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Rede de profissionais em saneamento ambiental

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo

JAQUELINE APARECIDA DA ROCHA

REDE DE PROFISSIONAIS EM SANEAMENTO

AMBIENTAL

CAMPINAS 2016

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REDE DE PROFISSIONAIS EM SANEAMENTO

AMBIENTAL

Dissertação de Mestrado apresentada a Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, para obtenção do título de Mestra em Engenharia Civil, na área de concentração Saneamento e Ambiente.

Orientadora: Prof(a). Dr(a). Emília Wanda Rutkowski

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA JAQUELINE APARECIDA DA ROCHA E ORIENTADA PELA PROF(A). DR(A). EMÍLIA WANDA RUTKOWSKI.

ASSINATURA DA ORIENTADORA

_____________________________________

CAMPINAS 2016

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Ficha catalográfica

Universidade Estadual de Campinas Biblioteca da Área de Engenharia e Arquitetura

Luciana Pietrosanto Milla - CRB 8/8129

Rocha, Jaqueline Aparecida da,

R582r RocRede de profissionais em saneamento ambiental / Jaqueline Aparecida da Rocha. – Campinas, SP : [s.n.], 2016.

RocOrientador: Emília Wanda Rutkowski.

RocDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo.

Roc1. Saneamento ambiental. 2. Associações profissionais. 3. Desenvolvimento profissional. 4. Redes sociais. I. Rutkowski, Emília Wanda,1955-. II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Network of professionals in environmental sanitation Palavras-chave em inglês:

Environmental sanitation Professional associations Professional development Social networks

Área de concentração: Saneamento e Ambiente Titulação: Mestra em Engenharia Civil

Banca examinadora:

Emília Wanda Rutkowski [Orientador] Claudia Coutinho Nóbrega

Carlos Gomes da Nave Mendes Data de defesa: 02-12-2016

Programa de Pós-Graduação: Engenharia Civil

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REDE DE PROFISSIONAIS EM SANEAMENTO AMBIENTAL

Jaqueline Aparecida da Rocha

Dissertação de Mestrado aprovada pela Banca Examinadora, constituída por:

Prof(a). Dr(a). Emília Wanda Rutkowski Presidente e Orientadora/ UNICAMP

Prof(a). Dr(a). Claudia Coutinho Nóbrega UFPB

Prof. Dr. Carlos Gomes da Nave Mendes UNICAMP

A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.

Campinas, 02 de dezembro de 2016.

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Às boas energias que regem o universo e a minha vida, agradeço por me levarem à querida orientadora, Prof.ª Emília, cujo encontro e todo aprendizado a partir dele alteraram sobremaneira os rumos da minha trajetória. Aos membros da minha banca de qualificação, Prof.ª Ana Eliza e Prof. Carlos Gomes, agradeço pelas novas e relevantes perspectivas que suas contribuições trouxeram à minha pesquisa.

À Sabesp, agradeço pela concessão de subsídio para este programa de Pós-Graduação. Aos meus gestores durante esse período, Glória Rosseti, Teka Miyata, Ivan Sobral, Ullisses Andrade, Mauro Nalesso e Wantuil Peres, agradeço pela compreensão e apoio que tornaram possível conciliar trabalho e estudos. Aos colegas de empresa e de mestrado, Sílvia Verhnjak e Jorge Matos, agradeço pela amizade e solidariedade também neste desafio.

Aos colegas da ABES, especialmente ao Dante Ragazzi Pauli, agradeço pelo incentivo e apoio as minhas atividades junto a essa associação profissional, entre elas a coordenação do Programa JPS, parte deste trabalho. À coordenadora do Programa YWP, Kirsten de Vette, agradeço pela colaboração durante a coordenação do JPS e, principalmente, pelo material sobre redes, cujo conteúdo revelou caminhos que me ajudaram a chegar até aqui.

Aos colegas e professores do Fluxus e aos funcionários da UNICAMP/FEC, agradeço pela receptividade e atenção. Aos demais professores, agradeço pela contribuição ao meu aprendizado.

Às amigas Alessandra, Ana Flavia, Cleide Elena, Maria Helena e Rita, agradeço pela amizade e incentivo. Às queridas Andrea (tia) e Sueli, agradeço pela leitura atenciosa e pelas dicas a partir da sua área de atuação. Ao meu pai José Flávio, agradeço por me inspirar a buscar a realização dos meus sonhos. A minha mãe Ederli, agradeço pelas orações para que tudo corra bem. Aos meus irmãos, Danilo e Daniel (in memoriam), reflexos do caráter e bondade de nossos pais, agradeço pelo amor incondicional por mim, o qual sempre me emociona e fortalece. Às minhas sobrinhas, Isadora e Daniella, agradeço pela dádiva de ser sua tia.

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“Os deuses criam-nos muitas surpresas: o esperado não se cumpre, e ao inesperado um deus abre o caminho.” [Eurípedes]

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profissionais, é marcado pela necessidade de aquisição de conhecimentos específicos. As associações profissionais, reconhecidas pela sua contribuição ao aperfeiçoamento profissional por meio de cursos e congressos ou publicações técnico-científicas, são o caminho mais utilizado na busca desses conhecimentos. Os profissionais necessitam de conhecimentos específicos para aplicá-los no desenvolvimento de suas atividades, a fim de ampliar sua competência profissional. Esses conhecimentos não são apenas aqueles na forma explícita, disponíveis em livros e normas técnicas, mas principalmente aqueles na forma tácita, relacionados ao saber fazer, condutas e valores. O compartilhamento do conhecimento tácito está intimamente ligado à interação num espaço de socialização. As redes sociais podem impulsionar esse processo interativo. O objetivo do presente trabalho foi discutir a organização das associações profissionais como uma rede de profissionais. A pesquisa foi planejada como descritivo-exploratória e o procedimento metodológico foi a análise do material obtido por meio de pesquisa bibliográfica. Os resultados encontrados permitiram concluir que as potencialidades e as fragilidades encontradas nas redes analisadas são similares. Entre as fragilidades, está a pouca interação entre os participantes dessas redes e os profissionais experientes. Entre as potencialidades, está o âmbito geográfico das associações profissionais. Recomenda-se que as associações profissionais envolvam os profissionais seniores nos fóruns de discussão para estudantes e jovens profissionais e promovam a participação desses jovens nas suas atividades, coordenadas pelos profissionais seniores, a fim de aumentar a interação entre os jovens e os seniores. Recomenda-se também que as associações profissionais utilizem sua capilaridade para expandir suas redes.

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marked by the necessity to acquire specific knowledge. Professional associations, recognized for their contribution to professional development through courses and congresses or technical-scientific publications, are the most used path in the search for this knowledge. Professionals need specific knowledge to apply them in the development of their activities, in order to broaden their professional competence. This knowledge is not just that in explicitly form, available in technical books and standards, but especially those in tacit form, related to the know-how, behaviors and values. The sharing of tacit knowledge is closely linked to interaction in a space of socialization. Social networks can boost this interactive process. The objective of this work was to discuss the organization of professional associations as a network of professionals. The research was planned as descriptive-exploratory and the methodological procedure was the analysis of the material obtained through bibliographic research. The results showed that the potentialities and fragilities found in the analyzed networks are similar. Among the weaknesses, there is little interaction between the participants of these networks and the experienced professionals. Among the potentialities is the geographical scope of professional associations. It is recommended that professional associations involve senior professionals in the discussion forums for students and young professionals and promote the participation of these young people in their activities, coordinated by senior professionals in order to increase the interaction between the young people and the senior professionals. It is also recommended that professional associations use their capillarity to expand their networks.

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Figura 1 – Redes randômicas e redes sem escala ... 36 Figura 2 – Modos de conversão do conhecimento ... 41

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Tabela 1 – Organização das associações no setor de água... 28

Tabela 2 – Tipos de conhecimento ... 40

Tabela 3 – Plano de trabalho para implantação do Programa JPS. ... 45

Tabela 4 – Plano de ação para manutenção do programa JPS. ... 46

Tabela 5 – Características das redes sociais. ... 49

Tabela 6 – Etapas para constituição de uma rede. ... 50

Tabela 7 – Identificação de características das redes sociais nos programas para estudantes e jovens profissionais. ... 51

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ABES – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental AESABESP – Associação dos Engenheiros da Sabesp

AIDIS – Associação Interamericana de Engenharia Sanitária

APAR-SP – Associação dos Profissionais das Agências Reguladoras do Estado de São Paulo

APU – Associação dos Profissionais Universitários da Sabesp

ARSESP – Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo

ASSEMAE – Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento [Seção Estadual]

BNH – Banco Nacional de Habitação

CNAE – Classificação Nacional de Atividades Econômicas IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IWA – International Water Association

JPS – Jovens Profissionais do Saneamento

OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público PLANASA – Plano Nacional de Saneamento

SABESP – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo YWP – Young Water Professionals

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INTRODUÇÃO ... 13

CAPÍTULO 1 – PROFISSIONAIS EM SANEAMENTO ... 17

1.1. Associações profissionais em saneamento... 24

CAPÍTULO 2– REDES SOCIAIS ... 32

RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 48

CONCLUSÃO ... 54

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INTRODUÇÃO

O saneamento é uma área multidimensional seja em função da sua intersetorialidade — interface com as políticas públicas de habitação, saúde e proteção ambiental — ou interdisciplinaridade. De acordo com Britto et al. (2012), essa multidimensionalidade exige um conjunto diversificado de profissionais para o seu desenvolvimento. Não há formação específica dos diversos grupos de profissionais levados a atuar na área de saneamento. Os profissionais necessitam de conhecimentos específicos para aplicá-los no desenvolvimento de suas atividades, visando ampliar sua competência profissional. Competência profissional diz respeito à mobilização de conhecimentos, habilidades e atitudes para a ação (saber, saber fazer e querer fazer). Portanto, esses conhecimentos não são apenas aqueles na forma explícita, disponível em livros e normas técnicas, por exemplo, mas principalmente aqueles na forma tácita, relacionados a experiências, condutas e valores. O conhecimento tácito traz um novo significado ao explorar as diferentes perspectivas pessoais por meio da partilha de conhecimentos e experiências num ambiente multidimensional, pois as pessoas nesse ambiente sabem coisas de forma diferente, o que aumenta a gama de informações disponíveis (NONAKA E TAKEUCHI, 1997; SCHÖNSTRÖN, 2005). Outro aspecto importante da dimensão tácita do conhecimento diz respeito ao fato de que a aprendizagem tem a ver não só com a aprender sobre algo teoricamente, mas também com o aprender a agir e essa dimensão pode contribuir nesse sentido (DENNING, 2002). No entanto, o conhecimento tácito, por ser arraigado em ideias, crenças e valores adquiridos por meio de experiências individuais, não é facilmente formalizado e comunicado, devido à complexidade da sua tradução para a linguagem formal e sistemática (NONAKA e TAKEUCHI, 1997). O compartilhamento do conhecimento tácito está intimamente ligado à interação num espaço de socialização. Essa interação ocorre por meio de um processo dialético que considera a perspectiva do indivíduo com relação ao ambiente e a perspectiva de outras pessoas nesse ambiente (VIGOTSKY, 2007). Nesta perspectiva, o aprendizado é considerado um processo social em que um indivíduo pode partilhar seu conhecimento e fazer com que as capacidades de outros indivíduos sejam

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aprimoradas socialmente, ao mesmo tempo em que pode aprimorar suas próprias capacidades (VIGOTSKY, 2007).

Assim como qualquer outro segmento do mercado de trabalho, a área de saneamento necessita de profissionais especializados. A necessidade de aquisição de conhecimentos específicos que, para a maioria dos profissionais, marca o início da sua trajetória nessa área, embora possa parecer mais relacionada àquelas profissões voltadas às atividades fim (concepção, projeto, operação e manutenção dos sistemas), também ocorre para as atividades meio, como as atividades de áreas de apoio — comercial, financeiro e recursos humanos. As associações profissionais, reconhecidas pela sua contribuição ao aperfeiçoamento profissional, são o caminho mais utilizado pelos profissionais na busca por esses conhecimentos específicos. Essa contribuição normalmente ocorre por meio de cursos e congressos ou publicações técnico-científicas. Nessas instituições, há uma preocupação também com a qualificação dos jovens profissionais. A Associação Internacional da Água [IWA], que pode ser considerada referência global para os profissionais da água, por estar à frente das demais associações nesse setor quanto à pesquisa, tecnologia e prática em todos os temas relacionados à água, reconhecendo o desafio de recrutamento de novos profissionais, propôs uma rede para jovens profissionais, o Programa Young Water Professionals [YWP], com o objetivo de tornar o setor da água atraente para jovens, bem como fornecer subsídios para o desenvolvimento de sua carreira profissional (REITER, 2008; IWA, 2013). O programa teve início em 2002, na “Conferência de Jovens Pesquisadores” organizada no Reino Unido. Nesse evento, jovens profissionais puderam divulgar o seu trabalho. Desde então, o programa YWP/IWA busca capacitar as próximas gerações de jovens profissionais da água por meio de uma comunidade que reúne estudantes e profissionais, das ciências sociais às naturais, com idade de até 35 anos (IWA, 2013). A abordagem adotada para o programa YWP, além de ao aproximar os jovens profissionais, aproxima também os demais membros da associação, uma interação atinge toda associação e, dessa forma, torna o programa necessário não apenas ao crescimento individual como à manutenção e desenvolvimento da associação (IWA, 2013). A Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental [ABES] instituiu nos moldes dessa iniciativa IWA, o Programa Jovens Profissionais do Saneamento [JPS] (ABES, 2010a). O programa foi proposto para criar uma rede entre jovens profissionais brasileiros atuantes no setor saneamento, a fim de apoiar o desenvolvimento de sua carreira e, ao mesmo tempo, obter seu

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engajamento com a associação (ABES, 2010a). A estratégia adotada também foi a interação entre os profissionais jovens e os profissionais experientes, encontrados na direção e fóruns de discussão da entidade, para intercâmbio de informações (ABES, 2010a). O programa idealizado em âmbito nacional foi divulgado para as seções estaduais, com visão, missão e objetivos estratégicos definidos, e coube às seções estaduais selecionar os itens estratégicos que seriam implementados na sua região (ROCHA e RUTKOWSKI, 2013).

As redes sociais, reconhecidas pela capacidade de construção de relacionamentos e compromissos por meio de diálogos pessoais, importantes à interação, podem impulsionar o processo interativo natural nos ambientes de trabalho (SCHÖNSTRÖN, 2005; EGGER, 2005). Uma rede social, criada a partir de indivíduos, por exemplo, na posição de profissional de saneamento, diferencia-se de redes como as acadêmicas, criadas a partir de determinados temas, como tratamento de água, reciclagem ou saneamento rural, cuja ênfase está no avanço em torno do tema correspondente, não está no desenvolvimento pessoal dos indivíduos que a compõem.

O objetivo do presente trabalho é discutir a organização das associações profissionais em saneamento como uma rede de profissionais. Para essa discussão, foi adotada como exemplo a proposta de rede de jovens profissionais da ABES, o Programa JPS, em comparação ao programa YWP/IWA. Cabe esclarecer que foi analisada a proposta do programa JPS de acordo com a sua concepção e que atualmente há outras propostas para esse programa. Os objetivos específicos são: apresentar os conceitos de profissional e de associação profissional; apontar os aspectos da partilha de conhecimentos tácitos; e analisar as potencialidades e fragilidades das redes.

A pesquisa foi planejada como descritivo-exploratória utilizando como procedimento metodológico a análise do material obtido por meio de pesquisa bibliográfica. Na investigação qualitativa, os dados são analisados de forma indutiva (BOGDAN e BIKLEN, 1994). A pesquisa bibliográfica teve como ponto de partida um conjunto de palavras chave (profissional; associação profissional; conhecimento tácito e explícito; e redes sociais). A essa revisão bibliográfica foram acrescentadas a experiência na coordenação do programa JPS e aquelas relacionadas às dificuldades encontradas no início da carreira em uma empresa de saneamento. No momento da criação do JPS/ABES, a autora deste trabalho era uma jovem profissional em saneamento que, em busca de conhecimento para ampliar sua competência profissional para atuação nessa

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área específica, encontrava-se envolvida nas atividades da ABES-SP. Nesse contexto, foi convidada a estruturar esse programa na seção paulista. Em seguida, em função dos resultados obtidos no JPS-SP paulista e do encerramento da gestão bianual na Diretoria Nacional da ABES, foi convidada para a coordenação do programa no âmbito nacional. A inclusão da trajetória pessoal justifica-se, de acordo com Santos (1987), porque “todo conhecimento cientifico é autoconhecimento” então as crenças e valores do pesquisador não estão antes nem depois da explicação científica, mas são parte integrante dessa mesma explicação.

O presente trabalho dividiu-se em dois capítulos. No Capítulo 1 – Profissionais em saneamento, são apresentados a definição para profissional e os aspectos da atuação profissional no setor saneamento. Nesse capítulo também são apresentados a definição de associações profissionais, o seu papel no desenvolvimento profissional e o contexto das associações profissionais em saneamento. No capítulo 2 – Redes Sociais são apresentados a definição de redes e sua capacidade de promover a interação, necessária à partilha do conhecimento tácito. Nesse capítulo também são apresentadas as propostas de redes de estudantes e jovens profissionais adotadas como exemplo na discussão sobre a organização das associações profissionais em saneamento como uma rede de profissionais, objetivo deste trabalho.

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CAPÍTULO 1 – PROFISSIONAIS EM SANEAMENTO

De acordo com João Freire et al. (2014), em síntese, o trabalho consiste em atividades deliberadamente concebidas pelo homem, consistindo na produção de um bem material, na prestação de um serviço ou no exercício de uma função, com vistas à obtenção de resultados que possuam simultaneamente utilidade social e valor econômico.

“Profissão” é sinônimo de “ocupação”, no entanto, os profissionais não realizam qualquer tipo de trabalho, o trabalho profissional tem caráter esotérico, complexo e arbitrário, que requer conhecimento teórico, competência e discernimento (FREIDSON, 1998). A capacidade de realizar um tipo especial de trabalho distinguem os chamados profissionais da maioria dos trabalhadores (FREIDSON, 1998). Profissional é um trabalhador cuja ocupação, para realizar uma determinada atividade, necessita de conhecimentos específicos obtidos por meio de um período relativamente longo de formação, ao contrário de outras ocupações cuja atividade pode ser exercida a partir de uma breve instrução.

A profissionalização é o processo em que uma ocupação adquire o status de profissão. As etapas desse processo, por meio de mecanismos como o controle sobre a formação e o credencialismo, conduzem as ocupações ao estatuto de profissão (RODRIGUES, 2012). Os atores envolvidos na profissionalização (instituição de ensino, associação profissional e órgão de classe) levam a ocupação a obter o domínio sobre uma determinada área do conhecimento, estabelecer os mecanismos de controle sobre a formação e definir as condições para o exercício da profissão, ao que Freidson (1998) pondera

o modo como os membros comuns constroem profissão por intermédio de suas atividades pode ser influenciado em parte pelo modo como os sociólogos constroem profissão como um conceito e pelo modo como os órgãos oficiais constroem profissão como categoria administrativa. Nesse sentido, considerando as profissões como agentes que criam e fazem avançar o conhecimento incorporado nas disciplinas e a projeção desse conhecimento na sociedade por meio de seus membros, todas as formas de trabalho produtivo precisam ser levadas em consideração, inclusive as que não constam das estatísticas oficiais do Estado (FREIDSON, 1998).

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Uma das principais características da profissionalização como forma de organização do trabalho é a autonomia dos membros de uma determinada ocupação, talvez em função da natureza do conhecimento e competências mobilizadas no exercício da atividade profissional. De acordo com Rodrigues (2012), autonomia profissional diz respeito à possibilidade de, em função do seu conhecimento especializado, os profissionais determinarem a forma e o conteúdo do seu trabalho por meio da capacidade de julgamento, decisão e ação. Segundo Freidson (1998), a autonomia sobre o conteúdo do trabalho pelos membros de uma ocupação, organizados como grupo identificável, contribui ao desenvolvimento de compromisso e identidade dos profissionais com o trabalho que realizam. O compromisso também pode estar relacionado ao período de formação dedicado a uma determinada profissão, pois ao escolher uma profissão, o indivíduo normalmente considera exercê-la durante todos os anos em que planeja permanecer ativo no trabalho. Ao contrário do modelo do mercado livre e do modelo burocrático, em que as condições de realização do trabalho são determinadas, respectivamente, pelo consumidor e pela administração, o modelo profissional estimula a qualidade do trabalho (FREIDSON, 1998). Rodrigues (2012) concorda que os métodos de controle burocrático ou com base no funcionamento do mercado têm menos a oferecer à qualidade dos serviços prestados do que os métodos de controle ocupacional típico das profissões, baseados na autonomia e na valorização permanente do conhecimento e da qualidade.

Apesar do reconhecimento dos progressos alcançados a partir dos seus princípios organizativos, as profissões ainda recebem inúmeras críticas, em especial quanto ao credencialismo. Freidson (1998) concorda que o conhecimento especializado às profissões deve ser institucionalizado de algum modo para que o profissional possa ser identificado, por meio de alguma forma de credencialismo. Para esse autor, o credencialismo também pode atestar a capacidade mínima de realizar um determinado tipo de trabalho. De acordo com Freidson (1998), o credencialismo busca a identificação legítima dos profissionais e não à seletividade e exclusividade. Dessa forma, o conhecimento especializado que caracteriza as profissões pode ser considerado uma diferença funcional e não uma fonte de desigualdade, pois esse conhecimento estaria relacionado à qualidade do trabalho a ser realizado e não à restrição do seu acesso a um determinado grupo de indivíduos (FREIDSON, 1998).

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A discussão sobre o prestígio social e o privilégio econômico das profissões foi mantida como tema dominante na avaliação do profissionalismo até as profecias sobre o declínio ou efetiva perda de status das profissões, que previam a proletarização ou a desprofissionalização. Essas profecias, em síntese, previam o fracasso do profissionalismo como modelo de organização ocupacional devido a) enfraquecimento das profissões em função do advento das tecnologias de comunicação e a possível perda do caráter “esotérico” do conhecimento especializado atribuído às profissões, por se tornar acessível a qualquer pessoa; e b) perda de autonomia na realização do trabalho devido grande parte dos profissionais passarem a trabalhar como empregados em organizações burocráticas (RODRIGUES, 2012). A tese da desprofissionalização argumentava que as profissões estariam perdendo sua posição de prestígio e respeito devido às ameaças ao monopólio das profissões, relacionadas ao avanço das tecnologias de comunicação, que permitiu que o seu conhecimento formal fosse facilmente armazenado e acessado, ou aos crescentes níveis de educação do cidadão comum, o que reduz sua propensão a considerar esse conhecimento como “esotérico”, ao passo que oferece condições para avaliar o trabalho profissional (FREIDSON, 1998). Segundo Freidson (1998), a tese da proletarização ressaltava que as circunstâncias do trabalho profissional realizado sob vínculo empregatício poderiam implicar na perda da autonomia sobre o conteúdo e a forma do seu trabalho, que caracteriza as profissões. As empresas contemporâneas mantém alguma estrutura formal da autoridade, normalmente expressa pelo modelo de burocracia (FREIDSON, 1998). O modelo burocrático de organização, apesar das críticas e da sua incapacidade de lidar com muitas características das próprias empresas, continua sendo predominante, segundo Freidson (1998), com o propósito de “alcançar um conjunto estabelecido de metas com a maior eficiência possível”. Com relação à teoria de desprofissionalização, Freidson (1998) argumenta que à medida que se deu a capacidade do consumidor médio para avaliar informações técnicas especializadas, o conhecimento e competência técnica dos profissionais continuaram a se expandir. Além disso, apesar da capacidade da tecnologia de informática no armazenamento de conhecimento codificado, são os membros de cada profissão que determinam os termos do armazenamento, interpretação e utilização desse conhecimento (FREIDSON, 1998). Pode-se dizer que junto ao acesso ao conhecimento inerente às profissões houve também o avanço do conhecimento por parte dos profissionais, bem como são os profissionais que controlam quais

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conhecimentos serão disponibilizados e qual a forma de divulgação. Quanto à tese da proletarização, apesar das empresas terem se tornadas maiores e mais complexas e muitas vezes estarem integradas num sistema público ou privado ainda maior, o que exige a supervisão e controle meticulosos de seus membros, segundo Freidson (1998), mesmo que o trabalho profissional seja exercido numa empresa, a administração pode controlar os recursos relacionados com o trabalho, mas não a forma como os trabalhadores realizam suas atividades. Características da autonomia profissional, como o conhecimento e a criatividade, sobrepõem-se ao princípio organizacional hierárquico (RODRIGUES, 2012). Portanto, o profissional teria autonomia sobre as condições de realização do trabalho. Para Freidson (1998), ao contrário do que supõe a tese da proletarização, nessas organizações os profissionais poderão ser distinguidos dos demais trabalhadores porque deles se espera que exerçam arbítrio, com base numa rotina diária, durante a realização de seu trabalho. Assim, apesar dos controles aplicados pelas organizações aos seus membros e atividades, seria mantida a autonomia dos profissionais sobre a forma e conteúdo do trabalho realizado.

Em síntese, os principais autores reconhecem, em propostas distintas, o conhecimento especializado como a principal característica das profissões (RODRIGUES, 2012). Contudo, para Freidson (1998), profissão não um conceito genérico e a tentativa de determinar esse conceito num sentido absoluto é menos relevante que a compreensão de como são determinados quem é profissional, como esses constroem profissões por meio de suas atividades e quais são os impactos dessa forma de organização sobre a realização do seu trabalho. O conhecimento insuficiente acerca das condições de emergência, manutenção e sobrevivência dos grupos profissionais ou dos efeitos de difusão do profissionalismo contribuem para o reconhecimento que não há características únicas que possam incorporar todas as profissões, a não ser o fato de ser denominada profissão (RODRIGUES, 2012; FREIDSON, 1998). Entre as dificuldades em explicar ou analisar adequadamente algumas características das profissões está a existência de ocupações que são apenas papéis ou posições formais de trabalho, criadas e controladas por uma determinada empresa (FREIDSON, 1998). Para Freidson (1998), “ocupações podem ser tratadas sui generes como atividades em torno das quais podem formar-se grupos à medida que seus membros buscam autonomia e controle sobre seu trabalho particular e distinto”. Por isso, esse autor propõe uma abordagem que resida em

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analisar as circunstâncias em que as ocupações se organizam como grupos sociais, em classifica-las por origem, tipo e grau de organização e em analisá-las de modo a explicar como e por que veio a existir e poderia ser mantida sua forma de organização, e quais as consequências dessa organização para a divisão do trabalho produtivo do qual são parte.

O mecanismo sugerido por Freidson (1998) é a noção de grupo ocupacional (comunidade ocupacional ou abrigo de mercado de trabalho). Comunidades profissionais são comunidades cujos membros possuem a mesma identidade, linguagem e estatuto profissional (RODRIGUES, 2012). Empiricamente, há muitos tipos diferentes de abrigos, no entanto, a ênfase dada por Freidson (1998) está nos abrigos negociados formalmente, os quais desempenham importante papel na geração e manutenção do compromisso ocupacional. De acordo com Freidson (1998), esse compromisso, em parte, está relacionado ao subsídio oferecido pelo abrigo ao estabelecimento e manutenção de uma ocupação, de modo que os membros dessa ocupação possam contar com uma carreira vitalícia relativamente segura. Para esse autor, a capacidade de negociação coletiva da ocupação é outra dimensão do abrigo no mercado de trabalho, exercida por meio de alguma forma de organização que as represente coletivamente, como sindicatos ou associações. O abrigo no mercado de trabalho pode ser considerado o mecanismo para representar o vínculo individual dos membros de uma ocupação à economia independentemente do vínculo empregatício e também pode estimular o compromisso entre os membros dessa ocupação. Pode-se dizer que a ocupação é organizada de modo que seus membros passem a dedicar o período de atividade produtiva de suas vidas a essa ocupação, independentemente da empresa em que venha a trabalhar.

Freidson (1998) sugere como denominadores comuns entre as profissões: o conhecimento especializado, o credencialismo e a autonomia. Rodrigues (2012) acrescenta a esses denominadores comuns entre as profissões, que considera um tipo particular de ocupação, o compromisso profissional.

Para Freidson (1998), o conhecimento especializado que profissional aplica na realização do seu trabalho o separa daqueles trabalhadores que podem realizar apenas tarefas para as quais quase todos os indivíduos são capazes, no entanto, a capacidade de aprender tais habilidades não está além do alcance dos demais trabalhadores, que podem adquirir esse conhecimento especializado por meio de educação formal.

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De acordo com Freidson (1998), o caráter histórico e concreto do conceito de profissão, bem como as muitas perspectivas sob as quais ele pode ser legitimamente observado, impedem uma definição aceita globalmente, por isso, ele sugere que, os pesquisadores, ao abordarem esse conceito, indiquem a definição adotada em sua abordagem, bem como “recortem” os grupos que pretende abordar. Dada a ênfase de Freidson (1998) à utilidade de estudar fenomenologicamente as profissões e evitar o uso de definições fixas, bem como para evitar a generalização sobre o profissional do saneamento num recorte espacial ou período histórico específico, considerou-se neste trabalho que os profissionais do saneamento dividem-se em vários grupos, os quais seriam identificados não pelo pelas características da sua educação formal ou pelo seu vínculo empregatício, mas pela condição de trabalho em que um determinado profissional discute saneamento, permitindo que se encontre na nessa posição ao trabalhar perspectivas de saneamento num determinado momento. Os profissionais em saneamento podem atuar como pesquisador, professor, operador, consultor ou regulador e essa atuação pode ocorrer no âmbito de empresas privadas de engenharia ou consultoria, universidades, empresas privadas de pesquisa, órgãos governamentais ou associações profissionais (ANTIZAR-LADISLAO et al., 2012).

O saneamento no Brasil foi, até as últimas décadas do século XX, como nos primórdios das cidades industriais, uma questão a ser tratada com dados puramente técnicos e numéricos, “um problema passível de ser controlado com a ajuda de engenheiros e dos aparelhos de salubridade” (RUTKOWSKI, 1999, p.57). A supremacia das abordagens tecnocêntricas para o saneamento, ditadas principalmente a partir da visão da engenharia sanitária, segundo Britto et al. (2012), não propicia o desenvolvimento de visões amplas que possam dar conta da complexidade e multidimensionalidade que o caracterizam, pois essa área possui interfaces que, quando não são reconhecidas, o mantém enclausurado em sua própria lógica, o que pode refletir na efetividade das suas ações. Para esses autores, a “visão encapsulada do setor, muito pouco aberto à ação transversal com os outros setores, e o tecnocentrismo das intervenções, também pouco afeito à visão interdisciplinar” podem ser os principais obstáculos ao avanço de um saneamento inclusivo e sustentável.

Em pleno século 21, a situação precária do saneamento básico escancara o abismo existente entre um Brasil em busca de desenvolvimento e protagonismo global e a realidade vivenciada em grande parte do país,

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onde apenas 48% do esgoto gerado é coletado e, desse volume, apenas 39% recebe o devido tratamento (KELMAN, 2016)

Como esses baixos índices de atendimento ainda são distribuídos regionalmente de forma muito desigual, “grandes contingentes populacionais estão condenadas ao subdesenvolvimento, com elevado risco à saúde e a mortalidade infantil, além do baixo desempenho educacional e no trabalho” (KELMAN, 2016). De acordo com Kelman (2016), essas condições implicam na contínua degradação ambiental e redução das oportunidades e perspectivas para o futuro. Tal afirmação evidencia que as questões de ordem social ou ambiental vêm sendo incorporadas, ao longo do tempo, àquelas de ordem sanitária, precursoras da noção de saneamento (BRASIL, 2008). O teor das definições de saneamento, em geral, refletia a concepção do processo saúde-adoecimento, representada por uma tríade cujos vértices são constituídos pelo homem, agente patógeno e o ambiente, que consiste em mediar relações do homem com seu meio com o objetivo de evitar ou controlar doenças (COSTA, 2009). Nessa perspectiva da prevenção, o papel do saneamento era o de interpor barreiras entre o homem e o agente patógeno e o ambiente, por outro lado, a perspectiva atual que considera as dimensões da vida em sociedade (cultura, as crenças, os hábitos, as condições de moradia, as relações de produção e a política) transfere o foco da doença para a qualidade de vida (COSTA, 2009). Ao considerar os processos sociais e não apenas as barreiras físicas entre o homem, os patógenos e o ambiente, as ações em saneamento passam a ser interdisciplinar e intersetorial, portanto, mais complexa (COSTA, 2009).

Para os efeitos da Lei Federal 11.445 de 05 de janeiro de 2007, que estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico, de acordo com o Art. 3°, inciso I, considera-se saneamento básico o conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais de: a) abastecimento de água potável; b) esgotamento sanitário; c) limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos; e d) drenagem e manejo das águas pluviais urbanas (BRASIL, 2007). Ao incluir, além dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário, também o manejo das águas pluviais urbanas e o manejo de resíduos sólidos, a referida Lei adotou uma definição ampla ao saneamento básico e estimula, por meio do princípio de intersetorialidade, a articulação da política de saneamento com as políticas públicas correlatas: saúde, recursos hídricos, ambiente, desenvolvimento urbano e uso e da ocupação do solo (BRITTO et al., 2012). A Política Nacional de Saneamento Básico, ao dialogar com as políticas nacionais de interface,

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contribui para que as ações de saneamento sejam tratadas de forma sistêmica, interligadas e interdependentes (RUTKOWSKI et al., 2010). Contudo, se a partir dessa política, legalmente, pode ser considerada como superada a discussão acerca do conceito de saneamento básico, ainda não se esgotou a discussão sobre o conceito de saneamento ambiental, que acrescenta ao conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais que constitui o saneamento básico, ações voltadas ao controle de poluição e qualidade do meio ambiente (BRASIL, 2008). Dessa forma, a partir da necessidade de tratar de forma articulada o saneamento básico aos diversos aspectos relacionados à salubridade ambiental (controle da poluição do ar, da água e do solo), o termo saneamento ambiental vem se consolidando (SENRA e MONTENEGRO, 2009).

A abordagem do saneamento como “setor”, entendido como uma forma de organização que atua em determinado campo de intervenção por meio de profissionais que interpretam essa realidade apenas sob a perspectiva do seu olhar, reflete o conhecimento especializado (BRASIL, 2008). A organização do saneamento a partir dessa lógica leva à gestão fragmentada de seus componentes (esgotamento sanitário; limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos; e drenagem e manejo das águas pluviais urbanas) e à desarticulação com as suas áreas de interface (HELLER, 2011). No entanto, e efetividade das ações em saneamento requer a visão integrada sobre suas várias dimensões e, para isso, os profissionais necessitam, além das competências técnicas tradicionais, desenvolver habilidades para a compreensão do conjunto mais amplo das questões nessa área (CARRARD et al., 2009; PARKINSON e SAYWELL, 2012). Dessa forma, a efetividade das suas ações estaria relacionada a um corpo diverso de profissionais cujos conhecimentos e saberes possibilitem a compreensão da multidimensionalidade dessa área, bem como o reconhecimento de todas as suas interfaces. A qualificação desses profissionais cabe às associações de profissionais em saneamento.

1.1. Associações profissionais em saneamento

De acordo com a Lei Federal n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que institui o Código Civil, Art. 53°, as associações são pessoas jurídicas de direito privado constituídas pela “união de pessoas que se organizem para fins não econômicos”. O

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objetivo principal das associações não é a realização de atividades econômicas. As associações podem participar de atividades lucrativas, desde que o lucro auferido seja aplicado integralmente na manutenção e/ou ampliação da própria associação (CARDOSO et al., 2014). O objetivo principal das associações deve priorizar a defesa e a promoção dos interesses das pessoas físicas e/ou jurídicas que a constituíram, consideradas o fator preponderante nessas organizações (CARDOSO et al., 2014). A forma jurídica que a associação pode assumir será diferenciada, basicamente, pelos seus objetivos, por exemplo: Organização da Sociedade Civil de Interesse Público [OSCIP], cooperativas, sindicatos, fundações ou clubes (CARDOSO et al., 2014).

De forma ampla, associação são iniciativas formais ou informais que reúnem pessoas físicas ou jurídicas a partir de objetivos comuns, cuja constituição visa que os indivíduos tenham condições para a realização dos seus objetivos melhores que aquelas que teriam sozinhos (CARDOSO et al., 2014). De acordo com a Classificação Nacional de Atividades Econômicas [CNAE] do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE]1, as associações e organizações representativas de classes e ramos profissionais enquadram-se na categoria econômica denominada “outras atividades associativas profissionais”, como as organizações do seguimento artístico, e da comunidade científica. Nas associações profissionais, ao contrário das associações públicas (ordens e câmara), não há relação com o Estado, exceto pelo fato de serem consideradas instituições intermediárias entre o Estado e os profissionais e entre esses e as partes interessadas, e a adesão não é obrigatória para o exercício da profissão (RODRIGUES, 2012).

De acordo com Rodrigues (2012), o papel das associações profissionais é importante ao estabelecimento de normas cognitivas e de padrões de comportamento entre seus membros, bem como à criação de um espaço de socialização. As associações profissionais dividem a função de criar espaços de socialização com as entidades que estão na base das relações coletivas de trabalho e obedecem a princípios e pressões distintos – os sindicatos, que representam os interesses dos trabalhadores junto aos interlocutores externos, inclusive perante a lei, e outras associações que atuam nas relações coletivas de trabalho e na arena política, como grupos de pressão (JOÃO FREIRE

et al., 2014).

1 Comissão Nacional de Classificação [CONCLA]. Disponível em <http://www.cnae.ibge.gov.br/>. Acesso

em 16/05/2016

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De acordo com João Freire (2004), nas associações profissionais, determinado(s) grupo(s) ocupacional (is) se organiza(m) voluntariamente, sejam em função dos fatores econômicos, políticos, culturais ou para dar visibilidade e legitimidade ao seu trabalho. Para Rodrigues (2012), o associativismo profissional pode estar relacionado à a) grupos ocupacionais específicos; b) grupos ocupacionais de determinadas áreas de atividade econômica; ou c) todos os grupos ocupacionais de uma determinada empresa.

Segundo Rodrigues (2012), as associações profissionais, por levarem em consideração as características que separam as profissões em relação às demais ocupações, distinguem-se das associações patronais ou sindicais, que representam diversos tipos de ocupações. No entanto, essas associações podem coexistir com outros tipos de associações atuantes no mesmo grupo ocupacional ou empresa ou até mesmo substituir esses modelos tradicionais (RODRIGUES, 2012). De acordo com Rodrigues (2012), ao longo do movimento do associativismo profissional, pode ser observada a emergência de associações sindicais em ocupações tradicionalmente representadas exclusivamente por órgãos de classe ou por sindicatos, ou ainda a emergência de associações profissionais de estatuto ambíguo invadindo as fronteiras de outros tipos de associações.

Como o desenvolvimento das profissões está assente no seu saber complexo, discricionário e de caráter interpretativo, as funções atribuídas às associações profissionais, normalmente, estão relacionadas, implícita ou explicitamente, à qualidade do trabalho profissional (FREIRE, J. et al., 2014). O papel das associações profissionais também pode ser considerado a criação e manutenção dos monopólios profissionais, bem como a aquisição de estatuto social e econômico para os seus membros (RODRIGUES, 2012). Nesse sentido, a qualidade do trabalho profissional, segundo Rodrigues (2012), está relacionada à manutenção da autonomia profissional por meio do conhecimento especializado. A busca pelo desenvolvimento de capacidade dos profissionais, que caracteriza a profissão pode ser uma das maiores preocupações desse tipo de associação (FREIRE, J., 2004). A preocupação das associações com a busca pelo desenvolvimento de capacidade dos profissionais, segundo João Freire (2004), diz respeito, principalmente, à fase posterior à conclusão da trajetória acadêmica. Além disso, o desenvolvimento profissional pode estar relacionado aos conhecimentos e habilidades específicos requeridos às ações específicas numa área e não apenas àqueles

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requeridos ao exercício da profissão (GONÇALVES, 2004). Segundo Rodrigues (2012), as associações profissionais também podem ser vistas como grupos de interesses que se organizam tendo em vista a sua proteção, mas também as condições dos serviços prestados, sobretudo no caso dos serviços públicos, cujo papel das associações profissionais é o de salvaguardar e desenvolver a sua qualidade.

Como o interesse das associações está na sua representatividade política, à qual importa o quadro de associados, para que esse seja mantido ou ampliado, é importante a atratividade das ações desenvolvidas pela associação, o que inclui as iniciativas para qualificação profissional (FREIRE, J., 2004). A disponibilização de saber profissional nessas associações pode ocorrer sem a compensação pecuniária, ou seja, por meio de iniciativas para disponibilização do conhecimento de forma colaborativa pelos seus membros (FREIRE, J. et al., 2014).

De acordo com a IWA (2015), as associações profissionais promovem mecanismos para reunir profissionais de um setor em torno de determinados temas para o seu desenvolvimento, dos profissionais e da sociedade em geral. As associações de profissionais da água foram formadas em vários níveis, por e para determinados indivíduos ou profissionais, em torno de temas específicos (Tabela 1) para, entre outros objetivos, facilitar a partilha de conhecimento e apoiar o desenvolvimento da capacidade profissional (IWA, 2015).

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Tabela 1 – Organização das associações no setor de água.

ABRANGÊNCIA

Internacional Regional Nacional

Associação Internacional

da Água (IWA) African Water Association Japanese Water Association

MEMBROS

Profissionais e empresas de água e

águas residuárias Operadores privados

• BC Water & Waste Association (BCWWA) • Czech Water

Association (CzWA) • Water New Zealand • German Association for

Water

• Wastewater and Waste (DWA)

• Water Supply and Sewerage Association of Albania (SHUKALB)

• Association of Private Water Operators (Uganda) • National Association of

Water Companies (USA)

TEMAS

Captação de águas

pluviais Ambiente e saúde Gás e Água Recursos Hídricos

• American Rainwater Catchment Systems Association (ARCSA)

• Association Scientifique et Technique pour l’Eau et l’Environnement (ASTEE) • Portuguese environmental

association (GEOTA) • Reseau d’environnement

Canada

• Swiss Gas and Water Industry Association (SVGW) • Switzerland • American Water Resource Commission

Fonte: Adaptada de (IWA, 2015).

A Associação Internacional da Água [IWA] reúne diversas associações por meio da Professional Association’s Alliance e as apoia nas iniciativas para partilha de conhecimentos e colaboração (IWA, 2015). Ao se reunirem, as associações profissionais de um determinado setor, como as relacionadas na Tabela 1, tornam-se mais representativas, adquirem maior credibilidade quanto ao seu conhecimento e informação; e passam a atuar como uma plataforma para a partilha de conhecimento (IWA, 2015). A IWA (2013) promove a colaboração e partilha de conhecimento por meio de: a) grupos de especialistas; b) conferências e fóruns; c) forças-tarefa; d) comitês nacionais; e) redes; e f) publicações. Por meio da participação nessa plataforma, os profissionais se beneficiam da colaboração entre as fronteiras das especialidades e profissões em diferentes partes do mundo (IWA, 2011b). A IWA encontra-se à frente das outras organizações por conectar a comunidade de profissionais que atuam em pesquisa e prática em todas as disciplinas da água ao redor do mundo (IWA, 2011b). Nesse contexto, pode-se dizer que essa associação ocupa uma posição de referência internacional no setor água e que o saneamento, um recorte do setor água, possui como

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referência, além da IWA, no nível internacional, a Associação Interamericana de Engenharia Sanitária [AIDIS], no nível regional, e a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental [ABES], no nível nacional.

A ABES foi criada em 1966, incorporando a primeira seção brasileira da Associação Interamericana de Engenharia Sanitária [AIDIS], fundada em 1948 no Rio de Janeiro por recomendação da XI Conferência Sanitária Pan-americana realizada em 1942 (ALVES, 2009). A atuação dessa entidade no setor saneamento, segundo Costa (1983), alcançou sua relevância por meio do programa de treinamento para o setor de abastecimento de água potável e esgotamento sanitário que, a fim de garantir a oferta de mão de obra para execução do Plano Nacional de Saneamento – PLANASA, funcionou por mais de dez anos. Segundo esse autor, o planejamento, criação e coordenação desse programa foram confiados a ABES por meio de acordo entre as companhias estaduais de saneamento e o Banco Nacional de Habitação [BNH], a organização central do programa. De acordo com Rutkowski (1999), as políticas públicas setoriais centralizadoras adotadas com o golpe militar de 64, a fim de alcançar rapidamente o desenvolvimento econômico, antes pautado pela salubridade das cidades e agora discutido também no âmbito da política ambiental, deram origem à Secretaria Especial do Meio Ambiente – SEMA, para combater a poluição ambiental, em especial dos recursos hídricos; e ao Plano Nacional de Saneamento – PLANASA.

O PLANASA foi acoplado à política habitacional, cuja gestão ficou a cargo de uma instituição financeira, o Banco Nacional de Habitação – BNH. Foi prioritariamente, um plano de financiamento de ampliação de sistemas de abastecimento de água, impondo, em nível estadual, a centralização da política de saneamento (RUTKOWSKI, 1999).

A ABES, assim como o capítulo brasileiro da AIDS, possui sede do diretório nacional no Rio de Janeiro e também mantém seções estaduais com uma mesma estrutura organizacional. A seção paulista é a única que possui subseções regionais. Segundo Antunes (2004), o âmbito geográfico permite às associações profissionais funcionar de forma descentralizada em regiões autônomas para facilitar a participação dos membros na sede nacional. Para apresentar o contexto em que a ABES se encontra, foi utilizada como exemplo a gama de organizações profissionais em saneamento constituída, ao longo dos últimos 80 anos, no Estado de São Paulo (Quadro 1). Essas associações tem em comum a missão de estimular o aperfeiçoamento profissional dos seus membros, o desenvolvimento do setor em que atuam e a homogeneidade entre os quadros de associados. As associações profissionais em saneamento paulistas foram

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constituídas de acordo com a forma como o Estado se organizou para, segundo Rutkowski (1999), tratar os as questões do saneamento básico e aproveitamento dos recursos hídricos no âmbito dos serviços urbanos de interesse comum.

Quadro 1 – Associações profissionais em saneamento no Estado de São Paulo.

FILIAÇÃO ASSOCIAÇÃO MEMBROS FUNDAÇÃO

co m v ín cul o e mpr eg at íc

io APAR-SP Associação dos Profissionais das Agências Reguladoras do Estado de São Paulo

Profissionais que atuam na Agência Reguladora de Saneamento e Energia

do Estado de São Paulo – ARSESP 2011 APU

Associação dos Profissionais Universitários da Sabesp

Profissionais da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – SABESP que possuam formação em curso superior

1994 AESABESP

Associação dos Engenheiros da Sabesp

Até 2008, profissionais (não apenas engenheiros) da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – SABESP 1986 se m v ín cul o e mpr eg at íc

io AIDIS-SP Associação Interamericana de Engenharia Sanitária e Ambiental Seção Estadual

Profissionais e estudantes que se dediquem à preservação ambiental,

saúde e saneamento 1948 ABES-SP

Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental - Seção Estadual

Profissionais, estudantes e pessoas jurídicas ligadas ao saneamento e ao

meio ambiente 1966

ASSEMAE-SP

Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento – Seção Estadual

Pessoas físicas e jurídicas que atuam na prestação municipal de atividades

relacionadas ao saneamento básico 1984 Fonte: elaborado pela autora.

No quadro acima, as associações foram classificadas, quanto à filiação, de acordo com ao vínculo empregatício. Cabe ressaltar que uma associação profissional acima de vínculos de empresas pode garantir uma discussão mais plural. Das associações cuja filiação está condicionada ao vínculo de empresa, a AESABESP e APU são associações constituídas pelos empregados da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – SABESP e organizadas por categoria profissional, cujo debate horizontal visa propor alternativas tecnológicas ou de gestão à própria empresa. A APAR-SP, que congrega especificamente os empregados da Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo – ARSESP, é a mais recente, assim como o início da atividade de regulação na área de saneamento (APAR, 2016). Atualmente, por meio do canal de relacionamento que tenta manter com as empresas de saneamento

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(estadual e municipal) e com a agência reguladora, as seções paulistas da ABES e AIDS congregam também os profissionais das demais associações apresentadas no Quadro 1 (ALVES, 2009; AIDIS, 2016). A seção estadual da ASSEMAE, sediada em Campinas, congrega principalmente os profissionais dos serviços municipais dos municípios paulistas não operados pela empresa estatal (ASSEMAE, 2016).

Uma vez que as associações paulistas de profissionais em saneamento possuem um quadro de associados bastante homogêneo, pressupõe-se que a criação dessa gama de associações seguiu uma mesma dinâmica, ou seja, as pioneiras foram criadas e as associações subsequentes, enxergando um nicho diferente, consideraram adequado criar uma nova associação porque as existentes não estavam dando conta desse novo nicho. As associações dos empregados da companhia estadual de saneamento, por exemplo, tinham como objetivo na sua constituição, além de propor alternativas tecnológicas ou de gestão a própria empresa, garantir o estatuto social e econômico dos seus membros, talvez por opção à filiação sindical (AESABESP, 2016; APU, 2012). No entanto, quando atuantes no mesmo grupo ocupacional ou segmento, além dos objetivos de ação distintos, as associações profissionais atuam mais na arena política enquanto os sindicatos representam os interesses dos trabalhadores junto aos interlocutores externos, inclusive perante a lei, bem como representam outros tipos de ocupações e não apenas as profissões (JOÃO FREIRE et al., 2014; RODRIGUES, 2012).

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CAPÍTULO 2 – REDES SOCIAIS

As diversas classes de redes e suas diferentes propriedades estão presentes em sistemas complexos, da biologia à economia (WATTS, 2009). A ciência das redes é parte de um amplo projeto na ciência moderna, conduzido nos últimos quatro séculos por cientistas que, observando cada vez mais fenômenos interconectados, buscam a compreensão sobre as propriedades das redes e como essas redes se organizam, o que tem resultado em avanços significativos em diversas áreas (CHRISTAKIS e FOWLER, 2010; BARABÁSI, 2009).

Embora o padrão de organização em rede seja encontrado em diferentes domínios, o conteúdo e a natureza dos processos são diferentes em cada domínio. Enquanto as redes biológicas operam no reino da matéria, as sociais operam no reino do significado (PISANI, 2007). O termo rede, utilizado em diversos contextos e de formas muito distintas, descreve um conjunto de atividades, objetos ou pessoas conectados uns aos outros, quase sempre como uma metáfora para a organização humana, que é o caso das redes sociais (RAMALINGAM, 2011). Ao contrário do que julga o senso comum, as redes sociais são um padrão de organização marcado pela interação entre as pessoas e não apenas ferramentas de comunicação caracterizadas pela participação ou divulgação de informação, como os sites de relacionamentos ou plataformas digitais de redes sociais. Uma rede pode ser considerada, essencialmente, uma teia de nós (elementos) e

links (conexões) entre esses nós. Numa rede social, os indivíduos podem ser

considerados os nós e as interações entre os indivíduos podem ser consideradas os links. O conhecimento acerca das suas propriedades permite compreender como na sua dinâmica a configuração do todo pode afetar a realidade das partes (BARABÁSI, 2009). Para Barabási (2009), a natureza da dinâmica das redes faz com que possam ser consideradas sistemas complexos, que são um conjunto de elementos inter-relacionados cujo comportamento é imprevisível. As redes sociais são abertas e dinâmicas: influenciam os indivíduos que as influenciam, construindo um novo padrão comportamental que não representa nenhuma das partes. O grau de conectividade das redes diz respeito à interação das partes de forma não linear (PISANI, 2007) e não está relacionada à capacidade de liderança ou algum outro atributo pessoal. Segundo

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Barabási (2009), o grau de conectividade tem mais a ver com o fato dos primeiros nós disporem de mais tempo do que os últimos para adquirir link, ou seja, tem a ver com o quanto já está conectado. As redes sociais têm em comum o fato de serem governadas pelas mesmas leis robustas e universais que governam as redes da natureza (BARABÁSI, 2009). De acordo com o conhecimento sobre essas leis, essas redes possuem propriedades que asseguram a sua integridade, de modo que nenhum elemento ou (nó) central, ao ser removido, possa desintegrar a rede (BARABÁSI, 2009). Na ausência desse elemento (nó) central, as redes reais, assim como os sistemas mais complexos, são auto-organizadas.

A análise de redes sociais, que desde meados do século XX tem sido objeto de interesse sociológico, avançou sobremaneira há pouco mais que uma década (BARABÁSI, 2009). Tal avanço ocorreu a partir da busca por alternativas aos estudos que consideravam a formação de redes um processo puramente randômico, um modelo de rede que dominou o pensamento científico das redes desde sua introdução. De acordo com esse modelo de rede, os links são estabelecidos de maneira absolutamente aleatória e, dessa forma, todos os nós possuem a mesma chance de obter um link (BARABÁSI, 2009). No entanto, embora ainda restem dúvidas a respeito de como as diferentes partes dos sistemas complexos se encaixam, os cientistas começaram a aprender a mapear a interconectividade por meio de uma série de descobertas acerca da estrutura e a evolução das redes (BARABÁSI, 2009). A partir dessas descobertas, segundo Barabási (2009), percebeu-se que as redes são suficientemente complexas para ser descritas como randômicas.

Para Christakis e Fowler (2010), os aspectos fundamentais das redes sociais são: a) a conexão , que tem a ver com quem está conectado a quem; e b) contágio, que diz respeito ao que flui ou não ao longo das conexões. A compreensão sobre as regras em relação à conexão e ao contágio – estrutura e função – das redes sociais poderia ajudar a explicar como nas redes sociais o todo vem a ser maior do que a soma das suas partes, por exemplo, numa analogia ao sabor de um bolo, explicaria como esse sabor se afasta da soma simples de seus ingredientes. Nas redes, assim como nos demais sistemas interconectados, as partes que compõem o todo não se somam de forma simples, pelo contrário, há interação entre as partes, o que faz com que componentes simples possam tornar-se bastante complexos, ao que Watts (2009) ilustra com a descrição do cérebro humano, que é

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em certo sentido um trilhão de neurônios conectados entre si em uma grande massa eletroquímica. Mas, para todos nós que o possuímos, um cérebro é claramente muito mais do que isso, com propriedades como consciência, memória e personalidade, cuja natureza não pode ser explicada simplesmente em termos agregados de neurônios.

A ciência das redes, considerando que não seja possível prever o comportamento coletivo a partir dos padrões para o comportamento individual, desenvolve pesquisas sobre o que há de relevante nesses padrões, a fim de conhecer sobre como os padrões de interação entre indivíduos pode afetar o comportamento do sistema em que esses indivíduos se encontram (WATTS, 2009). Nesse sentido, como qualquer sistema vivo, as redes são consideradas objetos dinâmicos em função das atividades ou decisões de seus componentes (WATTS, 2009).

A teoria sobre redes vem sendo analisada há mais de cinco décadas por dois grandes grupos de pensadores. De acordo com Watts (2009), o primeiro grupo trata da estrutura de redes (conexões entre os membros de uma determinada rede) e da correspondente estrutura social (participação dos membros na rede). No segundo grupo, a rede é vista como instrumento para disseminação de informações e, nessa visão, o papel social de um indivíduo depende dos grupos aos quais esse indivíduo pertence, bem como da posição que ocupa nesses grupos (WATTS, 2009).

A ideia de mundo como uma enorme rede de relações sociais vem do chamado “problema do mundo pequeno” (numa referência às conversas entre duas pessoas até então estranhas que descobrem ter um conhecido em comum), cuja hipótese é de que qualquer pessoa no mundo pode se conectar a outra a apenas alguns graus de separação. Essa hipótese, que há décadas fascina muitos pesquisadores, sugere que possuir poucos graus de separação é uma propriedade genérica das redes. Os primeiros relatos escritos sobre esse conceito, também chamado “seis graus de separação”, segundo Barabási (2009), são de Karinthy, autor do conto “Chains”, no qual postula que todas as pessoas no mundo podem conectar-se a qualquer outra por meio de cinco conhecidos. De acordo com a teoria de “mundo pequeno”, os indivíduos não estão apenas conectados como também vivem em um mundo em que apenas alguns “apertos de mão” os separam de qualquer outro indivíduo, o que ocorreria porque a sociedade é bastante densa. Essa explicação também caberia à existência de caminho razoavelmente curto entre os muitos nós que compõem uma rede, pois sua natureza é altamente interconectada (BARABÁSI, 2009). Entretanto, a ciência das redes mostrou que essa distância é enganadora. Há uma redundância ocasionada pelos pequenos aglomerados

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que se formam a partir de experiências, localização ou interesses compartilhados, ou seja, “quanto mais nossos amigos se conhecem, menos utilidade eles têm para levar uma mensagem a alguém não conhecido (WATTS, 2009)”. Além disso, estar conectado a todo mundo a apenas alguns graus de separação não significa o domínio de todas essas pessoas a qualquer intensidade de conexões (CHRISTAKIS e FOWLER, 2010). Para Barabási (2009), os vínculos sociais fracos, ao contrário das sólidas amizades, desempenhariam papel crucial na capacidade do indivíduo se comunicar com o mundo exterior, pois aqueles que estão muito próximos normalmente estão expostos às mesmas informações que esse indivíduo detém. Por isso, Barabási (2009) propõe que a teoria das redes randômicas seja de certa forma conciliada ao conceito de laço fraco de Granovetter, que considera que as conexões mais próximas dificilmente ajudariam a encontrar novos caminhos porque, normalmente, conhecem as mesmas pessoas e estão expostas as mesmas informações (WATTS, 2009). A ciência das redes, abordada atualmente, é um reflexo do conceito de laço fraco. Christakis e Fowler (2010) consideram que “os laços fracos, ao contrário dos laços fortes, vinculam grupos ao conjunto da sociedade mais ampla e são cruciais para a difusão de informações”, pois essas conexões mais fracas podem funcionar como pontes entre um grupo e outro e, consequentemente, são fundamentais para o vínculo de indivíduos a grupos.

Pertencer a um grupo, ou seja, conectar-se a outros indivíduos em busca de familiaridade, segurança e intimidade, é um desejo inato que os seres humanos possuem. Esse desejo leva a uma tendência à clusterização, uma propriedade das redes complexas que vai de encontro à visão de que as redes reais são fundamentalmente randômicas (BARABÁSI, 2009). A descoberta de que, ao contrário do que se imagina, uma rede é dominada por poucos nós altamente conectados e poucos nós possuem um número extraordinário de conexões, alterou sobremaneira o conhecimento sobre redes. De acordo com Barabási (2009), se a posição central nas redes é reservada àqueles hubs (nós com número elevado de conexões), parte de clusters (aglomerado de hubs) maiores, e esse fenômeno aparece em diversas redes complexas estudadas até então, a existência de hubs é um elemento genérico do complexo mundo interconectado. Portanto, esses elementos dominam a estrutura das redes em que estão presentes, as quais se tornam verdadeiros mundos pequenos a partir dos atalhos que podem criar entre quaisquer nós da rede em que se encontram (BARABÁSI, 2009).

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A reconsideração do conhecimento existente sobre as redes até então levou à descoberta de que os hubs não são acidentes raros de um universo interconectado, mas obedecem a rigorosas leis matemáticas cuja onipresença e alcance alterou o pensamento sobre redes, bem como o conhecimento sobre essas leis também ampliou o conhecimento sobre o complexo mundo interconectado (BARABÁSI, 2009).

Figura 1 – Redes randômicas e redes sem escala Fonte: adaptada de Barabási (2009)

De acordo com a Figura 1, a distribuição de grau de uma rede randômica segue uma curva de sino, onde a maioria dos nós possui o mesmo número de links, cuja distribuição a aproxima de uma rede viária nacional, em que os nós são as cidades e os

links são as principais rodovias que as ligam, diferentemente do que ocorre numa rede

sem escala, em que a distribuição de grau segue uma lei de potência, o que resulta em muitos nós com poucos links e hubs altamente conectados, como ocorre num sistema de trafego aéreo constituído de inúmeros pequenos aeroportos conectados entre si e poucos por meio de alguns aeroportos (hubs) maiores (BARABÁSI, 2009).

O reconhecimento dos hubs, junto à descoberta da presença das leis de potência na distribuição de grau da maioria das redes complexas, deu origem à

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expressão redes sem escala, ou redes livre de escala, em que diversos hubs de grande porte definem a topologia da rede por meio da estabilidade estrutural, do comportamento dinâmico, da solidez e da tolerância a erros e ataques das redes reais (BARABÁSI, 2009). A topologia de rede no modelo sem escala pode ser modificada por alterações como a remoção de nós e links ou outros processos que alterem o seu crescimento e evolução, o que pode refletir sobre o número e o tamanho dos hubs (BARABÁSI, 2009). No modelo sem escala, as redes são sistemas dinâmicos que mudam constantemente pela adição de novos nós e links e, nessas redes, há competição e uma contínua hierarquia de hubs ou até mesmo a possibilidade de um nó possuir todos os links, situação em que a topologia sem escala desaparece (BARABÁSI, 2009).

Nas redes sem escala, uma das potencialidades dos mecanismos que regulam a sua evolução é a robustez proporcionada pela interconectividade, o que pode assegurar a necessária tolerância a falhas. Para Barabási (2009), nessas condições, “parte significativa de nós pode ser aleatoriamente removida de qualquer rede sem escala, sem que ocorra sua fragmentação”. A robustez topológica das redes sem escala também está relacionada à existência dos hubs. Apesar da probabilidade de falhas ser a mesma para todos os nós, a probabilidade dos hubs serem atingidos é menor por existirem em menor quantidade (BARABÁSI, 2009). Além disso, a retirada de um único

hub não representa o fim da integridade da rede, tal integridade será mantida pela

contínua hierarquia de vários hubs até o seu limiar crítico que, para redes sem escalas, é após a retirada de todos os nós (BARABÁSI, 2009). Por outro lado, pode-se dizer que as redes sem escala em geral combinam robustez contra falhas com vulnerabilidade a ataques, uma vez que, segundo Barabási (2009), “a remoção dos nós mais conectados rapidamente desintegra essas redes, implodindo-as em pequenas ilhas incomunicáveis”.

Por meio da rede, crenças, preferências ou desejos, aleatórios ou não, fluem e são ampliados, principalmente após os avanços nos meios de comunicação à distância por meio de modernas tecnologias. Ao que Christakis e Fowler (2010) ponderam, “há algumas coisas que a tecnologia não muda”, por exemplo, os modos tradicionais de relacionamentos. De acordo com esses autores, apesar do desenvolvimento dos sistemas de comunicação permitir que as redes sociais alcançassem um grau de aproximação e integração sem precedentes, as redes como são conhecidas hoje mantém os mesmos impulsos de conexão e organização em grupos que as redes desenvolvidas em períodos remotos. Para Christakis e Fowler (2010), os avanços em comunicação à distância

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