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Monografia do Curso de Graduação em História de Maria Cristina Nunes da Universidade Estácio de Sá

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Academic year: 2021

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(Monografia do Curso de Graduação em História de Maria Cristina Nunes da Universidade Estácio de Sá (UNESA))

O que é História? A busca de uma identidade.

Eric J. Hobsbawm, na introdução do seu livro “A Era dos Impérios 1875-1914”, dirigindo-se aos seus leitores afirma:

“O que tentei fazer neste volume, bem como nos dois que o precederam (A Era das Revoluções 1789-1848 e A Era do Capital 1848-1875), foi entender e explicar o século XIX e seu lugar na história, entender e explicar um mundo em processo de transformação revolucionária, localizar as raízes de nosso presente no solo do passado e, talvez sobretudo, ver o passado como um todo coerente e não (como a especialização histórica tantas vezes nos força a vê-lo) como uma montagem de tópicos isolados: a história de diferentes Estados, da política, da economia, da cultura ou outros. Desde que comecei a me interessar por história, sempre quis saber como se articulam todos esses aspectos da vida passada (ou presente) e por quê.” (1)

Como historiador de concepção marxista procura Hobsbawn em suas pesquisas dialogar permanentemente com a antropologia, a economia e a ciência política, entre outras ciências humanas. Foi membro do grupo de historiadores marxistas britânicos, como Christopher Hill, Rodney Hilton e Edward Palmer Thompson que, nos anos 60, diante do desapontamento com o estalinismo, buscaram perceber a história da organização das classes populares em termos de suas lutas e ideologias, por meio da chamada "História Social".

Considerado um dos historiadores atuais mais importantes, Hobsbawm, ao discorrer sobre a historiografia marxista informa que:

“Por um lado, esse movimento questionava a idéia positivista segundo a qual a estrutura objetiva da realidade era, por assim dizer, evidente: bastava com aplicar a metodologia da ciência, explicar por que as coisas tinham ocorrido de tal ou qual maneira e descobrir wie es eigentlich gewessen (como ocorreu realmente). Para todos os historiadores, a historiografia se manteve e se mantém enraizada em uma realidade objetiva, ou seja, a realidade do que ocorreu no passado; contudo, não está baseada em fatos e, sim, em problemas, e exige investigação para compreender como e por que esses problemas - paradigmas e conceitos - são formulados da

(2)

maneira em que são o em tradições históricas e em meios socioculturais diferentes.” (2)

No “outro lado da moeda”, construía-se uma aproximação com as ciências sociais da história procurando juntar estas em uma disciplina geral, que pudesse elucidar as transformações da sociedade humana, pois o objeto da história, “segundo a

expressão de Lawrence Stone, (...) deveria ser “propor as grandes perguntas do porquê”. (3)

Argüir neste princípio de capítulo, utilizando dos pensamentos de Eric J. Hobsbawm, permite-me destacar conceitos: “transformação, entender e explicar, investigação, localizar as raízes”, por onde a proposta do estudo histórico deste trabalho circula livremente, conforme veremos.

A palavra etimologia, etymology em inglês, vem do grego étumos (real, verdadeiro) + logos (estudo, descrição, relato) e expressa hoje o estudo científico da origem e da história das palavras. Apreciar o progresso da acepção de uma palavra desde sua origem, significa descobrir seu verdadeiro sentido e conhecê-la completamente.

O termo história – tendo como elemento de composição o antepositivo histori, do grego historía,(as), significa: pesquisa, informação, relato, história. Pesquisando em dicionários da língua portuguesa encontramos algumas definições interessantes, entre outras “menos votadas”:

1 conjunto de conhecimentos relativos ao passado da humanidade, segundo o

lugar, a época, o ponto de vista escolhido;

2 ciência que estuda eventos passados com referência a um povo, país, período

ou indivíduo específico;

3 a evolução da humanidade ao longo de seu passado e presente; seqüência de acontecimentos e fatos a ela correlatos;

4 Derivação: por metonímia: compêndio histórico que trata desses fatos e

eventos;

5 Derivação: por extensão de sentido: o julgamento da posteridade; a memória

dos homens.

Empregada na nossa língua com sentidos que antes de se parecerem ambíguos, conforme entende a autora Vavy Pacheco Borges (4), se completam, pois ao mesmo

2 Idem, 1.

3 Idem, 1.

(3)

tempo em que se entende pelos fatos ou acontecimentos do passado, esse termo também é empregado como o estudo desses acontecimentos.

Esta relação assim se apresenta porque o “instrumento” para a pesquisa perde o seu valor ou utilidade, sem o “objeto” a ser pesquisado.

São estes “objetos” - a História como fatos ou acontecimentos do passado, que são resultados das transformações sociais nas diversas civilizações, ocorridas em tempos pretéritos, que estão intimamente ligados às construções e desconstruções humanas, tendo o “instrumento”, a história no estudo destas, a “função (...) de fornecer

à sociedade uma explicação sobre ela mesma (...)”, entendendo o tempo como “a dimensão da análise da História.” (5)

Na seqüência de suas reflexões a autora do livro “O que é História?”, apresenta algumas afirmativas que ao reproduzi-las nesta, conforme segue, permite-me trabalhar com uma abordagem de significações, utilizado-as para reafirmar um conceito não aceito por todos os historiadores, de que a história, tem a capacidade de ajudar-nos a compreender o mundo.

“(...) As alterações são decorrente da ação dos próprios homens, sujeitos e agentes da história.” (...) Sua finalidade é estudar e analisar o que realmente aconteceu e acontece com os homens, o que com eles se passa concretamente.” (...) Explicar as transformações sociais esclarecendo seus comos e porquês leva a perceber que a situação de hoje é diferente da de ontem” (...) “O homem vive em um determinado período de tempo, em um espaço físico concreto; nesse tempo e nesse lugar ele age sempre, em relação à natureza, aos outros homens, etc.” (...) “Mesmo quando se analisa um passado que nos parece remoto, portanto, seu estudo é feito com indagações, com perguntas que nos interessam hoje, para avaliar a significação desse passado e sua relação conosco.” - Vavy Pacheco Borges (6)

A enciclopédia colaborativa Wikipédia expõe: “a História é o estudo da ação

humana ao longo do tempo” por meio da avaliação de processos e de eventos ocorridos

no passado.

Considerando a temática central do estudo constitutivo da minha monografia – Fotografia e História, entendo que o olhar que dirigimos ao fragmento histórico que registra ou onde se insere as transformações arquitetônicas do espaço físico urbano de uma cidade, atenta-se para a comparação que os registros fotográficos de ontem,

5 Idem, 4.

(4)

permitem com a realidade atual, atestando nesse processo, que houve a inegável e intensa participação humana.

É a ação do homem, objeto de estudo pelo próprio homem, que cria “marcas”, registros, memória, documentos e monumentos, que ao serem resgatados, são cicatrizes que falam, mesmo que não em toda a sua possibilidade e intensidade, tornando-se as fontes do trabalho investigativo do historiador, que deve buscar se aproximar ao máximo da verdade; até porque, apesar da afirmativa do imperador francês Napoleão Bonaparte de que “a História é um conjunto de mentiras sobre as quais se chegou a um

acordo”, o historiador, não tem como alcançar a verdade plena, por não tocar o fato,

mas deve este caçar a verdade, negar as mentiras oficiais ou não, arriscar aproximações. Atualmente, vencida em parte a historiografia positivista onde vale o documento, entendido este como texto oficial, escrito pelos vencedores, uma história metódica e factual, centrada no estudo de "grandes eventos históricos" e "grandes personalidades"; o extenso conjunto de mudanças na natureza do discurso histórico, culminou com uma historiografia pós-moderna, que ao deixar de lado suas funções fundadoras e celebrativas, núncio de rupturas ou revoluções historiográficas, permitiu se apropriar de diversas metodologias e abordagens.

Assim, trata-se a escrita da história como um fenômeno complexo que só pode ser estudado no entroncamento de várias especialidades: história social, história das idéias e dos conceitos, a história dos discursos e linguagens, história das ciências e instituições de saber, história cultural, entre outras; o que Hobsbawn define como o “antiuniversalismo”.

Este termo apresenta uma crítica do autor ao estado fragmentar das teorias históricas que vem levando muitos historiadores e pseudos-historiadores a apresentarem-se confusos em meio a um furacão de paradigmas e, muitas vezes, construindo histórias completamente desvinculadas dos problemas do presente, banalizando mesmo algumas pesquisas.

Mas se apropriar de diversas metodologias e abordagens não pode ser entendido somente como um contratempo ou uma alteração da História, afinal, a contribuição da interdisciplinaridade já havia sido citado pelos historiadores da Escola dos Annales e a preocupação com os aspectos culturais, instigada pela Antropologia, permitiu uma nova apreensão da história, caminhando para um pós práticas sociais, apresentando novos horizontes de pesquisas e indagações.

(5)

É importante observar que historiadores como Marc Bloch e Lucien Febvre da Escola dos Annales sugeriram esta variação de temas já em 1920, mas voltados para as "pessoas comuns" e minimizando a importância de "marcos políticos" para a escrita da História. Esse foi o primeiro passo que culminou com a diversificação do uso de fontes, englobando também a iconografia, a literatura e trabalhos artísticos.

Nos últimos tempos, a historiografia prima por reformulações e questionamentos, em um procedimento de rupturas e adequações frente a sua realidade e a interdisciplinaridade com outras ciências, de abordagens humanas e sociais. “A

falência dos modelos analíticos como o Marxismo e o Estruturalismo e a ascensão da Nouvelle Histoire estimularam o aparecimento de múltiplas abordagens, métodos e alianças interdisciplinares que pareceram, para alguns, o esfacelamento da História”,

conforme escreve Dosse (7), e até mesmo seu limiar como uma configuração de conhecimento específico.

Elias Saliba afirma que:

"(...) nos encontramos meio 'embasbacados' diante do concreto, em estado de empatia constante com a singularidade. Este mundo do imprevisível parece-nos preferível do que nos alojar num sistema ordenado de fixação e explicação do real, num 'ismo' qualquer, numa teoria. Como Tântalos, procuramos uma armação teórica, mas temos medo dela, porque adivinhamos a desilusão posterior e a espécie de sofrimento psicológico daí decorrente - o que só aumenta o clima de desencanto e inutilidade de esforço" (8)

Apesar dos méritos da “Nova Escola” e na dianteira do tempo, da “História Cultural” e da “Micro-história”, vive-se um momento da história como ciência, de busca de uma identificação, ou melhor, de perceber quais as que atendem ao momento histórico de nossas civilizações. Por isso que Hobsbawn praticamente conclama aos historiadores:

“É tempo de restabelecer a coalizão daqueles que desejam ver na história uma pesquisa racional sobre o curso das transformações humanas, contra aqueles que a deformam sistematicamente com fins políticos e simultaneamente, de modo mais geral, contra os relativistas e os pós-modernos que se recusam a admitir que a história oferece essa possibilidade.” (9)

7 Dosse, F., A História em Migalhas. São Paulo: Ed. Unicamp, 1989.

8 Saliba, EliasThomé. Mentalidades ou história sociocultural; a busca de um eixo teórico para o conhecimento histórico. In: Revista Margem. Nº1. São Paulo: EDUC, 1992, p.30.

(6)

É a defesa da capacidade, ou do retorno a esta, da história de ser objetiva na ajuda ao homem para que compreenda os caminhos utilizados pelos homens para chegar ao presente e como arremeter-se para um futuro melhor, retomando o que existe de melhor na historiografia marxista.

Como foram citadas, é preciso entender um pouco a participação da História Cultural e da Micro-história neste momento da história contemporânea.

A História Cultural surge como uma proposta de leitura da história que recusa fundamentalmente a exclusão do sujeito da história, desistindo dos modelos estruturalistas que não apreciam as vivências dos próprios atores históricos, demandados como sujeitos de suas ações. Assim, abandona as contradições entre coletivo e individual e entre quantitativo e qualitativo, utilizando-se de ambos os termos...

“...mas que, em função da reação que representa, inova ao postular a dignidade teórica do individual e a fecundidade metodológica do qualitativo. Por repensar modelos macro-históricos e por considerar a experiência dos homens em seu tempo e lugar como crucial para o entendimento dos processos sociais, essa história cultural floresceu em grande parte associada a uma mudança na escala de trabalho do historiador, vale dizer, associada à micro-história.” - Angela de Castro Gomes (10)

Definida por Giovanni Levi, um dos pioneiros da Micro-História, “como uma

tentativa de ver o que havia por debaixo de falsas classificações (a forma como a

historiografia de esquerda descrevia a sociedade), como a suposta solidariedade

automática da classe operária... ler a sociedade para além dos esquematismos que se usavam. Assim nasceu a micro-história.” (11)

Respondendo como a micro-história se formaliza na prática, afirma Giovanni Levi:

“Dado um episódio, um lugar, um documento, devemos aplicar nele uma redução de escala. A micro-história é uma prática que implica o rompimento de hábitos generalizantes. Não buscamos a generalização das respostas, e sim das perguntas: quais são as perguntas que podemos criar e aplicar também a situações totalmente diferentes? Sendo bem sintético: estamos interessados na pergunta geral que emerge de uma situação local.” (12)

10 Gomes, Ângela de Castro, Nas malhas do feitiço: o historiador e os encantos dos arquivos privados. Extraído: http://virtualbib.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/viewFile/2069/1208

11 Levi, Giovanni, O microscópio infinito. Entrevista a Revista de História da Biblioteca Nacional. 12 Idem, 11.

(7)

Assim testemunhamos o abalar das “certezas” nas abordagens históricas do século XX, observando os historiadores a repararem a ação dos indivíduos na construção dos laços sociais.

“Daí resultaram vários deslocamentos fundamentais: das estruturas para as redes, dos sistemas de posições para as situações vividas, das normas coletivas para as estratégias singulares. A "micro-história", (...) foi a tradução mais viva dessa transformação da abordagem histórica baseada no recurso a modelos interacionistas ou etnometodológicos. Radicalmente diferente da monografia tradicional, a microstoria pretende construir, a partir de uma situação particular, normal porque excepcional, a maneira como os indivíduos produzem o mundo social, por meio de suas alianças e seus confrontos, através das dependências que os ligam ou dos conflitos que os opõem. O objeto da história, portanto, não são, ou não são mais, as estruturas e os mecanismos que regulam, fora de qualquer controle subjetivo, as relações sociais, e sim as racionalidades e as estratégias acionadas pelas comunidades, as parentelas, as famílias, os indivíduos.” - Roger Chartier (13)

Para os historiadores que entendem ser efetivo a inclusão da história às ciências sociais, incluindo-me nesta prerrogativa, “o objeto basilar de uma história cujo projeto

é reconhecer a maneira como os atores sociais investem de sentido suas práticas e seus discursos parecem-me residir na tensão entre as capacidades inventivas dos indivíduos ou das comunidades e os constrangimentos, as normas, as convenções que limitam - mais ou menos fortemente, dependendo de sua posição nas relações de dominação - o que lhes é possível pensar, enunciar e fazer;” encerra Roger Chartier o seu discurso e

eu este capítulo, relacionando que Michel de Certeau convida-nos a ponderar no específico da compreensão histórica.

“Em que condições se podem considerar coerentes, plausíveis, explicativas, as relações instituídas entre os índices, as séries e os enunciados que a operação historiográfica constrói, e, de outro lado, a realidade referencial que eles pretendem representar adequadamente? A resposta não é fácil, mas é certo que o historiador tem por tarefa oferecer um conhecimento apropriado, controlado, sobre a "população de mortos-personagens, mentalidades, preços" que são seu objeto. Abandonar essa intenção de verdade, talvez desmesurada, mas certamente fundadora, seria deixar o campo livre a todas as falsificações, a todas as falsidades que, por traírem o conhecimento, ferem a memória. No exercício de seu ofício, cabe aos historiadores serem vigilantes.” (14)

13 Chartier, Roger, “A História hoje: dúvidas, desafios, propostas.” 1994. 14 Idem, 14.

Referências

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