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ANÁLISE DOS EFEITOS INDIRETOS DAS MIGRAÇÕES INTERESTADUAIS BRASILEIRAS

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Academic year: 2021

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¹Geógrafo, Mestre em Demografia pelo PPGDEM/UFRN e doutorando em Demografia pelo Cedeplar/UFMG. nascimento@cedeplar.ufmg.br

*Agradeço as sugestões de Ricardo Ojima e Reinaldo O. Santos.

ANÁLISE DOS EFEITOS INDIRETOS DAS MIGRAÇÕES INTERESTADUAIS BRASILEIRAS

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INTRODUÇÃO

Uma das informações sobre migração mais tradicionalmente tratada em censos e pesquisas é a informação de data fixa, onde coleta-se a informação do local de residência do indivíduo em dois pontos no tempo, sendo utilizado mais comumente o intervalo de 5 anos. Com esta informação podemos realizar análises sobre os fluxos migratórios neste intervalo quinquenal, contudo são excluídos desta análise a população entre zero a quatro anos de idade porque eles não haviam nascido na data fixa, isto é, o local de moradia cinco anos antes da data de referência do censo. Contudo, é importante mensurar a participação dos filhos tidos neste quinquênio.

Neste trabalho estamos chamando de efeito indireto da migração a população de zero a quatro anos as quais não podemos observar diretamente nas informações censitárias. Este efeito indireto é basicamente a fecundidade dos migrantes, devendo assim serem considerados os nascimentos ocorridos durante suas etapas migratórias para medirmos os fluxos migratórios (RIBEIRO, CARVALHO, WONG, 1996). Com isso, estamos considerando como efeito indireto os filhos tidos pelos migrantes de acordo com o seu local de nascimento, onde há o efeito indireto dos filhos tidos no local de origem ou o efeito indireto dos filhos tidos no local destino (RIBEIRO, CARVALHO, WONG, 1996). A importância desta mensuração se justifica para análises mais aprofundadas dos ciclos de vida e estratégias dentro do domicílio para decidir se ocorrerá ou não a migração (MINCER, 1978), que dentro de um contexto de projeto migratório, filhos, adolescentes ou dependentes mudam as concepções tradicionais que unem a família ao lugar (MONTAÑO, SARAY, 2013) estimulando uma possível retenção da população no seu local de destino onde o efeito indireto for mais expressivo.

Cabe também pensar numa maior situação de fragilidade social onde os filhos destes migrantes podem encontrar dificuldades de adaptação dada as disparidades entre os locais de origem e destino. Onde nas idades mais jovens o processo de adaptação acontece de forma mais facilitada (SÖHN, 2011) e a mudança no sistema educacional trará mais dificuldades para os jovens adultos (AYBEK, 2011) e a demanda por serviços específicos nos locais onde os efeitos indiretos tenham uma maior participação no fluxo migratório e no total da população no local de destino.

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Como atividade inicial para fomentar futuras reflexões, mensuramos os efeitos indiretos das migrações interestaduais brasileiras para o quinquênio 2005 a 2010 e dimensionamos a participação deste efeito entre imigrantes internos por UF.

MATERIAL E MÉTODOS

As informações aqui trabalhadas foram extraídas dos micro dados do Censo Demográfico 2010. Foram considerados como migrantes as pessoas que entre 2005 e 2010 declararam uma UF de residência na data fixa distinta da UF de residência na data de referência do censo.

Os efeitos indiretos foram estimados utilizando as informações de relação de parentesco disponíveis no censo. Para os efeitos indiretos utilizamos as crianças de 0 a 4 anos que foram declaradas no censo como filhos do chefe do domicílio ou filhos do chefe e do cônjuge, para todo chefe de domicílio migrante.

Para estimarmos os efeitos indiretos por local de nascimento utilizamos a variável que inquire as pessoas se elas nasceram nesta UF. Foram considerados efeitos indiretos os filhos tidos no local de destino as pessoas de 0 a 4 anos que declararam ter nascido na UF e sempre residiu nela ou que sempre residiu na mesma UF mas migrou entre municípios. Para estimarmos os efeitos indiretos dos filhos tidos no local de origem, utilizamos a informação das pessoas de 0 a 4 anos que foram declaradas como não terem nascido na UF de referência em 2010.

Os resultados que serão expostos são estimativas que foram captadas de forma indireta com base nas relações de parentesco do censo. Apesar destes resultados estarem sendo subestimados porque não estamos captando os efeitos indiretos dos filhos dos migrantes que não são chefes do domicílio, esta informação ainda é uma boa proxy para elaborarmos uma estimativa da contribuição desta população para os fluxos migratórios e analisar também os seus diferenciais entre as UF’s.

RESULTADOS E DISCUSSÃO:

Considerando os critérios acima mencionados, observa-se um total de 5.054.206 migrantes interestaduais de data fixa, e o total dos efeitos indiretos é de 400.539 para ambos os sexos conforme pode ser observado na Tabela 1. Os efeitos indiretos

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representam cerca de 8% do total da migração e ao analisarmos a pirâmide etária da população migrante com os efeitos indiretos inclusos, observa-se uma distribuição relativa um pouco menor que o grupo de 5 a 9 anos das informações observadas no Censo 2010. Isto é uma evidência de um padrão de migração familiar com uma alta participação da população jovem em idade dependente.

TABELA 1 – MIGRANTES DE DATA FIXA E EFEITOS INDIRETOS POR LOCAL DE NASCIMENTO

Fonte: Censo Demográfico, 2010.

Esta estrutura de idade ao migrar é similar ao modelo padrão de estrutura por idade dos migrantes elaborados por Rogers et al (2011). No modelo padrão elaborado por estes autores há uma alta proporção de crianças migrando com seus pais, que é um fator associado ao nível de fecundidade dos locais de origem e destino. A menor participação de jovens adultos e adolescentes seguido pelo pico nas idades 20 a 24, conforme pode ser observado no Gráfico 1, representa a idade em que os jovens saem de casa e entram no mercado de trabalho, ingressam no ensino superior, se casam ou entram para o serviço militar (ROGERS et al, 2011). Diferente do modelo padrão dos autores, que apresenta uma participação um pouco mais expressiva da população mais velha, indicando uma

UF Migrantes Nasceu no Local de Origem Nasceu no Local de Destino Total Nasceu no Local de Origem Nasceu no Local de Destino Total

Rondônia 70715 2729 3172 5901 0,68 0,79 1,47 Acre 15449 924 575 1499 0,23 0,14 0,37 Amazonas 77893 3451 2938 6389 0,86 0,73 1,60 Roraima 27051 1131 1223 2354 0,28 0,31 0,59 Pará 178271 8716 8512 17228 2,18 2,13 4,30 Amapá 39358 1901 1700 3601 0,47 0,42 0,90 Tocantins 91365 3452 3807 7259 0,86 0,95 1,81 Maranhão 119238 6366 4906 11272 1,59 1,22 2,81 Piaui 79034 3817 2945 6762 0,95 0,74 1,69 Ceara 123238 5828 4529 10357 1,46 1,13 2,59

Rio Grande do Norte 73532 2632 2661 5293 0,66 0,66 1,32

Paraiba 102300 4545 3827 8372 1,13 0,96 2,09 Pernambuco 163319 6593 6823 13416 1,65 1,70 3,35 Alagoas 59425 2960 2753 5713 0,74 0,69 1,43 Sergipe 56637 2113 2322 4435 0,53 0,58 1,11 Bahia 251875 9873 10187 20060 2,46 2,54 5,01 Minas Gerais 409818 15387 16894 32281 3,84 4,22 8,06 Espírito Santo 138951 4992 6011 11003 1,25 1,50 2,75 Rio de Janeiro 292123 10884 9722 20606 2,72 2,43 5,14 São Paulo 1108573 44710 39680 84390 11,16 9,91 21,07 Paraná 295151 10427 12150 22577 2,60 3,03 5,64 Santa Catarina 318870 10907 12570 23477 2,72 3,14 5,86

Rio Grande do Sul 116036 4094 4051 8145 1,02 1,01 2,03

Mato Grosso do Sul 105968 3367 5002 8369 0,84 1,25 2,09

Mato Grosso 155469 5689 7310 12999 1,42 1,83 3,25

Goiás 386511 12632 20622 33254 3,15 5,15 8,30

Distrito Federal 198035 7527 6000 13527 1,88 1,50 3,38

TOTAL 5054206 197647 202892 400539 49,35 50,65 100,00

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migração influenciada pela aposentadoria, isto não é observado na distribuição relativa da população conforme também pode ser observado no Gráfico 1.

GRÁFICO 1 – PIRÂMIDE ETÁRIA DOS MIGRANTES DE DATA FIXA COM OS EFEITOS INDIRETOS DA MIGRAÇÃO INTERESTADUAL 2005/2010.

Fonte: Censo Demográfico, 2010.

Ao analisar a distribuição relativa dos efeitos indiretos, observamos que as suas diferenças tem pouca expressividade quando nos referimos a números absolutos, contudo, há padrões regionais específicos que estão diretamente ligados aos diferentes ritmos de queda da fecundidade entre as regiões brasileiras.

A média da participação relativa dos efeitos indiretos em relação aos migrantes de data fixa é 7,5%, sendo que a maior participação é identificada no Acre com 8,84% de participação dos efeitos indiretos e a menor participação é no Rio Grande do Sul com

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6,56%. Conforme consta na Tabela 2, a distribuição dos efeitos indiretos entre as UF’s segue um padrão semelhante a uma distribuição regional.

TABELA 2 – DISTRIBUIÇÃO RELATIVA DOS EFEITOS INDIRETOS

Fonte: Censo Demográfico, 2010.

Ao ordenarmos a participação relativa do dos efeitos indiretos conforme consta na Tabela 2, observamos que as menores participações nos efeitos indiretos encontram-se nas UF`s que pertencem as regiões Sul e Sudeste. As exceções a esse padrão são as UF`s do Rio Grande do Norte e Sergipe, que também são as únicas duas UF`s no Nordeste que

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possuem um saldo migratório positivo para este mesmo quinquênio (OJIMA, NASCIMENTO, 2015) e também são as duas UF`s que possuem a menor participação de migrações de retorno na região (NASCIMENTO, 2015). Assim, a menor participação destas UF`s na distribuição relativa dos efeitos indiretos estaria caracterizado por uma migração de não naturais, enquanto os demais imigrantes retornados na região possuem uma maior participação dos efeitos indiretos, como hipótese isto nos indicaria que os migrantes retornados possuem uma média maior de filhos que os migrantes não retornados, necessitando de mais informações para corroborar esta análise.

As UF`s que possuem maior participação dos efeitos indiretos são aquelas que se localizam nas regiões Norte e Nordeste, indicando as disparidades regionais no processo de transição demográfica e uma maior participação de migrações intrarregionais entre os migrantes estaduais de data fixa.

As UF`s que compõem a região Centro-Oeste são as que possuem participações relativas mais distintas, contudo, há uma relação de vizinhança, onde o Mato Grosso do Sul possui características mais semelhantes às UF`s vizinhas como Minas Gerais, do que a UF do Mato Grosso que possui uma maior participação dos efeitos indiretos e está situada na zona de transição com a Amazônia, onde há uma maior participação dos efeitos indiretos e a fecundidade está acima do nível de reposição.

EFEITOS INDIRETOS E LOCAL DE NASCIMENTO

Conforme mencionado acima, os efeitos indiretos se dividem entre as crianças que nasceram no local de origem e as crianças que nasceram no local de destino. Os dois tipos de efeitos indiretos se distribuem de forma muito semelhante. Para o total dos efeitos indiretos da migração interestadual 49,3% nasceu no local de origem e 50, 7% nasceu no local de destino.

Ao analisarmos a distribuição dos efeitos indiretos por UF não identifica-se uma seletividade específica por região. A distribuição dos dois tipos de efeitos indiretos consta na Tabela 3. Os 2 casos extremos são representados pelo Acre e Goiás. No Acre 61,64% dos efeitos indiretos nasceram no local de origem dos migrantes e 38,36% nasceu no próprio Acre. Já em Goiás 38% dos efeitos indiretos nasceu no local de origem e 62% nasceu em Goiás.

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TABELA 3 – EFEITOS INDIRETOS DA MIGRAÇÃO POR NASCIMENTO NO LOCAL DE ORIGEM OU DE NASCIMENTO POR UF – 2005/2010.

Fonte: Censo Demográfico, 2010

Para compreendermos melhor porque algumas UF`s possuem estas disparidades nos locais de origem e destino dos efeitos indiretos, seria necessário maiores estudos relacionados a estratégia migratória adotada pelos domicílios, se todo o domicílio migra ou se a migração ocorre por domicílios unipessoais.

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CONCLUSÕES

Com base nesta análise inicial dos efeitos indiretos da migração interestadual para o período 2005/2010, identificamos que este fenômeno é puramente demográfico, para interpretar estes resultados mais profundamente é necessário compreender as estratégias dos migrantes e de seus domicílios, bem como os seus ciclos de vida, além da relação entre os níveis de fecundidade entre os locais de origem e destino.

Ao analisarmos por UF observa-se uma distinção regional entre a participação dos efeitos indiretos, os quais são mais expressivos no Norte e Nordeste, e tem menor participação nas UF`s do Sul e Sudeste. Isto é um indicativo da importância das migrações intrarregionais e uma preferência por destinos próximos às suas UF`s de origem.

A pouca variação na participação relativa dos efeitos indiretos pode ser resultado da diminuição das migrações rurais em direção ao urbano e migrações em áreas de expansão agrícola. Com a maior participação das migrações do urbano em direção ao urbano os efeitos indiretos dos migrantes tornam-se mais semelhantes ao considerarmos as migrações de longa distância.

Outro ponto importante é a queda da fecundidade no Brasil. Como um processo generalizado, a diminuição do número médio de filhos por mulher influenciaria na diminuição da variância das participações relativas dos efeitos indiretos por UF. Isto é, na medida em que as mulheres brasileiras tem menos filhos, espera-se uma convergência dos efeitos indiretos entre as UF`s.

Os efeitos indiretos são o efeito da fecundidade das mulheres migrantes durante suas etapas migratórias e no local de destino, portanto, a distribuição destes efeitos indiretos seguem o comportamento linear na distribuição de nascimentos. Cabe ressaltar a alta participação de crianças e jovens evidenciada na pirâmide etária dos migrantes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

MINCER, J. Family migration decisions. Journal of Political Economy. Vol, 86, N. 5, pp. 749-773, 1978.

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MONTAÑO, L. M. L. SARAY, G. D. H. Glabolización,migracion internacional y família: Uma lectura desde lós estúdios de família. Panel apresentado no XXIX Encontro da Associação Latino Americana de Sociologia, Santiago, ALAS, 2013.

NASCIMENTO, T. C. L. OJIMA, R. Contribuições teóricas para os efeitos diretos e indiretos da migração de retorno nos países subdesenvolvidos. In: VI Congreso de ALAP, 2014, Lima. Anais do VI Congreso de ALAP, 2014. v. 1.

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PRESTON, S. H. HEUVELINE, P. GUILLOT, M. Demography: Measuring and modeling population processes. Oxford: Blackewell Publishing, 2001.

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RIBEIRO, J. T. L. Estimativa da migração de retorno e de alguns de seus efeitos demográficos indiretos no nordeste brasileiro, 1970/1980 e 1981/1991. Belo Horizonte: Cedeplar: Tese de Doutoramento, 1997.

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WINGENS, M. WINDZIO, H. V. AYBEK, C. A life-course perspective on migration and integration. London, New York: Springer, 2011.

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