História - O Brasil monárquico (1822 - 1889) 1. O processo de independência brasileiro
Você já deve ter visto dezenas de vezes na televisão, no cinema, em livros e revistas a cena do “grito do Ipiranga”, quando D. Pedro I declarou a separação política entre o Brasil e Portugal.
A independência, porém, não ocorreu somente porque D. Pedro teria gritado “Independência ou morte!”. Na realidade não houve grito algum, e a independência não se limitou aos acontecimentos de 7 de setembro de 1822 nem mudou o caráter colonial de nossa economia e de nossa sociedade.
É por isso que não vamos estudar a independência, mas o processo de independência, ou seja, o conjunto de fatores internos e externos ao Brasil que, ao longo de muitas dezenas de anos, acabaram ocasionando nossa autonomia, dando-nos condições de iniciar uma longa luta, que ainda hoje não acabou, em favor de nossa verdadeira independência econômica e política.
É importante lembrar também que, no fim do século XVIII e início do XIX, quase todas as colônias da América separaram-se de suas metrópoles, obtendo assim a independência: foi a chamada crise do Antigo Sistema Colonial.
→ O declínio colonial é o afrouxamento dos laços econômicos, políticos e ideológicos que prendem uma colônia a sua metrópole. São os conflitos de interesse entre a colônia e a metrópole. → O declínio colonial no Brasil: nós importávamos produtos, que primeiro tinham que passar por Portugal, isso encarecia bastante os produtos aqui consumidos. Além disso, Portugal estava passando por uma crise econômica e militar, portanto, isso também a impedia de garantir bons preços e bons mercados para os produtos que a classe dominante colonial produzia e exportava. Portugal também estabeleceu uma estrutura administrativa no Brasil cujo objetivo era cobrar impostos e punir os que não pagarem.
O crescimento do aparelho administrativo e seu caráter repressivo abalaram ainda mais o já precário relacionamento entre a população da colônia e a metrópole. A população urbana, particularmente a nascente classe média, revoltava-se contra o rigor das autoridades portuguesas. Por sua vez, a classe dominante, que durante dois séculos fora mandatária da Coroa no Brasil, começou a perder seus privilégios políticos, afastando-se cada vez mais de Portugal.
Esse conjunto de desacordos que caracterizou o declínio colonial no Brasil produziu uma série de revoltas contra as autoridades portuguesas,
O surgimento de interesses brasileiros conflitantes com os de Portugal e o crescente descontentamento da população da colônia levaram a diversas revoltas contra a metrópole. O processo foi longo – a primeira ocorreu em 1641, e a última, em 1817 - e revela claramente que, à medida que o tempo passava, as rebeliões iam cada vez mais longe em seus objetivos: começaram reivindicando uma simples troca de governador de capitania e terminaram por propor a total autonomia do Brasil.
Para facilidade de estudo, costuma-se dividir essas revoltas em duas categorias: • revoltas nativistas (1641-1720);
• revoltas emancipacionistas (1789-1817)
As nativistas foram de caráter local, geralmente restritas a uma cidade ou região limitada, e não chegaram a propor a independência. Reclamavam dos elevados impostos ou dos monopólios da Coroa e da ineficiência de governantes nomeados por Lisboa. Portanto era revoltas contra uma autoridade portuguesa e não contra a autoridade portuguesa.
Já as revoltas emancipacionistas propunham o rompimento definitivo com a metrópole, ou seja, a independência.
Principais revoltas nativistas:
• Aclamação de Amador Bueno: São Paulo, 1641 • Revolta dos Beckman: Maranhão, 1684
• Guerra dos Emboabas: Minas Gerais, 1708-1709 • Guerra dos Mascates: Pernambuco, 1710-1714 • Revolta de Vila Rica, Minas Gerais, 1720 → As revoltas emancipacionistas
À medida que o declínio colonial brasileiro ia se acentuando, aumentava o descontentamento da população colonial em relação à metrópole. Assim, surgiram revoltas que pretendiam a independência de uma parte do Brasil ou do todo dele. Essas revoltas tiveram maior ou menor participação popular, conforme o caso. Todas elas, no entanto, foram lideradas por elementos da camada média, que adotavam a ideologia liberal e não obtiveram apoio da classe dominante.
No que se refere a ideologia, os movimentos emancipacionistas tiveram uma característica importante: o liberalismo por eles adotado tinha surgido na Europa durante a desagregação do Antigo Regime. Era, portanto, uma ideologia revolucionária e que representava basicamente os interesses da burguesia industrial.
Adotado no Brasil, o liberalismo passava a ter um aspecto contraditório: o de uma ideologia burguesa num país que nem possuía burguesia.
Daí decorreram as limitações que as ideias liberais tiveram entre nós: adotadas como teoria, raramente podiam ser aplicadas na prática. E, quando o eram – sob a forma de liberalismo de fachada -, acabavam por beneficiar mais as potências europeias do que o Brasil.
Em resumo: falar em liberdade num país onde quase da metade da população era escrava seria cômico, se não fosse trágico.
As revoltas emancipacionistas: • Conjuração Mineira (1789)
• Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates (1798) • A Revolução Pernambucana (1817)
Mesmo com todas essas revoltas, a conclusão que se chega é que a independência não seria obtida pelas revoltas. Veja bem: para a classe dominante colonial, formada pelos grandes proprietários de terras e de escravos, a situação era contraditória. Desejavam libertar-se do controle metropolitano, do monopólio comercial e dos entraves que Lisboa colocava ao livre curso dos
negócios na colônia. Gostariam também, de assumir altos cargos do governo e da magistratura, que eram normalmente reservados a portugueses. Mas não queriam de modo algum pôr em risco a posse de seus latifúndios e escravos nem perder os numerosos privilégios sociais que possuíam.
Para os grandes fazendeiros, apoiar uma revolta com base na ideologia liberal significava correr risco de ver o povo participar ativamente do processo, dando origem a reformas econômicas e sociais que implicariam a destruição da própria elite.
Nas condições brasileiras do início do século XIX, só seria possível fazer a independência com a participação da classe dominante agrária, que só participaria se encontrasse um meio de não arriscar seus privilégios.
A evolução da política europeia e os rumos tomados pelas Guerras Napoleônicas resolveram o problema, enfraquecendo Portugal e obrigando seu governo a refugiar-se no Brasil, o que acabou dando à elite a oportunidade de assumir o controle do processo e realizar a independência sem luta armada, sem participação popular e, acima de tudo, sem riscos.
→ A Corte Portuguesa no Brasil Antecedentes:
- Europa era devastada pelas guerras contra a França.
- Napoleão não conseguiu atacar a Inglaterra diretamente, portanto, ele decretou o Bloqueio Continental (que proibia todos os países da Europa de comercializarem com a Inglaterra). Mas o que é que o Brasil tem a ver com isso?
- D. João era quem governava Portugal na época e ele se recusou em aderir ao Bloqueio Continental. Isso fez com que Napoleão invadisse Portugal, forçando a Corte portuguesa a transferir-se para o Brasil.
- Com a derrota de Napoleão, os portugueses exigiram a volta de D. João a Portugal, deixando D. Pedro encarregado da regência do Brasil.
Após um tempo, ordenaram que D. Pedro também voltasse a Portugal, além disso Portugal começou a implantar uma série de medidas que só favoreceriam a metrópole e em nada a colônia. Isso gerou um movimento de oposição à Corte e esse movimento acreditava que a permanência de D. Pedro facilitaria a independência sem a perda dos privilégios, os grandes fazendeiros continuariam a ter escravos, por exemplo. É a liberdade seletiva.
Pressionado pela opinião pública e pela imprensa, D. Pedro adotou uma série de medidas favoráveis à autonomia do Brasil. As mais importantes foram:
• nenhuma lei vinda de Lisboa seria obedecida sem o Cumpra-se do regente;
• convocação de uma assembleia constituinte, que deveria organizar uma Constituição para o Brasil;
• considerar inimigas quaisquer tropas enviadas por Portugal; • proibição da posse de funcionários enviados de Lisboa.
Diante dessa série de medidas e da rapidez com que foram tomadas, a separação definitiva entre Brasil e Portugal era somente uma questão de tempo e de oportunidade. Finalmente, a 7 de setembro, D. Pedro, diante da ordem das Cortes para que voltasse imediatamente a Portugal, proclamou a independência. Como a independência foi controlada pela classe dominante agrária, não houve mudanças em nossa estrutura econômica, que continuou fundamentalmente colonial: agrária, latifundiária, escravista e dependente do mercado externo.
2. Brasil Império: o Primeiro Reinado (1822-1831)
D. Pedro I impôs uma Constituição, que é a Constituição de 1824, que vigorou até a proclamação da República, em 1889. Esta constituição estabelecia o seguinte:
• monarquia constitucional e hereditária;
• regime unitário, ou seja, quase todos os poderes político-administrativos concentravam-se em mãos do governo central, e os governos das províncias tinham autonomia mínima;
• união entre a Igreja e o Estado, sendo a religião católica a oficial – era o sistema de padroado;
• voto censitário (para ser eleitor era necessário ter uma determinada renda mínima) e descoberto, ou seja, não secreto;
• quatro poderes: Moderador, Executivo, Legislativo e Judiciário. (O poder Moderador, pessoal e exclusivo do imperador, intervinha sempre que surgiam conflitos entre os demais poderes e determinava qual deles tinha razão).
→ Fatores que contribuíram para o declínio do imperador (D. Pedro I):
• violenta repressão à Confederação do Equador, uma revolta ocorrida em Pernambuco, em 1824, à qual aderiram o Ceará, o Rio Grande do Norte e a Paraíba;
• o envolvimento de D. Pedro I na sucessão do trono português, devido à morte de D. João VI, em 1826.
• a Guerra Cisplatina (1825-1828), entre Brasil e Argentina, que teve como resultado a independência do Uruguai (que havia sido anexado ao Brasil por D. João VI, com o nome de Província Cisplatina).
→ A abdicação de D. Pedro I (1831)
- Imagem do imperador para a população estava profundamente desgastada. - “Noite das garrafadas” - pancadaria entre “brasileiros” e “portugueses”. - Movimento popular
- Em 7 de abril de 1831, D. Pedro I abdicou do trono brasileiro em favor de seu filho D. Pedro II, então com 5 anos de idade. Encerrava-se assim o Primeiro Reinado.
3. Brasil Império: o Período Regencial (1831-1840)
A abdicação de D. Pedro I, em 1831, foi um fato importante da História política do Brasil, por três motivos principais.
1º Significou a consolidação da independência obtida em 1822.
2º Permitiu à aristocracia rural passar a controlar diretamente o poder político, sem a intermediação do imperador.
3º As contradições entre a classe dominante, a camada média e o povo estavam num segundo plano durante o Primeiro Reinado, pois todos os grupos uniram-se na oposição a D. Pedro. Com a abdicação do imperador, iniciou-se, então, um processo de lutas internas entre os grupos, cada um tentando impor sua orientação política aos demais.
Costuma-se dividir a Regência em dois períodos (avanço liberal e regresso conservador). O avanço liberal reivindicava a liberalização do regime brasileiro. E o avanço conservador consistia na ideia de concentrar a direção política e administrativa na mão dos conservadores.
- Regência Trina Provisória e Regência Trina Permanente: ambas ocorreram porque, de acordo com a Constituição, o país deveria ser governado por um regente, até que o novo imperador completasse 18 anos.
- Golpe da Maioridade: colocação antecipada de D. Pedro II no trono, com apenas 14 anos de idade. → Revoltas do Período Regencial
• Cabanagem, no Grão Pará (1835-1840)
• Revolução Farroupilha, no Rio Grande do Sul (1835-1845) • Sabinada, na Bahia (1837-1838)
4. Brasil Império: o Segundo Reinado (1840-1889)
O Segundo Reinado, ou seja, o reinado de D. Pedro II, foi o mais longo governo de nossa história: durou 49 anos, desde o Golpe da Maioridade, em 1840, até a proclamação da República, em 1889.
→ Política interna
- Parlamentarismo: Primeiro Ministro e Chefe de Estado (Rei/Imperador, no caso, D. Pedro II). O Chefe de Estado nomeia* o Primeiro Ministro.
* Chefe de Estado não nomeia alguém da sua preferência, mas sim o líder do partido vencedor das últimas eleições, maaaaasss... a teoria era uma coisa e a prática é outra, completamente diferente. - Como eram as eleições:
1. Haviam dois partidos
• Liberal (mudanças nas estruturas políticas);
• Conservador (manutenção das estruturas – sem mudanças).
Mesmo com eleições o imperador (D. Pedro II) conseguia colocar o partido do seu interesse no poder.
O dia da eleição: não havia um número grande de pessoas, como hoje em dia. Naquela época o voto era censitário (as pessoas tinham que ter uma renda mínima para votar); portanto poucos votavam (geralmente os mais ricos). O voto também não era secreto e os mesários e o presidente da seção conhecem você, sua família, seu endereço. Aliás, estão acompanhados de uma polícia armada “capaz de mudar a ideologia de qualquer um”. Outro detalhe: todos os responsáveis pela seção são do partido conservador (que é o partido que o imperador deseja indicar ao poder). Depois de tudo isso quem é que iria votar no Partido Liberal, por exemplo? Sim, ninguém!
→ Política externa
- A manutenção de uma política de acomodação com os interesses da Inglaterra.
- Constantes choques políticos e militares com os países platinos (Argentina, Uruguai e Paraguai). Dentre todos os conflitos, o pior foi a:
Guerra do Paraguai – mais sangrenta da América Latina - Consequências:
• Paraguai perdeu parte do seu território;
• População paraguaia foi dizimada (aproximadamente 65% da população morreu); • No Brasil tivemos cerca de 50 mil mortes;
• Aumento da dívida externa;
• A maior beneficiada de tudo isso foi a Inglaterra, que emprestou dinheiro para o Brasil e para a Argentina, aumentando ainda mais a nossa dependência sobre ela.
→ Cafeicultura e modernização conservadora
- Expansão da atividade cafeeira provocou diversas modificações no Brasil, dentre elas: • Substituição de mão de obra escrava pelo trabalho assalariado (imigrantes); • Modernização dos meios de transporte, com a construção de estradas de ferro; • Expansão da rede bancária e do crédito rural;
• Modernização dos portos do Rio de Janeiro e de Santos; • Dinamização das atividades comerciais.