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2.5 MODELOS DE PLANEJAMENTO E GESTÃO NO CONTEXTO URBANO

2.5.3 Estratégia de Proatividade e Parceria

Como modelo de gestão para segurança no trânsito, a Estratégia e Proatividade e Parceria (EPP), foi desenvolvida como um processo cíclico de gestão, o qual tem por objetivo o desenvolvimento de uma cultura avançada de segurança no trânsito8.

A EPP foi concebida e implementada em cidades brasileiras pelo corpo técnico da

Global Road Safety Partnership (GRSP), instituição sediada na Cruz Vermelha

Internacional, a qual presta consultoria e apoio técnico em segurança no trânsito para países de média e baixa renda (CARDITA; PIETRO, 2010).

A EPP é um processo composto por seis etapas principais, as quais são:

(1) Formação de parcerias: O processo tem início com a formação de uma equipe intersetorial, que envolve representantes do governo local e demais organizações consideradas relevantes devido a sua relação com a questão do trânsito.

(2) Coleta, gestão e análise de dados: Consiste de um processo de identificação das fontes de informações de acidentes de trânsito ocorridos no município, para que os dados destas fontes sejam qualificados e integrados, de modo que sejam produzidos indicadores de segurança no trânsito e seja possível

8 Segundo os autores, o termo “cultura avançada de segurança viária” engloba a redução de

acidentes fatais e graves, como resultado de um posicionamento proativo das gestões municipais, com atuação integrada em parceria com os setores público, privado e sociedade civil (CARDITA; PIETRO, 2010).

elaborar análises que permitam identificar possíveis fatores que contribuem para a ocorrência dos acidentes.

(3) Ações integradas de segurança no trânsito: Com base na análise de dados, é realizada a concepção de um plano integrado de segurança no trânsito, o qual seja direcionado aos principais problemas identificados na etapa anterior. O plano é composto por duas abordagens paralelas e complementares, que visam abordar a macro e as micro culturas da cidade. Para as duas abordagens, macro e micro, busca-se a articulação intersetorial para o planejamento e execução de ações. A macro cultura refere-se aos valores e práticas dos usuários do sistema viário da cidade como um todo. Já as micro culturas dizem respeito aos segmentos sociodemográficos da cidade (por exemplo, motoristas profissionais, escolas, bairros, etc.) e estas são abordadas através dos Sistemas Dinâmicos de Melhoria Contínua, os quais são processos de certificação de práticas seguras no trânsito, combinados com o não envolvimento em acidentes fatais ou graves. Segundo os autores a abordagem das micro culturas aumenta as chances de engajamento por estimular que novos comportamentos sejam incorporados com maior velocidade e de modo contínuo (CARDITA; PIETRO, 2010, p. 44) (4) Monitoramento, avaliação e reconhecimento: Nesta etapa são realizados

encontros trimestrais dos consultores externos junto da equipe municipal. São avaliados o desempenho das intervenções de cada projeto. Nestes encontros a equipe municipal recebe orientação para ajustes em seu processo de planejamento e execução, bem como estímulos para constante aperfeiçoamento e inovação de seus processos de trabalho, mantendo assim

os envolvidos no processo em constante motivação na busca pela efetividade das intervenções propostas e realizadas.

(5) Revisão geral anual: São revisados anualmente, juntamente com os gestores municipais, o desempenho dos indicadores de segurança no trânsito, como número absoluto de acidentes fatais e graves, taxas de acidentalidade por 100 mil habitantes e por 10 mil veículos e outros indicadores que sejam considerados relacionados aos acidentes fatais e graves

(6) Renovação e expansão: Com base na lógica de processos de melhoria contínua, são realizadas reuniões anuais a fim de renovar e expandir a EPP quanto às ações planejadas, processos utilizados e novas parcerias.

No ano de 2010, o Brasil instituiu um programa nacional de segurança no trânsito denominado Projeto Vida no Trânsito (PVT). A metodologia adotada para o planejamento e execução do PVT foi a EPP, fazendo com que a mesma passasse a ser implementada em capitais e municípios com mais de um milhão de habitantes. Como justificativa para esta decisão, foram citados os benefícios da articulação intersetorial para planejamento e execução de intervenções, processo decisório baseado em dados confiáveis e estrutura sólida para monitoramento, demonstrando assim o caráter adaptativo do processo (SILVA, MARTA MARIA ALVES et al., 2013). Destaca-se que embora a EPP tenha sido concebida para a gestão de segurança no trânsito municipal, ela apresenta elementos considerados relevantes para o planejamento e gestão urbana no contexto do desenvolvimento sustentável. Entre estes elementos encontram-se a articulação intersetorial, relação com mobilidade urbana, engajamento progressivo da população através da abordagem de segmentos sociodemográficos e estímulo à prática de monitoramento de gestão (CARDITA; PIETRO, 2010; SILVA, MARTA MARIA ALVES et al., 2013).

3 METODOLOGIA

Esta pesquisa delimita-se à implementação e validação do modelo processual denominado Estratégia de Desenvolvimento Sustentável (EDS) em um município de médio porte. O município escolhido foi Guaíba/RS. A escolha foi feita com base na experiência prévia do pesquisador junto ao Executivo municipal com a implementação de um modelo estratégico semelhante à EDS, porém com foco em outra temática que não a de desenvolvimento urbano. Também pelo porte populacional do município que segundo projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), possuía 99.186 habitantes no ano de 2016 (IBGE, 2017) o que viabiliza melhores condições para a proposição de parcerias entre o Executivo municipal e segmentos sociodemográficos do município.

Seu foco principal está no processo de implementação da EDS e os resultados e impactos produzidos através dela em termos de engajamento intersetorial com práticas voltadas ao desenvolvimento urbano sustentável.

Neste sentido, pretende-se validar a hipótese de que a aplicação de um modelo de gestão baseado em princípios da teoria da complexidade e de sistemas emergentes pode servir de indutor de engajamento e alinhamento, dos setores público, privado e sociedade civil, para iniciativas relacionadas ao desenvolvimento urbano sustentável.

3.1 O MODELO DA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL