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RESULTADOS E DISCUSSÃO

As organizações em saneamento ambiental, a fim de dar conta da multidimensionalidade dessa área, enfrentam o duplo desafio de atrair um conjunto diverso de profissionais e apoiar o desenvolvimento dessa força de trabalho, especialmente no início da trajetória profissional (IWA, 2011b). As associações profissionais, em resposta a esse desafio, criaram programas para atrair os jovens profissionais e também apoiar o desenvolvimento da sua carreira (REITER, 2008). A

abordagem adotada para esses programas foi a de interação entre os participantes do programa (estudantes e profissionais em início de carreira) e entre esses participantes e os demais membros da associação (profissionais experientes). Desse modo, a interação promovida pelos programas voltados aos jovens profissionais permeia por toda a organização, o que aumenta a integração entre os participantes do programa e também em outras estruturas existentes nessa organização (IWA, 2013).

Por meio da interação, os participantes dos programas para jovens profissionais podem envolver-se nas atividades da associação e os profissionais seniores, que normalmente estão à frente dessas atividades, podem partilhar seu conhecimento e experiências com os jovens profissionais (IWA, 2015). Ao adotarem a interação como estratégia para a partilha de conhecimento e experiências entre os profissionais seniores e os jovens profissionais, essas organizações podem aprimorar seu padrão de organização em rede. As redes sociais, redes sem escala, foram analisadas por diversos autores que descreveram suas características mais marcantes, que foram agrupadas nas categorias de adesão, coparticipação e divulgação (Tabela 5).

Tabela 5 – Características das redes sociais.

Fonte: elaborada pela autora.

A categoria adesão está relacionada ao compromisso dos membros em participar da rede e à confiança dos membros em partilhar suas experiências nessa rede. A associação voluntária, que nas associações profissionais se dão em função de fatores econômicos, políticos, culturais ou para dar visibilidade e legitimidade ao trabalho, conforme preconiza a IWA (2015), pré-estimula o estabelecimento de uma relação de confiança entre seus membros. A categoria coparticipação consiste nas características que correspondem aos limites (contexto) da rede, estrutura (gestão) de apoio para a

Categoria Característica Descrição Autor

Ad

es

ão Confiança

Condição para a partilha de

conhecimento. TAKEUCHI (1997) NONAKA e

Compromisso Comprometimento dos membros em

coparticipar. SCHÖNSTRON (2005) Co pa rt ic ipa çã o Contexto

Determinação de fronteiras para que haja

um contexto compartilhado significativo. NONAKA, (2008) TAKEUCHI e Fronteiras criadas por meio da auto-

organização. PISANI (2007)

Gestão Estrutura de apoio para manutenção das suas atividades. WATTS (2009)

Colaboração Contrapartida oferecida pelos membros em função dos benefícios da rede. FOWLER (2010) CHRISTAKIS e

D ivu lga çã o Interação

Processo dialético em que, a partir da perspectiva do indivíduo com relação ao ambiente e a perspectiva de outras pessoas nesse ambiente, o indivíduo altera o meio que altera o indivíduo.

VIGOTSKY (2007)

Comunicação

Atendimento aos diferentes níveis de

conhecimento ou informação. WATTS (2009) Força das redes para atrair novos

membros e/ou divulgar os seus

rede e contrapartida (colaboração) aos benefícios oferecidos pela rede. A coparticipação pode ser estimulada pela satisfação de fazer parte, por meio de regras claras de participação ou visibilidade da rede ao seu trabalho (SCHÖNSTRON, 2005). A categoria

divulgação corresponde aos mecanismos utilizados para comunicação necessária à

manutenção das conexões existentes e disseminação dos resultados da rede, a fim de manter ou atrair novos membros. De acordo com Egger (2005), quanto à comunicação, a forma virtual ou presencial deve ser selecionada de acordo com cada atividade, no entanto, seria importante que os membros, em algum momento, se conhecessem pessoalmente.

Egger (2007) propõe as etapas para que a constituição de uma rede sem escala tenha um bom desempenho (Tabela 6).

Tabela 6 – Etapas para constituição de uma rede.

Processo Atividades Produto

Concepção da rede

Identificar um nicho para a rede

Documento de concepção

Realizar o levantamento das necessidades Identificar possíveis apoiadores

Elaboração da proposta da rede

Formular a visão, missão e objetivos estratégicos

Proposta da rede

Definir ações estratégicas

Estabelecer relacionamento com os membros Estabelecer relacionamento com os stakeholders Realizar uma avaliação de risco

Implantar a rede

Organizar um evento de partida

Plano de ação

Estabelecer um cronograma de atividades Estabelecer serviços de apoio

Gerenciar a rede

Coordenar o plano de ação

Relatórios

Facilitar a comunicação

Desenvolver serviços e atividades Promover a rede

Avaliar a rede Avaliar os resultados periodicamente Avaliação

Fonte: adaptado de Egger (2007).

Os produtos resultantes dessas etapas permitem que se avalie o sistema criado permanentemente permitindo um processo de retroalimentação contínua. O levantamento das necessidades atuais é o primeiro passo para verificar a pertinência da

concepção adotada na constituição. A avaliação contínua da fluidez dos processos e da permanência ativa das pessoas mantém a rede viva.

Trazendo as características das redes sociais descritas na Tabela 5 para os programas de jovens profissionais de associações profissionais em saneamento, JPS e YWP, verifica-se que aquelas características são encontradas nesses programas (Tabela 7).

Tabela 7 – Identificação de características das redes sociais nos programas para estudantes e jovens profissionais.

CATEGORIA CARACTERÍSTICA YWP JPS

Adesão Compromisso Confiança/ Adesão é voluntária. Adesão é voluntária.

Coparticipação

Contexto Há regras de participação. Há regras de participação.

Gestão

Utiliza estrutura de apoio da associação para manutenção das suas

atividades.

Utiliza estrutura de apoio da associação para manutenção das suas

atividades.

Colaboração

Os congressos e as publicações científicas da

associação podem ser utilizados pelos membros para dar visibilidade ao seu

trabalho.

Os congressos e as publicações científicas da

associação podem ser utilizados pelos membros para dar visibilidade ao seu

trabalho.

Divulgação

Interação As atividades realizadas propiciam a interação. As atividades realizadas propiciam a interação.

Comunicação

Mantém canais de comunicação aos membros

(redes sociais, home page da associação e e-mail) e divulga seus resultados por

meio de publicações periódicas, como o boletim

eletrônico do programa.

Mantém canais de comunicação aos membros

(redes sociais, home page da associação e e-mail dos

coordenadores) e divulga seus resultados por meio de publicações periódicas,

como revista e boletim eletrônico da associação. Fonte: elaborada pela autora.

Para aumentar a colaboração dos jovens nas atividades da associação, a IWA (2011a) adotou como estratégia ampliar os benefícios oferecidos aos participantes por meio da organização de conferências exclusivamente para jovens profissionais. Essas

conferências são realizadas em eventos internacionais, por meio do esforço cooperativo entre a associação local que sediará o evento e os membros da IWA (2011a) no país de acolhimento. Nessas conferências regionais, são realizadas atividades para promover a rede YWP (IWA, 2011b):

recepção – espaço para recepção exclusiva aos estudantes e jovens

profissionais que visa colocá-los com outros participantes na mesma situação (estudante em fase de conclusão dos estudos ou profissional em início da carreira); e

programa de tutoria – programa que procura conectar, durante os

congressos, os estudantes e jovens profissionais a indivíduos experientes. A relação mentor-aprendiz no programa de tutoria consiste em sugestões do tutor sobre a forma como o jovem participante deve se organizar quanto à programação do evento, de acordo com os seus objetivos; esclarecimentos de dúvidas sobre painéis ou pôsteres; feedback após apresentações; e troca de informações sobre eventos futuros (IWA, 2011b). O programa de tutoria contribui à partilha de conhecimentos entre jovens profissionais e profissionais seniores e pode ser oferecido como benefício adicional aos jovens participantes em uma determinada conferência (IWA, 2011b). No 28ᵒ Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, realizado no Rio de Janeiro, a ABES reproduziu essa estratégia IWA por meio da Tutoria JPS, cujos tutores e orientandos foram organizados por área de interesse (água, esgoto, gestão, educação e recursos humanos, meio ambiente, recursos hídricos e resíduos sólidos).

Para atender aos diferentes níveis de conhecimento ou informação, o YWP publica semestralmente um boletim informativo sobre suas atividades e divulga artigos sobre temas importantes e oportunidades de carreira no setor da água na publicação anual “Um Mundo de Oportunidades: trabalhando no Setor Internacional de Água" (REITER, 2008). O Programa Jovens Profissionais do Saneamento [JPS] divulga suas atividades por meio das publicações (revistas e boletim informativo) e canais de relacionamento da ABES (homepage, newsletter e mídias sociais).

As iniciativas pioneiras organizadas pela coordenação nacional do programa JPS, o Fórum de Jovens Profissionais do Saneamento Ambiental e as Olimpíadas JPS, realizados em Porto Alegre durante o 26° Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, consolidaram-se como fóruns permanentes para estudantes e profissionais que iniciam sua carreira no setor saneamento, (ABES, 2011a). A realização dessas

iniciativas, que tiveram a participação de jovens de diversas regiões do país, evidenciou que o programa possui capilaridade nacional, capaz de promover a interação em toda a sua área de abrangência (ABES, 2011a). Por outro lado, durante essas atividades, observou-se pouca interação entre os participantes do programa e os profissionais experientes presentes na associação (ABES, 2011a).

O aumento da profissionalização na gestão das organizações reduz a relevância da participação dos membros na sua gestão ou nas suas atividades, então alguns membros mantém sua adesão apenas para usufruir de alguns serviços (FREIRE, J.

et al., 2014). Entretanto, a IWA adotou como estratégia estimular a participação dos

novos membros, estudantes e jovens profissionais, nos grupos especialistas, estruturas como às câmaras temáticas existentes na associação brasileira, a fim de aumentar a interação entre os participantes do YWP e os profissionais seniores. As câmaras temáticas são espaços de debate e intercâmbio de conhecimento que, a partir de um olhar específico sobre um determinado tema, promovem a discussão em torno desse tema, buscando seu avanço (PEDROSA, 2014).

CONCLUSÃO

Considerando a relação entre os objetivos e as ações para as propostas analisadas (redes de estudantes e jovens profissionais) na IWA e ABES, conclui-se que as potencialidades e fragilidades dessas redes são similares.

Entre as fragilidades, está a pouca interação entre os participantes das redes e os profissionais experientes presentes nas associações profissionais. Para aumentar essa interação, recomenda-se envolver esses profissionais seniores nos fóruns de discussão para estudantes e jovens profissionais e promover a participação dos estudantes e jovens profissionais nas suas atividades, coordenadas pelos profissionais seniores.

Entre as potencialidades, está o âmbito geográfico das associações profissionais, distribuídas em sedes regionais. Recomenda-se que as associações utilizem sua capilaridade para expandir suas redes.

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