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Academic year: 2021

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IntERVEnçãO HUMAnItÁRIA: PRIncíPIOS

UnIVERSAIS OU SEGURAnçA SElEtIVA?

OS cASOS dO KOSOVO E dA OSSétIA dO SUl

Carlos Chagas Vianna Braga* RESUMO

Este artigo analisa o papel das intervenções humanitárias no contexto da segurança internacional contemporânea, tendo como base dois processos recentes: Kosovo e Ossétia do Sul. A partir destes dois processos e do posicionamento dos principais atores da comunidade internacional envolvidos, procura avaliar como as práticas in-tervencionistas têm sido compreendidas e justificadas nas Relações Internacionais. Para tanto, essas ingerências são examinadas à luz de seis perspectivas teóricas: re-alismo, liberre-alismo, teoria crítica cosmopolita, construtivismo, pós-estruturalismo e pós-colonialismo. Estas reflexões procuram mostrar que as intervenções huma-nitárias acabam sendo norteadas por motivações particulares, negando, portanto, uma pretensa universalidade de princípios. A prioridade do particular em relação à universal não constitui, na realidade, uma peculiaridade destes dois episódios abor-dados neste estudo. A análise das intervenções (ou não intervenções) humanitárias ocorridas nos últimos anos parece apontar para uma predominância dos interesses pessoais sobre os gerais, resultando em critérios de “segurança seletiva” no lugar da desejável segurança coletiva.

Palavras-chave: Segurança Internacional. Intervenções Humanitárias. Kosovo. Os-sétia do Sul. Teorias de Relações Internacionais. Soberania.

ABStRAct

This article analyses the role of humanitarian interventions in the context of con-temporary international security. The analysis is primarily focused on two recent processes: Kosovo and South Ossetia. Departing from these two processes and the positions of the main actors of the international community involved, it studies how interventionary practices have been understood and justified in International Rela-tions. In order to achieve its objectives, this article examines humanitarian

interven-* Capitão-de-Mar-e-Guerra do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil - doutorando em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC - Rio) e mestre em Military Studies pela Marine Corps University, EUA. Atualmente, é estagiário do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia na Escola Superior de Guerra.

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tions through the lenses of six different theoretical perspectives: realism, liberalism, cosmopolitan critical theory, constructivism, post-structuralism, and post-colonial-ism. According to the main thesis of this article, humanitarian interventions are ultimately driven by particular reasons, denying, therefore, any pretense universal-ity of principles. The prioruniversal-ity of particular over universal principles is not peculiar to the two episodes which constitute the main focus of this article. The study of humanitarian interventions (and non-interventions) seems to point to a preponder-ance of particular interests, replacing the desirable principles of collective security by a “selective security.”

Keywords: International Security. Humanitarian Intervention. Kosovo. South Osse-tia. International Relations Theories. Sovereignty.

1 IntROdUçãO

Em 17 de fevereiro de 2008, Kosovo declarou unilateralmente sua indepen-dência da Sérvia, recebeu o reconhecimento imediato dos Estados Unidos e protes-tos por parte da Rússia. No dia 26 de agosto do mesmo ano, a Rússia anunciou o reconhecimento da independência da Ossétia do Sul, gerando protestos dos Esta-dos UniEsta-dos. Além de terem ocorrido no mesmo ano e de terem colocado os antigos rivais do período da Guerra Fria, entre outros atores da comunidade internacional, em lados opostos, ambas as regiões haviam sido alvo de intervenções militares re-centes e integravam os territórios de países membros da Organização das Nações Unidas (ONU), os quais se recusaram a aceitar e reconhecer a independência dessas regiões.

Se por um lado pode-se afirmar que as declarações unilaterais de indepen-dência e, sobretudo, seus reconhecimentos por outros países atingiram diretamen-te os princípios de diretamen-territorialidade e soberania, que constituem a ordem moderna westfaliana; por outro lado, pode-se também perceber que as intervenções estran-geiras ocorridas nas duas regiões já teriam confrontado tais princípios. Assim, dessa perspectiva, as declarações de independência nada mais seriam que a culminação dos processos de violação de soberania.

Pode-se constatar, também, que os episódios ocorridos no Kosovo e na Ossé-tia do Sul estão inseridos no contexto de outras intervenções (e não intervenções) ocorridas nos últimos anos, desde o fim da Guerra Fria, tais como no Iraque, na Líbia ou em Darfur, constituindo, portanto, parcela importante dos debates con-temporâneos sobre o tema das ingerências humanitárias.

Assim, esse trabalho, com base nos processos de intervenção ocorridos no Kosovo e na Ossétia do Sul e na atitude dos principais atores da comunidade in-ternacional envolvidos, analisa como as práticas intervencionistas contemporâneas têm sido compreendidas e justificadas nas Relações Internacionais.

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O trabalho está dividido em quatro partes. A primeira parte apresenta uma discussão sobre como o papel e o incremento das intervenções humanitárias inseri-dos na evolução e na expansão do conceito de segurança internacional, que teriam ocorrido após o fim da Guerra Fria.

A segunda parte apresenta uma breve síntese dos principais aspectos relati-vos aos processos de intervenção e independência do Kosovo e da Ossétia do Sul, bem como o comportamento dos principais atores da comunidade internacional em ambos os casos.

A terceira parte procura analisar e interpretar, sob a ótica de algumas aborda-gens teóricas contemporâneas das Relações Internacionais, as intervenções huma-nitárias em geral e, particularmente, as ocorridas no Kosovo e na Ossétia do Sul.

A quarta e última parte permite ratificar a tese deste artigo, de que as in-tervenções humanitárias acabam sendo direcionadas por “interesses particulares”, negando, portanto, uma pretensa universalidade de princípios. A prioridade das motivações particulares em relação aos princípios universais não constitui uma pe-culiaridade dos episódios motivadores deste estudo. A análise das intervenções (ou não intervenções) humanitárias ocorridas nos últimos anos parece apontar para uma prevalência dos interesses particulares sobre os universais, o que Mohamed Ayoob (1995) bem caracterizou como de critérios de “segurança seletiva” no lugar da desejável segurança coletiva.

2 SEGURAnçA IntERnAcIOnAl nA ERA dAS IntERVEnçõES HUMAnItÁRIAS Antes de analisar diretamente os episódios ocorridos no Kosovo e na Ossétia do Sul, é importante compreender como esses eventos estão inseridos no contexto das evoluções ocorridas após o fim da Guerra Fria, nas quais novas abordagens e interpretações do conceito de segurança internacional possibilitaram sua expansão e, em última análise, a eclosão das intervenções humanitárias.

Durante o período da Guerra Fria, a iminente ameaça de confronto militar entre as duas superpotências levou à valorização, quase exclusiva, dos aspectos militares da segurança internacional, em uma abordagem do tema definida como tradicional (BUZAN; HANSEN, 2009). Nos anos finais desse período, começaram a surgir, com maior intensidade, alguns debates sobre a possibilidade e a necessidade de uma expansão do conceito de segurança que permitisse considerar outros aspectos além dos militares. Tal expansão defendida pela Escola de Copenhague permitiria “alguma expansão, mas mantendo o senso específico de segurança inter(nacional) como sendo uma forma excepcional e extrema da política.” (BUZAN; HANSEN, 2009, p. 256). Com o fim da Guerra Fria e, notadamente, com o fim da ameaça iminente do conflito nuclear, “esses outros aspectos ganharam definitivamente maior espaço e relevância nos estudos de segurança, resultando também em perda do papel dominante das questões exclusivamente militares” (HUYSMANS, 2006, p. 20).

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Posteriormente, outros aspectos, como o conceito de segurança humana, seriam acrescentados ao debate, enfraquecendo desta vez o papel dominante do Estado, relativizando as noções de soberania e, naturalmente, tornando a questão da segurança internacional ainda mais complexa.

Na abordagem proposta por Barry Buzan (2009), o conceito de segurança está diretamente ligado à sobrevivência de determinado objeto de referência, de modo que uma questão de segurança está presente sempre que houver uma ame-aça existencial a esse objeto (BUZAN et al., 1998). Na leitura mais tradicional, o objeto de referência é constituído pelo próprio Estado, incorporando seu governo, território e sociedade, ou por uma determinada comunidade política (DALBY, 1997). Assim, durante todo o período da Guerra Fria, o tema foi marcado pela ideia de segurança nacional, definida em termos militares (BAYLIS, 2011). Para os tradiciona-listas, como Stephen Walt, que defendem a leitura mais estreita do conceito, é fácil identificar questões de segurança como sendo aquelas relacionadas ao “estudo da ameaça, uso e controle da força militar” (STEPHEN WALT,1991, p. 212).

Nos anos finais da Guerra Fria, à medida que novos itens foram adicionados à agenda político-militar, começou a crescer a ideia de expansão do conceito de segurança para a inclusão de aspectos e ameaças não militares, bem como da abor-dagem da segurança em termos setoriais, defendida por Buzan(1998), em sua obra clássica do conceito de segurança expandida: “People, States and Fear: An Agenda for International Security Studies in the Post-Col War Era.” (BUZAN,1991, p. 19). Nessa abordagem, o setor militar refere-se a relações de coerção e uso da força; o setor político refere-se a relações de autoridade, status de governo e reconheci-mento; o setor econômico abrange as relações de comércio, produção e finanças; o setor societal trata das relações de identidade coletiva; e o setor ambiental consti-tui-se das relações entre a atividade humana e a biosfera do planeta.

Surgiram, também, outras abordagens, ainda mais inovadoras e radicais, nas quais o objeto de referência para a segurança deixava de ser o Estado, passando a ser, por exemplo, apenas a sociedade, como no caso da chamada segurança societal (WAEVER; BUZAN; KELSTRUP; LEMAITRE, 1993, p. 23) ou a própria população, como no conceito de segurança humana (BUZAN; HANSEN, 2009, p. 202). É relevante esta última abordagem no contexto deste artigo.

A posição dos tradicionalistas, entretanto, manteve-se contrária à expansão do conceito de segurança para a inclusão de ameaças não militares (aquecimento global, migração, etc.) e de objetos de referência não necessariamente estatais (hu-manidade, identidade, população, indivíduos, etc.). O argumento principal, segun-do Walt, era de que tal expansão depreciaria a coerência intelectual deste campo das relações internacionais (HUYSMANS, 2006, p. 20).

Todavia, com o desvanecimento do perigo de confrontação militar entre a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e o Pacto de Varsóvia, os aspec-tos militares das questões de segurança aparentemente teriam perdido seu status

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dominante (HUYSMANS, 2006, p. 17). Assim, assuntos como controle de armas, dissuasão nuclear e alianças militares, entre outros, deixaram de constituir o princi-pal foco da atenção dos estudos de segurança, que passaram a incluir um espectro mais amplo de questões, tais como meio ambiente, migrações e refugiados, por exemplo, conforme pondera Huysmans (2006, p. 15). Com o fim da Guerra Fria, “a extensão da economia de mercado aos antigos integrantes da Cortina de Ferro e a intensificação do sistema financeiro global de investimentos e de produção, a agenda expandida da segurança passou a ganhar cada vez maior projeção” (BUZAN et. al, 1998, p. 211).

Uma consequência colateral foi que a expansão do conceito de segurança para além das ameaças militares acabou também por transpô-lo, que, até então, estava ligado primordialmente a eventos interestatais, para eventos intraestatais. Assim, com a expansão dessa visão de segurança e a redefinição da ideia de sobe-rania, a segurança internacional e a segurança doméstica passaram a ficar definiti-vamente entrelaçadas (HERZ, 2010, p. 603).

Neste período inicial, ocorreram verdadeiras tragédias humanitárias, como no caso dos massacres de Ruanda1, Somália ou, em menor escala, mas com enorme impacto devido à localização na Europa, Srebrenica (WILLS, 2009). Em todas essas ocasiões, a comunidade internacional mostrou-se incapaz de agir para impedir tais tragédias, de modo que as abordagens mais ousadas de expansão do conceito de segurança ganharam importância cada vez maior, resultando não apenas na inclusão de outros setores além do militar nos debates, mas, principalmente, em novos objetos de referência para a segurança: a sociedade ou o próprio indivíduo.

A concepção de segurança societal está ligada diretamente à sobrevivência de uma sociedade, podendo ser definida como “a habilidade de uma determinada sociedade em persistir, em seu caráter essencial, durante as mudanças de condições e sob ameaças reais ou potenciais” (WAEVER et. al, 1993, p. 23).

O conceito de segurança humana2, por sua vez, defende que “a lógica da segurança deve ser ampliada, além da defesa territorial e interesses nacionais, passando a incluir as chamadas preocupações universais, a prevenção de conflitos, bem como um esforço global para eliminar o subdesenvolvimento e a pobreza. Neste caso, o objeto de referência deixa de ser o Estado e passa a ser a própria população ou o indivíduo” (BUZAN; HANSEN, 2009, p. 202). Tal alteração no objeto de referência traz os mais profundos impactos para as relações internacionais e para as intervenções humanitárias, conforme veremos a seguir.

1 O livro Shaking Hands With the Devil: The Failure of Humanity in Rwanda, escrito pelo General Romeo Dallaire, Comandante da Força de Paz da ONU em Ruanda, relata em detalhes a passividade do mandato, a impotência das tropas da Força de Paz e a falta de ação da ONU e da comunidade internacional. 2 O conceito de segurança humana foi lançado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

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Desde a Paz de Vestfalia e da criação do Estado moderno, as considera-ções humanitárias haviam sido sacrificadas em benefício da cidadania, de modo a permitir a sobrevivência e a soberania do Estado e, principalmente, a estabili-dade do sistema internacional. O Estado moderno seria, segundo Weber, “a for-ma de comunidade que reivindica, com sucesso, o monopólio do uso legítimo da força física em um território particular... O Estado é visto como a única fonte do ‘direito’ ao uso da violência” (2004, p. 33). Assim, princípios como a não intervenção e a autodeterminação tornaram-se regra geral, sendo, em 1945, reiterados pela Carta das Nações Unidas. As preocupações com os direitos hu-manos permaneceriam, portanto, em segundo plano, durante todo o período da Guerra Fria, apesar de a própria Carta das Nações Unidas também deixar cla-ra sua primazia ou mesmo da promulgação da Declacla-ração Universal dos Direitos Humanos em 1948.

Entretanto, na década de 1990, as preocupações humanitárias ganharam definitivamente papel de destaque na agenda internacional. A introdução das populações e de indivíduos como objetos de referência para a segurança inter-nacional, juntamente com a mudança na natureza dos conflitos de interestatais para intraestatais acarretaram, de acordo com Wheeler, (2006), profundas alte-rações no equilíbrio entre a inviolabilidade da cidadania, por ação externa, e os efeitos sofridos pelos mesmos cidadãos (por ação, omissão ou incapacidade do poder estatal) sobre seus direitos humanitários, abalando fortemente as noções de soberania.

A maior parte destes conflitos intraestatais, nos quais atores da comuni-dade internacional, ao decidirem intervir, acabam tratando a população ou o indivíduo como objeto de referência, recebe a denominação de intervenções humanitárias. Diferenciando-se fundamentalmente do conceito de assistência humanitária, não pelos propósitos, mas pelos meios, as intervenções homôni-mas constituem ingerências armadas de um Estado, grupo de estados ou Orga-nismo Internacional em território de outro estado, para reprimir violações de direitos humanos, conforme declara Yves Sandoz (1992).

Ainda que as intervenções estrangeiras, de maneira geral e por diferentes motivações, sempre tenham estado presentes nas relações internacionais, foi na década de 1990 que os aspectos de direitos humanos cresceram em impor-tância como justificativas para tais intervenções, consoante as ideias de Martha Finnemore (2003).

Ao colocar os indivíduos e as populações como objetos de referência da segurança, as intervenções humanitárias ocorrem em situações nas quais su-postamente “o próprio estado, longe de ser um provedor de segurança como na visão convencional, tem sido muitas vezes uma fonte primária de insegurança” (WALKER, 1993, p. 11), podendo vir a representar uma ameaça para os mesmos indivíduos que deveria proteger. Assim, ficam claras as tensões entre os

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prin-cípios de não intervenção e soberania (que regem a segurança dos estados) e as noções de direitos humanos universais (que têm como aspecto central a se-gurança humana e que passaram a servir como justificativa para o aumento do número de intervenções).

Mais recentemente, a adoção do conceito de responsabilidade de prote-ger (R2P), durante 2005 World Summit, contribuiu para a tentativa de reforçar ainda mais a preponderância do humano sobre o cidadão:

Aceitação clara e inequívoca por todos os governos quanto à respon-sabilidade internacional em proteger as populações de genocídios, crimes de guerra, limpeza e crimes contra a humanidade. Vontade e disposição para agir coletivamente, de forma tempestiva e decisiva, para este propósito, por meio do Conselho de Segurança, quando as medidas pacíficas mostrarem-se inadequadas e as autoridades nacio-nais estejam manifestamente falhando em fazê-lo. (ONU, 2005).

Tal aprovação proporcionou maior aceitação do conceito em países como o Brasil, bem como ocasionou sua adoção por algumas organizações regionais, como a União Africana. O Brasil, atualmente, defende uma posição alternativa, materializada pela proposta de “responsabilidade ao proteger”,3 formalizada pela primeira vez na abertura da reunião da Assembleia Geral da ONU, em 2011, e que deve ser encarada como uma tentativa de contraponto ao caráter político de algumas intervenções humanitárias e às extrapolações de mandatos ocorridas mais recentemente, como no caso da intervenção na Líbia. Seus principais elementos são: a valorização da prevenção e dos meios pacíficos de solução de controvérsias; a excepcionalidade do emprego da força; a obrigação de que a ação militar não cause danos maiores do que aqueles que tenciona evitar; a observância rigorosa dos mandatos; a importância da proporcionalidade e de limites para o emprego da força; e a necessidade de monitoramento e avaliação da implementação das resoluções (VIOTTI, 2012).

O uso da força na proteção de civis, caracterizando uma intervenção huma-nitária, não é uma questão trivial, uma vez que materializa as grandes tensões en-tre a segurança dos estados e a segurança dos indivíduos. Dois dilemas principais permanecem sem respostas satisfatórias: 1) Até que ponto o uso da força poderá efetivamente garantir a proteção de determinado grupo de civis, em vez de contri-buir para agravar a situação do homem deste ou de outros grupos? Conforme afir-ma Andrew Linklater, “guerras huafir-manitárias causam miséria e sofrimento huafir-mano, por mais nobres que sejam as intenções” (LINKLATER, 2007, p. 288). O resultado da equação pode certamente ser a degradação exponencial das condições

huma-3 O conceito de ‘responsabilidade ao proteger’ foi mencionado primeiramente em setembro de 2011, no discurso da Presidente Dilma Rousseff , abertura da Assembléia Geral das Nações Unidas. Recentemente, em novembro deste mesmo ano, durante encontro sobre a proteção de civis, a Emb. Maria Luiza Viotti detalhou tal conceito, por meio de discurso previamente preparado pelo Min. Patriota.

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nitárias, exatamente o oposto dos supostos finalidade da intervenção. 2) Quais as considerações políticas que ensejam a decisão de utilizar a força para proteger de-terminados grupos e não a utilizar para proteger outros? Para Mohamed Ayoob (1995), as intervenções humanitárias acabam por instituir, na prática, um sistema de ‘segurança seletiva’, operado pelos países do Norte, no lugar de uma desejável segurança coletiva (AYOOB, 1995).

Nas próximas seções, será analisado como os episódios ocorridos no Kosovo e na Ossétia do Sul iluminam as questões acima mencionadas e como as diversas abordagens teóricas das Relações Internacionais enxergam de diferentes formas as intervenções humanitárias.

3 “SEGURAnçA SElEtIVA” nO KOSOVO E nA OSSétIA dO SUl

No final da década de 1990, o Kosovo foi o cenário de um dos casos mais controvertidos de intervenção humanitária. Era uma região autônoma dentro da República da Sérvia, até que o ex-presidente da antiga Iugoslávia, Slobodan Mi-losevic, revogou sua autonomia em 1989, alegando como propósito a proteção dos sérvios que estariam sendo oprimidos no interior do território. Elementos da maioria kosovar albanesa constituíram, então, o Kosovo Liberation Army (KLA), que desencadeou uma intensa campanha contra os sérvios em 1998. Tal cam-panha teria provocado uma série de atrocidades cometidas pelos sérvios, o que acabou por levar o assunto ao Conselho de Segurança, que permaneceu dividido, uma vez que Rússia e China entenderam que se tratava de um assunto doméstico que não representava ameaça à paz e à segurança internacional. Dessa forma, o Conselho de Segurança não poderia autorizar uma intervenção armada contra a vontade de um governo reconhecido. Apesar disso, a OTAN decidiu agir de qual-quer modo e começou a bombardear o Exército da Sérvia e a infraestrutura do país, em março de 1999.4

Segundo Nicholas Wheeler, o significado simbólico de tal ação não deve ser menosprezado. Afinal, o uso da força pela OTAN, em 1999, contra a Sérvia, marcou a primeira vez, desde a fundação da ONU, em que um grupo de estados explici-tamente justificou o bombardeio de outro estado, em nome da proteção de uma minoria. Além de não ter tido a autorização do Conselho de Segurança, a ação foi duramente condenada por Rússia e China como uma flagrante violação da lei inter-nacional (WHEELER, 2004). A intervenção foi realizada sem o emprego de tropas terrestres, uma vez que a OTAN não desejava arriscar baixas. O embaixador dos EUA na ONU, Richard Holbrook, referiu-se bizarramente à operação como “bombing for peace” (DER DERIAN, 2009).

4 O detalhamento da sequência de eventos pode ser encontrado em The Kosovo Report, elaborado pela Independent Commission on Kosovo. Oxford: Oxford University Press, 2000.

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O resultado imediato foi a morte de cerca de pelo menos quinhentos civis (estima-se entre quinhentos e dois mil) (GIBBS, 2009) em razão dos bombardeios e de uma aceleração da política de limpeza étnica por parte da Sérvia. Finalmen-te, a OTAN obteve sucesso, acabando com o controle da Sérvia sobre o Kosovo, estabelecendo, em seguida, uma força de estabilização Kosovo Force (KFOR) e, a partir de 1999, uma administração transitória da ONU no território, por meio da United Nations Interim Administration Mission in Kosovo (UNMIK)5. A comunida-de internacional ainda permanece amplamente dividida quanto aos aspectos comunida-de legalidade e legitimidade da intervenção no Kosovo.

Em 17 de fevereiro de 2008, decorrida quase uma década da intervenção, o Kosovo unilateralmente declarou sua independência da Sérvia, o que causa diferen-tes reações na comunidade internacional. Os EUA e seus aliados na OTAN estiveram entre os primeiros a reconhecer a independência do novo país. A Federação Russa e, naturalmente, a própria Sérvia permanecem fortemente contrárias à declaração de independência. Até o momento, noventa países já reconheceram a independên-cia do Kosovo, sendo o Brunei o mais recente, em 12 de abril de 2012.6

A declaração de independência do Kosovo e o pronto reconhecimento por importantes atores da comunidade internacional constituíram importante pre-cedente para uma série de acontecimentos na Geórgia, naquele mesmo ano, os quais culminariam em uma guerra entre Rússia e a pequena república do Cáucaso localizada na fronteira entre Europa e Ásia (SCHÄFFER, 2009). Após uma escalada de tensões entre russos e georgianos, em razão de discordâncias em relação à Abecássia e à Ossétia do Sul, regiões autônomas pertencentes à Geórgia, ocorreu uma ação militar por parte da Geórgia, seguida de uma reação russa, que, assim como a OTAN fizera no caso do Kosovo, alegou motivos humanitários ligados à proteção da população civil local. Ainda que existam controvérsias quanto às reais motivações, o fato é que a justificativa russa foi colocada em termos de inter-venção humanitária. A imprensa internacional inicialmente havia abraçado a tese humanitária apresentada pelos russos, contudo, pouco depois ficou claro que os números apresentados pelos russos haviam sido inflados e outros motivos ligados a interesses e poder estariam no centro das decisões (CORNEL; STARR, 2009). Finalmente, no dia 26 de agosto do mesmo ano, a Rússia anunciou o reconhe-cimento da independência da Ossétia do Sul, que, ao contrário do Kosovo, não teve grande aceitação e reconhecimento internacional. Até o momento, apenas Rússia, Venezuela, Nicarágua, Nauru e Tuvalu reconheceram a independência da Ossétia do Sul.

A questão do reconhecimento de novos estados não é uma questão trivial. Em 1941, um dos grandes nomes do direito internacional, Hans Kelsen (1941, p.

5 UN Security Council Resolution 1244 (1999).

6 República do Kosovo. Ministry of Foreign Affairs. Disponível em: <http://www.mfa-ks. net/?page=2,4,1214>. Acesso em: 19 maio 2012.

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605) já afirmava que: “O problema do reconhecimento dos estados e governos não foi resolvido de forma satisfatória. Dificilmente outra questão é mais contro-versa ou poderá levar na prática dos estados a situações tão paradoxais” (KEL-SEN, 1941, p. 605).

Decorridos mais de setenta anos, tal afirmação parece perfeitamente ade-quada aos casos do Kosovo e da Ossétia do Sul. A questão do reconhecimento das independências dos dois territórios mostrou-se altamente política e pouco con-sistente em termos legais. Ao reconhecer a independência do Kosovo, os Estados Unidos e boa parte dos outros países que o fizeram fundamentaram sua posição no princípio da autodeterminação, ao passo que, ao não reconhecerem a inde-pendência da Ossétia do Sul, fundamentaram sua posição no princípio da integri-dade territorial. A Rússia, por outro lado, adotou posição rigorosamente oposta, ou seja, reconheceu a independência da Ossétia com base na autodeterminação e não reconheceu a independência do Kosovo com base na integridade territorial (RYNGAERT; SOBRIE, 2011, p. 467-490).

A Assembleia Geral da ONU levou o caso da independência do Kosovo à apreciação da Corte Internacional de Justiça, que foi ambígua, entendendo que não havia incompatibilidade da declaração em relação à Resolução do Conselho de Segurança nº 1244 (1999), que estabelecera a UNMIK, mas manteve silêncio quanto às consequências, incluindo o possível reconhecimento (RYNGAERT; SO-BRIE, 2011, p. 480).

Muitos países, ao reconhecerem o Kosovo, justificaram suas posições (quando o fizeram) em termos políticos, especialmente referindo-se a preocupa-ções com a necessidade de estabilidade, paz e segurança na região (RYNGAERT; SOBRIE, 2011, p. 481).

Em suma, verifica-se que, de modo geral, os atores diretamente envolvidos nos processos de intervenção no Kosovo e na Ossétia adotaram condutas com motivações claramente políticas, que resultaram em double standards, uma vez que os critérios utilizados para justificar suas posições (basicamente, autodeter-minação ou integridade territorial) em cada um dos casos foram escolhidos, não em função de princípios, mas de acordo com seus interesses políticos específi-cos.

Muitos países que têm preocupações separatistas no interior dos seus pró-prios territórios não reconheceram a independência das duas regiões, dentre eles destacam-se a China (Tibete), a Espanha (Catalunha), o Irã (curdos), o Chipre e a Bolívia (LAFFER, 2010).

A posição brasileira, ao não reconhecer a independência do Kosovo, consi-derou que a Resolução nº 1244 (1999) determinava a manutenção da integridade territorial da Sérvia e que a eventual independência só poderia ocorrer de forma

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negociada. O Brasil também não reconheceu a independência da Ossétia do Sul com base no princípio da integridade territorial.78

4 IntERVEnçõES HUMAnItÁRIAS E AS RElAçõES IntERnAcIOnAIS

As intervenções humanitárias podem ser analisadas, no âmbito das Relações Internacionais, por meio de diferentes abordagens. Basicamente, cada uma das principais escolas que atualmente compõem a disciplina fornece uma visão distinta sobre o fenômeno, chegando a diferentes conclusões. Além disso, mesmo dentro de uma mesma escola, podem ser encontradas abordagens distintas.

Para o presente estudo foram selecionadas seis abordagens bem caracterís-ticas, que certamente permitirão enxergar as intervenções humanitárias sob dife-rentes visões iniciando a partir de pontos de vista convencionais realistas e liberais, passando por um enfoque construtivista e por uma crítica cosmopolita, para encer-rar com críticas pós-estruturalistas e pós-coloniais.

A análise das intervenções humanitárias sob estas diferentes perspectivas teóricas, exposta a seguir de forma resumida, deverá permitir quanto à particulari-dade ou universaliparticulari-dade dos princípios que tem regido tais intervenções.

5 A VISãO dE MUndO REAlIStA

John Mearsheimer (2001) afirma que o realismo, apesar de não prescrever as intervenções humanitárias, tampouco proscreve. Mesmo assim, apresenta uma visão bastante cética em relação às intervenções humanitárias, as quais chama de “intervenções de direitos humanos”. Para Mearsheimer, algumas vezes a busca de objetivos não ligados à segurança (aqui considerada em sua concepção nacional tradicional) não têm praticamente nenhum efeito na balança de poder.

As intervenções de direitos humanos normalmente se inserem nesse contexto, porque normalmente tendem a ser operações de pequena escala que não custam muito e não prejudicam as perspectivas da grande potência em relação à própria sobrevivência. Para o bem ou para o mal, os estados raras vezes estão dispostos a gastar sangue e recursos financeiros para proteger populações estrangeiras de abusos, incluindo genocídio. (MEARSHEIMER, 2001, p 49).

Para Stephen Krasner (1996), o padrão vestfaliano, baseado nos princípios

7 Ministério das Relações Exteriores, Situação no Kosovo (Nota nº 71) 18 fev. 2008. Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/2008/02/18/situation-in-kosovo> 8 A posição brasileira também foi confirmada pelo Ministro Santiago Mourão, Chefe do Departamento

de Europa do Ministério das Relações Exteriores, durante palestra realizada na Escola de Guerra Naval em 18 maio 2012.

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de soberania, autonomia e territorialidade oferece um modelo simples, elegante e convincente. Mesmo assim, defende que o princípio da soberania sempre foi uma “hipocrisia organizada”. Em sua perspectiva, existiriam quatro categorias analíticas de soberania: soberania legal internacional (sempre que um estado for reconhecido pelos demais e aceito juridicamente como igual), soberania independente (sempre que o Estado é capaz de exercer o controle dos movimentos através de suas frontei-ras), soberania doméstica (quando o estado é capaz de controlar os eventos dentro do seu território) e, finalmente, soberania vestfaliana, quando o “Estado existe em um determinado território no qual as autoridades políticas domésticas constituem os únicos árbitros do comportamento legítimo” (KRASNER, 1999, p. 20). Assim, a soberania vestfaliana estará comprometida sempre que atores externos “infringi-rem a autonomia doméstica” (KRASNER, 1999, p. 22).

Para Krasner (1999, p. 151), os comprometimentos de soberania ocorreram com regularidade ao longo da história, “violações de vestfália, entretanto, são um problema antigo e não um novo,” é que uma das formas comuns de comprometi-mento foi por meio de intervenções estrangeiras realizadas para proteger religiões, etnias ou minorias nacionais, nas quais os estados mais poderosos manipulam o reconhecimento jurídico de modo a obter influência sobre a política nos estados mais fracos, de novo comenta Krasner (1999, p.224).

Com base na abordagem de Krasner, podemos constatar, portanto, que os estados mais fracos são frequentemente submetidos a coerções e imposições, tor-nando-se incapazes de defender suas autonomias e, muitas vezes, seus próprios territórios, de modo que “alguns estados possuem poder para preservar sua auto-nomia enquanto outros não possuem” (KRASNER, 1999, p. 150). As grandes potên-cias, segundo Mearsheimer, utilizam, alternadamente, força e diplomacia para atin-gir seus objetivos. As intervenções humanitárias podem, seguramente, constituir um instrumento de força e diplomacia.

Sob as perspectivas de Mearsheimer e Krasner, podemos concluir que, na visão de mundo realista, as intervenções humanitárias normalmente são realizadas quando atendem aos interesses das grandes potências, podendo, eventualmente, ocorrer em situações que não estejam diretamente ligadas aos seus interesses, des-de que não tenham nenhum impacto significativo em sua balança des-de podes-der.

Assim sendo, o realismo permite interpretar, tanto as intervenções quan-to os posteriores reconhecimenquan-tos das independências do Kosovo e da Ossé-tia do Sul como decorrentes dos interesses dos principais atores internacionais envolvidos, ainda que não se possa negar a existência de aspectos humanitá-rios, os quais, contudo, teriam sido subsidiários. Para os realistas, a decisão da OTAN de agir sem autorização do Conselho de Segurança demonstra a fraqueza dos argumentos de que as normas e as leis constrangem as ações dos estados. Acrescenta-se, ainda, que a intervenção russa na Ossétia do Sul, ocorrida pouco depois do reconhecimento da independência do Kosovo pelos EUA e por outros

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integrantes da OTAN, e da manifestação de incorporar a Georgia à organização, merece ser analisada sob a ótica clássica da balança de poder e pela importân-cia que o Cáucaso, por sua localização estratégica, tem para a Rússia e para a geopolítica mundial.

6 IntERVEnçõES HUMAnItÁRIAS nO PEnSAMEntO lIBERAl

A premissa básica da filosofia liberal é a de que o propósito principal dos es-tados e governos é proteger e assegurar os direitos básicos da pessoa humana, ou seja, existe um contrato social que de alguma forma explica e justifica a existência do Estado. Assim, para Fernando Tesón (2003), o argumento liberal em favor das intervenções humanitárias está fundamentado em dois principais movimentos. O primeiro considera que o exercício de um governo tirânico e o comportamento que normalmente ocorre em situações de extrema anarquia constituem sérias formas de injustiça em relação à pessoa humana. O segundo considera a inter-venção externa como moralmente permissível para pôr fim à injustiça (TÉSON, 2003, p.93).

Para Michael Walzer (1995, p. 63), “uma intervenção humanitária coercitiva é moralmente necessária quando o sofrimento e a crueldade são extremos e não há forças locais capazes de interrompê-los.” Nestes termos, Tesón define uma in-tervenção humanitária aceitável como sendo “o uso proporcional e internacional de ameaça ou uso da força militar, por parte de um governo liberal ou aliança, com o propósito de pôr fim à tirania ou à anarquia, sendo bem recebido pelas vítimas” (TESÓN, 2003, p. 94).

Michael Doyle (1995), um dos grandes proponentes da teoria da paz democrá-tica, advoga o intervencionismo nos assuntos internos de estados não liberais como forma de defender e promover a democracia, por meio de uma política que combi-na medidas coercitivas e não coercitivas. Dentre as medidas coativas, destaca a im-portância de expandir a “liberal zone” por meio de uma variedade de instrumentos políticos, econômicos e diplomáticos. Um desses instrumentos é a intervenção, que considera legítima se a maioria da população demonstrar ampla insatisfação com o governo local e se seus direitos estiverem sendo ampla e sistematicamente violados (DOYLE, 1995). Para Brace Russett, as motivações para as intervenções humanitárias estão ligadas a ideais e a interesses na promoção dos valores liberais e da democracia, representando uma visão neokantiana, que correlaciona democracia, interdependên-cia e relações pacíficas. Segundo Russet, tal perspectiva, apesar de ter estado sempre presente no seio da ONU, teria ganhado particular destaque após o fim da Guerra Fria (RUSSETT, 1998, p. 368). A associação entre subdesenvolvimento e conflitos trans-formou-se em ponto de consenso entre diferentes especialistas defensores da paz liberal, tanto na área de desenvolvimento como na área de segurança (DUFFIELD, 2001).

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No caso da intervenção e do reconhecimento da independência do Kosovo, a abordagem liberal teve papel importante na tentativa de justificar e legitimar a atuação dos EUA e da OTAN. No caso da Ossétia do Sul, a recíproca, no caso o não reconhecimento, também pode ser igualmente compreendido à luz do pensamento liberal, uma vez que a independência da Ossétia do Sul representaria um afasta-mento maior daquela região em relação à liberal zone, na qual a Geórgia vinha sendo, pouco a pouco, incluída.

7 cOnStRUIndO UMA nOVA nORMA PARA AS IntERVEnçõES HUMAnItÁ-RIAS?

Martha Finnemore (1996) constata que, com o fim da Guerra Fria, as inter-venções militares destinadas a proteger civis aumentaram consideravelmente e acredita que as teorias realistas, assim como as liberais, não forneçam boas explica-ções para este fenômeno. Assim, na década de 1990, teria começado a surgir uma nova norma, referente às intervenções humanitárias. Ela defende que os padrões de ingerência não podem ser compreendidos fora do contexto das mudanças nor-mativas no qual tem ocorrido. O contexto normativo é importante, uma vez que molda as concepções de interesse.

Nenhuma das abordagens realistas ou liberais provê respostas para a questão: que interesses os estados interventores estão buscando? Em parte, trata-se de um problema de foco teórico. O realismo e a maior parte dos liberais não investigam os interesses. Interesses são tidos como dados nessas abordagens, devendo ser especificados antes que a análise possa começar. (FINNEMORE, 1996, 178).

Para Finnemore (1996), uma abordagem construtivista não nega a importân-cia do poder e dos interesses. Entretanto, defende que a investigação dos interesses requer uma abordagem teórica diferente, com foco nos preceitos internacionais e em como tais regras estruturam os interesses. Como as normas são socialmente construídas, elas evoluem com as mudanças nas interações sociais, acarretando, também, mudanças de interesses.

Para os construtivistas, as fontes de poder vão além das materiais, incluindo aspectos ideacionais. É nesse contexto que a legitimidade ganha maior relevân-cia ou, no caso das intervenções humanitárias, como apontou Nicholas Wheeler (2009, p. 76), existiria um “shaming power of the humanitarian norm” (WHEE-LER, 2006). Nessa linha, os construtivistas acreditam na noção de que os gover-nos podem ser shamed a efetivamente agir para interromper genocídio, assassi-nato em massa e limpeza étnica, por meio da pressão de outros governos, de seus próprios cidadãos ou mesmo da opinião pública mundial (BELLAMY; WHEELER, 2011, p. 522) Para Ian Johnstone, a ação no Kosovo, apesar de amplamente vista

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como ilegal, ocorreu dentro de uma moldura evolucionária e pode ter contribuído para um emergente consenso sobre as intervenções humanitárias (JOHNSTONE, 2005). Wheeler (2001) parece concordar, afirmando que uma nova norma soli-dária teria emergido após a intervenção no Kosovo, tendo a OTAN agido como empreendedor da nova norma.

A adoção do já mencionado conceito de responsabilidade de proteger (R2P) pela ONU, em 2005, representou para os construtivistas um importante marco. Foi a primeira oportunidade na qual a sociedade internacional formalmente declarou que a soberania poderia, algumas vezes, dar lugar a preocupações com direitos humanos. Poucas décadas antes, a maior parte dos juristas e especialistas era to-talmente contrária a ideias de intervenção humanitária, uma vez que violavam o princípio da soberania, no que se refere a não intervenção, além de permitir que as grandes potências pudessem se comportar como “lobos em pele de cordeiro, expressão usada por Michael Barnett (2011, p.162). Assim, para os construtivistas, nos últimos quinze anos teria havido uma crescente aceitação da norma relativa às intervenções humanitárias e o conceito de R2P deve ser entendido como a codifica-ção formal do processo de consolidacodifica-ção dessa norma, iniciado na década de 1990 (BELLAMY; WHEELER, 2009, p. 523).

A interferência no Kosovo foi vista, sob a ótica construtivista, como um im-portante passo na consolidação da norma das intervenções humanitárias, especial-mente em função da alegada legitimidade da ação de proteger os kosovares ter permitido superar as próprias restrições legais decorrentes da não autorização pelo Conselho de Segurança. No caso da Ossétia do Sul, a Rússia, ao decidir pela inter-venção, teria procurado valer-se da mesma construção normativa.

8 intervenções humAnitáriAs cosmopolitAs?

A ideia de cosmopolitismo ou cidadania cosmopolita, surgida na Grécia An-tiga, foi empregada por pensadores iluministas, como Kant, com o objetivo de pro-mover um senso mais forte de obrigações morais que transcendesse as fronteiras dos estados soberanos (LINKLATER, 2007). As abordagens cosmopolitas quanto à comunidade política voltaram a crescer nos últimos anos, especialmente em fun-ção do próprio fenômeno da globalizafun-ção. “Saving strangers”, termo utilizado por Wheeler (2001, p. 68), é visto como um ato que demonstraria como os princípios morais não podem mais ficar restritos às fronteiras de determinada comunidade política, a polis, devendo tornar-se universais, conforme os ideais kantianos, sendo estendidos à cosmopolis. Mesmo assim, permanece um ceticismo em função da própria tenacidade do Estado, dos nacionalismos e da fragilidade dos laços cosmo-politas. Para Mary Kaldor, “este tipo de pensamento nacionalista ou estadocêntrico ainda não foi substituído pelo conceito de uma comunidade humana única” (2007, p. 142).

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Daniele Archibugi (2005) entende que as motivações para a realização de operações militares são sempre misturadas, ou seja, motivações altruístas são com-binadas com interesses políticos e econômicos, sendo que os governos de países democráticos não constituem exceção. Assim, defende que a única forma de redu-zir o lado dos interesses e aumentar o lado do altruísmo é por meio da ampliação no número de envolvidos nas intervenções humanitárias. Quanto maior for a coa-lizão disposta a sobrevir, maior a probabilidade de que a ação militar seja decidida de acordo com os interesses da população a ser salva e não pelos interesses dos governos interventores (FARERet al, 2005).

O uso cosmopolita da força com o propósito de proteção humana seria, no entender de Thomas Weiss, a culminação da tendência normativa, iniciada na dé-cada de 1990, em direção ao conceito de “soberania como responsabilidade.” O sentido não seria de desprezar os princípios de soberania e de não intervenção que sustentam a sociedade internacional, mas adicionar o respeito pelos direitos hu-manos às características da soberania. Desse modo, quando um Estado ou governo não quiser ou for incapaz de proteger a população no interior do seu território, soberania e não intervenção seriam colocados de lado.

Linklater (2007, p. 88) relembra que um dos princípios cosmopolitas é de que “bons cidadãos internacionais” devem prestar assistência às vítimas de cruel-dade institucional. Entretanto, reconhece também o dilema que surge, devido à posição legalista, quanto ao direito dos estados. Para ele, este dilema só poderá ser solucionado quando a comunidade internacional for persuadida a adotar uma nova legalidade no que concerne às guerras humanitárias. Neste aspecto, entende que a intervenção no Kosovo pode tornar-se um catalisador para uma nova era de “cosmopolitan law enforcement”.

Nesta mesma linha, Kaldor (2007) propõe uma base cosmopolita para res-posta aos desafios das guerras e crises intraestatais contemporâneas, na qual o monopólio do uso legítimo e organizado da força seria reconstruído em uma base transnacional, na qual a intervenção humanitária, interpretada como “cosmopoli-tan law enforcement”, deveria ser conduzida por soldados/policiais internacionais. Da mesma forma que, nos conflitos tradicionais, os soldados são preparados para morrer por seus países, nas intervenções cosmopolitas, os soldados/policiais in-ternacionais deverão arriscar suas vidas pela humanidade. Em 2010, James Patti-son, no livro “Humanitarian intervention & the responsibility to protect: who shoud intevene?”, chega a sugerir um formato para a criação de forças cosmopolitas no âmbito da ONU, é o que resume Pattison nas páginas registradas a seguir (2010, p. 229-236). Em suma, os críticos cosmopolitas defendem a necessidade da realização de intervenções humanitárias, uma vez que não se conformam com o funciona-mento das fronteiras como limites da aplicação de conceitos morais e de direitos humanos. Ao mesmo tempo, reconhecem que a condução dessas intervenções de modo unilateral, como as ocorridas no Kosovo e na Ossétia do Sul, pode acarretar

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vícios que só poderão ser superados por meio de intervenções verdadeiramente cosmopolitas, ou seja, com a consolidação de uma sociedade civil global (HEHIR, 2008) e com máxima participação da comunidade internacional.

9 soBerAniA e intervenção: um olhAr pós-estruturAlistA

Em contraste com as propostas cosmopolitas de universalidade, Rob Walker, em “Lines of insecurity”, alerta para os riscos inerentes à tendência de comporta-mento das potencias hegemônicas, que são sempre tentadas a considerar que suas perspectivas particulares sobre as relações de particularidade/universalidade são universais. Assim, a visão anglo-americana de que em algum momento a polis dará lugar a cosmopolis e à lei universal, pode vir a representar, na prática, a prevalência de uma política unilateral e imperial (WALKER, 2006).

Helle Malmvig (2006) sugere que soberania e intervenção têm funcionado como um par binário, existindo uma relação hierárquica entre os dois conceitos, na qual a soberania estaria do lado bom e normal de como deve ser, enquanto a intervenção estaria do lado problemático e patológico, sempre demandando, por-tanto, justificativa. A legitimação da intervenção reproduz essa lógica de maneira paradoxal: em sua justificativa a intervenção é reinstalada como um ato perigoso e anormal, que reafirma a normalidade e a legitimidade da soberania, que, no mes-mo mes-movimento, é violada.

Soberania e intervenção tornam-se, portanto, mutuamente constituídas, por meio de práticas discursivas e performativas, nas quais as intervenções são essen-ciais para redefinir e reafirmar esses conceitos, conforme identificou Cynthia Weber (1992). Ao intervir, a potência hegemônica afirma que a soberania do estado-alvo está fragilizada. Simultaneamente, o objetivo declarado é o de reconstruí-la em no-vas bases, supostamente mais legítimas e duradouras.

Nessa mesma busca incessante por tal justificativa, Walker (2006) sugere que, recentemente, tem havido uma dupla tentativa de priorizar (de forma altamente seletiva) valores humanitários supostamente universais, em relação ao princípio da não intervenção, e de classificação de determinadas pessoas como bárbaros.

Drivers on the highway from polis to cosmopolis may think they know where they are going, and demand that we follow them in the name of an ethical humanity, a humanitarian intervention, an escape from the petty parochialisms of the sovereign state, but it is not a road that will be taken by anyone who has the slightest clue about what it means to put the regulative ambition for a free and equal modern political subject into serious doubt. (WALKER, 2006, p. 75).

Assim, com a lente pós-estruturalista, podemos observar que ao hegemon foi possível construir, por meio de um discurso de autoridade (e poder), a Sérvia como

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um país opressor e perigoso, controlado por um líder “bárbaro”, que “merecia”, por-tanto, ter sua soberania violada, de modo a permitir “salvar” uma população que se encontrava oprimida. A importância de tal ato seria tamanha que justificaria a excep-cionalidade da intervenção, mesmo contrariando o Conselho de Segurança da ONU. 10 IntERVEnçãO HUMAnItÁRIA OU nEOcOlOnIAlISMO? UMA cRítIcA pós-coloniAl

Segundo Neta Crawford (2002, p. 400), os “debates sobre as intervenções humanitárias são, de diversas maneiras, uma continuação das discussões sobre o colonialismo.” Assim, uma breve abordagem, através da lente pós-colonial, pode permitir uma perspectiva bastante interessante das intervenções humanitárias, que poderá dar mais voz às populações dos países-alvo.

Um discurso ambivalente, com a marca do logocentrismo ocidental, tem construído as populações-alvo como “desprotegidas”, necessitando ser “resgata-das”, em oposição binária a governantes e políticas opressoras e perigosas, de modo semelhante ao sugerido por Said (2003) ou Bhabha (1994). Ao mesmo tempo, tais locais são descritos como atrasados, ou mesmo pré-modernos, apesar de algumas vezes, como no caso das duas regiões objeto de estudo, se encontrarem muito pró-ximas das mais modernas ou pós-modernas civilizações europeias.

Conforme aponta Arturo Escobar (1995), nos encontros coloniais e nos dis-cursos de poder das potências desenvolvidas, o sul global é convencido a pensar-se como inferior e subdesenvolvido..Na maior parte das vezes, as populações locais acabam excluídas do processo decisório ou são sub-representadas por lideranças não necessariamente legítimas ou híbridas, uma vez que para serem ouvidas no processo já teriam adquirido características dos próprios colonizadores.9

Assim, as intervenções humanitárias podem, na ótica pós-colonial e numa vi-são mais radical, ser interpretadas como manifestações do “império democrático”, que avança na direção dos estados mais “atrasados” do sul global, criando proteto-rados informais (administração transitória da ONU no Kosovo ou o posicionamento permanente de tropas da Rússia na Ossétia do Sul) e, consequentemente, manten-do algumas hierarquias em estilo colonial.

11 cOnclUSãO

Este artigo procurou discutir como as intervenções humanitárias cresceram em importância na área da segurança internacional nos últimos vinte anos. A partir

9 Aqui é interessante observar, por exemplo, o papel de Ahmed Chalabi, apresentado nos EUA como representante dos interesses do povo iraquiano nos momentos que antecederam a invasão do país, mas que, na realidade, não poderia constituir uma representação autêntica, uma vez que se tratava de empresário que há muito havia emigrado do país e claramente possuía outros interesses.

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de dois episódios ocorridos durante esse período, no Kosovo e na Ossétia do Sul, buscou-se estudar o comportamento dos atores envolvidos, na tentativa de identificar princípios universais ou particulares que poderiam ter norteado tais comportamentos. Para tanto, as intervenções humanitárias foram brevemente analisadas, segundo as perspectivas de seis das principais abordagens teóricas das Relações Internacionais, incluindo desde as visões racionalistas do realismo e do liberalismo, até as críticas pós-estruturalistas e pós-coloniais.

Com base nas abordagens teóricas apresentadas e, principalmente, con-siderando as situações específicas ocorridas no Kosovo e na Ossétia do Sul e o comportamento ambíguo dos diferentes atores envolvidos nos dois episódios, torna-se difícil falar em construção de uma norma emergente para as inter-venções humanitárias, como advogam os construtivistas, ou, mais difícil ainda, considerar a existência de princípios universais, como os críticos cosmopolitas sonham. Na maior parte das vezes e, seguramente, nos dois casos em pauta, tais ingerências acabam sendo ditadas pelos interesses das potências envol-vidas, que construíram seus respectivos discursos de poder de acordo com as conveniências da ocasião.

Esta conclusão aponta para uma, talvez inesperada, convergência entre as posições realistas e pós-estruturalistas. Entretanto, segundo Waever (2002), tal convergência não deveria surpreender, uma vez que pós-estruturalismo não significa antiestruturalismo e o que o pós-estruturalismo teria mais em comum com o realismo do que a maior parte de seus oponentes. Colin Wight (2006, p. 291) também parece concordar, ao apontar que, no nível ontológico, realistas e pós-estruturalistas “compartilham mais entendimentos comuns do que ambas as partes gostariam de admitir.

O comportamento da comunidade internacional nos dois episódios hu-manitários, ocorridos na Líbia e em Darfur, permite assegurar que a tentativa de estabelecer princípios universais para as intervenções humanitárias ainda não passa de um sonho distante, uma utopia. A rapidez com que o Conselho de Segurança autorizou o bombardeio da Líbia, com propósitos alegadamente hu-manitários, mas que em muito extrapolaram a concepção inicial, na realidade, perseguindo a derrubada do regime, contraposta com a incapacidade (ou falta de vontade) para interromper o massacre e socorrer os civis em Darfur bem representam o atual estado de coisas.

Finalmente, a proposta brasileira de responsabilidade ao proteger, apro-veitando o crescente protagonismo do país, pode representar uma importante tentativa de evitar a proliferação descuidada, indiscriminada e, principalmente, política das intervenções humanitárias. Por essas mesmas razões, deverá conti-nuar a enfrentar forte resistência das potências dominantes.

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