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O impacto dos estilos de vinculação na evocabilidade de estatégias de coping

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

O Impacto dos Estilos de Vinculação na Evocabilidade de

Estratégias de Coping

Ana Bárbara Coelho Duarte da Silva

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

Secção de Psicologia Clínica e da Saúde

Núcleo de Psicoterapia Cognitiva-Comportamental e Integrativa

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

O Impacto dos Estilos de Vinculação na Hierarquia de

Evocabilidade de Estratégias de Coping

Ana Bárbara Coelho Duarte da Silva

Dissertação orientada pela Professora Doutora Maria João Afonso

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

Secção de Psicologia Clínica e da Saúde

Núcleo de Psicoterapia Cognitiva-Comportamental e Integrativa

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Agradecimentos

À professora Maria João Afonso, pela orientação da minha dissertação e sabedoria partilhada. Ao meu pai, por acreditar em mim e nas minhas capacidades e por me motivar e apoiar nos momentos mais difíceis. Por me ensinar a importância da resiliência e persistência. E, acima de tudo, por ter estado presente em todos os momentos. Obrigada.

À minha tia, Bárbara, e à minha prima, Cristina, pelo apoio e carinho incondicional, por me mostrarem o que é uma família.

Às amigas que a faculdade me deu, Ana, Sílvia, Susana e Sofia, por terem partilhado comigo esta jornada e terem tornado o caminho muito mais divertido e significativo. À Inês e à Rute, por terem partilhado comigo este último desafio: obrigada pelo vosso apoio, sem vocês não seria a mesma coisa! E aos amigos de sempre (vocês sabem quem são!), por estarem comigo há tantos anos e permanecerem ao meu lado até hoje, mesmo com a distância e mudanças na vida de todos.

Ao Rui, pela paciência e pela força que me deu e continua a dar. Por acreditar em mim e por me fazer ver os pontos positivos mesmo nos momentos mais negros e difíceis. Tens uma parte de mim.

À minha mãe, a quem devo quem sou. Apesar de já cá não estares sei que estarias orgulhosa de mim.

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Resumo

O coping consiste em esforços cognitivos e comportamentais que permitem manter a adaptação psicossocial durante períodos stressantes. Este é um fator de grande importância em contexto de saúde mental, pois um coping apropriado conduz a um ajustamento adequado e a uma maior adaptação. Neste sentido, torna-se importante compreender como os indivíduos escolhem as estratégias de coping às quais recorrem.

Este estudo visa compreender como são escolhidas as estratégias de coping e averiguar se existe relação entre o estilo de vinculação no adulto, as experiências de vinculação com figuras parentais e a estratégia de coping mais evocada na idade adulta, para lidar com stressores. Ao entender as estratégias de coping como processos vicariantes, isto é, substituíveis entre si ou alternativos, esta investigação integra uma vertente epistemológica, por tomar a Metateoria da vicariância (Reuchlin, 1978) como enquadramento metateórico aglutinador dos constructos envolvidos. Assim, esta investigação pretende constituir também um contributo para uma abordagem integrativa em psicologia, a qual tem sido ainda pouco explorada.

Foi recolhida uma amostra de uma população não-clínica, com idades compreendidas entre os 17 e os 73 anos, através do método de amostragem não probabilístico por conveniência. Os participantes responderam a um questionário sociodemográfico e as variáveis vinculação ao pai e à mãe, estilo de vinculação no adulto e estratégias de coping foram avaliadas com recurso ao Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe (QVPM), Experiência em Relações Próximas (ECR) e Questionário de Estilos de Coping (CSQ), respetivamente.

Através da análise dos resultados foi possível concluir que existe um efeito significativo dos estilos de vinculação seguro, preocupado e receoso e das dimensões de vinculação ao pai e à mãe nas estratégias de coping mais evocadas. No entanto, não foi encontrado efeito significativo do estilo de vinculação evitante nas estratégias de coping, ao contrário do que era esperado. Os resultados permitem afirmar que os modelos de funcionamento interno, moldados pelas experiencias precoces e pelos estilos de vinculação, afetam a avaliação e percepção da ameaça e das capacidades e recursos do próprio, aspectos inerentes ao processo de coping e à decisão relativa às estratégias a adotar para lidar com os stressores.

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Abstract

The coping process refers to cognitive and behavioral efforts allowing individual adjustment during stressful times. This is an important feature regarding mental health, because an appropriate coping leads to adjustment and greater adaptation. Therefore, it is important to understand how people choose certain coping strategies.

The aim of this study is to comprehend how coping strategies are chosen and verify if there is a meaningful relationship between attachment styles in adulthood, attachment experiences in childhood with meaningful figures and the most evoked coping strategy in adulthood. Taking coping strategies as vicariant processes, namely, interchangeable or alternative processes, this research assumes an epistemological stance, as it will use the Theory of Vicariance (Reuchlin, 1978) as a metatheoretical background integrating the constructs involved. Thus, this study also intends to give a contribution to an integrative approach in psychology, which is still little explored.

A sample of individuals aged between 17 and 73 was collected, from a non-clinical population, with a non-probabilistic sampling method. The participants answered to a socio-demographic questionnaire and the variables attachment to the father and the mother, attachment style in adulthood and coping strategies were assessed with the Father and Mother Attachment Questionnaire (QVPM), Experience in Close Relationships (ECR) and the Coping Styles Questionnaire (CSQ), respectively.

According to the data analysis, it was possible to conclude that there is a significant effect of the attachment styles secure, preoccupied and fearful, as well as the dimensions of attachment to the parents, on the most used coping strategies However, there was no significant relationship between the avoidant attachment style and the coping strategies, unlike what was expected.

The results suggest that internal working models, which are shaped by early relationships and the attachment styles, affect the assessment and perception of threat and of one’s abilities and resources to cope with stressors. These features are inherent to the process of coping and decision making, while choosing the best strategy to deal with stressors.

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Índice geral

I. Introdução 1

II. Enquadramento Teórico 2

1. Vinculação como um sistema comportamental 2

2. A importância das interações sociais para as respostas de coping 5 3. A relação entre o sistema de vinculação e as estratégias de coping 8 4. A Metateoria da vicariância e a sua relação com o sistema de vinculação 10

5. Objetivos e formulação do problema 11

6. Hipóteses de trabalho 12

III. Metodologia 13

1. Participantes 13

2. Instrumentos 14

2.1 Questionário Sociodemográfico 14

2.2 Coping Styles Questionnaire 3 14

2.3 Experience In Close Relationships 15

2.4 Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe 16

3. Procedimentos 16

4. Métodos de Análise Estatística 17

IV. Análise e Discussão de Resultados 18

1. Análise Metrológica dos instrumentos 18

1.1 Questionário dos Estilos de Coping (CSQ) 18

1.2 Experiência em Relações Próximas (ECR) 19

1.3 Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe 20

2. Análise de resultados e teste das hipóteses de investigação 22

2.1 Análises dos resultados de MANOVA 22

2.2 Análises dos resultados do Qui-Quadrado 25

2.3 Análise de Correlações 25

2.4 Análises de Regressão Linear 26

V. Conclusão 28

VI. Referências Bibliográficas 31

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Índice de anexos

Anexo 1: Consentimento informado 36

Anexo 2: Tabela com dados sociodemográficos 37

Anexo 3:Tabelas com análise fatorial dos instrumentos 38

Anexo 4: Tabelas com análise da consistência interna dos instrumentos 46

Anexo 5: Tabelas com estatística descritiva dos instrumentos 47

Anexo 6: Tabelas com resultados de MANOVA 49

Anexo 7: Tabela com resultados de correlações bivariadas 52

Anexo 8: Tabela com resultados das regressões lineares 53

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I. Introdução

Todos os aspetos da vida do ser humano tendem a ter relação entre si, constituindo um todo complexo. Desta forma, é possível inferir e estudar a relação entre muitos constructos psicológicos, sendo que as possibilidades de compreensão desse todo são potencialmente ilimitadas.

O coping refere-se à capacidade do indivíduo para lidar eficientemente com desafios e obstáculos que lhe surgem. Porém, há formas mais eficientes que outras para lidar com os mesmos. Existem formas de coping que são mais facilmente evocadas que outras, em cada indivíduo, e que podem ser mais ou menos eficazes, em função dos contextos. Estas estratégias de coping podem variar não só perante diferentes situações, como também de pessoa para pessoa. Mas, como se processa esta seleção de estratégias mais eficazes? E de que forma são as estratégias de coping aprendidas pelos indivíduos? São questões como estas que o presente estudo pretende explorar.

Bowlby (1982) afirma que o sistema de vinculação possui uma interação dinâmica com outros sistemas comportamentais, e que esta contribui para o desenvolvimento do conhecimento pessoal e de competências, ajudando a pessoa a adaptar-se a várias situações distintas. Assim, as experiências de vinculação com a figura parental, na infância, admite-se poderem ser de grande relevância para a escolha das estratégias de coping mais eficazes, em determinadas situações, na vida adulta.

Nesta investigação é adotada explicitamente uma postura epistemológica e, tendo em conta que a teoria da vinculação postula que cada individuo dispõe de um repertório comportamental de ações que podem ser evocadas de acordo com o contexto (Mikulincer & Shaver, 2007), surge oportuno remeter para o enquadramento epistemológico da Metateoria da vicariância, proposta por Maurice Reuchlin a partir de 1978. Esta apresenta-se como uma metateoria aplicável a diversas áreas de funcionamento psicológico, a qual pretende compreender o comportamento humano simultaneamente naquilo que é universal, partilhado pelos seres humanos, e diferencial, específico de cada um. Assim, é possível pensar num repertório de estratégias de coping, que variam de pessoa para pessoa de acordo com uma diversidade de fatores, entre os quais figuram certamente a genética e as experiências de vida, tal como as experiências precoces com figuras parentais.

Em suma, o presente estudo pretende compreender a relação entre os estilos de vinculação e as estratégias de coping adoptadas na idade adulta. Pretende-se também compreender se a relação e práticas parentais podem influenciar os tipos de estratégias utilizadas para lidar, na vida adulta, com stressores, à luz de um enquadramento epistemológico que concilia o entendimento dessa problemática nos níveis da psicologia geral (universal) e diferencial (individual).

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II. Enquadramento Teórico

1. A vinculação como um sistema comportamental

O ser humano funciona numa ótica relacional desde o nascimento até à morte, sendo que este não é uma ilha isolada. Este conceito sugere que figuras significativas têm grande relevância ao longo da vida, sendo esta relevância tal que o self e a personalidade são amplamente moldados pela experiência relacional (Andersen & Chen, 2002). A teoria da vinculação parte deste pressuposto, focando-se por isto no impacto que as relações significativas possuem em vários aspetos da vida de cada sujeito, tendo a particularidade de ser uma teoria holística (Bowlby in Rholes & Simpson, 2004). Assim, segundo Ainsworth (1985), a teoria da vinculação agrupa várias correntes de pensamento, tendo em vista criar um corpo integrado de conhecimento acerca das emoções humanas, com o intuito de promover a compreensão do desenvolvimento emocional e relacional nas várias etapas da vida.

Bowlby (1982), considerado o precursor da teoria da vinculação, faz referência a sistemas comportamentais: programas universais e biologicamente desenvolvidos. Cada sistema tem como função adaptativa organizar o comportamento de modo a aumentar a probabilidade de sobrevivência e a reprodução. A vinculação não é nada mais que do que um sistema comportamental, que é ativado quando são encontradas ameaças e existe necessidade de proteção. Deste modo, cada indivíduo possui um sistema comportamental, sendo que este engloba um repertório de ações que visam informar outros significativos de que há necessidade de manter a proximidade em situações de ameaça. O individuo pode escolher, de entre o seu repertório comportamental, o comportamento que entende melhor responder ao contexto (Mikulincer & Shaver, 2007).

Apesar de todos os indivíduos possuírem este sistema comportamental, a qualidade das interações com as figuras de vinculação altera a forma como ele se expressa, sendo esta a maior fonte de diferenças individuais no funcionamento do sistema de vinculação (Mikulincer & Shaver, 2007). Quando a figura de vinculação está disponível e é sensível aos esforços de procura de proximidade, o indivíduo tem maior probabilidade de sentir que o mundo é um lugar seguro e que as figuras de vinculação estão disponíveis, quando é necessário. A indisponibilidade das figuras de vinculação, por outro lado, resulta no agravamento de sentimentos de angústia provocados por situações ameaçadoras, o que desencadeia processos mentais e comportamentais que são prejudiciais para o bem estar emocional e o ajustamento individual (Mikulincer & Shaver, 2008).

As variações na parentalidade não só produzem alterações na expressão do sistema de vinculação, como também geram mudanças mais duradouras no funcionamento psicológico do indivíduo (Mikulincer & Shaver, 2007). Interações repetidas com a figura de vinculação são

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internalizadas em modelos de funcionamento interno, nos quais as memórias são organizadas, resultando em representações do self, da figura de vinculação e das relações cada vez mais estáveis (Bretherton, 1985). Estes modelos condicionam a forma como cada pessoa interpreta, codifica e armazena memórias de interação com figuras de vinculação, criando assim padrões de resposta cognitivos, afetivos e comportamentais (Mikulincer & Shaver, 2007). Kohut (1971,1977) refere que as funções regulatórias levadas a cabo por uma figura significativa são internalizadas (nos modelos de funcionamento), sendo que o indivíduo irá gradualmente adquirindo a capacidade para executar estas funções autonomamente. Deste modo, as características e traços de uma figura externa são incorporadas, levando a que o sujeito adquira capacidades de autotranquilização, autoaprovação e autorregulação. Isto acontece não só em relação a figuras parentais, mas também em relações significativas, na idade adulta. As representações inseridas nos modelos de funcionamento fornecem o esqueleto do estilo de vinculação do indivíduo (Bowlby,1982), sendo que o estilo de vinculação reflete o modelo de funcionamento mais cronicamente acessível. Estes estilos de vinculação surgem de acordo com a resposta que cada cuidador tem aos comportamentos de procura de proximidade por parte dos seus filhos (Rholes & Simpson, 2004).

Bartholomew (1990; Bartholomew & Horowitz, 1991) reconceptualizou os estilos de vinculação, colocando-os num continuum dimensional entre o modelo do self e o modelo do outro. Porém, Brennan e colegas (Brennan, Clark & Shaver, 1998) designam estas duas dimensões de “ansiedade” e “evitamento”. A dimensão “ansiedade” reflete o grau em que os indivíduos se preocupam com a rejeição, o abandono e não serem amados por outros significativos. A dimensão “evitamento” reflete o grau em que o individuo limita a intimidade e interdependência relativamente a outros. Quatro estilos de vinculação prototípicos encontram-se entre estas dimensões: os estilos de vinculação seguro, inseguro ansioso/preocupado, inseguro receoso e inseguro evitante/desligado.

Indivíduos com estilo de vinculação seguro revelam níveis baixos de ansiedade e evitamento. Estes sentem-se valorizados pelos outros e merecedores de afeto, sendo que se sentem confortáveis ao desenvolver relações de proximidade e ao depender dos outros quando necessário. Para além disto, interações de base segura com figuras de vinculação disponíveis, sensíveis e responsivas permitem ao individuo desenvolver crenças implícitas de que possui traços positivos (Bowlby, 1982). Alguém que se encontre nestas condições conseguiu mobilizar eficazmente o apoio das figuras de vinculação, e pode orientar os seus recursos cognitivos para a exploração e a aprendizagem, aspetos fundamentais na utilização de estratégias de coping adaptativas. Assim, a sensação de segurança contribui para a autoconstrução de um modelo positivo e estável do self e um conjunto de estratégias eficazes e autónomas de autorregulação dos afetos (Rholes & Simpson, 2004).

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A falta de disponibilidade, sensibilidade e responsividade por parte das figuras de vinculação, contribui para perturbações do self, caracterizadas por dúvidas acerca da coerência do self, vulnerabilidade e pouca estabilidade na autoestima. Esta é a situação de pessoas com vinculação insegura, cujas interações frustrantes com figuras de vinculação inacessíveis geraram dúvidas acerca do grau em que são estimados e amados. Ao longo de várias interações desmoralizantes com as figuras de vinculação, as pessoas com vinculação insegura gradualmente incorporam mensagens de desprezo, que fazem com que seja mais provável que o individuo se trate a si próprio e aos outros com desaprovação e desdém (Mikulincer & Shaver, 2008). Pessoas com vinculação insegura sofrem com autocriticas e dúvidas sobre si mesmas, criando defesas distorcidas para contra-atacar sentimentos de desesperança e inutilidade.

São três, os tipos de vinculação insegura. Os indivíduos preocupados (ou ansiosos) apresentam níveis altos de ansiedade e baixos de evitamento. Estes possuem um desejo exagerado de proximidade mas a par de falta de confiança na disponibilidade e responsividade dos outros às suas necessidades. São bastante dependentes da aprovação dos outros e têm uma preocupação exacerbada com a possibilidade de serem rejeitados ou abandonados. Os indivíduos receosos apresentam valores altos tanto de ansiedade como de evitamento. Estes experienciam um sentimento de desconfiança em relação aos outros, relacionado com grandes expectativas de rejeição, o que resulta num desconforto com a intimidade e consequente evitamento de relações próximas. Por fim, os indivíduos com estilo de vinculação evitante/desligado manifestam níveis reduzidos de ansiedade e níveis elevados de evitamento. Estes percebem a figura de vinculação como geralmente pouco confiável e responsiva, observando-se a si mesmos como confiantes e nada vulneráveis a sentimentos negativos. Estes tentam manter uma autoimagem positiva face a potenciais rejeições, minimizando as necessidades de vinculação, distanciando-se dos outros e restringindo a expressão de emoções. Estratégias evitantes são a tentativa de uma pessoa suprimir dúvidas, enquanto se esforça por convencer o self e os outros de que é autossuficiente e invencível. Pessoas evitantes aprendem a não se focar ou preocupar com ameaças e não procuram o apoio das figuras de vinculação. Estes esforços defensivos são acompanhados por tentativas de negação da vulnerabilidade, de aspetos negativos do próprio e de memórias de fracassos pessoais, enquanto tentam focar-se em mostrar traços e sentimentos compatíveis com a autossuficiência (Mikulincer & Shaver, 2007).

As interações com figuras de vinculação e o consequente estilo de vinculação têm grande impacto nas representações mentais internalizadas por parte dos indivíduos. Isto porque, nos adultos, os comportamentos de vinculação não necessitam de ser reais, podendo incluir a ativação mental de representações de figuras que normalmente providenciam cuidado e proteção. Estas representações podem criar uma sensação de proteção e segurança que ajuda a lidar eficazmente com ameaças. A

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capacidade para contar com a figura de vinculação internalizada e a inclusão de recursos, estratégias e características desta mesma figura no autoconceito (expansão do self) são as consequências mais importantes da vinculação segura (Rholes & Simpson 2004; Aron et al, 2001), pois estas farão com que o indivíduo consiga lidar mais eficazmente com situações de ameaça. Um estudo feito com ex-prisioneiros israelitas (POWs) durante a guerra de Yom Kippur (Solomon, Ginzburg, Mikulincer, Neria & Ohry, 1998) corrobora o que foi referido anteriormente, revelando que ex-POWs com estilo de vinculação seguro tinham mais probabilidade de referir que lidaram com a prisão relembrando memórias relacionais positivas ou criando imagética relacionada com o reencontro com entes queridos, procurando apoio simbólico de figuras de vinculação internalizadas. O mesmo não se passava com ex-POWs com estilo de vinculação inseguro. Autorrepresentações baseadas em vinculação segura são assim constructos mentais derivados da internalização de interações com figuras de vinculação promotoras de segurança. Estas autorrepresentações devem fornecer alguns dos mesmos benefícios psicológicos que uma figura de vinculação segura fornece, oferecendo conforto e alívio. Estas representações, no caso de pessoas inseguras, podem estar bloqueadas ou ser suplantadas por autorrepresentações baseadas em insegurança (Rholes & Simpson, 2004).

Em suma, representações mentais de figuras de vinculação podem tornar-se fontes simbólicas de apoio, essenciais em situações de ameaça. Representações mentais do self passam a incluir traços de segurança transmitidos pela figura de vinculação que ajudarão a lidar mais autonomamente e eficazmente com determinado stressor (Mikulincer & Shaver, 2007). Pessoas com vinculação insegura podem ter integrado representações negativas das figuras de vinculação nas suas autorrepresentações de autocuidado, pois todo este processo de identificação e integração leva a pessoa a tratar-se da forma como a sua figura de vinculação a tratava (Mikulincer & Shaver, 2007). Assim, é possível compreender o efeito que as interações com figuras de vinculação tem, não só na personalidade do individuo, mas também na forma como este reage a stressores e situações de ameaça. As relações precoces parecem ser determinantes para o nível de ajustamento e adequação do indivíduo, e também fulcrais para a construção do autoconceito e do self.

2. A importância das interações sociais para as respostas de coping

O coping é um fator estabilizador que ajuda os indivíduos a manter a adaptação psicossocial durante períodos stressantes. Este engloba esforços cognitivos e comportamentais para reduzir ou eliminar stressores e as emoções angustiantes associadas (Lazarus & Folkman, 1984; Moos & Schaefer, 1993). O coping refere-se a um processo complexo que envolve características da

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personalidade, relações pessoais e parâmetros situacionais (Zeidner & Endler, 1996). Um coping apropriado a dada situação é, assim, aquele que conduz a um ajustamento adequado (Lazarus, Delongis, Folkman & Gruen, 1985).

Existem dois tipos de abordagens relativamente ao coping: a abordagem disposicional e a abordagem contextual. As abordagens disposicionais assumem que fatores relativamente estáveis da personalidade subjazem a seleção de comportamentos de coping. Já as abordagens contextuais presumem que factores mais transitórios e baseados na situação formatam as escolhas pessoais de respostas de coping (Lazarus & Folkman, 1984). Apesar destas duas perspetivas parecerem antagónicas, certos autores reconhecem que as abordagens disposicionais e contextuais representam forças complementares para descrever o processo de coping (Carver & Scheier, 1994). As abordagens disposicionais tocam a generalização e estratégias de coping preferidas e mais utilizadas, as quais transcendem as influências situacionais particulares (Epstein & Meier, 1989),enquanto as abordagens contextuais refletem como uma pessoa lida com um tipo particular de evento stressante e é responsiva através de mudanças nos esforços de coping (Carver et al, 1989; Folkman, 1992). Assim, tanto os fatores pessoais mais duradouros, como fatores mutáveis da situação, moldam os esforços de coping. O processo de coping pode ser, então, definido como uma tendência mais ou menos estável para usar uma resposta de coping, em menor ou maior grau, em situações de stress (Dinis, Pinto Gouveia & Duarte, 2011).

Quando se aborda o tema de coping é importante ter em conta que não é a realidade objetiva de uma determinada situação, mas sim uma série de equações subtis e subjetivas que abrangem avaliações de sucesso ou de fracasso que compõem a percepção de ameaça e avaliação do stressor (Monat & Lazarus, 1977). Estas equações estão associadas a aspetos idiossincráticos como a personalidade, experiências precoces com figuras de vinculação e eventos significativos na vida do indivíduo. Teoricamente, perante uma situação de stress o indivíduo faz avaliações para determinar a adequação dos recursos pessoais e sociais para lidar com o stressor, sendo que isto afeta a perspetiva que o sujeito tem relativamente a este e ao seu grau de ameaça. A crença de que o ambiente é hostil e perigoso pode moldar a avaliação de ameaça numa situação: Se um sujeito acredita que o ambiente é perigoso e avassalador, e que não dispõe dos recursos adequados para lidar com ele, não só vai avaliar cronicamente a ameaça, mas também estará mais apto para utilizar fuga e evitamento como processos de coping. Crenças acerca do que está moralmente certo ou errado, do que é eficaz ou ineficaz e de como o ambiente irá responder a certos tipos de ações moldam tanto o processo de coping como a sua expressão comportamental (Lazarus, 1966).

Os recursos pessoais para lidar com eventos stressantes incluem características cognitivas e da personalidade relativamente estáveis que moldam o processo de avaliação e coping. Uma

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variedade de fatores disposicionais parecem ser especialmente importantes como recursos de coping, incluindo a percepção de autoeficácia (Bandura, 1982) e o optimismo (Scheier, Weintraub & Carver, 1986). A percepção de autoeficácia promove esforços mais vigorosos e persistentes para dominar novas tarefas. Pessoas com maiores níveis de autoeficácia tendem a abordar situações desafiantes num estilo ativo e persistente, ao contrário de pessoas com baixos níveis de autoeficácia, que são menos ativas ou tendem a evitar este tipo de situações (Bandura, 1982, 1989). Por outro lado, pessoas optimistas tendem a utilizar estratégias de coping focadas no problema, enquanto que as pessimistas preferem estratégias focadas na emoção (Carver et al., 1989). Estas características individuais parecem estar relacionadas com os modelos de funcionamento interno, que integram não só autorrepresentações, como também representações de figuras próximas.

Recursos sociais, isto é, o apoio emocional fornecido por pessoas significativas, podem também fortalecer os esforços de coping, pelo facto de reforçar sentimentos de autoestima e autoconfiança, fornecendo também guias de informação que ajudam a aferir ameaças e a planear estratégias de coping (Cohen & Mckay, 1984). Porém, a percepção de apoio não é consistente ou linear. As diferenças individuais influenciam atribuições e percepções de comportamento de apoio de figuras significativas, na sua generalidade. Duas variáveis idiográficas, estilo de vinculação e neuroticismo, estão hipotetizadas como determinantes da percepção de apoio (Revenson, Kayser & Bondenmann, 2005). O apoio social percebido foi definido como a percepção geral de que outros estão disponíveis e desejam fornecer assistência, se o individuo necessitar ( Sarason, & Sarason, 1990). Este pode influenciar o coping através da avaliação de características pessoais, sendo que pode promover a eficácia pessoal e avaliações do self e dos outros mais precisas e positivas. Isto pode levar os indivíduos a aprimorar o seu repertório de coping e a desenvolver estratégias de coping mais realistas e eficazes para lidar com situações particulares (Zeidner & Endler, 1996). O apoio social percebido pode também permitir aos indivíduos confrontar desafios mais eficazmente, pois estes acreditam que os outros podem ajudá-los se o desafio exceder os recursos pessoais. Porém, recorrer ao apoio social pode depender de alguns fatores, isto porque interações sociais são em parte baseadas nas expectativas acerca de como os outros irão responder. Assim, enquanto indivíduos com apoio social percebido elevado abordam outros para que estes os apoiem, com base nas expectativas de que os outros irão providenciar ajuda, aqueles com apoio social percebido baixo podem evitar pedir ajuda, porque podem recear que a ajuda seja inacessível. Uma possível explicação está talvez relacionada com o facto de indivíduos com apoio social percebido elevado se sentirem amados e valorizados pelos outros, podendo assim sentir-se menos preocupados acerca de como os outros podem percepcioná-los, quando estes necessitam de ajuda. A percepção de apoio parece estar intimamente relacionada com a disponibilidade das figuras de vinculação e a sua capacidade para

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prestar apoio. Evidências empíricas demonstram que o apoio social percebido parte de um histórico de experiências positivas de apoio social, especialmente com a família (Zeidner & Endler, 1996).

É possível compreender que existem várias maneiras de lidar com stressores, tendo em conta diferenças individuais e diferentes percepções de ameaça. Folkman e Lazarus (1980,1985) propõem dois tipos de coping: o coping focado no problema e o coping focado na emoção. O primeiro refere-se às tentativas cognitivas e comportamentais ativas, diretas e construtivas para modificar ou eliminar a situação stressante e deste modo resolver o problema. O coping focado na emoção refere-se aos esforços para reduzir ou regular a resposta emocional associada ao stressor. Outra distinção é a que contrasta as formas de coping que visam, ou o evitamento, ou a aproximação, à fonte de stress (Billings & Moos, 1981; Miller, 1987; Suls & Fletcher, 1985). Endler e Parker (1990) propõem combinações entre ambas as dimensões, avaliando o coping orientado para o evitamento - grau em que o individuo procura distrair-se ou evitar os pensamentos acerca do stressor -, para a emoção, e para o problema (racional). Folkman e Lazarus (1988), por seu lado, adicionam um quarto estilo de coping denominado coping desligado/distanciado. Neste estilo de coping, o individuo tenta criar uma distância emocional relativamente ao evento, reconhecendo que o mesmo ocorreu, porém sentindo-se independente do acontecimento stressante e da emoção associada ao mesmo. Embora aceite a existência do stressor, ao sentir-se menos envolvido com o evento, distancia-se do seu significado emocional e consegue lidar mais eficazmente com ele, minimizando o seu impacto emocional (Roger et al, 1993).

3. A relação entre o sistema de vinculação e as estratégias de coping

Bowlby (1982) propôs que a interação dinâmica entre o sistema de vinculação e outros sistemas comportamentais contribui para o desenvolvimento do conhecimento pessoal e de competências, abrindo a mente para novas possibilidades e perspetivas e ajudando a pessoa a adaptar-se de forma flexível a uma vasta variedade de situações.

O sistema de vinculação é evidente na forma como as pessoas avaliam, lidam e reagem emocionalmente a eventos stressantes, sendo que os estilos de vinculação estão relacionados com crenças e expectativas de um sujeito acerca da sua capacidade para resistir ao stress ou lidar eficazmente com o mesmo. Uma base segura de vinculação está associada a avaliações que aliviam o sofrimento e o desconforto, que experienciam os eventos stressantes como menos ameaçadores, e a autoavaliações favoráveis, vendo-se a pessoa como capaz de lidar eficazmente com esses eventos. Em contraste, uma vinculação ansiosa está associada a avaliações das ameaças como extremas e

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dos recursos para lidar com estas como insuficientes, o que intensifica o sentimento de angústia (Mikulincer & Shaver, 2007).

Podemos encontrar a relação entre estas variáveis em estudos como os de Feeney (1998), que avaliam estratégias de coping usadas para lidar com a ausência do parceiro e efeitos na relação de casal. O resultado deste estudo indica que o estilo de vinculação seguro está ligado a padrões construtivos de coping, tal como coping racional e a procura de apoio. Porém, outros estudos não encontraram associações significativas entre o estilo de vinculação e as estratégias de coping (Berant et al, 2001b; Mikulincer & Florian, 1995; Mikulincer, Florian & Weller,1993).

As interações sociais parecem ser fulcrais, tanto para o sistema de vinculação como para as respostas de coping. A disponibilidade real ou simbólica de figuras de vinculação reconfortantes e carinhosas, combinada com a sua responsividade e apoio, gera sentimentos de segurança e proteção e aumenta a autoestima. Com o tempo, a sensação de segurança aumenta e reforça a capacidade de coping do sujeito, criando um repertório flexível de estratégias de coping que funcionam cada vez mais autonomamente (Mikulincer & Shaver, 2007).

Pessoas com vinculação segura desenvolvem expectativas geralmente optimistas acerca das suas competências (Mikulincer & Shaver, 2007), levando a que se sintam mais confiantes nas suas capacidades para lidar adequadamente com stressores. A percepção de autocoesão fornece um sentimento subjetivo de estabilidade que permite à pessoa manter-se focada, mesmo em situações ameaçadoras ou imprevisíveis. Para além disto, a autocoerência fornece uma sensação de resiliência, acalmando a pessoa em tempos de stress (Mikulincer & Shaver, 2007). Alguns investigadores que avaliaram o coping racional constataram que pessoas com vinculação segura possuem mais probabilidade de usar esta estratégia do que pessoas inseguras (Lussier, Sabourin & Turgeon,1997; Mikulincer & Florian, 1998; Raskin, Kummel & Bannister,1998).

Vários estudos encontraram ligações entre o estilo de vinculação evitante e o recurso a estratégias de coping de evitamento, tal como a negação, distração e desinvestimento cognitivo ou comportamental (Feeney,1998; Lopez, Mauricio, Gormley, Simko & Berger, 2001; Marshal Serran & Cortoni, 2000; Shapiro e Levendosky, 1999). Apesar de pessoas com vinculação evitante possuírem maior tendência para depender de estratégias de coping de evitamento, alguns estudos revelam que pessoas com este estilo de vinculação podem recorrer a estratégias de coping focadas na emoção (Mikulincer & Shaver, 2007). Isto significa que defesas do estilo de vinculação de evitamento que são normalmente suficientes para lidar com stressores menores, podem falhar quando os stressores são maiores e persistentes. Assim, defesas evitantes, podem ser suficientes para lidar com stressores menores, porém podem falhar quando um stressor persistente e severo é encontrado (Birnbaum et al, 1997; Lussier et al., 1997; Shapiro & Levendosky,1999; Berant et al., 2001a, 2001b).

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Um estudo de Mikulincer, Florian e Weller (1993), cujo propósito passava por investigar a relação entre o estilo de vinculação no adulto e a forma como os indivíduos reagiam a um ataque de míssil durante a guerra do Golfo, indicou relação entre o estilo de vinculação e as estratégias de coping utilizadas para lidar com a situação. Pessoas seguras utilizaram estratégias de coping de procura de apoio para lidar com o trauma, pessoas ansiosas/preocupadas usaram estratégias de coping focado nas emoções e pessoas com estilo de vinculação evitante usaram estratégias de evitamento. Investigadores que avaliaram o coping emocional consistentemente encontraram associações com o estilo de vinculação preocupado. Nestes casos, a atenção é dirigida para o desconforto ao invés de ser focada em possíveis soluções para o problema. O coping focado nas emoções é também mais utilizado por pessoas com conflitos na relação conjugal (Lussier et al, 1997; Shapiro & Levendosky, 1999).Isto indica que a relação com figuras de vinculação (cônjuge) na idade adulta tem também relevância na tendência de coping do indivíduo.

Em suma, é possível concluir que a maioria dos estudos que se debruçaram sobre estas duas categorias de variáveis referem haver uma relação entre ambas, reforçando a importância das relações precoces para a escolha de estratégias eficazes para lidar com stressores e, consequentemente, para um bom ajustamento. Assim, o estilo de vinculação seguro parece estar associado ao coping racional, a vinculação ansiosa/preocupada associada principalmente a estratégias de coping focadas na emoção e o estilo de vinculação evitante associado a estratégias de evitamento também focadas na emoção, quando os stressores são severos e persistentes.

4. A Metateoria da vicariância e a sua relação com o sistema de vinculação

A Metateoria da vicariância pode ser definida como uma teoria das teorias. Trata-se de uma proposta epistemológica que pretende ocupar-se tanto de aspetos universais do comportamento humano, como também de aspetos diferenciais. Esta é uma proposta inovadora que pretendeu conjugar de forma holística dois campos da psicologia que pareciam antagónicos, a psicologia geral e a psicologia diferencial (Reuchlin, 1978, 1997, 1999/2002).

Os processos vicariantes são postulados por Reuchlin (1978) como inatos e também universais, sendo que cada sujeito possui um repertório de processos vicariantes ou intermutáveis de onde pode escolher o que considera mais ajustado ao contexto. Porém, alguns desses processos serão mais facilmente evocados que outros por uma pessoa, pois cada uma possui a sua própria hierarquia de processos vicariantes. A “hierarquia de evocabilidade de processos” é diferente de indivíduo para indivíduo, por razões como a constituição genética, experiências passadas e a interação

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entre as duas categorias de fatores. Numa determinada situação, nem todos os processos serão igualmente eficazes. Uns podem implicar custos maiores ou menores para um mesmo nível de adaptação ou terão probabilidade desigual de conduzir ao sucesso. Os indivíduos mais favorecidos são aqueles para quem os processos mais facilmente evocáveis são os mais eficazes na situação em que se encontra o indivíduo, ou na resposta aos desafios que se lhe impõem (Reuchlin, 1999/2002). O repertório dos processos disponíveis pode variar nos diferentes indivíduos, e todos os repertórios individuais são subconjuntos de um repertório geral limitado que caracteriza a espécie. Apesar de cada situação pôr em jogo processos diferentes, todos esses processos não são forçosamente diferentes de uma situação para outra. É provável que o número de processos adaptativos seja limitado, e entre eles o sujeito escolhe, em cada situação, aqueles que são mais susceptíveis de entrar em jogo para enfrentar eficazmente a situação (Afonso, 2007).

É possível equacionarmos a teoria da vinculação através da noção de vicariância. De acordo com Bowlby (1982), o sistema de vinculação é um programa universal, que é ativado quando há necessidade de proteção perante determinado stressor. Neste sistema comportamental inato, cada indivíduo possui um repertório comportamental de ações que podem ser escolhidas ou evocadas de acordo com a adaptabilidade ao contexto (Mikulincer & Shaver, 2007). Apesar desta vertente universal, tal como Reuchlin (1978) postulou na sua teoria, existem diferenças individuais resultantes de condicionamentos biológicos e de experiências passadas. No caso da vinculação, estas experiências passadas referem-se à relação com figuras parentais, sendo que a forma como estas responderam às necessidades do sujeito irá determinar a expressão do sistema de vinculação, isto é, quais os comportamentos mais facilmente evocados de acordo com o reforço dado pelas figuras de vinculação ou o sucesso na procura de proximidade (Mikulincer & Shaver, 2007).

5. Objetivos e formulação do problema

A literatura revista indica que a qualidade da relação com as figuras de vinculação influencia fortemente a perspetiva que o indivíduo constrói de si mesmo e do mundo. Isto afeta a percepção de stress e ameaça por parte do indivíduo, a percepção acerca da sua capacidade para lidar com o stress e ainda a percepção de que este possui uma rede de apoio para auxiliá-lo, em caso de necessidade. Todos estes fatores têm impacto nas estratégias de coping escolhidas pelo indivíduo para lidar com stressores. A relação entre estas duas categorias de variáveis já foi estudada, sendo que nunca se chegou a um consenso, pelo facto de vários estudos chegarem a resultados ambíguos e contraditórios. Alguns estudos (Lussier, Sabourin & Turgeon,1997; Mikulincer & Florian, 1998; Raskin,

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Kummel & Bannister,1998)encontraram relação entre o estilo de vinculação e o tipo de estratégia de coping utilizada, enquanto o mesmo não aconteceu com outras investigações (Berant et al, 2001a; Mikulincer & Florian, 1995; Mikulincer, Florian & Weller,1993). A presente investigação pretende contribuir para o esclarecimento desta ambiguidade, no sentido de promover a compreensão da relação entre ambas as categorias de variáveis. Por outro lado, ainda não existe literatura que relacione a tendência para escolher determinada estratégia com o estilo de vinculação receoso, existindo por isso uma lacuna que este estudo pretende, também, preencher. Para além disto, parece ainda que as estratégias de coping desligado/distanciado estão pouco documentadas, sendo objetivo desta investigação colmatar também esta falha.

Como enquadramento deste estudo, há que sublinhar o interesse em compreender a aplicabilidade da Metateoria da vicariância para a fundamentação epistemológica da investigação psicológica. Esta teoria não possui ainda um corpo de investigação aprofundado, pois teve impacto sobretudo na escola francófona de psicologia. Em Portugal, existe ainda pouco conhecimento acerca desta metateoria (Afonso, 2007), sendo que este estudo visa também dar maior visibilidade a uma abordagem com grande valor no âmbito da psicologia, quer no plano teórico e metateórico, quer no plano clínico e aplicado. É notável a similaridade entre a teoria do sistema de vinculação de Bowlby (1982) e o conceito de vicariância de Reuchlin (1978; 1997; 1999/2002; Afonso, 2007) . Ambos remetem para uma postura de investigação tanto nomotética como idiográfica, postulando um sistema universal que faz emergir diferenças individuais na forma como se expressa, sendo que essas diferenças resultam de características idiossincráticas. Este estudo pretende relacionar não só estas duas teorias, como também averiguar se existe uma hierarquia de estratégias de coping que podem ser mais ou menos evocáveis, dependendo das experiências relacionais de cada indivíduo e da percepção de sucesso ou fracasso de cada estratégia para determinada situação.

Assim, a presente investigação tem como objetivo estudar a relação entre estilos de vinculação e estratégias de coping, tomando como referência o quadro epistemológico da teoria da Metateoria da vicariância.

6. Hipóteses de investigação

Com esta investigação pretende-se testar as seguintes hipóteses:

H1. Na população geral, o estilo de vinculação no adulto está relacionado com a tendência para evocar determinada estratégia de coping, sendo que são esperadas as seguintes relações:

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H1.1 Pessoas com estilo de vinculação seguro apresentam maior tendência para evocar estratégias de coping racional;

H1.2 Pessoas com estilo de vinculação ansioso/preocupado apresentam maior tendência para evocar estratégias de coping orientadas para a emoção;

H1.3 Pessoas com estilo de vinculação receoso apresentam maior tendência para evocar estratégias de coping emocional e de evitamento;

H1.4 Pessoas com estilo de vinculação evitante apresentam maior tendência para evocar estratégias de coping de distanciamento e evitamento;

H2. Na população geral, as experiências precoces com as figuras de vinculação estão relacionadas com as estratégias de coping mais evocadas na idade adulta, tendo em conta as seguintes dimensões:

H2.1 Inibição da exploração e individualidade (pai e mãe); H2.2 Qualidade do laço emocional (pai e mãe);

H3.3 Ansiedade de separação e dependência

H3. Espera-se que as dimensões da vinculação ansiedade e evitamento expliquem parte significativa da variância nas estratégias de coping;

H4. Espera-se que as dimensões de vinculação ao pai e à mãe, inibição da exploração e individualidade, qualidade do laço emocional e ansiedade de separação e dependência, expliquem parte significativa da variância nas estratégias de coping.

III. Metodologia

1. Participantes

No total, 244 pessoas iniciaram resposta ao conjunto de questionários. Porém, uma média de 223 pessoas responderam aos dados sociodemográficos (Anexo 2), 173 responderam ao Questionário de Estilos de Coping, 132 responderam ao Questionário de Experiências em Relações próximas e, por fim, 111 pessoas responderam ao Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe, à escala relativa à vinculação ao pai e 114 à escala relativa à vinculação à mãe. A caracterização sociodemográfica da amostra e o estudo metrológico foram realizados com base no subconjunto de respondentes de cada questionário com a maioria das respostas válidas, sendo que foram considerados pontos de corte para o número de itens respondidos necessários para que os casos sejam considerados nas análises (número máximo de respostas omissas), relativamente a cada questionário, separadamente. (CSQ, máximo de 5 itens omissos; QVPM, máximo de 4 itens omissos e ECR, máximo de 3 itens omissos).

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Assim, foram usadas amostras diferentes em cada instrumento, pois foram tidos em consideração o número de pessoas que responderam a cada questionário e não a todos em conjunto. Tendo em conta globalidade do estudo, 114 pessoas responderam a todos os instrumentos e questionário sociodemográfico.

A idade dos respondentes está compreendida entre os 17 e os 73 anos, sendo que a média é de 30 anos (DP=11). A mediana da amostra é 25 e a moda é 22, o que indica uma assimetria positiva da distribuição das idades (SK= 1.585; erro padrão=0.165), com uma maior incidência de pessoas jovens na amostra. A amostra é maioritariamente constituída por mulheres (70,1%; N=171), sendo que grande parte dela possui um nível académico elevado, com Licenciatura (45,1%; N=110). Relativamente ao estado civil, 170 pessoas são solteiras (69,7%). Quanto à ocupação profissional, verificou-se que a amostra é maioritariamente constituída por indivíduos especialistas das atividades intelectuais e científicas (20,1%; N=49) e por técnicos e profissões de nível intermédio (19,3%; N=47). Relativamente ao agregado familiar durante a infância, 65,6% dos respondentes viveram com o pai e mãe (N=160), sendo que apenas 0,8% dos participantes viveram apenas com o pai (N=2). Quanto ao agregado familiar atual, 28,7% dos participantes vivem com os pais (N=70) e 20,5% vivem com cônjuge (N=50).

2. Instrumentos

2.1 Questionário Sociodemográfico

Antes de os participantes do estudo iniciarem o preenchimento dos questionários, foi-lhes pedido que respondessem a um pequeno questionário sociodemográfico com o intuito de serem recolhidas informações relevantes em função dos objetivos do estudo. Foi pedido aos participantes que indicassem o género, a idade, o nível de escolaridade, o estado civil, o agregado familiar atual e durante a infância e adolescência e ainda a ocupação profissional. Pretende-se compreender se estes dados estão correlacionados de alguma forma com as variáveis do estudo.

2.2 Coping Styles Questionnaire 3 (CSQ-3, Roger, Jarvis & Najarian, 1993)

O Coping Styles Questionnaire (Questionários de Estilos de Coping), foi desenvolvido por Roger, Jarvis e Najarian (1993). Esta escala fornece uma medida das estratégias de coping habitualmente utilizadas pelos indivíduos quando se encontram perante uma situação percebida como

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excedendo os seus recursos para lidar com a mesma. Neste questionário é pedido aos participantes que refiram o modo com habitualmente reagem a situações de stress. Esta escala tem como base a abordagem disposicional do coping, que afirma que traços de personalidade predispõem os indivíduos a reagir de forma semelhante, quando se deparam com stressores (Dinis, Pinto Gouveia & Duarte, 2011). A versão mais recente da escala (CSQ-3) é composta por 41 itens, que avaliam quatro estratégias de coping: racional, emocional, evitamento e desligado/distanciado. A tradução desta escala para português e a consequente aferição para a população portuguesa foi efetuada por Dinis, Pinto Gouveia e Duarte (2011). Nesta versão, foram eliminados vários itens, sendo que a escala adaptada final possui 28 itens. Este instrumento inclui 4 subescalas correspondentes a cada estratégia de coping. Os participantes respondem usando uma escala de Likert de 4 pontos, que vai de “sempre” a “nunca”. A escala original apresenta características psicométricas robustas, tais como medidas de consistência interna superiores a .70, exceptuando para o factor coping evitante, cuja consistência interna é de .69. A versão traduzida da escala apresenta também valores de consistência interna elevados, exceptuando o fator desligado/distanciado, que apresentou um valor de .69 (Dinis, Pinto Gouveia & Duarte 2011).

Esta escala, no presente estudo, permitirá avaliar a tendência dos participantes para utilizar determinadas estratégias de coping, em determinada situação. Esta escala foi escolhida para que, de seguida, seja possível averiguar se esta tendência de evocabilidade de determinada estratégia resulta das experiencias precoces e estilos de vinculação, avaliadas pelas escalas a seguir descritas.

2.3 Experience In Close Relationships (ECR, Brennan, Clark & Shaver, 1998)

A escala Experiência em Relações Próximas foi desenvolvida por Brennan, Clark e Shaver (1998) e permite avaliar a vinculação em relações próximas, na idade adulta. Esta escala tem como base as duas dimensões propostas por Brennan e colaboradores (1998): o evitamento de proximidade e a ansiedade relativamente ao abandono. Esta é uma medida de self-report com uma escala de Likert de 7 pontos, composta por 36 itens. O inventário apresenta qualidades psicométricas elevadas para ambas as dimensões (superiores a .90). A versão portuguesa da escala foi desenvolvida por Paiva e Figueiredo (2010) e foi administrada a uma amostra de 551 estudantes universitários, revelando valores de consistência interna elevados para ambas as dimensões (superiores a .80). Esta é composta por 34 itens e os participantes têm de responder usando uma escala de Likert de 7 pontos, sendo que 1 corresponde a “discordo fortemente” e 7 a “concordo fortemente”.

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Este inventário é bastante relevante para a presente investigação, pois torna possível aferir o estilo de vinculação no adulto relativamente a relações amorosas. As relações próximas constituem uma fonte de apoio em situações de stress, sendo que a percepção de apoio pode ser condicionada pelo estilo de vinculação do sujeito, determinando a forma como este lida com situações stressantes (Zeidner & Endler, 1996).

2.4 Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe (QVPM, Matos & Costa, 2011)

O Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe constitui um instrumento de self-report que pretende avaliar as representações de vinculação na relação com as figuras parentais. Este foi desenvolvido por Matos e Costa (2001), para a população portuguesa. Este questionário possui três dimensões subjacentes, cada uma com 10 itens. A dimensão Inibição da exploração e individualidade (IEI) visa avaliar a percepção a restrições à expressão da individualidade própria. A dimensão Qualidade do laço emocional (QLE) avalia a importância da figura parental enquanto figura de vinculação, sendo que esta é percebida pelo indivíduo como única e fundamental para o seu desenvolvimento, a quem recorrerá em situações de dificuldade e com quem pretende uma relação duradoura (Dias, 2015). Por fim, a dimensão Ansiedade de separação e dependência (ASD), avalia a percepção de experiências de ansiedade e medo de separação da figura parental de vinculação, podendo revelar uma relação de dependência. O questionário possui duas colunas que pretendem avaliar a vinculação ao pai e à mãe separadamente, numa escala de Likert de 6 pontos em que 1 corresponde a “discordo totalmente” e 6 a “concordo totalmente”. A escala apresenta medidas de consistência interna elevadas para as 3 dimensões que se pretende avaliar na escala, tanto para o pai como para mãe (superiores a .70), indicando ser uma medida fiável de vinculação (Gouveia & Matos, 2011).

A razão pela qual esta escala foi escolhida prende-se com a necessidade de compreender o impacto das relações precoces no estilo de vinculação no adulto, visto que este condiciona os modelos de funcionamento interno, que por sua vez terão impacto na forma como o individuo lida com o stress (Mikulincer & Shaver, 2007).

3. Procedimentos

Foi pedido a indivíduos com idades superiores a 18 anos que preenchessem o conjunto de questionários acima mencionados, sendo que antes disso teriam que ler e concordar com o

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consentimento informado (anexo 1), onde eram descritos os objetivos do estudo, assegurada a confidencialidade e anonimato dos participantes e dados fornecidos e ainda disponibilizado um email caso estes pretendam ter acesso aos resultados do estudo. Os indivíduos participaram no estudo preenchendo os questionários online, através da plataforma Qualtrics. A investigação foi divulgada através das redes sociais, sendo a amostra recolhida através do método de propagação geométrica. Os sujeitos que participaram no estudo demoraram, em média, 15 a 20 minutos a concluírem as tarefas solicitadas.

4. Métodos de Análise Estatística

Os dados dos participantes foram importados da plataforma Qualtrics e analisados no programa informático Statistical Package for Social Sciences (IBM, SPSS Statistics), versão 23 (2014). Para a análise descritiva da amostra, foram realizadas medidas de tendência central e de dispersão. Na análise da consistência interna das escalas e subescalas utilizadas neste estudo, recorreu-se ao cálculo dos alfa de Cronbach (Dias, 2015). Para analisar a estrutura fatorial dos instrumentos, foi utilizada a análise em componentes principais, sendo que para todos instrumentos, recorreu-se à rotação ortogonal Varimax.. Foram obtidas estruturas fatoriais diferentes das originais. Assim, tomou-se a decisão de manter no presente estudo a estrutura fatorial original dos instrumentos, atendendo à fraca representatividade populacional da amostra. Foram também realizadas as estatísticas descritivas para cada instrumento, tendo sido utilizadas medidas de tendência central e dispersão. Os valores de assimetria e achatamento demonstraram que, em diversas variáveis, a amostra não apresenta uma distribuição normal. Porém, tendo em conta que a dimensão da amostra é superior a 60 indivíduos, considerou-se legítimo invocar o Teorema do Limite Central (Maroco, 2011). Assim, foram usadas técnicas de estatística paramétrica no tratamento dos dados.

Para testar as hipóteses de investigação, foi realizada uma série de MANOVA. Antes de se efetuarem as análises, foram averiguados os pressupostos para a realização das mesmas. Foi também realizado o teste de Kolmogorov-Smirnov, e verificou-se que os resultados de algumas variáveis não apresentam uma distribuição normal. No entanto, o teste de homogeneidade de Box indicou que existe homogeneidade de covariância, sendo permitida a utilização de métodos estatísticos paramétricos (Maroco, 2011). Recorreu-se às análises de qui-quadrado para amostras independentes para estudar o efeito do sexo nos estilos de vinculação. Para este teste, foram validadas as condições de aproximação da distribuição do teste à distribuição do qui-quadrado. (Maroco, 2011). Para avaliar se existe relação entre as dimensões da vinculação ao pai e à mãe e

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estratégias de coping, recorreu-se ao coeficiente de Pearson através de uma correlação bivariada. Finalmente, para se averiguar se as variáveis independentes sexo, dimensões de vinculação e dimensões de vinculação ao pai e à mãe explicam a variância nas estratégias de coping, foram realizadas análises de regressões múltiplas (standard) e regressões múltiplas hierárquicas.

IV. Análise e Discussão de Resultados

1. Análise Metrológica dos instrumentos 1.1. Questionário dos Estilos de Coping (CSQ)

1.1.1. Análise fatorial

Foi realizada uma análise fatorial exploratória (Anexo 3), sendo que a extração de fatores foi feita através do método de componentes principais seguida de uma rotação Varimax, com o intuito de maximizar as cargas fatoriais. Foi considerado como critério de retenção dos fatores os seus eigenvalues serem iguais ou superiores a 1. A validade da análise fatorial foi avaliada através do critério Kaiser-Meyer-Olkin (KMO= .783) e do teste de esfericidade de Bartlett (p=.000). Assim, foi realizada uma rotação com o número fixo de quatro fatores. Estes quatro fatores explicam 40,91% da variância total da escala. Foi possível constatar algumas diferenças nas cargas fatoriais dos itens, em comparação com o estudo de Dinis, Gouveia e Duarte (2011), indicando que os fatores não mantiveram a posição na estrutura inicial.

1.1.2. Análise da consistência interna

Foi verificada a consistência interna das quatro subescalas que constituem o instrumento. Foram observados valores relativamente fracos, exceptuando na dimensão Racional (α=.810) e Emocional (α=.764), que apresentam, respetivamente, um valor bom e razoável. As restantes dimensões apresentam os seguintes valores de alfa: Evitante (α=.618) e Desligado (α=.638).

Em comparação com o estudo de validação da versão portuguesa do instrumento, o presente estudo apresenta um valor superior de consistência na dimensão racional. Porém, as dimensões Evitante e Desligado apresentam valores mais baixos, em comparação com o estudo de validação da escala. Apesar disto, ambas as dimensões apresentam valores inferiores aos das restantes dimensões (Anexo 4).

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1.1.3. Estatística descritiva

Este questionário é respondido numa escala de Likert de 1 a 4, em que 1 corresponde a “sempre” e 4 corresponde a “nunca”, como observado nos valores mínimos e máximos apresentados em anexo (Anexo 5). A média de respostas tanto no total da escala, como nas subescalas, encontra-se no intervalo entre dois e três (corresponde às respostas “frequentemente” e “algumas vezes”), indicando que a maioria das respostas se encontra no ponto intermédio da escala. Os desvios-padrão tanto da escala como das subescalas são baixos (entre .2 e .5). Os valores da mediana também se encontram no ponto intermédio de respostas. Quanto à assimetria, os resultados apresentam valores aproximadamente (subescalas evitamento e distanciado/desligado) e moderadamente (escala total, e subescalas racional e emocional) simétricos. No entanto, os valores de achatamento apresentam-se leptocúrticos (total da escala) e platicúrticos (todas as subescalas), indicando que a amostra não segue uma distribuição normal (Anexo 5).

1.2 Experiência em Relações Próximas (ECR) 1.2.1 Análise fatorial

 

Começou por se verificar a adequação do método de análise em componentes principais, apurando os valores do índice Kaiser-Meyer-Olkin (KMO=.794) e o teste de esfericidade de Bartlett (p=.000), os quais confirmam a adequação do método escolhido. Foi definido um número fixo de dois factores, tal como na estrutura original. Os dois fatores em conjunto explicam 38,52% da variância do instrumento. De seguida, pelo facto de a literatura indicar que existe correlação significativa entre os dois fatores (Paiva & Figueiredo, 2010), foi utilizada uma rotação oblimin. A solução após rotação oblíqua apresenta uma estrutura concisa, sendo que a maioria dos itens apresentam uma alta carga fatorial para um dos componentes. Porém, os dois fatores não possuem uma correlação forte entre si, sendo este valor de apenas .005, o que indica que as duas dimensões são, nesta amostra, ortogonais. É apresentada em anexo a estrutura fatorial do instrumento com rotação Varimax (Anexo 3).

Apesar de a estrutura fatorial se apresentar próxima da original, é possível assinalar algumas diferenças. Os itens 4, 26 e 22 apresentaram maior saturação no fator 1 (evitamento). Na versão traduzida do instrumento, estes itens apresentam-se mais saturados no fator 2 (ansiedade).

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1.2.2 Análise da consistência interna

Foi realizada a análise da consistência interna das subescalas deste instrumento, sendo que ambas as subescalas apresentam valores altos de consistência interna, valores também observados no estudo de validação do instrumento para a população portuguesa (Anexo 4). A subescala evitamento apresenta um valor de α=.91 e a subescala ansiedade apresenta um valor de α=.87.

1.2.3 Estatística descritiva

Foi realizada a estatística descritiva da totalidade do instrumento e das suas subescalas. O número de respostas, as médias, medianas e desvios-padrão, as assimetrias e achatamentos e ainda valores mínimos e máximos para a totalidade do instrumento e para as duas subescalas são apresentados em anexo (Anexo 5).

Os valores mínimos e máximos de resposta indicam que, relativamente às subescalas, a maioria dos participantes respondeu 5 ou 6, sendo que o valor máximo da escala de Likert é 7. Os valores da média da escala total e da subescala ansiedade indicam que a maioria das respostas foram entre os valores 2 e 4 (encontram-se entre “discordo” e “neutro/misto”). Os valores da mediana são semelhantes aos da média, sendo que a subescala evitamento possui valores inferiores aos referidos anteriormente, tanto na média como na mediana. O desvio-padrão possui valores próximos, porém, inferiores a 1, o que revela homogeneidade das respostas. A escala total apresenta-se bastante assimétrica e leptocúrtica. Porém, as subescalas evitamento e ansiedade apresentam valores inferiores de assimetria, sendo que a dimensão ansiedade apresenta-se aproximadamente assimétrica. Os valores obtidos no achatamento (relativamente às dimensões) também indicam que a amostra não segue uma distribuição normal, sendo platicúrtica (Anexo 5).

1.3 Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe 1.3.1 Análise fatorial

Foi feita uma análise fatorial exploratória sobre a matriz de correlações da escala do pai e da mãe (Anexo 3). Foi utilizado o método de componentes principais, seguido de uma rotação ortogonal Varimax, que implica a não correlação entre componentes. Foram tidos em consideração os critérios de adequação do método, sendo que tanto a medida KMO (pai: .893; mãe: .873 ), como o teste de esfericidade de Bartlett (p=.000) comprovaram a adequação do método escolhido para as escalas do

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pai e da mãe. Foi estabelecido o número fixo de três fatores a extrair, de forma a replicar o estudo original.

Relativamente à escala do pai, o conjunto dos três fatores explica 55,07% da variância total. Quanto à escala da mãe, os três fatores explicam 54,06% da variância total. A estrutura fatorial da escala do pai apresenta-se bastante semelhante à original, com a excepção de dois itens: o item 8, que originalmente pertence à escala Qualidade do Laço Emocional, e que apresenta agora maior saturação na escala Ansiedade de Separação e Dependência; e o item 30 possui a mesma carga fatorial para as escalas Qualidade do Laço Emocional e Ansiedade de Separação e Dependência. Apesar disto, os resultados da análise fatorial apresentam-se bastante semelhantes aos originais. A estrutura fatorial da escala da mãe é idêntica à da escala original.

1.3.2 Análise da Consistência interna

Foi realizada a análise da consistência interna para as três subescalas, separadamente para o pai e para a mãe (Anexo 4).

Todas as subescalas obtiveram valores de consistência interna elevados para o pai e para a mãe. Os valores obtidos foram os seguintes: Inibição da Exploração e Individualidade para o pai (α= .89) e para a mãe (α= .89); Qualidade do Laço Emocional para o pai e para a mãe (α= .92); e Ansiedade de Separação e Dependência para o pai (α=.86) e para a mãe (α= .84). Estes resultados revelam que este questionário apresenta medidas fidedignas. Estes valores são congruentes com os resultados de outros estudos em que este questionário foi utilizado na população adulta, nos quais também foram obtidos níveis de consistência interna elevados.

1.3.3 Estatística descritiva

Foram realizadas as estatísticas descritivas para o questionário de vinculação ao pai e à mãe, separadamente (tabela apresentada no Anexo 5).

As respostas ao instrumento encontram-se no intervalo entre 1 e 6 (“Discordo Totalmente” e “Concordo Totalmente”, respetivamente), tendo em conta os valores mínimos e máximos. A média de respostas encontra-se no intervalo entre 2 e 4, excepto na subescala de Qualidade do Laço Emocional, referente à vinculação à mãe. A mediana apresenta valores aproximados aos da média, sendo que a subescala Qualidade do Laço Emocional possui valores superiores às restantes subescalas relativamente à vinculação ao pai e à mãe. Os valores de desvio-padrão, excepto no total

Referências

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