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Economia solidária e a efetivação do direito social e fundamental ao trabalho

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Academic year: 2021

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GRANDE DO SUL

FRANCELINO SANHÁ

ECONOMIA SOLIDÁRIA E A EFETIVAÇÃO DO DIREITO SOCIAL E FUNDAMENTAL AO TRABALHO

Ijuí (RS) 2016

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Francelino Sanhá

ECONOMIA SOLIDÁRIA E A EFETIVAÇÃO DO DIREITO SOCIAL E FUNDAMENTAL AO TRABALHO

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TC.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: MSc. Eloisa Nair de Andrade Argerich

Ijuí (RS) 2016

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Dedico este trabalho para minha família, em especial para minha mãe, pelo incentivo, apoio e confiança em mim depositados durante toda a minha jornada acadêmica.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, em primeiro lugar, a Deus pelo dom de vida e pela oportunidade de realizar meu sonho.

Agradeço aos meus familiares que sempre estiveram presentes e me incentivaram com muito apoio e confiança nas batalhas da vida e com quem aprendi que os desafios são as molas propulsoras para a evolução e o desenvolvimento.

Minha orientadora Eloisa Nair de Andrade Argerich, com quem eu tive o privilégio de conviver e contar com sua dedicação, amizade e disponibilidade, me guiando pelos caminhos do conhecimento, muito obrigado!

Aos meus colegas de trabalho da ITECSOL, que colaboraram sempre que solicitados, com boa vontade e generosidade, enriquecendo o meu aprendizado.

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“Sucesso significa realizar seus próprios sonhos, cantar sua própria canção, dançar sua própria dança, criar do seu coração e apreciar a jornada, confiando que não importa o que aconteça, tudo ficará bem. Criar sua própria aventura! ” Eliana Lindquist

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Este trabalho monográfico apresenta um estudo sobre a Economia Solidária e a efetivação do direito social e fundamental ao trabalho e renda, com a finalidade de demonstrar que diante do atual quadro de desemprego, desigualdade e exclusão social provocados pelo sistema econômico capitalista, surge um outro sistema econômico alternativo, de promoção de trabalho, de forma coletiva e autogestionário, com lógica diferente do individualismo, que é o próprio do sistema concorrencial, que são os Empreendimentos da Economia Solidária. Assim, discorre-se sobre os direitos sociais, com enfoque no direito ao trabalho, destacando-discorre-se a importância que assume nas relações sociais, políticas e econômicas, pois o trabalho contribui para emancipação do trabalhador. Desenvolve-se também a importância da Economia que se realiza através de adoção de formas comunitárias e autogestionárias de propriedade produtiva para amenizar as desigualdades e promover a dignidade da pessoa humana. Ainda, com a finalidade de confirmar que esse modelo econômico voltado mais ao trabalhador, analisa-se a constituição de alguns empreendimentos econômicos solidários do Município de Ijuí assessorados pela ITECSOL/UNIJUÍ como caso concreto do resultado da prática emancipatória da Economia Solidária.

Palavras-chave: Cooperação. Economia Solidária. Emancipação Social. Solidariedade. Trabalho e Renda.

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This monographic work presents a study about the Solidarity Economy and the effectuation of the social and basic right to work and income, in order to demonstrate that in the current frame of unemployment, inequality and social exclusion provoked by the capitalist economical system, there is an alternative economic system, of work promotion, collectively, self-management, with a different logic from the individualism, which is the own of the concurrencies system, which are the enterprises of the Solidarity Economy. Thus addresses onthe social rights, focusing on the right to work, highlighting the importance in social, political and economic relations, since the work contributes to emancipation of the worker. Also stands out the importance of the Solidarity Economy that is a set of economic activities which logic is different than the capitalist economic system how much of the logic of the State and, the adoption of community and self-managed ways to mitigate inequality and promote human dignity. Still, in order to confirm that this economic model geared more to the worker, is analyzed the creation of some Solidarity Economic enterprises in the municipality of Ijuí advised by ITECSOL/UNIJUÍ case as the result of emancipatory practice of Solidarity Economy.

Keywords: Cooperation. Solidarity economy. Social Emancipation. Solidarity. Work and Income.

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INTRODUÇÃO ... 09

1 O DIREITO AO TRABALHO COMO UM DIREITO SOCIAL E FUNDAMENTAL ASSEGURADO PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ... 11

1.1 Conceito e características dos direitos sociais ... 11

1.2 Evolução histórica do direito do trabalho ... 14

1.2.1 A evolução constitucional brasileira do direito do trabalho e a dignidade humana... 18

1.3 A efetivação do direito fundamental social ao trabalho e a geração de renda ... 22

2 ECONOMIA SOLIDÁRIA E A EFETIVAÇÃO DO DIREITO SOCIAL E FUNDAMENTAL AO TRABALHO, RENDA DIGNA E MOVIMENTO ALTERNATIVO AO CAPITALISMO ... 26

2.1 A exclusão social no modelo econômico capitalista ... 26

2.1.1 Origem do movimento da economia solidária ... 30

2.1.2 Conceito e princípios da economia solidária ... 33

2.2 Acesso ao trabalho, geração de renda e promoção da dignidade humana por meio da economia solidária ... 30

3 ANÁLISE DE EXPERIÊNCIAS DOS EMPREENDIMENTOS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA ASSESSORADOS PELA ITECSOL ... 39

3.1 A luta dos catadores de materiais recicláveis ... 39

3.2 A integração da Feconsol no contexto dos empreendimentos econômicos solidários ... 44

CONCLUSÃO ... 48

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho pesquisa a questão da Economia Solidária e a Efetivação do Direito Fundamental Social ao Trabalho, tema este que poderá contribuir para demonstrar uma alternativa viável de efetivação do direito social ao trabalho e de emancipação dos cidadãos, fortalecendo a participação dos mesmos no meio público, político e economicamente, com mais responsabilidade por meio da prática da Economia Solidária.

Objetiva-se demonstrar que existe outra prática econômica, diferente do modelo capitalista, que pode servir de alternativa a este sistema que transforma tudo em mercadoria. Este novo modelo econômico se alicerça na prática econômica voltada ao ser humano e não essencialmente ao lucro, assim, melhorando sua relação com a política, cultura e a preservação do meio ambiente.

A pesquisa será do tipo exploratório, sendo que para sua realização serão utilizados livros, textos e artigos. Ademais, será utilizado o método de abordagem hipotético-dedutivo com observância de procedimentos como: pesquisa bibliográfica e de documentos afins à temática em meios físicos e digitais, interdisciplinares, capazes e suficientes para que o pesquisador construa um referencial teórico coerente sobre o tema em estudo, respondendo o problema proposto – corroborando ou refutando as hipóteses levantadas para, ao final, elaborar um texto monográfico.

Desta forma, pode-se dizer que ao falar em Economia Solidária como uma alternativa de acesso ao trabalho e geração de renda digna, emancipação social e enfrentamento da exclusão econômica e social promovida pelo modelo econômico

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capitalista, faz-se premente analisar o direito ao trabalho como um direito fundamental social assegurado pela Constituição Federal de 1988, bem como identificar os princípios norteadores/sustentadores da Economia Solidária e sua inserção como movimento alternativo ao capitalismo.

Importante destacar que é fundamental trazer nesta pesquisa algumas colocações sobre a importância dos direitos sociais, para demonstrar as razões pelas quais estes surgiram no início do Século XX, influenciados pela Revolução Russa, pela Constituição Mexicana de 1917 e pela Constituição de Weimar de 1919. Marcos estes que evidenciam os direitos econômicos e sociais não como uma herança do liberalismo ou do pensamento democrático, mas como um legado do socialismo.

Neste contexto, o trabalho monográfico será dividido em três capítulos. No primeiro capítulo é feita a abordagem do conceito e das características dos direitos sociais, incluindo a evolução histórica do direito ao trabalho. Ainda neste momento, um dos desafios será efetuar uma abordagem principiológica voltada para a promoção da dignidade humana que se dá por meio do trabalho e renda.

É inegável que um dos grandes problemas nos países em desenvolvimento, atualmente, é o desemprego e a exclusão social. Quando o mercado de emprego está em alta se observa a satisfação de uma grande parte da sociedade, pois quanto mais pessoas empregadas, mais famílias proverão seu sustento e poderão suprir suas necessidades básicas como também proporcionar sua emancipação. Para o Estado fica mais acessível a efetivação dos direitos fundamentais preceituados na Constituição e para a sociedade o bem-estar social. Oposto a isso é o que se verifica em muitos países: a existência de desemprego em larga escala provocado pelas exigências do mercado, o qual exige uma determinada qualificação para atuar, qualificação esta que uma grande parte da população não alcança. E como resultado se tem a exclusão social, a marginalização e a miséria.

Portanto, no segundo capítulo é realizado um estudo sobre a exclusão social no modelo econômico capitalista, a origem, o conceito e os princípios da economia solidária, assim como também vamos estudar as formas que a prática da economia

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solidária pode contribuir para mudar a realidade social promovendo emprego, renda e emancipação dos sujeitos em situação de exclusão social.

E, por último, após realizar uma análise das origens da Economia Solidária, seu conceito e princípios, onde se demonstra como ela pode ser um sistema alternativo de inserção, de valorização do trabalho humano, de criação de emprego e como ela pode ser um mecanismo emancipador dos cidadãos, sem escolher classe social, pretende-se estudar as trajetórias das associações de Ijuí, assessoradas pela Incubadora de Economia Solidária, Desenvolvimento e Tecnologia Social (ITECSOL), que representam um número expressivo de indivíduos que pela prática da Economia Solidária, na forma de empreendimentos, conquistaram seu espaço na vida ativa da comunidade, assim como também contribuíram na criação de emprego e formação de movimentos sociais que lutam pelos seus direitos, ganhando espaço na vida ativa do Município.

Ainda neste último capítulo, realiza-se uma análise da constituição das associações, objeto deste trabalho, uma vez que elas são protagonistas da própria história e os indivíduos juntos conseguem fortalecer as suas ações que trazem como fundamento a solidariedade, a autogestão e cooperação. Destaca-se que, para finalizar a pesquisa, é efetuada uma observação da integração da FECONSOL no quadro dos empreendimentos da Economia Solidária no município de Ijuí, de sua abrangência e de seu papel que desempenha como movimento de Economia Solidária, quando esta permite o envolvimento de diferentes tipos de atividades econômicas que se uniram em associação com objetivos comuns de trabalhar de forma cooperativa e alcançar seus objetivos.

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1 O DIREITO AO TRABALHO COMO UM DIREITO SOCIAL E FUNDAMENTAL ASSEGURADO PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

Impende trazer algumas colocações sobre a importância dos direitos sociais, pois esta se constitui em uma etapa essencial dessa pesquisa. Observa-se que, as razões pelas quais os direitos sociais surgiram no início do Século XX, influenciados pela Revolução Russa, pela Constituição Mexicana de 1917 e pela Constituição de Weimar de 1919, evidenciam que os direitos econômicos e sociais representam não uma herança do liberalismo ou do pensamento democrático, mas um legado do socialismo Lafer (BEDIN, 1988, p. 127).

Neste contexto é que se faz referência ao conceito e as características dos direitos sociais, incluindo a evolução histórica do direito ao trabalho, bem como uma abordagem principiológica voltada para a promoção da dignidade humana que se dá por meio do trabalho e da renda.

1.1 Conceito e características dos direitos sociais

Importante ressaltar que não há unanimidade entre os doutrinadores quanto ao surgimento e à classificação dos direitos fundamentais em gerações ou dimensões, que correspondem, com certa aproximação, a um determinado período histórico. Segundo Gilmar Antônio Bedin (2002, p. 41) "assim, os direitos civis teriam surgido no século XVIII, os direitos políticos no século XIX e os direitos sociais no século XX".

Observa-se que, neste trabalho, utiliza-se a classificação proposta por Paulo Bonavides (1993), na qual os direitos econômicos e sociais incluem-se nos direitos de segunda geração, ou seja, são considerados nada mais, nada menos que

Direitos de créditos, os direitos que tornam o Estado devedor dos indivíduos, particularmente dos indivíduos trabalhadores e dos indivíduos marginalizados, no que se refere à obrigação de realizar ações concretas, visando a garantir-lhes um mínimo de igualdade e bem-estar social. (BEDIN, 20012, p. 62).

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É bem verdade que esses direitos não são direitos estabelecidos "contra o Estado" ou direitos de "participar do Estado", mas direitos assegurados por meio de políticas públicas e programas sociais.

Neste cenário, os direitos sociais encontram-se posicionados, historicamente, na segunda geração de direitos que são de direitos coletivos – os direitos sociais, nos quais o sujeito de direito é visto no contexto social, ou seja, analisado em uma situação concreta depois da primeira geração de direitos que são direitos individuais, direitos que visam igualdade formal de todos perante a lei. (OLIVEIRA, 2007).

Dessa forma, explicando historicamente as gerações de direito, Norberto Bobbio (apud BEDIN, 2002, p. 39) afirma que:

[...] Os direitos humanos se afirmaram historicamente em quatro gerações: 1ª Geração: Direitos Individuais – pressupõem a igualdade formal perante a lei e consideram o sujeito abstratamente; 2ª Geração: Direitos Coletivos – os direitos sociais, nos quais o sujeito de direito é visto no contexto social, ou seja, analisado em uma situação concreta; 3ª Geração: Direitos dos Povos ou os Direitos de Solidariedade: os direitos transindividuais, também chamados direitos coletivos e difusos, e que basicamente compreendem os direitos do consumidor e os relacionados à questão ecológica; 4ª Geração: Direitos de Manipulação Genética – relacionados à biotecnologia e bioengenharia, tratam de questões sobre a vida e a morte e requerem uma discussão ética prévia.

Ainda sobre os direitos coletivos da segunda geração, José Reinaldo de Lima Lopes (1998, p. 124) lembra que:

Os objetivos gerais coletivos destinam-se a distribuir de certa forma os benefícios da vida social, em torno de alguns objetivos maiores: eficiência econômica, igualdade ou proporcionalidade na distribuição, etc.

Uma vez garantidos esses valores, tem-se condições para auferir os direitos individuais. Nesse sentido, Bedin (2002, p. 62) afirma que "não se trata de um novo deslocamento da noção de liberdade, por exemplo, como vimos. De não-impedimento para a autonomia, mas sim da revitalização do princípio da igualdade".

Visto a importância da efetivação dos direitos sociais há necessidade de ver a o seu conceito. Então, José Afonso da Silva (2001, p. 285) sustenta que, os direitos sociais:

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[...] são prestações positivas proporcionadas pelo Estado direta ou indiretamente, enunciadas em normas constitucionais, que possibilitam melhores condições de vida aos mais fracos, direitos que tendem a realizar a igualização de situações sociais desiguais. [...] Valem como pressupostos individuais na medida em que criam condições materiais mais propícias ao auferimento da igualdade real, o que, por sua vez, proporciona condição mais compatível com o exercício efetivo da liberdade.

Ao comentar esse conceito trabalhado por Silva (2001), lembra-se que os direitos sociais, os direitos de segunda geração, se fizeram necessário-emergentes com objetivos de possibilitar o auferimento dos direitos da primeira geração que são voltados aos direitos individuais, e passaram a ser vistos como pressupostos para o exercício e usufruto destes. Por esta razão, os direitos sociais caracterizam-se por serem direitos fundamentais e com isso entrar no rol de direitos sujeitos a observância do Estado por serem na sua maioria os direitos básicos para a sobrevivência dos seres humanos. Estes direitos estão hoje elencados na Constituição Fe de 1988 no Artigo 6º, in verbis:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

Os direitos sociais que hoje estão consolidados na maioria das Constituições, foram conquistados ao longo dos séculos, principalmente no século XX, a maioria deles pelos movimentos sociais e de trabalhadores. As lutas por estes direitos tiveram origem no século XIX, com o advento da Revolução Industrial que tornou precária as condições de vida dos trabalhadores devido ao emprego de máquinas no setor laboral originando desemprego em massa e a desvalorização do trabalho manual.

Cumpre lembrar, no entanto, que mesmo sendo a luta pelos direitos sociais conquistados pelos movimentos sociais, principalmente das classes trabalhadoras e as teorias socialistas, sobretudo Marx, em A Questão Judaica, há uma necessidade de acrescentar ou trocar os direitos clássicos do cidadão, que na verdade se tratava do cidadão burguês, pelos direitos do homem, todos os cidadãos. (CANOTILHO, 2003).

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Como dito, os direitos sociais foram primeiramente estabelecidos pela Constituição Mexicana em 1917 e pela Constituição de Weimar em 1919, mas foram positivados no âmbito internacional somente em 1948 por meio da Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, e mais tarde detalhados no Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, em 1966. Neste sentido explica J. J. Gomes Canotilho (2003, p. 385) que:

[...] Independentemente da adesão aos postulados marxistas, a radicação da ideia da necessidade de garantir o homem no plano econômico, social e cultural, de forma a alcançar um fundamento existencial-material, humanamente digno, passou a fazer parte do patrimônio da humanidade. As declarações universais dos direitos tentam hoje uma “coexistência integrada” dos direitos liberais e dos direitos sociais, econômicos e culturais, embora o modo como os estados, na prática, asseguram essa imbricação, seja profundamente desigual.

Constata-se que, os direitos conquistados pela sociedade por meio dos movimentos sociais, em destaque o movimento dos trabalhadores, mostraram a grande necessidade da convivência dos direitos sociais e direitos liberais para alcançar uma vida humanamente digna, mas ainda evidencia o grande desafio aos Estados visto que na prática essa convivência não tem sido efetivada por causa das grandes desigualdades sociais ou de classes.

Neste aspecto, sem sombra de dúvida, os direitos relativos ao homem trabalhador, referem-se ao homem enquanto produtor de bens e enquanto partícipe de uma relação empregatícia. Este tipo de direito abrange, outrossim, duas ordens de prerrogativas: os direitos individuais dos trabalhadores e os direitos coletivos dos trabalhadores (BEDIN, 2002).

1.2 Evolução histórica do direito do trabalho

É inegável que o trabalho é tão antigo quanto o homem. A história revela que o homem primitivo caçava e pescava para satisfazer sua fome e lutava com o meio físico para garantir a sua sobrevivência. Acerca disso, Helcio Mendes Da Costa (2015) aduz:

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O direito do trabalho é de formação legislativa e relativamente recente. O trabalho, porém, é tão antigo quanto o homem. Em todo o período remoto da história, o homem primitivo é conduzido direta e amargamente pela necessidade de satisfazer a fome e assegurar sua defesa pessoal. Ele caça, pesca e luta contra o meio físico, contra os animais e contra seus semelhantes. A mão é o instrumento do seu trabalho. Nesta época não “trabalho” como conhecemos atualmente, mas sim a constante luta pela sobrevivência.Apenas muito tempo depois é que se instalaria o sistema de troca e o regime de utilização, em proveito próprio, do trabalho alheio.

Significa que, no decorrer da história o homem sempre procurou realizar atividades voltadas para a satisfação de suas necessidades.

Sendo o direito um processo histórico-cultural, não admite qualquer estudo de um dos seus ramos sem que se entenda ou tenha noção do seu desenvolvimento dinâmico no transcurso temporal. (MARTINS, 2002). Desta forma faremos uma análise da evolução histórica do direito do trabalho.

A primeira forma de trabalho foi a escravidão, onde o trabalhador era uma propriedade de alguém, seu dono. Portanto, não possuía qualquer direito. Inclusive, ele não era considerado um sujeito de direito. Então, nessa época não há o que falar em direito do trabalho.

Explicando essa primeira forma do trabalho na visão dos gregos Platão e Aristóteles, Sérgio Pinto Martins (2015, p. 4) explica que:

A dignidade do homem consistia em participar dos negócios da cidade por meio de palavra. Os escravos faziam trabalho duro, enquanto os outros poderiam ser livres. O trabalho não tinha o significado de realização pessoal.

O trabalho, então, tinha características servis, devendo ser desempenhados pelos escravos ficando as atividades mais nobres destinadas às outras pessoas.

A segunda forma de trabalho é a servidão. Esse tipo de trabalho ocorreu na época do feudalismo. Nesta fase, os senhores feudais ofereciam proteção militar e política aos servos, que não eram escravos, mas também não eram livres, eles tinham que prestar serviços nas terras dos seus senhores feudais. Nessa época o

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trabalho era considerado castigo, os servos tinham que entregar parte da sua produção em troca de proteção e uso da terra (MARTINS, 2015).

Existe uma diferença entre escravo e servo da época da servidão feudal, “no período feudal, de economia predominantemente agrária, o trabalho era confiado a um servo da gleba, a quem se reconhecia a natureza de pessoa e não de coisa, ao contrário do que ocorria com os escravos. ” (BARROS, 2011, p. 47).

Em um terceiro momento, o trabalho foi exercido por meio de Corporações de Ofício. Este modelo comportava três personagens: os mestres, os companheiros e os aprendizes. “No início das corporações de ofício, só existiam dois graus: mestres e aprendizes. No século XIV, surge o grau intermediário dos companheiros” (MARTINS, 2015, p. 4). Os mestres obtinham cargos pelas suas aptidões profissionais ou por terem executado uma obra-prima. Os aprendizes, por contrato que durava de dois a doze anos, dependendo da complexidade do ofício, ficavam sobre a custódia que o mestre possuía sobre eles, por direito eles recebiam alojamento e alimentação, além do ensinamento do ofício dando a eles tratamento adequado (BARROS, 2011).

Ainda sobre o aprendiz, Alice Monteiro de Barros (2011, p. 48) explica que:

Terminado o aprendizado, os aprendizes tornavam-se companheiros e exerciam suas atividades nos locais públicos. Por outro lado, o companheiro só conseguia melhorar sua atuação na categoria profissional se dispusesse de dinheiro para comprar a carta de mestria ou se se casasse com a filha do mestre ou com sua viúva.

No que diz respeito às corporações, ainda cabe lembrar que “as corporações de ofício tinham como características: (a) estabelecer uma estrutura hierárquica; (b) regular a capacidade produtiva; (c) regulamentar a técnica de produção” (MARTINS, 2015, p. 5). Os aprendizes começavam a exercer atividades laborais a partir de 12 ou 14 anos e eram expostos a longas jornadas de trabalho, e em alguns países já se observava prestação de serviço com idade inferior. Ficavam os aprendizes sob custódia e responsabilidade do mestre que tinha poderes sobre eles, inclusive, poderia impor castigos corporais a eles. (MARTINS, 2002).

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As corporações de ofício foram extintas com a Revolução Francesa, em 1789, por serem incompatíveis com o ideal da liberdade do ser humano.

Dizia-se, na época, que a liberdade individual repele a existência de corpos intermediários entre indivíduo e Estado. Outras causas da extinção das corporações de ofício foram a liberdade de comércio e o encarecimento dos produtos das corporações. (MARTINS, 2015, p. 5).

Depois da Revolução Francesa, vieram decretos que deram início a liberdade de contratar, o exemplo disso é o Decreto D’Allarde, de 17 de março de 1791, que determinou a liberdade de qualquer pessoa realizar qualquer negócio ou exercício de qualquer profissão.

Por fim, chegou o momento da Revolução Industrial, momento esse que o trabalho foi transformado em emprego. É a partir deste marco histórico que todos os trabalhadores passaram a trabalhar por salário, “com a mudança, houve uma nova cultura a ser apreendida e uma antiga a ser desconsiderada” (MARTINS, 2002, p. 35).

O processo de mecanização da produção, trazido pela Revolução Industrial nos séculos XVIII e XIX, gerou grandes desqualificações no mercado de trabalho. Este processo conduziu os trabalhadores ao desemprego em massa e desvalorização de sua mão de obra, pois o que uma pessoa produz artesanalmente em um dia, uma máquina produz em tempo bem reduzido.

Em razão de situações como essas que a degradação das condições de vida da classe trabalhadora foi ocorrendo, tendo em vista que esse processo foi obrigando os trabalhadores à submissão de situações extremas de sofrimento no trabalho, como jornadas longas, condições desumanas de trabalho, salários baixos fornecendo apenas o necessário para a sobrevivência, e consequentemente levando-os a uma vida de miséria.

Diante destes fatos que vão de encontro aos valores humanos éticos e morais mínimos é que surge com urgência a necessidade de ação do direito. Nesse sentido, Amauri Mascaro Nascimento (1997, p. 4) explica que:

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O direito do trabalho surgiu como consequência da questão social que foi precedida da Revolução Industrial do século XVIII e da reação humanista que se propôs a garantir ou preservar a dignidade do ser humano ocupado no trabalho das indústrias, que, com o desenvolvimento da ciência, deram nova fisionomia ao processo de produção de bens na Europa e em outros continentes.

As condições degradantes da vida da classe trabalhadora e a necessidade de reestabelecer uma situação de vida digna a essa mesma classe, ensejam o agir do direito. Assim, surge a necessidade de adotar uma ordem normativa para reger as relações individuais e coletivas de trabalho.

É perceptível que, na história constitucional brasileira, os direitos trabalhistas caminhavam na esteira dos acontecimentos mundiais e Costa (2015) afirma que a "Constituição de 1824, seguindo o liberalismo, aboliu as corporações de ofício (art. 179, n. 25), devendo haver liberdade de exercício de profissões”.

Contudo, o Estado Liberal não conseguiu assegurar o que apregoava. Ele fracassa na promoção da dignidade humana e da justiça social, algo impensável para uma época que mantinha a escravidão como sustentáculo das atividades agrária e doméstica. Desse modo, o trabalho escravo perdurou por séculos e isso mostra com clareza a violação dos direitos fundamentais - liberdade, igualdade e a consequente dignidade do homem.

1.2.1 A evolução constitucional brasileira do direito ao trabalho e a dignidade humana

Sabe-se que, a escravidão no Brasil permaneceu por muitos anos. Foi apenas em 1888, com a promulgação da Lei Áurea, que o trabalho escravo foi abolido, pelo menos teoricamente – no papel. A Lei Áurea é um marco importante para a área trabalhista, podendo ser considerada como uma das mais importantes normas promulgadas naquela época.

Maurício Godinho Delgado (2011, p. 105) leciona sobre esse período em que vigia no país a escravidão:

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Logo após a abolição da escravatura foi promulgada a primeira Constituição republicana, apresentando em seu texto aspectos relevantes para o trabalhador, ou seja, inscreve no texto constitucional a liberdade de associação como um direito fundamental.

Observa-se que, essa norma veio para se adequar às transformações ocorridas mundo a fora, sendo que é apenas em 1888 que temos a promulgação da Lei Áurea, abolindo a escravidão no Brasil.

Um pouco mais de três anos depois, promulga-se a primeira Constituição Republicana, em 1891. A referida Constituição não apresenta em seu texto nenhuma melhoria das condições necessárias para o desenvolvimento do trabalho como forma de justiça social. Apresentava apenas a liberdade de associação como um direito que abrange trabalhadores e os demais cidadãos.

Não se pode afirmar que nessa época inexistia qualquer experiência de relação de emprego ou qualquer traço que denotasse vínculo jurídico entre empregados e empregador. Por isso, Maurício Godinho Delgado (2011, p. 106) lembra que:

Ressalta-se que não se trata de sustentar que inexiste no país, antes de 1888, qualquer experiência de relação de emprego, qualquer experiência de indústria ou qualquer traço de regras jurídicas que pudessem ter vínculo, ainda que tênue, com a matéria que, futuramente, seria o objeto do Direito do Trabalho. Trata-se, apenas, de reconhecer que, nesse período anterior, marcado estruturalmente por uma economia do tipo rural e por relações de produção escravistas, não restava espaço significativo para o florescimento das condições viabilizadoras do ramo justrabalhista.

Observa-se, então, que de 1891 até 1934, o direito do trabalho praticamente não aparece quando se fala de direito fundamental.

A Constituição de 1934, promulgada em uma época em que as relações trabalhistas eram de naturezas autocráticas, surge como uma nova proposta, passando a inserir não só direitos trabalhistas, mas também princípios que pudessem valorizar o ser humano.

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Delgado (2011, p. 77) assevera que não apenas no Brasil há a constitucionalização do direito do trabalho e ao trabalho, pois segundo ele, “[...] as novas Constituições promulgadas em importantes países europeus conferiram no

status de constitucionalização justrabalhista”.

Argumenta, ainda, o referido autor (2011, p. 77) com relação aos princípios jurídicos associados à construção e ao desenvolvimento do direito ao trabalho que:

Trata-se, ilustrativamente, dos princípios da dignidade humana, da valorização sociojurídica do trabalho, da subordinação da propriedade privada à sua função social, da justiça social como facho orientador das ações estatais e da sociedade civil.

Pode-se dizer que, entre os princípios jurídicos que embasam as relações trabalhistas se encontra o princípio da dignidade humana e “diversas diretrizes associadas a esta basilar: o princípio da não discriminação, o princípio da justiça

social e, por fim, o princípio da equidade” (DELGADO, 2009).

Indubitavelmente, esses princípios fazem parte do arcabouço jurídico não apenas na área trabalhista, mas em todos os seguimentos do direito, pois são considerados como “[...] comandos diretores fundamentais para relações entre os sujeitos de direito”, cumprindo o relevante papel de assegurar a não violação da dignidade humana. (DELGADO, 2011).

É inegável que a primeira Constituição brasileira, de cunho social, a Carta de 1934, inscreve no texto constitucional sobre a ordem econômica e social inspirada na Constituição de Weimar, de 1919. Lembra Amauri Mascaro Nascimento (2004, p. 55) que:

Dentre os diferentes aspectos que caracterizam as Constituições do Brasil, destaquem-se, na de 1934, o pluralismo sindical, autorização para criação, na mesma base territorial, mais de um sindicato da mesma categoria profissional ou econômica, enquanto as demais adotariam o princípio do

sindicato único.

Constata-se, então, que a Carta de 1934, considerada a mais evoluída de seu tempo, reconhece a autonomia sindical, mas sua durabilidade foi de apenas três anos, o que demonstra que estava na vanguarda das ideias liberais da época.

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Considerando o pouco tempo de vigência da Constituição de 1934, a Constituição de 1937, outorgada pelo então ditador Getúlio Vargas “expressou a concepção política do Estado Novo e as restrições que impôs ao movimento sindical”, contrapondo-se aos avanços introduzidos anteriormente e evidenciando “uma contínua e perseverante repressão estatal sobre as lideranças e organizações autonomistas ou adversas obreiras”. (DELGADO, 2011, p. 111).

Deve-se mencionar ainda que a Constituição de 1946, segundo Delgado (2011, p. 55), “acolheu princípios liberais na ordem política, mas conservou, as mesmas diretrizes, na medida em que não respaldou o direito coletivo do trabalho”. Por outro lado, Delgado (2011, p. 55) continua afirmando que a Carta de 1967, em plena ditadura militar, “exprimiu os objetivos dos governos militares iniciados em 1964 e introduziu o Fundo de Garantia do Tempo do Serviço, que havia sido criado por lei ordinária de 1966”.

Reconhece-se, assim, que a evolução constitucional brasileira, no que se refere ao direito do trabalho e ao trabalho, tem o seu ápice com a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Confirmando essa ideia, Nascimento (2006, p. 30) afirma que:

[...] A Constituição de 1988 valorizou o direito coletivo com a proibição da interferência do Poder Público na organização sindical, embora mantendo o sistema do sindicato único. Iniciou desse modo, uma alternativa de ampliação dos espaços do movimento sindical.

Ainda esclarecendo as inovações trazidas pela Constituição de 1988, no que diz respeito aos direitos sociais, Carlos Henrique Bezerra Leite (1997, p. 21) menciona o entendimento de alguns constitucionalistas que, com o fundamento de que o trabalho é um direito social, tratam o trabalho como um componente das relações de produção, sendo assim, de uma dimensão econômica irrecusável. “A Constituição Federal, promulgada em 5 de outubro de 1988, porém, cuidou de dedicar o Capítulo II, do Título II, aos direitos sociais” (LEITE, 1997, p. 21), o que demonstra o grande avanço constitucional trazido pela Lei maior da República Federativa do Brasil em termos dos direitos sociais.

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Não é demais lembrar que as efetivações dos direitos sociais estão longe de ser o ideal previsto no texto constitucional de 1988 e de alcançar a todos os necessitados, por isso a necessidade de políticas públicas e programas sociais para assegurar a todos o direito ao trabalho e geração de renda como forma de amenizar as diferenças existentes.

1.3 A efetivação do direito fundamental social do trabalho e a geração de renda

Quando se fala dos direitos da terceira geração não se está mais falando de direitos individuais, ou seja, de direitos que possibilitam a autonomia, mas sim de revitalizar o princípio da igualdade e da dignidade humana. Neste sentido ensina Gilmar Antonio Bedin (2002, p. 63) que:

Esta geração de direitos compreende os chamados direitos de créditos, ou seja, os direitos que tornam o Estado devedor dos indivíduos, particularmente dos indivíduos trabalhadores e dos indivíduos marginalizados, no que se refere à obrigação de realizar ações concretas, visando a garantir-lhes um mínimo de igualdade e de bem-estar social. Ainda é de esclarecer que esses direitos não representam uma forma de participar no Estado e também não representam confronto ao Estado, mas sim são direitos garantidos por meio do Estado ou através do Estado.

Lembra-se que, o direito ao trabalho é um direito universal de todos os homens e o seu reconhecimento como direito fundamental depende das diretrizes traçadas por cada ordenamento jurídico.

Cabe mencionar que, a Constituição brasileira de 1988 reconhece o direito ao trabalho como um direito fundamental ao colocá-lo no seu artigo 6o como um direito social, direitos sociais esses que têm características de direitos fundamentais. Neste sentido, confirma essa ideia Maria Hemília Fonseca (2006, p. 192) ao ressaltar que:

No tocante ao direito do trabalho, as análises realizadas até o presente momento nos autorizam a concluir que se trata de um direito elevado à categoria de fundamental em nosso ordenamento jurídico, eis que, a sua normativa base está prevista no artigo 6o, do Capítulo II, do Título II, ou seja,

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Nesta ordem, cabe mencionar que a Constituição Federal de 1988, no seu artigo 7o apresenta um leque de direitos para os trabalhadores, reconhecendo desta forma o direito ao trabalho como direito fundamental.

.

Visto isso, necessário identificar no contexto constitucional quem é considerado trabalhador, ou seja, conceituar o trabalhador. Neste sentido, Carlos Henrique Bezerra Leite (1997, p. 27) menciona que:

Trabalhador, em sentido amplo, é toda pessoa física que utiliza sua energia

física, mental ou intelectual em proveito próprio ou alheio, visando a um resultado determinado, econômico ou não”. Ainda lembra que “nem todo trabalhador é empregado. Mas, todo empregado é trabalhador.

Bezerra Leite (1997, p. 27) ainda menciona as correntes que procuram delimitar o capo de aplicação do direito do trabalho, sendo elas: a restritiva e a ampliativa.

A teoria restritiva, defendida por Manuel Afonso Olea, Manuel afonso Garcia

e Francisco de Ferrari, delimita o âmbito desta disciplina aos empregados

ou à relação de emprego ou trabalho por conta alheia, excluindo o trabalhador autônomo.

A teoria ampliativa estende o campo de aplicação do Direito do Trabalho a outros Tipos de trabalhadores, inclusive ao autônomo, e não apenas ao empregado. São defensores desta teoria, dentre outros, Gabanellas, Pérez

Leñero e Galland.

Com isso, entende-se que o trabalhador autônomo não faz parte do domínio do direito do trabalho, fica deixado de lado por conta da existência de uma legislação específica no ordenamento jurídico de cada Estado. Com isto, o trabalho profissional fica dividido em dois granes ramos: do trabalhador autônomo e do trabalhador subordinado. Neste sentido, Bezerra Leite (1997, p. 28) menciona:

Convém advertir que, à luz do nosso ordenamento constitucional vigente, os trabalhadores autônomos não gozam de proteção do Direito do Trabalho. Logo, não são destinatários dos direitos sociais previstos no art. 7o da

Constituição.

É válido mencionar ainda que, no rol dos trabalhadores autônomos não abrangidos pelo artigo 7o da Constituição Federal estão: o trabalhador eventual, incluindo o estagiário (salvo quando desvirtuado do objeto do estágio), e o servidor

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público investido em cargo público (estatutário). Embora subordinados, também estão fora da proteção constitucional.

A efetivação do direito ao trabalho se insere num amplo contexto de direitos econômicos, sociais e culturais. Sendo assim, vincula-se a fatores de ordem econômica, social, política e jurídica. Mas continua sendo uma consequência necessária do regime jurídico de proteção especial que a ordem jurídica constitucional lhe concedeu, a dos direitos fundamentais.

Comentando sobre a efetivação do direito do trabalho, Maria Hemília Fonseca (2006, p. 258) menciona que, com as diretrizes traçadas pela Constituição Brasileira, o Direito do Trabalho apresenta uma dimensão individual que se conecta com o contrato de trabalho em suas diversas modalidades, e uma dimensão coletiva que fica integrada no campo da política de pleno emprego, especialmente ao das políticas públicas de trabalho e emprego, podendo envolver, nestas duas vertentes, interesses transindividuais ou de grupos.

Estas dimensões se conectam com diferenciados campos de aplicação dos direitos fundamentas, ou seja, “o da relação entre os particulares” e o da “relação entre o Estado e os seus cidadãos”.

No que diz respeito à relação entre particulares prevalece o mecanismo jurídico porque se vincula ao contrato de trabalho, como se sabe, somente o contrato de trabalho subordinado, aquele firmado entre o empregador e o empregado.

Por outro lado, no que se refere à relação entre o Estado e seus cidadãos, a dimensão coletiva, destacam-se os mecanismos de efetivação voltados para a área das políticas públicas de trabalho e emprego, pois elas podem se apresentar como eficientes ferramentas na busca da empregabilidade ou pleno emprego. Lembra-se, então, que a atuação dos poderes públicos não é irrestrita, mais ainda quando se trata de concretização de um direito fundamental.

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Pode-se afirmar, assim, que a efetivação do direito do trabalho se dá no âmbito individual por meio de relação de emprego, celebração do contrato de emprego entre empregado e empregador. Já no âmbito coletivo ela se dá por meio de implementação de políticas públicas de trabalho e emprego, buscando, assim, a empregabilidade e o pleno emprego, visando a dignidade do homem, pois sem dignidade o homem não vive, não convive e não sobrevive.

Ademais, sem sombra de dúvida, pode-se afirmar que é pelo trabalho e a consequente geração de renda que o homem tem condições de realizar sua emancipação social, política e econômica.

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2 ECONOMIA SOLIDÁRIA E A EFETIVAÇÃO DO DIREITO SOCIAL E FUNDAMENTAL AO TRABALHO, RENDA DIGNA E MOVIMENTO ALTERNATIVO AO CAPITALISMO

Atualmente, um dos grandes problemas nos países em desenvolvimento é o desemprego e a exclusão social. Quando o mercado de emprego está em alta, observa-se a satisfação de uma grande parte da sociedade, pois quanto mais pessoas empregadas, mais famílias proverão seu sustento e poderão suprir suas necessidades básicas, como também poderão proporcionar sua emancipação. Para o Estado fica mais acessível a efetivação dos direitos fundamentais preceituados na constituição e para a sociedade o bem-estar social. Oposto a isso é o que se verifica em muitos países: a existência de desemprego em larga escala provocado pelas exigências do mercado, o qual exige uma determinada qualificação para atuar, que uma grande parte da população não preenche. E, como resultado se tem a exclusão social, a marginalização e a miséria.

Neste capítulo realiza-se um estudo sobre a exclusão social no modelo econômico capitalista, a origem, o conceito e os princípios da economia solidária, assim como também vamos estudar as formas que a prática da economia solidária pode contribuir para mudar a realidade social promovendo emprego, renda e emancipação dos sujeitos em situação de exclusão social.

2.1 A Exclusão Social no Modelo Econômico Capitalista

A exclusão social é um dos grandes problemas a ser enfrentado na sociedade contemporânea, esse fenômeno tem merecido atenção de grandes estudiosos que de diferentes formas o conceituaram assim, como também o classificaram em diferentes esferas da vida. Conceituando a exclusão social, Martine Xiberras (1993, p. 22) afirma que “excluídos são todos aqueles que são rejeitados de nossos mercados materiais ou simbólicos, de nossos valores”. Por sua vez, Cristóvão Buarque sustenta que se trata de:

Um processo (apartação social) pelo qual denomina-se o outro como um ser "à parte", ou seja, o fenômeno de separar o outro, não apenas como um desigual, mas como um "não-semelhante", um ser expulso não somente dos

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meios de consumo, dos bens, serviços, etc., mas do gênero humano. É uma forma contundente de intolerância social.

A partir destas citações, observa-se que a separação e rejeição do outro em razão de sua condição, de uma forma geral, configura a exclusão. A exclusão social é conceituada como uma situação de falta de acesso às oportunidades oferecidas pela sociedade aos seus membros. Logo, pode implicar na privação por falta de recurso ou de uma maneira mais abrangedora, a ausência de cidadania, caso se entenda ela como a participação plena na sociedade, aos diferentes níveis em que esta se organiza e se expressa ambientalmente, culturalmente, economicamente, politicamente e socialmente. Na contemporaneidade, uma pessoa excluída é aquela que tem impedimentos em participar de forma plena na vida social, econômica e civil de seu país ou, de outra forma, quando o seu rendimento, recursos pessoais, familiares e culturais são insuficientes a ponto de ser possível usufruir de um nível de vida considerado aceitável na sociedade em que vive. Segundo José Carlos Taveira (2002, p. 25):

A exclusão se dá graças à ruptura de três grandes vínculos: econômicos - desligamento das (ou do não “ligamento” às) relações de produção, sociais – através do afastamento de familiares e amigos, e simbólicos – através da renúncia dos sonhos acalentados e da introjeção dos valores que permeiam o meio social relativos à inutilidade do excluído - a própria inutilidade.

Com isso se percebe que a exclusão não está apenas ligada a vida econômica, ou seja, falta de emprego e consequentemente falta de recursos econômicos, mas também se desdobra para outras áreas da vida. Como afirma José Carlos Taveira (2002, p. 27) "a exclusão social é um processo desencadeado pela ruptura no sistema produtivo, que apresenta desdobramentos pelos quais outras dimensões são atingidas, como a simbólica e a social”.

Visto a exclusão de uma forma geral, cabe relacioná-la com o sistema econômico capitalista, que é o tema do presente capítulo. As relações capitalistas de produção passaram por um longo período de transição, desde o seu surgimento até a chegada da hegemonia, passando pelo sistema feudal de produção e sempre com objetivo de conseguir auges para, dessa forma, expandir-se pelo mundo. Com o crescimento das cidades ficou grande a necessidade de produzir mais alimentos e produtos de forma geral para o abastecimento de seus mercados e, desse modo, foi

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abrindo cada vez mais brechas para o aprimoramento do sistema, principalmente nas cidades europeias e americanas, que são as divulgadoras desse sistema de produção.

O grande marco histórico desse sistema econômico foi a Revolução Industrial que ocorreu na Inglaterra no período entre 1760 a algum momento entre 1820 e 1840. Ela contribuiu para o desenvolvimento humano em diferentes aspectos, mas também teve seus pontos negativos, uma vez que se deu às custas do trabalhador, em razão desse ser a principal força da cadeia produtiva, mas que acaba por receber os salários mais baixos e com longas jornadas de trabalho, enquanto que o maior beneficiário do lucro são os investidores do capital financeiro.

Nos primeiros passos dados pelo capitalismo no início da Revolução Industrial, com o surgimento das chamadas “cidades industriais”, houve uma grande desvalorização do trabalho, pois surgiram grandes fábricas que desvalorizaram o trabalho manual. Com isso houve o crescimento de altos níveis de desemprego, fato este que obrigou os trabalhadores a se submeterem a péssimas condições de trabalho dentro das fábricas, incluindo crianças, com longos horários de labor para cumprir. Nesse momento, os empreendedores, donos das fábricas, pouco se preocupavam com as condições dos trabalhadores, pois o interesse maior era a produção em grande escala, mercadoria abaixo do custo dos métodos anteriores e captura rápida de uma quota dos grandes mercados da época, pois tinha nascido uma maneira eficaz de criar fortunas.

O capitalismo e a sua adaptação como modelo econômico nos países europeus teve um sério processo evolutivo. Ocorreram sólidos debates sobre o assunto e segundo Carina de Carvalho Amaral (2010) “o capitalismo enfrentou sérios debates entre aqueles que preferiam o livre comércio e os que achavam que a criação de barreiras comerciais era essencial para o fortalecimento da economia” na implantação do capitalismo. Percebe-se que este modelo de produção emergiu devido à Revolução Industrial. Os debates tinham, de um lado, os donos das fábricas britânicas querendo eliminar os obstáculos comerciais enquanto os fazendeiros, por outro lado, lutavam para o mantimento de restrições à importação de produtos agrícolas e defendendo a imposição de tarifas aos produtos importados.

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A oposição mercantilista, apoiada pelos fazendeiros, sofreu uma grande derrota frente ao sistema de livre mercado por este mostrar mais vantagem econômica à Inglaterra na época. Com a vitória deste modelo econômico, os mais poderosos economicamente começaram a investir suas fortunas em manufaturas, que na verdade são as primeiras indústrias, precárias, mas ainda assim já representavam como característica a divisão de funções, com o trabalho dividido em diferentes atividades até chegar ao produto final. Dessa forma, restou aos fazendeiros que se opuseram ao sistema, adaptarem-se a ela nos moldes em que já não elaboravam mais o produto completo, ou seja, por inteiro, mas sim uma parte dela e somados as peças produzidas por cada um dos trabalhadores se chegava ao objeto final/produto final. Chega-se, assim, a nova divisão social do trabalho. Segundo Michel Beaud (1987, p. 161):

Não somente a economia britânica é a mais desenvolvida, mas também seu processo de desenvolvimento está, desde a origem, vinculado à expansão colonial e ao comércio marítimo; e ela já está envolvida na lógica da especialização e da divisão internacional do trabalho, que sobressai nitidamente da estrutura de suas exportações e, cada vez mais claramente, daquela de suas importações.

Visto isto, percebe-se que por mais que a oposição era forte, os interesses dos grandes capitais da época venceram. Logo, a expansão do comércio abriu as portas para o acúmulo de grandes lucros. A Revolução Industrial, então, é o processo econômico responsável pelo capitalismo.

Nos dias atuais, a relação entre o capitalismo e a exclusão social ficou mais visível, uma vez que o fenômeno da globalização abriu as portas para a internacionalização dos mercados internos, e esse processo, que não é novo, ganha mudanças significativos com o grande salto ocorrido nas tecnologias de informação. Como explica Gilberto Dupas (2014, p. 08):

Essas mudanças permitiram a reformulação das estratégias de produção e distribuição das empresas e a formação de grades networks. A forma de organização da atividade produtiva foi radicalmente alterada para além da busca apenas de mercados globais; ela própria passou a ser global. A revolução tecnológica atingiu igualmente o mercado financeiro mundial, cada mercado passando a funcionar em linha com todos em tempo real.

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As modificações ocorridas na economia influenciaram de forma direta uma grande parte das populações, influenciando seu modo de vida e provocando alterações no seu comportamento em relação aos seus empregos, suas atividades cotidianas, seu trabalho e principalmente com os atores econômicos que produzem bens e serviços. (DUPAS, 2014).

Essas mudanças causaram novamente exclusão no mercado de trabalho devido a sua própria dinâmica e também à nova divisão de trabalho, como explicado por Pedro Henrique Ferreira Costa e Paulo Roberto Teixeira de Godoy (2008):

O modo de funcionamento da reprodução capitalista reside, sobretudo, na imaterialidade (trabalho intelectual/linguístico e trabalho efetivo) a simbiose entre a produção e consumo. De modo que no presente período, conhecimento/informação transformam-se na base do processo de valorização e circulação da mercadoria. A circulação deve estar concluída em uma determinada extensão de tempo de rotação, socialmente necessária para o consumo e ditada pelas lógicas do mercado antes de se tornarem obsoletas para a sociedade.

Essa mudança da dinâmica do mercado capitalista promoveu um processo radical de seleção em busca da eficiência e conquista de mercados mais vantajosos. Apresenta-se como uma das causas de exclusão daqueles que não se moldam a esta dinâmica e, por isso, os que se encontram fora da lógica da produção e consumo, se unem para encontrar saídas para essa situação.

2.1.1 Origem do Movimento da Economia Solidária

Para estudar qualquer fenômeno ou tema é preciso verificar o seu processo evolutivo. Assim, com a Economia Solidária não poderia ser diferente, pois se trata de um fenômeno social que teve um longo processo histórico-evolutivo até chegar nos dias atuais. Salienta-se que não há como dar uma data precisa ao surgimento da Economia Solidária porque ela se tratar de um processo demorado que Noëlle Marie Paule Lechat (2002, p. 4) denomina de “novo recobre”, ou seja:

Fenómenos antigos reinterpretados, modificados pelas condições sócio-históricas e que, em determinado momento, começam a tornar-se significativos para um grande número de pessoas, sendo objeto de uma ação consciente articulada e atraindo financiamentos, pesquisa e divulgação através da mídia.

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Esta afirmação é confirmada na descrição das origens históricas da Economia Solidária, uma vez que o seu surgimento se apresenta em diferentes ondas e movimentos sociológicos na Europa, principalmente com o advento do modelo de produção capitalista, ocasionado pela Revolução Industrial na Europa Ocidental nos séculos XVIII e XIX, onde se empregou máquinas no setor laborar para acelerar a produção e aumentar os lucros. Estas máquinas acabaram substituindo o trabalho humano manual, necessitando de poucas pessoas para operá-las e excluindo a maioria dos trabalhadores do setor laboral. Acarretou, assim, desemprego em massa, tanto é que Hobsbawn (2003, p. 13) afirma que “a Revolução Industrial assinala a mais radical transformação da vida humana já registrada em documentos escritos”.

A Economia Solidária tem suas raízes nas atividades informais das classes populares que perceberam que a solução dos problemas que os afetam não são prioridades do poder político ou estatal, segundo Walter Frantz (2012). O mesmo autor ainda afirma que “trata-se de uma iniciativa pragmática de quem espera pouco ou nada das instâncias formais de poder e parte à construção solidária de soluções para os seus problemas imediatos comuns” (FRANTZ, 2012, p. 26).

Os primeiros pensadores/idealizadores da Economia Solidária, os chamados “socialistas utópicos” por Karl Marx, idealizavam uma luta pela maior autonomia das comunidades, na órbita de uma reestruturação social. (BUBER, 1945). Dentre os mais destacados destes pensadores estão Robert Owen, Pierre-Joseph Proudhon, Charles Fourier, William King, Philippe Buchez, Louis Blanc e outros. Confirma essa ideia a autora Gabriela Cunha (2010, p. 29):

Com as idéias de pensadores socialistas chamados “utópicos”, como Robert Owen (e suas “aldeias cooperativas”), Pierre-Joseph Proudhon (e sua proposta de “falanstério”, análoga às “aldeias” de Owen), Charles Fourier, William King, Philippe Buchez, Louis Blanc e outros, que ajudaram a organizar empresas com princípios opostos aos do capitalismo. A economia solidária deve muito às contribuições teóricas destes autores, mas, sobretudo, às experiências associativas desenvolvidas na prática pelos trabalhadores.

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Robert Owen é a figura de destaque quando se trata do cooperativismo por ser o fundador das Aldeias Cooperativas1 onde viveram, segundo Paul Singer (2002), cerca de 1200 pessoas trabalhando em atividades predominantemente agrícolas que integravam produção e consumo, originando assim os armazéns cooperativos, que tinham o propósito de consumo de produtos ou troca pelos de outras sociedades.

Estes pensadores então criaram diferentes ondas de cooperativismo e organizações com princípios contrários ao do modelo capitalista e voltado mais para a pessoa do trabalhador e da comunidade. É importante mencionar que estes pensadores viveram em diferentes épocas, então estas ondas não aconteceram em um curto prazo, Lechat ao explicar a tese de Buber os dividiu em três gerações históricas,

O primeiro Saint-Simon e Fourier que nasceram antes da revolução francesa e faleceram antes de 1848, o segundo Owen e Proudhon que morreram entre 1848 e 1870 e finalmente Kropotkin e Landauer nascidos após 1870 e falecidos pouco depois da primeira guerra mundial. Para Buber, na primeira fase cada pensador contribuiu com um único pensamento construtivo, Proudhon e seus sucessores realizaram a ampla síntese. (LECHA apud BUBER, 1945, p. 27).

Todos estes pensadores trabalharam em prol da construção do cooperativismo e do associativismo, baseados na ideia de ajuda mútua entre os excluídos do mercado econômico. Desse modo, cada um deles tem uma parcela importante na construção de um modelo societário que cria alternativa para outra forma de exercício da atividade laboral, a mais justa e voltada para a pessoa do trabalhador. Com isso fica evidente que este modelo econômico surgiu como “oposição às consequências do liberalismo econômico, sobretudo na Inglaterra e na França” (PINHO, 2004, p. 137) e como reação da classe trabalhadora à exploração capitalista e proposta de enfrentamento às mazelas sociais e econômicas, o desemprego e a pobreza. (SINGER, 2005).

1 As aldeias cooperativas são construções ao redor das fábricas existentes na época da revolução

industrial, com objetivo de os trabalhadores serem proprietários e gerirem os meios de produção coletivamente. (SINGER, 1998).

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2.1.2 Conceito e Princípios da Economia Solidária

Depois de fazer uma abordagem histórica da Economia Solidária, no item anterior, cabe demonstrar o seu conceito e os seus princípios basilares, uma vez que ela tem sido tratada como o sistema econômico que veio amparar os trabalhadores excluídos do mercado do trabalho pelas exigências do sistema econômico e as inovações na produção. Veremos o que alicerça esse sistema e o que leva a crer que por meio da Economia Solidária o trabalhador pode garantir sua emancipação e melhorar suas condições de vida assim como da sociedade em que vive.

Então, assim como o processo de consolidação desse modelo econômico, a sua conceituação também veio mudando com o tempo. Conforme André Guélin (1998, p. 13) “é difícil de definir, pois durante um século e meio já serviu para referir-se a diversas realidades”. Segundo o referido autor, durante o século XIX ficou visível o embarque de todas as tendências políticas nessa “nova proposta”, lembrando que tanto os socialistas como os sociais-cristãos ou até mesmo os liberais criticaram o modelo econômico capitalista/ciência econômica, sensibilizados pelo custo humano da revolução industrial. Por não incorporar a dimensão social, Guélin (1998, p. 13) ao conceituar a Economia solidária ensina que

É composta de organismos produtores de bens e serviços, colocados em condições jurídicas diversas no seio das quais, porém, a participação dos homens resulta de sua livre vontade, onde o poder não tem por origem a detenção do capital e onde a detenção do capital não fundamenta a aplicação dos lucros.

Este conceito abrange as características básicas da economia solidária e sua finalidade. Jean-Louis Laville (1994, p. 211) caracteriza a Economia Solidária como um “conjunto de atividades econômicas cuja lógica é distinta tanto da lógica do mercado capitalista quanto da lógica do Estado”, conceitua assim justamente por valorizar o laço social e adotar formas comunitárias de propriedade enquanto o capitalismo se alicerça no individualismo e nas relações competitivas. O autor ainda diferencia a economia solidária da economia estatal, haja vista que essa pressupõe uma autoridade central e forma institucional de propriedade.

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A Economia Solidária é usada de forma ampla em vários continentes com as mais variadas concepções, Laville e Gaiger (2009, p. 162) explicam que essas “concepções giram ao redor da ideia de solidariedade, em contraste com o individualismo utilitarista que caracteriza o comportamento econômico predominantemente nas sociedades de mercado”.

Na contemporaneidade, a Economia Solidária tem sido conceituada como "Uma forma inovadora de produzir, vender, comprar e trocar produtos e serviços." Em resumo, esse é o conceito da Economia Solidária baseada na cooperação entre os envolvidos. É solidária porque não deixa ninguém de fora: é um sistema econômico que oferece oportunidades de trabalho e renda para todos, sem distinção de classe social. Existem, portanto, muitos conceitos deste fenômeno que contraria o modelo econômico concorrencial e visa a construção de laços sociais e formas comunitárias de propriedade, todos eles com características importantes desse modelo. O conceito predominante usado no meio dos movimentos sociais que promovem a Economia Solidária é aquele que aponta o modelo como “modo de organizar a produção, distribuição e consumo, que tem por base a igualdade de direitos e responsabilidades de todos os seus participantes” (CONAES, 2007, p. 2).

Isso refere a organização de produção, de distribuição e os processos gerenciais com a participação de todos os sócios, ou seja, a autogestão que significa a participação democrática, com poder igual nas tomadas de decisões de todos os trabalhadores engajados no processo produtivo, o que supera a contradição entre o capital e o trabalho, onde o capital tem mais poder. Observa-se que todos esses conceitos levam a construção de uma economia onde o desenvolvimento social não seja visto como uma preocupação subsidiária, relegada a mecanismos compensatórios, mas sim uma economia que tenha a sua lógica fundamentalmente implicando na estimulação de cooperação e a reciprocidade, para o benefício da qualidade e da justiça social.

A partir dessa nova concepção de economia social é indiscutível a importância que a Economia Solidária assume em face das atividades econômicas que buscam uma “democracia econômica” associada à utilidade social, uma vez que

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contraria o individualismo e o capitalismo que caracteriza o comportamento predominante da sociedade atual.

Nesse contexto, a Economia Solidária apresenta em seu bojo um elenco de princípios norteadores que permitem vigorar a cooperação, autonomia e gestão democrática. Estes princípios foram implantados pelos idealizadores do sistema cooperativista.

Os princípios pioneiros são provenientes da primeira cooperativa em Rochdale, nos arredores de Manchester, na Inglaterra, em 1844, formada inicialmente por 28 operários que se uniram para elaborar princípios que fundamentassem a sua forma de exercer atividades econômicas. (CORNELIAN, 2006). Foram elencados 8 princípios basilares.

O princípio do controle democrático onde se institui o sistema “um trabalhador/um voto”; o princípio da “porta aberta” aos novos membros; ter uma taxa de juros fixa ao capital emprestado; realizar a divisão das sobras de forma proporcional às compras de cada um na cooperativa; vender somente à vista para evitar endividamento dos sócios; consumir apenas produtos não adulterados (por uma questão de qualidade); empenhar-se na educação cooperativa e; por fim, o princípio da neutralidade religiosa e política da cooperativa. (SINGER, 2002).

É de ressaltar que essa cooperativa, chamada pelos “Pioneiros Eqüitativos”, tratava-se de uma cooperativa de consumo e os sócios desfrutavam de ganhos nas compras de mercadorias e serviços, essa realidade depois veio a mudar com o sucesso no desempenho do modelo implantado, trazendo outra realidade e acabando por abranger novas atividades, prestação de serviços e incorporando novos princípios, a exemplo de princípio do preço justo. Cornelian (2006) confirma essa tese ao afirmar que “estes princípios sofreram mutações e variações ao longo do tempo e das experiências cooperativistas, porém, ainda hoje, constituem-se como a grande base do cooperativismo em geral”. Justamente por causa destas mudanças ocorridas no princípio das sociedades cooperativas, Sergio Leal Rodrigues (2011, p. 25) leciona que

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Estes princípios, em 1937, no Congresso da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), foram reunidos em cinco tópicos que passaram a caracterizar a sociedade cooperativa. Em 1966, no Congresso em Viena, Áustria, e em 1995, no Congresso Centenário da ACI, em Londres, Inglaterra.

Atualmente os princípios que norteiam as sociedades cooperativas são: adesão voluntária e livre, gestão democrática pelos membros, participação econômica dos membros, autonomia e independência, educação, formação e informação, intercooperação e, por último, a preocupação com a comunidade.

É importante ressaltar a importância de mencionar os princípios do cooperativismo quando se pretende chegar aos princípios da Economia solidária. Sobre isto, Paul Singer (2011) ressalta que a cooperativa é a forma clássica de Economia Solidária, existente há mais de duzentos anos. Sendo assim, fica evidente que os princípios da Economia Solidária e do cooperativismo estão interlaçados assim como seus modos de produção. Na contemporaneidade, a economia solidária passou a ser usada em diferentes tipos de organizações, não apenas nas cooperativas, por isso incorporou princípios próprios. Marcus Eduardo de Oliveira (2011) elenca os princípios da Economia Solidária como sendo:

A valorização social do trabalho humano; o reconhecimento do lugar fundamental da mulher e do feminino numa economia fundada na solidariedade; a busca de uma relação de intercâmbio respeitoso com a natureza, e os valores da cooperação e da solidariedade, um caminho que valoriza os seres humanos, independente da sua cor de pele, sexo, idade, orientação sexual, condição econômica ou cultural.

Segundo o autor, esses princípios alicerçam uma nova forma de fazer economia, construindo um mundo mais solidário, onde o indivíduo seja o foco. Singer (2002, p. 9) por sua vez, elenca como princípios básicos o “de propriedade coletiva, de liberdade individual e de autogestão”.

É de salientar, então, que na atualidade os princípios que fundamentam a Economia Solidária estendem-se às práticas de autogestão, solidariedade e capacidade de produzir mudanças a partir da livre associação. Os estudiosos e os movimentos sociais que praticam este modelo econômico elencam como princípios da Economia Solidária: o princípio de autogestão, democracia, solidariedade, cooperação, respeito à natureza, comércio justo e consumo solidário. Com esse

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