PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
Procuradoria Federal junto à Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste – SUDECO
Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste - SUDECO SBN Quadra 02, Lote 11, 2º subsolo, Ed. Apex Brasil – Portaria B
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PARE CER Nº /2011 /PF- SUDECO/ PGF/A GU
PROCESSO Nº: 59800.000009/2012-90
ASSUNTO:
Solicitação de auxílio financeiro para realização de cursos de especialização
SOLICITAÇÃO DE CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO OFERECIDO
PELA
ENAP.
INAPLICABILIDADE
DE
PRÉVIO
PROCEDIMENTO LICITATÓRIO. SERVIDOR OCUPANTE DE
CARGO COMISSIONADO. NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA
DAS DIRETRIZES PREVISTAS NA POLÍTICA NACIONAL DE
DESENVOLVIMENTO DE PESSOAL. APLICABILIDADE DAS
NORMAS DO MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL
ENQUANTO NÃO ELABORADO PELA SUDECO O PLANO
ANUAL DE CAPACITAÇÃO. VEDAÇÃO.
RELATÓRIO
1.
Trata-se de processo administrativo autuado a partir de solicitação do Diretor de
Implementação de Programas e de Gestão de Fundos, formulada ao Diretor de Administração
da Superintendência do Desenvolvimento do Centro Oeste – SUDECO, visando concessão de
auxílio financeiro para a realização de curso de especialização em gestão pública
(pós-gradução ‘lato sensu’).
2.
Consta nos autos as seguintes informações:
a)
o referido curso será ministrado pela Escola Nacional de Administração
Pública – ENAP (fls. 03/04);
b)
o requerente foi aprovado no processo seletivo para a sua realização (fl.
07);
c)
o seu conteúdo programático seria relacionado com as atividades
profissionais do requerente, permitindo uma melhoria em seu
desempenho, conforme atestado pela chefia imediata (fl. 09);
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d)
pelo termo de compromisso a ser assinado pela SUDECO, na hipótese de
desligamento do servidor do curso, por qualquer motivo, permaneceriam
devidos à ENAP os valores relativos a serviços já prestados até a data do
desligamento (fls. 10/11);
e)
há disponibilidade orçamentária para atendimento ao requerido (fl. 15);
f)
o valor do curso seria similar aos demais oferecidos no mercado (fl. 24).
FUNDAMENTAÇÃO
3.
Preliminarmente, destaca-se que os presentes autos foram encaminhados a esta
Procuradoria no final do expediente do dia 02 de março de 2012, que seria o último dia de
inscrição do curso em tela. Acrescente-se, ainda, que, naquela data, a rede mundial de
computadores da SUDECO não estava funcionando de forma adequada, o que impediu a
elaboração da manifestação jurídica com a urgência requerida no caso.
4.
De todo modo, chegou ao conhecimento desta Procuradoria, informalmente, que
o solicitante teria apresentado uma declaração junto à ENAP, pela qual teria sido prorrogada
a possibilidade de análise do seu requerimento junto à SUDECO até o dia 08 de março de
2012, subsistindo, pois, a utilidade da presente manifestação.
Da inaplicabilidade de prévio procedimento licitatório
5.
Em se tratando de curso oferecido pela ENAP, entendo que seria desnecessário
seu enquadramento em hipótese de dispensa ou inexigibilidade de licitação, haja vista que o
procedimento licitatório regido pela Lei nº 8.666/1993 somente se aplica para contratação ou
ajuste entre a Administração Pública e particulares, consoante disposto em seu art. 2º,
parágrafo único, da Lei nº 8.666/1993:
Art. 2
oAs obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações, concessões,
permissões e locações da Administração Pública, quando contratadas com terceiros, serão
necessariamente precedidas de licitação, ressalvadas as hipóteses previstas nesta Lei.
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se contrato todo e qualquer ajuste entre
órgãos ou entidades da Administração Pública e particulares, em que haja um acordo de
vontades para a formação de vínculo e a estipulação de obrigações recíprocas, seja qual
for a denominação utilizada.
6.
No caso, a ENAP é fundação pública, instituída na forma da Lei nº 6.871, de 3 de
dezembro de 1980, com a alteração da denominação estabelecida pela Lei nº 8.140, de 28 de
dezembro de 1990, e atualmente regida pelo Decreto nº 6.563/2008.
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7.
Decerto, embora o art. 1º
1da Lei nº 6.871/1980 tivesse previsto que a sua
personalidade jurídica seria de direito privado, entendo tratar-se, no caso, de fundação
pública, integrante da Administração Pública federal indireta, cujo regime é equiparado às
autarquias, mormente quando consideramos que a sua estrutura organizacional comporta a
previsão do órgão seccional da Procuradoria Federal (art. 3º, II, ‘a’, e art. 7º
2do Anexo I ao
Decreto nº 6.563/2008), que é típico de autarquia e fundação pública federal, consoante
disposto no art. 10 da Lei nº 10.480/2002, ‘in verbis’:
Art. 10. À Procuradoria-Geral Federal compete a representação judicial e extrajudicial das
autarquias e fundações públicas federais, as respectivas atividades de consultoria e
assessoramento jurídicos, a apuração da liquidez e certeza dos créditos, de qualquer
natureza, inerentes às suas atividades, inscrevendo-os em dívida ativa, para fins de
cobrança amigável ou judicial.
8.
Assim, a par de toda a celeuma doutrinária acerca da personalidade jurídica de
direito público ou privado das fundações públicas, entendo que, no caso, a leitura mais
condizente com a estrutura organizacional da ENAP é no sentido de considerá-la com
personalidade jurídica de direito público ao menos para os fins de afastá-la do conceito de
“particular”, previsto no art. 2º, parágrafo único, da Lei nº 8.666/1993.
9.
O instrumento jurídico mais adequado para respaldar o repasse de verba para a
ENAP seria, por conseguinte, o termo de cooperação, definido no art. 1º, § 2º, XXIV, da
Portaria Interministerial MP/MP/CGU nº 507/2011:
Art. 1º Esta Portaria regula os convênios, os contratos de repasse e os termos de
cooperação celebrados pelos órgãos e entidades da Administração Pública Federal com
órgãos ou entidades públicas ou privadas sem fins lucrativos para a execução de
programas, projetos e atividades de interesse recíproco, que envolvam a transferência de
recursos financeiros oriundos do Orçamento Fiscal e da Seguridade Social da União.
§ 2º Para os efeitos desta Portaria, considera-se:
XXIV - termo de cooperação: instrumento por meio do qual é ajustada a transferência de
crédito de órgão ou entidade da Administração Pública Federal para outro órgão federal
da mesma natureza ou autarquia, fundação pública ou empresa estatal dependente;
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Art. 1º Fica o Poder Executivo autorizado, a instituir, com patrimônio próprio e personalidade jurídica de direito privado, nos termos da lei civil, a Fundação Centro de Formação do Servidor Público - FUNCEP, vinculada ao Departamento Administrativo do Serviço Público - DASP.
Parágrafo único. A FUNCEP terá sede e foro na Capital Federal e seu prazo de duração será indeterminado. 2
Art. 3o A ENAP tem a seguinte estrutura organizacional: II - órgãos seccionais:
a) Procuradoria Federal;
Art. 7o À Procuradoria Federal, na qualidade de órgão executor da Procuradoria-Geral Federal, compete: I - representar judicial e extrajudicialmente a ENAP;
II - exercer atividades de consultoria e assessoramento jurídicos aos órgãos da ENAP, aplicando-se, no que couber, o disposto no art. 11 da Lei Complementar no 73, de 10 de fevereiro de 1993; e
III - promover a apuração da liquidez e certeza dos créditos de qualquer natureza, inerentes às atividades da ENAP, inscrevendo-os em dívida ativa, para fins de cobrança amigável ou judicial.
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10.
Ainda que não aplicado esse entendimento, seria o caso de dispensar o
procedimento licitatório, em razão do previsto no art. 24, VIII
3, da Lei nº 8.666/1993,
destacando-se que resta demonstrado no caso que a ENAP: (i) é órgão ou entidade que
integra a Administração Pública; (ii) foi criada para o fim específico do objeto pretendido pela
SUDECO; (iii) sua criação ocorreu antes da vigência da Lei n° 8.666/93; (iv) o preço é
compatível com o praticado no mercado.
11.
Destaca-se, ainda, que a ENAP não desempenha atividade econômica em sentido
estrito, afastando-se a vedação contida na Orientação Normativa AGU nº 13/2009, ‘in verbis’:
“Empresa pública ou sociedade de economia mista que exerça atividade econômica não se
enquadra como órgão ou entidade que integra a administração pública, para fins de
dispensa de licitação, com fundamento no inc. VIII do art. 24 da Lei n. 8.666, de 1993.”
12.
Também registre-se que a finalidade da ENAP é compatível com a capacitação
pleiteada, nos termos do art. 2º da Lei nº 8.140/1990:
Art. 2° A ENAP terá como finalidade básica promover, elaborar e executar os programas de
capacitação de recursos humanos para a Administração Pública Federal, visando ao
desenvolvimento e à aplicação de tecnologias de gestão que aumentem a eficácia e a
qualidade permanente dos serviços prestados pelo Estado aos cidadãos.
13.
Dessa forma, seja por um ou por outro fundamento, não seria o caso de se exigir
prévio procedimento licitatório para o repasse de verba da SUDECO à ENAP, visando à
capacitação de seu servidor público.
Do oferecimento de curso de capacitação de pós-graduação para servidor ocupante de
cargo comissionado
14.
Outra questão relevante para a análise do caso concreto se refere ao fato de ser o
servidor requerente ocupante exclusivamente de cargo comissionado da SUDECO.
15.
Sobre o tema, cumpre fazer um registro histórico acerca de entendimentos já
proferidos pelo Tribunal de Contas da União – TCU quanto à necessidade de uniformização da
matéria no âmbito da Administração Pública Federal, consoante se depreende da análise do
Acórdão 2959/2005 – Primeira Câmara, de cujo voto condutor extraímos as seguintes
passagens:
“2. Os pontos que provocaram a audiência dos responsáveis foram: a autorização para a
matrícula de servidores não efetivos da Imprensa Nacional, ocupantes de cargos em
comissão, de natureza temporária, quando uma das justificativas para a concessão do
3 Art. 24. É dispensável a licitação:
VIII - para a aquisição, por pessoa jurídica de direito público interno, de bens produzidos ou serviços prestados por órgão ou entidade que integre a Administração Pública e que tenha sido criado para esse fim específico em data anterior à vigência desta Lei, desde que o preço contratado seja compatível com o praticado no mercado; (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994)