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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS UNIDADE ACADÊMICA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO NÍVEL MESTRADO LISANDRO IUSRY ABULATIF

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Academic year: 2019

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UNIDADE ACADÊMICA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

NÍVEL MESTRADO

LISANDRO IUSRY ABULATIF

MODELO DE ENGAJAMENTO INTERSETORIAL PARA O DESENVOLVIMENTO URBANO SUSTENTÁVEL:

Estudo de caso Guaíba

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Lisandro Iusry Abulatif

MODELO DE ENGAJAMENTO INTERSETORIAL PARA O DESENVOLVIMENTO URBANO SUSTENTÁVEL:

Estudo de caso Guaíba

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de mestre em Arquitetura e Urbanismo, pelo Programa de Pós-Gradução em Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. Orientador: Prof. Dr. André de Souza Silva

Coorientadora: Profª. Drª. Izabele Colusso

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Catalogação na Publicação:

Bibliotecário Alessandro Dietrich - CRB 10/2338

A166m Abulatif, Lisandro Iusry

Modelo de engajamento intersetorial para o desenvolvimento urbano sustentável : estudo de caso Guaíba / por Lisandro Iusry Abulatif. – 2018.

194 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (mestrado) — Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, São Leopoldo, RS, 2018.

Orientador: Dr. André de Souza Silva. Coorientadora: Drª. Izabele Colusso.

1. Desenvolvimento urbano sustentável. 2. Parcerias intersetoriais. 3. Planejamento urbano. 4. Gestão urbana. 5. Estratégia de

desenvolvimento sustentável. I. Título.

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LISANDRO IUSRY ABULATIF

MODELO DE ENGAJAMENTO INTERSETORIAL PARA O DESENVOLVIMENTO URBANO SUSTENTÁVEL:

Estudo de caso Guaíba

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em mestre em Arquitetura e Urbanismo, pelo Programa de Pós-Gradução em Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS.

Aprovado em 13 de setembro de 2018

BANCA EXAMINADORA

Profª. Drª. Maria Fernanda de Oliveira – UNISINOS

Prof. Me. Adalberto da Rocha Heck – UNISINOS

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Ao meu maior Amigo, Tutor e melhor Arquiteto e Urbanista, que sempre me indica o caminho.

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Em primeiro lugar agradeço ao meu Deus e Pai – verdadeira razão do meu viver, seu Filho Jesus – meu maior exemplo, e ao Espírito Santo – companheiro de todas as horas. À minha mãe Sonia e minha irmã Lisianne, obrigado pela paciência, amor e compreensão, só Deus poderá recompensa-las à altura.

Ao Prof. André da Silva Souza, meu orientador e à Profa. Izabele Colusso, coorientadora, os quais neste trabalho fizeram contribuições valiosas desde a etapa de projeto até a sua finalização. Também à Profª. Maria Fernanda de Oliveira por todo o seu trabalho de coordenação e organização do curso, sendo um apoio presente nos momentos que necessitamos.

Agradeço ao Prefeito, secretários e técnicos da Prefeitura Municipal de Guaíba que acolheram a pesquisa e a mim, disponibilizando seu tempo e apoio. Em especial à Joana Ferraz e ao Rafael Gaminho que foram grandes parceiros nesta caminhada.

Às bolsistas Bárbara Casagrande e Camila Scopel, do Programa de Iniciação Científica da Unisinos, pela dedicação com que me auxiliaram neste caminho.

Aos amigos e profissionais que contribuíram de forma multidisciplinar para a realização do trabalho ao longo de suas etapas: arquiteta e colega de curso Naiara Pasquale, analista de sistemas Bruno Muniz e ao estatístico e cientista de dados Gabriel Andriotti. A capacidade e voluntariedade de vocês foram além do que eu esperava!

Aos representantes das escolas municipais e igrejas parceiras, pelo empenho e dedicação com os quais trabalham formar pessoas e cidades melhores e mais sustentáveis. À empresa Vida e aos seus técnicos, pelas suas contribuições técnicas e materiais para a realização das atividades em Guaíba.

Aos colegas e professores do Mestrado Profissional em Arquitetura e Urbanismo pelas experiências e inventivos ao longo do curso.

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“Resolver um problema é como agarrar um tigre pela cauda: é você que terá de se adaptar a ele, porque ele não irá querer se adaptar a você. Prepare-se para andar pelos terrenos mais diversos, até conseguir realizar o seu objetivo”

(8)

RESUMO

O presente trabalho trata da criação e implementação de um modelo conceitual de engajamento intersetorial orientado ao desenvolvimento urbano sustentável no município de Guaíba no estado do Rio Grande do Sul. O modelo é denominado Estratégia de Desenvolvimento Sustentável, o qual é composto pelas etapas de formação de equipe multidisciplinar, diagnóstico situacional, proposição e alinhamento de intervenções, monitoramento e avaliação, reconhecimento de desempenho e renovação e expansão de atividades e parcerias. A metodologia de pesquisa-ação foi utilizada para a implementação das etapas, combinada com a abordagem de estudo de caso para o relato da experiência e apresentação de resultados. Os resultados indicaram que a Estratégia de Desenvolvimento Sustentável viabilizou melhorias na articulação entre secretarias do executivo municipal, identificação de dados relevantes para uso no processo de planejamento urbano e estímulo ao alinhamento entre representantes dos setores público, setor privado e sociedade civil na elaboração e execução de iniciativas relacionadas à sustentabilidade urbana. Neste sentido foi possível identificar a viabilidade do modelo proposto, bem como sua possível adaptação e replicação a outros municípios.

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ABSTRACT

This research deals with the creation and implementation of a intersectoral engagement framework focused on sustainable urban development in the municipality of Guaíba in the state of Rio Grande do Sul. The framework is called the Sustainable Development Strategy, which is composed by the steps of multidisciplinary team composition, situational awareness, proposition and alignment of interventions, monitoring and evaluation, general review and expansion and renewal of activities and partnerships. The action-research methodology was used for the implementation of the steps, combined with the case study approach for reporting the experience and presenting its results. The results indicated that the Sustainable Development Strategy enabled improvements in the articulation between municipal executive secretariats, identification of relevant data for use in the urban planning process, and encouragement of alignment among representatives of the public sector, private sector and civil society in the elaboration and execution of initiatives related to urban sustainability. In this sense, it was possible to identify the feasibility of the proposed model, as well as its possible adaptation and replication to other municipalities.

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Figura 1 - Desenvolvimento urbano sustentável: convergência de abordagens ... 32

Figura 2 - Relação entre estratégia deliberada e estratégia emergente ... 40

Figura 3 – Passos para a implementação de projetos urbanos com o DOTS ... 54

Figura 4 - Estratégia de Desenvolvimento Urbano Sustentável – EDS ... 63

Figura 5 - Possível formação de uma equipe EDS ... 64

Figura 6 - Estrutura da concepção de um Programa ... 65

Figura 7 - Itens básicos para criação de um Projeto ... 66

Figura 8 - Funcionamento do SERP ... 68

Figura 9 - Exemplo de critérios de avaliação do SERP ... 68

Figura 10 - Processo de implementação da pesquisa ... 71

Figura 11 - Processo de diagnóstico e priorização de metas ... 73

Figura 12 - Processo de operacionalização dos SERP ... 74

Figura 13 – Composição geral da Equipe de Coordenação da EDS em Guaíba ... 80

Figura 14 – Critérios para seleção inicial de parcerias intersetoriais para o SERP ... 82

Figura 15 – Áreas de habitação irregular em Guaíba - 2017... 86

Figura 16 – Áreas de risco em Guaíba, por tipo de risco – 2017 ... 87

Figura 17 – Regiões com problemas habitacionais em Guaíba - 2010 ... 89

Figura 18 – Densidade demográfica (hab/km2) em Guaíba - 2010 ... 90

Figura 19 – Renda média mensal, em salários mínimos, em Guaíba – 2010 ... 91

Figura 20 – Zoneamento e ocupação do uso do solo em Guaíba, Plano Diretor atual ... 92

Figura 21 – Quadro de usos e regime urbanístico de Guaíba, Plano Diretor atual ... 93

Figura 22 – Compactação das áreas residenciais de Guaíba - 2010 ... 94

Figura 23 – Problemas habitacionais identificados em Guaíba - 2010 ... 94

Figura 24 – Identificação de problemas habitacionais, por local de residência, em Guaíba - 2010 ... 95

Figura 25 – Proposta de atualização do Plano Diretor de Guaíba - 2018 ... 96

Figura 26 – Reunião preparatória para revisão do Plano Diretor ... 97

Figura 27 – Seminário de apresentação do diagnóstico e prognóstico municipal ... 98

Figura 28 – Autoridades presentes na cerimônia de certificação do SERP - ciclo 2017 ... 119

(11)
(12)

LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Definições de estratégia ... 38

Quadro 2 - Síntese das ações em parcerias intersetoriais ... 49

Quadro 3 - Princípios de aplicação do padrão TOD ... 52

Quadro 4 – Totais de ajustes propostos, segundo elemento da diretriz ... 105

Quadro 5 – Critérios de certificação para escolas municipais, 2017 ... 106

Quadro 6 – Critérios de certificação para igrejas, 2017 ... 107

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LISTA DE GRÁFICOS

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LISTA DE ABREVIAÇÕES

APP Área de Preservação Permanente

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento COP21 United Nations Climate Change Conference

DOTS Desenvolvimento Orientado ao Transporte Sustentável EPP Estratégia de Proatividade e Parceria

EDS Estratégia de Desenvolvimento Sustentável

et al e outros

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICES Iniciativa Cidades Emergentes Sustentáveis IDH Índice de Desenvolvimento Humano

LEED Leadership in Energy and Evironmental Design

ODM Objetivos de Desenvolvimento do Milênio ODS Objetivos de Desenvolvimento Sustentável PDM Plano Diretor Municipal

PVT Projeto Vida no Trânsito

SERP Sistema de Engajamento e Resultados Progressivos SIG Sistema de Informações Georreferenciadas

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

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1 INTRODUÇÃO ... 17

1.1 OBJETIVOS ... 22

1.1.1 Objetivo Geral ... 22

1.1.2 Objetivos Específicos ... 22

1.2 JUSTIFICATIVA ... 22

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 25

2.1 DESENVOLVIMENTO URBANO SUSTENTÁVEL ... 25

2.1.1 Crescimento das Cidades ... 26

2.1.2 Sustentabilidade... 27

2.1.3 Desenvolvimento Urbano ... 29

2.1.4 Convergência de Conceitos para Promover Cidades Sustentáveis ... 31

2.2 SISTEMAS COMPLEXOS ADAPTATIVOS ... 33

2.3 ABORDAGEM ESTRATÉGICA NA GESTÃO URBANA ... 37

2.3.1 Gestão Estratégica ... 41

2.3.2 Abordagem Sistêmica e Proatividade ... 44

2.4 PARCERIAS INTERSETORIAIS COLABORATIVAS ... 47

2.5 MODELOS DE PLANEJAMENTO E GESTÃO NO CONTEXTO URBANO .... 51

2.5.1 Desenvolvimento Orientado ao Transporte ... 52

2.5.2 Iniciativa Cidades Emergentes e Sustentáveis ... 56

2.5.3 Estratégia de Proatividade e Parceria ... 59

3 METODOLOGIA ... 62

3.1 O MODELO DA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL .. 62

3.2 PROCESSO DE APLICAÇÃO DA PESQUISA... 70

4 RESULTADOS ... 79

4.1 ETAPAS DE IMPLEMENTAÇÃO DA EDS ... 79

4.1.1 Formação de parcerias ... 80

4.1.2 Diagnóstico e priorização ... 83

4.1.3 Processo de criação e engajamento ... 97

4.1.4 Monitoramento, avaliação e alinhamento ... 108

4.1.5 Revisão geral e reconhecimento ... 116

4.1.6 Renovação e expansão ... 120

(16)

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 128

6 BIBLIOGRAFIA ... 136

APÊNDICE A - INSTRUTIVO DE USO DO SISTEMA SERP ... 142

APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO PÓS-INTERVENÇÃO ... 154

APÊNDICE C – PERCEPÇÃO DE MELHORIAS A PARTIR DO USO DA EDS .... 156

APÊNDICE D – PERCEPÇÃO DE MELHORIAS A PARTIR DO USO DA EDS .... 157

APÊNDICE E – LISTA DE ADESÕES AO SERP, POR INSTITUIÇÃO ... 182

APÊNDICE F – MODELO DE CERTIFICADO INTREGUE ÀS INSTITUIÇÕES PARCEIRAS ... 183

APÊNDICE G – FOLDER: CIDADES SUSTENTÁVEIS E PLANO DIRETOR ... 184

ANEXO A – SÍNTESE DE INDICADORES PROPOSTOS PELA ICES ... 190

ANEXO B – OFÍCIO DE PROPOSIÇÃO DA PESQUISA À PREFEITURA MUNICIPAL DE GUAÍBA/RS ... 193

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho trata da implementação de uma abordagem estratégica orientada à gestão urbana, conceitualmente fundamentada na articulação e engajamento intersetorial de segmentos urbanos, com vistas ao estímulo e alinhamento de práticas de sustentabilidade urbana no município de Guaíba, no estado do Rio Grande do Sul.

Dados do Banco Mundial informam que, no ano de 2017, a população urbana mundial já havia chegado a 54% de toda a população, e a 80% do total da população da região da América Latina e Caribe (THE WORLD BANK, 2018). Com este aumento da urbanização, também aumenta a demanda da utilização dos recursos ambientais para o desenvolvimento da vida das cidades. As cidades consomem 67% da produção mundial de energia, geram 75% dos resíduos, emitem 75% dos gases que poluem o ar, e são responsáveis por significativa parte do uso desordenado da água potável. Tais dados demonstram que a forma de consumo de recursos ambientais é incompatível com o ponto de equilíbrio entre a exploração ambiental e a demanda real de recursos. (INSTITUTE FOR THE ADVANCED STUDY OF SUSTAINABILITY, 2016; LEITE; AWAD, 2012).

Na busca por equilibrar a relação entre crescimento (quantitativo) e desenvolvimento (qualitativo) urbano, a Organização das Nações Unidas através da Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento estabeleceu o conceito do desenvolvimento sustentável. O conceito foi apresentado no relatório Our Common Future, que define sustentabilidade como “satisfazer as necessidades do presente,

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até os dias atuais (TANG; LEE, 2016; WORLD COMMISSION ON ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT, 1987). A mesma instituição propõe três aspectos fundamentais para a sustentabilidade, os quais são: (1) sustentabilidade ambiental, (2) inclusão social e (3) desenvolvimento econômico.

Com tal realidade em vista e com base nas premissas apresentadas anteriormente, percebe-se que o crescimento das populações urbanas e o consequente aumento de demanda de recursos ambientais para o desenvolvimento das cidades, necessitam uma abordagem de operacionalização da sustentabilidade que viabilize condições de vida aceitáveis para as futuras gerações de moradores do ambiente urbano.

Com consciência da necessidade de transformar em realidade os ideais globais para o desenvolvimento sustentável, uma série de iniciativas de nível internacional vêm sendo adotadas. Um exemplo disto é a série de conferências internacionais sobre mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável realizadas ao longo das últimas décadas, algumas delas são, a Rio 92, a Rio+20 (Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável), Third International Conference – Financing for Development, Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável

2015 e a Paris 2015 - Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática – COP21/CMP21.

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sustentável tendo em vista as dimensões ambiental, social e econômica, de forma integrada.

No contexto da proposta dos ODS’s está a recomendação de “pensar globalmente e agir localmente” (PRATHER, 2017) que, em sua concepção, ao mesmo tempo que traz a conscientização sobre desafios globais, também desafia quem recebe a mensagem a atuar a partir do nível no qual se encontra, seja ele internacional, regional, nacional ou local.

Neste ponto, a proposta de “pensar globalmente e agir localmente” se conecta diretamente com a realidade inicialmente apresentada no que diz respeito ao crescimento urbano e sua demanda de recursos ambientais para o desenvolvimento da vida nas cidades. É interessante neste sentido a expressão utilizada por Leite e Awad (2012) de que o século XXI é o século das cidades e o foco da sustentabilidade deve estar nelas. Tal afirmação é compatível com o que é proposto por Cardita e Di Pietro (2010) e Pascale (1999) de que as cidades são ao mesmo tempo possuidoras de problemas e também de suas soluções, ou seja, é no âmbito do município que deve-se buscar as soluções para questões como a sustentabilidade urbana.

Diante desta problemática, a questão que se coloca é “como engajar os setores público, privado e sociedade civil para transformar ideias sobre desenvolvimento sustentável em práticas que gerem resultados mensuráveis?”.

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No contexto da teoria dos sistemas complexos adaptativos propõe-se que quando qualquer sistema auto organizável, inclusive sistemas sociais, é provocado para a realização de tarefas complexas, ele tende a chegar próximo ao limite do caos, assumindo novos formatos e apresentando evoluções progressivas em sua própria condição. Tais evoluções são originadas a partir dos novos padrões gerados na dinâmica do sistema. Estes tendem a ser significativamente variados e frequentemente maiores que a soma das partes (JOHNSON, 2003; PASCALE, 1999).

Portanto, com base nesta abordagem, esta pesquisa se propõe a estimular o engajamento intersetorial em práticas de desenvolvimento urbano sustentável no município de Guaíba, através de um modelo conceitual denominado Estratégia de Desenvolvimento Sustentável (EDS). Esta estratégia possui princípios baseados na teoria dos sistemas complexos adaptativos e de parcerias intersetoriais através dos quais propõe-se a abordar a temática da sustentabilidade urbana.

O tema deste trabalho aborda a questão do desenvolvimento urbano sustentável, na perspectiva do “ODS 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis” proposto pelas Nações Unidas1. Este foco na sustentabilidade das cidades surge da crescente relevância que os sistemas urbanos têm adquirido ao longo do tempo. Neste sentido, a abordagem da sustentabilidade urbana a partir do ODS 11, visa prover uma delimitação conceitual para a abrangência do tema no qual as proposições da pesquisa são realizadas.

(21)

Esta temática está delimitada na criação de um sistema de estímulo ao engajamento intersetorial (setores público, privado e sociedade civil) em práticas de desenvolvimento urbano sustentável em um município de médio porte2. Desta forma, esta pesquisa se propõe a tratar da problemática sobre como engajar, de modo contínuo e progressivo, a população urbana do município de Guaíba (setores público, privado e sociedade civil), em práticas de desenvolvimento urbano sustentável, através da abordagem a segmentos sociodemográficos3 urbanos específicos, também denominados como microculturas (NEULIEP, 2017).

Ainda na seção 1 são apresentados os objetivos e justificativa da pesquisa. Na seção 2 é realizada fundamentação teórica, na qual é abordada a temática do desenvolvimento urbana sustentável como quadro geral no qual os processos propostos na pesquisa são concebidos e executados. Também trata das teorias dos sistemas complexos adaptativos, abordagem estratégica na gestão urbana e das parcerias intersetoriais colaborativas, todas como recursos a serem utilizados para a proposição da EDS. Na seção 3 é descrita a metodologia da pesquisa, tanto no que se refere à descrição das etapas da EDS em si, como da execução do processo de pesquisa como um todo. Na seção 4 são apresentados os resultados obtidos quanto à implementação da pesquisa e avalição da EDS. E na seção 5 são apresentadas as considerações finais, as quais são realizadas a partir das observações realizadas a partir da implementação da pesquisa e análise de seus resultados.

2 Para a escolha de um município deste porte, destaca-se a afirmação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) de que os municípios de médio porte tendem a contar com relevantes índices de crescimento, presença marcante de pobreza e consequente necessidade de qualificação dos seus processos de planejamento e gestão orientados ao desenvolvimento e sustentabilidade das cidades (BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO, 2014).

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1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo Geral

Desenvolver um sistema de colaboração proativa, que estimule o engajamento de segmentos sociodemográficos urbanos, na cooperação para o desenvolvimento urbano sustentável.

1.1.2 Objetivos Específicos

• Descrever o processo metodológico da EDS de modo a operacionalizar sua implementação;

• Implantar a EDS em um município de médio porte, com foco na operacionalização do Sistema de Engajamento e Resultados Progressivos;

• Analisar o processo de implementação da EDS, a partir dos indicadores de processo e desempenho;

• Analisar os resultados e impacto da implementação da EDS de modo a identificar sua viabilidade e efetividade;

1.2 JUSTIFICATIVA

Para o desenvolvimento de uma cultura avançada de sustentabilidade urbana é necessário que haja o comprometimento dos setores público, privado e sociedade civil (ALLEN, YOUNG, et al., 2011). Porém, para que isto ocorra, deve-se levar em

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desenvolvimento cultural de modo a operacionalizar este processo com ênfase nas etapas de engajamento e prática. Este processo tende a produzir resultados objetivos e mensuráveis quanto à evolução de uma cultura avançada de desenvolvimento urbano sustentável.

Neste ponto, deve-se considerar ainda a relevância social do desenvolvimento de uma cultura avançada de sustentabilidade urbana. Dados do Banco Mundial informam que, no ano de 2017, a população urbana mundial já havia chegado a 54% de toda a população, e 80% do total da população da região da América Latina e Caribe (THE WORLD BANK, 2018). À esta realidade está relacionada a qualidade de vida das populações urbanas e, neste sentido, a cultura de desenvolvimento urbano sustentável tende a aumentar as chances de êxito para que as condições de qualidade de vida sejam atendidas de forma contínua para as gerações presentes e futuras.

Em relação ao atendimento das condições para que as populações urbanas desfrutem de níveis mínimos de qualidade de vida, estão relacionados os recursos ambientais demandados para tal finalidade. Neste contexto, uma cultura avançada de desenvolvimento urbano sustentável é significativamente relevante em termos ambientais, já que possui em sua essência a racionalização do uso dos recursos ambientais no que diz respeito à manutenção de sua disponibilidade para a geração presente e para as gerações futuras (UNITED NATIONS, 2015).

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prosperidade econômica é um dos eixos principais dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 das Nações Unidas (UNITED NATIONS, 2015) e um dos grupos de indicadores de desenvolvimento sustentável utilizado pela Organização Internacional de Padronização (INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION, 2014).

(25)

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 DESENVOLVIMENTO URBANO SUSTENTÁVEL

O surgimento das aglomerações humanas, a formação das cidades e sua evolução, são fases de um grande processo da humanidade denominado de urbanização. Este processo, em especial nos últimos dois séculos, contribuiu para o surgimento (ou no mínimo, aumento) de um salto significativo em termos de consumo de recursos ambientais para a manutenção e avanço da vida humana nas cidades (LEITE; AWAD, 2012).

Neste ponto, pode-se considerar o entendimento da cidade como um sistema composto por pessoas e ambiente, que pode ser descrito como “uma rede interativa de representações internas (cognitivas) do ambiente externo, e representações externas (materiais) de conceitos, categorias e imagens internamente representadas” (PORTUGALI, 1999). Entretanto, deve-se ter em conta que a cidade como rede interativa, está contida no ambiente físico e relaciona-se com este, tanto para seu estabelecimento, como para seu desenvolvimento a partir do uso dos recursos disponíveis.

Uma concepção complementar da cidade é este sistema como o ambiente de inter-relações no qual são realizadas trocas e interações em termos de negócios, sociais e culturais. Sendo que esta dinâmica se dá de modo a atender as necessidades presentes e futuras de seus habitantes (se não plenamente, da melhor forma possível) para que estes avancem em direção aos seus propósitos individuais e coletivos (LEITE; AWAD, 2012).

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primeiro é a ideia de crescimento urbano. As cidades crescem progressivamente ao passar dos anos e consequentemente demandam mais recursos para sua manutenção. O segundo elemento é a noção de sustentabilidade, aplicada ao contexto urbano. Por fim, o terceiro elemento é a abordagem de desenvolvimento que, pensado no contexto urbano, sugere a possibilidade da busca da criação de sinergia entre os conceitos de crescimento e sustentabilidade.

2.1.1 Crescimento das Cidades

O aumento de população e elevação dos índices de atividade econômica, via de regra, são os meios mais utilizados para a avaliação do que se denomina crescimento de uma cidade (MATA et al., 2006). Esta afirmação como ponto de

partida, corrobora com Martine e McGranahan (2010) que reforçam o uso de informações demográficas e econômicas para representar o crescimento das cidades, embora adicionem ainda a variável da extensão do uso territorial. O que é corroborado por trabalhos como o de Silva (2010) ao apresentar a influência do tecido urbano no desenvolvimento da vida das cidades.

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negativos, gerado por este processo sobre a população, atividade econômica e território (LEITE; AWAD, 2012; TANG; LEE, 2016).

Tradicionalmente, a compreensão da dinâmica apresentada anteriormente sugere que quando o crescimento urbano ocorre, há também uma tendência de aumento do uso dos recursos ambientais com vistas a suprir os processos de urbanização com os elementos necessários para tal fim (O’SULIVAN, 2011). É a análise destes processos de crescimento e suas implicações, que pode viabilizar diagnósticos urbanos apropriados para subsidiar os processos de planejamento urbano que estimulem a sustentabilidade das cidades.

2.1.2 Sustentabilidade

A noção de sustentabilidade já é conhecida desde o Século XVIII quando se demonstrava preocupação sobre como o inexorável crescimento da população da Britânia poderia ser sustentado por uma porção limitada de terra. Já no ano de 1972 começam a ganhar destaque as considerações sobre a sustentabilidade da civilização industrial como um todo, já que os recursos ambientais utilizados pela economia moderna eram finitos (PEZZEY; TOMAN, 2002).

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setores público, privado4 e da sociedade civil5, os quais atuam de modos que vão desde individual até parcerias internacionais (SOFESKA, 2016).

Para propósito deste trabalho, dentre tantas iniciativas, destaca-se a produção do relatório Our Common Future pela Comissão Mundial de Ambiente e

Desenvolvimento das Nações Unidas (UNITED NATIONS, 1987). Neste relatório, ainda considerado atual e documento de referência global quanto às definições centrais que propõe (BENTON-SHORT; CSEH, 2015; MITYAGIN; TIKHONOVA; REPKIN, 2017; ZEGRAS; PLANNING, 2005), destacam-se dois pontos fundamentais quanto à questão da sustentabilidade, os quais são o seu conceito e a condição de entendimento na qual a sustentabilidade é operacionalizada.

O relatório caracteriza a sustentabilidade como “satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a habilidade das futuras gerações de satisfazerem as suas próprias necessidades” (UNITED NATIONS, 1987). E complementando esta caracterização, o relatório segue além, propondo a base de entendimento na qual a questão da sustentabilidade deve ser considerada não como um estado fixo de harmonia, mas sim um processo de mudança. Esta afirmação está alinhada ao que propõe Senge (2016) quando diz que ao invés de considerar o ser de um estado estático, pessoas devem buscar ser contínuos praticantes das disciplinas nas quais buscam aprimoramento.

Como evolução destas ideias, e a partir de todo o trabalho que vem sendo desenvolvido em relação à sustentabilidade ao longo do tempo, foram consolidados três aspectos fundamentais da sustentabilidade, que são (i) social, (ii) econômico e (iii) ambiental (KUHLMAN; FARRINGTON, 2010). Complementarmente à

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caracterização de sustentabilidade já apresentada e seus aspectos aqui apresentados, surge ainda um desdobramento relevante para o entendimento da sustentabilidade que é proposto por Ayres, Bergh e Gowdy (2001) e sumarizado por Kuhlman e Farrington (2010) da seguinte forma:

• As próximas gerações merecem herdar uma reserva de riqueza, que envolve ativos produzidos pelo homem e ativos ambientais, não inferior ao que foi herdado pela geração anterior;

• As próximas gerações merecem herdar um estoque de ativos ambientais não inferior ao estoque herdado pela geração anterior;

O ponto de equilíbrio entre tais pontos de vista é complexo - uma vez que possui clara ênfase na questão ambiental - e influenciado por inúmeros fatores como decisões políticas, econômicas, sociais, etc. E não é viável a emissão de juízo de valor definitivo e único para todos os casos. Neste ponto, deve-se ter em conta que o que é melhor para uma região em um dado momento no tempo, pode não ser o melhor para outra região no mesmo período, e que estas condições são passíveis de alteração ao longo do tempo.

E com base nesta discussão sobre sustentabilidade é que esta pesquisa propõe-se abordar a ideia de desenvolvimento urbano, de modo que a questão da sustentabilidade das cidades passe a ser inserida em todos os processos de planejamento e gestão urbana.

2.1.3 Desenvolvimento Urbano

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esta consideração, um ponto de partida útil é a conceituação do termo “desenvolvimento”, que pode ser definido como “quando alguém ou algo cresce ou muda e torna-se mais avançado” (CARTER; MCCARTHY, 2006, tradução nossa). Desta forma, pode-se considerar a ideia de melhoria de condições gerais da dinâmica urbana, incluindo as perspectivas social, econômica, territorial, e ambiental, entre outras (LEITE; AWAD, 2012; TANG; LEE, 2016).

Neste ponto da discussão, cabe destacar os avanços que surgem a partir da migração de conceitos: do crescimento para o desenvolvimento urbano. Este último, mesmo possuindo amplas possibilidades de interpretação, já apresenta em si uma compreensão mais ampla da existência da cidade no tempo. Isto se dá porque, além de considerar as alterações demográficas e de atividade econômica, este conceito vai além, contextualizando, em maior ou menor grau, estes dois temas na complexidade do ambiente urbano. Porém, cabe salientar que ainda não garante a presença da temática da sustentabilidade de forma contínua em sua concepção. Entretanto, o que se percebe é que nos últimos anos as temáticas da preservação ambiental e da sustentabilidade são cada vez mais presentes nas conceituações de desenvolvimento urbano. Trabalhos como os de Tang e Lee (2016), Sofeska (2016), Ministério das Cidades no Brasil (BRASIL, 2004), do Banco Mundial (THE WORLD BANK, 2017) e do Centro para Cidades Sustentáveis do World Resources Institute (SILVA; DELLESKY, 2016) entre tantos que possuem reconhecimento regional e internacional, confirmam esta tendência.

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exemplos o caso da São Francisco Mission Bay – um território degradado que foi

requalificado, tornando-se em referência global em possibilidades de iniciativas para o desenvolvimento urbano sustentável.

A vinculação dos termos desenvolvimento urbano e sustentabilidade é cada vez mais relevante e sua utilização intencional pode ser considerada estratégica no sentido de estimular a internalização progressiva por parte de todos os players do

ambiente urbano (TANG; LEE, 2016).

Mundialmente, já há o reconhecimento da importância da temática do desenvolvimento urbano sustentável como linha de ação prioritária para o desenvolvimento humano sustentável (UNITED NATIONS, 2015). A Organização das Nações Unidas (2015) apresenta a temática em um dos ODS’s, que é denominado “cidades e comunidades sustentáveis”. Este é caracterizado em termos gerais como “fazer as cidades e assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis”.

Cabe salientar que, embora todos os ODS’s tenham algum nível de relação com a temática urbana, neste trabalho é dada ênfase específica à sustentabilidade urbana no ODS 11, o qual será detalhado a seguir.

2.1.4 Convergência de Conceitos para Promover Cidades Sustentáveis

(32)

Figura 1 - Desenvolvimento urbano sustentável: convergência de abordagens

Fonte: Adaptado de Tang e Lee (TANG; LEE, 2016)

A partir do que sugerem os autores, cabe adicionar que não é apenas uma dinâmica de interação aleatória, mas que é fundamentalmente através da convergência destas temáticas, em um mesmo sentido, que o desenvolvimento urbano sustentável pode ser operacionalizado (UNITED NATIONS, 1987).

A proposta anteriormente abordada foi recentemente consolidada pelas Nações Unidas como um dos ODS’s da agenda 2030 – o ODS 11: Cidades e Comunidades Sustentáveis (UNITED NATIONS, 2015). Para este objetivo, foram estabelecidas as seguintes metas até 2030:

• Garantir o acesso de todos a habitação segura, adequada e a preço acessível, e aos serviços básicos;

• Proporcionar o acesso a sistemas de transporte seguros, acessíveis, sustentáveis e a preço acessível para todos;

(33)

• Fortalecer esforços para proteger e salvaguardar o patrimônio cultural e natural;

• Reduzir significativamente o número de mortes e o número de pessoas afetadas por catástrofes;

• Reduzir o impacto ambiental negativo per capita das cidades;

• Proporcionar o acesso universal a espaços públicos seguros, inclusivos, acessíveis e verdes.

A partir das metas apresentadas, é possível perceber a atenção internacional dada à relevância do desenvolvimento urbano sustentável. Entretanto, identifica-se o quão amplas são as temáticas contidas nas metas e o elevado nível de inter-relações entre elas. Isto constitui um grande desafio para gestores urbanos de todo o mundo, os quais têm o desafio de planejar e administrar sistemas urbanos tão complexos como os que atualmente se apresentam (ANDRIANI; PASSIANTE, 2004; ROO; HILLIER; WEZEMAEL, 2012; UNITED NATIONS, 2015).

2.2 SISTEMAS COMPLEXOS ADAPTATIVOS

(34)

de sua natureza sistêmica, a qual continuamente se adapta no tempo a todas as influências e interações que recebe ou disponibiliza (PORTUGALI, 1999; SENGE, 2016).

O termo “sistema” tem sua origem no termo grego σύστηµα (systēma), que traz a ideia de um conjunto de entidades, reais ou abstratas, que interagem entre si, sendo ou não interdependentes, formando um todo integrado (BAIANU, 2011). Já uma conceituação da concepção corrente de sistema pode ser apresentada como um conjunto de partes, que operam como um todo, entre as quais suas interações viabilizam o desempenho de outras partes produzindo respostas características (MCGREEVY, 2017; ROO; HILLIER; WEZEMAEL, 2012).

Atualmente, os sistemas podem ser considerados em quatro classes distintas. Os sistemas Classe I são os considerados sistemas fechados, que representariam uma dada realidade fechada e sobre a qual existem todas as informações disponíveis sobre seus elementos, fatores e suas interações. Os sistemas Classe II são denominados como “mecanismos de feedback”, através dos quais sistemas

semiabertos se retroalimentam e permitem ajustes, correções e eventuais melhorias. Já nos sistemas Classe III, a interação entre suas partes se dá de modo formal e informal, é dependente do contexto e pode variar no tempo (ROO; HILLIER; WEZEMAEL, 2012).

(35)

às capacidades de auto-organização e evolução, com destaque para a imprevisibilidade de sua forma (PASCALE, 1999).

Como possíveis exemplos de sistemas complexos adaptativos, podem ser citados o ecossistema, o mercado de ações, colônias de formigas, o cérebro humano, organizações públicas ou privadas, associações e qualquer outro tipo de associação humana em termos coletivos, inclusive cidades (BAIANU, 2011; BLACKBURN et al.,

1991; JOHNSON, 2003).

A partir da visualização das cidades como sistemas complexos adaptativos, um ponto importante a destacar é que os cientistas da complexidade possuem seu foco no comportamento autônomo, de modo a deixar de lado a ideia de influenciar os sistemas complexos adaptativos, tendo sua atenção naqueles que são influenciados. E é justamente neste ponto que se percebe a relevância da contribuição das ciências de planejamento e gestão como capazes de gerar estratégias para viabilizar a contribuição institucional para a vida das cidades (ROO; HILLIER; WEZEMAEL, 2012). Neste contexto está inserida a proposição de meios de estímulo a organizações/instituições passem a contribuir, como elementos dos sistemas urbanos, com vistas ao desenvolvimento sustentável das cidades.

Ao considerar os sistemas complexos adaptativos e sua possível relação com a abordagem estratégica, Pascale (1999) ressalta quatro pontos fundamentais desta classe de sistemas:

• Tendem a entrar em processo de morte quando em condição de equilíbrio;

• Apresentam a capacidade de auto-organização e complexidade emergente;

(36)

• São caracterizados por uma fraca relação de causa-e-efeito, não sendo possível controla-los, somente “estimulá-los”.

Como exemplo dos pontos listados acima, é possível perceber o potencial da utilização da abordagem dos sistemas complexos adaptativos para “estimular” elementos de um sistema complexo como as cidades. Neste sentido, ao invés de “controlar” a cidade, é possível aproveitar melhor a situação de afastamento de condições de um considerado equilíbrio, como por exemplo, os atuais desafios ambientais enfrentados no contexto urbano. Isto pode estimular os habitantes de uma cidade a encontrarem novas formas de organização e práticas de vida, tanto para a cidade como um todo, como também a partir de segmentos urbanos sociodemográficos, como por exemplo, por regiões da cidade, etnias ou faixas etárias, organizados de forma espontânea (JOHNSON, 2003).

Uma intervenção relevante no sistema viário de uma cidade, como a remoção de uma rodovia elevada no coração de Seoul para a revitalização de um rio e priorização de pedestres (SUZUKI; CERVERO; IUCHI, 2013), pode levar o sistema viário local a uma situação de “quase caos” enquanto este sistema busca se reorganizar. Entretanto, percebe-se que mesmo com diretrizes de reorganização do tráfego, o sistema tenderá a criar novas rotas alternativas para se readaptar à sua nova realidade, acumulando novo aprendizado para o sistema.

(37)

2.3 ABORDAGEM ESTRATÉGICA NA GESTÃO URBANA

Nas últimas décadas, tem sido cada vez mais recorrente o uso da expressão “estratégico” associado a várias atividades da sociedade em seus setores público, privado e sociedade civil (AFFOLDERBACH; SCHULZ, 2015; COSTA, 2007; MELLAHI; FRYNAS, 2016; NUTT; BACKOFF, 1993). Os autores demonstram que a abordagem estratégica aparece associada a diversas atividades, como por exemplo, planejamento, execução de atividades, gestão e aquisição de conhecimento. No mesmo sentido, autores como Leite (2012), Gehl (2015) e Suziki, Cervero e Iuchi (2013) fazem uso de abordagens consideradas estratégicas para suas proposições relacionadas ao planejamento e gestão de cidades.

O termo “estratégia” em seu sentido geral tem sua origem na palavra grega

strategos e pode ser traduzido como “plano para vitória através do uso efetivo de

recursos” (MAINARDES; FERREIRA; TONTINI, 2011; MINTZBERG, 1987b). Segundo os autores, há referências ao uso do termo que datam do ano 450 a.C. e neste caso já sugerindo também a sua vinculação a habilidades gerenciais. Porém, foi após a Segunda Guerra Mundial que o termo passou a ser utilizado com mais ênfase no ambiente organizacional devido ao aumento da complexidade das organizações e da aceleração do ritmo de mudanças no ambiente no qual estas operavam, porém foi a partir da década de 1980 que a questão estratégica teve maior desenvolvimento no ambiente organizacional (BRACKER, 1980; MINTZBERG, 1987a).

(38)

definições sobre estratégia foram propostas nas últimas décadas, no Quadro 1 são apresentadas algumas entre as diversas existentes:

Quadro 1- Definições de estratégia

Descrição Conceito

Drucker (1954) “Estratégia é a análise de situação atual e de mudanças se necessárias. Incorpora-se a esta análise os recursos disponíveis e os que precisam ser adquiridos.”

Mintzberg (1967) “Estratégia é a soma das decisões tomadas por uma organização em todos os aspectos...sendo que a estratégia evolui de acordo com o processo de

aprendizado do gestor.” Paine e Naumes

(1975)

Estratégias são macro ações ou padrões de ações para o atingimento dos objetivos da organização.

Mintzberg e McHugh (1985)

“Estratégia é um padrão em uma corrente de ações ou decisões. Desconsidera possibilidades de diferentes estratégias para condições ambientais diversas.” Wright, Kroll e

Parnell (1997)

“Estratégia é o conjunto de planos da alta administração para alcançar resultados consistentes com a missão e os objetivos gerais da organização.” Mintzberg,

Ahlstrand e Lampel (1998)

Estratégia é força mediadora entre a organização e o seu meio envolvente, centrando-se nas decisões e ações que surgem naturalmente. A formação da estratégia não se limita aos processos intencionais, mas pode ocorrer como um padrão de ações formalizadas ou não.

Fonte: Adaptado deMainardes, Ferreira e Tontini (2011)

Percebe-se que as definições apresentadas contém termos recorrentes como “decisão” e “ações”, o que corrobora com a noção de um processo de visualização do quadro geral de uma dada situação, com vistas à tomada de decisões e execução de ações que possibilitem que propósitos sejam realizados.

(39)

Um equívoco que deve ser evitado é considerar “estratégia” como uma abordagem determinista e mecanicista que em sua concepção reduz liberdade e escolhas, e eventualmente é considerada com uma obra estática no tempo e espaço (MAINARDES; FERREIRA; TONTINI, 2011). Estratégia está muito mais relacionada à consideração “macro” do ambiente (físico e temporal) no qual uma organização ou cidade está inserida, e sua inter-relação com este ambiente (uma região metropolitana, por exemplo) na busca de realizar seu propósito ao longo do tempo (BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO, 2014; COSTA, 2007). Segundo Mintzberg (1987b), a abordagem estratégica pode dizer respeito a uma ampla variedade de assuntos, como produtos e processos, clientes e cidadãos, responsabilidade social e interesse próprio, gestão e design. Neste contexto, o autor propõe que “ser estratégico” depende de cada situação específica, já que um assunto pode ser considerado estratégico para uma organização ou comunidade em um determinado momento e deixar de ser em um momento seguinte; ou pode ser estratégico para pessoas que atuam em um determinado segmento e não ser para pessoas que atuam em um segmento distinto, porém de uma mesma organização ou comunidade.

A abordagem estratégica é defendida por Quinhoes (2013) como uma forma de ação que pode melhorar as relações entre territórios próximos, estimular a criação de sinergia entre organizações governamentais, o setor privado e a sociedade civil em direção ao desenvolvimento das cidades.

(40)

(MINTZBERG, 1987b). A Figura 2 apresenta uma síntese da dinâmica da abordagem estratégica, desde sua concepção ou emergência até sua realização.

Figura 2 - Relação entre estratégia deliberada e estratégia emergente

Fonte: Adaptado de Mintzberg (1987b)

(41)

que passam a existir (BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO, 2014).

2.3.1 Gestão Estratégica

A gestão estratégica pode ser conceituada como um processo sistemático, planejado, executado, contínuo e acompanhado pelos gestores com participação e comprometimento todos os integrantes de uma organização ou comunidade (COSTA, 2007; POISTER; PITTS; EDWARDS, 2010).

Quanto à finalidade da gestão estratégica, esta pode ser descrita como uma atividade que visa:

Assegurar o crescimento, a continuidade e a sobrevivência da instituição por meio da adaptação contínua de sua estratégia, de sua capacitação e de sua estrutura, possibilitando-lhe enfrentar as mudanças observadas ou previsíveis no seu ambiente externo e interno, antecipando-se a elas (COSTA, 2007).

(42)

Para a operacionalização da gestão estratégica, existem ferramentas relevantes para que seja possível lançar os alicerces estratégicos de uma dada organização ou comunidade. Uma destas ferramentas é a abordagem de desenvolvimento e definição de propósito, que tem a ver com o estabelecimento da visão, missão, princípios e valores, e monitoramento (COSTA, 2007). O autor defende que a concepção e estabelecimento destes elementos devem estar alinhados à realidade do ambiente externo no qual a organização ou comunidade está envolvida (como por exemplo, legislação, cenário político-econômico, cidades vizinhas, etc.), e também à capacidade de ação, que envolve variáveis como capacidade de gestão, população local, capacidade financeira, entre outros.

O conceito de visão pode ser estabelecido como “[...] um modelo mental de um estado ou situação altamente desejável, de uma realidade futura possível [...]” (COSTA, 2007). Segundo o autor, a visão deve servir como um alicerce do propósito e uma impulsionadora das pessoas em direção a ele. De modo semelhante, Senge (SENGE, 2016) defende que o estabelecimento de visão para o coletivo deve estimular a visão pessoal daqueles que fazem parte deste coletivo, e deve ser desafiadora, no sentido de se apresentar como uma causa ou condição a ser atingida que é maior do que as pessoas envolvidas, como por exemplo, a ideia de planejar uma “cidade para pessoas”. Neste ideal se objetiva estimular que o planejamento e produção dos espaços urbanos orientados à escala humana, tornem progressivamente uma dada cidade cada vez mais aprazível aos seus habitantes (GEHL; SVARE, 2018).

(43)

que consequentemente pode estimular a prática de novas atitudes para a realização da visão, inclusive o engajamento social orientado à qualificação urbana.

Já o conceito de missão busca responder qual a razão da existência ou para que serve uma dada organização ou comunidade, ou ainda qual o papel que estas exercem em uma região (COSTA, 2007). A ideia de missão pode ser útil às várias atividades da sociedade nos setores público, privado e da sociedade civil, quanto ao desenvolvimento urbano, pois permite concentrar esforços em áreas ou atividades chave para a realização dos propósitos desejados. Entretanto, é necessário cuidado para que a importância da estipulação da missão não seja superestimada, pois sua relevância e potencial não está no uso de palavras arrojadas, mas sim na conexão que sua ideia principal tem com as crenças e propósitos das pessoas envolvidas no contexto da missão estabelecida (GOLDSMITH, 1997).

O estabelecimento de princípios diz respeito aos temas e posicionamentos a respeito dos quais não se está disposto a mudar e geralmente estão relacionados às crenças básicas de uma organização ou comunidade (COSTA, 2007). Um exemplo de princípios pode ser visto na cidade de Bogotá D.C., capital da Colômbia, que durante parte de seu processo de transformação urbana entre as décadas de 1990 e 2000, estabeleceu a tolerância (relacionada à redução da violência) e a rejeição à corrupção no âmbito da administração pública como princípios que eram defendidos e respeitados inclusive pelos próprios prefeitos (MARTIN; CEBALLOS, 2003).

(44)

Neste sentido, a gestão estratégica se apresenta como uma ferramenta relevante para a gestão urbana por se caracterizar como um processo dinâmico que, mesmo tendo suas bases conceituais muito sólidas, possui uma arquitetura conceitual flexível o suficiente para lidar com as variáveis do cenário urbano (COSTA, 2007; JOHNSON, 2003; MINTZBERG, 1987b). Pode assim, contribuir para direcionar uma dada organização ou comunidade para a realização de seus objetivos e propósitos almejados, ao mesmo tempo em que se adapta às mudanças de contexto e de inter-relações (ANDRIANI; PASSIANTE, 2004; SENGE, 2016; THE WORLD BANK, 2013).

2.3.2 Abordagem Sistêmica e Proatividade

A abordagem sistêmica é uma ferramenta fundamental na gestão estratégia, pois segundo Senge (2016), faz com que esta não seja considerada como uma ação linear de relação causa-efeito, na qual quem faz a gestão tende a se considerar como o centro da atividade. O autor defende que o gestor, assim como todos os demais participantes de uma comunidade, é parte de um processo de retroalimentação, no qual estão continuamente influenciando e sendo influenciados pela realidade. Perspectiva que corrobora com a concepção de sistemas complexos adaptativos (PASCALE, 1999).

(45)

Ainda segundo Senge (2016), abordagem sistêmica tende a contribuir positivamente para o monitoramento na gestão estratégica, pois auxilia planejadores e gestores urbanos a perceber seus planos e deliberações não como uma abordagem processual linear de início, meio e fim, mas como parte de um sistema cíclico que se retroalimenta, o qual é apresentado por Gehl como “um processo de autoalimentação, autorreforço. Algo acontece porque algo acontece” (2015, p. 64). Neste sentido, monitoramento pode ser caracterizado como a avaliação de desempenho e realização de ajustes com base na experiência adquirida (seja através de fatos já ocorridos ou a partir de informações que permitam antecipar potenciais acontecimentos futuros) e condições de mudanças existentes (GOLDSMITH, 1997).

Costa (COSTA, 2007) propõe que sejam definidos temas estratégicos (assuntos ou eventos que possuem impacto significativo, positivo ou negativo, sobre uma comunidade) para que sejam acompanhados continuamente pelos gestores e demais envolvidos no processo ao longo de ciclos temporais. Deste modo, segundo o autor, haverá melhores condições, para eventuais correções e melhorias de modo a direcionar progressivamente uma comunidade na direção de seu ideal de futuro desejado.

Neste sentido, percebe-se que o desenvolvimento urbano sustentável pode ser compreendido como um processo contínuo e de aprendizado cumulativo e permanente (SENGE, 2016; UNITED NATIONS, 1987). Este processo de aprendizado pode ser considerado sob duas perspectivas distintas, a reativa e a proativa.

(46)

sobre tais eventos (CARDITA; SHIMMIN, 1999). Um exemplo pode ser dado através de uma situação na qual para uma dada cidade começam a ocorrer muitas ocupações irregulares junto a uma zona de preservação ambiental, e a partir desta realidade o governo local toma alguma medida para remover os ocupantes de tal região.

Já na perspectiva proativa, embora não se descarte o aprendizado com eventos passados, o foco está na preparação para eventos que podem ocorrer. O que, com base no exemplo anterior, caracterizaria uma situação na qual o governo local de uma cidade, ao reconhecer a relevância de uma área de preservação ambiental e o risco de possíveis invasões, procura estabelecer ações de prevenção de ocupações da área em questão. Neste caso, mesmo o monitoramento é realizado de forma preventiva indicando inclusive a possibilidade de problemas ambientais futuros (CARDITA; SHIMMIN, 1999).

Esta abordagem adotada pelos autores acima demonstra que, no contexto da gestão estratégica, a noção de visão como um “estado futuro desejado”, como por exemplo, o ideal de cidade sustentável, deve ser mesclada com o princípio de prática constante evolutiva. Em um caso como este, uma dada comunidade, ao invés de direcionar seu foco para atingir uma condição futura, concentrará sua ênfase em se tornar um praticante em constante progresso do tema da sustentabilidade urbana em todas as suas iniciativas de desenvolvimento da cidade (CARDITA; PIETRO, 2010; PASCALE, 1999; SENGE, 2016).

(47)

comunidades ou organizações evoluam da condição de “bons soldados” para condição de protagonistas de processos colaborativos de desenvolvimento contínuo no território urbano.

2.4 PARCERIAS INTERSETORIAIS COLABORATIVAS

Segundo Parmigiani e Santos (2011), parcerias intersetoriais podem ser definidas como parcerias nas quais os setores público, privado e sociedade civil “se unem para enfrentar uma questão social como saúde, desenvolvimento econômico, ou sustentabilidade ambiental”. Estas parcerias podem variar significativamente em termos de escopo, tempo de duração e quantidade de parceiros envolvidos; e, em razão desta possibilidade de aumento de complexidade, os autores propõem que é possível ainda que haja algum parceiro adicional que atue como organizador das parcerias realizadas.

Atualmente, há uma série de benefícios reconhecidos como frutos das parcerias intersetoriais para as comunidades nas quais estas parcerias ocorrem. Existem parcerias que são estabelecidas com o propósito de troca de conhecimentos e experiências, para viabilização de investimentos financeiros no desenvolvimento urbano, tratamento de problemas relevantes específicos, engajamento em causas relevantes, entre outros (ALLEN, 2011; STEPHAN et al., 2016; URBAN LAND

INSTITUTE, 2013).

(48)

agilidade e flexibilidade do setor privado, e defesa de valores comunitários feita pela sociedade civil) que contribuem positivamente para que iniciativas de desenvolvimento sustentável tenham impacto positivo e duradouro.

Deve-se ter em conta também que estes três setores da sociedade, ao mesmo tempo em que podem estabelecer parcerias promissoras em direção ao desenvolvimento urbano, estão também competindo no território da cidade no que diz respeito ao uso dos recursos materiais, humanos e ambientais (KAISER; GODSCHALK; CHAPIN, 1995). Segundo os autores, os setores público, privado e a sociedade civil em todas as suas formas de representação atuarão constantemente em busca de objetivos e desejos dos grupos que representam, entretanto, nem sempre estes objetivos serão necessariamente os mais adequados ao ambiente urbano como um todo.

(49)

Quadro 2 - Síntese das ações em parcerias intersetoriais

Sociedade Civil Setor Público Setor Privado

Foco primário Sistemas sociais Sistemas políticos econômicos Sistemas Unidade de controle Membros Votantes e oficiais Proprietários

Forma primária de

poder Tradições, valores

Leis, forças de segurança, multas,

gastos públicos Dinheiros e produtos Objetivos primários Mudança social Ordem social Criação de riqueza Forma de avaliação

e reconhecimento Justiça, voz Legalidade, eleições

Lucratividade e responsabilidade

social Forma de

organização Não lucrativa Governamental Lucrativa Base tradicional para

relacionamentos Valores Regras e prestação de serviços Transações Temporalidade de

operação

Necessidades urgentes e sustentabilidade de

longo prazo

Eleições e ciclos orçamentários

Relatórios de lucratividade e ciclos

contábeis

Fonte: Adaptado de Allen (ALLEN, 2011)

Segundo Cardita e Di Pietro (2010), é fundamental levar em conta as peculiaridades de potenciais parceiros de cada um dos setores de uma comunidade, pois estes tendem a fornecer percepções valiosas quanto à identificação de dificuldades e no planejamento de ações. Os autores defendem que, quando alinhados, os parceiros em conjunto trazem energia, habilidade e conhecimentos que podem somar positivamente para a realização de ações no contexto do desenvolvimento urbano sustentável. Isto corrobora com a afirmação de Parmigianni e Rivera-Santos (2011) de que parcerias tendem a potencializar o alinhamento de iniciativas e recursos, maior efetividade de investimentos realizados e compartilhamento de conhecimentos entre organizações que se conectam para propósitos específicos.

Neste contexto, é possível que haja uma ampla variedade de formas de parcerias intersetoriais (URBAN LAND INSTITUTE, 2013). Com base nesta realidade, Allen (2011) sintetiza estas possibilidades em três “grandes grupos” de tipos de parcerias, que são:

(50)

- Parcerias estratégicas: quando organizações trabalham juntas ao longo do tempo, com alinhamento suficiente de objetivos e propósitos para gerar impacto duradouro quanto a algum tema específico;

- Alianças: quando organizações ou grupos ou ainda redes de grupos trabalham juntos na direção de um propósito específico, mesmo que vocações organizacionais e propósitos de longo prazo sejam distintos entre si.

É possível que uma dada parceria seja identificada com mais de um dos tipos apresentados acima; por isso, é necessário que haja flexibilidade e respeitos às realidades de cada comunidade à qual pertencem os envolvidos (ALLEN, 2011). Com base nesta ampla possibilidade de formatos de parcerias, Parmigiani e Rivera-Santos (2011) identificam ainda a possibilidade da organização de parceria intersetorial em formato de rede, na qual há uma estrutura de “muitos-para-muitos” e que oferece para os parceiros uma série de recursos como compartilhamento de experiências, estímulo à inovação já que estas tendem a responder positivamente em cenários de mudança. Um exemplo desta modalidade de parceria é a rede de cidades C40, composta por aproximadamente cem das maiores cidades do mundo com o objetivo de colaboração mútua em ações referentes ao desenvolvimento sustentável a partir do ambiente das cidades (C40 CITIES, 2018).

(51)

NUTT; BACKOFF, 1993; SENGE, 2016). Indivíduos ou organizações que atuem segundo esta linha de ação podem também ser considerados, segundo Senge (2016), como lideranças dos processos de desenvolvimento no contexto do desenvolvimento das cidades. Neste sentido é importante que sejam propostas abordagens que facilitem a integração das atividades de coordenação e formação de parcerias para a realização de iniciativas voltadas ao desenvolvimento urbano sustentável.

Outro ponto digno de atenção no contexto da articulação de parcerias intersetoriais para o desenvolvimento urbano é o acelerado desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação. A incorporação de ferramentas digitais que facilitem a articulação de parcerias intersetoriais e estimulem o engajamento social nos processos de urbanização, tem se tornado cada vez mais relevante no apoio ao planejamento e gestão de cidades. Neste sentido surgem iniciativas que corroboram com esta necessidade, tanto iniciativas de abrangência municipal com aplicativos que a participação da população em processos de planejamento urbano (WILSON; TEWDWR-JONES; COMBER, 2017), como iniciativas de abrangência global, como é o caso da plataforma digital das Nações Unidas que busca congregar e divulgar iniciativas relacionadas à operacionalização dos ODS’s ao redor do mundo, estimulando o engajamento intersetorial para o desenvolvimento sustentável (UNITED NATIONS, 2018).

(52)

identificar elementos que apresentem potencial para contribuir na elaboração de propostas de modelos de gestão urbana orientados ao desenvolvimento urbano sustentável, como no caso da EDS.

2.5.1 Desenvolvimento Orientado ao Transporte

O padrão denominado Transit-oriented Development (TOD), consiste em um sistema

de certificação de projetos urbanos que promovam e sejam integrados a sistemas de transporte público de qualidade, facilmente conectados a pé ou por bicicleta. Seu sistema, proposto pelo Institute for Transportation and Development Policy (ITDP)

dos Estados Unidos, é constituído por oito princípios, os quais servem tanto como norteadores para a elaboração de novos projetos como projetos de requalificação urbana, como para a avaliação projetos executados (INSTITUTO DE POLÍTICAS DE TRANSPORTE E DESENVOLVIMENTO, 2017). Os princípios e seus objetivos são apresentados no Quadro 3.

Quadro 3 - Princípios de aplicação do padrão TOD

Princípio TOD Descrição

Caminhar

Vias para pedestres desobstruídas, bem iluminadas e de alta qualidade. Os equipamentos urbanos, os elementos do paisagismo e as fachadas ativas dos

prédios transformam calçadas e passagens em espaços públicos vibrantes, confortáveis e seguros.

Pedalar

Aumentar a segurança dos ciclistas ao reduzir a velocidade nas faixas de rodagem ou criar pistas separadas para as bicicletas. É essencial ter uma rede completa de

ciclovias e ciclofaixas, adequados para produzir sombra, superfícies lisas, estacionamento seguro para as bicicletas e integração intermodal.

Conectar curtas, variadas e diretas, que melhoram o acesso a bens, serviços e transporte Uma rede densa para trajetos a pé ou de bicicleta resulta em conexões mais público.

Transporte público

Um sistema de transporte rápido, frequente, confiável e de alta capacidade reduz a dependência de veículos motorizados individuais. É importante planejar a localização de empreendimentos imobiliários de alta densidade próximos ao

transporte público de alta qualidade.

Compactar que os residentes morem perto dos empregos, escolas, serviços e outros destinos, A reorganização ou a requalificação do tecido urbano existente ajuda a garantir reduzindo o tempo das viagens e emissões dos veículos.

(53)

Adensar A intensificação dos usos residencial e comercial no entorno das estações de transporte de alta capacidade ajuda a garantir que todos os residentes e trabalhadores tenham acesso a um transporte de alta qualidade.

Mudar Tarifas adequadas de estacionamento e redução da oferta geral de vagas em vias públicas e em áreas privadas incentiva o uso do transporte coletivo, a pé ou de bicicleta.

Fonte: Adaptado de Institute for Transportation and Development Policy (2017)

O padrão TOD, que teve seu primeiro guia de referência publicado pelo ITDP em 2013, vem sendo adotada não somente nos Estados Unidos, mas também em cidades das Américas Central e do Sul, Ásia e Europa (CENTRO DE TRANSPORTE SUSTENTABLE DE MÉXICO, 2016; INSTITUTO DE POLÍTICAS DE TRANSPORTE E DESENVOLVIMENTO, 2017; WRI, 2014). Esforços vêm sendo feitos para a adaptação do TOD para o contexto de cada localidade, fato este que tem contribuído para o surgimento de novas abordagens em sua implementação, com destaque para a adaptação realizada no México através de uma parceria entre o governo mexicano e o Centro de Transporte Sustentable de México, o qual é a representação nacional do World Resources Institute (WRI) (CENTRO DE TRANSPORTE SUSTENTABLE

DE MÉXICO, 2016).

(54)

Figura 3 – Passos para a implementação de projetos urbanos com o DOTS

Fonte: Adaptado de WRI Brasil (WRI BRASIL, 2015)

A descrição dos passos propostos pelo WRI no Brasil (WRI BRASIL, 2015), apresentados na Figura 3, é feita a seguir:

(55)

2. Definição do contexto: envolve o diagnóstico situacional do contexto e dos limites físicos da área de intervenção;

3. Definição da visão e das metas: Visa definir o propósito e o nível de ambição buscado no projeto;

4. Diagnóstico normativo e urbano: Identificação dos instrumentos de planejamento, viabilidade legal, conhecimento de regras, códigos e outras diretrizes normativas aplicáveis;

5. Incorporação de estratégias de desenho urbano: Elaboração do planejamento, definição, desenvolvimento, revisão, retroalimentação e consolidação das soluções de desenho urbano a serem implementadas; 6. Implementação e acompanhamento: Supervisão contínua do projeto, desde o

seu planejamento até o final da sua construção;

7. Avaliação e melhorias: Avaliar o nível de cumprimento da visão e das metas iniciais do projeto, incluindo a avaliação da aceitação por parte dos usuários do projeto.

A partir da apresentação das etapas de implementação da abordagem DOTS, percebe-se que há a incorporação de elementos de planejamento e gestão urbana mais acentuados do que na concepção original do TOD. Isto deve-se particularmente à abordagem de processo cíclico das etapas, que visa o aprendizado contínuo para planejadores e gestores, e também pela etapa de avaliação e melhorias, a qual contribui para que o contato com os usuários do projeto seja estendido para após o término da execução do projeto.

Imagem

Figura 1 - Desenvolvimento urbano sustentável: convergência de abordagens
Figura 10 - Processo de implementação da pesquisa
Figura 13 – Composição geral da Equipe de Coordenação da EDS em Guaíba
Figura 14 – Critérios para seleção inicial de parcerias intersetoriais para o SERP
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Referências

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