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O Teatro de Bonecos de Chico Daniel.

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Academic year: 2021

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CENTRO DE CIÊNCIAS H U M A N A S , L E T R A S E ARTES D E P A R T A M E N T O DE HISÍÓRIA

O TEATRO DE BONECOS DE CHICO DANIEL

(2)

P Á G I N A C2

01 - I N T R O D U Ç Ã O G& 0 2 - 0 INTERCÂMBIO CULTURAL . «4

03 - A CULTURA P O P U L A R , PAU PRA TODA OBRA 11 04 - O TEATRO DE BONECOS FAZ A FESTA 17 05 - CHICO DANIEL O M A M U L E N G U E I R O S U R R E A L I S T A . 24

06 - AJ EIXOS 32 07 - RBEERÊJCIA BIBLIOORÁH CA 34

0 8 - B I B U Q C B A E I A 3 6 ,'t

(3)

O O p r e s e n t e estudo c o n s t i t u i uma visão geral da p r o b l e m á t i c a do teatro ds b o n e c o s de Chico D a n i e l , a p a r t i r de uma a n a l i s e da s w o l u ç i o da t é c n i c a , do d i n a m i s m o e das r e l a ç õ e s de C h i c o D a n i e l c o m seu p ú b l i c o e com outros p r o f i s s i o n a i s no campo d a s a r t e s .

,

t

/

A e v o l u ç ã o h i s t ó r i c a da t é c n i c a , d a s h a b i l i d a d e s , nao so tão l i g a d o s ao contato que tem C h i c o D a n i e l , com a r t i s t a no campo da m ú s i c a , do t e a t r o , da d a n ç a , mais também estão associadas, a sua vida urbana; sendo um homem do convivia d i á r i o u r b a n o , sempre eaàa t a n d o v i a j a n d o por v a r i a s d i d a d e s . A v e l o c i d a d e da vida u r b a n a , & o -«r- V d i n a m i s m o que o homem urbano foi o b r i g a d o a i n c o r p o r a i sua cultu r a . C h i c o D a n i e l levou para os seus p e r s o n a g e n s , Q o d e b o c h e de B a l t a z a r q u a n d o c o n v e r s a com o p r o f e s s o r , ^e^toda a e s p e r t e z a e uma fala cheia de nove horas como noa fala o proprio m a l a n d r o de Chico D a n i e l • o

f

' S e n d o um afctista popular do mais alto n í v e l , Chico D a n i e l tem seus a d m i r a d o r e s mais ligado a p e r i f e r i a da cidade do N a t a l , a p o p u l a ç ã o da e s p e r a n ç a fala de Chico D a n i e l com um grande A c a r i n h o L. • • / * -hico D a n i e l vive aqui na e s p e r a n ç a , e a maneira com que a popu

r ^ t laçao da esperança fala de Chico D a n i e l , ou seja(Chico Danie^J tor-n o u - s e um membro da comutor-nidade» Essa c a r a c t e r í s t i c a de um p ú b l i c oT

mais simples a a p a i x o n a d o , não impede que Chico D a n i e l leve ao de-lírio p r o f e s s o r e s e estudantes' u n i v e r s i t á r i o s , assim também como t u r i s t a s com ocorreu na RÍD Boneco 92 como nos relata Heloisa (es-t u d a n (es-t e de H i s (es-t ó r i a ) .

Sendo Chico D a n i e l f u n c i o n á r i o da Secretária de C u l t u r a e T u r i s m o da p r e f e i t u r a de N a t a l , orgao esse que p r o p o c i o n a <frhirrr"

( V ã à i ^ a p r e s e n t a r - s e quaée que d i a r i a m e n t e , em feiras de

artezana-t o s , em c o n s e l h o s c o m u n i artezana-t á r i o s , em e s c o l a s . Fazendo com que o granda número de a p r e s e n t a ç õ e s leva Chico D a n i e l a a p e r f e i ç o a r sua

t p c n i c a e t o r n a - s e um do3 c a l u n g u e i r o s mais populares do E s t a d o . Jf- b-yiZ*. o^-tstL )

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grande número de a p r e s e n t a ç õ e s lsve Chico D a n i e l a a p e r f e i ç o a r técnica e t o r n a - s e um dos c a l u n g u e i r o s maia p o p u l a r e s do Estado

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F a z e n d o uso do c o n c e i t o de C a r l o s E s t e v a m (1) c u l t u r a quer d i z e r tudo que nao é e x c l u s i v a m e n t e natureza e pas3a a s i g n i f i c a r p r a t i c a m e n t e tudo num mundo como o de h o j e . P a r a o n o s s o traba • lho não n o s c a b e fazer aqui um p a n o r a m a ou uma d i s c u s s ã o do tema cultura» o nosso interesse aqui é t r a b a l h a r com a c u l t u r a d e n t r o de uma p e s p e c t i v a que c h e g u e ao teatro de C h i c o D a n i e l .

F a l a n d o em c u l t u r a e s t a m o s falando em relação de troca de i n f o r m a ç õ e s , ou s e j a , a c u l t u r a humana evoluiu q u a n d o o homem co-m e ç o u a trocar i n f o r co-m a ç õ e s coco-m o u t r o s h o co-m e n s ou coco-m o u t r o s g r u p o s isto desde os t e m p o s das c a v e r n a s , q u a n d o nessa r e l a ç ã o de troca um dado i m p o r t a n t e é a questão da t r a n s f e r e n c i a de uma c u l t u r a * m a i s a v a n ç a d ô para uma outra menos a v a n ç a d a ; falamos aqui em cul-tura mais A m e n o s avançada porque e n t e n d e m o s que se todos os gru-p o s h u m a n o s que e n t r a r a m em c o n t a t o entre si e s t i v e s s e m no m e s m o e s t á g i o c u l t u r a l , o s d e s e n v o l v i m e n t o s das t é c n i c a s de p r o d u ç ã o por e x e m p l o , seriam b a s t a n t e d i f í c e i s . Entre e s s e s a v a n ç o s a p a r e c e m * as q u e s t õ e s que aqui t r a t a r e m o s como e s p e c i f i c a m e n t e c u l t u r a i s , c o m o : a m ú s i c a , a d a n ç a , o teatro e t c .

C o m o não p o d e m o s tratar as c u l t u r a s igualmente pelo fato de não°serem, i d e n t i f i c a m o s nas c u l t u r a s ^ c a r a c t e r í s t i c a s d i f e r e n -tes.*? jfcui vale ressaltar um dado i m p o r t a n t e ^ pelo fato de nlo e-x i s t i r para n ó $ uma c u l t u r a superior e uma i n f e r i o r . V e m o s nas c u l t u r a s q u a l i d a d e s de a d a p t a ç õ e s , onde aqui q u a l i f i c a m o s de cul-t u r a s m e l h o r e s a q u e l a s que servem mais para uma p o p u l a ç ã o em um d e t e r m i n a d o espaço t e m p o r a l ou g e o g r á f i c o . P a r t i n d o d e s s e concei-to de c u l t u r a m e l h o r , vale aqui ressaltar um outro p o n t o , nos e b a s t a n t e p a t e n t e a s u b s t i t u i ç ã o de uma cultura por outra em todos os p e r í o d o s da h i s t o r i a da humanidade*

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Q u a n d o um d e t e r m i n a d o povo e n c o n t r a v a - s e d i a n t e de uma no-va c y l t u r a , s e n d o - l h e mais útil que seus c o n h e c i m e n t o s a n t e r i o r e s ele não tinha d ú v i d a , substituía sua c u l t u r a a n t e r i o r por aquela n o v a .

C o m o exemplo p o d e m o s usar a s u b s t i t u i ç ã o dos rolos de per-g a m i n h o m a n u s c r i t o s pelo papel vindo da c u l t u r a c h i n e s a , ou s e j a , no d i z e r de T h o m a s Soujell " Os l i v r o s não são a p e n a s

diferen-t e

tes d o s rolos de p e r g a m i n h o , eles são melhores.1 1 C o m o as c a r a c t e

-r í s t i c a s e x i s t e m pa-ra satisfaze-r as n e c e s s i d a d e s de uma d e t e -r m i n a da á r e a , região ou p o v o , no caso do p e r g a m i n h o por m a i s r o m â n t i c o que seja e s c r e v e r ou ler um p e r g a m i n h o , o i m p o r t a n t e aqui é que pa ra aquela p o p u l a ç ã o que entrou em c o n t a t o com o p a p e l , a q u e l e nao mais lhe seria tão útil quanto p r á t i c o para suas n e c e s s i d a d e s .

T r a ç a n d o uma relação das v á r i a s a t i v i d a d e s c u l t u r a i s huma-n a s huma-n b t a r - s e - á como á d i huma-n a m i c a a cultura e suas r e l a ç õ e s ; esse 1

p r o c e s s o chega a tal d i n a m i s m o que p o d e m o s f a c i l m e n t e fazer ura pa r a l e l o entre o p r o c e s s o de troca entre o c o m é r c i o e a i n d ú s t r i a . H o j e como no i n í c i o , na época da r e v o l u ç ã o i n d u s t r i a l , onde uma nova i n v e n ç ã o gerava a c o m p e t i t i v i d a d e dando início a n o v a s des-c o b e r t a s ou i n v e n ç õ e s . F a l a m o s em des-c o m p e t i t i v i d a d e p o r q u e para a c u l t u r a ela e f u n d a m e n t a l , assim como em q u a l q u e r a t i v i d a d e huma-na; t a m b é m na c u l t u r a existe essa c o m p e t i t i v i d a d e , sendo ela fun-d a m e n t a l para o a v a n ç o fun-da m e s m a . N a s s o c i e fun-d a fun-d e s h u m a n a s , aquilo 1

que não mais s a t i s f a z as n e c e s s i d a d e s daquela p o p u l a ç ã o será subs t i t u í d a por uma o u t r a , o não útil d e s a p a r e c e r á . E s s a c o m p e t i t i v i -d a -d e e tão util que no -dizer -de T h o m a s Souiell (3) " A competição* c u l t u r a l faz o avanço h u m a n o , falando de supremacia c u l t u r a l , a

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p r i m e i r a vista parece que e s t a m o s falando de c u l t u r a s s u p e r i o r e s e i n f e r i o r e s , p o r e m a nossa i n t e n ç ã o nem de longe passa por rs -f o r ç a r e s s e s c o n c e i t o s . O certo e que não existe s u p r e m a c i a de uma c u l t u r a sobre outra;:a c u l t u r a , os v a l o r e s , os c o n h e c i m e n t o s são l i m i t a d o s t e m p o r a l e geograficamente« G c o n h e c i m e n t o h u m a n o1

a c u m u l a d o em c o m p u t a d o r e s , e n e r g i a nuclear e t c , não dao c o n d i çoes de fazer um homem p o r t a d o r d e s s e s c o n h e c i m e n t o s j s o b r e v i v e r na selva a m a z ô n i c a por e x e m p l o , ou s e j a , o c o n h e c i m e n t o do nati-vo não e so d i f e r e n t e para aquela s i t u a ç ã o , ele e m e l h o r .

A linha mestra de nossa d i s c u s s ã o aqui e a d i f e r e n ç a de c u l t u r a s e a d i s t a n c i a entre e l a s . As c u l t u r a s vão e v o l u i n d o e p a r a isso c o n t r i b u e m v á r i o s f a t o r e s , a l g u n s deles já c i t a d o s nes se t r a b a l h o como : o c o n t a t o entre os p o v o s . . . O i m p o r t a n t e aqui á que a c u l t u r a v a i e v o l u i n d o e a g e r a ç ã o c o n t e m p o r â n e a não tem »

c u l p a d i s s o , ala s i m p l e s m e n t e recebe os frutos do a c ú m u l o de in-f o r m a ç õ e s a d q u i r i d o por v á r i o s anos; isto e in-f u n d a m e n t a l , caso * G o n t r á r i o cada nova geração teria que manter ou ter n o v o s conta-tos para a d q u i r i r os c o n h e c i m e n t o s que a q u i no caso seriam acumu l a d o s .

T a l a n d o ainda de d i v e r s i d a d e c u l t u r a l e de t r o c a s de cul-t u r a s encul-tre os p o v o s . O o i s poncul-tos m e r e c e m d e s cul-t a q u e : o p r i m e i r o ' e s t á ligado a q u e s t ã o g e n é t i c a , onde c o m base em c o n c e i t o s a r c a i c o s , a l g u m a s p e s s o a s ( p o p u l a r e s ) e atá a c a d ê m i c o s tratam g r u p o s c o m o mais aptos a d e t e r m i n a d a atividade do que o u t r o s , dado que e v e r d a d e i r a m e n t e i m p r o v á v e l . G erro c o n s i s t e em q u a l i f i c a r es-s a es-s h a b i l i d a d e es-s a fatorees-s g e n é t i c o es-s . Ora um d e t e r m i n a d o grupo o q u a l se encontra hoje c a p a c i t a d o para cumprir ou fazer d e t e r m i n a do t r a b a l h o , seja ele i n t e l e c t u a l ou m a n u a l , com c e r t e z a essa

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h a b i l i d a d e está ligada ao acúmulo de i n f o r m a ç o e s a d q u i r i d a s via a troca de informação de geração a g e r a ç ã o . 0 certo s que a c u l t u r a não está ligada a q u e s t ã o de cunho g e n é t i c o em caso a l g u m .

0 segundo ponto é o r e l a c i o n a d o ao meio a m b i e n t e , a s s i m co-mo a genética ele tem sim i n f l u e n c i a s sobre a3 a t i v i d a d e s cultu * r a i s , p o r é m numca irá d e t e r m i n a r o nível c u l t u r a l de um povo._

A cultura e s t á ligada não só ao g r u p o , mas p a r t i c u l a r m e n t e ao i n d i v í d u o , essa ligação é tão forte que é i m p o s s í v e l , e p o d e -m o s fazer uso desse t e r -m o , pois para q u a l q u e r parte que vá o in-d i v í in-d u o levará c o n s i g o suas r a í z e s c u l t u r a i s . Essa h e r a n ç a cultu-ral levada pelo i n d i v í d u o é tão forte que qualquer novo c o m p o r t a * m e n t o que ele venha a d q u i r i r e s t a r á a c o m p a n h a d o de sua h e r a n ç a an t e r i o r .

C o m essas a f i r m a ç õ e s de que o homem não c o n s e g u e fugir de s u a s origens c u l t u r a i s , não p r e t e n d e m o s d e i x a r uma falsa idéia de que o homem é um escravo de sua c u l t u r a ; não,apesar de ser verda-d e a relação verda-do homem com suas h e r a n ç a s c u l t u r a i s , à sua cultura* é o resultado de sua vontade p r ó p r i a . 0 homem é quem traça os ca-m i n h o s por ele s e g u i d o , ele teca-m d o ca-m í n i o sobre aquilo de que necee sità;;. 0 homem decide sua c u l t u r a .

Não sendo o homem escravo de sua c u l t u r a , muito pelo con-t r á r i o , con-tendo o d o m í n i o sobre ela; essa vai exiscon-tir para a con-t e n d e r1

as n e c e s s i d a d e s v i t a i s da vida h u m a n a . A d i f e r e n ç a vai rondar a q u e s t ã o , q u a i s as n e c e s s i d a d e s humanas? A cultura r e s p o n d e r á a es sa q u e s t ã o . P a r a uma sociedade mais d e s e n v o l v i d a , teremos como ' resposta uma c u l t u r a mais d e s e n v o l v i d a . P a r a as s o c i e d a d e s que vi vem i s o l a d a s , t e m o 3 uma cultura menos d e s e n v o l v i d a . F a z e m o s aqui

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toa no nordeste b r a s i l e i r o , ele vai i d e n t i f i c a r u p n - de imediato c o m o homem do s e r t ã o , c o m os c o s t u m e s desse homem da r o ç a , c o m1

o v a q u e i r o B principalmente com os poetas e cantadores desse ser tão de D e u s ,

C h i c o D a n i e l n ã o , p a r t i n d o da forma mais t r a d i c i o n a l , o u , c h e g a n d o de forma c o r r i q u e i r a no mundo do rnamulengo, v a i r o m p e r1

e s s a t r a d i ç ã o rural da arte dos b o n e c o s e vai em busca da vida u r b a n a ; ele cria uma vida urbana para uma arte t r a d i c i o n a l m e n t e1

r u r a l . Ele é á prova c o n c r e t a de uma troca perfeita e n t r e cultu-r a s d i f e cultu-r e n t e s ; em seu tcultu-rabalhoívoce) vecultu-r p e cultu-r f e i t a m e n t e a figucultu-ra1

do homem rústico do meio rural e ver também o homem rústico do m e i o u r b a n o . C h i c o D a n i e l trouxe a t é c n i c a dos b o n e q u e i r o s tradi c i o n a i s e juntou a isso a velocidade e a dinâmica da vida u r b a n a . H o j e , o s p e r s o n a g e n s do trabalho de C h i c o D a n i e l m a n t ê m os nomes d o s "bonecos t r a d i c i o n a i s , com um d e t a l h e , seus b o n e c o s não são m a i s d a q u e l e homem do c a m p o , aquele homem t r a b a l h a d o r da r o ç a , e s s é s bonecos, migraram junto com o seu d o n o , eles aao p e r s o n a g e n s1

da v i d a urbana»

C o m o prova concreta dessa m i g r a ç ã o dos p e r s o n a g e n s de C h i c o D a n i e l v a m o s u t i l i z a r , como e x e m p l o , o p e r s o n a g e m B a l t a z a r , q u e sem medo de errar é um dos p e r s o n a g e n s mais f a m o s o s do mundo d o teatro de b o n e c o s .

0 B a l t a z a r dos m a m u l e n g u e i r o s t r a d i c i o n a i s n o r m a l m e n t e 1

d i s c u t e e entra em cena com v a q u e i r o s , com homens} do meio r u r a l . 3 a o B a l t a z a r de C h i c o D a n i e l é um homem que migrou para o mundo u r b a n o , ele entra em c e n a d i a l o g a n d o com b o ê m i o s , c o m m a l a n d r o s , c o m p r o f e s s o r e s e p e r s o n a g e n s do m u n d o u r b a n o .

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B a l t a z a r de C h i c o D a n i e l é o r e s u l t a d o da m a r a v i l h a que é o e n c o n t r o d a s culturas»

*

(11)

C U L T U R A P O P U L A R , PAU PRA TGDA GBRA

»

T r a g a r m o s de t e a t r o de b o n e c o s , que é uma das mais belas a r t e s p o p u l a r e s , d e n t r o da chamada c u l t u r a popular e , nao fazer-mos uma r e f e r e n c i a , ou m e l h o r , t r a ç a r m o s alguns c o n c e i t o s do que é s , como se c o l o c a o teatro de Chico D a n i e l na c u l t u r a p o p u l a r , ^

f

no mínimo uma falta de respeito para com a c u l t u r a de todo um po-vo , que vem sendo a c u m u l a d a d u r a n t e s é c u l o s .

A p r i m e i r a relação que f a z e m o s cora a c u l t u r a p o p u l a r e a c u l t u r a que aí est^J para efeito de n o m e n c l a t u r a v a m o s denomina -la de c u l t u r a a c a d é m i c a . E n q u a n t o a c u l t u r a a c a d é m i c a é a c u l t u r a da d o m i n a ç ã o , a c u l t u r a da v i o l ê n c i a , da r e p r e s s ã o , a c u l t u r a do f a z e r c e r t o ou estar p e r d i d o ; temos na c u l t u r a p o p u l a r uma cultu-ra de r e s i s t ê n c i a , onde o homem do povo faz dela a sua maior arte o seu g r a n d e e n s i n a m e n t o , isso tanto no seu modo de p r o d u z i r sua s u b s i s t ê n c i a , como nos c o n c e i t o s f i l o s o f i c o s e nas v a r i a s formas de e d u c a ç ã o do p o v o .

T r a t a n d o aqui a c u l t u r a popular como uma fonte de resistên cia do homem do p o v o , f i c a - n o s bastante c l a r o que ha um inimigo . Ha alguma coisa para d e f e n d e r , ha com quem lutar e essa b a t a l h a é feita no d i a - à - d i a ; no caso do t e a t r o de b o n e c o s , que é o que nos i n t e r e s s a m a i s , ele tem como musa i n s p i r a d o r a para a luta o seu m a i s i m p o r t a n t e p e r s o n a g e m , que é o p ú b l i c o ; é certo que a n t e r i o r ao p ú b l i c o , o teatro de bonecos como um grande lutador da arte po p u l a r tem que lutar p r i m e i r a m e n t e p e l o s e s p a ç o s J Ê é s s a luta é me -nos d o l o r o s a já q u e ^ o bonequeiro é um homem da r u a , do m u n d o de D e u s no dizer 6$ (ftvico D 6 ) .

S a b e n d o da força que tem a arte p o p u l a r , é muito c o m u m se ver a grande imprensa tentando manipular essa a r t e , para que ela c o m o d i r e m o s , fique no seu l u g a r , ou s e j a , quando ela a p a r e c e na

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g r a n d e i m p r e n s a e vista como algo que só f o i feita para ser vista e o pior é que tentam m o s t r a r m o s que ela é feita por p e s s o a s que v i v e m num outro m u n d o , como se o a r t i s t a popilar fo"sse um monge ' da a r t e , como se ele não n e c e s s i t a s e s o b r e v i v e r , é como se o amor p e l a arte fosse o s u f u c i e n t e para sua s o b r e v i v ê n c i a , a prova ma-ior d i s s o e que o a r t i s t a p o p u l a r vive por aí sem ter do que so-b r e v i v e r , so-basta a n d a r m o s nas rua3 e v e r e m o s aos m o n t e s , c o m 3eus b o n e c o s , p a n d e i r o s e e n b o l a d o s , seus t r u q u e s e sua m a g i a .

T e n d o sido o a r t i s t a p o p u l a r jogado em um s e g u n d o ou sabe-rá em que p l a n o foi ele jogadoj É b a s t a n t e f r e q ü e n t e ver-se atos de p a t e r n a l i s m o para c o m o a r t i s t a p o p u l a r , como se ele p r e c i s a s -se de f a v o r e s .n0 artista popular p r e c i s a a de e s p a ç o p a r a

traba-lhar" como nos diz o diretor de teatro Di^nior ( 7 ) . L i g a d o ao par-t e r n a l i s m o vem sempre junpar-to um preço mwipar-to a l par-t o . Ispar-to é , q u a n d o se p r o c u r a o a r t i s t a popular para que ele faça seu t r a b a l h o , e o caso da u t i l i z a ç ã o dos a r t i s t a s p o p u l a r e s para a p r o p a g a ç ã o do poi p u l i s m o d o s g o v e r n o s , ou ainda nas c a m p a n h a s e l e i t o r a i s . £ muito c o m u m v e r - s e v á r i o s a r t i s t a s p o p u l a r e s a p r e s e n t a n d o - s e nas campa-n h a s p o l í t i c a s , para c a campa-n d i d a t o s de t o d o s os campa-n í v e i s . 0 c e r t o e que sendo p a r a eleger a l g u m c a n d i d a t o , ou p a r a s a t i s f a z e r os d o t e s fjl l a n t r ó p i c o s de d o n d o c a s e p o l í t i c o s i n c o m p e t e n t e s , o i m p o r t a n t e á q u e a c u l t u r a p o p u l a r e s t á p r e s e n t e no d i a - a - d i a d a s p e s s o a s , pa-ra o n d e v o c ê vá,com c e r t e z a e n c o n t r a r á r e t r a t o s da c u l t u r a e do a r t i s t a p o p u l a r , seja nas p r a ç a s , nos ô n i b u s , nas f i l a s , onde e -x i s t i r um a g l o m e r a d o de p e s s o a s , com c e r t e z a , e -x i s t i r á a l i a mão da arte p o p u l a r .

(13)

de-a l i e n de-a ç ã o , já que de-a culturde-a populde-ar não de-a l i e n de-a , m u i t o pelo contrde-a r i o , ala faz despertar o cidadao que existe d e n t r o do p o v o ; um da do i m p o r t a n t e que reforça nossa tese e a p e r s e g u i ç ã o dos milita • res aos a r t i s t a s p o p u l a r e s , p r i n c i p a l m e n t e os p r o d u t o r e s da arte de c o r d e ^ ^ d u r a n t e o período m i l i t a r ^ ^ n ú m e r a s p r o d u t o r a s dessea c o r d é i s f o r a m f e c h a d a s .

Q u a n d o ao p a s s a r pela rua alguém v e ^ um e m b o l a d o r de c o c o , um v i o l e i r o ou um b o n e q u e i r o , acha que aquilo e de mau g o s t o , in-d i g e s t o , i n e f i c a z , e r r a in-d o , i m o r a l , p i t o r e s c o ; com c e r t e z a esse 1

c o m p o r t a m e n t o só á j u s t i f i c a d o pelo fato d e l a ^ n l n fato rtalnj nun-ca ter lido um poema de Celso da S i l v e i r a ou ter o p r a z e r de ver os bonecos de C h i c o D a n i e l em c e n a , e como diz R a u l S e i x a s "falta c u l t u r a para c u s p i r na e s t r u t u r a " ( 8 ) .

Nao q u e r e n d o fazer um p a r a l e l o nas várias formas de c o n c e i t u a r . c u l t u r a , já que nao á o intuito do nosso t r a b a l h o , p o r e m tem um dado que na minha opinião á quem melhor define c u l t u r a e , por sua v e z , o artista p o p u l a r £ ^ £ o os c o n o e i t o s básicos de fazer e s a b e r , c o n c e i t o s e s s e s que estão l i g a d o s tanto a c u l t u r a popular* como ao artista do p o v o , ou s e j a , o artista popular e o seu pró-p r i o pró-p r o d u t o r , e ele quem pró-produz seu m a t e r i a l de t r a b a l h o , q u e m se

o

auto f i n a n c i a , quem faz sua d i v u l g a ç ã o . Na arte p o p u l a r o artista e o faz t u d o , isso nos mostra uma de 3uas mais i m p o r t a n t e s face -t a s , o n d e o ar-tis-ta -tem suas c a r a c -t e r í s -t i c a s d e f i n i d a s desde a ofi c i n a ; p o d e m o s a p r o v e i t a r esse espaço onde e s t a m o s t r a t a n d o da pro d u ç ã o e execução do t r a b a l h o na c u l t u r a popular e v a m o s tentar a-q u i traçar um p a r a l e l o com o teatro de b o n e c o s . V a m o s tentar aa-qui a p a r t i r da figura seca do b o n e c o , i d e n t i f i c a r as c a r a c t e r í s t i c a s

(14)

do a r t i s t a . A P r i n c í p i o , vamos u t i l i z a r um p e r s o n a g e m de Chico D a n i e l , no caso o Baltazar.( ver foto 01 ) , não q u e r e m o s fazer a q u i um p e r f i l p s i c o l ó g i c o do p e r s o n a g e m B a l t a z a r ; se o l h a r m o s1

p a r a esse b o n e c o , p r o d u z i d o por Chico D a n i e l , p e r c e b e r e m o s logo que e i ^ d i f e r e dos outros b o n e c o s , ou s e j a , dos b o n e c o s de o u -tros a r t i s t a s p o p u l a r e s ; o B a l t a z a r de C h i c o D a n i e l e um homem1

de t r a ç o s u r b a n o s , ele tem os c a b e l o s de corte estilo militar e os t r a ç o s d e l i c a d o s ; seria essa a leitura do a r t i s t a em relação ao h o m e m urbano? Se o l h a r m o s outros bonecos ( foto 02 ),veremos a í uma c a r a c t e r í s t i c a quase i d ê n t i c a , onde os b o n e c o s são de t r a ç o s mais r u d e s , como e do p e r f i l do homem t r a b a l h a d o r do ser tão n o r d e s t i n o . V o l t a r e m o s a d i s c u t i r esse aspecto mais na fren t e , q u a n d o f a l a r e m o s e s p e c i f i c a m e n t e de C h i c o D a n i e l .

F i z e m o s esse p a r a l e l o , onde u s a m o s os b o n e c o s para rati-f i c a r a d i rati-f e r e n ç a básica da c u l t u r a popular para a outra cultu-r a .

o

A c u l t u r a p o p u l a r e um t o d o , o homem p r o d u t o r dela apre-s e n t a - apre-s e por inteiro; ela é para o homem do povo apre-sua válvula de e s c a p e e , e por meio dela que ele se r e p r o d u z , r e c i c l a e entra1

em h a r m o n i a c o m a s o c i e d a d e .

£ c o m u m ouvir de p o p u l a r e s e ate de f i g u r a s respeitadas^ r e l a t o s sobre a arte popular e o teatro de b o n e c o s , como se fosse algo criado num p a s s a d o remoto e , que esse p a s s a d o

perma-n e c e s s e f i x o , perma-na figura do artista p o p u l a r ; ; p a r e c e - perma-n o s ate que a vida do a r t i s t a popular e um q u a d r o na p a r e d e , onde você tem um e n c o n t r o marcado com o p a s s a d o . A arte P O P U L A T e a arte

(15)

c o l o c o u na c o n t e m p o r a n e i d a d e da vida culta da nossa sociedade» A p r o d u ç ã o popular não recebe nenhuma v a l o r i z a ç ã o , fica jogada a algo de mera c u r i o s i d a d e , é coisa do povo para satis-fazer a i n t e l e c t u a i s a t u r i s t a s , no m í n i m o p i t o r e s c o s .

0 artista popular é , m a i s do que n i n g u é m , um h o m e m Í .do p r e s e n t e , que vive da p e r c e p ç ã o do seu d i a - â - d i a , ele nos mos t r a a t r a v é s de sua c u l t u r a s cara e a c o r a g e m do p o v o , nas T

s u a s a t i v i d a d e s de s o b r e v i v ê n c i a e luta c o n t r a a o p r e s s ã o da c l a s s e d o m i n a n t e e , na batalha da luta pela vida f r e n t e a so-c i e d a d e so-c a p i t a l i s t a que nao lhe deu so-c o n d i ç õ e s de atingir pata m a r e s , e x c l u s i v o s da classe d o m i n a n t e .

® E n q u a n t o a classe d o m i n a n t e trata a cultura p o p u l a r de f o l c l o r e , i r o n i c a m e n t e é ela a que melhor serve como fonte de i n s p i r a ç ã o , a í ela passa a ser a grande fonte f o l c l ó r i c a para o teatro e os a r t i s t a s p o p u l a r e s .

Se " D sonho que se sonha junto é realidade "(lffl ) , a c u l t u r a p o p u l a r é o grande sonho real da p o p u l a ç ã o ; é por me-io da c u l t u r a popular que o artista tira por a l g u n s m i n u t o s o sonho amargo da vida real do p o v o , a t r a v é s da c u l t u r a p o p u l a r uma p a r c e l a da p o p u l a ç ã o , que a s o c i e d a d e c a p i t a l i s t a lhes ti rou o d i r e i t o de s o n h a r , passa a viver um sonho real ou uma 1

r e a l i d a d e s o n h a d a .

A

P a r a quem v e ^ ou pensa a c u l t u r a p o p u l a r como um ins -t r u m e n -t o p a r a d o , c o l o c a m o s , a q u i , p e n s a r por que? P e n s a r que a G u l t u r a popular natí está em c o n s t a n t e m u d a n ç a é nunca ter as-s i as-s t i d o a a p r e as-s e n t a ç ã o de um artias-sta p o p u l a r , nunca teve a s o r t e ou o p r a z e r de receber i n f o r m a ç õ e s de uma forma d i n â m i

(16)

-16

c a , ou s e j a , a c u l t u r a popular t r a n s m i t e para a p o p u l a ç ã o que a a s s i s t e , ou m e l h o r , para seus c o n s u m i d o r e s , além de dar e abrir e s p a ç o para sua p a r t i c i p a ç ã o e , por sua v e z , de sua c o n s c i ê n c i a p o l í t i c a , ela se a p r e s e n t a como um i n s t r u m e n t o d e . p r o m o ç ã o . do homem»

G o m o parte f i n a l nessa nossa d i s c u s s ã o sobre a c u l t u r a ' p o p u l a r , gostariaf^cle d B i x a r uma coisa bastante c l a r a , a c u l t u r a p o p u l a r não é nem nunca tentou ser p o p u l i s t a , o povo não é uma meta a a t i n g i r , pois ele e a arte popular não 390 c o i s a s separa d a s , eles são a mesma coisa*

A arte p o p u l a r e a c u l t u r a por ela t r a n s m i t i d a não é de-m a g ó g i c a ; a voz do artista popular nunca fala o que as pessoas* p r e c i s a m o u v i r , a voz do artista grita com toda a garra o mais l e g í t i m o s e n t i m e n t o h u m a n o .

P a r a a c a b a r , ora se a revolução for uma luta por s o n h o s , a arte p o p u l a r é a forma mais legítima do trabalho r e v o l u c i o n á -rio(lI? ) .

(17)

£. teatro de b o n e c o s , é João R e d o n d o , é m a m u l e n g o , e se cojr eer pra P a r a í b a virá B a b a u . Em cada lugar tem um n o m e , cada povo

rr\i

t r a b a l h a de forma d i f e r e n t e . 0 i m p o r t a n t e e q u e l a r a J d n d e quer que v o c ê vá e n c o n t r a r á um boneco para que você possa viver o mundo rjB ai do sonho que é o e s p e t á c u l o dos m a m u l e n g u e i r o s , b o n e q u e i r o s ou q u a l q u e r outra d e n o m i n a ç ã o que se dê a e s s e s gênios que são os ar-t i s ar-t a s p o p u l a r e s , do mundo mágico do ar-teaar-tro de bonecos-.

L u í s da Camara C a s c u d o nos fala da p r e s e n ç a do t e a t r o d e ho n a c o s na c i d a d e de P o m p e i a , ele relata em sua o b r a , o d i c i o n á r i o ' do f o l c l o r e B r a s i l e i r o , que o teatro de bonecos existe d e s d e tem-pos remotos (12)). M a r i a Clara M a c h a d o , em seu t r a b a l h o , (p-omo fazer

e a t r i n h o de ^bnecos^, traça o c a m i n h o p e r c o r r i d o pelo teatro de b£ necoa^* ífegundo ela o teatro de bonecos vem sendo u-tilizado de for-ma m i l e n a r por c i v i l i z a ç õ e s o r i e n t a i s como a C h i n a , 3 a p ã o , fndia e r

-e t c . ( l i ) . /{ |f

3a D e í f i l o G u r g e l , em seu livro J o ã o R e d o n d o , diz quef lo teai

tro de bonecos teria c o m e ç a d o a e x i s t i r nas mais remotas c i v i l i z a -ç õ e s da Ásia e , de lá m i g r a d o p a r a a E u r o p a , a t r a v é s da T u r q u i a " . ( T 4 ) . C o m a m i g r a ç ã o do t e a t r o de b o n e c o s e , pelo c a m i n h o p e r c o r r i

*

d o , ele foi i n c o r p o r a n d o novos c o s t u m e s , uma nova forma de ser.Com essa viagem o teatro de bonecos passa de p o p u l a r a p a l a c i a n o ; c o m a sua c h e g a d a na E u r o p a , ele se torna uma arte t i p i c a m e n t e l i g a d a a c l a s s e d o m i n a n t e ; era comum ou ate i n d i s p e n s á v e l , os s o b e r a n o s em seus p a l á c i o s , para as horas de l a z e r , a s s i s t i r e m a a p r e s e n t a ç ã o 1

dos b o n e c o s .

C a m i n h a n d o de mãos dadas com o homem de todas as p a r t e s e , ora sendo tratado com p o m p o s i d a d e , ora como profano e i m o r a l ,

(18)

cha-18 g a n d o m e s m o a sbt p r o i b i d o , por a l g u n s p e r í o d o s , em d e t e r m i n a d o s lu g a r e s . N o seu c a m i n h o , t e n d o uma o r i g e m l i g a d a ao h o m e m r u d e e , chjs g a n d o a o s s a l õ e s p a l a c i a n o s , o t e a t r o de b o n e c o s c a m i n h a na tentat^i va d e c o n s e g u i r m e l h o r e s c o n d i ç õ e s d e vida j u n t o ao a r t i s t a p o p u l a r ; r o m p e r os m a r e s e c h e g a r as A m é r i c a s , sua c h e g a d a ao B r a s i l nao se s a b e c e r t a m e n t e sua d a t a p r e c i s a . No B r a s i l e l e c h e g o u c o m o c o l o n i z a d o r ; os í n d i o s b r a s i l e i r o s não f a z i a m uso d o s b o n e c o s n a s s u a s a-t i v i d a d e s c u l a-t u r a i s . A s p r i m e i r a s n o t í c i a s , s e g u n d o B o r b a F i l h o -(15), f o r a m p u b l i c a d a s no j o r n a l de R e c i f e em 1 B 9 6 . 3a o p o t i g u a r J o s é B e z e r r a , antja c e d e e s s a i n f o r m a ç ã o , d a t a n d o - a de 1 8 1 0 ( 1 6 ) . A c h e g a d a do t e a t r o de b o n e c o s no B r a s i l é , p o r sua v e z , no n o r d e s t e b r a s i l e i r o ; v a l e l e m b r a r d o i s p o n t o s i m p o r t a n t e s : em p r i m e i r o l u g a r , a q u i no n o r d e s t e ele v o l t a a sua qftUgem p o p u l a r e p e r -d e a p o m p o s i -d a -d e p a l a c i a n a , volta a c o n v i v e r c o m o h o m e m r ú s t i c o , s

*

s o n h a d o r ,quB aqui tentava um lugar para fazer uma nova v i d a .

E n q u a n t o o h o m e m p r o c u r a v a urna n o v a v i d a , o t e a t r o de b o n e -c o s v a i , a q u i no n o r d e s t e , e n -c o n t r a r -c o m sua v e r d a d e i r a o r i g e m , ele

m a i s f o r m a d o por p r í n c i p e s , p r i n c e s a s e s o b e r a n o s , a q u i e l e e s t a r a1

( r e t o r n a d a p e r t e n c e r a c u l t u r a p o p u l a r ; no n o r d e s t e , o p u b l i c o não e

ao l a d o do h o m e m do p o v o . 0 s e g u n d o p o n t o , q u e e uma c o n s e q u ê n c i a 1

d o p r i m e i r o , é q u e e s t a n d o ele l i g a d o ao h o m e m do p o v o , não vai d e i m e d i a t o r e c e b e r a a t e n ç ã o da c l a s s e d o m i n a n t e , d a í n o s c h a m a r m o s ji t e n ç ã o p a r a as d a t a s , n o t i f i c a d a s t a n t o por B o r b a F i l h o c o m o p e l o r o m a n c i s t a p o t i g u a r 3 o s é B e z e r r a G o m e s ( 1 ^ ) . S e o t e a t r o d e b o n e c o s no n o r d e s t e e s t a v a no m e s m o p a t a m a r de i m p o r t â n c i a do h o m e m do p o v o , c e r t a m e n t e e l e não r e c e b i a n e n h u m v a l o r , a s s i m c o m o não era v a l o r i

(19)

-v i o l a , no c a s o dos c a n t a d o r e s e os p a n d e i r o s , pelos e m b o l a d o r e 3 de c o c o . 0 p e s s o a l do c o r d e l , arma um v a r a l e vao g r i t a n d o seus ver -s o -s para a t r a i r o-s c o m p r a d o r e -s ; -sem c a n t a r , o-s m á g i c o -s , o-s v e n d e d ^ res de r e m é d i o s m i l a g r o s o s fazem a p r e s e n t a ç õ e s como forma de aglu-tinar as p e s s o a s .

No caso do teatro de b o n e c o s , o a r t i s t a para a p r e s e n t a r - se tem que ficar e s c o n d i d o do p ú b l i c o , o a r t i s t a arma sua tolda ou

( . —

t o l d o ( e um tecido preso em v a r a s , que formam um q u a d r a d o , onde o m a m u l e n g u e i r o fica d e n t r o ) e , d a l i , com suas m ã o s , m a n u s e i a os bone

C O S

Qs a r t i s t a s p o p u l a r e s , na sua grande m a i o r i a , tem um conta-to c o r p o - a - c o r p o com o p ú b l i c o , onde ele faz uso do c o n t a t o para 1

pedir c o n t r i b u i ç õ e s . No caso de u s a r - s e a técnica da rodada dB cha péu o u , s i m p l e s m e n t e , vende suas m e r c a d o r i a s .

^No t e a t r o de b o n e c o s , o artista fica e s c o n d i d q , o c o n t a t o 1

com o p ú b l i c o fica por conta dos b o n e c o s , não ficando para o artis ta p o s s i b i l i d a d e de fazer uso da t é c n i c a da rodada de c h a p é u , por e x e m p l o , nesse caso n o r m a l m e n t e , o b o n e q u è i r o se a p r e s e n t a por cojn trato; é quando uma d e t e r m i n a d a pessoa da c o m u n i d a d e c o n v i d a o te_a tro de b o n e c o s para a p r e s e n t a r - s e , essa é , c o r r i q u e i r a m e n t e , a ma-neira mais utilizada p e l o s artistas do teatro de b o n e c o s , 8 a de ao c h e g a r em uma c o m u n i d a d e q u a l q u e r , o artista p r o c u r a um e s p a ç o , e c o b r a n d o um i n g r e s s o , vai ganhando o seu s u s t e n t o .

S e g u n d o Chico D a n i e l , a melhor m a n e i r a de t r a b a l h a r é ; por via de c o n t r a t o (19/), pois o artista ja vai trabalhar sabendo quari to vai ganhar; o a r t i s t a tem g a r a n t i d o seu g a n h o .

(20)

rece-21

be n o m e s d i v e r s o 3 c o n f o r m e a região ou cidade que a t u e m ; em P e r n a m -buco eles sao c h a m a d o s por m a m u l n g u a i r o s , na P a r a í b a t i t e r i t e i r o s ,

«v ' no Rio Grand© do M o r t e sao c o n h e c i d o s por c a l u n g u e i r o s . 0 c e r t o e

que o a r t i s t a popular recebe do povo a d e n o m i n a ç ã o que m e l h o r se i-* d e n t i f i e a com a realidade e com a c u l t u r a de cada povo*

As p r i m e i r a s a p r e s e n t a ç õ e s de b o n e c o s que se tem n o t í c i a s no n o r d e s t e do B r a s i l , estão ligados as f e s t a s r e l i g i o s a s , esta liga--çao com as a t i v i d a d e s s a c r a s vai dar aos a r t i s t a s . p o p u l a r e s e , por v e z , a b r i n c a d e i r a um nome bem p a r t i c u l a r . Como nos relata D e í f i l o1

G u r g e l " p r i m i t i v a m e n t e , quando a b r i n c a d e i r a se d e n o m i n a v a p r e s é -p i o , r e -p r e s e n t a n d o o n a s c i m e n t o de J e s u s , o homem que fazia a a-pre- apre-s e n t a ç ã o d o apre-s b o n e c o apre-s era c o n h e c i d o por p r e apre-s e p e i r o " . (£10:!).

Qs a r t i s t a s p o p u l a r e s s ã o , em g e r a l , p a s s o a s d a s c l a s s e s hu-m i l d e s : são a g r i c u l t o r e s , v e n d e d o r e s a hu-m b u l a n t e s , hu-m a r c e n e i r o s , sol-d a sol-d o s sol-dé p o l í c i a etc; eles p r a t i c a m a b r i n c a sol-d e i r a como:.uma segunsol-da* fonte de renda e , também como uma maneira de d i v e r t i r sua c o m u n i d a -d e . São p o u c o s os c a l u n g u e i r o s que s o b r e v i v e m e x c l u s i v a m e n t e -das a-p r e s e n t a ç o e s de seus b o n e c o s . Entre esses a-p o u c o s temos C h i c o D a n i e l que é f u n c i o n á r i o da secretaria de c u l t u r a da p r e f e i t u r a de N a t a l .

Os bonecos u t i l i z a d o s no teatro são de vários t i p o s , quanto* ao seu aspecto f í s i c o , temos os bonecos de l u v a , que e o mais uti -l i z a d o ; o de h a s t e , que são os a r t i c u -l a d o s ; temos ainda oa b o n e c o s1

de p a n o , estilo aquela bonequinha chamada de boneca de feira e , ain da os a n i m a i s de m a d e i r a .

D e n t r e os b o n e c o 3 u t i l i z a d o s , o s de luva são os mais numero -a o s , e s s e s b o n e c o s tem o corpo form-ado por um cone de t e c i d o , como se fosse um grande vestido e , a c a b e ç a feita de raiz de alguma ma

(21)

-A

d e i r a , a opção pelo uso da raiz e que ela e mais ~ f á c i l de ser tra-* b a l h a d a , de ser talhada«

Entre os novos c a l u n g u e i r o s , ou m e l h o r , entre os a r t i s t a s ' do t e a t r o de b o n e c o s que vão a p a r e c e n d o , o m a t e r i a l mais u t i l i z a d o p a r a a f a b r i c a ç ã o dos bonecos I o p a p e l .

V a m o s a p r o v e i t a r asse espaço para d a r m o s uma r e c e i t a de co-mo se f a b r i c a um boneco de p a p e l mache ; p r i m e i r a m e n t e você p e g a , de p r e f e r ê n c i a , um rolo de p a p e l h i g i ê n i c o e c o l o c a - o de molho , por um p e r í o d o de oito d i a s , se você tiver pressa em p r o d u z i r seu b o n e c o , leve o p a p e l ao fogo com agua até que ele se t r a n s f o r m e em uma p a s t a . M a s vamos voltar a forma t r a d i c i o n a l , após p a s s a d o s os oito d i a s , você tira o p a p e l e c o l o c a o no l i q ü i d i f i c a d o r , tritu -r a n d o todo o p a p e l , a í você pega essa p a s t a , coloca num pano e - re-tira toda a água e s p r e m e n d o o p a n o j $ P Ó s ter rere-tirado toda a "água você pega a massa e e s p a l h a sobre uma m e s a , a c r e s c e n t a três colhe-res das de sopa de cola e v a i juntando-a a massa ate formar uma p a s t a homogênea* Um l e m b r e t e , q u a n d o for misturar à pasta de p a p e l e a c o l a , p a s s e um pouco de óleo nas mãos para que a c o l a não grude em 3eus d e d o s . Você vai m i s t u r a n d o a pasta ate você ter c o n d i -çoes de fazer um c i l i n d r o , dar uma certa curva e ele não q u e b r a r . Se esse ponto não for atingido l o g o , você vai a c r e s c e n t a n d o mais c o l a e m i s t u r a n d o b e m . A p ó s ter atingido o ponto i d e a l , você faz u-ma b o l i n h a de p a p e l p i c a d o e reveste-a com uu-ma folha de p a p e l , ç n a o e s q u e c e n d o de c o l o c a r um pau no c e n t r o dessa b o l a , assim como se fosse um p i r u l i t o . F e i t o i s s o , á só ir c o l o c a n d o a m a s s a , que você a p r o n t o u com o p a p e l e a cola e , moldar o seu b o n e c o . Após o bone-co p r o n t o , leva-o ao sol por a l g u n s d i a s , quando a parte e x t e r n a 1

(22)

e s t i v e r s e c a , você retira o pau e o p a p e l picado de d e n t r o Q, es-se o r i f í c i o fica para c o l o c a r - s e o d e d o . 0 b o n e c o , es-sem o p a u , vol-ta ao sol para que a parte interna venha enxugar; a í e so c o l o c a r ' os c a b e l o s , os o l h o s , p i n t a r a b o c a , armar a tolda e boa brincade^i r a .

(23)

,r C r e i o na futura revolução d e s s e s dois e s t a d o s a p a r e n t e m e n

-te tão c o n t r a d i t ó r i o s , que são o sonho e a r e a l i d a d e , numa e s p é c i e1

de realidade a b s o l u t a , uma s u r r e a l i d a d e , " d e c l a r a A n d r é B r e t o n , no p r i m e i r o m a n i f e s t o s u r r e a l i s t a , p u b l i c a d o em 1 9 2 4 . ( 2 P )

S a i n d o da realidade s u r r e a l i s t a de 1 9 2 4 , vamos para o traba-lho de C h i c o D a n i e l , a í vale um q u e s t i o n a m e n t o ; C h i c o D a n i e l , certa mente não c o n h e c e Breton o u , mesmo que c h e g a s s e a ver o m a n i f e s t o 1

do m o v i m e n t o s u r r e a l i s t a , p o r é m , ele c o n s e g u e unir o sonho e reali-dade d e n t r o de sua t o l d a , leva ao teatro uma s u r r e a l i d a d e , ativida-de essa que o criador do m o v i m e n t o teve d i f i c u l d a d e ativida-de c o n s o l i d a r .

No m a n i f e s t o s u r r e a l i s t a de 1 9 2 4 , A n d r é Breton e x p l i c a as d i r e t r i z e s c e n t r a i s do movimento : 11 a rebelião a b s o l u t a , a

insub-m i s s ã o t o t a l , a sabotageinsub-m einsub-m regraí(22i). P a r a B r e t o n , e x i s t e uinsub-m lu gar onde os c o n t r á r i o s deixam de p e r c e b e r - s e c o n t r a d i t o r i a m e n t e .

P a r a D e í f i l o G u r g e l , C h i c o D a n i e l é um c a l u n g u e i r o surrea -lista e , nos aqui vamos trabalhar o e s p e t á c u l o de C h i c o D a n i e l , em q u a t r o m o m e n t o s d i f e r e n t e s , com p l a t é i a s t o t a l m e n t e o p o s t a s , p a r af

t e n t a r m o s m o s t r a r a rebelião a b s o l u t a , a i n s u b m i s s ã o t o t a l , a sabo tagem da regra e a união do real com o i r r e a l , do sonho com a rea-l i d a d e , c a r a c t e r í s t i c a s essas que c o rea-l o c a r a m C h i c o D a n i e rea-l na quarea-li- quali-d a quali-d e quali-de a r t i s t a s u r r e a l i s t a .

ano.se fala no S e r i d o . S a b a d o , m a n h a , um sol d e lascar o c ano.se fala no S e r i d o . C h e g a m o s a feira de C a i c ó , lá pelas nove h oras da m a n h ã , ficamos f

a l í , e u , C h i c o D a n i e l , J ú n i o r , Jeff erson e outras pessoas fomos a uma b a r r a c a tomar uma c e r v e j a , para ver se a m e n i z á v a m o s o calor , que já e s t a v a , n a q u e l e m o m e n t o , rompendp os 3 Q S C .

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25

T e a t r o de C a i c ó ; eu,como diretor da F e d e r a ç ã o de T e a t r o A m a d o r e c£ mo a t o r ; como era c o m u m , C h i c o D a n i e l era c o m p a n h e i r o c e r t o , para ' onde quer que f ô s s e m o s com a F e d e r a ç ã o .

P a r a l e l o oAiriostra de T e a t r o , nós l e v á v a m o s : d a n ç a r i n o s , c a n t o r e s , e aqui é o nosso B a b a u , não o b a b a u , que é o boneco na Pa -raíba* E s t á v a m o s todos a l i , C h i c o , como sempre c a l a d o , só de vez 1

em q u a n d o p e r g u n t a v a o preço de alguma coisa a um v e n d e d o r ou a p r £ v e i t a v a a c o n v e r s a e c o n t a v a uma a n e d o t a , logo após v o l t a n d o a fi-(Pi

c a r c a l a d o ^ D e p o i s de a l g u n s c i g a r r o s , uma olhada para as m e n i n a s , que p a s s a m , ai grita alguém - 3a temos o l o c a l para a a p r e s e n t a ç a o de C h i c o D a n i e l ; era em cima de um c a m i n h ã o , na e n t r a d a da feira , e fomos nós l á , p e g a m o s a t o l d a , C h i c o pegou sua mala onde estão 1

g u a r d a d o s os b o n e c o s e f o r a m para cima do c a m i n h ã o . T o l d a armada , f a l t a v a o som; n o r m a l m e n t e , o filho de Chico D a n i e l o a c o m p a n h a em suas a p r e s e n t a ç õ e s tocando p a n d e i r o , a g o r a , por m o t i v o s e c o n ô m i c o s , p a r a ' d i m i n u i r as d e s p e s a s , seu filho não viajou para C a i c ó . Q u a n d o o não tem uma o r q u e s t r a para a c o m p a n h á - l o , Chico usa uma fita

casse-O T E

Tolda a r m a d a , os passantes vão parando e ficam a l i e s p e r a n -do q u e p e r s o n a g e m s a i r á por cima da tolda; é uma s e n s a ç ã o estranha que e n v o l v e aquele p o v o , em pleno sol das dez h o r a s , olha que * o sol da3 dez em C a i c ó , não é de b r i n c a d e i r a ; de r e p e n t e , toca a mu-sica é nesse momento que grita uma voz para o m ú s i c o , ora a l i o bo neco só e x i s t e na i m a g i n a ç ã o da platéia; a í aparece o c a p i t ã o 3oao R e d o n d o e a p r e s e n t a - s e :

- Eu sou o c a p i t ã o J o ã o R e d o n d o , três c a s a c a s e m a i a , c o m i g o brin-cou lava peia e , a s s i m , o capitão vai levando um diálogo c o m a pia

(25)

s e n t i r a empatia da relação p ú b l i c o - b o n e c o .

A g o r a , de todos os momentos do e s p e t á c u l o de fchico D a n i e l , a c h e g a d a do B a l t a z a r e , para m i m , o ponto aèto da s u r r e a l i d a d e 1

d o s b o n e c o s de Chico D a n i e l . 0 momento que antecede a c h e g a d a de B a l t a z a r , Chico D a n i e l abusa da imaginação da platéia e cria um

» t

mundo r e a l , p a r t i c u l a r em cada e s p e c t a d o r . Voce que esta n a - pla-téia e não c o n h e c e B a l t a z a r , vai formando um p e r s o n a g e m bBm p a r t i c u l a r , Chico a t i n g e a p e r f e i ç ã o de c r i a r o real d e n t r o do não e-x i s t e n t a . O r a , toda3 as p e s s o a s sabem que a roupa de um boneco de J o ã o R e d o n d o é a p e n a s um cone de t e c i d o , como se fosse um grande v e s t i d o , p o r é m , c o n s e g u e m fazer com que as p e s s o a s vistam a roupa de B a l t a z a r , como funciona isso? Vamos r e p r o d u z i r , a q u i , o texto da e n t r a d a de B a l t a z a r em c e n a , para que v o ç e , l e i t o r , possa me-lhor e n t e n d e r .

0 C a p i t ã o 3oão R e d o n d o , fala que vai c h a m a r um n e g r o , pa-ram pede a p l a t é i a que tenha p a c i ê n c i a , pois aquele negro é bobo e a t r a p a l h a d o .

C a p i t ã o 3oao Redondo - B a l t a z a r ( g r i t a n d o ) B a l t a z a r - Inho?

C a p i t ã o 3oão Redondo - B a l t a z a r , B a l t a z a r ! ( g r i t a n d o ) A Í , B a l t a z a r começa a f a l a r , sem a p a r e c e r .

C a p i t ã o 3oão Redondo - B a l t a z a r , vem que o povo tá e s p e r a n d o . B a l t a z a r - Calça n o j e n t a , é um fofado na f r e n t e .

C a p i t ã o 3 o a o Redondo - Baltazar vem l o g o , as meninas querem conho cer v o c ê , h o m e m .

(26)

27

©

B a l t a z a r solta uma risada e fala*

B a l t a z a r - Ah! Ah! Ah! vesti a calça com a bamda da frente para ' t r a z ,

A Í B a l t a z a r a p a r e c e em c e n a .

T e r m i n a d a a apresentação^» de C h i c o D a n i e l , n e s s e dia na fei-ra d e C a i c ó nos ficamos por ali só pafei-ra ouvir os c o m e n t á r i o s sobre o e s p e t á c u l o e o d e s e m p e n h o de Chico D a n i e l . 0 e s p e t á c u l o fieou na m e m ó r i a d a s pessoas* Ele á fonte de d i á l o g o em todas as b a r r a c a s e

o

no c a m i n h o para a casa das p e s s o a s .

Como e bonito ver um c a s a l de a d o l e c e n t e s tecendo c o m e n t á r i -o s , de que achava que aquele p e r s -o n a g e m era assim -ou a s s a d -o e , de r B p e n t e , ele não tinha nada a ver com a sua c r i a ç ã o .

C h i c o D a n i e l c o n s e g u e criar um mundo real p a r t i c u l a r em ca-da e s p e c t a d o r .

P a r a mostra as h a b i l i d a d e s de Chico D a n i e l s toda sua ouza -d i a , no m a n u s e i o -dos b o n e c o s , vamos agora para Matai; no encerramejn to do C o n g r e s s o do P a r t i d o C o m u n i s t a do B r a s i l . N a q u e l e d i a , numa noite de sábado estava reunido a i n t e l e c t u a l i d a d e d a c i d a d e e vèva-rios o u t r o s nomes do p a r t i d o a n í v e l n a c i o n a l , Chico D a n i e l fora c o n v i d a d o para uma a p r e s e n t a ç ã o , como última a t i v i d a d e d a q u e l a noi-t e ; c o n f e s s o que quando c h e g u e i ao noi-t e a noi-t r o J e s i é i l F i g u e r ê d o e vi as p e s s o a s que a l i e s t a v a m , medo não t i v e , pois sou t e s t e m u n h a das ha-b i l i d a d e s de Chico D a n i e l e , eu tinha certeza que as p e s s o a s iriam g o é t a r ; minha p r e o c u p a ç a o era o u t r a , pelo menos eu nunca tinha vis-* to hico D a n i e l se a p r e s e n t a r para uma p l a t é i a , que p o d e m o s , c l a s s i ficar de "elite i n t e l e c t u a l de Natal"; que dinâmica u s a r i a Chico

r * j < i

(27)

D a n i e l para a q u e l e p ú b l i c o tão e s p e c i f i c o ?

Nao teve o u t r a , o Capitao João Redondo entrou e a p r e s e n t o u - s e c h e g o u d a n d o o r d e m , falando que c o n h e c i a esse e aquele e , q u a n d o niji guem e s p e r a v a entra em cena B a l t a z a r como o c o m p a n h e i r o de c o m i d a , d e

e f

q u a r t o , de t r a b a l h o de um dos d i r i g e n t e s do partido a n í v e l l o c a l , era a figura do c o m p a n h e i r o C h i s t i a m .

Quem pensava que c o m u n i s t a era homem de cara dura e c o m i a cri anci/a&, q u e b r o u a cara« N a q u e l e m o m e n t o , movido pela m a g i a d o s bone-c o s de Chibone-co D a n i e l , os bone-c o m u n i s t a s viram a bone-cabeça e d e i x a m rolar as g a r g a l h a d a s .

Após essa a p r e s e n t a ç ã o , s a í m o s para um b a r , e o que normalme_n ber.fee e s p e r a v a , á que no bar as c o n v e r s a s c a m i n h a a á e m em se d i s c u t i r os c a m i n h o s da r e v o l u ç ã o s o c i a l i s t a , já que no B r a s i l a revolução ' p a s s a por um b a r , com c e r t e z a ^ ^ i e n a d a , 03 bonecos de C h i c o D a n i e l , s u b s t i t u í r a m marx e , B a l t a z a r roubou a h e g e m o n i a L e n i n i s t a do papo d a q u e l a r a p a z i a d a .

T e n d o uma cultura tipicamente a u d i t i v a , já que Chico D a n i e l 1

não teve a c e s s o ã escrita e a l e i t u r a . É i m p r e s s i o n a n t e como Chico D a n i e l c o n s e g u e atinéjlr com a mesma q u a l i d a d e , uma p l a t e i a bastante e c l e t i c a como a de uma feira l i v r e , e no mesmo embalo fazer semoro -nar o muro que depara Ble e aquele grupo de i n t e l e c t u a i s .

V a l e aqui reproduzir uma fala de João Batista J ú n i o r (diretor de t e a t r o ) segundo J ú n i o r "Chico D a n i e l se apresenta como um hooiom ' de i d e i a s não r e a c i o n á r i a s , nem no campo da p o l í t i c a , ou atá no cam-po da r e l i g i ã o " ( 2 3 ) . âendo um homem do meio r u r a l , onde a reiigiosi-d a reiigiosi-d e reiigiosi-do povo e bem m a i o r . Chico se a p r e s e n t a com uma arte a b u s a reiigiosi-d a , ' d e s p o j a d a de qualquer p r e c o n c e i t o , uma arte v e r d a d e i r a m e n t e

(28)

revolu-29

c i o n á r í a . o

C h i c o D a n i e l atingiu um estágio tao alto de q u a l i d a d e em seu trabalho» que nao im orta qual seja o p ú b l i c o ; ele é hoje uma unani^ m i d a d e q u a n d o se fala em teatro de bonecos»

(29)

p a r a os mais d i v e r s o s grupos s o c i a i s , Chico D a n i e l vai m o s t r a n d o suas h à b i l i d a d e s , m o n t a n d o a tolda e d e i x a n d o as c o i a a s p o r conta dos bonecos•

C h i c o D a n i e l tem tamanho dom ínio sob re a p l a t e i a e , para 1

m e l h o r d e m o n s t r a r essa h a b i l i d a d e e esse d o m í n i o , v a m o s r e c o r r e r1

a um e p i s o d i o ocorrido numa a p r e s e n t a ç ã o , na cidade de São Gonçji lo do A m a r a n t e , na I A m o s t r a de T e a t r o d a q u e l a c i d g d e . Em São Go^n ç a l o , a a p r e s e n t a ç ã o de Chico D a n i e l ficou marcada para a p r a ç a * c e n t r a l da c i d a d e ; até a í , nada de a n o r m a l , já que a praça é a ca sa do a r t i s t a p o p u l a r ,

C h i c o armou a t o l d a , tirou os b o n e c o s de sua m a l e t a e quari do a o r q u e s t r a começou a tocar e , a p l a t e i a foi formando-*»»^ o ca p i t ã o 3 o ã o Redon/Jo entra em cena e vai tirando sarro com as meni-nas e m e n i n o s da p r a ç a ; não escapam das a n e d o t a s nem o p r e f e i t o , nem os p o l í t i c o s da cidade« A p o p u l a ç ã o , que rodeava a p r a ç a , v a i a g l u t i n a n d o - s e ao redor da tolda e , C h i c o , dando c o n t i n u i d a d e ao e s p e t á c u l o . Era tão grande o número de e s p e c t a d o r e s que um garoto sobe e n c i m a do muro que ficava atraz da tolda e , como C h i c o já ha via c o f e s s a d o que não tinha c o n d i ç õ e s de trabalhar com alguém o..-l h a n d o - o ; e como se retirasse a magia do e s p e t á c u o..-l o e , c e r t a m e n t e t i r a - s e . 0 e s p e t á c u l o são dos b o n e c o s , o m a m u l e n g u e i r o e a p e n a s o o s u s t e n t á c u l o , é quem dá vida aos b o n e c o s . Se você e s t i v e r a ver os d o i s , some a magia do e s p e t á c u l o .

0 e s p e t á c u l o ia c o r r e n d o e o garoto encima do m u r o , olhari do para d e n t r o da t o l d a , como quem estivesse a fim de d e s c o b r i r1

(30)

31

(?)

£ m c e n a , estava o p e r s o n a g e m que C h i c o d e n o m i n a de estra -n h o $ ; o e s t r a -n h o c o -n v e r s a -n d o com o d o i d i -n h o . 0 e s t r a -n h o p a r a , por v á r i a s v e z e s , o seu diálogo com o d o i d i n h o e pede que a l g u é m da p l a t e i a retire aquele garoto de cima do m u r o , chega m e s m o a procu rar um soldado de p o l í c i a , para que aquele menino saísse d a q u e l e ' l u g a r , q u e , segundo C h i c o D a n i e l , já era um i n c ô m o d o . A p e r t u b a -çao do g a r o t o , chegou mesmo a levar a l g u m a s p e s s o a s a p e d i r e m .a ele p a r a que saísse d a q u e l e l o c a l , e como num passe de m á g i c a , eni tra em c e n a o t e n e n t e 3ose B e z e r r a (ver foto n£3) e , com um revól ver nas m ã o s , aponta para o garoto a m e a ç a n d o d a r - l h e um tiro; não *

e que eu q u e i r a d i z e r , a g o r a , que o garoto ficou a m e d r o n t a d o com o t e n e n t e 3 o s é B e z e r r a com sua a r m a , n ã o , j a m a i s um g a r o t o de mais ou menos 12 anos teria medo daquale boneco; foi a m a n e i r a com que o t e n e n t e entrou em c e n a , numa v e l o c i d a d e e f a l a n d o c o m tal autorjL d a d e , que naquele m o m e n t o , toda a p l a t e i a da praça ficou i n i m i g a1

do g a r o t o e , ao lado do tenente 3ose Bezerra,, não restava ao gar^o to outra s a í d a , senão descer e ficar quieto num c a n t o . 0 que pen-sava a q u e l e menino? C e r t a m e n t e já venceu alguma briga de r u a , jo-gou bola e fez p i r u e t a s pela cidade e , n a q u e l e d i a , s e n t i n d o - s e 1

grande e esperto por ser o único e s p e c t a d o r a ter o p r i v i l e g i o de roubar a magia d a q u e l e s bonecos^ de repente ele foi v e n c i d o pelo t e n e n t é 3 o s e B e z e r r a , pomposo e dono da s i t u a ç a o , m a n d a n d o b r a s a1

no bate p a p o c o m o d o i d i n h o (ver foto n 2 3 ) .

Acho q u e , para p r o v a r o domínio que o teatro de C h i c o Da -niel tem sobre a p l a t e i a , nada mais a p r o p r i a d o de que o e p i s o d i o1

acima cit«do',: melhor do que i s t o , só se v o c e , caro l e i t o r , s a i r de

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ANEXOS

m

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R E I E R S H C I A B I B U O G R A E L C A

01 - THOMAS SOWEL. Bicontro das Culturas« Como evoluem as culturas, lhe Amerioam ihterprise, 199^«

02 - THOMAS SGWEL. Bacontro das CCrltur&s: Como evoluem as Culturas, lhe Ameri cam Baterprise, 1992.

0 3 - Thomas Sovei. Bacontro das Culturas* Cano e viu em as culturas, lhe Amerioam Baterpxise, 1992

04 - THOMAS SOWBL. fiaoontro das culturas» Como evoluem as culturas, lhe Am eriçam Enterprise, 1992»

05 - Deífllo Qurgel, João Redondo, Teatro da Bonecos do Hordeste, Editora Vozes (UFHf), I 9 8 6 .

06 - Ba tr vi st a oom Chi 00 Daniel.

07 — Ba tr vista oom João Batista HÍúnior, Diretor e ator de teatro.

06 — Raul Seixas* Raul Seixas por ele mesmo.Ed. Martin Claret,Saio Paulo I99O.

09 — ARA0JO,Alceu Moumord. Cultura popular Brasileira. São Paulo, Editora Melhoramentos, 1973*

10 - Raul Seixas. Raul Seixas por ele mesmo. Ed. Martin Claret, São Paulo, I99O.

11 - ARA0JO, Alceu Moumord. Cultura popular Brasileira. São P a u l o , Editora Melhoramentos, 1973.

12 - MACHADO, "Maria Clara. Como faz ar teatrinho de bonecos, Rio de Janeiro

Bditora Agir, I 9 7 O .

13 - MACHADO* Maria Clara. Como fa^er teatrinho de bonecos, Rio de Janeiro - M i tora Agir, 1970.

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35

14 - Dei filo Gurgel. João Redondo, teatr o de Bonecos do Uordeste,

Editora Vozes ( U O T ) , I986. '

-13 - BORBA ELLHQ, Hermilio. Fisionomia e espirito do maioalentfo: o teatro popular no nordeste, são Paulo, Editora Ifacional, 1966, (Biasi li ano, 332)

16 - GOMES, José Bezerra. Teatro de bonecos, Ifatal, ilimdaçao José

Augusto, 1964.

17 - Qeífiló Gurgel. João Redondo, teatro de bonecos do Hordeste, ~ Editara Vozes, (UFHí), I986.

Í Í *

16 - fiitrvista Com Chico Daniel.

19 - Shtrevista coar. Chico Daniel.

20 - Dei filo Gurgel. João Redondo, teatro de bonecos do nordeste. Editora Vazes, (üíRff), 1986.

21 — Grandes fatos do século vinte, Riografica Editora, Rio de Janeiro,

1984. número 27*

22 - Grandes fatos do séoulo vinte, Rio grafica editora» Rio de Janeiro» f ) 1984> número 21.

23 - Bitrvista com João Batista júnior, diretor e ator de teatro.

*

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A R A Ú J O , Alceu M o u m o r d . C u l t u r a p o p u l a r b r a s i l e i r a . São P a u l o , E d i ç õ e s M s l h o r a m e n t o s , 1 9 7 3 .

, F o l c l o r e n a c i o n a l , d a n ç a s , r e c r e a ç ã o , m ú s i c a , São Pau p o . E d i ç õ e s M e l h o r a m e n t o s , 1 9 6 4 ,

A R A Ú J O , I r a m a r Soares d e . C o n t r i b u i ç ã o para a histária do João redO£

dD, U F R N , Natal ( R N ) , 1 9 8 2 .

BDRBA F I L H O , H e r m i l i o . F i s i o n o m i a e espirito do m a m u l e n g o : o teatro popular no n o r d e s t e . São P a u l o , E d . N a c i o n a l , 1 9 6 6 , 2 9 5 p , (Brasi-l i e n s e , 332) C A R N E I R O , E d s o n . A s a b e d o r i a p o p u l a r . Rio de J a n e i r o . I n s t i t u t o Na-c i o n a l do l i v r o , 1 9 5 7 . C A S C U D O , L u í s da C a m a r a . D i c i o n á r i o do folclore b r a s i l e i r o , Rio de J a n e i r o , 1 9 7 o . G A S S N E R , J o n h . M e s t r e s do teatro I , c o l e ç ã o e s t u d o s , Ed p e r s p e c t i v a E d i t o r a da U n i v e r s i d a d e de São P a u l o , 1 9 7 4 .

G U R G E L , D e í f i l o . João r e d o n d o , feeatro de boneco do n o r d e s t e . Rio de J a n e i r o , E d . V o z e s , U F R N , 1 9 8 6 .

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