• Nenhum resultado encontrado

Conceito e princípios da economia solidária

2 ECONOMIA SOLIDÁRIA E A EFETIVAÇÃO DO DIREITO SOCIAL E

2.1 A exclusão social no modelo econômico capitalista

2.1.2 Conceito e princípios da economia solidária

Depois de fazer uma abordagem histórica da Economia Solidária, no item anterior, cabe demonstrar o seu conceito e os seus princípios basilares, uma vez que ela tem sido tratada como o sistema econômico que veio amparar os trabalhadores excluídos do mercado do trabalho pelas exigências do sistema econômico e as inovações na produção. Veremos o que alicerça esse sistema e o que leva a crer que por meio da Economia Solidária o trabalhador pode garantir sua emancipação e melhorar suas condições de vida assim como da sociedade em que vive.

Então, assim como o processo de consolidação desse modelo econômico, a sua conceituação também veio mudando com o tempo. Conforme André Guélin (1998, p. 13) “é difícil de definir, pois durante um século e meio já serviu para referir- se a diversas realidades”. Segundo o referido autor, durante o século XIX ficou visível o embarque de todas as tendências políticas nessa “nova proposta”, lembrando que tanto os socialistas como os sociais-cristãos ou até mesmo os liberais criticaram o modelo econômico capitalista/ciência econômica, sensibilizados pelo custo humano da revolução industrial. Por não incorporar a dimensão social, Guélin (1998, p. 13) ao conceituar a Economia solidária ensina que

É composta de organismos produtores de bens e serviços, colocados em condições jurídicas diversas no seio das quais, porém, a participação dos homens resulta de sua livre vontade, onde o poder não tem por origem a detenção do capital e onde a detenção do capital não fundamenta a aplicação dos lucros.

Este conceito abrange as características básicas da economia solidária e sua finalidade. Jean-Louis Laville (1994, p. 211) caracteriza a Economia Solidária como um “conjunto de atividades econômicas cuja lógica é distinta tanto da lógica do mercado capitalista quanto da lógica do Estado”, conceitua assim justamente por valorizar o laço social e adotar formas comunitárias de propriedade enquanto o capitalismo se alicerça no individualismo e nas relações competitivas. O autor ainda diferencia a economia solidária da economia estatal, haja vista que essa pressupõe uma autoridade central e forma institucional de propriedade.

A Economia Solidária é usada de forma ampla em vários continentes com as mais variadas concepções, Laville e Gaiger (2009, p. 162) explicam que essas “concepções giram ao redor da ideia de solidariedade, em contraste com o individualismo utilitarista que caracteriza o comportamento econômico predominantemente nas sociedades de mercado”.

Na contemporaneidade, a Economia Solidária tem sido conceituada como "Uma forma inovadora de produzir, vender, comprar e trocar produtos e serviços." Em resumo, esse é o conceito da Economia Solidária baseada na cooperação entre os envolvidos. É solidária porque não deixa ninguém de fora: é um sistema econômico que oferece oportunidades de trabalho e renda para todos, sem distinção de classe social. Existem, portanto, muitos conceitos deste fenômeno que contraria o modelo econômico concorrencial e visa a construção de laços sociais e formas comunitárias de propriedade, todos eles com características importantes desse modelo. O conceito predominante usado no meio dos movimentos sociais que promovem a Economia Solidária é aquele que aponta o modelo como “modo de organizar a produção, distribuição e consumo, que tem por base a igualdade de direitos e responsabilidades de todos os seus participantes” (CONAES, 2007, p. 2).

Isso refere a organização de produção, de distribuição e os processos gerenciais com a participação de todos os sócios, ou seja, a autogestão que significa a participação democrática, com poder igual nas tomadas de decisões de todos os trabalhadores engajados no processo produtivo, o que supera a contradição entre o capital e o trabalho, onde o capital tem mais poder. Observa-se que todos esses conceitos levam a construção de uma economia onde o desenvolvimento social não seja visto como uma preocupação subsidiária, relegada a mecanismos compensatórios, mas sim uma economia que tenha a sua lógica fundamentalmente implicando na estimulação de cooperação e a reciprocidade, para o benefício da qualidade e da justiça social.

A partir dessa nova concepção de economia social é indiscutível a importância que a Economia Solidária assume em face das atividades econômicas que buscam uma “democracia econômica” associada à utilidade social, uma vez que

contraria o individualismo e o capitalismo que caracteriza o comportamento predominante da sociedade atual.

Nesse contexto, a Economia Solidária apresenta em seu bojo um elenco de princípios norteadores que permitem vigorar a cooperação, autonomia e gestão democrática. Estes princípios foram implantados pelos idealizadores do sistema cooperativista.

Os princípios pioneiros são provenientes da primeira cooperativa em Rochdale, nos arredores de Manchester, na Inglaterra, em 1844, formada inicialmente por 28 operários que se uniram para elaborar princípios que fundamentassem a sua forma de exercer atividades econômicas. (CORNELIAN, 2006). Foram elencados 8 princípios basilares.

O princípio do controle democrático onde se institui o sistema “um trabalhador/um voto”; o princípio da “porta aberta” aos novos membros; ter uma taxa de juros fixa ao capital emprestado; realizar a divisão das sobras de forma proporcional às compras de cada um na cooperativa; vender somente à vista para evitar endividamento dos sócios; consumir apenas produtos não adulterados (por uma questão de qualidade); empenhar-se na educação cooperativa e; por fim, o princípio da neutralidade religiosa e política da cooperativa. (SINGER, 2002).

É de ressaltar que essa cooperativa, chamada pelos “Pioneiros Eqüitativos”, tratava-se de uma cooperativa de consumo e os sócios desfrutavam de ganhos nas compras de mercadorias e serviços, essa realidade depois veio a mudar com o sucesso no desempenho do modelo implantado, trazendo outra realidade e acabando por abranger novas atividades, prestação de serviços e incorporando novos princípios, a exemplo de princípio do preço justo. Cornelian (2006) confirma essa tese ao afirmar que “estes princípios sofreram mutações e variações ao longo do tempo e das experiências cooperativistas, porém, ainda hoje, constituem-se como a grande base do cooperativismo em geral”. Justamente por causa destas mudanças ocorridas no princípio das sociedades cooperativas, Sergio Leal Rodrigues (2011, p. 25) leciona que

Estes princípios, em 1937, no Congresso da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), foram reunidos em cinco tópicos que passaram a caracterizar a sociedade cooperativa. Em 1966, no Congresso em Viena, Áustria, e em 1995, no Congresso Centenário da ACI, em Londres, Inglaterra.

Atualmente os princípios que norteiam as sociedades cooperativas são: adesão voluntária e livre, gestão democrática pelos membros, participação econômica dos membros, autonomia e independência, educação, formação e informação, intercooperação e, por último, a preocupação com a comunidade.

É importante ressaltar a importância de mencionar os princípios do cooperativismo quando se pretende chegar aos princípios da Economia solidária. Sobre isto, Paul Singer (2011) ressalta que a cooperativa é a forma clássica de Economia Solidária, existente há mais de duzentos anos. Sendo assim, fica evidente que os princípios da Economia Solidária e do cooperativismo estão interlaçados assim como seus modos de produção. Na contemporaneidade, a economia solidária passou a ser usada em diferentes tipos de organizações, não apenas nas cooperativas, por isso incorporou princípios próprios. Marcus Eduardo de Oliveira (2011) elenca os princípios da Economia Solidária como sendo:

A valorização social do trabalho humano; o reconhecimento do lugar fundamental da mulher e do feminino numa economia fundada na solidariedade; a busca de uma relação de intercâmbio respeitoso com a natureza, e os valores da cooperação e da solidariedade, um caminho que valoriza os seres humanos, independente da sua cor de pele, sexo, idade, orientação sexual, condição econômica ou cultural.

Segundo o autor, esses princípios alicerçam uma nova forma de fazer economia, construindo um mundo mais solidário, onde o indivíduo seja o foco. Singer (2002, p. 9) por sua vez, elenca como princípios básicos o “de propriedade coletiva, de liberdade individual e de autogestão”.

É de salientar, então, que na atualidade os princípios que fundamentam a Economia Solidária estendem-se às práticas de autogestão, solidariedade e capacidade de produzir mudanças a partir da livre associação. Os estudiosos e os movimentos sociais que praticam este modelo econômico elencam como princípios da Economia Solidária: o princípio de autogestão, democracia, solidariedade, cooperação, respeito à natureza, comércio justo e consumo solidário. Com esse

elenco de princípios fica evidente a intenção de um modelo econômico que visa o bem comum, preocupado com o trabalhador, com o consumidor do seu serviço e com a preservação do meio ambiente.

2.2 Acesso ao Trabalho, Geração de Renda e Promoção da Dignidade Humana

Documentos relacionados