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O processo de envelhecimento

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL - UNIJUI

DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO-DHE CURSO DE PSICOLOGIA

ANA CLÁUDIA DREBES

O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO

Santa Rosa 2018

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ANA CLÁUDIA DREBES

O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO

Trabalho de conclusão de curso apresentada ao curso de graduação em psicologia do departamento de Humanidades e Educação da Universidade Regional do Noroeste do Estado do rio grande do Sul- UNIJUI, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Psicologia

Orientadora: SONIA APARECIDA DA COSTA FENDLER

Santa Rosa 2018

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha família, em especial a minha mãe Belmira Drebes e meu pai Adelar Drebes por sempre terem acreditado em mim. Seus ensinamentos me guiaram pelo caminho de nunca desistir dos meus sonhos. Dedico também a minha avó Maria, que em sua luta diária de vida me ensinou a jamais abandonar meus ideais.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais pelo apoio de sempre, incitando-me a crescer na vida pelo caminho dos estudos. Pela preocupação que lhes causei durante o curso com tantas idas e vindas no caminho para casa. Tirando-lhes muitas vezes o sono.

Ao meu companheiro pela paciência e apoio nos momentos de ansiedade, medo, como também nos momentos de comemoração.

As amizades verdadeiras, e por entenderem que nem sempre pude me fazer presente em suas vidas.

A minha orientadora Sônia, pelas contribuições que fizeste para esse trabalho. Aos professores do Curso de Psicologia que contribuíram para meu maior conhecimento.

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RESUMO

O tema desse trabalho é o processo do envelhecimento. Para compreender essa temática foi realizado um aporte teórico do envelhecer na contemporaneidade. Passando pela história da velhice nas diversas sociedades, desde a antiguidade. Esse trabalho tem como objetivo nos fazer pensar o envelhecimento como um processo social, discutindo questões culturais, sociais e econômicas que influenciam no nosso entendimento do que é a velhice. Sendo abordado também a questão do velho institucionalizado.

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O envelhecimento do corpo é natural e inevitável. Contudo, o envelhecimento da alma necessita do consentimento de quem a possui.

Que sejamos sempre veementes, de alma esperançosa e sonhadora, feito eternas crianças!

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 7

1. A HISTÓRIA DA VELHICE ... 9

1.2. O processo de envelhecer ... 9

2. OS DIVERSOS LUGARES DA VELHICE ... 20

2.1. O Asilamento ... 24

CONSIDERAÇOES FINAIS ... 27

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INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo fazer um aporte acerca do envelhecimento na cultura contemporânea e das repercussões no sujeito que o vivencia. Visando entender o envelhecimento no contexto histórico desde as sociedades antigas até a contemporânea e como este se transforma com a criação deasilamentoscomo meio de convivência para o velho.

Atualmente em nossa sociedade devemos considerar o aumento da população acima de 60 anos de idade, principalmente do Brasil. O aumento significativo da perspectiva de vida nos traz questões relevantes para o desenvolvimento do trabalho que nos farão refletir em todos o contexto do processo de envelhecimento, seja nas funções sociais como nas repercussões subjetivas do idoso.

Devemos partir do seguinte pensamento: que quem envelhece é o corpo e não o sujeito. Na nossa atualidade, o velho perdeu seu valor social e simbólico passando a ocupar um lugar cheio de preconceitos. E é na contemporaneidade que vemos como a sociedade é marcada pela cultura da imagem, onde o corpo sobrevalorizou-se e o que nos é interessante é a imagem que passamos desse corpo para o outro.

Há muitas indagações que se julgam importante para entendermos o processo de envelhecer. Como por exemplo: socioeconômicas, socioculturais, psicossociais e biológicas pois, elas interferem na vida dos sujeitos. Alguns estudos feitos por Guita Grin Debert em sua obra A Invenção da Velhice (1999) nos confirmam que para falarmos de velhice, precisamos pensar em várias mudanças que tem ocorrido nos últimos anos frente ao que é visto do velho no campo cultural e social.

Simone de Beauvoir em seu livro A Velhice (1990) faz um grande apanhado histórico de como a velhice era vista nas sociedades antigas. Nelas, nota-se o quanto o velho era colocado em um lugar daquele que “possuía o saber” e que, teria privilégios por possuir uma vasta experiência de vida. Os mais novos eram considerados inúteis perto dos mais velhos pois, esses não possuíam experiências o suficiente para assumir papéis importantes na sociedade, abordando também e por fim, os conflitos que se passam nesse momento vivenciado pelo sujeito.

O presente trabalho está dividido em dois capítulos, onde o primeiro apresentamos questões sobre a evolução histórica do envelhecimento, no mesmo capitulo será abordada questões do velho na cultura ocidental, oriental, o velho na idade média e nos dias de hoje, para no segundo capítulo, para pensarmos as

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mudanças que a contemporaneidade produziu diante do que era o envelhecimento e de como o ¨velho¨ foi perdendo seu lugar e chegou até aqui, trazendo questões do velho nas instituições asilares.

Visto que com o avanço da idade, o idoso necessita de cuidados básicos para a sobrevivência, e que as vezes ele mesmo não consegue faze-los, precisando da ajuda do outro. A partir disso, o idoso é colocado em asilos ou casas de repouso pelos seus familiares que acabam por não aceitarem que esses velhos, ou seja, não querem estar nessa posição que eles demandam que ele esteja, horrorizando a questão de viverem sobre o mesmo teto que ele esteja.ve se então uma certa dificuldade em conviver com aquele que representa a imagem do que um dia será.

Segundo Jerusalinsky (1996, p.4) “existe um determinado momento em que percebemos que a vida já não é mais a mesma”. É a partir desse momento que se percebemos os sinais que revelam a chegada da velhice.

A partir desse trabalho, abra-se muitas portas para estudo, que afirmam cada vez mais questões acerca do envelhecimento não se colocam somente ao estudo da biologia como também, das relações sociais e fundamentalmente do psíquico dos sujeitos.

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1. A HISTÓRIA DA VELHICE

Ao se falar no velho como sujeito, nota-se que esse tema ganhou maior destaque em diferentes campos. Na atualidade em virtude do aumento significativo da população com idade mais avançada, isso devido a expectativa de vida ter aumentado, porem isso também trouxe à tona discussões dos possíveis “problemas” que esse sujeito acarretara na sociedade.

A questão do envelhecer mobiliza a todos nós, não só por ter que lidar com “nossos velhos”, como também saber que um dia nos confrontaremos com nossa velhice, muitas vezes, esse imaginário para o sujeito é da ordem da impossibilidade, isso se manifesta por exemplo através dos sujeitos que buscam desenfreadamente através das tecnologias, modos de retardar esse momento.

Considera-se que no imaginário social a velhice está associada a rupturas, isolamento, a uma imagem negativa de tornar-se velho, em que acabam vistos pela sociedade como sujeitos sem serventia ou que não contribuem mais com a mesma, deixando muitas vezes de serem vistos como ser humano, precisando de atenção, assistência, e especialmente ser escutado.

No tempo atual, notamos que os valores, preceitos, condutas culturais que são validas, possuem como padrão uma sociedade de jovens, mas a demografia mundial aponta outra realidade em que a população idosa está se tornando predominante. Ao passarmos pela história, nos deparamos com o fato de que nas antigas sociedades os velhos eram valorizados, sendo vistos como portadores de uma grande sabedoria além de ajudarem os familiares em suas atividades, provendo conhecimentos adquiridos no decorrer da vida.

1.2. O processo de envelhecer

A definição “velho” foi sendo conceituada de diversas maneiras, cada uma apropriada a seu tempo e sua função. Segundo Beauvoir (1990, p.109-110) “os velhos estariam incluídos ao conjunto dos adultos. Na mitologia e na literatura a imagem da longevidade varia de acordo com os tempos e lugares”. Uma das obras de Simone de Beauvoir, A Velhice (1990), monta um cenário esclarecedor da condição dos velhos ao longo dos séculos. Beauvoir é sempre citada nos trabalhos sobre envelhecimento humano como sendo uma pioneira nos estudos sobre esse tema.

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É relevante destacar que a longevidade era um privilégio dos mais poderosos até o século XIX. Podemos notar isso, pois os velhos pobres não estão na história e nem na literatura. Ao se falar nos velhos fala-se principalmente dos homens; as mulheres por terem sido inferiorizadas ao longo da história não estão em evidencias nos registros mais antigos sobre o envelhecimento humano (BEAUVOIR, 1990).

O primeiro texto conhecido acerca do envelhecimento data de 2.500 a.C. e foi escrito por um filósofo egípcio. O texto lamenta a decrepitude física advinda do avanço da idade. Beauvoir (1990) sublinha que, embora as diferentes sociedades tenham atribuído, ao longo dos séculos, sentidos diversos à velhice, o tema do declínio orgânico é recorrente e aparece nas mais variadas comunidades na história do ser humano.

Segundo Beauvoir (1990), nos relatos bíblicos que revelam os princípios do povo judeu, a partir do século IX, a velhice é retratada como uma benção e os homens idosos como pessoas a quem se deve respeito. O homem mais velho, na Palestina, governava a família enquanto sua saúde era boa.

Isso se reforça a partir da citação abaixo:

Os responsáveis dos livros santos do passado projetam nos velhos os valores que desejam ver reconhecidos por seus contemporâneos. Embora se encontrem entre eles ecos de uma antiquíssima filiação matrilinear, descrevem uma sociedade patriarcal, na qual os grandes ancestrais, aos quais atribuem idades fabulosas, eram os porta-vozes de Deus. Consideram a longevidade uma suprema recompensa conserva a melancolia da virtude (BEAUVOIR, 1990).

Os mandamentos de Deus exigem dos filhos que honrem pai e mãe. Se um filho se recusa a obedecer ao pai e se todas as tentativas para fazê-lo ceder forem vãs, o pai - diz o Deuteronômio – deverá levá-lo aos anciãos de sua cidade: “E todos os homens da cidade o apedrejarão e ele morrerá” (BEAUVOIR, 1990, p. 115).

De acordo com Beauvoir (1990), na Grécia antiga, em que os mais velhos eram também os que detinham mais riquezas e poder, a figura do velho era, no plano político, muito respeitada, principalmente por aqueles que desejavam manter vigente a ordem das coisas. Porém, narrada pelos poetas, a velhice aparece como um tempo em que os prazeres da vida já não podem ser apreciados e a decrepitude do organismo por vezes torna a vida pior que a morte. Em Platão encontra-se na imagem do velho o cume da sabedoria, sendo o conhecimento a expressão mais pura do que é a felicidade. Nos ideais políticos de Platão, expressos em sua literatura, o idoso,

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livre das necessidades do corpo, é o mais capacitado para comandar a Polis ideal, tornando-se assim digno do respeito e da obediência dos mais jovens. Esse filósofo acreditava que, sendo as necessidades da alma superiores às do corpo, a decrepitude física não diminuía o homem.

Beauvoir em sua obra A Velhice (1990), quando se refere a Platão em As Leis, ela aponta que este filósofo insiste muitas vezes nas obrigações dos filhos para com seus velhos pais, com quem devem falar respeitosamente, colocando suas riquezas e a própria pessoa a serviço deles. Presta-se um culto aos antepassados mortos; o futuro ancestral já é sagrado “não podemos possuir nenhum objeto de culto mais digno de respeito do que um pai ou um avô, uma mãe ou uma avó oprimida pela velhice” (BEAUVIOR, 1990, p. 136).

Já Aristóteles diz que, alma e corpo estão unidos, e a degradação do corpo afeta negativamente o espírito. O lugar dos velhos não seria, então, à frente da Polis. Com a decrepitude do organismo, todo tipo de atributos ruins surgia, e a experiência de vida, edificante para Platão, servia apenas para transformar o homem em um ser amargo e vil, paralisado no tempo pelas vivências do passado (BEAUVOIR,1990).

Em A retórica, Aristóteles pinta a juventude com as cores mais risonhas: calorosa, apaixonada, magnânima – e a velhice apresenta-se, para ele, em todos esses pontos, como o oposto:

Porque viveram inúmeros anos, porque muitas vezes foram enganados, porque cometeram erros, porque as coisas humanas são, quase sempre, más, os velhos não têm segurança em nada, e seu desempenho em tudo está manifestamente aquém do que seria necessário (BEAUVOIR, 1990, p. 136-137).

O contexto do velho, em todos os setores da sociedade, aparece, portanto, como extremamente desfavorecido. Tanto entre os nobres, quanto entre os camponeses, a força física prevalecia: os fracos não tinham lugar. A juventude constituía uma classe de idade de considerável importância (BEAUVOIR, 1990, p. 162).

É importante ressaltar que:

(...) a busca do rejuvenescimento foi um tema recorrente na Idade Média, assim como na Idade Antiga. O sonho da vida eterna era incompleto sem a garantia de que o corpo permaneceria jovem, condição primordial para que a longevidade fosse suportável. A velhice foi constantemente representada

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como o inverno da vida, em que as restrições impostas pela degradação do corpo eram vistas como incapacitantes e inférteis BEAUVOIR (1990, p. 168).

Com o fim da Idade Média e o renascimento do comércio, em que prosperou a burguesia, as relações de poder modificaram-se. A força física deixou de ser condição necessária para o homem prosperar. A partir disso, a propriedade funda-se em contratos, e não na força física: aparece então o tipo tradicional do mercador, avesso à violência. Podem-se estocar as mercadorias e o dinheiro. Essa transformação modifica, nas classes abastadas, a condição dos velhos: através da acumulação de riquezas, eles podem tornar-se poderosos. Há mais preocupação com eles (BEAUVOIR, 1990, p. 175).

Transcorria duas ideologias vigorando. Uma religiosa, que encarava a velhice como um declínio natural, a última parte do caminho da vida, em que se aconselhava que o velho se preparasse serenamente para a morte, e lhe era instruído que deixasse os bens para as causas da Igreja. Era também o momento de conquistar a salvação. A outra ideologia é materialista e nela o velho é representado caricatamente, sempre ridicularizado pela exploração das características avarentas e incapacidades físicas que eram atribuídas ao idoso (BEAUVOIR, 1990).

A Grécia antiga teve um grande papel e influência para o desenvolvimento do pensamento da cultura ocidental e por isso, é importante que a mencionemos para explicar a história da velhice. A partir da constituição da Polis Grega, ser velho significava ter uma grande qualificação para assumir grandes cargos. O velho assumia um papel importante somente pelo seu saber e não por sua capacidade física pois, essa não era venerada pelo povo grego, ela até era criticada pelos grandes poetas, considerada como uma fase da vida de sofrimento e de pouca realização de desejos e vontades (BEAUVOIR, 1990).

Beauvoir (1990, p.112) ao citar Confúcio, nos diz que:

Antigamente a família era a base das relações e que toda a casa devia obediência ao homem mais velho. Dessa forma, os filhos deveriam obedecer ao pai e ele, tinha um total controle sobre a vida dos mesmos como também, o de sua esposa. Podemos perceber isso até hoje como em algumas culturas, os casamentos dos filhos são arranjados pelo pai, submissos ao desejo dele de casar-se com alguém digno e que pudesse desempenhar um papel importante para a família, ou em alguns casos, que trouxesse riqueza e poder para ela.

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Mucida (2014, p. 68) também aponta considerações sobre a representação da velhice na Grécia antiga:

Na Grécia antiga, a velhice é em geral associada à honra: Gera e Géron são palavras que designam a idade avançada e também o privilégio da idade, o direito a ancianidade e à deputação. Para Homero, ela é associada à sabedoria. Contrastando-se a tal ideia, bastante presente nas cidades antigas, encontra-se também o horror, cantado em verso e prosa por diferentes poetas para os quais a perda de força física, mudanças da imagem, perda de poder são associadas à velhice.

A figura da mulher idosa também ocupava um lugar de grande valia na sociedade pois, por ela possuir grandes conhecimentos de vida e ter criado e educado seus filhos, tinha influência também na criação de seus netos. Em oposição, em algumas culturas a mulher depois de certa idade não teria mais a mesma posição social, identificando as assim, como bruxas por terem uma aparência muito desumana.

Mucida (2014, p.69) diz que:

Na Idade Média, nota-se um crescente ódio pelas mulheres idosas pois, geralmente nessa época as pessoas não duravam mais do que 30 anos. Na renascença por volta do século XVI, surgem alguns textos referidos a beleza da velhice, que mesmo ao elogiar essa fase da vida, descreve a mulher idosa como algo repugnante.

Os velhos, na Idade Média, foram sendo excluídos da vida pública: os jovens conduziam o mundo. “Dividida, conturbada, ameaçada, guerreira, a sociedade era regida bem mais pelo acaso das armas do que por instituições estáveis. O homem experiente tinha aí muito pouco espaço” (BEAUVOIR, 1990 p. 157 e 159).

Mucida (2014, p.66), diz que “em algumas culturas o idoso possuía poderes extras que lhes era conferido pela idade, podendo assim, utilizá-los contra os outros, passando a serem representados por ameaça e temor”.

Nessa direção, na obra de Beauvoir (1990, p. 118-119, 121 e 123) podemos também encontrar a ideia da honra e dignidade ligada ao envelhecer, assim como os conflitos geracionais:

Conforme as mitologias gregas, a velhice era tratada sob o ângulo do conflito das gerações pois, encontra-se na história inúmeros ecos dos conflitos que opuseram os jovens aos anciãos, os filhos aos pais. A ideia de honra foi ligada a velhice. A velhice era, portanto, em muitas das antigas cidades, uma qualificação.

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Nesse contexto, a velhice era considerada como uma categoria social pois, ao mesmo tempo em que o idoso tinha grande importância para as decisões que eram tomadas dentro de casa, eles podiam também envolver-se com papéis jurídicos e políticos pois, tinha grande influência nas decisões tomadas pelo chefe da Polis (NORO, 2015).

É interessante observar ainda que o conceito de velhice só surge após a Revolução Industrial, até então privilégio dos ricos, pois os integrantes das classes mais pobres só raramente atingiam a idade avançada. A partir de então, surgem os velhos pobres em contraposição aos velhos ricos e o destino de uns e de outros não é o mesmo (MUCIDA, 2014, p. 70).

Na época da idade média, nota-se o quanto a velhice era vista como desvantagem para os humanos pois, o tempo nada mais levaria ao sujeito a uma decadência, chegando assim ao fim, a morte. A vida permanecia precária e a longevidade rara. Entretanto, a sociedade evolui, a burguesia prospera e a última idade aparece essencialmente como o tempo em que nos preparamos para a morte (BEAUVOIR, 1990).

Com o surgimento da renascença, prolonga-se as tradições da Idade Média, pretendendo-se assim que o velho encontre a recompensa na saúde e na serenidade da última idade. Contudo nota-se uma diferença entre a Idade Média e a Renascença. “A idade média desprezava o farrapo humano: julgava-o particularmente repugnante entre as pessoas idosas. A renascença exalta a beleza do corpo; o da mulher era posto nas nuvens. A feiura dos velhos só pode parecer mais detestável ainda” (BEAUVOIR, 1990, p. 182-183).

Repara-se o grande preconceito e resistência pelas mulheres idosas. Nessa época era prazeroso humilhar a mulher velha comparando-a as jovens. Beauvoir (1990, p. 185) até se questiona “se os grandes poetas possuíam um ressentimento sexual por desprezar tanto assim a velhice e principalmente as mulheres idosas”. Contudo, independente do sexo, o envelhecimento causava repulsa à literatura e apenas quem era rico poderia possuir a graça e gozo de ser velho.

Os jovens sentiam uma repugnância aos homens mais velhos, pois, usavam de seu dinheiro para presentear ou comprar jovens mulheres, os deixando assim com ódio daquele que possui algo que deveria ser só dele. Na Renascença, percebe-se que nas imagens populares, a comparação entre as diferentes idades e os momentos

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do ano tornou-se um clichê. Um calendário da época ilustra os meses com cenas da vida em família (NORO, 2015).

Nessas gravuras, não se trata de descrever-se a vida humana tal como ela se desenrola na sua realidade contingente, mas de fixar uma espécie de arquétipo da existência do homem. Entre os quadros da Renascença, contam-se inúmeros retratos dos velhos. Caracterizam-se muito diferentes, segundo as circunstancias. Na época, velhos ricos e venerados têm orgulho de sua velhice (BEAUVOIR, 1990, p. 198-199). O maior significado de ser velho, era possuir barba e cabelos brancos. Entre as literaturas, destaca-se Shakespeare que sempre colocou a velhice numa posição de declínio, sendo ele triste e amargurado (NORO, 2015).

Destaca-se que no século XVII, os jovens conservam a realidade do poder. Mas, com a contrarreforma dota-se os papas de um grande prestígio por causa de seus costumes, ou seja, a idade seria contribuinte para praticar a virtude. Os papas quase sempre foram muito idosos nessa época (BEAUVOIR, 1990, p. 206).

Beauvoir (1990, p. 206-207) reforça essa citação afirmando que:

No século XVII, na França, foi um período árduo para os velhos. A sociedade era autoritária e absolutista. Os adultos que comandavam não abriam espaço para os indivíduos que não pertenciam à mesma categoria que eles: velhos e crianças. A média de vida era de 20 a 25 anos. Aos 50 anos não se tinha mais lugar na sociedade.

Outros dois pensadores já citados anteriormente que foram de grande importância para reflexões frente a velhice foram Platão e Aristóteles mesmo, obtendo conclusões divergentes.

“Platão por exemplo, considerou que a alma pode explorar o corpo em seu benefício sem ter a necessidade dele. O declínio da idade não atinge o corpo e até mesmo, se os apetites e o vigor do corpo decrescem a alma fica mais livre dele” (BEAUVOIR, 1990 p. 135). Então para ele, todo esse processo de envelhecimento nada tem a ver com o corpo, e sim, com a alma.

“Para Aristóteles, é preciso que o corpo permaneça intacto para que a velhice seja feliz. O declínio do corpo acarreta o indivíduo inteiro. Sua concepção da velhice leva Aristóteles afastar do poder os idosos, por ver neles indivíduos enfraquecidos” (BEAUVOIR, 1990, p. 136-137).

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A partir desses dois pensadores, podemos pensar que para o velho atravessar essa etapa da vida, ele não somente acarretará mudanças em seu corpo pelos anos vividos, mas, também, em seu pensamento e alma. Essa é a questão que nos leva a pensar que mesmo o idoso sabendo que estar em um processo de envelhecimento pode acarretar mudanças físicas, ele precisa elaborar questões que se referem a este corpo que ele adquiriu com o tempo e que pode causar muitos tipos de sentimentos (NORO, 2015).

Em relação as questões econômicas, por volta de 1603 na Inglaterra, notava-se um grande crescimento da população pobre e que viviam na miséria. Naquela época a rainha Elizabeth era quem governava o país e com isso, surgiu a ideia de criar uma lei que favorecesse os pobres que, “durante os primeiros quarenta anos do século XVII, diversas instituições de caridade tentaram paliar essa dureza; asilos e hospitais foram fundados” (BEAUVOIR, 1990 p. 218).

Na idade média, era muito importante que as pessoas trabalhassem pois se não, viveriam na miséria. Só era pobre quem tinha preguiça de trabalhar. Os velhos que não tinham condições morriam, porém, na burguesia ocorria tudo diferente pois, a velhice era valorizada:

(...) a família enquanto tal era idealizada: ela foi nas classes símbolo e a encarnação da família, era respeitado. Já no século XVI, os pais exigiam de seus filhos uma estrita obediência; os casamentos lhes eram imposto (...) No teatro elisabeteano viam-se os jovens lutarem pela liberdade da escolha matrimonial. (...) Em 1606, a convenção anglicana adotou a ideia de um francês, Bodin de quem se acabara de traduzir a obra: os pais devem ter direito de vida e de morte (BEAUVOIR, 1990, p. 218-219).

A partir do século XVIII nota-se uma grande mudança na população Européia:

A população cresce e rejuvenesce graças a uma melhor higiene (...). A melhoria das condições materiais favoreceu a longevidade. Muito raros antes de 1749, os homens de 80 anos e mesmo os centenários multiplicaram-se. Entretanto, este progresso só se faz sentir nas classes privilegiadas”. O século XIV foi marcado pelo sustento que a família poderia dar ao idoso, caso essa não o fizesse, ele apenas poderia contar com os auxílios que lhe passava a Igreja (BEAUVOIR, 1990, p. 221-222).

Na França em meados do século XVIII, Beauvoir (1990, p. 224-225) diz que:

O homem idoso adquire mesmo uma importância particular, por que simboliza a unidade e a permanência da família: esta última, através da transmissão das riquezas, permite a acumulação dos bens materiais (...) Ao envelhecer, o chefe de família permanece detentor de suas propriedades, e goza de um

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prestigio econômico; o respeito que ele inspira reverte-se de uma forma sentimental (...) Há preocupação complacente com os fracos: a criancinha e o idoso.

Já no oriente, a velhice é sinônimo de respeito e sabedoria. Os idosos são idolatrados e acima de tudo são tratados com muita atenção pois são vistos como seres de grande experiência acumulada ao longo de suas vidas. A cultura nessas sociedades tem como propósito cuidar bem, referenciar seus idosos. Esses provenientes de uma educação milenar de respeito. Os japoneses consultam seus anciãos antes de qualquer grande decisão, por considerarem seus conselhos sábios e experientes (MASC, 2013).

Em outros grupos das sociedades antigas, o ancião sempre ocupava uma posição digna e era sinônimo de forte aspiração perante todos. Os idosos têm intensa atuação nas decisões importantes de seus grupos sociais, especialmente nos destinos políticos. Na antiga China, o filósofo Confúcio (que viveu entre os anos 551– 479 a.C) já apregoava que as famílias deveriam obedecer e respeitar ao indivíduo mais idoso (MASC, 2013)

O Japão é o país do mundo com maior número de pessoas idosas - 23% da população têm 65 anos ou mais -, à frente da Alemanha (21%). O país asiático também é aquele com maior expectativa de vida, 83 anos, enquanto a média mundial é de 70 anos sendo ONU (PORTALMIE, 2017).

Na tradição japonesa é festejado de forma solene o aniversário do idoso. No Japão, o Dia do Respeito ao Idoso (Keiro no hi) é comemorado desde 1947, na terceira segunda-feira de setembro, mas foi decretado como feriado nacional apenas em 1966.

Trata-se de um feriado dedicado aos idosos, quando os japoneses oram pela longevidade dos mais velhos e os agradecem pelas contribuições feitas à sociedade ao longo de suas vidas (PORTALMIE, 2017).

Não se pergunta a idade a uma mulher jovem, mas sim às mais idosas, que respondem com muito orgulho terem 70 ou 80 anos, ao contrário do que se passa na sociedade brasileira, em que a partir de certa idade não se deve perguntar a idade a uma senhora para não causar constrangimentos, como terem-se muitos anos de vida fosse um motivo de vergonha ou ter-se algo a esconder.

Na tradição japonesa, ao completar 60 anos, é permitido ao homem o uso de blazer vermelho, pois somente com seis décadas de vida há a liberdade de usar a cor dos deuses. (No Brasil a cor vermelha é destinada para os mais jovens, à medida que

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os indivíduos envelhecem as cores destinadas são as mais claras, pálidas, sóbrias, tristes). Na sociedade chinesa é comum se encontrar anciãos, com 90/100 anos, fazendo diariamente atividade física nos parques municipais (MASC, 2013).

O envelhecimento deve ser visto como o alcance de certo patamar de desse desenvolvimento humano, indicado pela presença de papéis sociais e de comportamentos considerados como apropriados ao adulto mais velho, designando-lhe adjetivos como experiente, prudente, paciente, tolerante, ouvinte, e acima de tudo sábio (MASC, 2013).

O Japão é o país com a maior proporção de idosos do mundo: mais de 26% da população tem 65 anos ou mais. São 10 milhões de idosos nas ruas do Japão. Isso mesmo, nas ruas. Lugar de idoso no Japão é passeando nas ruas e não preso em uma casa. A cultura dessas sociedades tem como tradição cuidar bem, glorificar e reverenciar seus idosos, resultado de uma educação milenar de dignidade e respeito. Os japoneses consultam seus anciãos antes de qualquer grande decisão, por considerarem seus conselhos sábios e experientes (PORTALMIE, 2017).

Em outros grupos das sociedades antigas, o ancião sempre ocupava uma posição digna e era sinônimo de forte aspiração perante todos. Os idosos têm intensa atuação nas decisões importantes de seus grupos sociais especialmente nos destinos políticos (MASC, 2013)

Na antiga China, o filósofo Confúcio (que viveu entre os anos 551–479 a.C) já apregoava que as famílias deveriam obedecer e respeitar ao indivíduo mais idoso. Na tradição japonesa é festejado de forma solene o aniversário do idoso (MASC, 2013).

No Brasil somos todos pioneiros na área de proteção ao idoso. Precisamos desenvolver a consciência de que a sociedade está envelhecendo e, com a maior expectativa de vida, é preciso não apenas sobreviver a velhice, mas vive a plenamente (BRAGA, 2002).

Há uma diferença muito grande entre envelhecer em países em desenvolvimento como o Brasil (com seus graves problemas econômicos) e em países do chamado primeiro mundo, como os países da Europa e os Estados Unidos. Nestes países, as condições econômicas favoráveis, além de elevar a expectativa de vida das pessoas, ainda lhes permite chegar a idade avançada com uma maior capacidade econômica, garantindo não apenas uma vida melhor, mas uma verdadeira força dentro da sua sociedade, pois os idosos formam um grupo numeroso e influente (BRAGA, 2002).

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Em países como os Estados Unidos é comum ver grandes grupos fazendo turismo, sendo disputados como consumidores, eleitores, cidadãos. O governo também faz sua parte, criando comitês e grupos atuantes para que os idosos sejam efetivamente respeitados, senhores de seus direitos (BRAGA, 2002).

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2. OS DIVERSOS LUGARES DA VELHICE

Analisar que a velhice antigamente entendia-se somente para os que possuíam o poder de mostrar o quanto alguns sujeitos eram suscetíveis as questões econômicas que eram colocadas naquela época. Na contemporaneidade, nota-se que há uma grande decadência no interesse pela velhice e que é crescente os meios para que possa esconder as marcas da idade. Alguns dados apontados por Debert (1999, p. 14), nos mostra que “a partir da segunda metade do século XIX, a velhice é tratada como uma etapa da vida caracterizada pela decadência física e ausência de papeis sociais”.

O progresso da idade como um processo contínuo de perdas e de dependência – que daria uma identidade de condições aos idosos – é responsável por um conjunto de imagem negativas associadas à velhice, mas foi também um elemento fundamental para a legitimação de direitos sociais, como a universalização da aposentadoria. “As novas imagens e as formas contemporâneas de gestão da velhice no contexto brasileiro (...) são ativas na revisão dos estereótipos pelos quais o envelhecimento é tratado, desestabilizando imagens culturais tradicionais” (DEBERT, 1999, p. 65).

Em alguns países, como por exemplo o Brasil, criaram-se programas de inclusão do idoso para que vá para além de uma socialização deste indivíduo, levando-o a expressar-se e criar vínculos com outros sujeitos que se encontram em sua mesma posição.

Os velhos não tinham lugar na sociedade por serem considerados delimitados. Nessa mesma época, a infância não existia, pois, as crianças eram obrigadas a crescerem tendo assim, que trabalhar com seus pais nas lavouras, sujeitando-se assim ao aprendizado militar, os colocando em uma posição de pequenos adultos. “Durante esse período, os jovens continuam a conduzir o mundo” (BEAUVOIR, 1990 p. 163). Observa-se, que nesse período tanto mulheres quanto homens, não viviam por muito tempo.

Se pensarmos a questão orgânica, a velhice nada mais seria que um severo declínio das funções do corpo como também da estética corporal. Mas nos dias atuais, percebemos que cada dia mais o velho quer manter uma boa aparência e recorre ao consumismo para poder preencher essa necessidade. Para alguns, a velhice é marcada pela fase da vida em que se perde o desejo por objetos e pessoas, onde há

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uma grande queda de investimento seja ele emocional como também, libidinal (NORO, 2015).

Nada faria mais sentido para ele e pensaria somente em ser inutilizável para algumas ações em sua vida. Com essa perda de investimento, percebe-se que o meio social em que ele vive também se modifica. Seus amigos e familiares já não possuem o mesmo interesse pelo idoso. Muitas vezes, esses sujeitos acham melhor que o idoso fique em lugares que ele se identificaria, colocando-os assim em asilos ou casas de repouso. Ao mesmo tempo em que o idoso tenta aceitar sua velhice e encaixar-se ao contexto em que vive, a sociedade tenta colocá-lo em outro lugar, quase sempre reafirmando seu envelhecimento (NORO, 2015).

No Brasil, é considerado idoso quem possui 60 anos de idade ou mais. Existem vários privilégios para esses sujeitos, que são definidas no Estatuto do Idoso (2003). Como exemplo temos, atendimento preferencial, estacionamento de carro para idoso, banco especial nos transportes coletivos, entre outros. Ao mesmo tempo em que isso é visto por um ângulo positivo, cabe-nos pensar se ser privilegiado é o que o idoso gostaria para si pois, sempre esteve em uma posição de quem governava ou tomava decisões importantes tomando hoje, uma posição mais passiva do que ativa.

Na atualidade o idoso não ocupa o mesmo papel na sociedade que ele ocupava pois, eles não convivem mais com a família ou possui grande influência para esta. O velho não é mais visto como aquele que possui conhecimento e que deve passá-lo de geração para geração, mas sim, aquele que causa “incômodos”, em uma sociedade onde os jovens ganham um espaço social muito maior do que eles (NORO, 2015).

Com essas mudanças dos papéis sociais do idoso, cabe-nos pensar qual posição ele possui na sociedade, esta que hoje, já não é a mesma e que se modificou com o passar dos anos conforme as questões culturais e econômicas.

Atravessando este apanhado histórico, percebe-se que a velhice na sociedade de hoje é demarcada por várias questões que já não envolvem puritanismo e muito menos transmissão de conhecimentos. O idoso é reconhecido apenas pelo seu estatuto, ainda mais que isso: quem reafirma e é aliado a essa imagem colocada sob o velho na sociedade de hoje são os sujeitos que nela vivem (NORO, 2015).

O velho então, se encaixaria nesse “estranho” que a sociedade não reconhece pois, atualmente ele é visto como alguém que não faz mais nada, ou seja, que é inutilizável. Essa exclusão do velho, faz com que os sujeitos não sejam recíprocos aos seus sentimentos. O adulto o coloca assim, em uma posição de passividade sempre

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tentando reafirmar sua inutilidade, como se eles fossem inferiores as outras faixas etárias.

Segundo Beauvoir (1990, p.268), “queremos que os velhos se conformem à imagem que a sociedade faz deles. Impomos-lhes regras com relação ao vestuário, uma decência de maneiras, e um respeito às aparências”. Nota-se então que muitas vezes as pessoas não se flagram que estão reafirmando essa posição social que o velho é colocado pois, fazem comentários desnecessários frente a imagem desse, como um exemplo as mulheres: “você não acha que já passou da idade de usar saia curta?” (p. 268).

Pensamos então, na repulsa que a imagem do velho, causa nos mais jovens. É muito difícil que alguém goste da imagem de um corpo envelhecido, a não ser que tenha alguma ligação sentimental com essa pessoa. A expectativa de vida tem aumentado desde a Antiguidade. Foi a partir do fim do século XVIII na França, que o envelhecimento da população começou e pouco mais tarde, produziu-se em outros lugares do mundo. É na França e na Suécia que o envelhecimento da população é mais acentuado (BEAUVOIR, 1990 p. 272).

A partir disso, na democracia capitalista, cabe ao governo tomar decisões frente ao idoso pois, segue-se um estatuto criado para o beneficiá-lo. Com o aumento da população idosa, cresce o número de desempregos, estes ocorridos a partir do século XIX pois, o velho já não tem a mesma capacidade física que antes então, deve-se substituí-lo por alguém com mais força já que antigamente, geralmente os trabalhos exigiam esforços físicos principalmente aqueles que se davam nas áreas rurais (NORO, 2015).

Com todas essas questões voltadas a pensão, aposentadoria e também frente a imagem que a sociedade enxerga do velho, pertence a nós questionar se é confortável essa posição que o colocamos pois, muitas vezes algumas pessoas não estão preparadas para envelhecer ou não assumem seu avanço de idade. Tem muitos idosos hoje em dia, que não se sentem velhos, e também, há jovens que se sentem anciãos. Afinal, quando se fica velho?

Segundo Mannoni (1995, p. 16):

A velhice nada tem a ver com uma idade cronológica. É um estado de espírito. Existem “velhos” de 20 anos, jovens de 90”. A aposentação pode até demarcar o envelhecimento e o fim da vida ativa mas, não devemos levar em consideração apenas os aspectos sociais e biológicos pois, cada sujeito

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possui uma subjetividade que o difere dos demais e que pode fazer questão ao estudarmos o envelhecer.

Alguns jovens e adultos não aceitam que esses velhos não querem estar nessa posição que eles demandam que ele esteja, fazendo com que assim seja complicado conviverem no mesmo teto. Ao mesmo tempo em que quem convive com o idoso, vive reforçando sua posição passiva e decadente, vê-se uma dificuldade em conviver com aquele que representa a imagem do que ele um dia será.

Logo, o idoso é colocado em asilos e casas de repousos pelos seus filhos e familiares, pelo horror que aquela imagem representa a esse que não é capaz de aceita-la como também, por pensar que estar idoso, é estar na pior fase da vida, ou seja, aquela que recebe um carimbo cultural de morte (NORO, 2015).

Nesse tempo, o velho precisa de alguns cuidados básicos para sobrevivência e muitas vezes ele mesmo não consegue fazê-los, necessitando da ajuda do outro. Cabe-nos questionar até que ponto o velho quer esses cuidados pois, mesmo sabendo que necessita-os, sente-se muito mal por precisar dos outros para isso. E os próprios velhos falam que muitas vezes nos deixa a pensar em que lugar esse sujeito quer estar e que não o deixam estar: “Eu não preciso de ninguém”, “Eu tenho pés e mãos para quê?”, “Eu posso fazer sozinho”, “Não necessito de ajuda”. Dessa forma abre-se várias portas para estudo, que comprovam cada vez mais que as questões do envelhecimento não se colocam meramente ao estudo da biologia como também, da história, das relações sociais e principalmente, do psíquico dos sujeitos.

Dessa forma, vemos o quanto a sociedade capitalista muda o pensamento do sujeito, a ponto de faze-los tirar seus próprios familiares amados dentro de casa para coloca-los em lares, asilos, achando que assim, ele possa ser mais bem cuidado, mas nem sempre isso acontece.

Quando não podem mais sustentar-se, economicamente e física, o único recurso dos idosos é o asilo. Na maior parte dos países, o asilo é absolutamente desumano: nada mais que um lugar para esperar a morte (BEAUVOIR, 1970, p. 312).

Separado de seu passado, de seu ambiente, muitas vezes vestido com um uniforme, o velho perdeu toda a personalidade, não passa de um número. Em geral, as visitas são autorizadas todos os dias, e a família vem vê-lo de tempos em tempos: isso ocorre raramente, e, em certos casos, nunca há visitas. O velho fica, portanto, abandonado (BEAUVOIR, 1990 p. 317).

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Então ao percorrer os teóricos é possível perceber que a definição de velhice vem sendo transformada ao passar da história.

2.1. O Asilamento

Bem como falado anteriormente, na maioria das vezes, o velho não possui muitas escolhas e acabam dizendo para o outro que a escolha de ir para o asilo foi dele.

Groisman (2002) diz que, a institucionalização de idosos surgiu ao longo do século XIX, para atender as demandas dos velhos pobres, sem família ou enfermos, o que as classificavam de maneira assistencialista e de caridade.

Nesse seguimento, encontramos os ILPI (Instituições de Longa Permanência para Idosos), onde segundo Chaimowick (1999, apud Cardozo, 2009, p. 14) “é também uma alternativa para situações de saúde, como: necessidade de reabilitação, estágios terminais de doenças, ausência temporária do cuidador e níveis de dependência muito elevados”.

Assim, fica mais do que claro que a velhice é vista como um estágio da vida que se remete ao adoecer ou do “a vir a falecer”. O idoso é colocado no asilo apenas na intenção de cuidados básicos para sua sobrevivência mas, o que os familiares não acabam percebendo é que muitas vezes ele precisa de algo para além desses cuidados, seja esse uma escuta sobre sua condição de sujeito frente à sociedade como também, sobre como está sentindo-se sabendo que está cada dia envelhecendo mais.

A questão do asilamento é um grande assunto a ser debatido frente ao envelhecimento pois, ao mesmo tempo em que ele interage socialmente aqueles que estão envelhecendo, também tira dele, sua privacidade, causando assim várias transformações em sua vida. A institucionalização causa grande impacto na qualidade de vida dos idosos pois, o idoso passa a conviver com outras pessoas que estão passando pela sua mesma situação, talvez não os mesmos problemas causados pela velhice mas, estão envelhecendo como qualquer ser humano envelhece.

Envelhecer causa uma constante mudança no meio em que o sujeito vive. Quem envelhece, está em constante adaptação em especial esses que vivem em asilos pois, refere-se a uma nova cultura diferente do que ele tinha vivido antes. Segundo Graeff (2007):

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O asilamento retira do sujeito sua propriedade e privacidade, a opinião dos asilados se divide ao pensar nessa condição, ao contrário do que se acredita, alguns preferem morar no asilo que permanecer nos grupos sociais fora dele, onde perderam sua autonomia. Envelhecer no asilo pressupõe um ajustamento a uma nova cultura, formada pelo convívio com os outros asilados.

A condição e qualidade de vida do velho não dependem somente dos que trabalham no asilo mas, da sociedade, pois muitas pessoas marcam o velho como aquele que está na instituição para cuidados porque já não consegue lidar com si mesmo, necessitando da ajuda de outras pessoas.

Compreendemos os sentimentos que o espaço asilar e o envelhecer provocam no velho, promovendo mudanças psicológicas tanto para aquele que envelhece como também, para aquele que vê o outro envelhecer.

Debert (1999, p. 107) nos diz que ela é representada pelos residentes como uma alternativa capaz de possibilitar sua independência e o resgate de uma multiplicidade de papéis sociais, de uma vida social intensa que estaria ameaçada ou em franco declínio fora do asilo. E é a impossibilidade desse resgate que torna a experiência na instituição decepcionante e dá a ela uma dinâmica própria.

Para Debert (1999, p.108), “essa entrada no asilo tem o objetivo de manter a independência e a autonomia que poderia vir a ser ameaçada”.

Há vários relatos e falas de idosos que foram parar no asilo, citadas no livro de Debert (1999, p. 109)), entre elas destaca-se a de uma senhora viúva e com filhos, que nos deixa claro que a escolha de participar e residir em um asilo não foi dela:

Meu filho arrumou tudo porque eu já estava a quatro anos sozinha. Meu filho achou que estava muito pesado para mim. Então ele disse que iria arrumar um lugar onde eu fosse me sentir bem, ter ambiente cultural. “Vai ser alegre”, e me trouxe aqui e me apresentou para o pessoal da diretoria.

Ainda conforme o autor diz:

Inserir-se no asilo possui algumas expectativas para os idosos, entre elas, manter a independência funcional, ameaçada ante as deficiências físicas próprias da idade, não ser um estorvo para os filhos e participar de uma vida social ativa. O que nos possibilita pensar é se realmente o asilo irá disponibilizar todas essas expectativas que eles almejam pois, apesar de que é um lugar onde oferecesse sociabilidade, ele pode decepcionar e desapontar os sujeitos, em relação a questão da privacidade dos mesmos (1999, p.112).

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Muitos idosos se sentem presos nas instituições asilares, pois têm que cumprir as normas e rotinas existentes nos asilos; os horários para alimentação, saídas e outros; e, para idosos independentes, isso é uma interferência em suas vidas, em seus hábitos, tornando-as pessoas limitadas, gerando conflitos e insatisfação, levando-as na maioria das vezes, ao isolamento e à solidão (OLIVEIRA, 2013).

Oliveira (2013) registra que, em síntese, a vida institucional como regra, é marcada pela monotonia e pelo tédio, pela solidão e depressão, pelo isolamento e desconsolo, pela rotina e falta de perspectivas, características essas que, nas obras para velhos, ganham uma expressão mais acentuada e cruel.

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CONSIDERAÇOES FINAIS

O interesse pelo tema surgiu durante o estágio de ênfase de Social, onde realizei no CRAS da cidade de Porto Lucena, em que trabalhei com idosos, tendo como projeto “Histórias de Vida”.

A proposta desse estudo foi buscar maior entendimento sobre o fenômeno do envelhecimento e como ele vem se modificando com o passar dos anos.

Fazendo uma análise do estudo realizado, apresento, aqui, algumas considerações que julgo pertinentes, a partir do que pude abstrair e compreender acerca do envelhecimento.

Envelhecer já foi sinônimo de muita importância pois, o velho possuía sabedoria para lidar com assuntos familiares como também ter papel influente na sociedade. Entretanto, mesmo com esses privilégios por ser idoso, ele não era visto como um sujeito agradável por ser de uma figura corporal, vindo a ser rejeitado pelas questões orgânicas.

Atualmente, percebemos que algumas coisas não modificaram-se, mas o velho tem assumido novos papéis sociais. O velho, tem sido descartado pela sociedade como se não contribuísse mais nada para o meio em que vive. E o que mais chama a atenção é que ele nem é visto mais como aquele que passa valores e tradições de geração para geração pois, hoje em dia, dá-se somente valor para aquele que é jovem, é esquecido que o processo de envelhecimento percorre toda a nossa vida, desde o dia em que nascemos, assim sendo, o ser humano envelhece enquanto vive.

Como vimos, a vivência em relação a velhice sofre grande influência das representações sociais, pela cultura na qual o sujeito se insere, influenciando na qualidade de vida dele podendo lhe causar um maior sofrimento psíquico.

Tal sofrimento, que começa a ser vivenciado pelo velho desde a negação de envelhecer, seja na exclusão familiar até sobre a visão que tem sobre o preconceito da sociedade para consigo.

Partindo do nosso contexto social associa o envelhecimento as grandes perdas, um exemplo é o declínio das funções biológicas e cognitivas, que se impõem com o passar da idade, exigindo do velho que envelhece a elaboração do luto continuo, fazendo com que haja um conflito entre as perdas narcísicas que podem produzir efeitos psíquicos traumatizantes.

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O processo de envelhecer causa modificações em várias esferas da vida. No social, há um ganho em termos de experiências mesmo assim, há perdas em alguns papéis e funções. O processo de envelhecimento acarreta em várias modificações corporais. Mucida (2014) explicita que as modificações que ocorrem a partir de determinada idade são variáveis de organismo e podem se expressar de diferentes maneiras. O envelhecer em si provoca alguns desgastes em diversos sistemas funcionais, considerando que a evolução desse processo ocorre de maneira diferente de um sujeito para outro.

Com o processo de envelhecimento e as comorbidades advindas desse período, muitos idosos e familiares acabam por recorrer às Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI), para garantir os cuidados necessários nessa fase de vida.

Muitas pessoas entendem a velhice como uma fase de tristeza, uma faze que nada mais se espera a não ser a morte, mas que, se for analisado de outra maneira, entende-se que na velhice é que o idoso consiga fazer uma avaliação de seu aprendizado, suas conquistas, suas realizações com um olhar de quem deixou seu legado cumprido, referenciando o seu passado não só como um baú de recordações, lembranças mas sim um significado daquilo que foi vivenciado, criando novas perspectivas para seu futuro.

Os asilos e casas de repouso, tem proporcionado uma reintegração do sujeito em seu convívio social, podendo assim, inclui-lo, que que ele é visto como alguém estranho e recusado até mesmo por seus familiares. Debert (1990, p.119) nos relata que o asilo não pode ser entendido como representação do fim de uma vida, mas antes sua continuação em um novo espaço social.

O trabalho com idosos é de extrema importância, pois nos dias de hoje as pessoas costumam dar atenção apenas para aquilo que é da ordem do imperativo faça-se novo e embora O processo do envelhecimento faça parte da vida humana não é bem aceito, pois representa o espelho de todos nós.

Deve-se atribuir ao processo de envelhecimento possibilidades onde o velho seja tratado como sujeito, pois o envelhecimento é um processo que está inscrito em todos nós seres humanos, desde seu nascimento, e dele ninguém pode fugir. São muitas as questões que podem ser trabalhadas com os idosos, deixando –os livres para contar suas histórias, relembrando o papel que eles ocupavam no passado, deixando-os a vontade para a constituição de seus desejos.

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O sujeito vai se transformando com o passar dos anos, adquirindo novas experiências, e com elas vão surgindo novos interesses para a vida deste que deseja. O lugar do psicólogo é de suma importância quando se fala em envelhecimento, que este lugar possa proporcionar um espaço para a fala. Nas instituições asilares é possível oferecer esse suporte psicológico para o idoso, ode ele poderá falar de suas questões, inseguranças, alegrias, sem o medo de julgamentos do outro.

Escutar o velho é um trabalho fundamental, possibilitando significação e produção a partir de lembranças e memórias de um percurso da história de um sujeito, ressaltando que o idoso nessa faze da vida ainda tem os seus desejos, e que na verdade nunca parou de deseja-los, pode ser que ele já não deseja da forma que em outras fases de sua vida assim como também já não deseja os mesmos objetos e pessoas que antigamente.

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