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Possibilidade de recurso da acusação diante de absolvição do Conselho de Sentença: Duplo Grau de Jurisdição e Soberania dos Veredictos

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JOYCE DE SOUZA

POSSIBILIDADE DE RECURSO DE ACUSAÇÃO DIANTE DE ABSOLVIÇÃO DO CONSELHO DE SENTENÇA:

DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO E SOBERANIA DOS VEREDICTOS

Tubarão 2020

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JOYCE DE SOUZA

POSSIBILIDADE DE RECURSO DA ACUSAÇÃO DIANTE DE ABSOLVIÇÃO DO CONSELHO DE SENTENÇA:

DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO E SOBERANIA DOS VEREDICTOS

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Linha de pesquisa: Justiça e Sociedade

Orientador: Prof. Mateus Medeiros Nunes, Esp.

Tubarão 2020

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Dedico esta monografia a todos os meus colegas de curso, grandes companheiros de jornada. Em especial as minhas grandes parceiras de vida: Luana e Natália, pelo excepcional apoio e incentivo, sem vocês os semestres não teriam sido tão incríveis.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ter me fortalecido ao ponto de superar as dificuldades, erguer a cabeça e me manter focada nos objetivos.

Ao meu eterno grupo de trabalho: Luana e Natália Hellen, a companhia de vocês foi essencial para a realização desse TCC. Muito obrigada a cada uma de vocês, por terem tornado meus dias especiais, seja dentro ou fora da UNISUL.

A todas as pessoas que fizeram parte disso, a minhas amigas Lara, Karoline, Luiza e em especial a Janaina que “manja dos paranauê” e me deu várias dicas para tornar esse trabalho menos árduo. Aos professores que nos inspiram e fazem tudo isso valer à pena.

E por fim, ao meu orientador, que além de muita ajuda com materiais, investiu seu excedente cognitivo no compartilhamento pela Internet de diversos memes e piadas absurdas que me motivaram nesse trabalho, muito obrigada pelos risos enquanto eu estava desesperada com tudo isso.

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“Todos têm direito de se enganar nas suas opiniões. Mas ninguém tem o direito de se enganar nos fatos.” (Bernard Baruch)

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RESUMO

O objetivo principal deste trabalho foi analisar a possibilidade de recurso da acusação diante de absolvição do conselho de sentença, sob o viés do princípio do duplo grau de jurisdição e o princípio da soberania dos veredictos. Quanto ao delineamento metodológico, empregou-se quanto ao nível de profundidade, pesquisa exploratória, enquanto a coleta de dados deu-se através dos métodos bibliográfico e documental. Inicialmente será apresentado o nascimento e a evolução do Tribunal do Júri no Brasil, além de demonstrar, objetivamente, o nascimento da soberania neste instituto. Em seguida será apresentado o conceito de princípio, a sua hierarquização, bem como o conflito existente entre o princípio da soberania dos veredictos do Tribunal do Júri e o princípio do duplo grau de jurisdição. Por fim, será analisado se a soberania do Tribunal do Júri é respeitada diante das anulações das suas decisões por estarem contrárias às provas dos autos. Os resultados obtidos a partir das análises jurisprudenciais e doutrinárias feitas acerca do tema apontam que não é possível recurso da acusação com fundamento em decisões por estarem contrárias às provas dos autos.

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ABSTRACT

The main objective of this assignment was to analyze the possibility of appealing the indictment in the event of the acquittal of the sentence council, under the bias of the principle of double degree of jurisdiction and the principle of sovereignty of the verdicts. As for the methodological outline, it was exerted for the level of depth, exploratory research, while the data collection was done through bibliographic and documentary methods. Initially, the birth and evolution of the Jury Tribunal in Brazil will be presented, in addition to objectively demonstrating the birth of sovereignty in this institute. Next, the concept of principle, it’s hierarchy, as well as the conflict between the principle of sovereignty of the Jury's verdicts and the principle of double jurisdiction will be presented. Finally, it will be analyzed whether the sovereignty of the Jury Tribunal is respected in the face of the annulment of its decisions as they are contrary to the evidence in the file. The results obtained from the jurisprudential and doctrinal analyzes carried out on the subject point out that it is not possible to appeal the accusation based on decisions because they are contrary to the evidence in the case file.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 9

1.1 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA ... 9

1.2 FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA ... 13

1.3 JUSTIFICATIVA ... 13

1.4 OBJETIVOS ... 14

1.4.1 Geral ... 14

1.4.2 Específicos ... 15

1.5 DELINEAMENTO DA PESQUISA ... 15

1.6 ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS ... 15

2 PRINCÍPIOS RECURSAIS ... 17

2.1 PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA ... 18

2.2 PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO ... 19

2.3 REFORMATIO IN PEJUS ... 21

2.4 REFORMATIO IN MELIUS ... 22

3 TRIBUNAL DO JÚRI ... 24

3.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TRIBUNAL DO JÚRI NO BRASIL ... 24

3.2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO JURI ... 26

3.2.1 Plenitude de defesa ... 26

3.2.2 Sigilo das votações ... 27

3.2.3 Soberania dos veredictos ... 28

3.3 SENTENÇA PROFERIDA EM PLENÁRIO ... 30

3.4 RECURSO CONTRA SENTENÇA DO JÚRI ... 31

3.4.1 Noções gerais de recurso contra sentença do Júri ... 32

3.4.2 Hipóteses de cabimento ... 33

3.4.3 Prazo e competência para julgar ... 35

3.4.4 Atuação do Tribunal no julgamento da apelação ... 36

4 A POSSIBILIDADE DE RECURSO DA ACUSAÇÃO DIANTE DA ABSOLVIÇÃO DO CONSELHO DE SENTENÇA ... 38

5 CONCLUSÃO ... 44

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como base o tribunal do júri, o qual é um dos mais antigos órgãos de julgamento do mundo, que mesmo dentre suas várias alterações com o decorrer do tempo continua até os dias atuais.

A Constituição Federal atual, outorgada em 1988, dispõe o júri no artigo 5º, inciso XXXVIII, com competência para julgar os crimes dolosos contra a vida, tendo como princípios norteadores: a plenitude de defesa, o sigilo das votações e a soberania dos veredictos.

Porém, além destes princípios taxativos, o Tribunal do Júri também é coberto por todos os princípios inerentes ao direito penal e processual penal, como o duplo grau de jurisdição, que oferece às decisões do júri o direito de apelação, possibilitando recurso por estar a decisão do Conselho de Sentença contrário às provas dos autos.

As anulações de decisão do Tribunal do Júri com base nesse argumento limita a eficácia constitucional que dispõe sobre a soberania dos seus veredictos. No recurso questionado, o tribunal superior ao acolher a tese de que as provas são contrárias às provas dos autos não absolve ou condena o acusado, mas sim determina que o réu seja submetido a novo julgamento.

Manter e consequentemente preservar a soberania dos veredictos, em tese, é dizer que o magistrado não pode alterar o mérito das decisões, porém, anular uma decisão não modificaria esse mérito?

O presente trabalho tem por finalidade verificar a possibilidade de recurso da acusação diante de absolvição do conselho de sentença, sob o viés do princípio do duplo grau de jurisdição e o princípio da soberania dos veredictos.

1.1 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA

O reconhecimento da instituição do Tribunal do Júri, bem como seus princípios reguladores, sendo: a competência para julgamento dos crimes dolosos contra a vida; sigilo das votações; plenitude de defesa e a soberania dos vereditos estão dispostas na Constituição da República Federativa do Brasil no seu art. 5°, inciso XXXVIII.

Leal (2003, p. 50), aduz sobre a importância dos princípios, para a correta interpretação do sistema jurídico:

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Os princípios são os elementos que expressam os fins, que devem ser perseguidos pelo Estado (em sua acepção mais ampla), vinculando a todos os entes e valendo como um impositivo para o presente e como um projeto para o futuro que se renova cotidianamente, constituindo-se numa eterna construção da humanidade.

No Brasil, os princípios contidos na Constituição Federal são ainda mais relevantes e essenciais, pois são utilizados de base para todas as decisões do legislador.

Nas palavras de Nucci (2012, p. 27, grifo do autor):

Portanto, quando mencionamos um princípio constitucional, referimo-nos à base do sistema legislativo como um todo, ao menos no que se refere às normas infraconstitucionais. O princípio constitucional há de ser respeitado como o elemento irradiador, que imanta todo o ordenamento jurídico.

Entretanto, embora taxativos os princípios, a referida instituição está abrigada pelos princípios concernentes a matéria processual penal, como é o caso do duplo grau de jurisdição, o qual estende e permite que das decisões do conselho de sentença possa ocorrer o direito ao recurso de apelação, diante de decisões do júri quando estas se mostrarem diametralmente opostas às provas dos autos.

Acerca da soberania dos veredictos do Tribunal do Júri no Brasil, Ansanelli Júnior (2005, p. 72) alude:

No Brasil, a soberania quase sempre acompanhou o Tribunal do Júri. Como já colocado, desde o seu nascimento até a edição do Decreto-Lei n. 167, de 05 de janeiro de 1938, as decisões do Tribunal Popular se caracterizavam pela soberania dos veredictos. A Constituição de 1946 incluiu a soberania dos veredictos no próprio texto constitucional. A Constituição outorgada através do Ato Institucional n. 1/69 não a mencionou expressamente, mas continuou se entendendo que a soberania dos veredictos continuava a existir, por ser princípio implícito. A Constituição de 1988 voltou a mencioná-la expressamente.

É notório a limitação do texto constitucional que assegura a soberania dos veredictos, pois, conforme supracitado, existem possibilidades de anulação do Tribunal do Júri, se fazendo existir divergências doutrinárias sobre a eficácia “plena ou não” da referida instituição.

A soberania das decisões para alguns doutrinadores continua sendo respeitada quando, o tribunal superior anula (em grau de recurso) o julgamento em razão de decisão contrária à prova dos autos, encaminhando então a decisão para outro Conselho de Sentença, o que para eles, não se faria ocorrer à alteração do mérito desta decisão.

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O termo soberania não pode ter seu sentido buscado em esclarecimentos vagos de dicionários ou filosóficos de Direito Constitucional, mas sim na sua acepção técnico-processual, qual seja, da impossibilidade de um tribunal togado substituir ou alterar no mérito um veredicto popular. Afinal, não teria sentido algum cruzar os braços frente a uma condenação ou absolvição escandalosas, que representassem uma encarnação da imoralidade.

Nos mesmos termos, em relação ao mérito das decisões, Nucci (2012, p. 34) aduz:

Não é possível que, sob qualquer pretexto, cortes togadas invadam o mérito do veredito, substituindo-o. Quando - e se – houver erro judiciário, basta remeter o caso a novo julgamento pelo Tribunal Popular. Porém, em hipótese alguma, pode-se invalidar o veredicto, proferindo outro, quanto ao mérito.

Verifica-se que nesta forma a concepção adotada é que a soberania seria respeitada somente a partir do momento que não apresentasse a intenção de se modificar o mérito das decisões, havendo então respeito aos princípios, já que o mérito não seria modificado, e sim anulado, se tornando uma espécie de relativização do princípio.

Almeida (2005, p. 55, grifo do autor), aduz:

A semântica lógica ensina que, quando se redige, a redação exprime a vontade de quem escreve (sobretudo quando sabe escrever), e é estranha a conclusão de relatividade soberana do Júri onde ela textualmente inexiste, porque textualmente, na atual Constituição, nunca foi comandada para existir. Não é, pois, regra para o emprego exclusivo do substantivo feminino a ele referir-se o legislador se na verdade pretendia sua relatividade. Aludir à soberania, que não é soberana, mas relativa, parece (longe de qualquer intenção descortês) denunciar pouca habilidade legislativa e gramatical do constituinte, senão uma insistência exegética conservadora, e em hora de reavaliação pelo intérprete moderno, que de fato, em sede de domínio pragmático, sobrepõe a subconstitucionalidade (norma inferior do

art. 593, III, d, CPP) à constitucionalidade pétrea (normas superiores dos arts. 5°, XXXVIII, c e 60, § 4°, IV, CF), num manuseio jurídico axiológica e cientificamente

menos saudável para os direitos e garantias fundamentais.

Entretanto, há diversos posicionamentos, que entendem que da decisão dos jurados, embora anuladas e remetidas a novo julgamento ao Tribunal do Júri, estariam contraditando as disposições legais do legislador contidas na Constituição Federativa do Brasil, a qual seria a soberania dos veredictos.

D’Angelo e D’Angelo (2005, p. 138) afirmam que “a soberania insculpida no inciso XXXVIII do artigo 5° da Constituição Federal de 1988, a nosso ver, tem um caráter absoluto, isto é, não deve se submeter a nenhum outro crivo que não dele próprio”.

A questão no que concerne o Tribunal de Júri é o conflito entre dois princípios constitucionais: a soberania dos veredictos e o duplo grau de jurisdição, nitidamente opostos,

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haja vista que uma decisão teoricamente soberana não poderia estar à apreciação de nova decisão.

É perceptível a grande discussão sobre a interpretação do princípio do veredicto do Tribunal do Júri em ser absoluto ou relativo, porém, tal soberania procede desde sua instituição, sem conter nenhuma espécie de retificação, o que corrobora a vontade expressa do legislador no que se condiz à necessidade de uma interpretação estrita.

O Supremo Tribunal Federal, acerca do conflito existente entre esses dois princípios, assim já decidiu:

HABEAS CORPUS. CRIME DOLOSO CONTRA A VIDA. TRIBUNAL DO JÚRI. SOBERANIA DO VEREDITO. APELAÇÃO. DECISÃO CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS. ORDEM DENEGADA. 1. A pretensão revisional das decisões do Tribunal do Júri não conflita com a regra de soberania do veredito (inciso LXVIII do art. 5º da Constituição Federal). Regra compatível com a garantia constitucional do processo que atende pelo nome de duplo grau de jurisdição. Garantia que tem a sua primeira manifestação no inciso LV do art. 5º da CF, in

verbis: "aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em

geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes". Precedentes. 38 2. No caso, o acolhimento da pretensão do impetrante implicaria o revolvimento e a valoração do conjunto fático-probatório.3. Ordem denegada. (BRASIL, 2008, grifo do autor)

Para corroborar, o voto condutor do Ministro Joel Paciornik no HC 313.251 do Superior Tribunal de Justiça:

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO. DESCABIMENTO. HOMICÍDIO QUALIFICADO. TRIBUNAL DO JÚRI. ABSOLVIÇÃO. APELAÇÃO DA ACUSAÇÃO PROVIDA. ART. 593, III, D, DO CPP. SUBMISSÃO DO RÉU A NOVO JULGAMENTO.O JUÍZO ABSOLUTÓRIO PREVISTO NO ART. 483, III, DO CPP NÃO É ABSOLUTO.POSSIBILIDADE DE CASSAÇÃO PELO TRIBUNAL DE APELAÇÃO. EXIGÊNCIA DA DEMONSTRAÇÃO CONCRETA DE DECISÃO MANIFESTAMENTE CONTRÁRIA ÀS PROVAS. SOBERANIA DOS VEREDICTOS PRESERVADA. DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO. MANIFESTA CONTRARIEDADE À PROVA DOS AUTOS RECONHECIDA PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. REVISÃO QUE DEMANDA REVOLVIMENTO DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE EM HABEAS CORPUS. PRECEDENTES. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO VERIFICADO. WRIT NÃO CONHECIDO.

[...]

3. A absolvição do réu pelos jurados, com base no art. 483, III, do CPP, ainda que por clemência, não constitui decisão absoluta e irrevogável, podendo o Tribunal cassar tal decisão quando ficar demonstrada a total dissociação da conclusão dos jurados com as provas apresentadas em plenário. Assim, resta plenamente possível o controle excepcional da decisão absolutória do Júri, com o fim de evitar arbitrariedades e em observância ao duplo grau de jurisdição. [...] (BRASIL, 2017, grifo do autor).

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A fragilidade da instituição do Júri dá-se pela soberania dos veredictos, se tem caráter absoluto ou não, e em outro, pela previsão do quesito genérico disposto no art. 483, III do CPP, que prevê a decisão do Conselho de Sentença por íntima convicção, ou seja, a possibilidade deixada pelo legislador de que mesmo que se tenha a autoria e materialidade do delito, bem como desvinculados da tese da defesa, os jurados podem decidir por íntima convicção, de que o acusado deva ser absolvido.

Por fim, não há previsão de questionamento sobre as razões da decisão, isto é, o segundo grau (inclusive o STJ), poderia impossibilitar a absolvição por clemência? Não há quesitação sobre estes fatos, e nem mesmo justificativa para tal ato. Por que a absolvição deve estar fundada nas provas presente nos autos se o legislador apenas dispõe “por íntima convicção”? Como é possível existir a possibilidade de absolvição contrária à prova dos autos se o único quesito exigido é “se o réu deve ser absolvido”?

A inserção do quesito genérico foi feita para favorecer o réu, tanto que o legislador dispõe no art. 483, § 2º, do CPP, que sendo respondidos afirmativamente os quesitos materialidade e autoria, os jurados serão questionados sobre a possibilidade de absolvição.

Com isso, devido a grande relevância da pesquisa, e ainda, sua atualidade e repercussão na vida dos condenados, diante de possível submissão a novo Júri, em caso acolhido o recurso, de forma a piorar a situação do réu, tornando-se, portanto, imprescindível o estudo e análise com base nos princípios, evolução história e entendimentos recentes dos Tribunais Superiores pátrios, determinando as possíveis problemáticas comportadas por tal solução.

1.2 FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA

É possível recurso da acusação diante da absolvição do Conselho de Sentença?

1.3 JUSTIFICATIVA

O interesse imediato pelo tema surgiu durante o acompanhamento a uma sessão do Tribunal do Júri, quando teve-se o conhecimento sobre a soberania dos veredictos do Conselho de Sentença, pois, embora haja a possibilidade de recurso da defesa diante da sentença absolutória do Júri, este fato gerou-me diversos questionamentos, principalmente em relação ao possível conflito entre o princípio do duplo grau de jurisdição e o princípio da soberania dos veredictos, assim como a possibilidade de nova submissão a outro júri poderia

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gerar a condenação do réu anteriormente absolvido, o que poderia inclusive ir contra o in

dubio pro reo, fato que também justifica a realização deste projeto, na medida que servirá

como mais uma fonte de pesquisa e de conhecimento para os estudantes de forma geral acerca do tema.

A proximidade com o Direito Penal deu-se através de um estágio não obrigatório na Delegacia de Polícia do Município de Treze de Maio/SC, onde tive contato e até mesmo auxiliei no desenvolvimento de diversos procedimentos, os quais posteriormente foram encaminhados ao Tribunal do Júri.

Ademais, nas pesquisas científicas acerca do tema efetuadas nas bases de dados da SCIELO, BDTD, CAPES e no repositório de monografias da UNISUL, não foram encontrados trabalhos contendo a análise da possibilidade de recurso da defesa sob viés dos princípios do duplo grau de jurisdição e o princípio da soberania dos veredictos, sendo encontrado somente no RIUNI, uma monografia realizada por Rodrigues (2012), com o título: “O respeito à soberania dos veredictos do tribunal do júri”. Observa-se, portanto, que não há pesquisas que voltem-se especificamente à analise do posicionamento dos Tribunais Superiores pátrios no que concerne à possibilidade de recurso da defesa diante da sentença absolutória do Conselho de Sentença.

Desta forma, justifica-se esse projeto em função da relevância para o meio acadêmico e profissional, uma vez que possibilitará conhecer o posicionamento e os argumentos utilizados atualmente pelos Tribunais acerca da possibilidade de recurso da defesa.

Para a comunidade o projeto torna-se também importante, pois, quaisquer pessoas, principalmente as que irão ser submetidas ao Tribunal do Júri, poderão, pelo menos alguma vez, passarem pela situação onde mesmo absolvidos pelo Conselho de Sentença, ocorra um recurso da defesa com fundamento no art.593, III, alínea “d”, do CPP, bem como, o conhecimento em si sobre o instituto do Tribunal do Júri é enriquecedor, pois, irá ser possível saber as prováveis consequências de tal recurso se provido.

1.4 OBJETIVOS

1.4.1 Geral

Analisar a possibilidade de recurso de acusação diante de absolvição do Conselho de Sentença, sob viés do princípio da soberania dos veredictos e duplo grau de jurisdição.

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1.4.2 Específicos

Analisar a evolução história da instituição do Tribunal do Júri.

Descrever os princípios recursais da presunção de inocência e duplo grau de jurisdição.

Estudar os princípios do Tribunal do Júri.

Verificar as possibilidades de recurso no Tribunal do Júri e seu processamento. Confrontar o princípio do Duplo Grau de Jurisdição e o da Soberania dos Veredictos.

1.5 DELINEAMENTO DA PESQUISA

A pesquisa tem enfoque exploratório que segundo Cervo e Bervian (1996, p. 68) “[...] destina-se ao levantamento de material necessário para a investigação, busca definir os objetivos e maiores informações sobre o tema em questão”, e acerca da qual orientam Leonel e Motta (2007, p. 145): “As pesquisas exploratórias visam a uma familiaridade maior com o tema ou assunto da pesquisa e podem ser elaboradas tendo em vista a busca de subsídios para a formulação mais precisa de problemas ou hipóteses”. Assim, quanto ao nível a referida pesquisa faz com que possa familiarizar-se com o tema, desenvolvendo-se o assunto.

No que tange à abordagem aplicada, o estudo busca a compreensão da temática, o aprofundamento e explicação da divergência exposta, caracterizando-se, como pesquisa qualitativa que, nas palavras de Minayo (1996, p. 21 apud MOTTA et al, 2013, p. 112) “[...] trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis”.

Em relação ao procedimento aplicado para coleta de dados, classifica-se a pesquisa como bibliográfica, no qual “[...] se desenvolve tentando explicar um problema a partir das teorias publicadas em diversos tipos de fontes” (LEONEL; MOTTA, 2007, p. 112), pois fundamenta-se em estudos desenvolvidos por autores notáveis, doutrinadores, bem como, artigos científicos pertinentes ao assunto.

1.6 ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS

Esta monografia foi dividida em cinco capítulos. O primeiro capítulo tratará da introdução.

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O segundo capítulo far-se-á o estudo dos princípios recursais no Júri.

O terceiro capítulo abordará o Tribunal do Júri, sua origem histórica, sentenças, fundamento, recursos de sua decisão e competência, bem como seus princípios constitucionais.

O quarto capítulo discorrerá acerca da possibilidade de recurso da acusação diante da absolvição do conselho de sentença, momento em que se analisará entendimentos doutrinários e jurisprudenciais brasileiros sobre o tema.

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2 PRINCÍPIOS RECURSAIS

O termo princípio é dotado de uma imensa variedade de significações.

Princípio: 1. Momento ou local ou trecho em que algo tem origem [...] 2. Causa primária. 3. Elemento predominante na Constituição de um corpo orgânico. 4. Preceito, regra, lei. 5. P. ext. Base; germe [...]. 6. Filos. Fonte ou causa de uma ação. 7. Filos. Proposição que se põe no início de uma dedução, e que não é deduzida de nenhuma outra dentro do sistema considerado, sendo admitida, provisoriamente, como inquestionável. São princípios os axiomas, os postulados, os teoremas etc. (FERREIRA, 1986, p. 1.393 apud ESPÍNDOLA, 2002, p. 52)

De acordo com Silva (2004, p. 92), os princípios seriam “ordenações que se irradiam e imantam os sistemas de normas”. Ainda no conceito em torno da palavra princípio, Nucci (2012, p. 27) menciona que “é um momento em que algo tem origem, é a causa primária ou elemento predominante na constituição de um todo orgânico”.

Conforme diz Cavalcante (2008), seria depreciativo dizer que os princípios sempre tiveram importância, pois, eles já foram vistos como meras intenções metajurídicas, não tinham tanta generalidade e nem vinculavam decisões. Os princípios eram enxergados como uma mera intenção quando confrontado com as regras que definitivamente valiam.

O entendimento sobre princípio do doutrinador Delgado (2011, p. 180) nos diz “princípio traduz, de maneira geral, a noção de proposições fundamentais que se formam na consciência das pessoas e grupos sociais, a partir de certa realidade, e que, após formadas, direcionam-se à compreensão, reprodução ou recriação dessa realidade”.

Todos os operadores do direito devem fazer uso dos princípios para interpretar e aplicar da melhor forma possível as Leis ao caso concreto, pois, a harmonia da interpretação, a coesão, a lógica e uma uniformidade de entendimentos só poderão nascer depois de observados os princípios.

O Superior Tribunal Federal inclusive já declarou que se deve observar os princípios contidos Constituição, conforme voto do Ministro Celso de Mello, na PET 1458/CE:

[...] o respeito incondicional aos princípios constitucionais evidencia-se como dever inderrogável do Poder Público. A ofensa do Estado a esses valores – que desempenham, enquanto categorias fundamentais que são, um papel subordinante na própria configuração dos direitos individuais ou coletivos - introduz um perigoso fator de desequilíbrio sistêmico e rompe, por completo, a harmonia que deve presidir as relações, sempre tão estruturalmente desiguais, entre os indivíduos e o Poder [...]. (BRASIL, 1998)

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Se o ponto de partida não for os princípios, não há como se falar em interpretação do sistema jurídico, pois, embora o princípio seja fonte secundária, a necessidade de coesão lógica está diretamente dependente dele.

2.1 PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA

O princípio da presunção de inocência é um instituto previsto no artigo 5º, inciso LVII da Constituição Federal de 1988.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;

[...]

O jurista Alexandre de Moraes (2007) esclarece que o princípio da presunção de inocência é a base do Estado de Direito. Mostra a necessidade que o Estado tem de comprovar que o indivíduo é culpado, pois este é constitucionalmente presumido inocente, e visando resguardar a liberdade pessoal, caso não haja essa garantia processual penal, o estado retrocederia ao total arbítrio estatal.

Este princípio está assegurado em diversos dispositivos, inclusive internacionais, como no caso do art. 9º da Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), in verbis: “Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado e, se julgar indispensável prendê-lo, todo o rigor desnecessário à guarda da sua pessoa deverá ser severamente reprimido pela lei”.

Tal garantia também tem previsão no Pacto de São José da Costa Rica (1969), artigo 8º, nº 2, in verbis: "Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não se comprove legalmente a sua culpa".

Do mesmo modo, após o fim da Segunda Guerra Mundial, a Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU (1948) estabeleceu o princípio da presunção de inocência no art. 11, in verbis: “Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não se prova sua culpabilidade, de acordo com a lei e em processo público no qual se assegurem todas as garantias necessárias para sua defesa”.

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O Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos de Nova Iorque (1966), no artigo 14, n.º 2, in verbis: "Toda pessoa acusada de um delito terá direito a que se presuma sua inocência enquanto não for legalmente comprovada sua culpa".

Não restam dúvidas de que o princípio da presunção de inocência é uma verdadeira garantia fundamental e individual para que o processo penal seja justo e democrático, sendo, portanto um dos princípios mais importantes previstos na Constituição Federal, pois, o legislador expressamente instituiu que todas as pessoas têm o direito de serem tratadas como se inocentes fossem, até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, se tornando uma espécie de remédio contra o arbítrio do Estado e a aplicação injusta da justiça.

2.2 PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO

O duplo grau de jurisdição é um princípio previsto no direito processual que não se limita ao ramo do processo penal, ou seja, ele permite que as partes de um processo possam fazer uso de recursos para que as decisões do juízo a quo possam ser novamente julgadas por um novo juízo, o ad quem.

Cintra, Grinover e Dinamarco (2012, p. 191) ensinam que “a fim de que eventuais erros dos juízes possam ser corrigidos e também para atender à natural inconformidade da parte vencida diante de julgamentos desfavoráveis, os ordenamentos jurídicos modernos consagram o duplo grau de jurisdição”, ou seja, o ordenamento prevendo possíveis erros, permite, dentro das possibilidades, que esta decisão seja revista por um órgão jurisdicional diverso.

A doutrina, entretanto não é uniforme quanto ao sentido de que esta revisão seja feita necessariamente por um órgão superior. No caso de Sá (1999) a reavaliação deve ser feito por órgão diferente do que prolatou a sentença, órgão este normalmente de hierarquia superior.

De acordo com o jurista Laspro (1995, p. 27) o instituto seria “[...] como sendo aquele sistema jurídico em que, para cada demanda, existe a possibilidade de duas decisões válidas e completas no mesmo processo, emanadas por juízes diferentes, prevalecendo sempre a segunda em relação à primeira”.

Já para Nucci (2013, p. 868, grifo nosso), este órgão seria uma instância superior:

Trata-se de garantia individual do duplo grau de jurisdição, prevista implicitamente na Constituição Federal, voltada a assegurar que as decisões proferidas pelos órgãos de primeiro grau do Poder Judiciário não sejam únicas, mas submetidas a um juízo de reavaliação por instância superior.

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De forma diversa entende Nery Júnior (1997, p. 41), o qual afirma que este recurso não deveria se restringir a órgão diverso:

Consiste em estabelecer a possibilidade de a sentença definitiva ser reapreciada por órgão de jurisdição, normalmente de hierarquia superior à daquele que a proferiu, o que se faz de ordinário pela interposição de recurso. Não é necessário que o segundo julgamento seja conferido a órgão diverso ou de categoria hierárquica superior a daquele que realizou o primeiro exame.

De certa forma este princípio tem um viés psicológico para o julgador, na tentativa de desestimular o julgador a fazer uso da arbitrariedade.

Embora haja divergências doutrinárias, todos os entendimentos asseguram que deve haver possibilidade de revisão da decisão proferida, de modo a trazer segurança jurídica ao ato decisório do Poder Judiciário.

Entretanto, não há previsão expressa na Constituição Federal de tal princípio, diferente do que ocorria na Constituição do Império de 1824, no art 158, a qual dizia: “para julgar as Causas em segunda, e ultima instancia haverá nas Provincias do Imperio as Relações, que forem necessarias para commodidade dos Povos”.

O princípio está implicitamente disposto na Constituição nos momentos em que as regras denunciam a existência de recursos na via judiciária, como o previsto no art. 5°, LV, que afirma que “aos litigantes, e processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.” (BRASIL, 1988, grifo nosso).

Assim como, no art. 102, II e III da Carta Magna, que dispõe sobre as competências do Supremo Tribunal Federal, e o art. 105, II e III, do mesmo diploma legal, o qual trata da competência do Superior Tribunal de Justiça. Ambos dão conta da existência de órgãos superiores competentes para julgar determinados recursos.

Não obstante, Capez (2016, p. 106) explica que embora não haja previsão legal expressa acerca do princípio do duplo grau, há previsão legal do referido princípio através de tratado internacional que versa sobre direitos humanos:

Tem previsão expressa no Pacto de San José da Costa Rica (Convenção Americana sobre Direitos Humanos, promulgada pelo Decreto n. 678, de 6-11-1992), no art. 8º, item 3º, h. [...] O princípio em epígrafe não é tratado de forma expressa fora do Pacto de San José.

(22)

Nery Junior (1997), argumenta no sentido de que no momento em que a Constituição estabelece que os tribunais tenham competência para julgar causas em grau de recurso e até mesmo originariamente, ela estaria prevendo então o princípio do duplo grau de jurisdição.

2.3 REFORMATIO IN PEJUS

O instituto do princípio da proibição da reformatio in pejus está previsto no art. 617 do Código de Processo Penal, o qual diz o seguinte: "O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos arts. 383, 386 e 387, no que for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena, quando somente o réu houver apelado da sentença".

Este princípio consiste no agravamento da situação jurídica do réu em face de recurso interposto exclusivamente pela defesa.

Sobre este instituto, Pacelli (2018, p. 962) entende que:

[...] A garantia do duplo grau, como conteúdo da ampla defesa, deve abranger também a garantia da vedação da reformatio in pejus. O risco inerente a todas as decisões judiciais poderia ter efeitos extremamente graves em relação ao acusado, no ponto em que atuaria como fator de inibição do exercício do direito ao questionamento dos julgados.

Em relação ao processo penal e suas modalidades, Tourinho Filho (2003) cita de que existem três formas, sendo: inquisitivo, misto ou acusatório. A Constituição Federal de 1988, mediante o art. 12, inciso I, ao conferir a função privativa do Ministério Público em promover a ação penal pública, deixa nítido a definição do sistema acusatório.

Neste tipo de sistema, os princípios do contraditório, da presunção de inocência, da ampla defesa e da publicidade fazem parte e conduzem todo o processo. O princípio da verdade real é substituído pela busca da verdade, pois segundo Pacelli (2017, p. 20) “não existir nenhuma verdade judicial que não seja uma verdade processual”.

O magistrado deve fazer uso da imparcialidade para que possa apreciar as provas por meio do livre convencimento motivado, e a proibição da reformatio in pejus quando interposto recurso somente por parte da defesa, se justifica no momento em que o órgão ad

quem tem que se pronunciar conforme e somente ao que foi solicitado no recurso, em outras

palavras, proíbe o julgamento extra e ultra petita.

Este princípio também abarca o direito ao contraditório, pois, desta forma o recorrente terá oportunidade de impedir o agravamento de sua condenação, e por fim, outra justificativa

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para a existência deste princípio é em decorrência do sistema acusatório, em que as funções são atribuídas a órgãos distintos.

Tourinho Filho (2002, p. 404) nos diz que “[...] se não há alguém postulando a exasperação da pena – pelo contrário até –, como poderia o juízo ad quem fazê-lo? Assim, a proibição da reformatio in pejus é consequência lógica do sistema acusatório”.

Para Oliveira (2005, p. 842-843) “há várias maneiras de se pretender justificar a adoção do princípio. A nosso juízo, todas elas podem ser resumidas em uma única: a vedação da reformatio in pejus outra coisa não seria que uma das manifestações da ampla defesa”.

O doutrinador Azevedo (apud MOSSIN, 1998, p. 218), nos diz que quando o recurso for interposto pela acusação, esta sentença não passaria em julgado para tal:

[...] dentro destes limites, sendo o apelante o Ministério Público, ou o querelante, ou o assistente da acusação, é admitida a reformatio in pejus, isto é, o tribunal superior pode pronunciar decisão condenatória, em lugar da absolvição; pode condenar a pena mais grave do que a aplicada na primeira instância, revogar os benefícios, aplicar medidas de segurança etc.

Da mesma forma, quando o Ministério Público recorre em favor do réu, em razão de seu papel como fiscal da lei, a reforma para pior não é permitida, pois, o Magistrado não pode agir de ofício, e julgar além do que se pediu.

Há algumas correntes doutrinárias que alegam que a proibição da reformatio in

pejus não é absoluta, pois a pena de multa poderia em tese ser agravada, desde que a situação

econômica do réu tenha se alterado, de forma significativa.

2.4 REFORMATIO IN MELIUS

O instituto da reformatio in melius, possui divergências doutrinárias até mesmo em razão de sua nomenclatura, sustentando alguns juristas que em razão do acusado não fazer parte do recurso, o termo correto seria reformatio in pejus para a acusação.

De acordo com Reis (2016), hipótese de melhora na situação do acusado quando interposto recurso exclusivo da acusação, que seria o Ministério Público ou querelante, o tribunal poderia reconhecer e aplicar ao réu uma diminuição de pena, já que o art. 617 do CPP só proíbe a reformatio in pejus.

Há duas correntes doutrinárias, porém, a adotada pelo Superior Tribunal de Justiça e consequentemente majoritária, entende ser possível essa melhora na situação do réu, com

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fundamento no art. 617 do CPP que impede a reformatio in pejus, logo, não veda a reformatio

in melius.

Assim já decidiu o STJ no HC nº 368973 (BRASIL, 2018, grifo nosso):

PENAL E PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. NÃO CABIMENTO. TRÁFICO DE DROGAS. NULIDADE. DEFENSOR DATIVO INTIMADO. NÃO INTERPOSIÇÃO DE RECURSO. PRINCÍPIO DA VOLUNTARIEDADE RECURSAL. CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. INEXISTÊNCIA. PREJUÍZO NÃO DEMONSTRADO. REFORMATIO IN MELLIUS. POSSIBILIDADE. MAJORANTE DO ART. 40, I, DA LEI N. 11.343/2006. FIXAÇÃO DE ÍNDICE DE AUMENTO EM 1/3. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. CAUSA DE DIMINUIÇÃO DO ART. 33, § 4º, DA LEI N. 11.343/2006. QUANTIDADE E NATUREZA DA SUBSTÂNCIA VALORADA TAMBÉM NA PRIMEIRA FASE. BIS IN IDEM. REGIME PRISIONAL. PENA INFERIOR A QUATRO ANOS. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DESFAVORÁVEIS. MODO SEMIABERTO. SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVAS DE DIREITO. FALTA DE PREENCHIMENTO DE REQUISITO SUBJETIVO. MANIFESTA ILEGALIDADE PARCIALMENTE VERIFICADA. WRIT NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. [...] 4. O Superior Tribunal de Justiça firmou compreensão no sentido de que

"é admitida a reformatio in melius, em sede de recurso exclusivo da acusação, sendo vedada somente a reformatio in pejus." [...] (STJ - HC: 368973 SP

2016/0225424-9, Relator: Ministro RIBEIRO DANTAS, Data de Julgamento: 20/02/2018, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 26/02/2018)

De forma mais extensa, se entende que sempre será permitida a reforma que tem o objetivo de melhorar a situação do réu, até mesmo nulidades processuais que beneficiem o réu, podem ser reconhecidas de ofício a qualquer momento. Porém, o tribunal não pode reconhecer nulidade contra o réu que não tenha sido arguida em recurso da acusação. (LOPES JR., 2018).

Deste modo, quando houve recurso somente da acusação (Ministério Público ou querelante), ao tribunal é permitido reconhecer e aplicar ao réu pena/advertência mais benéfica em relação àquela proferida em sentença, tendo em vista que o artigo 617 do Código de Processo Penal só proíbe a reformatio in pejus. “Ex.: réu condenado à pena de 1 ano de reclusão, que não recorre. O Ministério Publico apela visando aumentar a pena. O tribunal pode absolver o acusado por entender que não existem provas suficientes.” (GONÇALVES; REIS, 2017, p. 680).

Nos mesmos termos, Tourinho Filho (2013, p. 511) diz que “se o Ministério Público apela para agravar a pena, nada obsta que possa o órgão ad quem agravá-la, mantê-la, diminuí-la ou, então, absolver o réu”. Ou seja, o recurso de apelação do Ministério Público ao devolver ao Tribunal o exame de mérito e de prova, possibilita que este ao verificar que houve erro na condenação ou dosimetria da pena, posa corrigi-la, em favor do réu.

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3 TRIBUNAL DO JÚRI

3.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TRIBUNAL DO JÚRI NO BRASIL

No Brasil, o nascimento da instituição do Tribunal do Júri foi ainda no Império, em 1822, conforme nos diz Mossin (2008, p. 172):

Pelo que se pode observar na literatura nacional, o júri foi criado pela lei de 18 de junho de 1822, época em que o Brasil ainda era colônia do Portugal: Coube ao Príncipe Regente, D. Pedro de Alcântara, por influência de José Bonifácio de Andrade e Silva, a instituição do júri no Brasil, pelo ato, de 18 de junho de 1822, criando juízes de fato para o julgamento de abuso de liberdade de imprensa.

Criado antes mesmo da declaração de independência, o Júri tinha competência para julgar somente os crimes de abuso de liberdade de imprensa, neste termos Marques (1997, p. 37-38) já mencionou:

Coube ao Senado da Câmara do Rio de Janeiro, “em vereação extraordinária, de 4 de fevereiro de 1822”, dirigir-se a Sua Alteza Real, o Príncipe Regente D. Pedro, solicitando a criação do “Juízo dos Jurados”, para a execução da Lei de Liberdade de Imprensa no Rio de Janeiro, “onde a criação do Juízo dos Jurados parece exequível sem inconveniente, atenta a muita população de que se compõe e às muitas luzes que já possui”.

De acordo com Nogueira (1996, p. 387-388) eram “escolhidos de entre os homens bons, honrados, inteligentes e patriotas os quais serão os Juízes de Facto para conhecerem da criminalidade dos escriptos abusivos”.

Na época, o Tribunal do Júri era composto por vinte e quatro cidadãos “juízes de fato”, tinha o réu o direito de recusar dezesseis deles, e somente haveria apelação da sentença para a clemência real, no caso, D. Pedro.

Com a Constituição Imperial de 1824, passou a integrar o Poder Judiciário, tendo Dom Pedro I possibilitado o julgamento da área cível e não mais somente a criminal, com a seguinte redação:

Art. 151. O Poder Judicial independente, e será composto de Juizes, e Jurados, os quaes terão logar assim no Civel, como no Crime nos casos, e pelo modo, que os Codigos determinarem.

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Através do Código de Processo Criminal, em 1832, o Tribunal do Júri foi disciplinado, passando a ter ampla competência, a qual só foi restringida em 1842, com a entrada em vigor da lei n. 261.

Somente com a promulgação em 24 de fevereiro de 1891, da Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, o júri foi mantido com sua soberania através do artigo 72, §31:

Art. 72 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no paiz a inviolabilidade dos direitos concernentes á liberdade, á segurança individual e á propriedade, nos termos seguintes:

[...]

§ 31. É mantida a instituição do jury.

Já na Constituição promulgada em 10 de novembro de 1937 por Getúlio Vargas, ela nada se referiu sobre a instituição do Tribunal do Júri, gerando até mesmo o entendimento se que tal instituição havia sido extinta, porém, logo após foi promulgada a primeira lei nacional de processo penal do Brasil República, o Decreto-Lei de número 167, de 5 de Janeiro de 1938, que resgatou o Tribunal do Júri, regulando sua competência, organização e função dos jurados.

A Carta Constitucional Democrática, promulgada em 18 de setembro de 1946 deixou expresso à adoção do Tribunal do Júri, mantendo sua soberania, no capítulo de garantias individuais, mediante artigo 141, § 28:

Art 141 - A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, a segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

§ 28 “É mantida a instituição do Júri, com a organização que lhe der a lei contanto que seja sempre impar o numero de seus membros e garantido o sigilo das votações e plenitude da defesa do réu e a soberania dos veredictos. Será obrigatoriamente da sua competência o julgamento dos crimes dolosos contra a vida”.

Em relação à Constituição do Brasil de 1967, assim como as anteriores manteve o Tribunal do Júri através do art. 150, §18, no capítulo dos direitos e garantias individuais, dispondo que “são mantidas a instituição e a soberania do Júri, que terá competência no julgamento dos crimes dolosos contra a vida”.

Embora haja divergências em relação a Emenda Constitucional de 1969, esta manteve o Júri, porém, foi omissa em relação a sua soberania, e o art. 153, § 18, previa somente “é

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mantida a instituição do Júri, que terá competência no julgamento dos crimes dolosos contra a vida”.

É notório que o Tribunal do Júri, antes da vigente Constituição, teve seu início em meio a um cenário de pós-guerra, regime onde a censura e o controle eram a principal característica, nasceu junto com a Constituição da República Federativa do Brasil em 1988 a esperança de liberdade e a tão esperada democracia.

3.2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO JURI

O tribunal do Júri está no art. 5º, inciso XXXVIII da CF, e lá estaremos diante de quatro princípios basilares: a plenitude de defesa, soberania dos veredictos, sigilo das votações e a competência para os crimes dolosos contra a vida. Todos estes princípios servem de base para todo esse sistema, fazendo com que o instituto seja exercido de forma plena.

3.2.1 Plenitude de defesa

Segundo Pontes de Miranda (1968, p. 307), “na plenitude de defesa, inclui-se o fato de serem os jurados tirados de todas as classes sociais e não apenas de uma ou de algumas”.

Gomes (2011) ainda preceitua que esta plenitude defesa é atribuída no Plenário do Júri ao acusado de crime doloso contra a vida, e que ela seria bem mais ampla.

Este princípio está garantido na Constituição Federal, no art. 5º, XXXVIII, “a”, e vida conceder ao acusado um defesa plena, que é maior que uma ampla defesa.

Andreucci (2009, p. 3) assim conceitua:

Implica o exercício do direito de defesa, pelo acusado, de forma mais abrangente que a ampla defesa, assegurada aos réus em geral, ensejando sua efetiva participação no Tribunal do Júri e possibilitando ao se defensor lançar mão de todos os argumentos e meios de provas e convencimento dos jurados, ainda que não expressamente previstos em lei.

Neste mesmo sentido, Bonfim (2006) diz que a defesa plena seria mais extensa que a defesa ampla, no momento em que é previsto e garantido constitucionalmente a plenitude da defesa a todos os acusados que são submetidos a um julgamento perante o Tribunal de Júri.

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[...] Ampla defesa uma defesa vasta, espaçosa. [...] a plenitude de defesa, significa uma defesa, além de vasta, completa, plena. Se aos acusados em geral é assegurada ampla defesa, com todos os recursos a ela inerentes, evidente que a plenitude, sendo mais vasta, sendo, por assim dizer, um superlativo amplo, evidente que a plenitude de defesa não deve ficar angustiada dentro do limitado encerro das provas, do contraditório, da recusa dos jurados, da paridade de armas. A acusação também goza desses direitos. Seria o mesmo que ampla defesa. Mas, repetimos, estamos convencido de que a plenitude tem um campo mais vasto, mais longo, amplidão que se estende ao protesto por novo Júri, aos embargos infringentes e até mesmo à revisão criminal, malgrado a soberania dos veredictos. Todas essas normas integram e perfazem a plenitude de defesa.

Portanto, o réu submetido ao Tribunal do Júri tem plenitude de defesa, ou seja, tem a possibilidade de fazer uso de todos os meios possíveis para sua defesa, inclusive de argumentos não jurídicos, já que os jurados decidem por íntima convicção e não necessitam fundamentar suas escolhas.

3.2.2 Sigilo das votações

Assim dispõe o art. 485 do Código de Processo Penal que “não havendo dúvida a ser esclarecida, o juiz presidente, os jurados, o Ministério Público, o assistente, o querelante, o defensor do acusado, o escrivão e o oficial de justiça dirigir-se-ão à sala especial a fim de ser procedida a votação”. (BRASIL, 1941)

O princípio do sigilo das votações é um dos princípios basilares do Tribunal do Júri. É uma norma constitucional, pois está prevista no artigo 5°, inciso XXXVIII, da Constituição da República.

Destarte Cunha e Pinto (2016, p. 23) explicam:

[...] Justifica-se esse cuidado em virtude da própria natureza do Tribunal do Júri e da proteção que deve conferir ao jurado leigo (sem garantias, portanto, do juiz togado), que não encontraria tranquilidade para julgar fosse pública a votação, sujeita à interferência de populares, parentes da vítima, amigos do réu, etc. Também o trabalho do juiz, por vezes extremamente árduo, consistente em explicar aos jurados todo o procedimento da votação, restaria prejudicado se tivesse que ser realizado em público. Preserva-se, assim, a livre formação da convicção do jurado, imune a qualquer influência externa, preocupação verificada, também, no dispositivo que impõe incomunicabilidade entre os componentes do conselho de sentença, a fim de que um não interfira na decisão do outro.

Este princípio pretende assegurar aos jurados que seus veredictos sejam proferidos de forma livre, para que possam contemplar a promoção da justiça e atender ao interesse público. O doutrinador Campos (2014) nos diz que os jurados votam de forma secreta para que não seja possível identificar de que cidadão leigo partiu aquela decisão.

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Campos, (2015, p. 09) aduz:

Os jurados decidem a causa através de votações secretas, não se identificando a maneira como votou cada cidadão-leigo. Visa tal princípio resguardar a tranquilidade e segurança dos membros do Conselho de Sentença para decidir o destino do acusado, sem medo de represálias, de quem quer que seja.

Além do voto secreto, outras atitudes são tomadas para que o sigilo seja garantido, sendo que os votos serão revelados até se alcançar a maioria daquele sentido.

Este princípio é extremamente importante, pois ele tem o objetivo de preservar a segurança dos membros que compõe o Conselho de Sentença durante a decisão do destino do acusado, para que assim eles mantenham a tranquilidade, sem pensar nas possíveis retaliações que poderia sofrer caso seu voto fosse exposto.

3.2.3 Soberania dos veredictos

Este princípio está consagrado na Carta Magna no art. 5º, XXXVIII, “c”, e significa que a decisão do Conselho de Sentença não pode ser alterada, seja pelo Juiz presidente pelo Tribunal do Júri que irá fazer a dosimetria da pena, como pelo desembargador, entre outros.

Nucci (2015) diz que a participação de populares no Poder Judiciário através do Tribunal do Júri é exaltada, pois é uma grande demonstração e exercício da democracia e cidadania, já que essa decisão proferida pelo Conselho de Sentença é respeitada em razão do princípio da soberania dos veredictos.

É tão significativa e importante a decisão dos Jurados que nem mesmo o tribunal ad

quem possui atribuição para mudar a decisão, podendo os jurados decidirem mesmo quando

for contrária às provas constantes nos autos.

Alguns doutrinadores entendem que a soberania segue sendo respeitada quando, em grau de recurso, o tribunal superior anular julgamento, por decisão contrária à prova dos autos, remetendo a outro Conselho de Sentença a decisão, o que em tese não iria alterar o mérito.

Não sendo a decisão dos jurados motivada, não há como o tribunal ad quem saber se, por exemplo, no caso de condenação, os jurados decidiram ou não pela procedência, mesmo em caso de dúvida. Mas os desembargadores poderão, fazendo a própria avaliação, concluir se, no caso, a prova dos autos permite um juízo seguro, além de qualquer dúvida razoável, da culpa do acusado. Em caso contrário, se o membro do tribunal concluir que a hipótese é de dúvida, pois há um segmento da prova que dá suporte à versão acusatória, mas outro arrima a tese da inocência,

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deverá dar provimento ao recurso, cassando o primeiro julgamento e mandando o acusado a novo júri. (BADARÓ, 2017, p. 180)

A questão é que essas inúmeras possibilidade de recursos e anulações de decisões teoricamente soberanas, diminuem a segurança jurídica e dão uma sensação de infinidade recursal.

Notório é o entendimento de certos doutrinados de que essa soberania das decisões seriam respeitas desde que o mérito não tivesse a intenção de o modificar, ou seja, seria constitucional a anulação das decisões, eis que o mérito não é modificado, mas sim, anulado, de forma a relativizar esse princípio.

Deste modo leciona Bonfim (2008, p. 492):

A soberania dos veredictos importa na manutenção da decisão dos jurados acerca dos elementos que integram o crime (materialidade, autoria, majorantes etc.), que em princípio, não poderá ser substituída em grau de recurso. Não impede, porém, que o tribunal, julgando a decisão manifestamente contrária à prova dos autos, determine seja o réu submetido a novo Júri. Tampouco obsta a possibilidade de revisão criminal.

Entretanto, há posicionamentos onde embora seja anulado o júri e remetendo-o a novo julgamento, essa possibilidade de recurso seria contrária a característica da soberania dos seus veredictos definida pela Constituição Federal.

Para Almeida (2005, p. 57 apud NUCCI, 2008, p. 44), “a soberania plena dos vereditos do Júri está acima de quaisquer pretensas justificativas que possam permitir a sua negação”.

Corroborando a tal posicionamento, Rosa (1998, p. 430 apud CAMPANHARO, 2012, p. 8) afirma:

É inconcebível que, após a introdução da prerrogativa da soberania, pela Carta de 88, continuem valendo as mesmas disposições do Código de Processo Penal, relativas ao recurso das decisões do júri, que valiam na vigência da Carta de 67 e na Emenda de 69, que não falava em soberania, porque, aliás, nunca é demais repetir e ressaltar que a palavra “soberania” exclui qualquer restrição. Não se pode falar em soberania sujeita a um poder superior.

É nítido tal discussão acerca da relativização do princípio da soberania do veredicto no Tribunal do Júri, porém, o legislador em todas as Constituições nunca restringiu tal desejo, o que representa sua vontade em respeitar tal disposição.

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O legislador constituinte de 1988, inclusive buscou proporcionar à instituição um caráter de supremacia, de independência e plenitude na esfera de suas atribuições.

3.3 SENTENÇA PROFERIDA EM PLENÁRIO

No Tribunal do Júri o poder de decisão é do Conselho de Sentença. Essa decisão é feita através de um questionário, que contêm perguntas acerca do fato que está em julgamento. Essas perguntas são chamadas de quesitos.

Há determinado quesitos que são obrigatórios, sendo: autoria, materialidade e absolvição. Os demais serão feitos de acordo com o caso específico, a pronúncia, as teses da Defesa e do Ministério Público e até mesmo em conformidade com o teor do interrogatório do acusado.

Assim dispõe o artigo 482 do Código de Processo Penal:

Art. 482. O Conselho de Sentença será questionado sobre matéria de fato e se o acusado deve ser absolvido.

Parágrafo único. Os quesitos serão redigidos em proposições afirmativas, simples e distintas, de modo que cada um deles possa ser respondido com suficiente clareza e necessária precisão.

Na sua elaboração, o presidente levará em conta os termos da pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, do interrogatório e das alegações das partes. (BRASIL, 1941)

A sequência da formulação dos quesitos está prevista no art. 483 do mesmo diploma legal, sendo:

Art. 483. Os quesitos serão formulados na seguinte ordem, indagando sobre: I – a materialidade do fato;

II – a autoria ou participação;

III – se o acusado deve ser absolvido;

IV – se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa;

V – se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação. (BRASIL, 1941)

Conforme Rangel (2012), a ordem dos quesitos não pode ser invertida, sob pena de gerar nulidade.

O Juiz Presidente após elaborar os quesitos, as lerá em plenário e irá perguntar as partes se concordam com a forma que foi escrito, se houver divergências, será lavrado na ata o que foi alegado pela parte que o provocou.

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Neste sentido, conforme os arts. 484 e 485 do Código de Processo Penal, o magistrado irá expor quesito por quesito aos jurados, explicando cada um deles, após, perguntará se há dúvidas, caso tenham, o magistrado, somente com base no processo, responderá as dúvidas, de modo imparcial (TASSE, 2008), se a resposta for negativa, os jurados vão para a votação na sala secreta.

É entregue aos jurados duas cédulas de papel, uma escrita a palavra “sim” e outra escrita a palavra “não”, que serão utilizadas para responder as perguntas (quesitos). Posteriormente, passarão duas urnas, nas quais a primeira recolhe os votos válidos e a segunda recolhe a cédula não utilizada, evitando que as demais pessoas saibam o voto de cada jurado.

Após a Lei n° 11.689/08 não é mais feito a leitura de todos os votos, com o objetivo de resguardar o sigilo da votação. Ou seja, o Juiz Presidente irá parar de ler os votos quando atingir o número de quatro, devendo, portanto, o resultado do julgamento ser por maioria dos votos.

De acordo com a ordem dos quesitos estabelecida no Código, Bonfim (2009, p. 139):

Reconhecidas a materialidade e autoria delitiva deverão os jurados decidir se absolvem ou condenam o acusado. O quesito, por sua redação, tem abrangência bastante ampla, alcançando todas as teses de defesa que não digam com a materialidade nem com a autoria ou participação.

De acordo com a Súmula 156 do Supremo Tribunal Federal “é absoluta a nulidade do julgamento pelo júri, por falta de quesito obrigatório”. (BRASIL, 1963)

Logo, mesmo que os jurados reconheçam a materialidade e a autoria, referente à absolvição do acusado, o Juiz presidente cuidará de indagar dos jurados: "o jurado absolve o acusado" (NUCCI, 2011, p. 879-880), pois, os jurados podem absolver até mesmo por clemência.

Importante lembrar, que caso haja condenação, o Juiz Presidente é quem fará a dosimetria da pena, de forma fundamentada, explicando as razões para fixação do patamar da pena em cada uma de suas fases, nos termos do art. 492 do Código de Processo Penal, bem como do art. 93, IX, da Carta Magna

3.4 RECURSO CONTRA SENTENÇA DO JÚRI

O descontentamento faz parte de toda e qualquer relação jurídica, pois uma das partes não ficará satisfeita com a decisão, ou seja, o ordenamento jurídico, prevendo tal situação,

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criou o princípio do duplo grau de jurisdição, que é o direito de ter a decisão revista por um tribunal superior.

A falta de conhecimentos das pessoas pode gerar um erro no julgamento, pois o poder decisório é conferido a uma só pessoa. Em razão disso, os recursos sempre foram admitidos em Direito, em todos os lugares. O motivo de sua criação é possibilitar um reexame das decisões que forem proferidas no decorrer do processo.

3.4.1 Noções gerais de recurso contra sentença do Júri

Os recursos tem fundamento no descontentamento e questionadora vocação humana em não aceitar decisões contrárias à sua ideologia, de forma a entender que elas possam ferir seu direito, assim como liberdade e até mesmo compreensão.

Neste sentido, Nucci (2012, p. 394), menciona:

O mais relevante é assumir o caráter comum da natureza humana, demonstrativo da falta de conformismo diante da contrariedade. Assim sendo, o universo do Direito não poderia pairar alheio a tal realidade, desde que se sabe ter o Estado assumido o monopólio penal de distribuição de justiça. A decisão judicial do juiz singular, a primeira a ser proferida no processo, haverá de gerar inconformismo em alguma das partes. A procedência, impondo a condenação, acarreta irresignação do réu, fazendo valer seu desejo de recorrer a outra instância, de modo a ouvir, novamente, a análise da sua situação. A improcedência, externada pela absolvição, move o inconformismo do órgão acusatório, que, igualmente, pode recorrer para acalmar a sua ânsia pela reavaliação do caso. A procedência parcial pode ser colocar ambas as partes em estado de irresignabilidade, provocando a reação ambivalente, com a interposição de dois recursos.

O fundamento para a existência dos recursos tem base no diploma constitucional, no momento em que dá ao Poder Judiciário um duplo grau com a atribuição recursal dos Tribunais. O princípio do duplo grau de jurisdição dá maior segurança jurídica, dando uma sensação de proteção e um possível reparo em caso de violação jurídica.

Sobre recurso expõe o doutrinador Tourinho Filho (1990, p. 299):

A palavra recurso vem do vocábulo recursus, que significa corrida para trás, caminho para voltar, volta. Por outro lado, o termo recursus, recurris, recurso, recorreri, que se traduz por voltar correndo. Tal expressão, pois, dá a idéia de um novo curso daquilo que estava em curso. Daí o seu emprego para traduzir aquele ato por do qual a parte pode pedir ao Órgão Jurisdicional que reexamine a questão decidida, retornando, assim, ao ponto de onde se partiu. A palavra recurso é, também, empregada numa acepção ampla, mas, aí, tem ela o sentido de auxilio, de proteção, de meio de defesa. Mas, na técnica processual a palavra recurso tem um sentido bem diferente. No seu sentido estrito recurso nada mais é do que o meio, o remédio jurídico – processual pelo qual se provoca o reexame de uma decisão. De regra, esse reexame é levado a cabo por um órgão jurisdicional superior. A parte

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vencida, por meio do recurso, pede a anulação ou reforma total ou parcial de uma decisão.

A teoria geral dos cursos explica sobre a existência de órgão jurisdicional contra o qual se recorre, conhecido e denominado por juízo a quo, e um órgão jurisdicional para o qual se recorre, chamado de juízo ad quem.

O recurso se trata de matéria de ordem pública, ou seja, envolve interesse público e não só individual, podendo ser até mesmo interesses que abranjam uma sociedade, não podem ser alterados inter partes ou por convenção.

3.4.2 Hipóteses de cabimento

No Tribunal do Júri, a apelação é o método que mais impõe limites ao princípio da soberania dos veredictos, pondo em risco sua garantia de existência.

O recurso de apelação possui fundamentação vinculada, devendo suas hipóteses de cabimento estarem entre as dispostas no Código de Processo Penal, art. 593, inciso III.

Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: [...]

III - das decisões do Tribunal do Júri, quando: a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia;

b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados;

c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança;

d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos. [...] (BRASIL, 1941)

Em razão de sua fundamentação vinculada, a parte deve mencionar na petição ou na interposição, o motivo que a fez apelas, e o juiz ad quem não pode julgar fora das hipóteses mencionadas no recurso e no Código.

Nestes termos dispõe a Súmula 713 do Supremo Tribunal Federal: “O efeito devolutivo da apelação contra decisões do júri é adstrito aos fundamentos da sua interposição”. (BRASIL, 2003).

Desta forma, percebe-se que a apelação possui efeito devolutivo, e que este deve ser o mais amplo possível, delimitando dessa forma no recurso “tantum devolutum quantum appellatum”, mas, “como a apelação pode ser interposta até mesmo por termo nos autos, bastará a manifestação da vontade de recorrer para que a devolução da matéria seja completa.” (PACELLI, 2018, p. 986).

Referências

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