Perfis:
Twin
Peaks,
Mozart
e
Gonzaguinha
Na12, 13 eIS Kleinübingtrabalha desperdiçando70 milhões empropagandaFLORIANÓPOLIS,
29 DE
MAIO
A 12
DE JUNHO· CURSO DE JORNALISMO
DA
UFSC
•ANO
IX,
N: 2
Aumentam
casos
de AIDS
no
Estado
Napágina 10A
ENTREVISTA
COM
CLÓVIS
ROSSI
ESTÁ
NA CENTRAL
o
registro
ZEBO
***
Melhor
Peça
Gráfica
I,
"e11/ Set
Universitário
Maio
88Setembro
89Setembro
90 Jornal-laboratóriodoCur so de Jornalismo da Univer sidade Federalde Santa Catarina, editado em 29 de maio de 91
Arte: Frank
Copydesks: Jornalistas
professores
Gastão Cassel,Gilka Girardello e Ricardo Barreto
Diagramadores(as):
AdrianaMartorano,
Angelita
Correa,Fernanda Medeiros, João PauloMiller, Marta Scherer,
Nilva Bianco, Simone Frits che
Editores assistentes: Emerson
Gasperin,
Fernando Moskorz, MartaMoritz,Marcelo de Andrade,NilvaBianco Editoresupervisor:
professor
Ricardo Barreto(MTb
2708RS)
Fotografia:DeiseFreitas,Pe droMelo, Sara
Caprário,
Te rezinhaSilva,Victor CarlsonLaboratóriofotográfico: Dei se Freitas,Pedro Melo
Montagem: Marinho Textos: Alexandre
Gonçal
ves, Ana Cláudia Menezes, Ana CarineMontero,Geral doHoffmann,MônicaLinha
res,NelsonLorenz,azias Al vesJr., Pedro Santos,Rafael
Masseli,
Rogério
Mosimann,Sara
Caprário,
Silvânia Siebert,TerezinhaSilva, Victor Carlson
Acabamentoe
impressão:
Im pre farRedação:
UFSC-CCE-COM,
CursodeJornalismo,Trinda
de, CEP 88049,
Florianópo
lis,SC Telefones:
(0482)
31-9215, 31-9490 Telefax:(0482)
33-4069 Distribuição gratuita Circulaçãodirigida
João
Pessoa
parou.Foi
geral
,
-Criciúma
tem
desemprego:
parou
Foiumagreve
parcial
emSanta
Catarina,
onde houveparali
sação,
principalmente
dos servi dorespúblicos
eprofessores
estaduais e
federais,
previdenciá
rios e
bancários,
que protestavamcontraa
política
econômica do governo.Para
chegar
a esta greve aCentral Unica dos Trabalhado
res
(CUT),
discutiu muito durante o ano com as
categorias.
Campanha
publicitária,
conversascom
sindicatos, organização
depasseatas, showsetantasou
tras coisas que envolvem uma
greve
geral.
ACUTna
terça-feira,
dia21,
já
consideravaagreve comovi toriosa. Ineir Mittmann-presi
dente da CUT em Santa Cata rina afirma que "mais de 90% da
população
naterça-feira
jása
bia da greve e o que ela estava
combatendo: o
arrocho,
a situaçãode miséria da
população,
ossalários que valem 1/4 desde
quando
o Collor assumiu e os6 milhões de trabalhadores de
sempre&ados"
. Criciuma parou- Oprimeiro
dia de greve foiomais
expressivo
em adesões.
Blumenau, Caça
dor,
Concórdia,
Jaraguá
doSul,
Imbitubae
Chapecó
paralisaram
quase quetotalmenteasativida des nas escolasfederais,
estaduais e
municipais.
Descanso,Itapiranga,
Anchieta,
Remelân
dia,Caxambu do Sul,
Aguas
deChapecó
e Quilombo decretaramponto
facultativo,
segundo
a CUT.Ern
La�es
o Banco do Brasil foi invadido poragricul
tores.
GREVE NACIONAL
norque
seja,
ondenão tenhasido mostrada a
angústia".
João Pessoa
(PB)
foi acapital
que obteve maior êxitonagreve
geral.
Ostrenseônibusnãocir cularam. Os funcionários dasaúde, educação,
construção civileferroviários
paralisaram
100%. Só o comérciofuncionou,
par cialmente.Com a greve dos transportes
emSão
Paulo, indústrias,
comér cioe bancos abriramsuasportas com menosfuncionários. O trân sito ficou tumultuado devidoaosconstantes
congestionamentos.
No
ABC, principal
base daCUT,
não houve grevee até osmovimentos deprotestosque ti nham sido
programados
fracassaram,devidoassucessivas para
lisações
salariais dacategoria.
"Eunãopossoagir
comoumditador diante dos trabalhadores: tenho de me submeter às deci
sões
deles",
disse Vicente Paulo daSilva, presidente
do Sindicato dosMetalúrgicos
de São Bernar do doCampo
eDiadema..Ministérioemgreve- Mesmo
semfazerum
balanço
dasparali
sações,
o Ministro doTrabalho,
Antônio
RO$ério
Magri,
afirmou que "não houve nenhuma
greveno
país,
mas,sim,umconJuntode Incidentes violentos pa trocinados
pela CUT",
esquecendoa
longa
greveem seupró
prio
ministério. Sobreasituação
da
prefeita
de SãoPaulo,
LuizaErundina,
o ministro disse apenas que "ela não fez o menor
esforço
para evitaragreve".
Um relatório dasDelegacias Regio
nais
indica,
de acordo comMagri,
que aparalisação'
ocorreuapenasnostransportescoletivos de São
Paulo,
RioeBahia,
Esta dos onde foramregistrados
maiores índices de violência.No Rio de Janeiro apenas os
ferroviários
paralisaram
totalmente,osmetroviários pararam
parcialmente,
mas o metrô nãodeixou de funcionar. O comando de greve reconhece quea
parali
sação
foiparcial.
O Banco do Brasile a Caixa Econômica Fe deral fecharamalgumasagências
na
capital
carioca. Ogove-rnador
Leonel Brizola não
quis
dar declarações
sobreomovimento. Osorganizadores
dagreveemPorto
Alegre
formaramum"pi
quetâo"
parafazerpasseataspelas
principais
ruas dacidade,
obrigando
lojas
afecharem.Incidentes sem
gravidades
envolveramgrevistas e a
polícia
militardo estado. O comando da greve
geral
informou quegrandes
indústrias da
região metropolitana
funcionaram normalmente.taduais
paralisaram
suasatividades,
SãoMiguel
d'Oeste manteve agreveentre60% dos pre
videnciários e 70% dos
profes
sores. Em Concórdia aEmbra
pa, Escola Técnica Federal
Agropecuária,
Associação
Cata rinense de Criadores de Suínos-ACCS e 85% dos
professores
estaduais.
Alguns
incidentesmarcaram agreve no
estado,
com duaspes-Parao
monopólio
de comunicações
a greve foi um fracassototal,
resultando apenasem vio lênciaedepredação.
Masosdirigentes
sindicais acreditam queosprotestos
serviram de demonstração
da revolta dos trabalhadores,
conseguindo
ocuparmanchete de
jornais
ealguns
minutos dostelejornais.
Para Luiz Inácio Lula daSilva,
presidente
doPT,
"qualquer
resultado será umalerta parao
governo".
SII'II
Cllp,ã,io
soaspresasem
Joinville,
um-de les membro do Sindicato dosEmpregados
na Indústria Metal Mecânica, Em Rio do Sulapolí
cia utilizou
gás
lacrimogêneo,
para desafazer um
piquete
for mado em frente ao terminal de ônibus. Em Criciúma ummotorista de ônibus foi
atingido
poruma
pedrada.
Parcial
mesmo,
foi
a
cobertura
da
imprensa
A greve
geral
convocadapela
Central Unica dos Trabalhadores
(CUT),
comapoio
das CGTs(Central e
Confederação
Geraldos
Trabalhadores) conseguiu
apenas uma adesão
parcial
emtodo o
país.
Comobjetivo
deprotestarcontraa
política
econômica recessivae o
desemprego,
osdirigentes
sindicais encerrama greve com um
balanço
negativo,
segundo
aimprensa
nacional. Eogoverno, quenão acre
ditavano sucessoda
paralisação,
ganha
tempo
paraumatentativa deentendimento
nacional.Para Jair
Meneguelli, presi
dente daCUT,
osobjetivos
da greve foramalcançados.
Durante entrevista coletiva disse que
não
importa
onúmero de traba lhadoresparados,
masofato de que "não houvecidade,
porme-"Criciúma foi um
sucesso",
comentário
geral
entreos membros da CUT. Com
paralisação
total dacidade,
apenas 5% da frota de ônibus operou.No
segundo
dia de greve muitas
categorias
voltaram a trabalhar,
poucosmunicípios
mantiveram suaadesão: em
Chapecó
80% dos
professores
permaneceram
parados,
Blumenau aFURBe80% dos
professores
es-MAIO 91 ZERO
GREVE
NA
ILHA
Está tudo ótimo
no
Brasil Novo
"Eutô
passando
fome. O queeu vou fazer? Roubar eu não posso. se nãoa
polícia
meprende! "desabafaa
aposentada
Maria deLurdesFanas, quenãopa
rava de
apitar
egritar palavras
de ordemnosdois dias de mani
festações
da Greve Geral, convocada
pela
Central Unica dos Trabalhadores(CUT)
epelas
duas centrais Gerais dos traba lhadores
(CGTs)
paraosdias22 e23 de maio.E a
polícia prendeu.
Mas. nenhum dos 12detidosestavarou
bando. Todos
participavam
daGreveGeral,emprotestocontra
a
política
econômica dogovernoCollor,oarrochosalarial,ea
pri
vatização
dasuniversidadese estataisem
geral,
pela
melhorianoensino
público
epela
reformaagrária
urgente.As
manifestações
noprimeiro
dia da Greve começaram por volta das 10:00 hs. da manhã.
Cercademil pessoas, entrepro
fessores, bancários, comerciá
rios, funcionários da Sunah,
APAE,
Fundação Hospitalar
eestudantessaíramdo largo daca
tedral em passeata
pelo
centrode
Florianópolis.
O chamado "arrastão" tinha comoobjetivoconvencer o comércio a fechar
suasportas.
Os comerciantes que tinham
aberto suas
lojas
fecharam commedode
depredação.
Quem arriscou ficar com as
portas
aber tas. como umapanificadora
na rua Tenente Silveira. foi vítimade
piquetes
e acabou fechando. Ospiqueteiros
gritavam
"Fecha!Fecha�"
e osmais exaltados batiam nas portasdas lojas e han
cos. NasCasas Coelho
chegaram
a danificaro letreiro.
Diantedetanta
convicção
dosgrevistas,
restou aoscomerciantes fecharsuasportas.enquanto a passeata
seguia
comrumocerto: o terminal urbano de Floria
nópolis,
ondealguns
poucos policiais sóobservavam.
Repressão
Noterminal,osmanifestantes
sentam-se no chão e
impedem
a saída dos ônihus. A propostado comando da greve é só um
ato
temporário
para sensibilizarosmotoristasecobradoresaade
rirem a greve. O
policiamento
aumenta,ospoliciais
fazemumacorrente, mas,continuamsó oh
servando. O clima é tenso. Os motoristas
pareciam
miose sensibilizar com o chamado à ade sáo. "Se der pra trabalhar, nós
trabalha" disse um motoristada
empresaTransol.
Chega
reforço dapolícia
militareocontingente
de. policiais
alcança
cercade 200. "Eborn opessoal
sairno máximo em cinco minutos, senão
complica",
dizum sindicalista.Não existe
arrocho,
inflação, desemprego
em
massa
...Presidentefez beicinhomasumaminoria parou
Estudantenão-grevista:preso A
polícia
não deu nem cinco minutos,partiu
para cima dosmanifcstantesque se defendiam
dos cacetetes com mastros de
bandeiras de cano PVc. A vio
lênciafoigrande,
quem nãoquena sair fOI sendo
empurrado
eespancado.
Ospoliciais
apreen deram a Kombi do som elogo
.
possibilitaram
a saída dos ônihus.
A violência ainda não havia terminado.
Agora, já
naPraça
XV. a
polícia
enfrenta os grevistas que
respondem
com pedras.Várias pessoas foram
pre-ldelitentoumobilizar...
sas. Testemunhas afirmam que a
polícia prendeu
urn estudante que estava num bar nolocal daconfusão.
Osaldo final foram doze pre sos e duas pessoas no
hospital:
uma comhemorragia
nostestí-MAIO
91 ZERO
3
...mas como Rita: foram presas
culos e outra com
suspeitas
de fraturasnascostelas.Menor preso
Entre os detidos estavam o vereador doPC do BJoão Gui zoni,Rita
Gonçalves, presiden
te do Sindicato dos Trabalha
dores em Educação, um estu
dantede apenas 14anosenove
sindicalistas: O estudante foisol
toainda nolocal, por ordem do
secretário
deSegurança
PúblicaSidney
Pacheco, graças a intervençáo do
advogado Clemente
Mannes da CUTeda vereadora Clair Castilhos(PSDB).
Asou-traspessos presasforam levadas
ao 1': DP (centro) e soltas por volta das 16:00 horas. ,
"A
polícia
me 'enforcouquando
meprendeu"
foi só oqueo menino Alexandre conse
guiu
dizer. "Não queremos vio lência", afirmou Sidnev Pacheco."Só queremos
assegurar
odireno para quem quer trabalhar e
l?araquemquervoltarparaca
sa
.
concluiu o secretário.
Após
otumulto.os grevistasvoltaram aolargo da
catedral.
Fora
do centro, alguns colégios
pararam e "auniversidade
federal ficou quase toda
parali
sada, só com algumas aulas nos centros
sócio-econômico
e tecnológico". diz Paulo Corso. do
Diretório
Central dos Estudantes.
No
período
da tarde. houve mais passeatas. sem nenhumtranstorno. O comércio funcio
mau normalmente. exceto nos momentos da passeata.
quando
as portas fechavam. Ao anoitecer.houvenova
concentração
nolargo da catedral. O clima era descontraido, pessoas
dançan
do.vendedores de chocolatenas
escadariaseatéum grupo folclo nco tez uma apresentaçâo de Boi-de-mamão.
Calmaria
O segundo dia da zreve, foi
III a rcacit)"por ofensas docoman dode zreveaosmeiosde cornu
nação
�pela
repetição,
por partedos
grevistas
dequeagreveestava sendo vitoriosa em todo o Brasil. "A grevecumpre e cum
priu
seusobjetivos"
avaliou Jor ge Lorenzetti, membro da exe cutiva nacional daCUT.Cerca de KOO pessoas
partici
param da passeatapela
munhâ. A todo momento estouravam"rojões"
e a Kombi dosom pe diuaosmauitestantes que ide nti ficassem o baderneiro. Era FabrizioS.. IIanos.
jornaleiro.
Aoser
perguntado
sobre
porCJ.u0
faWI
aquilo.
respondeu:
"E paraassustar essesvazabundos. devia
tü tudo
trabalhando".
A manifestaçáo seguiu
sem o ..rerroris
ta"e foi parao terminal. Desta
vez,osmanifestnntesficaram do
outrolado darua.
Overeador João Guizoni
(PC
do B) avaliou o movimento co mo "forte, dentro das expectativa-
docomando.quanto apolí
cia. a gente
pode
esperar tudo.ainda maisnum
país
autoritáriocomoesse". Varios represenran
res de
partidos
discursaram nacatedral. "Os dois dias mio ter
minam
hoje,
Seiooinício deumagrande
jornada
para devolver O·Brasil
pragente" proclamou
Dclmun Ferreira, membro da
executiva nacional da CUT.
Rogério
MósimannDESPERDíCIO
,
Kleinübing
adota
estilo Collor
se. Por um decreto de
29
deabril,
Berea passouateraúl timapalavra
sobre todaamídia
governamental,
inclusiveo
poder
de selecionar e contratar
agências
depublicida
de. O mesmo decreto tam
bémlhe
impõe
odever decolhere
prestar
informações
deinteresse da comunidade.
�
Santa Catarina
l,1ffuma
acasa,
faz
econi
e
vai
embusca de
umfuturo
melh(l�
»:·:·,..w;_··--'-_-;-:«.,:.):.'-.-,,-:-:<,:,_,- ,. :,.':i� ::::,:,!,�;.. :�::'���w:"·��'::��{w::::�::.. _.:
Governador
não
pechinchou
na
hora de pagar
Santa
CEitarina
arruma acasa,
fEiz
ecoticmia
fJ.vai
embusca de
umfutUff)
mgthor.
Um
"pedido
de informação" aprovado pela
Assem bléiaLegislativa,
nodia 29 deabril,
estáincomodandoogovernador Vilson
Kleinübing.
Osdeputados
daoposição
querem saber
quanto
o go vernodo Estadogastou
compropaganda
entre 15de março e28 de abril. Cálculosex
tra-oficiais,
baseados nas tabelas depreços dos meiosde
comunicação,
indicam que oPalácio SantaCatarina
já
despejou
cercadeCr$
70 milhõesemoito
jornais,
quatro
emissoras de TV e duas
agências
de
publicidade.
E dinheiro suficiente parapagarosaláriode dois mil
professores.
Até agora,aobramais visí vel do governo quese dizem"estado de trabalho" é a pu
blicidade oficial. Emum mês e
meio,
foram oito anúnciospublicados
nosquatro
princi
pais jornais
catarinenses(Diário
Catarinense,
A Notícia,
O EstadoeJornalde Santa
Catarina),
um nosquatro
maiores diários do centro do
Paísetrês
vinhetas,
de trintasegundos
cada,
veiculadas dezenas de vezes nas�atro
emissoras locais de TV
tKBS,
RCE,
Barriga
VerdeeTVOEstado).
Sem contar com asmanchetesquasediáriasafa
vordo governoe umeficiente
esquema de rádio montado
no
Palácio,
quechega
a emplacar
emmédia132 boletinspor dia
(mais
da metade aovivo)
em83 das 93 emissorasexistentesno Estado.
Os
gastos
exagerados
commídia eram visíveis desdeos
Mas só quer
responder
àAssembléia,
no final demaio,
quanto
o governojá
gastou
compropaganda.
Paradespa
char orepórter
que insistiudurante duas semanas atrás
desses
números,
chuta "unsCr$
30 milhões".Sequer
informaqueo
orçamento
assumiu a
pasta.
O ex-secretário deComunicação Social, Nery
Clito
Vieira,
garante
que deixou emcaixa
Cr$
36milhões,
de um orçamento de
Cr$
76milhões para 1991. Kleinü
bing
diz que vai enviar umprojeto
de lei à Assembléiapara fixaro novo orçamento
ao
gabinete
dedivulgação
"porque
averba acabou".Governo catarínensetorrou70 milhõesempropaganda
primeiros
diasdo atualgoverno,massó foram notados pe
la
oposição
nodia 19 deabril,
quando
aFolhade SãoPaulo,
O Estado de SãoPaulo,
O Globo e o Jornal do Brasilestamparam
um anúncio depágina
quase inteira sobre oPlano de
Modernização
doGoverno,
comotítulo "SantaCatarina arruma a casa, faz economia e vai em busca de
um futuromelhor". O
depu
tado Arnaldo Schmitt
(PMDB) pôs
abocanotrombone na Assembléia: "Só com o dinheiro
gasto
na publicação
do anúnciona Folha(Cr$
7,2
milhões),
ogovernopoderia
pagarainsalubridadede 412 enfermeiras". Nos
quatro
jornais,
juntos,
apeçacustou
algo
em tornodeCr$
20 milhões.ra o
serviço.
Há oitoagências
pré-qualificadas
ainda'pelo
governo do PMDB:MPM,
Granméta,
RL, SC, Quadra,
Artplan Sul,
Propague
e ExaPropaganda.
Pelomenostrês deveriam receber uma "carta-confite",
paraexecução
de mídia até o valor deCr$
7,9
milhões para
serviços
acimadesse
valor,
deveriahavertomadade preçosou
licitações.
O
governador
Vilson Kleinübing
irrita-se com o quechama de "modismo de co
brar
quanto
o governogasta
compropaganda".
Diz�ue
lançou
mãodessetipo
de'di
vulgação"
- limitadapela
Constituição
Estadual -pa ra desfazer a"imagem
de bandido" com que teria sidopintado
após
aaprovação
emregime
deurgência
esanção
apressada
do PMG. "O aminCIO em
jornais
do centro do Paístem oobjetivo
de atrair investimentos para Santa Catarina",
defende-se. Um diadepois
de recebero"pedido
de
informação"
da Assembléia,
Kleinübing
decretou ofim da "carta-convite" às
agências
eprometeu
incluiras
despesas
compublicidade
nos balancetes mensais que
continuará
publicando
nosjornais.
"Jogo
da Verdade" - O Chefe do Gabinete de Comunicação Social,
Eugênio
Berea
Filho,
resiste a cumprir
umapalavra
que escre veu noprimeiro
anúnciodeste governo:
transparên
cia. "Só
publicamos
osbalan cetes, que é promessa decampanha,
efizemosumadivulgação
doPMG",
esquiva-amoço com 150
empresários
noHotelCastelmar.Entreos
convidados,
um editorialistada Gazeta mercantil encan
tou-secom o
PMG,
quedefiniu como "O
exemplo
de SantaCatarina",
noeditoriale
sábado, 27,
que também vi roumatériapaganaimprensa
barriga
verde.O
almoço
foiorganizado
pelo presidente
da Associação
dosDirigentes
BrasileirosdeVendas
-ADBV/SC,
Roberto
Costa,
dono da Propague,
agência
que,junto
com a
Artplan Sul,
de PauloRoberto Bornhausen
-filho de ex-senador
Jorge
Bor nhausen(PFL),
abocanhou boaparte
dosCr$
200 mi lhõesgastos
pela
União por Santa Catarina nacampanha
eleitoral de 1990. Estas duas empresas também estariam rachandoa conta
publicitária
dogoverno,denunciaodono
deuma
agência
habilitadapa-O mistério
que
ainda envolve os
negócios
depropa
ganda
do governolança
duvidassobreotítulodeumanún cio veiculado no dia 19 de
abril nos
jornais
locais: "Ojogo
da verdadejá
começou".
Pareceterrazãoolíderdo
PFL,
JúlioGarcia,
paraquem "este governo tem di
vulgado
apenas o que faz".Pro-paganda
emcima
de propaganda.
E,
comodiz AldousHuxley,
nolivro.
Admirável Mundo Novo "
"os maiores
triunfos da
propaganda
foram obtidos não fazendo coi sa
alguma,
mas deixando defazê-Ia. A
verdade
égrande,
masainda
maior,
deumpontode vista
prático,
éosilênciosobreaverdade".
A denúncia do
deputado
mereceu uma nota de
pé
dapágina
nojornal
OEstado,
longe
dodestaque dado,
emmarço, às notícias sobre a
campanha publicitária
do fi nal do governo doPMDB,
que custou
Cr$
90 milhões.J
O anúncio do PMG
ganhou
um
elogioso
editorial do Jornal do Brasil: "Um
exemplo
do quepode
eprecisa
serfeitopararecolocaroBrasilnos.
trilhos ql1elevamaoPrimeiro
Mundo no século' XXI está sendo dado
pelo
governador
VilsonKleinübing"
,escreveuo
editorialista,
no dia 23 de abril. O editorial virou anún cionosquatro
jornais
catarinenses. Um
elogio
page.Entre
Amigos
- Doisdiasdepois
doelogio
doJB,
Kleinübing partic_ipou
de um1
I
•••0 seu"jogo
da verdade"•••de todo Pais••.
CONTRASTES
o Governo
arrumaa casa através daimprensa
enão economizaemcooptação
Imprensa
é
amordaçada
Governo
troca
coberturas por
publicidade
A história se repete e,
aqui,
atécom coincidência de nomes.
'Contao
jornalista
MoacirPereira, num texto inédito, que du
rante a
gestão
dogovernador
Antônio Carlos Konder Reis(1975-1979),
o governo doEstadoteve
"participação
direta"noprocesso que levouoMDB'ade
nunciar o
amordaçamento
daimprensa
catarinense.Konder Reis criou a Dicesc
Companhia
deDivulgação
doEstado de Santa Catarina, que
centralizou todas as verbas pu blicitárias dos
Órgãos
e das empresas
públicas.
Passou a comPEar
eSP31ç_o
nosjornais,
televi:
soese rádios que, em troca, sodivulgavam
notícias da Arena.Segundo
ocolunista,
alinhaeditorial de
alguns
desses veículoseraditada por
jornalistas
contratados
pelo
Palácio.Lê-seno textode Pereira: Os
jornais
tidos comoimpar
ciais passarama sofrer
pressões
diretaseindiretasdo sistemago
vernamental. Cinco
jornalistas
de PortoAlegre
foramobriga
dosa solicitar demissão doJornal de Santa Catarina e da TV
Coligadas,
porque,segundo
al gunsdepoimentos,
eramprofis
sionais e
apresentavam
osfatos enoticiescom aimparcialidade
exigível
edesejável.
Os doisveículos - de
uma mesmogrupo
-não
queriam
estetipo
de maté ria. Ojornal
ea TVforam, namesma
época,
adquiridos
pelo
Sr. PauloRobertoBornhausen,
primo-irmão
dogovernador
KonderReis, emduvidosa operação comercial,
e que levou oMDBacontestarasaída.Parale
lamente, os mesmoveiculosco meçaram a sefixaremnotícias
exclusives daArenaedo gover no, apontode se
posicionarem
emeditoriais.
Começaram
aper-der o créditoperante a
opinião
pública,
que denominaojornal
de 'Diário Oficiar.
O governo Konder Reisainda
conseguiu
acabar
com"o melhorprograma de
radiojornalismo
até entãoproduzido
emSantaCatarina",oLinha de Frentequevei
culavaosdebatesda Assembléia
Legistativa.
"Como a bancadadaArenaera menosatuanteque
ado
MDB,
oprogramapegou",
escreve Moacir. A Rádio SantaCatarina decidiu
extingui-lo
depois
de umabriga
Que o gover nadorcomproucom osdeputados
daoposição,
ao inteferir diretamenteno
Legislativo.
O dono darádio, Arldo Carvalho, 2� su
plente
dedeputado
federal,
demitiu três
jornalistas
- doiscom
imunidade sindical
-e foi pre
miadocomumacadeiranoCon
gresso
Nacional,
através de manobra
política
conduzida por Konder Reis. "Ogovernador
nãoatendia aos
repórteres,
deu apenas uma entrevista formal.Os secretários evitavam os
jor
nalistas",
diz aindaMoacir..
Apesar
das
pressões
e do partidarismo que tomou conta da
imprensa,
havia veículos quecontinuavam
divulgando
os fatos "com
imparcialidade
eindependência",
ressalvaPereira,notexto
"Aspectos
da RealidadePolítica de Santa Catarina",
apresentado
num curso sobre"análise catarinense",
promovi
do
pelo Regional
Sul IV daCNBB,
emLages,
em 1978. Naplatéia,
estavaumprofessor
universitário de nome Fernando
Marcondes de Mattos.
Doisanosantes,aAssembléia
Legislativa
formaraumaComis sãoParlamentar deInquérito
para apurar as atividades da Di
cesc.Konder Reisrecusou-sevá
rias vezes a fornecer os docu mentos
requisitados
pela
CPI e, diante da insistência dosdepu
tados da
oposição,
extinguiu
aempresa. As 169 folhas do rela
tóno foram parao
arquivo,
destino de quase todas a CPls da
corrupção.
Aenxurrada deanúncioscon
tinuou abastecendooscaixasdos meios de
comunicação
duranteos governos de
Jorge
Bornhau sen(1979-1982)
edeEsperidião
Amin
(1982-86).
Basta folhearos
jornais
daépoca
paraconfe rir. Pedro IvoCampos-PMDB
tentouconteressa
sangria
derecursos
públicos
apartirde 1987e se deu mal com a
imprensa.
Até
Kleinübing
já
disseaosjor
nalistas que cobrem o Palácio:
"Apressao dos
patrões
de vocês por mais verbaspublicitárias
égrande".
Masnão reclamadacobertura que vem sendo dada a
seugoverno.
Quem reclama desta cobertu
raéo
presidente
do diretório do PMDB deFlorianópolis, Nery
ClitoVieira,
queacusaaimpren
salocal de
"parcialidade,
portomar como verdade única aver sãodonovo
governo".
OPMDBtambém promete entrar com
umaação
popular
najustiça
paraqueogoverno
Kleinübing
devolvaaoscofres
públicos
odinheirojá
gastoempublicidade
inconstitucional. O PTapresentou pro
jeto
de lei na Assembléia pararegulamentar
apropaganda
ofi-cial. .
O desfecho dessahistóriaain da é
desconhecido,
masalguns
nomes não são novos na cena.
O
professor
Marcondes de Mat tos, que viu MoacirPereirafazerasdenúncias de
pressões,
nocurso da CNBB em
Lages,
éhoje
secretário da Fazendae
Planeja
mento. Tem a chave do cofre. Konder Reisé
vice-governador.
Aextinta Dicesc agora éoGabinete de
Comunicação
Social,mandado por
Eugênio
Berea,que
já
trabalhou pafaoex-secretário de
Agricultura
deAmin,
Vilson
Kleinübing,
e agora dáaúltima
palavra
sobreosgastosdogoverno com
publicidade.
Mas esquece datransparência.
com acumplicidade
da"grande"
im prensa.Textos:
Geraldo Hoffmann
Marginalizados
reclamam
do
preconceito
contra
seu
estilo
de vida
Indigentes
são
confundidos
com
aidéticos
A Aids,também chamada SI
DA,está solta. Fantasma substi
tuto do
tifo,
da tuberculose, docâncer, a
doença
estimularesis tências epreconceitos.
No centrode
Florianópolis,
naesquina
da Rua Conselheiro Mafra com
a Rua
Trajano,
vive um grupode pessoas que se autodenomi nam
"hippies"
e que são consideradoscomo "aidéticos"
pelos
populares
queosconhecem. Vivem do dinheiro que esmolam
e das
gorjetas
em trocadevigi
lância de automóveis que estacionamporali.
"Em
comum",
dizCarlos,
umdos
integrantes
do grupo "nóstemos o alcoolismo e a amiza
de". Entre nós não há
maldade,
dormimos
juntos
semninguém
abusar de
ninguém
equando
chega
alguém
novoquerendo
sacanagem nós fechamos o cerco
pro cara". Carlos é natural de
Itajaí,
tem 27 anos e desde novembro,
quando
chegou
emFlorianópolis,
trabalha ànoite,cuidando dos carros no estaciona
mentadorestaurante
Lagoa's
naBeira-Mar.
"Logo
noinício",
conta
"quando cheguei,
estavasentadonaporta do
mercado,
edo meu lado estavam a Xuxa e
o marido
dela,
o Jefe; eu não tinha dinheiro nemcigarro.
AXuxa fazia o maior
escândalo,
que é o
J'eito
dela, eucheguei
nelaepe ium
cigarro".
A Xuxaou "Polaca", como também é
chamada,
não tinhacigarro,
masrapidamente
conseguiu
um,oferecendo-o paraCarlosqueapar
tirdaíse
integrou
aogrupo.Xuxa é uma mulher magra,
bemmagra,cabeloscurtosde
pi
veteeum
jeito
italianodese expressar, nãono
sota9ue
masnoexagero dosgestos. 'Mora" na
esquina
da Conselheirojunto
com omarido Jefe ou "Cachor
rão". "Cachorrão domeu mari
do"comoelaochama,para fes
tejo
dosamigos.
Xuxa atéteria· onde morar. A mãe dela desceo morro todos os dias para tra
zer-lheroupas
limpas
epedir-lhe
quevá dormiremcasa,coisa que Xuxa se nega a
fazer,
confirmaogrupo. Jefe, diminutivode Je
ferson, tem traços de índio no
rostoe ocabelo
comprido
deum marrom oleoso. Um sorrisofranco, cheio de dentes come mora todas as
façanhas
da suasempre presenteeciumentamu lher.O casaldizestarcomtuber
culose. Não tratam a
doença
porque,
segundo eles,
não têm onde fazê-lo. "Nemhospitais
nemigrejas
querem cuidar dagente",
dizJefe. Eassimelesficamna rua
pedindo
dinheiro par� comprar cachaça.
"Ontem",
disseJefe,
"com o grupo todo bebemos nove litros depuri
nha".Amigos
Legais - Tem aindaumcasal queconvivecom ogru
po,mas mora em uma casaaban donadanaRua
Trajano.
Estecasai-ele
alto,
quasedoismetrosde
altura,
cabeloscrespos caindonos ombros; ela,pequenae frá
gio
- trabalhacom artesanato
e tem uma filha de seis meses
de idade. Ficam alicom ogrupo
p�)fque são seus
amigos,
comodizem os dOIS: "entre
nós,
nósnoscuidamos". Carlosconcorda e acrescenta dando o
exemplo
do "Menino".
O
"Menino",
comoelesochamam, tem 27 anos, está com
Aids,
e os"hippies"
dividem oquetêmcomele.
Baixinho,
muito magro,feridas abertasescon
dem a
pele
branca. Foi estuprado por desconhecidos duas ve zes, aúltimavez fazpoucotem
po,contaCarlos,quecompena
lembra-se de Vera. Ela também
era
integrante
do grupo e morreu,trêssemanasatrásvitimada de Aids. Talvez tenhamsidoes
tes últimos casos que fizeram
uma
policial
detrânsitosereferiraos
'.'hippies::
como um"grupo
de aidéticos . As
pessoas que,
esquivando-se,
passam por eles delonge
e transitampelo
PontoChic também se referem a eles
como umgrupo de "aidéticos",
o que é contestado
pelos "hip
pies".
"No nosso grupotem detudo,temtuberculose,temaidé
tico,
temcara quesepica
e temcara sãocomo eu,que
já
fizexa meparaAids,
c não deunada" diz Carlos, o rapazloiro,
fortee bonito que há seis meses, de
passagem
pela capital,
acabou achandoumtrabalho: cuidar doscarros da Beira-Mar. - Com
prei
apraça deumcara,eagoraé minha, é de lá que tiro meus
trocos e também uns
amigos
legais".
BRASIL NOVO".
;
com o barulho que o motor!:! da"Ais de Ouro" vai fazen
� d iii o. : oS • t �
A sobrevivência
que
vem.
da lama
EmPalhoçaa
pesca do
berbigão
ajuda
na
rends
Roselie Fátima
Dutra,
cunhadasecomadresde 30anos
de
idade,
vão sair mais umdia para chafurdar na lama onde viveo
berbigão.
Elas fa zemparte
de um grupo decercade 30 mulheres que so
brevivem,
assim como suasmães e avós
sobreviviam,
ti randoberbigão
nosyântanos
da Ponte do
Imaruí,
município
dePalhoça.
Nosdiasemque a maré é favorável se
guem rumo ao mar com ba
Iaios,
baldese sacos nasmãospara buscarna lama negra o
produto
que,vendido,
ajuda
nas
despesas
dacasa,porque
a
gente
tem que se VIrar dojeito
quepode, explica
Roseli,
pra não morrer de fome.Asduasestão hápoucosme
ses nesta vida de mulher do
berbigão.
Vida danada quedepende
dadireção
dovento,
pois
quanto
sopraoventosulamaré encheeaí sósemergu
lhar pratirar
berbigão.
Antesde
partir,
elaspedem
amenina
Kelly,
10 anos deidade,
filha de Roseli
-que leve o
irmão para a
escola,
e cuidebem da
priminha Karina,
de2anos.
Na saída de casa encon
tramo
Negão
sentadopr�gui,
çosamente
numa cadeira abeira darua
-bermuda,
pei
tonu e uma "Dorilda" tatua
da no
braço
direito,
ele bebecalmamente seu chimarrão e
provocaasmulheres:ovento
sul tá
chegando,
maré cheianão vai dá
nada,
eFátima,
vai trabalhar
Negão
em vezde rogarpraga pra
nós,
eelesorri maroto, tô
doente,
eRoseli,
caraamarrada,
tutás sempredoente,
e seguemadiante.
na rua pequenae estreita que vaidesembocarnu ma outra,
paralela
ao mar.Ali,
avistam José Paulo Machado,
oDinho,
quejá
vailonge
com seuspassoslargos,
levando nas costas o balaio e o rodo
-uma
espécie
degarfo gigante
fechado nos lados,
que ele usa para tirarberbigão.
Dinho voltaacabeça
quando
escuta o assobiode Fátima
9,ue
grita
"já
iassem
nós,
é?' , e tornaa virarpara frente e
caminhar,
enquanto
elascorrem pra tealcançar, meu
amigo
Dinho,
hoje
amaré tá baixaetuvais ficar rodeadodemulher,
eeleDona Maurinacolheberbigãohá nove anos masapesarda dureza do trabalho é daliquesaiseudinheiro
riporque
hoje
tábome a maré vai baixarainda mais. En
tram
n'água,
caminham maiscinco minutos até
chegar
-já
comágua
acima dosjoe
lhos - onde está encoradaa
lancha-baleeira "Ais de Ou ro". As mulheres se acomo
dam na proa do barco e Di
nho,
depé,
liga
omotorbarulhento,
rompe esse silêncio de mar,segu_ra
firme o lemeQuando
sopra
ovento
sul,
amaré sobe
ecomplica
otrabalho
e conduza baleeira.
OrumoéoRio da
Palhoça
-aquele
lado de mangueselodaçais
onde desembocamalguns
rios domunicípio
-,umdos
lugares
ondeoberbigão
é mais farto. Notrajeto
de 20 minutos a conversa é
sobrea vida de quem
depen
de domar: amaréquetábai
xa, graças a
Deus,
o vento, e oberbigão
quevaisergraú
do. São quase oito horase o
sol aparece entre as nuvens.
Sua
luz,
quasehorizontal,
formaumafaixa dourada na
superfície
calma do mar, ondecardumesde
manjuvas
pu lam forad'água,
assustadosMAIO
91
ZERO
Dinho conduz a baleeira
olhando sempre para frente até que escuta: "olha
lá,
Dinho,
não é a Dona Maurina?",
eéaRoseli quem aponta para a direita de Dinho e
ele então desvia o olhar na
direção
indicada: nãosei,
setiver de
chapéu
é porque éela",
e Roseli: "será que elanão quer ir
juntó?".
DinhofazsinalparaDona
Maurina,
maselanão
vai,
não,
vaificarporalimesmo onde
já
começou o
trabalho,
de cavucar alama,
à procuradeberbigão,
porque Dona Maurina Sala
zar começaa trabalhar cedi
nho,
que é a hora que o solnãotámuito
quente,
"minhafilha,
pois já
estou com 66anosde
vida,
novenestavida demulher doberbigão".
Elatem cabelo
comprido
e completamente branco,
as unhasamarelas,
curtas eestraga
das,
olhasó,
mostraela,
detanto mexer na
lama,
e temcalos nas mãos "vê
só",
porcausa do
rodo,
tãopesado,
minha
filha,
esente doraqui
Ó,
na canadobraço,
detantopegare descascar
berbigão",
mascontinuaatrabalhar porque é
viúva,
recebe 30 milcruzeiros mensais como apo
sentadae
pensionista,
e odinheirodo
berbigão ajuda
nasdespesas, "já
deu até praconstruirumacasinha dema
terial",
dizorgulhosa
DonaMaurina,
que pegaberbigão
sempresozinha,
suaprima
ajuda
adescascareofilhovaibuscar na
praia
os sacoscheios de
berbigão
que elatraz do mar, porque o bichi
nho é
pesado,
duro delidar,
mas continua
pegando
bichograúdo, pois
nãogosta
deberbigão
de proa que é essemuito pequeno,
"quando
euboto o rodo é na
certa,
e émesmo",
dizRoseli,
eu nun ca vi coisaigual,
ela não vaiatrásdo
berbigão,
oberbigão
é que vai atras
dela,
e Dona Maurina cavuca na lama equando
tem que se abaixarmuito
n'água
do marela esti cauma das pernas paraequi
librar seu corpo
balofo,
e épor isso quenão
pára
de trabalhar,
separarvouengordar
tanto,
tanto,
e fica lá com ocorpocurvadoaté quea
água
do mar bata em seu
peito;
chapéu
depalha
nacabeça,
obalde amarradonopulso
e o barco amarrado na cinturadepneu dosseus81
quilos
depeso, ela vai se transforman
do num
pontinho
perdido
noDEADLINE
'"
DESCAMISADO
a baleeira do Dinhose
apro
xima
do Rio daPalhoça.
Dinho desce da "Ais deOuro",
procurao melhor lugar para deixar a
âncora,
enquanto
RoselieFátima tirambalaios e
baldes,
descem n'á gua e começam o trabalho porque "a maré tá baixa épreciso aproveitar,
dizRo�e
li. Elas não têm rodo: inclinam ocorpo até ficaremcom o nariz muito
próximo
d'á gua,mergulham
as mãos etrazem àtonaalamae o
ber-.big�oi
sacodem
asmãos paralava- o e Jogam no balde.
Uma
semanainteira
de
cata
pode
render
180
Kg
de marisco
Voltama
mergulhar
as mãosea remexer na
lama, repetem
os mesmosgestos
muitas emuitasvezes,baixamelevan
tamocorpo,eé porissoque
a
Roseli
já
estácom acoluna cheia dedesvios,
andam deumlado para o outro,
pisan
do firme na lama à procura
de
malhas
deberbigão,
levantamocorpo paratorcerablu
sa
molhada,
e tornam a securvar,vêemorostorefletido
na
água
escura, sentem umcheiro
podre,
queéessecheiro de lama
remexida,
essecheiro da lama dos mangues,
porque
"pobre
é assim mesmo, e se eu nascer
pobre
napróxima
encarnação
eu memato",
reclamaRoseli,
eFá tima: "acho queamarétásubindo,
nãotá, Dinho?",
eDinho afastado
delas,
levantaacabeça,
"tácomeçando
ovento
sul,
e são só nove horas",
e ele volta a ficar emsilêncio e a enterrar o rodo
na
lama,
"assimÓ,
afunda osdentes do
rodo,
vaipuxando
devagarinho
comalgumas
sacudidelas,
levanta ebalança
orodo para lavaroberbigão
epronto,
é sójogar
no balaio".
Dinho,
37 anos, é umdos
poucos homens da Ponte do Imaruíquevive exclusivamente da
pesca
doberbigão,
eestáhánove anosnestaluta
na
lama,
diabo de homemforte,
dizemdele,
quejá
tirou180
quilos
deberbigão
emuma semana, que
quando
amaré está boa volta do mar com40
quilos
em umsódia,
essehomemde olharesorriso
debochados, pele
curtida pelosolebarba.Iarta queescon
de ascicatrizes dorosto edo
queixo provocadas
por umacidentenofim doanopassa
do,
quando
ahélice domotorda "Ais de Ouro" enrolouna
manga desua
camisa,
"pobre
Dinho,
quaseperdeu
obraço
ou o pescoço, lamenta Rose
li.
Como boa
parte
daqueles
É precisocurvar-separaremexer alama...
... antesdebaixaropesado rodo...
...e ver oresultado da pesca
quetiram
berbigão
naPonte doImaruí,
Dinho vende oproduto
para SeuJorge,
essehomem que compra o berbi
gão
a 200 cruzeiros oquilo
para revender lá na feira de São Paulo a mil ou 1500.
e
quando
aumentaopreço ésó em20ou30 cruzeiros. Desde queaAssociação
das Mulhe res doBerbigão
-que tinha
como
principal objetivo
conseguir
bons preços paraoproduto - se desmantelou há
mais de um ano porque as
próprias
mulheres foram sedesinteressando,
que não setemumbom
comprador
para oberbigão.
O melhornegó
cio,
então,
é vender avulso por 300 cruzeirosoquilo,
co mofaz DonaMa�rina
-que
vende
.
p�ra
uma
peixaria
deForquilhinhas
ouem suapró
pna casa - ou como Roseli
eFátima que
entregam
cercade 12
quilos
porsemanaparaumamulherde
Campinas
quefaz
salgadinhos
para bar. Com 300 cruzeiros Roseli comprá meioquilo
depó
de café. Elae Fátimaaindaaju
dam Cida(mulher
do Dinho),
a descascar oberbigão
queo maridotraz domar, e
recebem 50 cruzeiros por
qui
lo deberbigão
descascado. Paraalguém
comoFátima,
que descasca 10
quilos
porvez, são500 cruzeiros a mais
em sua renda de mulher do
berbigão.
Descascando berbigão
durante uma semanaela faz 2mil cruzeirosepaga
MAIO 91 ZERO
7
!
umadas váriasprestações
da� colcha que comprou de um
� vendedor ambulante.
Depois
de tirar pouco mais de meio balaio deberbigão,
Roseli e Fátima param parafazerolanche:um
pão
de tri gocommargarina
e umcigar
ro para rebater. "Não quer umpão,
Dinho?".não,
elenão
quer nada,
só umgole
da
água
que trouxe consigo,e volta ao trabalho
já
comágua
pela
cintura,
pois
o ventosui
chega devagar,
"amaré tásubindo",
dizRoseli,
sentada no fundo da
beleeira,
eCotação
do
berbigão
é baixa:
entre
Cr$
50
e
Cr$
300
oquilo
Fátima: "até parece praga de
urubu",
eRoseli: "écoisa doNegão",
lembrando o que onegro tatuado tinha
previsto,
e
Dinho,
vocês desanimammuito
rápido,
nãopode
serassim, porque o Dinho não é
assim,
não,
continua cavucando na
lama,
resignado,
pois
essaé suaúnica fonte derenda,
e deladependem
quatro
filhos,
ealém do mais elegosta
de tirarberbigão,
fazce�ca
d�
89
milcruzeiros
pormes e '
nao precIso receber
ordens
deninguém,
trabalho pramimmesmo".Sentadasnofundo da "Ais
de
Ouro",
Roseli e Fátima olham desanimadas o poucoberbigão
que pegaram, "issoaí não dá nem dois
quilos",
diz
Roseli,
e Fátima sonhadora,
"ah! um radinho depi
lha praescutarumamúsica"
epinho
debochado,
"dapró:
xtma vez voutrazerumatele
visão pra
vocês",
enquanto
colocana baleeira os setesa cosde
berbigão
que pegou-cercade 20
quilos
-porque
são 10 e
meia,
a maré subiumuito,
as ondas estão fortese assim é
impossível
continuar otrabalho.
Nocaminho de
volta,
silên cio. Dinho conduz obarco,
fuma um cigarro, olha para
frente;
Roseli, cabeça
baixa,
olha para as unhas do
pé
amareladas de tanto
pisar
nà
lama,
e Fátima olha para o mar eparaacunhadaeritriste. A "Ais de Ouro" segue
adiante
furandoasondas. Nachegada,
Dinhoamarraabaleeira a umaestaca e ostrês
começama
descarregar
obarco. Roseli e Fátima seguem
para casa encontram o Ne
gão
queoiha
comdesdém
para o balaio de
berbigão
e rigozador,
"eu não disse queo vento sul tava
chegando?,
agora só
daqui
atrêsdias,
que éotempo
queovento suileva parapassar".
Terezinha Si/tia
Debate
quente
dia 7
"Denuncie todos os
tipos
deviolência e defenda seus direi
tos"
pede
o Fórum PermanenteContra a Violência e a
Impuni
dadeno
Campo
eCidade. Apri
meira atividade do Fórum seráumdebatedia 7de
junho
naFe cesc, com Helio Bicudo-que discutirá a violência urbana e
questionará
a pena de morte.Frei
Sérgio,
tambémfalará,
sobreoincidente da praça da Ma
trizemPorto
Alegre,
anopassado,
quando
trabalhadores semterra foram
espancados
pela
polícia militar. Juntocom odebate
será
lançado
o livro Vidas emRisco, dossiê sobre a
situação
dos meninos
(as)
derua e oextermínio de
crianças
nopaís.
O Fórum foi
criado,
em Florianópolis,
no dia 22 de abril. Temaintenção
desersupra-partidário e reúne desde represen
tantesda Pastoral
Universitária,
Movimento dos Meninos e Me ninas de
Rua,
movimento das MulheresNegras,
até o Nuca,Núcleo Castor de estudos exis tencialistas. Estãosendo criados fóruns semelhantesemváriasci
dades,
nopaís
para defender osdireitos daspessoas que sofram
algum
tipo
deagressão,
EmSantaCatannaaimciativa foi do de
putado
Vilson Santim(PT).
O Fórumnãovai se limitara denunciar casos de violência também fazemparte
das ativida desprogramadas
amobilização
emapoio
de quem estiver sendoagredido,
incluindo defesajurí
dica,
praticada
emparte
por advogados
da OAB.Set
internacional
o
professor
João Brito de Almeida,
coordenador do Curso de Jornalismo daFamecos,
dePorto
Alegre,
avisa queaquartaedição
doSet Universitárioassumedimensão internacional.
É
quea
partir
deste ano, além dos 12cursosde
comunicação
daregião
Sul,
entram nacompetição
representantes de universidades
argentinas,
chilenaseuruguaias,
oquecertamenteelevaráa
quali
dade do festival de laboratorios. Com mais
fôlego,
oeventomarcado para
realização
entre 8 e10 Go:! outubro convida desde agoranãosó alunos
(para
inscreverem seus
trabalhos)
como todos
professores
daárea, paraostrabalhos de extensão
previstos
na
programação.
As novidadessão
con�e9..üêncja
direta
doprê
mio