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Análise acerca da pedofilia na internet

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA INÁCIO ROCHA

ANÁLISE ACERCA DA PEDOFILIA NA INTERNET

Araranguá 2018

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INÁCIO ROCHA

ANÁLISE ACERCA DA PEDOFILIA NA INTERNET

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Nadila Hassan, Esp.

Araranguá 2018

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Dedico este trabalho de conclusão de curso à minha família, em especial aos meus pais, Valdionir e Santina, e minha irmã, Daniela, que sempre me incentivaram e apoiaram em minha jornada acadêmica.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, à minha mãe Santina, pelo carinho e apoio incondicional em todos os momentos, pelo exemplo de perseverança e compreensão, juntamente com pai Valdionir Rocha, meu muito obrigado.

Aos meus amigos, que são parte de minha família, pelo conforto e confiança depositada em minha capacidade de atingir meus objetivos, especialmente à Alisson Oliveria e Maykom Zauer, por me auxiliarem me apoiarem desde o início do trabalho.

Agradeço aos professores da Unisul de Araranguá, sem eles este trabalho não poderia ser realizado, principalmente, à minha orientadora Nádila Hassan, não só pela participação constante, sugestão do tema e orientação, apontando o caminho, mas pela dedicação em que teve comigo e seu nítido amor no que faz, que me fez ter foco para concluir o presente trabalho, meu muito obrigado.

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“Só se pode alcançar um grande êxito quando nos mantemos fiéis a nós mesmos.” (Friedrich Nietzsche).

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RESUMO

Este trabalho foi conduzido por meio de pesquisa bibliográfica, com foco no tema da Pedofilia e seus aspectos relevantes na internet. O questionamento base para o desenvolvimento do estudo foi: Como nossa sociedade se comporta perante este tema em geral, mais especificamente na questão virtual? O objetivo geral foi verificar o tratamento dado a Pedofilia em todo mundo e especificamente em nosso País e como esta ocorre virtualmente. Como objetivos específicos pautaram-se em analisar conceitualmente a pedofilia; verificar a relativização de que pedofilia em si não consiste em crime; identificar os crimes que podem estar ligados aos pedófilos; abordar casos virtuais de pedofilia; e debater as formas de combate à pedofilia virtual. A presente pesquisa permitiu a compreensão de que a pedofilia é um estado patológico e não um crime, uma vez que não está tipificada em nosso ordenamento jurídico. No entanto, vários tipos de crimes podem ser efetuados por atitudes dos pedófilos, sendo que estes foram tratados mais especificamente no Estatuto da Criança e do Adolescente. Dentre os tipos de pedofilia a praticada na internet, hodiernamente, vem sendo debatida com ênfase por sua ocorrência ser muitas vezes de difícil identificação, o que faz com que o Estado busque políticas públicas a fim de combatê-la, observando que a sociedade também deve se envolver para que o combate seja efetivo.

Palavras-chave: Pedofilia; Estatuto da Criança e Adolescente Lei nº 11.829, de 2008, Internet.

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ABSTRACT

This work was conduced by bibliography research with a focus on pedophilia and relevant aspects on the internet. The basic question for the development was: how our society reacts towards this subject in general, more specifically on internet pedophilia. The main purpose was verified around the world, but more concentrated in our country and how it happens virtually. Furthermore, the specifically objective was based on analyzing the pedophilia conceptually verifying the generalization that pedophilia itself is not as a crime; identifying the crimes that can be associated with pedophilia; also approaching virtual pedophilia cases; and discussing ways to fight off cyber pedophile crimes. According to recent research, pedophilia is considered a pathological disease and not a crime, since it is not typified in our legal system. However, many types of crimes can be caused by the pedophile’s attitude, which are treated specially by the Statute of the child and adolescent. Amongst all pedophilia cases, the internet practice has been discussed with emphasis nowadays, since it is often difficult to identify, leading the State to seek public politics to combat the problem, it is also important society’s aid to look for an effective solution.

Keywords: Pedophilia and Statute of Child and Adolescent Law No. 11.829/2008., Internet.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 9

2 DA PROTEÇÃO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ... 11

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE .. 12

2.2 EVOLUÇÃO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO ... 13

2.3 PRINCÍPIOS DA PROTEÇÃO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ... 16

2.3.1 Princípio da Proteção Integral ... 17

2.3.2 Princípio da Prioridade absoluta ... 18

2.3.3 Princípio da Cooperação ... 19

2.3.4 Princípio do melhor interesse do menor ... 19

2.4 PROTEÇÃO FRENTE AOS CRIMES SEXUAIS ... 20

3 PEDOFILIA ... 23

3.1 CONCEITO ... 23

3.2 ASPECTOS HISTÓRICOS ... 24

3.3 CARACTERISITICAS DO PEDÓFILO ... 26

3.4 PEDOFILIA COMO DOENÇA ... 29

3.5 CRIMES LIGADOS À PEDOFILIA ... 31

4 PEDOFILIA NA INTERNET ... 33

4.1 MEIOS DE ABORDAGEM DOS AGRESSORES ... 35

4.2 CASOS DE PEDOFILIA NA INTERNET ... 36

4.3 COMBATE A PEDOFILIA VIRTUAL ... 37

4.4 PEDOFILIA NO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA ... 44

5 CONCLUSÃO ... 47

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1 INTRODUÇÃO

A proteção da Criança e Adolescente é um dever da sociedade em geral, mas em especial de sua família e do Estado, visando “o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.” (CONCEITO..., 2018).

Mas nem sempre isto foi considerado um dever, somente no fim do século XIX a sociedade passou a tratar das crianças e adolescentes de maneira diferente, foi um avanço lento, porém era o inicio da primeira concepção de cuidados com o menor. (OLIVEIRA..., 2018).

No entanto, o abuso, a violência e a exploração sexual dos menores ainda ocorre, tendo sido tratados já em 1915, quando houve alteração no art. 226, do Código Penal de 1890.

Com a Constituição Federal de 1988, em seu art. 227, foram estabelecidas diferentes formas de ação para a proteção à criança e adolescentes contra tais abusos e em 1989 foi promulgada a Convenção sobre os Direitos da Criança e do Adolescente, identificando diretrizes para que estes tivessem respeitados os seus direitos.

Em nosso ordenamento pátrio, em 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente, identificou os indivíduos que estão dentro da nomenclatura de criança (até doze anos incompletos) e adolescente (entre doze e dezoito anos de idade), também elencou princípios basilares de proteção aos mesmos, como o da proteção integral, da prioridade absoluta, da Cooperação e do melhor interesse do menor, todos indicando o Estado, a família e a sociedade como partes integrantes neste amparo.

A pedofilia, que vem a ser a preferência erótica por crianças e que pode se manifestar por diferentes atos, já existia nos primórdios da sociedade, mas este termo só foi criando no século XIX, através de estudos da medicina psiquiátrica, tendo sido classificada como um distúrbio mental, inclusive pela Organização Mundial da Saúde.

Cabe ressaltar que a pedofilia não está tipificada em nosso ordenamento jurídico, no entanto, o Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu art. 240, descreveu vários atos que podem ser praticados pelo pedófilo, que só será

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10 considerado criminoso quando esta doença se exteriorizar e passar do mundo fictício para o real.

Com a evolução tecnológica, novos meios de comunicação começaram a ser utilizados para atender os anseios de quem tem esta predileção, assim, a internet, trouxe para os mesmos certa segurança de não serem descobertos.

No entanto, assim como os criminosos avançam tecnologicamente, a Polícia Federal também se aprimora no combate à pedofilia na internet, unindo forças com a sociedade em geral.

Sendo assim, este trabalho apresenta como tema central a pedofilia e seus aspectos relevantes na internet. Como questionamento, estabeleceu-se: A pedofilia é crime? Como se dá a pedofilia na internet e suas formas de combate?

O objetivo geral deste estudo visa verificar o que vem a ser pedofilia e como esta se dá na internet. Como objetivos específicos, determinou-se: destacar a proteção da criança e do adolescente; explanar a respeito da pedofilia e suas formas; identificar características dos pedófilos; demonstrar como a internet é utilizada para prática da pedofilia; e demonstrar como se dá o combate à pedofilia no país.

A presente pesquisa realizou-se através de estudo bibliográfico exploratório, apoiado em textos de diferentes autores, buscando o acréscimo dos conhecimentos sobre o tema, para garantir um desenvolvimento de uma base teórica segura.

Este trabalho foi disposto em forma de capítulos, sendo que o primeiro capítulo apresenta a evolução histórica da proteção da criança e do adolescente, peculiaridades, princípios inerentes à proteção dos mesmos frente aos crimes sexuais.

O segundo capítulo aborda a pedofilia através de conceitos e aspectos históricos na sociedade, características do pedófilo, a pedofilia como doença e os crimes que podem estar ligados à pedofilia.

O terceiro capítulo trata da pedofilia na internet, os meios utilizados na abordagem dos agressores, casos reais de pedofilia e o combate à pedofilia virtual.

E, por fim, demonstram-se as conclusões alcançadas por meio do desenvolvimento do trabalho e se expõe as referências utilizadas para a construção da base teórica.

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2 DA PROTEÇÃO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

A proteção da Criança e do Adolescente é um dever da sociedade em geral, mas em especial de sua família e do Estado.

É dever constitucional da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Ou seja, a criança e o adolescente possuem certos direitos que devem ser assegurados pela família, pela sociedade e pelo Estado com absoluta prioridade. Trata-se de um novo olhar lançado sobre a vida daqueles que, por sua condição peculiar de pessoas em desenvolvimento, necessitam de proteção diferenciada, especializada e integral. (CONCEITO..., 2018, p.1)

Mas como podemos classificar e identificar os indivíduos que podem ser chamados de crianças e adolescentes?

A Convenção sobre os Direitos da Criança, em seu artigo primeiro, prevê que: “Para efeito da presente convenção considera-se criança todo ser humano com menos de 18 anos de idade, a não ser que, em conformidade com a lei aplicável à criança, a maioridade seja alcançada antes.” (BRASIL, 1990b).

Já a Organização Mundial de Saúde (2015) define adolescência como sendo “o período da vida que começa aos 10 anos e termina aos 19 anos completos. Para a OMS, a adolescência é dividida em três fases: Pré-adolescência – dos 10 aos 14 anos; Adolescência – dos 15 aos 19 anos completos; e Juventude – dos 15 aos 24 anos.” (apud LIMA e PIRES, 2015, p.1).

Em nosso ordenamento pátrio, a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, identifica os indivíduos que estão dentro da nomenclatura de criança e adolescente como:

Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquele entre doze e dezoito anos de idade.

Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade. (BRASIL, 1990a).

Salienta-se que tanto a criança quanto o adolescente, por estarem se desenvolvendo física e psiquicamente, deverão receber cuidados pessoais. (BITENCOURT, 2009 apud LIMA e PIRES, 2015, p.1)

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12 2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E ADOLESCENTE

Desde a Idade Antiga, as crianças não possuíam papel importante, não eram merecedoras de proteção especial, nem mesmo sua família lhe dava a devida importância.

Ensina Tavares que, “entre quase todos os povos antigos, tanto do Ocidente quanto do Oriente, os filhos durante a menoridade, não eram considerados sujeitos de direito, porém, servos da autoridade paterna.” (TAVARES apud OLIVEIRA, 2013).

A personalidade paterna tinha total poder sobre a família, este era o chefe e, portanto, impunha as regras e as penas.

Nos ensinamentos de Maria Regina de Azambuja:

Em Roma (449 a.C), a Lei das XII Tábuas permitia ao pai matar o filho que nascesse disforme mediante julgamento de cinco vizinhos (Tábua Quarta, nº 1), sendo que o pai tinha sobre os filhos nascidos de casamento legítimo o direito de vida e de morte e o poder de vendê-los (Tábua Quarta nº2). Em Roma e na Grécia Antiga, a mulher e os filhos não possuíam qualquer direito. O pai, o chefe da família, podia castigá-los, condená-los e até excluí-los da família. (OLIVEIRA, 2013).

As crianças e adolescentes estavam à mercê de toda a sociedade, sem proteção, sendo consideradas adultas com apenas 7 anos, tendo que acatar tudo que lhes era solicitado, senão sofreriam consequências físicas.

Nesse mesmo período surgiram as punições físicas e espancamentos como meio de fazer com que as crianças agissem conforme desejo dos adultos e fossem afastadas de más influências. Nívea Barros esclarece que “entre 1730 e 1779, metade das pessoas que morreram em Londres tinham menos de 5 anos de idade.” (BARROS apud OLIVEIRA, 2013).

Mas com a chegada da Idade Média e o crescimento da religião, em específico do cristianismo – que todos seguiam com extrema obediência, tornando a religião uma espécie de poder maior, tudo que ela pregava tinha de ser respeitado – começou-se a olhar a todos, e inclusive às crianças, com um olhar diferente.

O Cristianismo trouxe uma grande contribuição para o início do reconhecimento de direitos para as crianças: defendeu o direito à dignidade para todos, inclusive para os menores. (SILVA JÚNIOR, 2017).

Os pais que antes puniam conforme quisessem e não sofriam consequências começaram a mudar suas atitudes, pois a igreja começou a

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13 estabelecer punições aos pais que abandonavam ou expulsavam seus filhos. (SILVA JÚNIOR, 2017, p. 1)

Mas, somente no final do século XIX, que a sociedade começou a mudar seu pensamento sobre a educação e tratamento destes indivíduos, o avanço era fraco, mas era um início, o surgimento da primeira concepção de criança. (OLIVEIRA, 2013).

Até o final do século XIX [...], a criança foi vista como um instrumento de poder e de domínio exclusivo da Igreja. Somente no início do século XX, a medicina, a psiquiatria, o direito e a pedagogia contribuem para a formação de uma nova mentalidade de atendimento à criança, abrindo espaços para uma concepção de reeducação, baseada não somente nas concepções religiosas, mas também científicas. (OLIVEIRA, 2013).

E em 1919 criou-se o Comitê de Proteção da Infância, que influenciou os Estados filiados a elaborarem seus próprios sistemas de defesa dos direitos da criança e do adolescente. (OLIVEIRA, 2013).

Ainda nessa seara, segue-se a cronologia no período compreendido entre 1946 e 1969: – 1946: O Conselho Econômico e Social das Nações Unidas recomenda a adoção da Declaração de Genebra. Logo após a II Guerra Mundial, um movimento internacional se manifesta a favor da criação do Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância – UNICEF. – 1948: A Assembleia das Nações Unidas proclamam em dezembro de 1948 a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Nela, os direitos e liberdades das crianças e adolescentes estão implicitamente incluídos. – 1959: Adota-se por unanimidade a Declaração dos Direitos da Criança, embora este texto não seja de cumprimento obrigatório para os Estados membros. – 1969: É adotada e aberta à assinatura na Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, em San José de Costa Rica, em 22/11/1969, estabelecido que, todas as crianças têm direito às medidas de proteção que a sua condição de menor requer, tanto por parte de sua família, como da sociedade e do Estado. (OLIVEIRA, 2013).

2.2 EVOLUÇÃO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Desde o início da nossa colonização pelos portugueses as crianças e adolescentes não gozavam de direito algum, tampouco eram tratadas com sua devida importância.

O Brasil mesmo sendo supostamente “descoberto” no ano de 1500, só passou a ser colonizado pelos portugueses a partir de 1530, no qual desde o princípio contou com a especial presença das crianças, melhor dizendo, os chamados grumetes e pajens, advindos das embarcações portuguesas como verdadeiros trabalhadores. (RAMOS apud PAGANINI, 2011, p. 2).

Nesta época as crianças e adolescentes eram responsáveis pela realização de trabalhos perigosos, que geravam consequências prejudiciais à sua saúde, fazendo com que a média de vida fosse de 14 anos, era o caso dos

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14 grumetes, que trabalhavam em embarcações, realizavam todo o tipo de serviço, em especial os mais penosos, trabalhavam mais que os marujos, mas recebiam metade do que os mesmos recebiam, mesmo com a lei da coroa portuguesa especificando que os grumetes eram subordinados ao guardião não era o que acontecia na realidade, os grumetes eram subordinados aos marujos, que os maltratavam; e tinha os pajens, que também eram crianças, mas com um poder aquisitivo melhor, que também como meio de alivio para si próprios exploravam os grumetes para aliviar sua própria carga de trabalho. (RAMOS, 1997, p. 14).

Seus pais ainda tinham todo poder sobre elas, como afirma Silva Junior:

No Brasil-Colônia as Ordenações do Reino Unido se ampliaram em sua aplicação. Os pais continuavam como autoridade máxima no seio familiar. Com o objetivo de resguardar essa autoridade, era assegurado ao pai o direito de castigar o filho como forma de educá-lo, sendo excluída a ilicitude da conduta do pai se no exercício da aplicação do castigo ao filho, este viesse a falecer ou sofrer lesão. (SILVA JÚNIOR, 2017).

As crianças possuíam esta classificação apenas até os 7 anos de idade, após isto eram tratadas como adultos, a única diferença era que até os 17 anos estas não sofriam penas de enforcamento, caso cometessem algum crime, mas a partir desta idade até os 21 anos, já eram consideradas como jovem-adulto, podendo sofrer esta dura penalização. (SILVA JÚNIOR, 2017).

Diante dessa política repressiva, de usar a crueldade das penas, surge uma pequena alteração com o Código Penal do Império, de 1830, que introduziu o exame da capacidade de discernimento para aplicação da pena.

Menores de 14 anos eram inimputáveis. Contudo se houvesse discernimento para os compreendidos na faixa dos 7 aos 14 anos, poderiam ser encaminhados para casas de correção, onde poderiam permanecer até os 17 anos de idade. (SILVA JÚNIOR, 2017).

Quando os menores eram julgados e condenados, se não houvesse em sua localidade intuição própria para enviá-lo, era enviado para cumprir sua pena com os adultos, onde aqueles sofriam abusos frequentes. (SILVA JÚNIOR, 2017).

Com a evolução criaram-se os primeiros sistemas jurídicos, como vem a seguir:

Em 1926 foi publicado o Decreto nº 5.083, primeiro Código de Menores do Brasil que cuidava dos infantes expostos e menores abandonados. Cerca de um ano depois, em 12 de outubro de 1927, veio a ser substituído pelo Decreto 17.943-A, mais conhecido como Código Mello Mattos. (SILVA JÚNIOR, 2017).

No Código Mello Mattos a responsabilidade dos menores ainda era do Estado, que passou a punir os menores infratores não mais com intuito único de

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15 penalizar, mas sim de educar com a finalidade de que o menor viesse a se tornar um cidadão e que aprendesse que as atitudes que cometeu estavam erradas, e que para conviver em sociedade não poderia cometê-las novamente. (OLIVEIRA, 2013 p. 8).

Mas em 1937, Getúlio Vargas deu um passo muito importante com a promulgação da constituição dos Estados Unidos do Brasil.

Getúlio Vargas, em 10 de novembro de 1937, promulgou a Constituição dos Estados Unidos do Brasil, no qual, dentre outros pontos inovadores, nos deparamos com a possibilidade de uma proteção social à infância e à juventude, bem como dos setores mais carentes da população. Assim, o art. 16, inc. XXVII refere-se de competência da União, o poder de legislar sobre as normas concernentes da defesa e proteção da saúde e da criança. Já no seu art. 127, o mesmo menciona que a infância e a juventude são objetos de cuidado e de garantias especiais por parte do Estado e dos Municípios, com garantia de acesso ao ensino público e gratuito. (OLIVEIRA, 2013).

E no mesmo governo, depois de alguns anos, especificamente em 1941, foi criado o departamento nacional da criança, chamado de Serviço de Assistência ao Menor (SAM), tinha como ideal dar melhores condições aos menores, substituindo o vínculo familiar das crianças abandonadas pelo vínculo institucional, com objetivo de recuperar e reeducar o menor para reinseri-lo na sociedade. Porém começaram a surgir vários problemas, a SAM já não cumpria sua função, já havia relatos de abusos, superlotação, ensino precário, violência, o que com o golpe militar acabou resultado na extinção desse departamento, criando-se outro, com nome de FUNABEM (Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor), que era baseada na PNBEM (Política Nacional de Bem-Estar do Menor), que continuo no mesmo estilo do SAM, com uma política violenta e repressiva, e, por este motivo, também não obteve sucesso, mesmo com a troca de fachadas tendo por última nomenclatura a FEBEMs. (SILVA JÚNIOR, 2017, p. 1).

Entretanto, depois de todo este insucesso criou-se em 1979 o código de menores, que adota a teoria da situação irregular, com o pensamento de que o menor era um bem tutelado do Estado, tendo ele uma responsabilidade maior perante a família com o seu bem, que é o menor. (PINHEIRO, 2012, p. 1).

Mas durante todo este período a solução sempre se repetia a única saída que o Estado vislumbrava como salvadora era a internação, mas, como explanado até o momento, esta medida nunca funcionou corretamente, não teve sucesso em seu ideal. (SILVA JUNIOR, 2017, p. 1).

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16 Todos estes fatos geraram revolta na sociedade em geral, houve, então, uma grande pressão por mudança, conforme cita Maciel:

A intensa mobilização de organizações populares nacionais e de atores da área da infância e juventude, acrescida da pressão de organismos internacionais, como o UNICEF, foram essenciais para que o legislador constituinte se tornasse sensível a uma causa já reconhecida como primordial em diversos documentos internacionais como a Declaração de Genebra, de 1924; a Declaração Universal dos Direitos Humanos da Nações Unidas (Paris, 1948); a Convenção Americana Sobre os Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica,1969) e Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça da Infância e da Juventude – Regras Mínimas de Beijing (Res.40/33 da Assembleia-Geral, de 29/11/85). A nova ordem rompeu, assim, com o já consolidado modelo da situação irregular e adotou a doutrina da proteção integral. (MACIEL, 2014, p. 1 apud SILVA JUNIOR, 2017).

Este movimento gerou a implantação dos artigos 227 e 228 da atual Constituição Federal, que, como consequência, obrigou o Estado a regulamentar e garantir os direitos dos menores, fazendo com que estes fossem tratados com a devida importância, desta forma, surge a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, denominada Estatuto da Criança e do Adolescente. (MACIEL, 2014, p. 1 apud SILVA JUNIOR, 2017).

Conforme cita Shecaira, esta lei foi criada para:

A lei 8.069, denominada Estatuto da Criança e do adolescente foi criada para garantir a efetividade das garantias constitucionais no que tange aos direitos fundamentais e a proteção integral da criança e do adolescente que ainda não completaram 18 anos de idade, e que esta norma regula a relação destes indivíduos com o Estado, a sociedade e a família. (SHECAIRA, 2015 apud SILVA JUNIOR, 2017).

Sendo assim, o Estatuto da Criança e do Adolescente vem a ser a norma regulamentadora dos direitos das crianças e adolescentes no país.

2.3 PRINCÍPIOS DA PROTEÇÃO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Para adentramos no assunto princípios convém entender seu conceito, conforme cita Lima:

Princípios podem ser conceituados como a verdade básica e imutável de uma ciência, funcionando como pilares fundamentais da construção de todo o estudo doutrinário. (BARROSO, 2011, p. 23 apud LIMA, 2015, p. 1).

No mesmo sentido Melo define princípio como:

Mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo lhes o espírito e o sentido, servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico. (MELO, 2009, p. 882-883 apud SANTOS, 2015).

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17 Santos segue o mesmo pensamento, mas escrito de forma mais simples:

Atualmente, o direito encontra-se posto e as regras estão a regular a vida das pessoas em sociedade. Sendo assim, os princípios participaram, com esse caráter primário, da formulação das leis vigentes, assim como se prestam a auxiliá-las, mesmo após promulgadas e válidas, sendo o sustentáculo, no caso de socorro, para a sua aplicação. (SANTOS, 2015, p. 1).

Diante destes três pensamentos faz-se nítido que os princípios nada mais são do que a ideia de normatização na sua fase mais primária, tendo, também, um caráter de auxílio na resolução de conflitos, gerando melhor entendimento da situação ocorrida como um todo.

2.3.1 Princípio da Proteção Integral

Um dos princípios mais importantes é o princípio da proteção integral, que está presente no artigo 6° da Constituição Federal de 1988:

Art. 6º. São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (BRASIL, CF, 2018)

Este princípio vem reforçado nos artigos 1° e 3° do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 1º. Esta lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente. Art. 3º. A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes a pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata a lei, assegurando-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. (BRASIL, ECA, 2018)

Segundo Silva “entende-se por proteção integral a defesa, intransigente e prioritária, de todos os direitos da criança e do adolescente.” (SILVA, 2000 apud LIMA, 2015, p. 1).

Este princípio é conceituado por Cury como:

Deve-se entender a proteção integral como o conjunto de direitos que são próprios apenas dos cidadãos imaturos; estes direitos, diferentemente daqueles fundamentais reconhecidos a todos os cidadãos, concretizam-se em pretensões nem tanto em relação a um comportamento negativo (abster-se da violação daqueles direitos) quanto a um comportamento positivo por parte da autoridade pública e dos outros cidadãos, de regra dos adultos encarregados de assegurar esta proteção especial. Em força da proteção integral, crianças e adolescentes têm o direito de que os adultos façam coisas em favor deles. (CURY, 2008 apud NOGUEIRA, 2014, p.1).

Diante dos conceitos expostos, fica claro que este princípio da proteção integral da criança e do adolescente nos torna responsáveis pela proteção dos

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18 indivíduos defendidos pelo ECA, demonstrando que temos a obrigação de zelar pelas crianças e adolescentes, assegurando sua proteção e bem estar em todos os aspectos.

2.3.2 Princípio da Prioridade absoluta

O princípio da Prioridade Absoluta encontra-se positivado na Carta Magna, com previsão no artigo 227 e vem a ser ratificado no artigo 4º da Lei 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente. (LIMA, 2015 p. 1).

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem com absoluta prioridade, direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988).

Art. 4º. É dever da família, comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. (BRASIL, 1990a).

Faz-se necessário entender que as crianças são o maior patrimônio de uma nação, e, portanto, devem figurar como prioridade, sendo a maior preocupação precisa-se atendê-los primeiramente, pois é deles que virá o futuro. (GOMES DA COSTA apud LIBERATI 2010, p. 18).

Fonseca no mesmo entendimento nos diz:

Dito principio abarca superior interesse de crianças e adolescentes. A rigor, consiste no tratamento prioritário que todos devemos dar as relações que envolvem crianças e adolescente, para a família, a sociedade e Poder Público, por que há a necessidade de cuidado especial para com esse segmento de pessoas. Isso em decorrência da fragilidade com que se relacionam no meio social e o status de pessoas em desenvolvimento. (FONSECA 2012, p. 19 apud LIMA, 2015).

Este princípio elenca a prática do tratamento prioritário que deve ser dado às crianças e adolescentes, pois em decorrência do fato de não terem o discernimento necessário e o domínio total da razão, como um adulto, tornam-se indivíduos frágeis perante a sociedade, necessitam que o Estado e a sociedade os proteja, tratando-os como prioridade absoluta.

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2.3.3 Princípio da Cooperação

O Princípio da Cooperação é apresentado por Nucci como um aglomerado de direitos primordiais voltados de forma especial à criança e ao adolescente. (NUCCI, 2014, p. 19 apud SANTANA, 2017).

Vilas-Bôas cita que:

O princípio da cooperação decorre de que todos – Estado, família e sociedade – compete o dever de proteção contra a violação dos direitos da criança e do adolescente, enfim, é dever de todos prevenir a ameaça aos direitos do menor. (VILAS-BÔAS, 2011).

Este princípio tem o intuito de implantar na sociedade um papel de guardião das crianças, a fim de garantir os direitos das mesmas e defendê-las das ameaças, seja de forma repressiva ou preventiva.

2.3.4 Princípio do melhor interesse do menor

Pode-se entender o princípio do melhor interesse muito facilmente nas palavras de Uliana, que nos diz:

Trata-se, assim, de um princípio orientador tanto para o legislador quanto para o aplicador, que tem como objetivo determinar a primazia das necessidades da criança e do adolescente como critério de interpretação da lei, para solução de conflitos ou mesmo para elaboração de futuras normas. (ULIANA, 2016, p. 1).

Para melhor elucidar este princípio Ellen explica que:

A denominação deste princípio pode levar a erro quem não conhece seus fundamentos, melhor interesse do menor não significa dizer que a vontade do menor será obedecida incondicionalmente, ao contrário, o princípio do melhor interesse do menor busca o que de fato será melhor para a criança ou o adolescente em questão, justamente por a criança e o adolescente serem indivíduos em processo de formação, não sabendo ainda distinguir o que de fato seria melhor para si. (ELLEN, 2014, p. 1).

Não se pode confundir o conceito com a nomenclatura do principio, pois nem sempre o principio de melhor interesse da criança é o que Estado tende a cumprir, pois caso este identifique que o interesse da criança não condiz com o que realmente é melhor para ela, o Estado tem a obrigação de direcionar sua escolha e levá-la para a direção correta.

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20 2.4 PROTEÇÃO FRENTE AOS CRIMES SEXUAIS

No Brasil, ainda no final do século XIX, um estudo realizado pelo médico Francisco Ferraz de Macedo, quando tratou a prostituição no Rio de Janeiro, demonstrou e denunciou a exploração sexual de crianças. (RASPANTI, 2014).

O Código Penal de 1890 sofreu alteração no ano de 1915, em seu art. 266, tratando da corrupção de menores, dos crimes contra a segurança da honra e honestidade das famílias, e do ultraje público ao pudor, previa que:

Art. 266. Attentar (sic) contra o pudor de pessoa de um ou de outro sexo, por meio de violência (sic) ou ameaça, com o fim de saciar paixões lascivas ou por depravação moral:

§ 1º Excitar, favorecer ou facilitar a corrupção de pessoa de um ou de outro sexo, menor de 21 annos (sic), induzindo-a á pratica de actos deshonestos (sic), viciando a sua innocencia (sic) ou pervertendo-lhe de qualquer modo o seu senso moral;

§ 2º Corromper pessoa menor de 21 annos, (sic) de um ou de outro sexo, praticando com ella (sic) ou contra ella actos (sic) de libidinagem. (BRASIL, 1890).

Com a Constituição Federal de 1988 tem-se estabelecido, através do art. 227, diferentes ações para a proteção de crianças e adolescentes a abusos, violência ou exploração sexual, designando este dever à família, ao Estado e à sociedade, especificamente em seu parágrafo 4º, prevê que “a lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente.” (BRASIL, 1988).

Rodrigues observa que:

Deve-se ressaltar que a veemente determinação do parágrafo 4º pelo seu caráter genérico deixou a cargo da legislação infraconstitucional o dever de prescrever a maneira que a punição ordenada pelo texto constitucional deve ser efetuada de maneira satisfatória. (RODRIGUES, 2018).

Em 1989 a ONU promulgou a Convenção sobre os Direitos da Criança, norma internacional ratificada pelo Brasil no ano de 1990:

Esta Convenção veio a assegurar uma série de diretrizes para que fosse dado o devido valor às crianças e adolescentes de todos os lugares. De maneira a propiciar-lhes condições dignas de desenvolvimento sob todos os seus aspectos. Sendo este seu grande avanço: o reconhecimento da criança como um sujeito de direitos. (RODRIGUES, 2018).

A Convenção sobre os Direitos da Criança, Decreto nº 99.710 de 1990, em seu art. 19, itens 1 e 2, previu medidas legislativas, administrativas, sociais e educacionais de proteção à criança, inclusive no que diz respeito a abusos sexuais sofridos por crianças, bem como, identificou medidas a serem tomadas pelos países signatários:

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1. Os Estados Partes adotarão todas as medidas legislativas, administrativas, sociais e educacionais apropriadas para proteger a criança contra todas as formas de violência física ou mental, abuso ou tratamento negligente, maus tratos ou exploração, inclusive abuso sexual, enquanto a criança estiver sob a custódia dos pais, do representante legal ou de qualquer outra pessoa responsável por ela.

2. Essas medidas de proteção deveriam incluir, conforme apropriado, procedimentos eficazes para a elaboração de programas sociais capazes de proporcionar uma assistência adequada à criança e às pessoas encarregadas de seu cuidado, bem como para outras formas de prevenção, para a identificação, notificação, transferência a uma instituição, investigação, tratamento e acompanhamento posterior dos casos acima mencionados de maus tratos à criança e, conforme o caso, para a intervenção judiciária. (BRASIL, 1990b).

Ainda no mesmo ano tivemos a instituição do Estatuto da Criança e do adolescente, através da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, o qual determinou a proteção integral da criança e do adolescente. Vinte anos depois de sua edição foi alterado pela Lei nº 11.829, de 2008, numa tentativa de acompanhar a sociedade e suas evoluções tecnológicas, expondo em seus artigos todos os possíveis atos caracterizadores dos crimes sexuais contra crianças e adolescentes, assim como atribuindo as penas a serem aplicadas pela prática dos crimes, o que trataremos a seguir.

Visando salvaguardar crianças e adolescentes de qualquer tipo de abuso, foi sancionada em 2017 a Lei nº 13.431, que prevê o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência, por meio da previsão de escuta especializada e o depoimento especial.

A referida lei estabeleceu, ainda, conceituações acerca da violência sexual e abuso sexual, como se verifica em seu art. 4º, III e alíneas:

Art. 4º Para os efeitos desta Lei, sem prejuízo da tipificação das condutas criminosas, são formas de violência:

[...]

III - violência sexual, entendida como qualquer conduta que constranja a criança ou o adolescente a praticar ou presenciar conjunção carnal ou qualquer outro ato libidinoso, inclusive exposição do corpo em foto ou vídeo por meio eletrônico ou não, que compreenda:

a) Abuso sexual, entendido como toda ação que se utiliza da criança ou do adolescente pra fins sexuais, seja conjunção carnal ou outro ato libidinoso, realizado de modo presencial ou por meio eletrônico, para estimulação sexual do agente ou de terceiro;

b) atividade sexual em troca de remuneração ou qualquer outra forma de compensação, de forma independente ou sob patrocínio, apoio ou incentivo de terceiro, seja de modo presencial ou por meio eletrônico;

c) tráfico de pessoas, entendido como o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento da criança ou do adolescente, dentro do território nacional ou para o estrangeiro, com o fim de exploração sexual, mediante ameaça, uso de força ou outra forma de coação, rapto, fraude, engano, abuso de autoridade, aproveitamento de situação de

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vulnerabilidade ou entrega ou aceitação de pagamento, entre os casos previstos na legislação. (BRASIL, 2017).

Desta forma, podemos perceber que a proteção da criança e do adolescente continua em franca evolução, acompanhando o desenvolvimento da sociedade, aprimorando conceitos e inserindo no ordenamento jurídico brasileiro novas formas de combate aos crimes contra estas vítimas, em especial os de caráter sexual.

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3 PEDOFILIA

A pedofilia que tanto assombra nossa sociedade e traz aflição a pais, mães e familiares, que somente nos últimos anos vem sendo debatida com sua devida importância, nos faz perceber o real problema que enfrentamos, mas para entendermos um pouco mais sobre este assunto explanaremos seus conceitos.

3.1 CONCEITO

Para Silva (2011, p.1 apud SILVA; PINTO; MILANI, 2013) “a palavra pedofilia vem do grego: Paidos que significa criança e philia que se refere a amor, atração.” (grifo nosso).

Segundo Salter (2009, p.1 apud SILVA; PINTO; MILANI, 2013), pedofilia é o sentimento de quem é pedófilo, designando a pessoa que “gosta de crianças.” (grifo do autor).

Segundo França, a pedofilia é perversão sexual que se apresenta pela predileção erótica por crianças, indo desde os atos obscenos até a prática de manifestações libidinosas, denotando graves comprometimentos psíquicos e morais dos seus autores. (FRANÇA, 2018 apud GRECO, 2017).

De acordo com Croce, a pedofilia “é um desvio sexual caracterizado pela atração por crianças ou adolescentes sexualmente imaturos, com os quais os portadores dão vazão ao erotismo pela prática de obscenidades ou de atos libidinosos.” (CROCE, 1995 apud BARBOSA, 2014).

Segundo Barbosa (2014), a OMS (Organização Mundial de Saúde), em sua classificação internacional de Doenças (CID-10), descreve a pedofilia como sendo uma “preferência sexual por crianças, quer se trate de meninos, meninas ou de crianças de um ou do outro sexo, geralmente pré-púberes ou não.”

Para se entender um pouco mais sobre o que é o ato de pedofilia, Couto conceitua pedofilia como:

Uma forma doentia de satisfação sexual. Trata-se de uma perversão, um desvio sexual, que leva um indivíduo adulto a se sentir sexualmente atraído por crianças. Apesar da divergência conceitual entre médicos e psicanalistas, tendo-se como base a Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde, que no item F65.4, define pedofilia como preferência sexual por crianças, quer se trate de meninos, meninas ou de crianças de um ou do outro sexo, geralmente pré-púberes ou no início da puberdade. (COUTO, 2015, p. 1).

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24 Importante salientar que a pedofilia difere-se do abuso sexual, uma vez que, este é uma situação em que uma criança ou adolescente é usado para gratificação sexual de um adulto ou mesmo de um adolescente mais velho, baseado em uma relação de poder que pode incluir desde carícias, manipulação da genitália, exploração sexual, voyeurismo, pornografia e exibicionismo, até o ato sexual com ou sem penetração, com ou sem violência. (CONTI, 2008 apud FURLAN, et al 2011).

3.2 ASPECTOS HISTÓRICOS

É de suma importância a noção de como nossa sociedade se comportava outrora em relação à pedofilia.

Entre 400 a 200 a.C existiam diversas sociedades que mesclavam tradições e rituais incestuosos, de acordo com Hisgail:

O sagrado e o profano mesclavam-se nas tradições e ritos na nova Guiné, entre os Incas e entre outros grupos sociais. Em Catargo, arqueólogos descobriram um cemitério denominado Thophet, com mais de 20 mil urnas de crianças. No Zoroastrismo, o matrimônio entre irmãos, pais e filhos era concorrente, enquanto nos costumes indianos e chineses a masturbação exercida na criança funcionava para adormece-la e apaziguar o ardor libidinal do adulto. (HISGAIL, 2007 apud ETAPECHUSK; SANTOS, 2017, p.3).

Sanderson explana que na Grécia antiga, filhas e filhos eram habitualmente abusados por seus pais.

As filhas eram comumente estupradas por seus pais, consequentemente a esses atos, garotas da Grécia e de Roma raramente possuíam um hímen intacto. Filhos homens eram também constantemente sujeitos a abusos sexuais e estupros, sendo entregues a homens mais velhos a partir dos 7 anos até a puberdade (que naquela época ocorria bem mais tarde, em torno dos 21 anos), e não apenas na adolescência. (SANDERSON, 2005 apud ETAPECHUSK; SANTOS, 2017, p.4).

Entre os séculos IV e XIII era usual vender crianças a mosteiros onde estas sofreriam abusos sexuais, sendo sodomizadas e espancadas com diversos instrumentos como correntes, ferros, chicotes, varas, entre outros, sendo que estas surras excitavam quem as praticava. (AZAMBUJA, 2004 apud ETAPECHUSK; SANTOS, 2017, p.4).

Somente a partir do século XVI a sociedade passa a se apresentar de outra forma:

Até aquele momento histórico, existia uma natural promiscuidade no comportamento sexual e as atitudes de abuso contra crianças quase nunca eram observados, pois a criança não era valorizada como na atualidade, já que morria precocemente e assim, o adulto não podia contar com seus préstimos. (ARIÈS, 1981 apud FERREIRA, 2013).

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25 As crianças não eram importantes pelo fato de terem em geral uma morte precoce, assim, era como se fossem invisíveis à sociedade, não possuíam a importância que as mesmas possuem atualmente, essa falta de importância deixou-as em estado vulnerável, sem proteção a seus direitos e dignidade, dessa forma, não existia o tema pedofilia ou algo semelhante.

Mas como nossa sociedade está em constante mudança de pensamentos e opiniões, as famílias começam a refletir e mudar seu pensamento referente às crianças e adolescentes, conforme Ariès observa:

Com a mudança de comportamento das famílias, os pais passaram a prestar maior atenção aos seus rebentos e começaram a “paparicar” as crianças, observando com afinco seus comportamentos, achando engraçadinhas as traquinagens destes pequenos seres. (ARIÈS, 1981 apud FERREIRA, 2013, grifo do autor).

Esta mudança de comportamento nas famílias começou a trazer benefícios às crianças, que ganharam proteção e com isto o Estado tenta cumprir seu papel.

O sexo de agora em diante deveria ser feito com prudência, e a semente do ato sexual seria a pupila do Estado, ou seja, um cidadão ávido a receber todas as orientações legais e morais, afável para construir uma pátria com requintes de progresso e prosperidade. (COSTA, 1979 apud FERREIRA 2013).

De certa maneira este foi o marco inicial, a partida para uma ideia da devida proteção às crianças e o combate aos indivíduos que cometiam barbáries contra estas e que por vezes restavam ilesos.

Passa-se a pensar na prevenção, as crianças que no passado eram surradas e abusadas “agora passam a ser melhor percebidas pelas autoridades constituídas” e os “Códigos Criminais passam a tratar do tema com maior objetividade e cartilhas de pedagogia são criadas para educar crianças e evitar contato com o mundo da perversão.” (DEMAUSE, 1991; MOTT, 1989 apud FERREIRA, 2013).

Através dos escritos de Krafft-Ebing, o termo pedofilia foi criado no final do século XIX, quando a medicina por meio da psiquiatria começa a classificar os distúrbios mentais e os modos destoantes que deveriam ser banidos da sociedade.

O Estado passa a ser o perseguidor voraz de condutas sexuais impróprias e passa a denominar aqueles que não seguem as normas de ‘anormais’ (FOUCAULT, 2001). Sodomia e Pederastia são os embriões jurídicos da pedofilia (MOTT, 1989), e emanados pela volúpia de entidades moralistas, indivíduos considerados pederastas ou sodomitas passam a ser cassados e reprimidos por meio da justiça penal. (apud FERREIRA, 2013).

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26 Hodiernamente, mesmo que a sociedade criminalize o pedófilo a pedofilia é tratada como uma doença, pois o termo discutido não está inserido em nosso ordenamento jurídico, uma vez que, “a pedofilia não está vinculada a uma definição legal, mas a uma definição clínica.” (LANDINI, 2004 apud FERREIRA, 2013, p.1).

3.3 CARACTERISITICAS DO PEDÓFILO

É de suma importância elucidar quem são os sujeitos que praticam a pedofilia e ainda mais importante, saber quais são suas características e personalidade:

Conforme explana Silva, existem dois tipos de pedófilos:

O pedófilo não criminoso é aquele que apesar de manter interesse sexual na criança tem o discernimento e a autodeterminação de manter essas suas fantasias na sua mente, sem as por em prática. Por sua vez, o pedófilo criminoso (também denominado por abusador), apesar de lhe ser reconhecido discernimento e autodeterminação, deixa que as suas fantasias se tornem reais. A pedofilia enquanto crime ocorre muito frequentemente em contexto familiar, sendo que na sua maioria o agressor é do sexo masculino. (SILVA, 2016).

Segundo Silva, Pinto e Milani “Não há uma definição exata a respeito do perfil do pedófilo, existindo diversas opiniões a respeito do mesmo.” (SILVA; PINTO; MILANI, 2013).

Para Spizirri, não existe um perfil definido do abusador, um dos fatores desencadeantes para o desenvolvimento do quadro é uma realidade familiar desestruturada na infância. Assim, em sua maioria, sofreram algum tipo de abuso quando criança. (SPIZIRRI, 2008 apud SILVA; PINTO; MILANI, 2013).

Ou seja, o que leva o indivíduo a cometer este ato é a desestruturação familiar, e até mesmo uma violência praticada contra o agressor em sua infância.

Spizirri no mesmo texto ainda cita mais algumas teorias como as que seguem abaixo:

De acordo com Araújo (2004), o abuso sexual de crianças, existe em decorrência de um conjunto de elementos que são: culturais, político-administrativos, psicológicos e econômicos. Enquanto Serafim et al. (2009) alegam que altos níveis d e testosterona, incapacidade em manter relação conjugal estável, traumatismo cranioencefálico, retardo mental, psicoses, abuso de álcool e substâncias psicoativas, reincidência de crimes sexuais e transtornos da personalidade são outros fatores que também possuem um alto grau de vulnerabilidade para as condutas sexuais criminosas. (SPIZIRRI, 2008 apud SILVA; PINTO; MILANI, 2013).

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Na maior parte dos casos (70% para crianças de até nove anos e 58% para os de 10 a 19 anos), a violência sexual aconteceu dentro de casa e o agressor era do sexo masculino. Segundo o ministério, o provável autor do abuso foi um amigo ou conhecido da vítima em 26,5% dos casos entre crianças de até nove anos de idade e em 29,2% dos até 19 anos. (RIBEIRO, 2014).

Ou seja, a maioria dos casos ocorridos é praticada por indivíduos do sexo masculino e, o mais assustador, por pessoas próximas como os próprios familiares e amigos, o que gera certa surpresa, pois seriam estes mesmos infratores que teriam a obrigação de zelar pela integridade das vitimas.

Segundo Silva, Pinto e Milani:

Os autores de violência sexual contra crianças são caracterizados por atitudes sutis e discretas no abuso sexual, geralmente utilizando-se de carícias, visto que em muitas situações a vítima não se vê violentada, já os molestadores são mais invasivos, menos discretos e geralmente consumam o ato sexual contra a vítima. Assim, há também subdivisões entre ambos, consequentemente são eles: 1) pedófilo abusador: o tipo mais comum é o indivíduo imaturo, tratando-se de um tipo solitário, e a falta de habilidade social acaba levando-o a fantasias na pedofilia. Seu comportamento é expresso de forma menos invasiva e dificilmente age com violência, impedindo que as crianças e as pessoas ao seu redor notem o fato; 2) pedófilo molestador: seu padrão de comportamento é invasivo com utilização frequente de violência. (SILVA; PINTO; MILANI, 2013).

Segundo Inada, Ferreira e Reis existem mais algumas classificações, como o pedófilo molestador situacional, aquele que não está focado na criança, apenas a usa para não ser desmascarado; o pedófilo molestador situacional regredido, que não almeja somente crianças, mas qualquer grupo com vulnerabilidade, como pessoas com idade avançada ou deficientes, procurando apenas alimentar sua autoconfiança; pedófilo molestador situacional inescrupuloso, que também não está focado na criança, tem o costume de mentir e manipular, usando quem estiver disponível. (INADA; FERREIRA; REIS, 2018).

Segundo Gijsehem (1980) e Weiberg (1955), citados por Marques ainda podemos dividir os abusadores sexuais em oito tipos:

Carente passivo dependente: que não teve uma relação ideal com sua mãe na infância. Sua sexualidade está aderida na infância, por isso abusa como criança e com criança por ser mais fácil. (MARQUES, 2005 apud SILVA, 2011, p. 1).

Carente agressivo devorador: também experimentou instabilidade materna, desenvolvendo raiva e vontade de vingança, é agressivo e gratifica-se castigando o seu objeto através da violência física, impondo seus anseios. (MARQUES, 2005 apud SILVA, 2011, p. 1).

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28 Borderline: foge da realidade e não tem limite entre um ser e o outro. Trata o outro como se este não existisse e por isso impõe o abuso a este. (MARQUES, 2005 apud SILVA, 2011, p. 1).

Estrutura perversa: sua ligação com a mãe, que sempre o enalteceu, apresenta sadismo. Sua sexualidade é prematura e perversa quanto às ligações afetivas, sendo narcisista. Acredita estar sendo carinhoso com a criança quando a abusa, tem paciência e é atraente. (MARQUES, 2005 apud SILVA, 2011, p. 1).

Psicopatia da patologia narcísica: se sente onipotente, projetando isso perante a criança, deseja o prazer imediato, podendo cometer crimes, mas sempre como atos de bondade. (MARQUES, 2005 apud SILVA, 2011, p. 1).

Paranoia da patologia narcísica: teve figura paterna fraca, no entanto tem uma falsa onipotência. Tem relacionamentos na maior parte heterossexuais, unidos a uma missão ou meio de educar a criança. (MARQUES, 2005 apud SILVA, 2011, p. 1).

Neurótico: percebe o outro como se fosse qualquer. É ansioso e tem sentimento de culpa, por isso, não chega a cometer o abuso de fato, mas utiliza-se de imagens para sua satisfação. (MARQUES, 2005 apud SILVA, 2011, p. 1).

Deficiente mental: tem deficiência mental de ordem orgânica, tende a se exibir e tocar-se para criança, nas não comete o ato. (MARQUES, 2005 apud SILVA, 2011, p. 1).

É de suma importância, ressaltarmos que a pedofilia não é cometida apenas pelo indivíduo do sexo masculino, mas também pelo feminino, conforme cita Felipe.

Outro ponto que se deve destacar na temática da pedofilia ou ciberpedofilia é a questão das mulheres podem praticar pedofilias? E assim constituírem como “pedófilas”? Sim, não só os homens, mas também as mulheres podem ser identificadas nas mulheres, porém, conforme afirma a CID-10, “a pedofilia raramente é identificada em mulheres.” (FELIPE, 2006, p. 213 apud MORAIS, 2018).

Apesar de ser rara a prática feita pelo sexo feminino, ela pode acontecer, e como todos têm certo preconceito ou até mesmo um machismo, temos de ter ciência que todos os indivíduos podem a vir a cometer este ilícito, não apenas o sexo masculino, mas o feminino também. (MORAIS, 2018).

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29 3.4 PEDOFILIA COMO DOENÇA

Pedofilia um tema tão discutido ultimamente, mas poucas pessoas realmente sabem o que é, e segundo a OMS vem a ser:

A pedofilia, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) é uma doença em que o indivíduo possui um transtorno psicológico e, assim sendo, apresenta um desejo, uma fantasia e/ou estímulo sexual por crianças pré-púberes. (TRINDADE; BREIER, 2013 apud ETAPECHUSK; SANTOS, 2017).

Em nossa realidade em geral temos intitulado pedofilia como crime, mas para que consista em crime o mesmo tem que estar tipificado em nosso sistema jurídico, o que não acontece, pois pedofilia se trata de uma parafilia, que nada mais é que um distúrbio, o real ato que nossa sociedade discrimina, e pela falta de conhecimento intitula como pedofilia, é o abuso sexual, que é na realidade um crime sexual contra um menor, não a pedofilia em si.

Nossa sociedade intitulou como pedofilia qualquer ato praticado contra um menor, mas não, nem todo ato praticado contra crianças e adolescentes tende a ser obrigatoriamente um ato pedófilo, mas sim um abuso que pode ser físico ou não. (CHEIXAS, 2018).

Segundo Santos, pedofilia é classificada como:

Porém este comportamento é classificado como patologia, doença mental, por sentir prazer por crianças, sendo que estas não são homens/mulheres formados fisicamente, e que ainda não tem noções da sexualidade. Acrescentamos ainda que não há um perfil único para descrever o pedófilo, no entanto esta é uma questão multivariada, que pode acometer homens e mulheres. (CARAMIGO, 2017a).

Na visão da Psicanálise, Marques diz que a pedofilia pode ser explicada pelo medo que o indivíduo tem de se relacionar com outros adultos, o que o leva na fase adulta a buscar por crianças e menores, direcionando, assim, seu impulso sexual onde se sente mais confortável. (BRUTTI 2008 apud MARQUES, 2013).

No mesmo sentido Freud:

Para Freud, a significação do sintoma não era somente um sentido manifesto, havia algo mais profundo, ou seja, existiria uma história especial na formação do sujeito. (FREUD, 1905 apud MARQUES, 2013).

Segundo Freud, a pedofilia corresponde a uma perversão de transgressão anatômica, ou seja, algumas regiões do corpo são eleitas para o ato sexual, como os lábios, o ânus, etc., e não se limita a união sexual da forma como a concebemos normalmente. Nessa concepção, o fetichismo somente é considerado patológico quando se torna o único objeto do desejo sexual. Com isso, o fetichismo

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30 teria sua origem na infância, sendo que este poderia funcionar como uma lembrança encobridora de algo esquecido e que estaria também relacionado às teorias sexuais infantis. (FREUD, 1905 apud MARQUES, 2013).

Ou seja, Freud discorda da teoria da patologia, pois como ele cita no texto acima, para se caracterizar patológico, a atração teria que ter um único objeto, o que não acontece, segundo o mesmo.

Já na concepção da Psicopatologia, segundo Marques:

Evoca aspectos neuroquímicos e neurofisiológicos, que seriam a base de todo o transtorno mental, uma vez que o circuito cerebral e os mecanismos neurais estariam alterados. Contudo, tais mecanismos jamais foram antes elucidados com a identificação de mediadores químicos cerebrais específicos ou problemas genéticos que explicassem o fenômeno. (MARQUES, 2013).

Martin. H. Teicher vai mais a fundo em sua pesquisa sobre psiquiatria em relação à pedofilia e seu nascimento:

Segundo pesquisa realizada por Martin. H. Teicher (2000), professor de psiquiatria da Escola de Medicina da Universidade de Harvard, não ocorrem apenas traumas psicológicos reversíveis, mas danos permanentes no desenvolvimento e funções cerebrais, ou seja, algumas funções ficarão paralisadas. Assim, durante a infância, período formativo em que o cérebro está sendo fisicamente esculpido, o impacto do estresse dos sistemas de norepinefrina e dopamina pode produzir sintomas de depressão, psicose e hiperatividade, assim como prejudicar a atenção. (TEICHER, 200 apud MARQUES, 2013).

O texto acima mostra que uma má e conturbada infância gera sequelas inimagináveis, podem vir a transformar a criança em um pedófilo eminente, conforme cita Teicher:

Tais efeitos neurobiológicos e moleculares são irreversíveis e comprometem o desenvolvimento neuronal da criança afetando a vida desse sujeito na idade adulta. (TEICHER, 2000 apud MARQUES, 2013).

Diante desta informação, visualizamos que na verdade um pedófilo não é um criminoso, mas uma pessoa que sofre com um transtorno, que o incita o faz desejar crianças e adolescentes, o faz ter atração e desejo por estes indivíduos.

Conforme expressa Silva:

Especificar dentro da teoria a constituição dessa personalidade considerando que não necessariamente o pedófilo é um criminoso, e que uma pessoa pode sentir atração por crianças e manter-se afastada dela sem cometer nenhum tipo de abuso. O Pedófilo não comete o crime por “safadeza”, sendo que, muitas vezes não procura o tratamento quando percebe que está tendo fantasias sexuais envolvendo crianças por falta de conhecimento ou até mesmo falta de profissionais preparados para tratar de determinado tema. (SILVA, 2013 apud ETAPECHUSK; SANTOS, 2017).

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31 A doença pedofilia não é crime, somente se configura crime quando a mesma é exteriorizada, no mesmo sentido Caramigo fala: “Ninguém pode ser punido criminalmente por ter alguma doença, porém quando o pedófilo (quem tem pedofilia) exterioriza a sua patologia e essa conduta se amolda em alguma tipicidade penal, estará caracterizado o crime.” (CARAMIGO, 2017b).

Pedofilia é algo sério, e necessita de tratamento, segue abaixo relato de um paciente trazido pela reportagem do site G1:

“Essa doença tem que ser tratada. Você trata sobre as drogas, sobre a bebida, e tudo isso aí. É complicado, mas tem tratamento também. Se você for prender todos aqueles que são viciados em drogas, pode ver que a maioria sai de lá pior do que entrou”, diz um paciente. (LEITE, 2017).

3.5 CRIMES LIGADOS À PEDOFILIA

A priori, vale ressaltar que a Constituição Federal em seu art. 5º, XXXIX e o Código Penal em seu art. 1º, estabelecem que: “não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.” (BRASIL, 1988; BRASIL, 1940).

Portanto, juridicamente, o pedófilo não terá cometido um crime se não exteriorizar a sua pedofilia, entretanto, existem crimes tipificados em nosso ordenamento jurídico aos quais os pedófilos poderão incorrer como preceitua Caramigo:

Muitas pessoas cometem crimes de conotação sexual sem nenhuma patologia clínica, diferentemente dos pedófilos que padecem de um transtorno mental sexual. Assim, como podemos observar o pedófilo, a princípio, não é um criminoso, mas um doente. Ele torna-se criminoso a partir do momento que exterioriza a sua patologia e esta se enquadra em algum crime previsto no ordenamento jurídico. (CARAMIGO, 2017b, p. 1).

No entanto, como referido acima, poderá haver a externalização desta patologia e nestes casos o pedófilo poderá ser incurso em alguma das tipificações contidas em nosso ordenamento jurídico, como as que abordaremos a seguir.

Estão previstos no Código Penal os crimes contra a dignidade sexual e os crimes sexuais contra vulneráveis, assim descritos:

Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos

Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem:

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32

Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. (BRASIL, 1940).

O Estatuto da Criança e do Adolescente descreve os atos que caracterizam a pedofilia, esta não é cometida apenas com o ato sexual, mas também de outras maneiras, conforme preceitua o art. 240 do Estatuto.

Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente:

Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (BRASIL, 1990a).

Complementando ainda, o comércio de material fotográfico, como determina o artigo abaixo:

Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:

Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (BRASIL, 1990a).

Destarte, atos indiretos às crianças e adolescentes como vender uma fotografia ou qualquer tipo de registro de imagem, será considerado ato ilícito também.

Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:

Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. (BRASIL, 1990a).

Ainda, podemos verificar que na troca de uma foto com um amigo, colega ou desconhecido, expondo criança ou adolescente já será o bastante para caracterização da pedofilia, não só isto, mas também se armazenarmos imagens que contenham a imagem de crianças ou adolescentes, que os usuários de redes sociais recebem em seus famosos grupos ou de seus amigos, tendo vista o artigo citado abaixo:

Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. [...] (BRASIL, 1990a).

Conforme o artigo supracitado torna-se claro o maior regramento e punição para a prática da pedofilia para que esta não venha a se tornar recorrente.

Entretanto, Caramigo chama a atenção que “nem todos os que incorrem em alguma das tipicidades citadas são pedófilos.” (CARAMIGO, 2017b, p.1).

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4 PEDOFILIA NA INTERNET

Como vimos anteriormente, a pedofilia não é algo novo na sociedade, pois ocorre desde a antiguidade, quando acontecia frequentemente, porém, estes casos não eram divulgados da maneira como ocorre hodiernamente, pois naquela época, a única forma para cometer este ato de pedofilia, era pessoalmente. No entanto, com o surgimento da internet tudo mudou, surgindo métodos mais práticos para a satisfação sexual do pedófilo, e, consequentemente, também surgiram os atravessadores que passaram a lucrar para atender o indivíduo que tem esta predisposição, criando de certa forma uma aproximação mais fácil entre o pedófilo e sua vítima, então devido à nossa realidade social e virtual faz-se necessário abordar o assunto de pedofilia na internet.

Como preceitua Matos (2013, p.1), a rede mundial de computadores, mais conhecida como internet, surgiu durante a denominada Guerra Fria, quando os Estados Unidos e a União Soviética concorriam em uma disputa de ideologias, uma capitalista e a outra socialista, não se confrontando diretamente, mas demonstrando suas conquistas tecnológicas e de poder armamentista contra o adversário. A finalidade desta rede na época era proporcionar a comunicação das forças armadas dos Estados Unidos frente a um ataque do inimigo, caso este viesse a assolar os demais meios de comunicação existentes.

Nos anos 70, a internet passa a ser usada pelas universidades americanas, bem como por professores, alunos e centros de pesquisas. Somente em 1990, Tim Bernes-Lee, um inglês, criou o World Wide Web (www), melhorando a interconexão da internet, e a partir daí outros usuários passaram a ter acesso, o que se deu de forma astronômica e rápida, passando a ser utilizada para diversos fins como diversão, comércio, serviços, marketing e, infelizmente, também para a prática de crimes, incluindo os de cunho sexual contra crianças e adolescentes.

A internet é um conjunto de computadores interligados a redes no mundo todo. E é conhecida como um portal de informações e serviços que cresce de forma tão rápida e diversificada que não somos capazes de imaginar qual rumo ela tomará. O uso da mesma pode ser através de computadores, mas não só desses. Pode ser acessada também através de notebooks, celulares, tablets, equipamentos de radiologia, dentre outros desde que estejam ligados a rede. A forma ingressada pouco importa. Independentemente de qual for ela, o usuário sempre acaba por realizar um fato jurídico, gerando consequências das mais variadas, como por exemplo, o compartilhamento de comerciais e entretenimento, transações

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