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Teoria da causa madura: as inovações do instituto no novo CPC como forma de promover a efetiva celeridade processual

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Academic year: 2021

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TEORIA DA CAUSA MADURA:

AS INOVAÇÕES DO INSTITUTO NO NOVO CPC COMO FORMA DE

PROMOVER A EFETIVA CELERIDADE PROCESSUAL

Fabiana Prudêncio de Campos Lobo

Resumo: O presente estudo examina a Teoria da Causa Madura, que sofreu inovações no

novo Código de Processo Civil. Examina-se a temática referente aos seguintes pontos: conflito aparente de Princípios Constitucionais inerentes a Teoria da Causa Madura;

inovações do Instituto no novo CPC; critérios e possibilidades para aplicação da citada teoria. Bem como, se destaca a positivação e as incorporações em relação ao tema no novo Código acerca das lacunas existentes no Código de Processo Civil de 1973, as quais geravam incertezas interpretativas. Por fim, questiona-se se, efetivamente, as novidades do novo Diploma Legal em relação à Teoria da Causa Madura, contribuirão para a almejada entrega da prestação jurisdicional de forma mais célere.

Palavras-chave: Causa madura, celeridade processual, conflito de princípios constitucionais,

duplo grau de jurisdição, razoável duração do processo.

Abstract: The Theory of Mature Cause is set out in articles 332 "caput" and §1º (associated

with the first degree of jurisdiction), and article 1013, §3º (related to the second degree of jurisdiction), both of the new CPC. Through brief considerations about the apparent conflict of Constitutional Principles; in addition to incorporating the unnecessary cumulation of criteria for the application of the Institute; as well as considerations regarding the possibility of its application direct by the superior level; still transposing the innovations introduced by the New Code, namely: the use of this theory in the hypotheses of nullity of the sentence for request absence, as in cases of lack of legal grounds; and, finally, measuring the possibility of

 Pós-graduanda do Curso de Especialização em Processo Civil da Universidade do Sul de Santa Catarina. Endereço eletrônico: fabi@gangorra.com.br.

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admission of it in diferent kind of appeals, it is intended, with exclusive focus on the use of this procedural instrument in what concerns its application in superior instances, to verify if, effectively, the modifications inserted in the new Legal Diploma are potential tools available to the Legal System in order to contribute to make faster the entire process of law.

1. INTRODUÇÃO:

A Teoria da Causa Madura está disposta nos artigos 332 “caput” e §1º (associada ao primeiro grau de jurisdição), e no artigo 1013, §3º (conexa ao segundo grau de jurisdição), ambos do novo CPC. Através de breves considerações acerca do conflito aparente de

Princípios Constitucionais; além da incorporação da desnecessidade da cumulação de critérios para a aplicação do Instituto; bem como ponderações em relação à possibilidade de sua aplicação de ofício pelo órgão ad quem; transitando ainda pelas inovações introduzidas pelo Novo Código, a saber: a utilização da referida teoria nas hipóteses de nulidade da sentença por inobservância do pedido, tal como nos casos de falta de fundamentação; e, por fim, apreciando a possibilidade de admissão da mesma no julgamento de recursos distintos do recurso de apelação, objetiva-se, com foco exclusivo na utilização desse instrumento processual no que concerne a sua aplicação nas instâncias superiores, verificar se,

efetivamente, as modificações inseridas no novo Diploma Legal são potenciais ferramentas à disposição do Sistema Jurídico no sentido de contribuir para a celeridade processual, a qual fundamenta a nova Lei.

2. A TEORIA DA CAUSA MADURA:

A chamada Teoria da Causa Madura está prevista nos artigos 332 “caput” e §1º e também no artigo 1013, §3º, incisos I à IV da Lei 13.105/15.

Enquanto o artigo 332 e seu §1º tratam da possibilidade do emprego da causa madura na esfera do primeiro grau de jurisdição, o artigo 1013 em seu §3º o faz em relação à

admissão da teoria em termos de segundo grau.

Embora seja de suma importância a questão trazida pelo artigo 332, o qual aprimorou de forma bastante ampla o artigo 285 – A do diploma processual anterior. E ainda, a despeito do reconhecimento de que esse dispositivo, através do julgamento prima facie do mérito

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reverencia a economia processual, concentra-se o presente estudo no exame da Teoria da Causa Madura e seus desdobramentos concernentes às instâncias superiores.

2.1 BREVE EXPOSIÇÃO:

Procedente do Código de Processo Civil de 1973, o qual sofreu inserção do parágrafo 3º em seu artigo 515 através da Lei 10.352/01, a Teoria da Causa Madura não só permanece no novo CPC, como também experimentou significativas inovações.

Este instituto processual caracteriza-se por sua excepcionalidade. Ocorre quando o Órgão ad quem, diante de recurso de apelação1, deve2 apreciar diretamente o mérito da causa,

nos casos de extinção do processo por sentença terminativa3.

Diz-se “madura” a causa quando essa estiver em condições de imediato julgamento, ou seja, quando a instrução probatória encontra-se exaurida.

O novo CPC, no que concerne em seu objetivo de diminuir a morosidade processual, criou, ampliou e/ou manteve mecanismos com o intuito de, em sincronia com o Princípio Constitucional da Razoável Duração do Processo, introduzido na Carta Magna pela Emenda Constitucional 45/2004, processualmente contribuir para a celeridade do sistema jurídico. É nesse contexto, que se enquadra a Teoria da Causa madura.

2.2 CONFLITO APARENTE DE PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

Através do exame do aparente conflito entre garantias constitucionais, quais sejam: o Princípio do Duplo Grau de Jurisdição e o Princípio da Razoável Duração do Processo, propiciado pela Teoria da Causa Madura; e, ainda que esse tema polarize a doutrina

processual civil brasileira; almeja-se, através de concisas observações, fundamentar a ideia de que a referida teoria, embora, de certa feita, mitigue o duplo grau, ao prestigiar a celeridade e

1 No tópico 2.5 discorre-se a respeito da possibilidade da aplicação da Teoria da Causa Madura no recurso de agravo de instrumento e também no recurso ordinário.

2 A partir do advento do novo CPC, passa a ser norma cogente a aplicação do Instituto. Essa matéria é examinada no tópico 2.4 do presente estudo.

3 As hipóteses de extinção do processo por meio de sentença terminativa estão elencadas em rol taxativo, segundo entendimento doutrinário e jurisprudencial no artigo 485 do novo CPC.

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a instrumentalidade do processo possibilita a sociedade uma maior aproximação do resultado justo da demanda, o qual, sem nenhuma dúvida é o objetivo primordial do sistema judiciário. O princípio do duplo grau de jurisdição está implicitamente previsto no artigo 5º, LV da CF/884. Uma vez, que a própria constituição assegura o direito a recursos, considera-se

esse preceito uma garantia constitucional aos litigantes.

Por outro lado, o princípio da razoável duração do processo, também encontra amparo em nossa Carta Magna em seu artigo 5º, LXXVIII5.

Portanto, a questão é: há conflito entre esses princípios constitucionais? É legítimo que, objetivando-se a celeridade processual exclua-se a possibilidade da garantia do duplo grau de jurisdição? Entende-se que sim, pois, embora seja vital para o sistema processual o duplo grau de jurisdição, sua mitigação quando da aplicação da Causa Madura é justificada pela possibilidade concreta da entrega da prestação jurisdicional de forma mais rápida e efetiva. Considera-se que uma prestação ineficiente e, sobretudo tardia, torna-se, no mais das vezes, uma prestação injusta.

Percebe-se também, que o duplo grau de jurisdição encontra-se minorado na própria CF/88 (artigo 102, III)6, onde há previsão da possibilidade de causas serem decididas em

instância única. Há de considerar ainda que o duplo grau possui índole ideológica, pois permite uma melhor reflexão sobre a decisão e também pedagógica, uma vez que condiciona o juízo a quo a atentar sobre a legalidade de sua decisão. Entretanto, em que pese a relevância dessas questões, é plenamente justificável a relativação de tal preceito, desde que feita com responsabilidade e observando-se os limites legais, visto que intenciona-se a celeridade processual e a entrega de uma prestação jurisdicional justa e eficiente.

Sobre o duplo grau vale ainda ressaltar o entendimento de Cândido Rangel Dinamarco (1995, p.159):

Diferentemente dos demais princípios integrantes da tutela constitucional do processo, este não é imposto pela Constituição com a exigência de ser

4 Art. 5º LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

5 Art. 5º LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

6 Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida:

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inelutavelmente observado pela lei. Além, de não explicitar exigência alguma a respeito, ela própria abre caminho para casos em que a jurisdição será exercida em grau único, sem possibilidade de recurso.

A questão é referendada pelo STJ em Agravo de Instrumento relatado pelo Min. Ruy Rosado de Aguiar, datado do ano de 20027, e que já reconhecia que na Teoria da Causa

Madura não ocorre supressão de instância:

Estando a lide pronta para julgamento e tendo a sentença; apesar de não apreciar o mérito, considerado as questões meritórias, pode o Tribunal, com aplicação da causa madura, ao invés de anular a sentença, reformá-la e, desde logo, decidir questões que foram suscitadas e a ele devolvidas por força do apelo, sem que haja supressão de um grau de jurisdição.

Entende-se portanto que, em estando a causa madura, ao prestigiar-se a economia processual, afere-se um resultado do processo mais efetivo e benéfico ao jurisdicionado, ao permitir que o juízo ad quem conheça do mérito do processo, do que aquele que se verificaria caso se observasse, de forma estrita, o duplo grau de jurisdição.

Por conseguinte, deduz-se que não intenciona a Teoria da Causa Madura preterir as formalidades processuais, abreviando o próprio processo como forma de promover a celeridade processual, o que consequentemente, poderia, em tese, afrontar a segurança jurídica.

Nessa perspectiva, por tratar-se de um instituto que promove certa polêmica

doutrinária, no próximo item, pondera-se, sinteticamente, a respeito da prescindibilidade da causa versar exclusivamente sobre questão de direito para que possa ser apreciada pelo tribunal.

2.3 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA DUBIEDADE INTERPRETATIVA SANADA PELO NOVO CPC

Ponderar-se-á também, acerca do debate doutrinário vinculado a necessidade ou não da cumulatividade dos requisitos para a aplicação do referido instituto processual, uma vez que, sua correta utilização é, sem dúvida, uma ferramenta importante rumo à almejada celeridade processual.

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Da mesma forma, nota-se que a redação do referido artigo no diploma legal anterior, condicionava ainda a utilização da Causa Madura a dois critérios que, pela letra da lei, deveriam se somar, quais sejam: causa versar questão exclusivamente de direito e,

concomitantemente estiver em condições de imediato julgamento. Entende-se que uma causa em condições de imediato julgamento, não conterá exclusivamente questões de direito, embora seja fato que isso ocorre na maioria dos casos. Compreende-se a “questão exclusivamente de direito” como aquela sobre a qual não há fatos controvertidos. Dessa forma, tendo os fatos sido comprovados de plano, a causa chega a 2º instância já madura.

Aqui também, contrários eram os posicionamentos doutrinários. Theodoro Júnior (2007, p. 661 -662) afirmava que “o efeito devolutivo da apelação permitirá ao tribunal julgar o mérito da causa, desde que satisfeitos dois requisitos: a) se a causa versar sobre questão exclusivamente de direito; e b) o feito estiver em condições de imediato julgamento”.

Diametralmente em direção oposta Câmara (2007, p. 94) adverte:

É preciso que se diga desde logo que, a nosso sentir, há um equívoco na redação do dispositivo. A literalidade do texto pode levar o intérprete a considerar que a norma, veiculada nesse parágrafo só se aplica quando, cumulativamente, as questões de mérito sejam exclusivamente de direito e a causa esteja pronta para ser julgada. Assim,, porém, não nos parece. Basta que a causa esteja em condições de imediato julgamento, para que o tribunal ad quem possa pronunciar-se sobre o mérito da causa.

Observa-se que nesse sentido, o novo CPC em seu artigo 1.013 §3º incorporou o segundo entendimento doutrinário, o qual nos parece mais coerente.

Nessa vertente encontra-se também posição jurisprudencial do Tribunal da Cidadania8,

entendendo pela possibilidade do julgamento da causa diretamente pelo tribunal, ainda que esteja envolvida matéria de fato, desde que desnecessária a produção de novas provas:

EMENTA. ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. ACIDENTE COM ÔNIBUS MUNICIPAL. MORTE DE PASSAGEIRO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. INOCORRÊNCIA. CAUSA MADURA. ART. 515, § 3º, DO CPC. CONCLUSÃO PELA

RESPONSABILIDADE OBJETIVA E PELA EXISTÊNCIA DE NEXO CAUSAL ENTRE O EVENTO DANOSO E O ÓBITO. REFORMA. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. AGRAVO REGIMENTAL. INATACADO FUNDAMENTO DA DECISÃO AGRAVADA. SÚMULA 182/STJ. (...) 2. Vigora no STJ o

entendimento de que "A regra do art. 515, § 3º, do CPC deve ser interpretada em consonância com a preconizada pelo art. 330, I, do CPC, razão pela qual, ainda

que a questão seja de direito e de fato, não havendo necessidade de produzir

8AgRg no AREsp 303090/SC Agravo regimental no agravo em recurso especial 2013/0050305-1 Relator (a) Ministro Sérgio Kukina (1155) Órgão Julgador T1 - primeira turma. Data do Julgamento 16/12/2014. Data da publicação/Fonte DJe 19/12/2014.

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prova (causa madura), poderá o Tribunal julgar desde logo a lide, no exame da apelação interposta contra a sentença que julgara extinto o processo sem resolução de mérito" (EREsp 874507/SC, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima,

Corte Especial, julgado em 19/6/2013, DJe 1º/7/2013). (grifei).

Destarte, superada essa questão, no próximo item, averigua-se um dos pontos mais contraditados da causa madura: a necessidade ou não da manifestação da parte para que se proceda à utilização do instituto.

2.4 APLICAÇÃO EX OFFICIO DA CAUSA MADURA: EFEITO TRANSLATIVO

Diante de todo o contexto já exposto, avalia-se, de forma sucinta, a repaginação do artigo 515 §3º do CPC1973, no sentido de verificar-se se a atual redação do novo código contribuirá na superação da controvérsia jurídica em relação a ser mera faculdade ou poder-dever do tribunal a utilização, quando presentes os encargos, da Causa Madura. Seguindo nesse mesmo sentido ademais se busca desenvolver, sumariamente, algumas considerações em relação à possibilidade de aplicação da Causa Madura ex officio e suas consequências efetivas no mundo jurídico.

Nesse espírito, cabe destacar que o mundo jurídico, por sua própria natureza instigante, é terreno fértil para inúmeras celeumas em relação à interpretação e respectiva aplicação de seus próprios instrumentos. Em relação à Teoria da Causa Madura, não seria diferente. Enquanto vigorava o CPC/1973, diversos doutrinadores posicionavam-se no sentido de ser mera faculdade do juízo ad quem a utilização da Causa Madura prevista no então artigo 515, §3º, entre eles Araken de Assis (2007, p. 396) “o julgamento do mérito nem sequer constitui dever inexorável do órgão ad quem. Tal conclusão resulta evidente da fórmula verbal empregada (“pode julgar...”) na regra”.

Observa-se que o novo CPC superou essa questão quando, em nosso sentir

acertadamente, utilizou-se do vocábulo “deve”, em substituição a “pode” no atual artigo 1.013 §3º, o que, efetivamente já era defendido por parcela considerável da doutrina.

A esse respeito, Humberto Theodoro Júnior (2007, p. 662-663), afirma que:

Em matéria de prestação jurisdicional, em princípio, o poder é sempre um dever para o órgão judicante. O termo poder é utilizado como designativo da competência ou poder para atuar. Uma vez, porém, determinada a competência, o respectivo órgão judicante não pode ser visto como simplesmente facultado a exercê-la. A parte passa a ter um direito subjetivo à competente prestação jurisdicional, se presentes os pressupostos do provimento pretendido.

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Percebe-se que, no texto legal anterior, a utilização do vocábulo “pode”, dava margem a ideia de discricionariedade do julgador. Entretanto, corrobora-se a afirmação categórica de Paulo Afonso Brum Vaz (2006, p. 91):

Somente existe discricionarismo quando ao juiz é lícito optar entre duas ou mais opções que a lei oferece. No caso, estando o processo “maduro” para a sentença, não se oferece ao tribunal outra opção que não o exame do mérito. Se superada

estiverem as fases postulatórias, saneadora e instrutória, impõe-se ao juízo de apelação proceder ao julgamento do mérito.

Portanto deduz-se que aqui se tem positivada uma norma cogente preceptiva, ou seja, além de seu caráter intrínseco impositivo, essa diretriz ordena a conduta do tribunal no sentido de proferir decisão de mérito nas causas maduras. Enquanto no diploma legal de 1973, a literalidade do texto induzia a percepção de que o instituto em estudo tinha caráter de norma dispositiva permissiva em relação a sua aplicação.

Ainda nessa vertente, destaca-se que a redação do artigo revogado gerava cizânia doutrinária em relação à questão da necessidade de pedido expresso da parte.

Entende-se que o novo código absorve posição doutrinária e jurisprudencial no sentido da desnecessidade do pedido do recorrente por conta do efeito translativo da apelação.

Nessa acepção o entendimento do STJ9:

EMENTA. PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. ICMS. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA. SENTENÇA PROFERIDA SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO. ARTIGO 515, § 3º, DO CPC. APLICABILIDADE DA TEORIA DA CAUSA MADURA. (...) 2. Ademais, consoante entendimento pacífico do STJ, extinto o processo sem julgamento de mérito, o Tribunal pode de imediato julgar o feito, ainda que inexista pedido expresso nesse sentido, caso a controvérsia trate de questão de direito, tese conhecida como teoria da causa madura. 3. Agravo regimental não provido.

Ainda que se compreenda que a possibilidade da aplicação da Causa Madura ex officio esteja alinhada tanto com o novo código, quanto com a tese teórica dominante, bem como com a jurisprudência do Tribunal da Cidadania; necessário se faz destacar que alguns autores, como Marcelo Abelha Rodrigues (2010, p. 643), entendem que a aplicação desse instrumento ex officio pode ocasionar uma reformatio in pejus, uma vez que o apelante (caso

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seja o réu no processo), em se tratando de sentença proferida com base no artigo 485, I do NCPC10, poderia propor a ação novamente.

Entretanto, caso o tribunal aplique o instituto adentrando ao mérito, haverá coisa julgada material, consequentemente impedindo a propositura novamente da ação. Como resultado, afirmam que esse fato seria contrário ao princípio da non reformatio in pejus.

É fato que a proibição da reformatio in pejus, embora não se encontre expressa em nossa legislação processual, encontra abrigo na interpretação sistêmica a qual permite sua definição, por tratar-se, de fato, da conclusão proveniente dos artigos 99611, que trata do

interesse no manuseio recursal e o artigo 1.013 “caput”12, que dispõe sobre o efeito devolutivo

dos recursos, ambos do novo diploma processual.

Sem a pretensão de esgotar o assunto, apreende-se que por tratar-se de norma de ordem pública, pois objetiva maior celeridade e presteza jurisdicional, a Causa Madura é capaz de afastar a aplicação do princípio da non reformatio in pejus, sendo esse o

entendimento da doutrina majoritária.

Essa é a lição de Theodoro Júnior (1999, p.171):

Note-se, porém que há questões de ordem pública, como as condições da ação, os pressupostos processuais, a intangibilidade da coisa julgada, a decadência, etc., que devem ser reconhecidas de ofício, em qualquer fase do processo e em qualquer grau de jurisdição. Para essas questões, cujo exame independe de provocação da parte, é claro que não constitui embaraço para o tratamento da matéria a falta de provocação da parte, nem tampouco incide na vedação da reformatio in pejus a deliberação que redunde em prejuízo para o recorrente.

Também nesse sentido entende Alexandre Câmara (2011, p.89) “esta reformatio in pejus é absolutamente legítima, já que o tribunal nada mais estará fazendo do que emitir desde logo um pronunciamento sobre o mérito que, depois, será emitido de qualquer modo”.

Por todo o exposto e, consoante à lição de Gervásio Lopes Jr (2007, p.164-165), destaca-se, a nosso sentir, que não é faculdade do recorrente pleitear a remessa dos autos à origem para que se proceda à análise de mérito, afastando assim a aplicação da Causa Madura, pois isso seria denegar a outra parte à razoável duração do processo.

10 Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: I - indeferir a petição inicial;

11 Art. 996. O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público, como parte ou como fiscal da ordem jurídica.

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Neste sentido, Gervásio Lopes Jr.:

Nestes casos, o recurso funciona, apenas, como instrumento de eliminação de empecilho criado pelo 1º grau ao julgamento, no momento adequado, do fundo do litígio. (...). Colocamos os princípios dispositivo e da vedação da reforma para pior nos seus devidos lugares, permitindo ao tribunal julgar por salto de instância de forma contrária, inclusive, aos interesses da parte recorrente. Assim é que o requerimento da parte não é exigido para o salto julgamental, que tem como pressupostos, apenas, a interposição e o conhecimento de um recurso; o seu provimento ou a anulação da sentença e a maturidade da causa.

Supõe-se que esse último ponto, seja o mais controverso em relação à aplicabilidade da Causa Madura.

Prosseguindo no estudo, reconhece-se o efeito translativo do recurso de apelação e, entende-se pela possibilidade de emprego da Causa Madura em recursos distintos, o que será apreciado de forma sintética no item seguinte.

2.5 A CAUSA MADURA EM RECURSOS DISTINTOS DO RECURSO DE APELAÇÃO

Existem muitas divergências doutrinárias e de ordem prática, acerca da possibilidade da aplicação da Causa Madura em recursos que não o recurso de apelação.

Dessa forma cabe destacar, de forma sucinta, alguns pontos com o intuito de aclarar o tema e firmarmos nosso posicionamento.

Topograficamente a Teoria da Causa Madura está inserida em capítulo destinado ao regramento do recurso de apelação, tanto no novo Código de Processo Civil, quanto no Código de 1973.

O próprio “caput” do artigo 1.013 refere-se textualmente ao recurso de apelação. Esse fato pode, controvérsias doutrinárias a parte, dar margem a interpretação de que a possibilidade de julgamento imediato em outros recursos encontra-se afastada.

Ainda que se assuma que essa é a literalidade da norma, entende-se que, de acordo com a lição de Daniel Assumpção (2016, p. 1680), o tema está relacionado à Teoria Geral dos Recursos:

[...] defende-se a aplicação da regra em todo e qualquer recurso, em especial no agravo de instrumento, recursos ordinário constitucional (STJ 2ª Turma, RMS 17.123/ES, Rel. Min. Humberto Martins, j. 15.04.2008, DJ 25.04.2008; STJ, 3ª Turma, RMS 20.541/SP, re. Min. Humberto Gomes de Barros, j. 08.03.2007, DJ 28.05.2007) e recurso inominado nos Juizados Especiais, sem, entretanto, desprezar, a priori outras espécies recursais, tais como o recurso especial e o recurso

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Além de admitir a aplicação do instrumento no agravo, o doutrinador defende a aplicação do mesmo em todo e qualquer recurso, inclusive nos recursos especial e extraordinário.

Há de se notar que existe posição contrária, no sentido de não erigir a Teoria da Causa Madura à norma geral da Teoria dos Recursos, aplicável a todo e qualquer recurso. No que tange singularmente aos recursos especial e extraordinário, destaca-se a posição doutrinário de Rodrigo Becker 13 e Victor Trigueiro14:

Deve-se observar que ambos os recursos [...] têm a sua amplitude cognitiva limitada, não admitindo, por exemplo, revolvimento de matéria fática. Além disso, são destinados a fixação de teses jurídicas a respeito da norma constitucional e infraconstitucional federa. Tais características afastam, a nosso sentir, a possibilidade da aplicação da Teoria da Causa Madura.

Entretanto, o tema ainda merece algumas considerações.

O STJ posicionou-se recentemente no RESP 1.215.368 – ES15, de relatoria do Min.

Herman Benjamin, em julgado da Corte Especial, datado de 01/06/2016, pela aplicação da causa madura via agravo de instrumento.

EMENTA. PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DEFERIMENTO DE LIMINAR DE INDISPONIBILIDADE DE BENS. VÍCIO DE FUNDAMENTAÇÃO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. TEORIA DA CAUSA MADURA (ART. 515, §3º, CPC). APLICABILIDADE. Existe também o entendimento de que não é o caso da aplicação da causa madura em agravo de instrumento, mas sim, de uso do agravo para a resolução da questão sem

necessidade de devolver a matéria ao juízo de piso, decidindo apenas o agravo.

Vale destacar, que as decisões recorríveis por meio desse expediente envolvem apenas questões incidentais, e que o novo CPC clareou a hipótese do cabimento do agravo de

instrumento contra falsas sentenças, nas quais se decidia o mérito sem colocar fim ao processo e, portanto, tratadas como interlocutórias, sendo o agravo o recurso cabível, uma vez que o STJ não admitia, até então, a coisa julgada parcial. De acordo com esse entendimento, a

13 Rodrigo Becker, Mestre em Direito pela UnB. jota.info/colunista/victor. 14 Victor Trigueiro, Mestre em Direito pela UnB. jota.info/colunista/victor 15 REsp 1.215.368/ES. Relator Min. Herman Benjamin, em 01/06/2016.

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aplicação da causa madura, via agravo de instrumento, resolveria, por conseguinte, o mérito do incidente e não o meritum causae.

Por último, conclui-se que, em não havendo prejuízo efetivo à parte, é possível a utilização do instituto nos demais recursos disponíveis no sistema jurídico atual.

3. INOVAÇÕES DA TEORIA DA CAUSA MADURA NO NOVO CPC

A Teoria da Causa Madura subsistiu ao advento do novo CPC, experimentando, inclusive, significativas inovações. Essa otimização da Causa Madura, pretende-se analisar sinteticamente nesse ponto.

Enquanto no Código Buzaid a previsão de aplicação ocorria, tão somente, nos casos em que o processo era extinto sem julgamento de mérito (art. 515 §3º CPC/1973), o novo diploma legal manteve essa possibilidade (art. 1.013 §3º, I CPC/2015), e ainda ampliou sua aplicação objetivando a celeridade processual.

3.1 A CAUSA MADURA E A EXTINÇÃO DO PROCESSO VIA SENTENÇA TERMINATIVA

Essa hipótese, mantida no novo código, merece maior atenção na medida em que a extinção do processo ocorrer com base no inciso I do artigo 485 do CPC/201516, pois com o

indeferimento da inicial não ocorreu ainda a integralização do contraditório. Portanto, nesse caso, não há que se falar que o processo está “em condições de imediato julgamento”.

Entretanto, entende-se que não há óbice na utilização pelo tribunal do instituto caso o mesmo verifique que a improcedência do pedido baseou-se no artigo 332 e seu § 1º do NCPC17, pois o novo sistema processual permite, de forma taxativa, no referido artigo, o

julgamento liminar do pedido sem que o réu seja citado.

3.2 A CAUSA MADURA E A NULIDADE DA SENTENÇA EM CONSEQUÊNCIA DE SUA APRECIAÇÃO IRREGULAR

16 Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: I - indeferir a petição inicial;

17 Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido (...) § 1o O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar, desde logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição.

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Ao apreciar o mérito em grau recursal, o tribunal está adstrito por força do §3º do artigo 1.013 a ocorrência das hipóteses elencadas nos incisos II a IV do CPC/201518.

No caso do inciso II, temos o caso de sentença extra petita, ou seja, a sentença concede ao autor coisa diversa da que foi requerida.

Já o inciso IV, dispõe sobre a decretação de nulidade da sentença pelo juízo ad quem, quando da falta de sua fundamentação.

Em relação à sentença extra petita o novo código veio de encontro ao posicionamento já difundido pela doutrina. Assim defende Araken de Assis (2016, P.445):

Na maioria dos casos em que se verificam o vício extra e o ultra petita, mostra-se admissível reduzir a sentença aos limites do pedido [...] Nada impede, por exemplo, a simples e direta ablação da quantia a que o réu fora condenado além do pedido; ou limitar a decretação da invalidade à cláusula apontada pelo autor; ou limitar o dispositivo à declaração de existência, eliminando a condenação do réu; ou suprimir com o fundamento do acórdão o fato constitutivo da injúria grave, reconhecendo tão só o adultério; e assim por diante. É o que autoriza o art. 1.013, § 3°, II.

Nada persuasivo é o argumento brandido em alguns julgados para rejeitar o saneamento desses vícios no órgão ad quem [...]. Parte-se da errônea suposição de que há algo obrigatório e inexorável no duplo exame da causa. Ora, o duplo grau é simples previsão, jamais imposição do sistema.

E assim encontra-se posicionamento jurisprudencial19:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. INDENIZAÇÃO. DANOS MATERIAIS. SENTENÇA DE MÉRITO DECOTADA. CAUSA MADURA. APLICAÇÃO DO ART. 515, § 3º, DO CPC. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. 1. A despeito de ter havido decisão de mérito na sentença, sendo esta decotada na parte extra petita, a interpretação extensiva do § 3.º do art. 515 do Código de Processo Civil autoriza o Tribunal local adentrar na análise do mérito da apelação, mormente quando se tratar de matéria exclusivamente de direito, ou seja, quando o quadro fático-probatório estiver devidamente

delineando, prescindindo de complementação, tal como ocorreu na espécie. Já em relação à hipótese proposta pelo inciso IV, encontra-se óbice doutrinário, pois, na esteira de Barbosa Moreira, Fredie Didier Jr. e Flávio Cheim Jorge entre outros, entendem que a validade da sentença é requisito para aplicação do dispositivo.

Entretanto, por vezes sua aplicação foi admitida pela jurisprudência20:

18 Art. 1.013. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada. [...] II - decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir; III - constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo; IV - decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação.

19

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EMENTA. PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. SENTENÇA PROFERIDA COM RESOLUÇÃO DE MÉRITO. SENTENÇA DECLARADA NULA. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. ART. 93, IX, DA CF. ARTS. 165 E 458, DO CPC. APLICAÇÃO DO ART. 515, § 3°, DO CPC. TEORIA DA CAUSA MADURA. POSSIBILIDADE.

Portanto, o novo diploma legal, ao materializar essa norma, harmoniza-se com o Princípio da duração razoável do processo.

Com base nesses dois pressupostos, entende-se deve o juízo ad quem apreciar desde logo o meritum causae, aplicando a Teoria da Causa Madura.

Já o inciso III do §3º do artigo 1.013 merece ser estudado com mais cautela, sendo examinado em separado no próximo item.

3.3 A CAUSA MADURA E A OMISSÃO DE UM DOS PEDIDOS NA SENTENÇA

Essa hipótese requer uma avaliação mais cuidadosa.

Conforme o artigo 327 do NCPC, é permitida a dedução de um dos pedidos

cumulados contra o mesmo réu no mesmo processo, ainda que entre eles não exista conexão. De acordo com Humberto Theodoro Júnior (2016, p. 421), pode haver “casos em que a cumulação é plena e simultânea, representando a soma de várias pretensões a serem

satisfeitas cumulativamente, num só processo”, portanto “[...] cada pedido distinto representa uma lide a ser composta pelo órgão jurisdicional [...]”.

Denota-se portanto, que, no caso de cumulação de pretensões, haverá tantas sentenças quantas forem as pretensões deduzidas no mesmo processo, embora o ato da entrega da prestação jurisdicional seja único.

Deduz-se assim, que a sentença que se omite na apreciação de algum pedido, não é nula, e sim inexistente, ocorrendo inclusive, ausência da devida prestação jurisdicional.

Assim expõem Didier, Braga e Oliveira (2015, p.255):

Não há vício naquilo que não existe. Só tem defeito aquilo que foi feito. Se um pedido não foi examinado, não houve decisão em relação a esse pedido e, portanto, não se pode falar em vício. Do mesmo modo, a solução dos demais pedidos, efetivamente resolvidos, não fica comprometida ou viciada pelo fato de um dos pedidos não ter sido examinado. Nesses casos, a decisão precisa ser integrada e não invalidada; não se pode invalidar o que não existe. A integração da decisão é uma 20 REsp 1.096.908; Proc. 2008/0218593-1; AL; Primeira Turma; Rel. Min. Luiz Fux; Julg. 06/10/2009; DJE 19/10/2009).

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das possíveis pretensões que podem ser deduzidas em um recurso. Integrar a decisão é torná-la inteira, completa, perfeita; integrar a decisão não é invalidá-la.

Entende-se através desse breve exame, que por tratar-se de sentença inexistente não há como viabilizar a apelação, pois, como dispõe o artigo 1.009 do CPC/2015, para haver apelação, necessário é que haja uma sentença precedente. Portanto, não poderia o tribunal conhecer do recurso, e muito menos analisar o mérito, pois se não há sentença, não há que se falar em apelação.

Assim, verifica-se o conflito de dois dispositivos do novo código.

Nesse caso, será preciso observar se, em busca de um processo mais célere, ocorrerá a prevalência de um preceito sobre o outro.

3.4 HIPÓTESE DE APLICAÇÃO ANÁLOGA DA TEORIA DA CAUSA MADURA

O artigo 1.013 do novo Código de Processo Civil em seu §4º21, autoriza que o órgão

recursal ao reformar sentença que reconheça prescrição ou decadência julgue o mérito do feito, desde que o processo encontre-se devidamente instruído.

Nesse caso, não há que se falar propriamente em aplicação da Teoria da Causa Madura, uma vez que o artigo 487, II do CPC/2015 22 estabelece que prescrição e decadência

são questões de mérito.

Conforme salienta Thiago Ferreira Siqueira23: “Ao reformar a sentença nelas fundada,

e prosseguir na análise do meritum causae, o Tribunal estará apenas rejulgando pretensão que já foi analisada pelo órgão a quo”.

Portanto, percebe-se que trata-se de uma aplicação análoga da Causa Madura, já anteriormente aceita pela doutrina e, presente na inteligência dos §§ 1º e 2º do artigo 515 do CPC/1973, a qual, com muita propriedade, a nova legislação positivou no referido parágrafo do artigo 1.013 do NCPC.

21Art. 1013, § 4o Quando reformar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição, o tribunal, se possível, julgará o mérito, examinando as demais questões, sem determinar o retorno do processo ao juízo de primeiro grau.

22 Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz: I - acolher ou rejeitar o pedido formulado na ação ou na reconvenção; II - decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de decadência ou prescrição;

23 http://www.rkladvocacia.com/duplo-grau-de-jurisdicao-e-teoria-da-causa-madura-no-novo-codigo-de-processo-civil/em 20/02/2017.

(16)

4. A TEORIA DA CAUSA MADURA E A CELERIDADE PROCESSUAL

Vários são os estudos acadêmicos, no sentido de demonstrar que os institutos e inovações trazidos pelo novo código, não são suficientes para promover a tão almejada celeridade processual. Embora as inovações em relação à Causa Madura contribuam

positivamente nesse sentido, longe estamos do modelo que se aproxime ao ideal da razoável duração processo.

Assim, pretende-se nesse item, desenvolver sumariamente, argumentos no sentido de demonstrar que, embora seja palpável a ampliação da utilização da Causa Madura nos últimos anos, muito ainda há de se avançar para que o instituto proporcione resultados satisfatórios, de forma mais ampla, no sentido de entregar uma resposta judicial mais célere e, portanto, mais justa aos jurisdicionados.

4.1 PROCESSO CÉLERE: OBJETIVO DO NOVO CPC

O Código de Processo Civil de 2015 é fruto do anseio dos operadores do direito contemporâneo por um sistema jurídico mais inclusivo, fidedigno e, principalmente mais justo.

É fato, que o diploma processual anterior não mais atendia, com presteza, os seus objetivos precípuos. Há de se notar que, devido às alterações e inclusões sofridas no decorrer do tempo, o mesmo havia se tornado uma “colcha de retalhos” normativa e,

consequentemente, restou prejudicada não só sua funcionalidade, mas também a entrega em tempo hábil da prestação jurisdicional.

Indubitavelmente muitas alterações incorporadas pelo Código Processual de 1973 foram fundamentais no sentido de priorizar o ritmo do processo. As reformas ocorridas a partir de 1994, bem como, por exemplo, a Lei 11.232/2005 responsável pela introdução do sincretismo no processo civil pátrio, entre outras, foram relevantes nesse sentido. Entretanto, embora imprescindíveis, devido à própria evolução social, essas modificações acabaram por comprometer a dinâmica do sistema jurídico ao serem materializadas aleatoriamente no estatuto processual anterior, tornando o código de sinuoso manuseio.

(17)

Por outra vertente, embora na Exposição de Motivos do Código Buzaid já restasse desígnios a celeridade, óbices burocráticos e formalidades inúteis acabaram por contribuir para uma crise de morosidade e inutilidade do sistema jurídico.

Em consonância com a Constituição Cidadã, que traz como um de seus princípios fundamentais a razoável duração do processo (art. 5º LXXVIII), entende-se que o novo CPC comprometeu-se com a celeridade processual quando se empenha em promover um processo menos complexo e mais organizado.

Assim, reputa-se positiva a entrada em vigor da Lei 13.105/2015, no sentido da promoção de um processo mais célere e, consequentemente, mais justo, apesar da inevitável celeuma doutrinária advinda da mesma.

4.2 A CELERIDADE PROCESSUAL COMO DECORRÊNCIA DAS INOVAÇÕES INCORPORADAS AO INSTITUTO

A Teoria da Causa Madura, que sofreu significativo incremento no novo CPC, encontra-se em plena consonância com a perspectiva basilar abarcada pelo novo diploma legal.

Entende-se que se já havia no Código Buzaid uma predisposição da Causa Madura no sentido de promover a celeridade do processo, essa vertente foi ampliada, de forma

significativa, no novo código.

Nesse ponto, em breve apresentação, pretende-se aferir se, a Causa Madura, através do incremento sofrido na legislação processual de 2015, terá o condão de se efetivar na prática forense no futuro próximo.

Ao ampliar a utilização da Causa Madura em questões prejudiciais, e não somente nos casos das questões preliminares, como previa a legislação processual anterior, é certo que o novo CPC ao tratar desse instituto intenciona a celeridade do processo.

Quando se possibilita o julgamento do mérito da causa dita “madura” pelo órgão ad quem sem necessidade de retorno dos autos ao juízo de primeiro grau, indubitavelmente obtém-se uma resposta mais rápida ao jurisdicionado e, desde que se mantenha o “devido processo legal” como princípio norteador, a entrega tempestiva da prestação jurisdicional assegura uma maior probabilidade de que a mesma seja efetivamente justa.

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Embora o momento ainda seja de ponderações e controvérsias, começam a surgir indicativos doutrinários e jurisprudenciais da utilização da Causa Madura de forma efetiva e com propósito de otimização do processo.

Nesse sentido, derradeiro é o posicionamento do STJ no REsp 1.215.368/ES, datado de 01/06/2016, do qual destacam-se os seguintes pontos, conforme Dinamarco (2007, p.177/181):

A novidade representada pelo § 3º do art. 515 do Código de Processo Civil nada mais é do que um atalho, legitimado pela aptidão a acelerar os resultados do processo e desejável sempre que isso for feito sem prejuízo a qualquer das partes; ela constituiu mais um lance da luta do legislador contra os males do tempo e representa a ruptura com um velho dogma, o do duplo grau de jurisdição, que por sua vez só se legitima quando for capaz de trazer benefícios, não demoras desnecessárias Por outro lado, se agora as regras são essas e são conhecidas de todo operador do direito, o autor que apelar contra a sentença terminativa fá-lo-á com a consciência do risco que corre; não há infração à garantia constitucional do

due process porque as regras do jogo são claras e isso é fator de segurança das

partes, capaz de evitar surpresas.

Percebe-se, portanto, que de fato há inclinação do tribunal superior e, por consequência, reflexos certamente em breve serão observados nos demais tribunais, de utilização da Causa Madura de forma mais ampla e efetiva; positivando seus efeitos,

acarretando celeridade processual, e entregando uma prestação jurisdicional mais próxima da justiça.

5. CONCLUSÃO

A Causa Madura é mais do que mera coadjuvante no novo cenário processual brasileiro, que através do novo código tangencia o processo mais célere; e, ainda que se reconheça que essa teoria é um instrumento concreto que possibilita decisões judiciais mais efetivas e, por conseguinte, mais justas, há ainda um extenso caminho a ser percorrido até que a Causa Madura se estabilize e proporcione resultados satisfatórios à sociedade.

O processo célere é sem dúvida, uma das principais metas do Novo CPC. E em nosso sentir, a Teoria da Causa Madura, vem de encontro a esse propósito.

É evidente que, com o advento do novo Código, houve um progresso no intuito de viabilizar instrumentos objetivando desafogar o sistema judiciário.

Entende-se que, a entrega da prestação jurisdicional tardia, mesmo que justa, torna-se infrutífera, pois não alcança na totalidade sua plenitude.

(19)

Constata-se que a duração razoável do processo não está relacionada somente a mudança da legislação, mas sobretudo, a desburocratização do Poder Judiciário e a própria atuação dos operadores do direito.

Em que pese, alguns institutos processuais, como por exemplo, a gratuidade da justiça, serem de fundamental importância para oportunizar a isonomia e a equidade, fato é que no decorrer dos últimos anos houve um incremento considerável das chamadas demandas frívolas, o que por si só contribuem para agravar o congestionamento do judiciário.

Cabe ressaltar que, embora se objetive a celeridade processual, há de se atentar para o fato de que deve haver equilíbrio entre a sumarização do processo e a segurança jurídica. Nesse sentido, o novo CPC propõe-se a garantir a efetividade da prestação jurisdicional, através da observância da complexidade inerente ao processo, garantindo a salvaguarda ao contraditório e a ampla defesa e, consequentemente, admitindo que, embora seja

imprescindível a burocracia procedimental, há de se apresentar meios de otimizá-la em busca de resultados mais positivos e concretos para a sociedade.

Ainda que se considere, de fundamental importância para a garantia do estado democrático de direito, às discussões teóricas a respeito do conflito de princípios

constitucionais e, embora se constate, por meio do exame realizado, que ainda existem muitas discordâncias acerca da forma e da amplitude de sua utilização, conclui-se que a Teoria da Causa Madura, se bem utilizada, tem a prerrogativa de impulsionar o novo sistema processual brasileiro através da abreviação responsável do processo com o escopo de atender aos anseios da sociedade, entregando uma prestação mais próxima do ideal de justiça.

Através desse estudo, entende-se que a Causa Madura tem exatamente esse propósito, qual seja: servir ao processo como instrumento de aprimoramento das decisões judiciais, promovendo não só a segurança jurídica como consequência imediata, mas também de forma mediata e significativa, contribuindo para evitar que as mesmas tornem-se obsoletas e

infrutíferas pelo decurso do tempo. Por fim, acredita-se que “o tempo é o senhor da razão”, e, embora notoriamente, assim como todas as demais modificações na seara jurídica, somente com o decorrer dos anos é que poderemos avaliar as benesses advindas da utilização da Causa Madura; espera-se que, não só esse instrumento, mas todos os demais institutos e ferramentas apresentados ou aperfeiçoados pelo novo CPC, oportunizem a sociedade a entrega da

(20)

REFERÊNCIAS

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premissas e institutos fundamentais – 5ª ed., rev. atual. e ampl. = São Paulo: Editora

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Referências

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