidas podem igualmente barrar a entrada de novas empresas no mercado (Blees et al. 2003).

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O acesso a canais de distribuição poderá ser uma barreira à entrada quando as potenciais entrantes têm a necessidade de assegurar a distribuição do seu produto/serviço já que, em algumas indústrias como a transformadora, este acesso é um pré-requisito fundamental para as empresas conseguirem vender os seus produtos/serviços (Blees et al. 2003). Não é comum as empresas terem as suas próprias instalações para transportar, armazenar e distribuir os seus produtos/serviços e, como tal, dependem de grossistas e retalhistas para o fazer (Robertson e Gatignon 1991).

Contudo, o acesso aos habituais canais de distribuição está bloqueado nalgumas indústrias devido tanto a questões estruturais – não há mais espaço nos canais de distribuição – como a questões estratégicas, já que as empresas instaladas podem bloquear o acesso aos canais de distribuição de forma a obterem uma vantagem competitiva sustentável sobre as empresas entrantes. Esta vantagem competitiva das empresas instaladas força as empresas entrantes a ter custos de distribuição mais elevados, pois têm a necessidade de procurar outros canais de distribuição ou até outra forma de distribuir os seus produtos/serviços (Robertson e Gatignon 1991).

Geralmente, só grandes empresas que têm um elevado poder de negociação sobre os seus compradores conseguem bloquear o acesso aos canais de distribuição. Contudo, isso também é possível para empresas pequenas que possuam um poder de negociação substancial dentro do segmento ou nicho do mercado onde operam (Blees et al. 2003). Os canais de distribuição bloqueados estrategicamente pelas empresas instaladas são uma barreira à entrada sustentável mas, a sua duração depende da estratégia que as empresas instaladas adotaram e de aspetos legais como o cartel ou regulações sobre a concentração de empresas. Também os canais de distribuição bloqueados por questões estruturais são uma barreira à entrada sustentável porque é necessária uma mudança drástica da estrutura do mercado para alterar as condições sobre as quais o bloqueio ocorreu (Blees et al. 2003).

Blees et al. (2003) destacam a importância dos recursos para as empresas instaladas conseguirem ter uma vantagem competitiva sobre as potenciais entrantes. Os recursos são um pré-requisito para as empresas serem capazes de produzir e, sem eles, não conseguem satisfazer as exigências do mercado (Blees et al. 2003). São diversos os tipos de recursos necessários para as empresas produzirem, mas a teoria económica dá destaque a três: capital, mão-de-obra e matérias-primas. Os recursos estratégicos podem ser definidos como inputs tangíveis e intangíveis que possibilitam às empresas instaladas assegurarem uma vantagem competitiva sobre potenciais entrantes (Karakaya e Stahl 1989; Blees et al. 2003). As empresas instaladas que controlem determinados recursos estratégicos podem impedir as potenciais entrantes de

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aceder a esses recursos e, desta forma, dificultarem ou até mesmo barrarem a sua entrada no mercado (Shepherd 1997).

Existem algumas formas legais de controlo sob os recursos, como as patentes e as concessões governamentais. As empresas mineiras são um exemplo: quando obtêm uma concessão para explorar uma determinada área, estas empresas têm um controlo total sob estes recursos (Blees et al. 2003). Porém, o controlo sob recursos estratégicos só é sustentável enquanto barreira à entrada desde que as potenciais entrantes não tenham nenhuma oportunidade de ganhar o controlo de recursos ainda melhores – por exemplo, quando um fornecedor integrado verticalmente força as potenciais entrantes a aceder ao mercado através de outros (melhores ou mais baratos) canais de distribuição (Rey e Stiglitz 1995; Blees et al. 2003).

Além disto, a sustentabilidade desta barreira também depende do tipo de recursos e do tipo de controlo que as empresas instaladas têm: o controlo sob a mão-de-obra não dura tanto quanto o controlo sob a localização e o controlo por meio do aluguer ou concessão pode durar menos do que o controlo através da posse de um local rentável (Blees et al. 2003). De maneira a que as empresas instaladas consigam mantar a sua vantagem competitiva, os recursos deverão ser valiosos, raros, duráveis, difíceis de imitar e insubstituíveis (Blees et al. 2003).

Quando são utilizadas estratégias de preço, uma potencial entrante pode julgar que um preço baixo de uma empresa instalada como uma vantagem absoluta de custo e, assim, desencorajar a sua entrada (Gilbert 1989). Mais, quando as potenciais entrantes estudam o comportamento das empresas instaladas em situações de entrada no passado, e se apercebem que elas tiveram frequentemente reações agressivas a estes episódios, as potenciais entrantes aumentam a sua expetativa em receberem a mesma reação. Assim, as estratégias de preço limite ou preço predatório também podem criar barreiras à entrada (Gilbert 1989). De facto, muitas empresas instaladas usam estratégias relacionadas com o preço quando existe a ameaça de entrada de novas empresas no mercado (Bain 1956).

Bain (1956) destacou a importância do preço limite como estratégia utilizada pelas empresas instaladas, que basicamente consiste em estabelecerem o preço logo abaixo do nível em que a entrada seria atrativa. Neste caso, este preço limite é o preço máximo que as empresas instaladas podem praticar sem tornar a entrada no mercado atrativa (Blees et al. 2003). A política ótima de preço perante a ameaça de entrada envolve preços que estão abaixo do nível de monopólio de curto prazo mas, ainda assim, acima do nível que iria prevalecer após a entrada ocorrer (Milgrom e Roberts 1982).

É de salientar que Bain (1956) refere que estabelecer um preço limite só é possível se existirem outras barreiras. As empresas instaladas têm duas hipóteses, dependendo da ameaça

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de entrada e do tempo necessário para a entrada ocorrer (Bain 1956). Quando a posição das empresas instaladas é forte e as barreiras à entrada são elevadas, a resposta típica para tentar barrar qualquer tentativa de entrada é baixar os preços logo abaixo do preço limite (Blees et al. 2003). Quando a posição das empresas instaladas é fraca e a entrada é provável que ocorra, a estratégia será maximizar os lucros no curto prazo através de um grande aumento dos níveis de preço acima do preço limite. Como resultado, as empresas irão entrar no mercado e o preço irá cair após a entrada (Blees et al. 2003).

Relativamente à sustentabilidade do preço limite como barreira à entrada, no caso em que a entrada é em pequena escala, esta barreira só funciona se conjugada com as vantagens de custo das empresas instaladas (Blees et al. 2003). No caso de a entrada ser em grande escala, o preço limite baseia-se no comportamento endógeno das empresas instaladas e, nalguns casos, e entrada só é bloqueada se a ameaça e o compromisso das empresas instaladas for credível. O preço limite desce se a procura se tornar mais elástica e o mercado aumentar de dimensão e sobe quando as economias de escala se tornam mais relevantes (Blees et al. 2003).

A retaliação pode definir-se como o conjunto de estratégias que as empresas instaladas podem adotar contra as potenciais entrantes, quando estas procuram entrar no mercado. Esta barreira diz respeito especificamente aos mecanismos estratégicos que as empresas instaladas utilizam após a entrada ocorrer, e não às condições de pré-entrada (Blees et al. 2003). Alguns exemplos destes mecanismos são as inovações e interações em mercados semelhantes, o preço e a publicidade (Shepherd 1997).

Geralmente, esta barreira é abordada de duas formas distintas pelos vários autores. A primeira abordagem constitui a criação de uma lista que agrega todas as respostas possíveis e adequadas das empresas instaladas à entrada de novas empresas no mercado (Robertson e Gatignon 1991; Gatignon et al. 1997). A segunda abordagem diz respeito aos sinais que as empresas instaladas devem enviar às potenciais entrantes acerca da sua determinação em retaliar, caso a entrada ocorra. É através da construção de uma reputação credível entre as potenciais entrantes que as empresas instaladas conseguem deter a sua entrada (Clark e Montgomery 1998; Prabhu e Stewart 2001). De facto, Thomas (1999) demonstra que uma resposta antecipada das empresas instaladas à entrada de novas empresas no mercado onde operam é um dos determinantes de entrada mais importante.

A retaliação pode ser uma barreira à entrada bastante eficaz. Robertson e Gatignon (1991) argumentam que o essencial para que esta barreira funcione é que as empresas instaladas enviem sinais às potenciais entrantes acerca da sua vontade de retaliar. De acordo com Clark e Montgomery (1998), os sinais enviados pelas empresas instaladas serão tão mais influentes

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quanto mais difícil e/ou dispendiosa for a recolha da informação por parte das potenciais entrantes. A credibilidade de um sinal depende do nível de credibilidade e sucesso da atividade das empresas instaladas. As empresas instaladas que adotam constantemente um comportamento estratégico e são bem-sucedidas podem mais facilmente enviar sinais credíveis (Clark e Montgomery 1998). A reputação pode ser essencial, uma vez que contribui bastante para as expectativas das potenciais entrantes acerca da estratégia de retaliação que as empresas instaladas poderão adotar. Estas expectativas podem ser utilizados para deter efetivamente entrada (Clark e Montgomery, 1998; Thomas 1999; Prabhu e Stewart 2001).

A informação incompleta está relacionada com a incapacidade que as potenciais entrantes têm em obter uma visão geral, completa e precisa acerca das condições reais do mercado onde pretendem ingressar (Blees et al. 2003). Noutras palavras, a informação incompleta refere-se à incapacidade de uma potencial entrante prever com precisão e detalhe as especificidades da situação pós-entrada, especialmente por falta de informação relativa à procura real do mercado e aos custos de operar no mesmo (Milgrom e Roberts 1982; Geroski et al. 1990). Estas incertezas podem influenciar negativamente a estratégia de entrada da potencial entrante, uma vez que poderá fazer falsas suposições e/ou estimativas enfraquecendo a sua posição De facto, as potenciais entrantes têm inerentemente menos informação do que as empresas instaladas e, além disto, a aquisição desta informação pode ser dispendiosa (Shepherd 1997). A falta de informação não é só uma barreira por si só, mas também contribui para o aumento do risco das potenciais entrantes e, consequentemente, o seu custo de capital (Blees et al. 2003).

A assimetria de informação refere-se à situação em que uma das empresas – geralmente a empresa instalada – tem mais informação do que a outra (Blees et al. 2003). Noutras palavras, a assimetria de informação diz respeito a uma diferença que existe entre as empresas instaladas e as potenciais entrantes, relativa a I&D e a conhecimento (Geroski et al. 1990). A maioria das vezes, as empresas instaladas estão mais bem informadas e capazes ao nível do conhecimento que possuem do que as potenciais entrantes, principalmente devido às vantagens obtidas através da aprendizagem e experiência (Blees et al. 2003). O facto de as empresas entrantes terem menos informação do que as instaladas poderá barrar a sua entrada no mercado, caso necessitem indispensavelmente desse conhecimento para conseguirem entrar, podendo este conhecimento estar protegido, por exemplo, por patentes (Blees et al. 2003).

Esta barreira está relacionada com as barreiras “preço limite” e “retaliação”. A sinalização pode determinar a estratégia de preço das empresas instaladas (Milgrom e Roberts 1982, 1987). O sucesso de determinadas estratégias de preço, como o preço limite, depende até que ponto as potenciais entrantes correlacionam o comportamento pré-entrada das empresas instaladas com

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os lucros pós-entrada (Blees et. al 2003). A informação incompleta é crucial, uma vez que estas estratégias de preço são desenhadas para explorar as assimetrias de informação entre as empresas instaladas e as potenciais entrantes (Geroski et al. 1990).

Geralmente, uma potencial entrante considera a entrada no mercado rentável se percecionar que as empresas instaladas têm custos elevados, e não rentável se os custos forem baixos (Milgrom e Roberts 1987). As empresas instaladas podem estabelecer preços abaixo do nível ótimo de curto prazo para sinalizar às potenciais entrantes que têm custos baixos – quando de facto, poderão não ter – ou para demonstrar que irão retaliar contra as potenciais entrantes. De qualquer forma, as empresas instaladas vão tentar impedir a entrada usando o preço como um sinal (Milgrom e Roberts 1987; Clark e Montgomery 1998). A informação incompleta pode levar as potenciais entrantes a aceitar os sinais e a tê-los em conta na hora de decidir se deve ou não entrar no mercado (Blees et al. 2003).

Apesar de os preços de pré-entrada das empresas instaladas poderem não influenciar a rentabilidade pós-entrada, podem tornar-se sinais de alguns determinantes não observáveis dos seus lucros, isto é, podem ajudar a ocultar o seu lucro verdadeiro (Blees et al. 2003). Noutras palavras, poderá transmitir às potenciais entrantes que as empresas instaladas não estão a ter lucro – quando na realidade estão – e, desta forma, deter a sua entrada.

Alguns acordos estratégicos entre as empresas instaladas permite-lhes ganharem algumas vantagens sobre as potenciais entrantes e, algumas vezes, até mesmo barrar a sua entrada no mercado. Um exemplo destes acordos são a integração vertical. As empresas podem optar por integrar verticalmente para atingir eficiências ou para retirar vantagens relacionadas com condições de monopólio (Blees et al. 2003). Se for eficiente para as empresas numa determinada indústria integrar verticalmente, então uma potencial entrante tem de entrar em dois ou mais níveis de produção de forma a conseguir igualar os custos das empresas instaladas. Isto requer mais investimentos e maior compromisso e, assim, pode funcionar como barreira à entrada (Shepherd 1997).

Quando um setor tem características de um monopólio natural, o poder de monopólio pode ser transferido para um mercado a montante ou a jusante. Se não forem tomadas medidas e o acesso ao monopólio natural for negado às empresas entrantes, esta barreira à entrada é bastante severa (Blees et al. 2003). Em suma, é possível para as empresas instaladas tirarem vantagens relacionadas com condições de monopólio. Através da integração vertical, as empresas instaladas podem aumentar as barreiras à entrada (Blees et al. 2003).

A integração vertical deixa de ser sustentável quando a hierarquia deixa de ser a solução mais eficiente ao nível dos custos. Isto pode acontecer quando os custos de transação se tornam

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Tabela 1 – Barreiras à entrada
Tabela 1 – Barreiras à entrada (Continuação)
Tabela 2 – Distribuição das empresas por setor de atividade e classe/dimensão
Gráfico 1 – Distribuição das empresas observadas por tipo de empresa
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Referências

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