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Correlatos psicofisiológicos do processamento emocional: o papel dos sistemas autonómico e central

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Academic year: 2020

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Ana Rita Ribeiro Vigário

Correlatos psicofisiológicos do

processamento emocional: o papel

dos sistemas autonómico e central

Universidade do Minho

Escola de Psicologia

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Dissertação de Mestrado

Mestrado Integrado em Psicologia

Trabalho realizado sob a orientação da

Professora Doutora Sandra Carvalho

e do

Professor Doutor Jorge Leite

Ana Rita Ribeiro Vigário

Correlatos psicofisiológicos do

processamento emocional: o papel

dos sistemas autonómico e central

Universidade do Minho

Escola de Psicologia

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Índice

Agradecimentos p. iii

Introdução p. vi

Método p. xi

Correção e análise de dados p. xv

Resultados p. xvi

Discussão p. xxi

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Agradecimentos

Primeiramente, agradeço aos meus orientadores de Dissertação, Professores Sandra Carvalho e Jorge Leite, pelo apoio constante, acessibilidade e esclarecimento de todas as dúvidas que surgiram ao longo deste processo.

Devo também agradecimento especial à minha família e amigos, especialmente ao Diogo Barbosa, pela compreensão e suporte incondicional em todos os desafios encontrados durante este ano.

Agradeço a todos os membros do Laboratório de Neuropsicofisiologia pelas críticas apresentadas, sugestões e suporte fornecido, especialmente ao Professor Alberto Crego pela paciência, apoio e ensino das metodologias necessárias para desenvolver eficazmente o projeto, sem as quais tal não teria sido possível.

Por fim, um especial agradecimento a Sofia Faria e Patrícia Pereira pela amizade e espírito crítico, tão importantes durante todo este percurso final realizado em conjunto.

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Correlatos psicofisiológicos do processamento emocional: o papel

dos sistemas autonómico e central

Resumo

O estudo do processamento emocional é essencial para a compreensão do modo como os seres humanos avaliam e respondem a estímulos motivacionalmente relevantes. A componente P300 de Potenciais Evocados tem sido apontada como uma medida válida para estudar os recursos atencionais utilizados na realização de tarefas emocionais, especialmente se conjugados com sinais fisiológicos periféricos. Este trata-se de um estudo piloto desenvolvido com o objetivo de verificar o processamento de filmes de várias categorias emocionais – “Erótico”, “Neutro”, “Horror”, “Desportos Radicais” e “Violação" - medindo 1) a componente P300 , 2) batimento cardíaco e resposta eletrodérmica e 3) resultados obtidos na escala de classificação de estímulos Self-Assessment Manikin (SAM). Com uma amostra de seis participantes, os resultados demonstram diferenças na classificação emocional dos filmes, existindo também um aumento da resposta eletrodérmica nos filmes eróticos e de violação, em comparação com os de horror. Embora se revelem tendências nos valores da amplitude e latência, não existem dados significativos em relação à componente P300. Estes dados preliminares serão importantes para estudos futuros, que procuram avaliar eventuais diferenças em termos de processamento emocional entre voluntários saudáveis e uma população de ofensores sexuais.

Palavras-chave: emoções, P300, recursos atencionais, motivação, correlatos fisiológicos

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Psychophysiological correlates of emotional processing: the role of the

autonomic and central systems

Abstract

By studying the emotional processing, it is possible to understand how human assess and respond to motivationally relevant stimuli. By using electrophysiological measurements, it is possible to assess what happens in the body, while participants are being presented with emotionally laden stimuli. One of such measures, is the P300 event related potential (ERP) component, which has been studied as a measure of attentional resources allocation to emotional stimuli; especially if combined with simultaneous recording of peripheral measures. This pilot study was conducted in order to assess the impact of film clips with different themes – “Erotic”, “Neutral”, “Horror”, “Extreme Sports” and “Rape” – in healthy volunteers, assessing 1) the P300 ERP component, 2) heart rate and skin conductance levels) and 3) self-report (i.e. Self-Assessment Manikin (SAM)). With a sample of six participants, the results showed differences on the emotional classification of the film clips, and the skin conductance level increased in erotic and sexual assault films comparatively to horror. No differences were found on the P300, although we can see trend values in its amplitude and latency. The data originated from this study will be valuable in the future, as it will allow to compare this healthy volunteers, with a population of Sexual Offenders.

Keywords: emotions, P300, attentional resources, motivation, physiological correlates

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Introdução

A emoção pode ser definida de várias formas, sendo que é difícil chegar a um consenso na literatura em relação ao seu conceito (Lang, 2010). Alguns modelos, centrados numa perspetiva darwinista, consideram a emoção é elicitada em contextos apetitivos ou defensivos, e a sua função é preparar o organismo para a resposta aos mesmos como um modo de manter a sobrevivência (Lang, Davis, & Öhman, 2009). Por outro lado, alguns estudos definem emoções como experiências de sentimentos de medo, vergonha, entre outros (Lang, Emotion and Motivation: Toward Consensus Definitions and a Common Research Purpose, 2010). A avaliação de estímulos que provocam determinadas emoções no ser humano, e a sequente reação aos mesmos, constituem o processamento emocional (Codispoti, Surcinelli, & Baldaro, 2008). Este mecanismo tem sido um dos grandes focos de pesquisa no campo da Psicologia. Inúmeros estudos têm sido conduzidos com o objetivo de compreender como o ser humano avalia e reage a estímulos afetivos, como forma de perceber as atitudes, comportamentos e tomadas de decisão no contexto diário (Bradley, Houbova, Miccoli, Costa, & Lang, 2011).

Neste sentido diversos projetos têm estudado as alterações psicofisiológicas em resposta à exposição a estímulos emocionais com diferentes níveis de valência (positivos/negativos) e de arousal (alto e baixo) , tanto em população saudável (Brown, James, Henderson, & Macefield, 2012) como em populações clínicas (Chen, Tien, Juan, Tzeng, & Hung, 2005). Técnicas como os Potenciais Evocados, utilizando o registo do electroencefalograma (EEG), permitem-nos estudar a modelação de ondas neuronais em resposta a estímulos específicos, como uma boa resolução temporal (ordem dos milissegundos) e, desta forma, inferir sobre a modulação de funções sensórias e cognitivas específicas.

Esta técnica eletrofisiológica tem a capacidade de detetar sinais elétricos neuronais a partir do couro cabeludo, sendo que estes podem ser de dois tipos: atividade espontânea e atividade relacionada com acontecimentos discretos (Ward, 2010). Deste modo, segundo Picton (1980), os Potenciais Evocados são mudanças na atividade elétrica cerebral em resposta a estímulos. São geralmente registados pelas médias dos ensaios de atividade eletroencefalográfica após a apresentação de um estímulo, sendo que estes potenciais são caraterizados por terem amplitude, latência e polaridade específica (Coben & Evans, 2011)(Coben & Evans, 2011). Desta forma, o EEG reflete a soma dos potenciais

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pós-sinápticos neuronais (Bressler & Ding, Event-related Potentials, 2006) e os potenciais evocados refletem mudanças transitórias na atividade elétrica cerebral relacionada a eventos específicos.

Uma das grandes vantagens da utilização desta técnica é a sua resolução temporal, permitindo, em algumas condições, identificar alterações em determinados processos cognitivos (Ward, 2010). Por exemplo, o componente P300 é um potencial positivo de distribuição parieto-central que ocorre aos 300 ms pós apresentação do estímulo alvo (Picton & Hillard, 1989), sendo tradicionalmente conceptualizado enquanto indicador de processos atencionais, motivacionais e de memória operatória (Donchin, 1981; Donchin & Coles, 1983). Quando os recursos atencionais necessários para a avaliação de um estímulo são mobilizados, a amplitude da P300 parece ser proporcional à atenção alocada para o processamento desse mesmo estímulo (Gray, Ambady, Lowenthal, & Deldin, 2004).

Deste modo, o impacto dos estímulos emocionais nos indivíduos pode ser analisado a partir da P300, com base na análise da sua amplitude e latência (Polich, 2007). A amplitude do componente P300 mede essencialmente a quantidade de recursos atencionais utilizados para processar os estímulos relevantes, que são alocados independentemente da resposta dos indivíduos ao mesmo (Gray, Ambady, Lowenthal, & Deldin, 2004). Assim, quanto maior for a amplitude deste componente, mais recursos atencionais foram utilizados para processar o estímulo (Gray, Ambady, Lowenthal, & Deldin, 2004). Por seu turno, a latência do P300 é utilizada para medir a velocidade com que um indivíduo categoriza o estímulo, sendo este um processo subjacente à alocação de recursos atencionais para o processar. (Gray, Ambady, Lowenthal, & Deldin, 2004). Assim, quanto mais dificuldade o indivíduo tiver em categorizar um estímulo e realizar uma tarefa, maior é a latência do P300 (Polich, 2007).

A diferença na latência e amplitude deste componente pode ser verificada em tarefas de discriminação de sons, nomeadamente em tarefas de oddball - nas quais são apresentados dois estímulos, sendo que um deles aparece menos frequentemente (estímulo alvo) que o outro estímulo. Deste modo, os componentes são elicitadas de forma distinta, dependendo se o som é para ser atendido (target) ou se se trata de um distrator. Especificamente, a amplitude maior da P300 reflete a resposta a estímulos emocionalmente salientes. Este efeito tem sido relacionado com a atenção motivada, considerando-se que estímulos relevantes do ponto de vista motivacional elicitam maior ativação e alocação de recursos atencionais (Keil et al., 2002).

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Para além da técnica de Potenciais Evocados, outras metodologias permitem aceder eficazmente e de forma indireta aos mecanismos de processamento emocional, nomeadamente medidas de autorrelato e medidas periféricas.

Através das medidas de autorrelato é possível avaliar o impacto percebido e relatado pelo indivíduo acerca de diversas dimensões do estímulo. Neste sentido, os estímulos emocionais podem ser caraterizados, por exemplo, quanto à valência, arousal e dominância. A valência refere-se o caráter hedónico da experiência emocional subjetiva que estes transmitem ao indivíduo, que pode ser classificada como negativa ou positiva. O

arousal (ou ativação) refere-se ao alerta neurofisiológico ou o estado de responsividade de

uma pessoa em relação a um estímulo (o impacto que este provoca na pessoa). Por fim, a dominância refere-se aos sentimentos de controlo e influência sentidos perante a exposição aos estímulos, sendo que o indivíduo pode sentir-se dominante ou dominado pela experiência..

Assumindo-se que a emoção pode ser medida através das três dimensões acima referidas, Lang e Bradley (1994) desenvolveram um instrumento denominado de

Self-Assessment Manikin (SAM), uma prova que é constituída por três escalas com figuras que

representam os estados correspondentes a cada uma das dimensões (valência, arousal e dominância). Esta escala é utilizada para que os indivíduos possam cotar o estímulo apresentado em termos do impacto emocional que sentiram, classificando-o utilizando uma escala de Likert de 9 pontos. Este instrumento tem sido utilizado por vários investigadores para avaliar estes 3 componentes da resposta emocional, sendo muitas vezes constituído como medida secundária juntamente com metodologias da resposta periférica e central.

Nesta linha de investigação, a literatura apresenta evidência de que o processamento de estímulos emocionais provoca diferentes alterações ao nível da resposta psicofisiológica (Olofsson, Nordin, Sequeira, & Polich, 2008). Por exemplo, o processamento de imagens negativas parece estar associado a um aumento da amplitude do potencial P1, em comparação com as imagens positivas, sugerindo uma efeito de valência.. Por outro lado, outros estudos sugerem que o nível de arousal dos estímulos também parece afetar os potenciais de latência média (200-300 ms), nomeadamente, uma deflexão negativa na amplitude destes componentes, nas regiões fronto-centrais, no processamento de estímulos de alto arousal. Sugerindo desta forma, um processo de atenção seletiva natural para imagens mais intensas emocionalmente.

No que toca a componentes mais tardios, o potencial P300 revela influências na sua amplitude das subcomponentes P3a e P3b provocadas pela valência e arousal dos

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estímulos. Uma revisão realizada por Olofsson, Nordin, Sequeira e Polich (2008) verificou que a valência dos estímulos apenas influencia a P3b e não a P3a. Por exemplo, imagens de conteúdo erótico elicitam maior amplitude da P3b, em comparação com imagens de terror, mas não provocam diferenças na P3a. Esta última componente reflete alterações quando existe a visualização de imagens de alto arousal, independentemente da valência, quando estas têm uma função distratora da tarefa. Isto sugere que valência e arousal possam ser processados de forma distinta no cérebro.

Para além das medidas psicofisiológicas de caráter central, a literatura demonstra que as medidas periféricas são também boas indicadoras do impacto emocional de estímulos, como por exemplo o batimento cardíaco e a resposta galvânica (Codispoti, Surcinelli, & Baldaro, 2008). Um estudo realizado por Codispoti e colaboradores (2008), em que o objetivo era verificar as reações fisiológicas de participantes saudáveis a filmes emocionais, revelou uma diminuição do batimento cardíaco e um aumento da resposta galvânica aquando da visualização de filmes de alto arousal (independentemente da valência). Com estes resultados, os autores defenderam que estas respostas fisiológicas podem ser indicadoras de maior alocação de recursos atencionais, não ocorrendo apenas com estímulos aversivos. Adicionalmente, o estudo realizado por Carvalho e colaboradores (2011) obteve resultados que suportam os de Codispoti, sendo que também verificaram uma maior diminuição no batimento cardíaco e aumento da resposta galvânica em filmes de alto arousal, independentemente da valência.

Um bom método para a compreensão do efeito dos estímulos emocionais nos sinais psicofisiológicos periféricos é a teoria de que a emoção está organizada em dois sistemas principais: o sistema apetitivo e o sistema defensivo. O sistema apetitivo é considerado como um sistema de "aproximação", sendo que é ativado quando os seres vivos percecionam estímulos positivos, tais como os associados ao cuidado, sobrevivência da espécie, entre outros. (Lang, Davis, & Öhman, Fear and anxiety: animal models and human cognitive psychophysiology, 2009). Por outro lado, o sistema defensivo é tido como um sistema de "afastamento", e é ativado quando os indivíduos se deparam com estímulos considerados negativos, como por exemplo situações de perigo que impliquem uma resposta de ataque ou de fuga.

Desta Forma, foi proposto o Defense Cascade Model, (Lissek, Pine, & Grillon, 2006) que procura sintetizar a resposta defensiva dos seres vivos em três estádios essenciais. O primeiro estádio nomeia-se de "pré-encontro" e representa o momento em

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"pós-encontro" e aqui é o momento no qual o sujeito se depara com um estímulo aversivo de alto arousal, que pode ser uma situação de perigo ou a visualização de uma imagem altamente negativa; neste estádio, os recursos atencionais do indivíduo são alocados para tentar processar o estímulo que lhe é apresentado, existindo alterações periféricas: diminuição do batimento cardíaco, aumento da resposta eletrodérmica e dilatação pupilar, entre outros. Todas estas alterações acontecem para que o cérebro e o corpo se preparem para o último estádio, que é a "resposta" ao estímulo aversivo (por exemplo fuga ou luta).

Deste modo, segundo Lang e Bradley (2013), a diminuição do batimento cardíaco e o aumento da resposta eletrodérmica são dois dos índices fisiológicos que poderão estar associados a períodos em que existe maior alocação de recursos atencionais para os estímulos motivacionalmente relevantes. Num estudo anterior realizado por Löw e colaboradores (2008), os autores concluíram que a resposta eletrodérmica aumentava quando os participantes visualizavam estímulos emocionais de alto arousal (e.g. imagens de alguém a receber uma recompensa ou ser vítima de um ataque), acompanhada da diminuição do batimento cardíaco.

Por outro lado, o estudo do impacto de estímulos emocionais tem sido desenvolvido utilizando medidas psicofisiológicas centrais e periféricas. Por exemplo, Vardi e colaboradores (2007) publicaram um estudo no qual sugeriam utilizar a técnica de Potenciais Evocados, tendo como foco a componente P300, como uma medida objetiva para avaliação do interesse sexual. No entanto os autores apenas utilizaram estímulos emocionais positivos e neutros, não permitindo a comparação com estímulos negativos. Assim, encontraram que a amplitude da P300 diminuía quando os participantes visualizavam filmes eróticos por comparação com os restantes filmes.

No seguimento deste último estudo, Carvalho et al. (2011) procuraram estudar se o componente P300 numa tarefa de sobrecarga atencional (workload task) poderia ser utilizado enquanto medida específica e objetiva de interesse sexual recorrendo a estímulos de diferentes níveis de valência e arousal. Contudo, mais tarde, Carvalho et al (2011), incluíram novas categorias emocionais, balanceando os estímulos ao nível da valência e ao nível do arousal e concluíram que a amplitude do componente P300 era modulado por estímulos de alto arousal, tanto positivos (eróticos) como negativos (Terror) e não apresentava uma modulação específica para filmes eróticos. Desta forma, os autores sugerem que a P300 é modulada por estímulos motivacionalmente relevantes para o indivíduo e que o arousal parece ser determinante na alocação dos recursos atencionais aos estímulos. Os resultados deste estudo revelaram uma maior diminuição do batimento

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cardíaco e aumento da resposta galvânica aquando da visualização de filmes de alto

arousal independentemente da valência (erótico e terror), em comparação com filmes

neutros.

No entanto, não existem ainda estudos que utilizem a metodologia dos autores supracitados para avaliar a reação emocional a estímulos eróticos de caráter negativo, ou seja, filmes que contenham cenas de abuso e violação sexuais. Este elemento de investigação considera-se pertinente, pois os dados obtidos inicialmente com população saudável podem ser posteriormente comparados com população cujo comportamento sexual não é normativo, tal como ofensores sexuais.

Embora sejam conhecidas as particularidades do comportamento destes sujeitos, não existem ainda muitos estudos que procuram aferir marcadores eletrofisiológicos nesta população, nomeadamente se os estímulos ligados à violação são processados de forma diferente em relação a população saudável.

Assim, o presente trabalho é um estudo piloto, inserido num projeto mais alargado em que se procura estudar marcadores eletrofisiológicos numa amostra de ofensores sexuais, por comparação com população saudável, durante a visualização de filmes motivacionalmente significativos, com diferentes tipos de valência e arousal. Assim, neste estudo são utilizados filmes neutros, positivos de alto arousal com carácter sexual, positivos de alto arousal sem caráter sexual (desporto radicais), negativos de alto arousal (Terror) e negativos de alto arousal com simulação de violação sexual. Para o presente trabalho de mestrado foi utilizada uma amostra saudável, no sentido de obter dados que permitam posteriormente a comparação com a amostra de ofensores sexuais recrutados para o projeto. Por outro lado, este estudo piloto pretende também avaliar novas categorias de filmes: “Violação Sexual” e “Desportos Radicais”, ambos de alto arousal mas de valência diferente, sendo assim possível testar o paradigma a ser utilizado futuramente com ofensores sexuais.

Assim, no trabalho desenvolvido para esta tese pretende-se 1) avaliar a modulação das componentes P3a e P3b numa tarefa emocional como medida primária comparando a mudança na amplitude da componente P3 durante a visualização de filmes de diferentes categorias emocionais, 2) avaliar a resposta autonómica durante a visualização dos filmes emocionais, ao nível do batimento cardíaco e da resposta eletrodérmica e 3) obter o autorrelato dos participantes na categorização emocional do filmes.

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Método

Participantes

Oito voluntários saudáveis do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 20 e 33 anos (M= 25,29 DP=4,99) participaram na experiência. Utilizou-se uma amostra constituída apenas por homens pois o estudo pretende obter uma base para comparação com ofensores sexuais, e esta população é maioritariamente do sexo masculino. Destes oito participantes, um era casado (14,3%) e os restantes eram solteiros (85,7%), estando todos a frequentar o ensino superior. O recrutamento dos participantes foi realizado através de pedido de colaboração direto e divulgação do estudo na Universidade do Minho. Todos os participantes eram saudáveis, destros, não tinham qualquer história atual ou passada de perturbações neurológicas ou psiquiátricas e não tomavam nenhuma medicação que atuasse sobre o Sistema Nervoso Central.

Material de estimulação

Todos os participantes viram 50 filmes emocionais, cada um com duração de 40 segundos.

O som original dos filmes foi removido, de modo a que os participantes pudessem realizar a tarefa de oddball enquanto visualizavam as cenas. Os filmes foram divididos em cinco categorias, nomeadamente 10 filmes eróticos (de valência positiva e alto arousal), 10 filmes de horror (de valência negativa e alto arousal), 10 filmes de violação sexual (valência negativa e alto arousal), 10 filmes de desportos radicais (valência positiva de alto

arousal) e 10 filmes neutros. A escolha destas categorias teve como objetivo geral verificar

os efeitos do arousal e valência na alocação dos recursos atencionais, avaliados pela amplitude do componente P3 e das respostas periféricas.

Declarações Éticas

Os participantes preencheram o Consentimento Informado onde constam as informações necessárias sobre o estudo, tais como a descrição dos procedimentos a que o participante foi sujeito, os critérios de exclusão, os potenciais riscos associados à realização do estudo, a duração da experiência e o método de arquivo e salvaguarda da identidade do participante.

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Avaliação

Os participantes preencheram uma ficha sociodemográfica, que permitiu obter: idade, estado civil e habilitações literárias e dados de saúde (medicação), e foi feita a avaliação da lateralidade do indivíduo através do Edinburgh Handedness Inventory (Oldfield, 1971).

Utilizou-se a Visual Analogue Scale (VAS), uma escala que permitiu perceber o estado emocional do participante antes e logo após a experiência, através da cotação das seguintes frases: "Sinto-me ansioso", "O meu estado emocional é triste", "Sinto-me agitado", Sinto-me mais impulsivo", "Sinto-me cansado ou aborrecido", "Imagens e/ou filmes sexuais aumentam o meu desejo sexual", "Imagens e/ou filmes de terror aumentam o meu impulso agressivo". No final da experiência, para além das questões anteriores, eram adicionadas duas mais: "A visualização dos filmes aumentou o meu desejo de violação sexual" e "A visualização dos filmes aumentou o meu desejo sexual". Cada frase podia ser cotada de 0 a 10. Esta escala permitia fazer uma avaliação geral do estado emocional do participante.. As avaliação com a VAS pré e pós experiência permitiram avaliar possíveis variações emocionais nos participantes decorrentes da participação na experiência.

Para avaliação do afeto, antes e logo após a experiência, foi administrado a The

Positive and Negative Affect Schedule (PANAS - (Watson, Clark, & Tellegen, 1988) antes

e após a experiência. Este é instrumento permite aceder à afetividade e estado emocional, sendo constituído por 20 itens que correspondem a diversos estados (ex. Interesse, cansaço, vergonha, etc.) cotados pelo participante utilizando uma escala de Likert de 5 pontos, em que 1 corresponde a “muito ligeiramente ou não de todo” e 5 a “extremamente”. É possível medir o afeto positivo pela adição das pontuações assinaladas nos itens 1, 3, 5, 7, 9, 11, 13, 15, 17 e 19, e o afeto negativo através do somatório dos restantes itens. O balanceamento afetivo é medido através da subtração dos dois valores obtidos. Foi também utilizada a

Structured Clinical Interview for DSM-IV Axis I Disorders (SCID-I; First et. al, 1994) de

forma a avaliar possível existência de perturbações psicopatológicas.

Procedimento Experimental

Os participantes foram instalados numa cadeira confortável, frente ao ecrã de um computador situado numa sala de laboratório isolada, com luz e som adequados. Antes de iniciar a tarefa, foram instruídos que iriam assistir a cerca de 50 filmes cujo conteúdo é

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arousal e dominância. Foi explicado que todos os filmes emocionais eram representações

feitas por atores, alguns potencialmente chocantes e que o participante poderia abandonar a experiência a qualquer momento caso se sentisse incomodado com a mesma.

Os participantes foram instruídos quanto à tarefa de discriminação auditiva. Três sons foram apresentados aos participantes e instruiu-se que deviam ignorar dois, respondendo apenas a um deles. Como forma de indicar que identificara o som diferente, o participante deveria clicar no botão esquerdo do rato. Na fase de treino, os participantes aprenderam a distinguir os dois sons e a responder a apenas um deles. Na fase da tarefa, a apresentação dos filmes foi realizada em dez blocos de cinco filmes, sendo que em cada bloco todas as categorias foram apresentadas. Os sons foram apresentados durante a visualização dos filmes, e no fim de cada filme os participantes preencheram a escala de autorrelato SAM em relação ao mesmo.

Registo do Arousal, Valência e Dominância dos Filmes

Os valores de valência, arousal e dominância dos filmes apresentados foram obtidos a partir das classificações normativas do instrumento SAM, sendo que no final da classificação foram adicionadas três questões relativas ao filme apresentado: "Já tinha visto este filme?", "Fechou ou desviou os olhos em algum momento?" e "A cena representa um ato consentido?". Na figura 2 é possível verificar as médias das classificações das diferentes categorias nestas três dimensões.

Registo das medidas fisiológicas e redução dos dados

O eletroencefalograma (EEG) registou os Potenciais Evocados através de elétrodos montados numa touca colocada na cabeça do participante. Elétrodos adicionais Foram inseridos abaixo do olho direito e do olho esquerdo para monitorizar os eletro-oculogramas. Seguidamente, foi aplicado gel em todos os elétrodos até que as impedâncias estivessem todas abaixo dos 5kΩ. A recolha do EEG foi realizada usando uma touca com 32 elétrodos segundo o Sistema Internacional 10-20. Todos os elétrodos ativos foram referenciados à média e colocou-se um elétrodo de terra em FCz. A atividade do elétrodo eletrocolográfica vertical foi recolhida bipolarmente abaixo e acima do olho esquerdo para controlar os movimentos oculares e o pestanejar. As impedâncias dos elétrodos foram mantidas abaixo dos 10 kΩ. O sinal do EEG foi continuamente amplificado e digitalizado com uma taxa de amostragem de 500 Hz e um filtro online de 0.01 a 70 Hz.

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Filme 1

Foram medidos o batimento cardíaco, a resposta eletrodérmica e a respiração, sendo que estudos demonstram que existem diferenças nestas dimensões em relação às caraterísticas dos estímulos apresentados (Carvalho, Leite, Galdo-Álvarez, & Gonçalves, 2012). Para medir a resposta eletrodérmica, foram utilizados dois elétrodos Ag-Ag-Cl. Os elétrodos foram colocados no segundo e terceiro dedos da mão esquerda, entre a primeira e segunda falanges. A resposta eletrodérmica foi analisada utilizando o AqcKnowledge 4.0 (BIOPAC Systems Inc., California) e foi registada a um valor médio de 40 segundos de exposição ao filme. O batimento cardíaco foi medido através de três elétrodos ECG: um colocado abaixo da última costela direita, um segundo abaixo da clavícula esquerda e o último abaixo da clavícula direita. A média dos batimentos por minuto foi adquirida durante os 40 segundos da exposição. A respiração foi medida através de uma liga colocada à volta do peito do participante, sendo que lhe era pedido para inspirar fundo e manter o ar para que fosse colocada na parte mais larga do peito. Apertava-se a liga de modo a que pudesse registar a respiração sem ser desconfortável para o participante.

Correção e análise dos dados

Em primeiro lugar procedeu-se às análises de EEG. Na sequência da verificação de elevado ruído nos dados recolhidos, devido às condições de equipamento, procedeu-se previamente à limpeza dos mesmos e a eliminação dos artefactos oculares utilizando a

Medidas Periféricas Filme 2 Preenchimento dos Instrumentos de Avaliação Medidas Centrais

1º MOMENTO

2º MOMENTO

Intervalo 1 HORA

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limpeza dos dados, dois participantes foram excluídos por não existirem segmentos suficientes para realizar os testes de EEG.

Seguidamente, foi aplicado um filtro digital offline de passo de bandas de 0.1 a 30 Hz e o EEG foi segmentado em épocas de 1000 ms, de 100 ms pré-estímulo a 900 ms pós-estímulo, para cada um dos diferentes estímulos. A correção da baseline (100 ms) foi aplicada e os artefactos foram rejeitados de tal forma que as épocas com ±100 µV em qualquer um dos elétrodos posteriormente analisados. Por último foram medidas as épocas para cada um dos estímulos (standard, target e desviante) para cada uma das condições (“Horror”, “Erótico”, “Violação Sexual”, “Desportos Radicais” e “Neutro).

A média dos ERP foi analisada com o procedimento de deteção semiautomática dos picos e seguidamente revisto e corrigido manualmente para cada um dos elétrodos analisados para cada participante em cada uma das condições.

Após ter sido concluída a análise, foram registadas as amplitudes médias entre o intervalo de 300-400 ms, o que corresponde à componente P300. Foi realizado o teste de Friedman para detetar diferenças na amplitude e latência das componentes P3a e P3b em relação às diferentes categorias de filmes. Este teste foi realizado pois amostra é reduzida e apenas se utilizou um elétrodo EEG para realizar a análise, nomeadamente Cz e FCz, que registaram as componentes P3b e P3a respetivamente. Diferentes análises foram realizadas para a latência e amplitude.

Para a análise das medidas periféricas, foram primeiramente calculadas as médias das amplitudes dos três sinais fisiológicos (resposta eletrodérmica, batimento cardíaco e amplitude respiratória) dos participantes em relação a cada uma das cinco categorias de filmes. Posteriormente, no sentido de detetar diferenças entre as diferentes categorias de filmes no batimento cardíaco, respiração e resposta eletrodérmica da pele, a análise foi realizada através de testes de Friedman, uma vez que a amostra é reduzida. As pontuações obtidas na escala de autorrelato foram analisadas igualmente através de testes de Friedman. Testes de Wilcoxon foram utilizados quando os testes de Friedman foram estatisticamente significativos. Dado o carácter exploratório deste estudo, não foram realizadas correções para comparações múltiplas.

Por fim, a verificação dos efeitos da experiência no estado físico e psicológico do participante foi realizada através da análise de diferenças nas cotações dos instrumentos preenchidos no início e no final da experiência (VAS e PANAS) com a utilização de testes t para medidas emparelhadas.

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Resultados

PANAS e VAS

Os participantes não revelaram diferenças significativas no afeto negativo, t(5)= ,624 p= ,56; nem no afeto positivo, t(5)= ,764 p= ,479, entre o início e final da experiência. Em relação à VAS, apenas se encontraram diferenças significativas na dimensão “Cansaço”, sendo que os participantes revelaram estar mais cansados no final da experiência (M= 5,50 DP= 3,02) do que no início (M= 3,17 DP= 2,93) , t(5)= -4,18 p= 0,009. No que refere às duas questões adicionais, que apenas se preenchiam no final da experiência, análises de medidas descritivas demonstraram que a pergunta “A visualização dos filmes e violação aumentou o meu desejo de violação sexual” foi pontuada com 0 (M=0, DP=0) e a questão “A visualização dos filmes sexuais aumentou o meu desejo sexual” obteve uma média de 4,3 de pontuação (DP= 1,63).

Medidas de Autorrelato

Nas figuras 2, 3 e 4 pode-se verificar os resultados principais encontrados nas medidas de autorrelato, em relação às dimensões de valência, arousal e dominância dos filmes apresentados.

Foram encontradas diferenças significativas na classificação dos diferentes filmes em relação à valência, ᵡ2 (4, N= 6) = 12,74 p=.013. Testes de Wilcoxon permitiram verificar que os participantes classificaram os filmes de "Horror" como negativos em comparação com os filmes de "Desportos Radicais", z= 2.023 p= .043. Por outro lado, classificaram os filmes de "Violação" como negativos em relação a filmes de "Desportos Radicais", z= -1.99 p= .046. Os filmes de "Desportos Radicais" foram igualmente considerados positivos em relação aos "Neutros", z= -2.21 p= .027, e os filmes "Eróticos" seguiram a mesma direção em relação à mesma categoria, z= -2.21 p= .027.

Em relação aos valores de arousal, também foram encontradas diferenças significativas, ᵡ2 (4, N= 6) = 13.73 p=.008. Testes de Wilcoxon mostraram que os participantes cotaram os filmes de "Violação" como tendo maior impacto do que os filmes de "Desportos Radicais", z= -2.21 p= .027. Diferenças foram encontradas em relação à categoria "Violação", cotada como tendo maior impacto em relação à categoria "Erótico",

z= -1.99 p= .046. A categoria "Neutro", por seu turno, foi classificada como tendo menor

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Do mesmo modo, diferenças foram encontradas em relação à dominância, ᵡ2 (4, N= 6) = 16,27 p= .003. Comparações efetuadas revelaram que a categoria "Desportos Radicais" obteve maiores valores de dominância do que a categoria "Horror", z= -2.20 p= .028. Filmes de "Desportos Radicais" foram também classificados com maiores valores de dominância do que filmes de "Violação", z= -2.20 p= .028. Por seu turno, os filmes de categoria "Erótico" obtiveram maiores valores de dominância em relação aos filmes de "Horror", z= -2.20 p= .028, e de "Violação", z= -2.20 p= .028. 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Desporto Horror Neutro Erótico Violação

Dominância

1 2 3 4 5 6 7 8 9

Desporto Horror Neutro Erótico Violação

Arousal

Figura 3 - Média e desvio-padrão das classificações atribuídas ao arousal nas diferentes categorias na medida de autorrelato

Figura 2 - Média e desvio-padrão das classificações atribuídas à dominância nas diferentes categorias na medida de autorrelato

D om in ânc ia a ut o rr el at ad a A rousa l au tor re la tad o * * * * * * * * p< 0.05 * p< 0.05

(21)

Medidas Centrais

Não foram encontradas diferenças significativas na amplitude da P3a, ᵡ2 (4, N= 6) = 5. 47 p= . 243 nem na sua latência, ᵡ2 (4, N= 6) = 5.73 p= .220. Em relação à P3b não foram encontradas diferenças significativas na amplitude entre as diferentes categorias, ᵡ2 (4, N= 6) = 6.93 p=.139. No que refere à latência deste componente, também não foram encontradas diferenças significativas, ᵡ2 (4, N= 6) = 1.74 p= .783.

Tabela 1

Médias e desvios-padrão para amplitude e latência de P3a e P3b P3b (Cz) P3a (FCz)

Categorias Amplitude Latência Amplitude Latência

Erótico 3,26 (6,78) 379,33 (64,17) 2,22 (4,0) 320,33 (61,55) Horror 3,84 (6,70) 390,33 (61,11) 3,27 (3,04) 277,67 (36,38) Desportos Radicais 5,03 (8,56) 386,33 (87,55) 4,62 (6,02) 266,00 (33,23) Neutro 10,27 (13,44) 386,33 (75,10) 3,29 (4,51) 307,33 (46,47) Violação Sexual 4,58 (5,81) 367,67 (74,33) 1,48 (3,05) 312,67 (69,40) 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Desporto Horror Neutro Erótico Violação

Valência

Figura 4 - Média e desvio-padrão das classificações atribuídas às diferentes categorias na medida de autorrelato SAM V al ênc ia aut or rel at ada * * * * * p< 0.05

(22)

-5 0 5 10 15 20 25 30

Erótico Horror Desportos

Radicais Neutro Violação Sexual

Amplitude de P3b

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500

Erótico Horror Desportos

Radicais Neutro Violação Sexual

Latência de P3b

A m pl it u de

Figura 5 - Média e desvio-padrão das amplitudes da P3b em todas as categorias

Lat

ên

ci

a

(23)

Medidas Periféricas

Nas figuras 9, 10 e 11 pode-se verificar as médias nos três sinais fisiológicos através de um gráfico.

Foram encontradas diferenças significativas na resposta eletrodérmica da pele em relação às diferentes categorias de filmes, ᵡ2 (4, N= 6) = 12,564 p=.014. Contudo, comparações efetuadas utilizando testes de Wilcoxon apenas revelam diferenças marginalmente significativas. Deste modo, a resposta eletrodérmica foi mais elevada nos filmes "Eróticos" do que nos filmes de "Horror", z= -1.81 p= .066. Por outro lado, valores

-4 -2 0 2 4 6 8 10 12

Erótico Horror Desportos

Radicais Neutro Violação Sexual

Amplitude de P3a

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450

Erótico Horror Desportos

Radicais

Neutro Violação

Sexual

Latência de P3a

Figura 7 - Média e desvio-padrão das amplitudes da P3a em todas as categorias

A m pl it u de Lat ên ci a

(24)

mais elevados foram encontrados na categoria "Violação" em relação a filmes de "Horror",

z= -1.83 p= .068.

Relativamente ao batimento cardíaco não foram encontradas diferenças significativas entre as categorias de filmes, ᵡ2 (4, N= 6)= 4,93 p= .294. Em relação à respiração, também não foram encontradas diferenças significativas entre as categorias de filmes, ᵡ2 (4, N= 6)= 7,29 p= .121. 1 2 3 4 5 6 7

Desportos Horror Neutro Erótico Violação

Resposta Eletrodérmica

,0 ,1 ,2 ,3 ,4 ,5 ,6 ,7 ,8 ,9

Desportos Horror Neutro Erótico Violação

Amplitude Respiratória

Figura 9 - Médias na resposta eletrodérmica com desvio-padrão por cada categoria (média por 40 ms)

(25)

Discussão

Este estudo teve como objetivo avaliar a modulação das componentes P3a e P3b numa tarefa emocional, como medida primária, comparando a mudança na amplitude da componente P3 durante a visualização de filmes de diferentes categorias emocionais. Adicionalmente também se avaliou a resposta autonómica durante a visualização dos filmes emocionais, ao nível do batimento cardíaco e da resposta eletrodérmica e o autorrelato dos participantes na categorização de cada filme emocional, ao nível da valência, arousal e dominância.

Relativamente às medidas centrais, apesar de não ser estatisticamente significativo, parece existir uma tendência para a diminuição da amplitude em todas as categorias emocionais na P3b, quando comparadas com a neutra, com acentuada diminuição nos filmes eróticos e de horror, o que vai de encontro aos resultados encontrados por Carvalho et al. (2011).

Em relação à P3a, é interessante verificar que os filmes de "Violação" parecem apresentar uma tendência para captaram menores recursos atencionais comparativamente com as restantes categorias. Este resultado, poderá ter várias explicações e pode dever-se ao facto de os participantes terem utilizado estratégias distrativas (e.g. fechar os olhos) para lidarem com o conteúdo emocional das mesmas.

A ausência de resultados significativos nestas medidas pode, porém, ser explicados pelo facto de a amostra utilizada ser pequena, o que consequentemente revela elevada

20 40 60 80 100 120 140 160 180

Desportos Horror Neutro Erótico Violação

Batimento cardíaco

Figura 11 - Médias no batimento cardíaco com desvio-padrão por cada categoria (média de 40 segundos)

(26)

dispersão. No entanto, apesar de os dados não serem significativos, pode-se verificar tendências diferentes entre categorias nos valores de amplitude e latência.

Tal como se pode constatar pela análise das médias desta componente na Tabela 1, as categorias "Erótico" e "Violação Sexual" obtiveram os menores valores de amplitude e maiores valores de latência na P3a, em comparação com os restantes filmes. Segundo Polich (2007), estes resultados verificam-se quando os estímulos exigem uma maior alocação de recursos atencionais para serem processados. Em relação à P3b, pode-se verificar que apresenta maiores valores de latência e menores de amplitude nas categorias "Erótico" e "Horror", o que revela um efeito da valência nesta subcomponente, o que já foi verificado em outros estudos (Gray, Ambady, Lowenthal, & Deldin, 2004).

Outro fator que pode ainda justificar o facto de não se terem obtido resultados significativos foi a utilização da ICA para a redução de número de épocas. Esta análise é utilizada para limpar o sinal de EEG de qualquer tipo de ruído ocorrido durante a experiência, de modo a que este fique em condições de ser analisado. No entanto, o processo de retirar todo o ruído enfraquece o sinal do EEG.

Relativamente às medidas periféricas, os resultados apenas replicam parcialmente o que é reportado na literatura. Os dados obtidos na resposta eletrodérmica são consistentes com estudos anteriores, que revelam que os estímulos cotados como sendo de alto arousal, independentemente da valência, aumentam esta resposta. Foi possível verificar que a nova categoria – “Violação Sexual” – seguiu também estes parâmetros. Embora não existam diferenças significativas, existe uma tendência para uma diminuição do batimento cardíaco na categoria "Violação" em relação às restantes. Quanto à respiração, pode-se verificar também uma aceleração na visualização de cenas de violação em comparação com eróticas. Estes resultados parecem ser suportados pelo Defense Cascade Model (REF)

Relativamente às medidas de autorrelato, quanto à valência, os filmes de conteúdo “Erótico” e “Desportos Radicais” foram caraterizados como positivos e os filmes de “Horror” e “Violação Sexual” cotados como negativos. Estes resultados são consistentes com o que é reportado em outros estudos que utilizaram a mesma metodologia (Carvalho, Leite, Galdo-Álvarez, & Gonçalves, 2012). Em relação ao arousal, os filmes de “Horror” foram cotados pelos participantes como sendo de maior arousal, seguidas dos eróticos. Os filmes de “Violação Sexual” foram avaliados como de maior arousal. A direccionalidade destes resultados vai ao encontro de estudos anteriores, mostrando que de que os estímulos negativos são cotados como tendo maior arousal, (Delplanque, Silvert, Hot, & Sequeira, 2005; Carvalho, Leite, Galdo-Álvarez e Gonçalves, 2011 ).

(27)

A dominância, apesar de ser ainda uma componente pouco estudada na literatura, neste estudo, demonstra pontuações que permitem diferenciar as categorias de filmes. Este conceito é definido por Bradley e Lang (1994) como uma mudança na sensação de controlo do indivíduo em relação ao ambiente que o rodeia, aquando da visualização de estímulos emocionais. Um estudo realizado pelos mesmos autores em 2007 demonstrou que os indivíduos revelaram menores níveis de dominância (menor controlo) aquando da visualização de estímulos negativos, e maiores (maior controlo) para os estímulos positivos. Os resultados obtidos no presente estudo são consistentes com os encontrados por Bradley e Lang (2007), sendo que os filmes cotados com níveis mais elevados de

arousal e negativos obtiveram os níveis menores de dominância. Adicionalmente, os

filmes pontuados como tendo mais impacto e valência positiva tiveram o menor efeito de dominância.

Deste modo, o presente estudo piloto sugere que filmes emocionais têm impacto a nível fisiológico, nomeadamente na resposta eletrodérmica, e que esta medida é moderada pelo arousal dos estímulos, independentemente da valência. Por outro lado, foi possível verificar que a categoria de filmes que expõe cenas de violação sexual está associada a níveis altos de arousal e à valência negativa, bem como provocam a sensação de falta de controlo dos participantes. Por outro lado, é representada também com um aumento na resposta eletrodérmica. No entanto, o estudo apresenta algumas limitações, nomeadamente o número reduzido de participantes e as análises efetuadas que reduziram a quantidade de sinal disponível.

Deste modo, futuramente será pertinente voltar a realizar a experiência com um uma amostra maior e com equipamento mais adequado, que permita registar os dados recolhidos durante a experiência de forma eficiente. Da mesma forma, o estudo foi realizado com o objetivo de recolher dados sobre o processamento emocional de população saudável, utilizando-os como base para estudar futuramente este processamento em indivíduos com caraterísticas de personalidade específicas, tais como ofensores sexuais, indivíduos com personalidade antissocial, entre outros.

(28)

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Imagem

Figura 1 – Esquema do Protocolo Experimental
Figura 3 - Média e desvio-padrão das classificações atribuídas ao arousal nas diferentes categorias na  medida de autorrelato
Figura 4 - Média e desvio-padrão das classificações atribuídas às diferentes categorias na medida de  autorrelato SAM Valência autorrelatada*  * *  * * p&lt; 0.05
Figura 5 - Média e desvio-padrão das amplitudes da P3b em todas as categorias
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