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O trabalho em condição análoga à de escravo e a possibilidade do dano moral

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MARLANDA DA CUNHA

O TRABALHO EM CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO E A POSSIBILIDADE DO DANO MORAL

Ijuí (RS) 2015

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MARLANDA DA CUNHA

O TRABALHO EM CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO E A POSSIBILIDADE DO DANO MORAL

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TC.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul

DCJS − Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

Orientador: MSc. Paulo Marcelo Scherer

Ijuí(RS) 2015

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Dedico este trabalho primeiramente a Deus por ser essencial em minha vida, presente em todas as horas; aos meus adoráveis pais, Marlena e Orlando, que sempre me incentivaram; a meu esposo Fabio, pelo carinho, paciência e dedicação que a mim dispensou nos momentos em que precisei; e a todos que de uma forma ou outra me ajudaram durante o período desta caminhada.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me concedido a vida, pela coragem e por ter colocado pessoas maravilhosas no meu caminho, que me ajudaram a realizar mais uma jornada.

Aos professores Anna Paula Bagetti Zeifert, Luiz Paulo Zeifert, e em especial ao meu orientador, Paulo Marcelo Scherer, pela dedicação e por me proporcionarem о conhecimento necessário neste processo dе formação profissional.

Ao meu esposo Fabio pela paciência, incentivo e por estar presente nos momentos mais difíceis.

Em especial a meus pais que sempre me apoiaram e incentivaram a lutar e jamais desistir dos meus sonhos.

A todos aqueles que contribuíram de uma forma ou outra durante a trajetória de construção deste trabalho, meu sincero agradecimento.

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“Que os vossos esforços desafiem as impossibilidades lembrai-vos de que as grandes coisas do homem foram conquistadas do que parecia impossível ”

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RESUMO

Este trabalho de conclusão de curso estuda o contexto histórico das relações de trabalho, fazendo uma abordagem inicial sobre o período da escravidão (Brasil - colônia), destacando também o período da Revolução Industrial (séc. XX), representando este último, um grande marco para a sociedade pelo fato que deu ensejo as primeiras leis trabalhistas. Aborda também o princípio da dignidade da pessoa humana no âmbito da justiça brasileira e internacional, destacando a importância de tal princípio para a classe trabalhadora, bem como estuda os vários tipos de danos, principalmente o dano moral decorrente da atividade laboral. Com esta abordagem, conclui na tentativa de compreender se as decisões dos tribunais e o trabalho da justiça de um modo geral são realmente eficazes para o controle do trabalho escravo.

Palavras-Chave: Relações de Trabalho. Revolução Industrial. Dano Moral. Trabalho Escravo.

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ABSTRACT

This course conclusion work studies the historical context of labor relations, making an initial approach to the slavery period (Brazil - Colony), also highlighting the period of the Industrial Revolution (XX century), representing the latter, a major milestone to society by the fact that gave rise the first labor laws. Also addresses the principle of human dignity within the Brazilian and international justice, stressing the importance of this principle for the working class , as well as studying the various types of damage, especially the moral damage resulting from labor activity. With this approach, we conclude in trying to understand if the decisions of the courts and the work of justice in general are really effective for the control of slave labor.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...9

1 O DIREITO DO TRABALHO A PARTIR DA SOCIEDADE PRÉ-INDUSTRIAL ...12

1.1 A escravidão e o surgimento das relações de trabalho...13

1.2 A evolução do direito do trabalho perante as novas Constituições...18

1.3 A efetividade do princípio da dignidade da pessoa humana nas relações de trabalho...21

1.4 A importância das normas internacionais nas relações de trabalho...25

2 DANO MORAL NO TRABALHO EM CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO ...29

2.1 O dano moral, material e existencial ...30

2.1.1 Do dano moral...30

2.1.2 Do dano material...31

2.1.3 Do dano existencial...32

2.2 O dano moral nas relações de trabalho...34

2.3 O trabalho em condição análoga a de escravo...39

2.4 O dano moral das relações de trabalho escravo e o entendimento dos tribunais...40

CONCLUSÃO...44

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INTRODUÇÃO

A influência das relações de trabalho no desenvolvimento da pessoa humana sempre foi um problema na sociedade de um modo geral, um assunto que vem sendo discutido e que está presente de forma contínua nos dias atuais. Incisivamente os homens elaboraram teorias para tentar definir as relações decorrentes do trabalho que se apresentavam distintas em vários períodos históricos. A abrangência da discussão sempre trouxe consigo um viés de disputa doutrinária, ou seja, nos preceitos teóricos construídos contemporaneamente. Nesse sentido, se torna relevante a definição do dano moral, a fim de que se possam construir meios eficazes no controle do trabalho “forçado”, permitindo a todos os cidadãos que exerçam seus direitos, em especial neste caso, o direito à dignidade da pessoa humana, fazendo-se necessário remontar ao pensamento grego e aos postulados filosóficos da civilização romana.

A filosofia socrática justificava as relações de trabalho na condição de escravidão, como sendo indispensável para o desenvolvimento da sociedade. Os povos gregos abandonavam toda e qualquer atividade que gerasse fadiga física, sendo assim, havia muitos cidadãos que se dedicavam à política e filosofia, por exemplo, acreditando sempre que o homem se diferenciava do animal pelo uso da razão “logos”, ou seja, pelo potencial de construção do pensamento lógico capaz de transformar o mundo. Aristóteles, entre outros filósofos, deslocavam essas investigações do ser humano para os campos da ética e da moral, chegando ao entendimento de que a sociedade é formada por dois grupos: o primeiro por homens livres, e o segundo por pessoas que eram apenas instrumento de trabalho (escravos e mulheres).

A partir desse entendimento, pode-se dizer que as relações de trabalho, desde os primórdios até os dias atuais, percorrem um longo e tortuoso caminho. Apesar de inúmeras

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transformações nesta seara, continua-se lutando por um mundo mais justo e igualitário, o qual todos nós cidadãos, temos direito.

O dano moral decorrente da atividade laboral, assunto que interessa toda e qualquer pessoa, está diretamente ligado com o tipo de ambiente de trabalho no qual o trabalhador encontra-se inserido. É por isso que é de suma importância o estudo das relações de trabalho, a fim de compreendermos quais as situações passíveis de indenização por esse tipo de dano.

Desse modo, este trabalho de curso tem como objetivo principal estudar as relações de trabalho construídas no processo histórico-evolutivo da sociedade, principalmente as questões ensejadoras do trabalho escravo. Analisar as decisões dos tribunais, estabelecendo como surgiu o dano moral, bem como as conseqüências deste diante da existência do princípio da dignidade da pessoa humana.

O presente trabalho é desenvolvido em dois capítulos. No primeiro são abordados, aspectos mais históricos no que tange as relações de trabalho, questões acerca da Revolução Industrial e o princípio da dignidade da pessoa humana. Por sua vez, o segundo capítulo aborda os danos de forma genérica, em especial o dano moral decorrente da atividade laboral, o trabalho escravo e o entendimento dos tribunais.

O interesse na escolha do tema evidencia-se na vontade de compreender as relações de trabalho,a qual vem sofrendo transformações constantes desde os primórdios da humanidade. A partir disso é de extrema importância o estudo do surgimento do trabalho, a compreensão dos danos decorrentes das relações interpessoais, principalmente aqueles que decorrem em razão da atividade laboral. A partir disso torna-se necessário analisar as leis, bem como as decisões dos tribunais, para que se encontre uma resposta à problemática que ainda persiste, qual seja, o trabalho escravo e a possibilidade do dano moral. Esta problemática do assunto aliada com a atualidade mostra-se como fator de estímulo para o estudo do presente trabalho, o qual, todavia, não tem, e nem pode ter a pretensão de esgotar o tema, e muito menos apresentar conclusões que sejam aceitas.

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1 O DIREITO DO TRABALHO APARTIR DA SOCIEDADE PRÉ-INDUSTRIAL

As relações de trabalho na sociedade pré-industrial (século XX), sempre foram marcadas por constante subordinação, uma vez que os senhores feudais, donos da terra, obrigavam os servos a prestarem serviços em condições humilhantes e desumanas, deixando de zelar por sua integridade física e mental. Naquela época não havia um sistema de normas jurídicas capaz de regular tais relações, estando os trabalhadores desprovidos de direitos e garantias necessários para se viver com dignidade.

Certamente, no decorrer da história, com o surgimento da sociedade moderna, houve uma grande evolução mundial, em razão da criação de vários direitos relacionados ao trabalho. Tal período foi marcado constantemente pela valorização e a proteção do “homem”, sendo este caracterizado pela expressão de humanismo jurídico, melhorando desta forma as relações individuais e coletivas dos seres humanos, garantindo harmonia diante da criação de uma nova proposta de normas flexíveis a classe trabalhadora.

Nesse sentido, tornou-se indispensável o trabalho na vida do ser humano. Entretanto, como contextualizá-lo dentro da perspectiva do princípio da dignidade da pessoa humana? Somente é possível existir um trabalho sadio com base em tal princípio, que permite ao trabalhador conviver em seu ambiente de trabalho com tranqüilidade, respeito e satisfação.

Entende-se que a dignidade da pessoa humana deve ser preservada em todas as searas, mas principalmente no ramo do direito do trabalho, que passou longos períodos da história sem proporcionar nenhuma garantia aos trabalhadores, buscando de certa forma diminuir com a desigualdade social que perdurou por muito tempo em nossa sociedade.

Feitas essas primeiras colocações, elucida-se que o presente capítulo tem por objetivo analisar as relações de trabalho ao longo da história, ou seja, o surgimento dos direitos sociais, bem como no contexto atual, a fim de que possibilite averiguar uma hipótese de eficácia no controle do trabalho em condição análoga a de escravo.

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1.1 A escravidão e o surgimento das relações de trabalho

A escravidão no Brasil (1530-1888), que teve início no período colonial, ficou registrada historicamente em função da alta exploração da mão-de-obra. Desse modo cabe salientar a sua importância e contribuição para a criação das relações de trabalho, uma vez que influenciou diretamente o homem, ensejando grande repercussão histórica.

(NASCIMENTO, 2004, p.45) descreve alguns efeitos da escravidão:

Predominou a escravidão, que fez do trabalhador simplesmente uma coisa, sem possibilidade sequer de equiparar a sujeito de direito. O escravo não tinha, pela sua condição, direitos trabalhistas [...] embora recebendo certa proteção militar e política prestada pelo senhor feudal dono das terras, os trabalhadores também não tinham uma condição livre. Eram obrigados a trabalhar nas terras pertencentes aos seus senhores.

Diante de tal ideia, é notória a desigualdade na presente época. Diversos trabalhadores se submetiam a condições desumanas de trabalho, em razão de prover o sustento da família. Nesse sentido (CASTRO et al, 1983, p.36, grifo do autor), colabora, estabelecendo os motivos que sustentaram a escravidão:

A escravidão sobreviveu porque era um investimento lucrativo, tanto ou mais do que os melhores investimentos de manufatura. Por isso, a escravidão não se encontrava em decadência na véspera da Guerra Civil; ao contrário, estava se fortalecendo, e, implicitamente, a guerra era necessária para conseguir a abolição. Os próprios escravocratas não eram pessimistas na véspera da guerra: a renda per capita estava aumentando ainda mais rapidamente no Sul do que no Norte, e os sulistas esperavam separar a sua Confederação dos Estados Unidos para formar uma próspera república, escravocrata e independente.

Continuando com o pensamento do mesmo autor, outros fatores que predominavam a escravidão giravam em torno de que a “agricultura baseada na mão-de-obra escrava era 35 % mais eficiente do que a agricultura do Norte baseada na pequena propriedade familiar”.

A partir destas colocações, cabe mencionar que a escravidão se estabeleceu na sociedade, pela ausência de leis capazes de regular as relações de direito do trabalho, não havendo nenhum tipo de controle eficaz no combate desse tipo exploração. Sendo assim, só aumentava a utilização da mão-de-obra escrava, uma vez que continuava se expandindo, mesmo com o surgimento da sociedade industrial.

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No que tange a comparação entre os trabalhadores livres da indústria com os escravos, pode-se afirmar que o padrão de vida material destes últimos era razoavelmente melhor que dos primeiros, permitindo desta forma que os escravos faturassem até 95% do que produziam (CASTRO et al, 1983).

Quanto a queda do trabalho escravo em função do surgimento do trabalho livre (WALKER apud CASTRO et al, 1983), traz uma importante colocação: “A inferioridade do trabalho escravo com respeito ao homem livre, inclusive da mais baixa classe industrial, é proverbial”.

Desse modo, compreende-se que com o surgimento das indústrias, o trabalho livre, assim como trabalho escravo permaneceram constantes, uma vez que parte dos trabalhadores preferia continuar na informalidade, e outros optavam em se adaptar às novas tecnologias.

Portanto, a partir da segunda década do século XX, no período do pós-guerra, as relações de trabalho começam as ganhar uma dimensão profunda, pelo fato de que o ser humano buscava cada vez mais o seu espaço na sociedade. Mediante essa situação, foram criadas as primeiras normas saneadoras de conflitos durante esse momento histórico, dando ensejo as Constituições que serão abordadas logo a seguir.

No ano de 1934 começaram a serem evidenciadas as primeiras normas de Direito do Trabalho, encontrando-se em destaque o pluralismo sindical. Logo após, na Constituição de 1937, pode-se afirmar que esta não representou um grande avanço, uma vez que nunca foi coerente com a realidade brasileira. Já a Constituição de 1946, preocupou-se em demonstrar os princípios liberais na ordem política, mantendo-se conservadora quanto às questões trabalhistas. É o que salienta Bento Herculano Duarte (1998).

Nesse sentido, com relação aos fatores que determinaram o surgimento do direito do trabalho, Amauri Mascaro Nascimento (2004, p. 46-47) destaca o aspecto econômico nos seguintes termos:

As razões que determinaram o seu aparecimento são econômicas, políticas e jurídicas. A principal causa econômica foi a Revolução Industrial do século

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XVIII, conjunto de transformações decorrentes da descoberta do vapor como fonte de energia e da sua aplicação nas fábricas e meios de transportes. Entretanto, embora o fator econômico mereça destaque no surgimento das relações de trabalho, outros aspectos também foram essenciais nesse contexto histórico; entre eles os aspectos políticos, jurídicos, e a ideia de justiça social.

Ao longo da história, mais precisamente na Idade Contemporânea, o direito do trabalho fixou-se mediante a necessidade dos ordenamentos jurídicos em função das suas finalidades sociais, que o definem como mera regulamentação jurídica das relações de trabalho, conforme ilustra Nascimento (2004, p. 50):

No período contemporâneo, o direito do trabalho, embora mantendo os seus objetivos iniciais de tutela do trabalhador, passou a desempenhar, também, uma função coordenadora dos interesses entre o capital e o trabalho. As leis trabalhistas de defesa dos interesses dos assalariados passaram a conviver com outras normas destinadas a solucionar questões próprias de épocas de crise. É o caso da estabilidade no emprego, cujo rigor foi abrandado.

Vislumbra-se de tal contexto histórico a importância deste para o desenvolvimento do Brasil, como para os demais países que passaram a ter em seu ordenamento jurídico, normas do direito do trabalho, ou melhor, um conjunto de regras adequadas para a composição de possíveis conflitos.

Nesse sentido, mais à frente da história torna-se importante destacar que o período da sociedade pós-industrial (1969) ensejou maior amplitude às normas relacionadas ao sindicalismo, protegendo o trabalhador contra o desemprego e ampliando ainda as negociações coletivas. Diante desta situação, o Estado necessitou de maiores investimentos quanto a proteção social, uma vez que a globalização se demonstra um fator irreversível (NASCIMENTO, 2004).

Continuando com o pensamento do mesmo autor, constata-se também que durante a sociedade pós-industrial, houve o deslocamento de produção da indústria para outros setores, ampliando de certa forma as negociações coletivas. A partir desse momento, ocorreram diversas transformações no mundo, principalmente relacionadas a mão-de-obra, uma vez que esta passou a ser substituída pela utilização de máquinas, acelerando cada vez mais a produção.

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Nesse sentido, Nascimento (2004, p. 51, grifo do autor) descreve muito bem esse período:

Assistimos às transformações do mundo das relações de trabalho numa sociedade que produz mais com pouca mão-de-obra. A tecnologia mostrou o seu lado cruel: a substituição do trabalho humano pelo software; a desnecessidade, cada vez maior, de um quadro numeroso de empregados para obter os mesmos resultados com redução da demanda de trabalhadores entre 25% e 35% da força de trabalho; a informatização e a robótica como principais fatores do crescimento da produtividade mundial; o avanço da sociedade de serviços maior do que a sociedade industrial; novas profissões; sofisticados meios de trabalho, uma realidade bem diferente daquela na qual o direito do trabalho nasceu.

Além disso, observa-se que nessa época diminuíram os empregos na indústria, ganhando destaque as pessoas com maior conhecimento e informação, eis que surge uma nova geração, aonde a ciência se torna imprescritível diante dos novos segmentos e mudanças no setor do desenvolvimento e produção.

Ao continuar, no período Moderno, mais normas de proteção ao trabalhador foram criadas, a fim de se diminuírem as desigualdades sociais, representando um desafio para os juristas desta época. Sendo assim, Duarte (1998, p. 40) salienta algumas dificuldades a serem enfrentadas neste período:

O fim do século XX, que vivemos revelou uma nova modalidade: um desemprego estrutural que não vem ligado a um colapso da economia nem a quebra de bolsas, mas que pode vicejar, e de fato viceja, mesmo ao lado de economias com taxas razoáveis de desenvolvimento. É dizer, a economia conseguiu fazer simultaneamente coisas que no passado não eram possíveis: crescer e diminuir a necessidade de mão-de-obra.

Constata-se, por conseguinte, que em razão destes contratempos instalaram-se alguns conflitos entre empregados e empregadores, cujo instrumento básico era a greve. Isso decorreu principalmente pela baixa produtividade, havendo um número exorbitante de trabalhadores, comparado a demanda de trabalho existente naquela época, que era mínima. Outro fator determinante, que desmoralizou a classe operária neste período, foi a baixa remuneração, salários incompatíveis com as jornadas de trabalho, o que gerou tamanha revolta aos trabalhadores.

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A partir deste momento, começa a surgir uma nova era, fase registrada por muitas conquistas de direitos sociais, principalmente relacionados ao trabalho. Porém, o período Moderno vem acompanhado de um fenômeno preocupante, o desemprego, originado principalmente pela crise do capitalismo, passando a economia por uma fase conturbada (DUARTE, 1998).

Com relação ao cenário da época, Duarte (1998, p.40) prevê alguns acontecimentos futuros, em função do surgimento desses novos direitos e mudanças na sociedade:

[...] Havia, e no futuro sempre haverá, o chamado desemprego técnico: aquele decorrente da mudança de um emprego para outro, ou até mesmo, a procura de um novo trabalho compatível com as funções do desempregado. Foi esse desemprego que permitiu sempre a existência de um mercado de trabalho que, em última análise era formado por pessoas, obviamente, disponíveis e desempregadas. Mas isto não chegou a alamar, a não ser nos próprios momentos de crises.

Nesse sentido, no decorrer da história, as relações de trabalho desencadearam algumas lutas e conflitos, diante da ausência de normas reguladoras do comportamento humano. No entanto, é importante destacar que através do trabalho houve avanço em diversos aspectos: social, político, econômico, entre outros. Foi em razão desce crescimento que o “homem” passou a construir a sua própria personalidade, sendo possível a sua liberdade de expressão, momento no qual o trabalhador passou a ser valorizado, através da criação de leis protetoras dos direitos sociais, conforme será exposto no subtítulo a seguir.

1.2 A evolução do direito do trabalho perante as novas Constituições

Tal contexto de expansão das relações de trabalho e dos direitos sociais ganhou certa relevância com o advento das primeiras Constituições, de 1824 e 1891. Foi a partir deste momento (séc. XIX) que ocorreu a aproximação aos princípios basilares do direito social, que sempre estiveram à margem das referidas Constituições.

Duarte (1998, p. 33), descreve claramente a importância da criação da Constituição de 1824:

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A nossa Constituição de 1824 não deixava de ser uma constituição moderna em matéria, por exemplo, de direitos individuais e de direitos humanos, compaginando-se com as mais liberais do mundo.

Nesse sentido, a participação da mesma foi de suma importância histórica. No entanto, ela compaginou algumas restrições, pois o Estado era proibido de intervir nos domínios da economia privada, não podendo editar leis de proteção do trabalhador (DUARTE, 1998).

Mais adiante, com o advento da Constituição de 1888, houve uma grande repercussão econômica, pondo termo ao regime escravocrata, ensejando a partir daí um período curioso, passando as questões do trabalho a serem discutidas com tamanha freqüência gerando polêmica na sociedade.

Além disso, em 1934, surge a primeira Constituição focada aos direitos sociais, prevendo condição digna de vida aos trabalhadores, através da participação do Estado. Esse período foi extremamente relevante para o direito do Trabalho, uma vez que a Constituição Federal de 1934, ante sua tendência social-democrática, institui a Justiça do Trabalho, que somente teve instauração efetiva em 1941 (FILHO, 2010).

Importante destacar que a mencionada constituição, foi a pioneira na criação de normas trabalhistas, tais como: o reconhecimento dos sindicatos e pluralidade sindical; jornada diária de 8 horas; salário-maternidade, entre outros direitos vigentes em nossa Constituição atual.

No que segue, em 10 de novembro de 1937, com o Golpe de Getúlio Vargas, deu-se início ao chamado Estado Novo, surgindo a Constituição de 1937, que conferia poderes dilatórios ao presidente da República, trazendo diversos avanços, como a remuneração do trabalho noturno superior a do diurno, entre outras inovações para os trabalhadores (MARTINS FILHO, 2010).

Com o surgimento da constituição de 1946 que refletia em seu texto os princípios liberais na ordem política fruto da vitória dos regimes liberais democráticos sobre o nazifascismo, a mesma manteve-se conservadora no que tange as questões trabalhistas (DUARTE, 1998).

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Seguindo com a ideia do mesmo autor, destaca-se que ocorreu uma definição mais eficaz dos direitos dos trabalhadores que se estabeleceram com a criação da Constituição de 1967, uma vez que esta manteve as conquistas anteriores, fazendo apenas algumas modificações, merecendo destaque o fato de que o Brasil não ratificou a Convenção n. 87 que previa o pluralismo sindical representativo.

Com relação a Constituição atual, a partir do término do regime militar, ocorreu a elaboração de uma nova carta política, surgindo desse modo, a Constituição de 1988, que trouxe consigo inúmeras novidades para a seara trabalhista, sendo as principais destacadas por Martins Filho ( 2010, p. 87):

(a) seguro-desemprego; (b) piso salarial; (c) irredutibilidade de salários; (d) garantia de salário fixo (para as categorias que recebem por comissão; (e) 13° salário; (f) jornada de 6 horas nos turnos ininterruptos de revezamento; (g) licença remunerada de 120 dias à gestante e de 5 dias ao pai; (h) aviso prévio proporcional ao tempo de serviço; (i) adicional de insalubridade e periculosidade; (j) assistência em creches aos filhos de até 6 anos; (k) seguro contra acidente do trabalhador; (l) prescrição qüinqüenal para o trabalhador urbano(e bienal quando cessada a relação de emprego) e sempre de 2 anos após a rescisão contratual, para o rurícola.

A respeito da Consolidação vigente, cabe salientar as reformas da legislação trabalhistas perante a ratificação da Convenção n. 87 da OIT- Organização Internacional do Trabalho no ano de 2003:

Em 2003, eleito Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ex dirigente sindical, empenhou-se em fazer reformas, não só na Previdência Social para reduzir o seu custo para o Estado, no sistema tributário, para facilitar a circulação de bens e a melhor distribuição de riquezas, mas, também, na legislação trabalhista, com destaque para as leis sindicais [...] o deputado federal Vicentinho, também apresentou Proposta de Emenda à Constituição Federal sobre a organização sindical a partir do local de trabalho, legislação das centrais sindicais, autorização para que os sindicatos pudessem ingressar com as ações judiciais na qualidade de substitutos processuais dos trabalhadores, extinção da contribuição sindical compulsória e criação de outras contribuições associativas ou facultativas para o trabalhador, proibição de dispensa sem, justa causa, do empregado representante dos trabalhadores no local de trabalho, vedação da prática de atos anti-sindicais contra os empregados e atribuição, às centrais sindicais, de poderes para solucionar conflitos de representatividade entre entidades na sua área (NASCIMENTO, 2004, p. 63-64, grifo do autor).

Outro momento relevante para a Constituição de 1988 foi a promulgação da Emenda Constitucional, n. 45/04, conforme descreve (MARTINS FILHO, 2010, p. 89, grifo do autor):

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Promulgada no dia 08 de dezembro de 2004 e publicada em 31 de dezembro de 2004, a Emenda Constitucional nº 45/2004, promoveu a Reforma do Poder Judiciário, concluindo longo processo legislativo (12 anos de tramitação), no qual se cogitou da extinção da Justiça do Trabalho, assimilada pela Justiça Federal, bem como da extinção completa do Poder Normativo da Justiça Do Trabalho, mas a versão final aprovada representou fortalecimento do Judiciário Laboral, com significativa ampliação de sua competência.

Com base no mesmo autor, destacam-se algumas inovações na Justiça do Trabalho a partir de tal Emenda: a ampliação da Competência do artigo 114 da Constituição Federal, redução do Poder Normativo, criação do Conselho Superior da Justiça do Trabalho, a instituição da Escola Nacional da Magistratura Trabalhista, a ampliação do Tribunal Superior do Trabalho, e a possibilidade de criação de “câmaras regionais”.

Nesse sentido, torna-se importante destacar que além da consolidação das leis trabalhistas, os direitos sociais também demonstram grande relevância histórica, conforme descreve Darcísio Corrêa (2002, p. 174):

[...] direito ao trabalho e à liberdade de trabalho, direito ao salário mínimo, à jornada de quarenta e quatro horas semanais de trabalho, ao descanso semanal remunerado, a férias anuais remuneradas acrescidas de um terço do valor do salário, direito à liberdade sindical, direito de greve. Não menos importantes direitos de segunda geração são os direitos à saúde, à educação, à seguridade social, à habitação, enfim, direitos de acesso aos meios de vida e de trabalho.

Portanto, uma boa definição para o direito social no âmbito trabalhista é a formulada por Cesariano (1980, apud NASCIMENTO, 2004, p. 83):

[...] a ciência dos princípios e leis geralmente imperativas, cujo objetivo imediato é, tendo em vista o bem comum, auxiliar as pessoas físicas, dependentes do produto de seu trabalho para a subsistência própria a de suas famílias, a satisfazerem convenientemente suas necessidades vitais e a ter acesso à propriedade privada.

Entende-se que os direitos sociais são garantias essenciais na vida de qualquer ser humano, abrangendo todas as normas de proteção às pessoas economicamente fracas, ou melhor, hipossuficientes (NASCIMENTO, 2004).

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Importante mencionar que a conquista dos direitos sociais ocorreu diante de um longo processo de maturação histórica. Porém, com a consolidação da Constituição de 1988 é que se observou uma grande evolução destes direitos, conforme anteriormente destacado. Ainda é relevante o entendimento de que o principal fator histórico que contribui para a criação dos direitos sociais foi a passagem do Estado Liberal para o Estado Social, sendo a principal função de estes direitos promover o bem-estar social, buscando uma melhor qualidade de vida para todos.

Assim, feitas as colocações sobre a evolução dos direitos do trabalho, passa-se a tratar a respeito do princípio da dignidade da pessoa humana como forma de efetivação do ser humano no subtítulo que segue.

1.3 A efetividade do princípio da dignidade da pessoa humana nas relações de trabalho

É de extrema importância a proteção de todo e qualquer ser humano, principalmente do trabalhador. Frente a isso é necessário a aplicação do princípio da dignidade da pessoa humana, visando a garantia de direitos fundamentais para a sobrevivência dos indivíduos.

A partir deste contexto, faz-se necessário compreender a aplicabilidade de tal princípio nas relações humanas, a fim de que se possa constatar a sua real funcionalidade quando dimensionado na seara trabalhista.

Desse modo, é importante destacar o pensamento de Kant (apud GOMES; BULZICO, 2011, p. 21), com relação ao período Contemporâneo:

[...] a base para a construção teórica que, distinguindo direito de moral, conduziu, já no século 20, ao ápice do positivismo jurídico, com a Teoria Pura do Direito, de Kelsen. A razão Kantiana, que serve de fundamento à dignidade por ele proclamada, coloca-se em um lugar abstrato, sendo integrada por juízos meramente formais.

Conforme esse entendimento é possível perceber a relevância histórica do pensamento de Kant, que estabeleceu as primeiras diretrizes quanto aos direitos fundamentais, principalmente quando relacionados à dignidade da pessoa humana e o racionalismo.

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Nesse sentido, é indispensável a definição de dignidade humana:

[...] qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e co-resposável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos (GOMES, BULZICO, 2011, p. 16-17).

Sendo assim, tal direito está relacionado intimamente com o comportamento de cada pessoa. O direito a igualdade, por exemplo, é assegurado por lei, no entanto, será merecedor de tal “regalia”, aquele que fizer jus ao direito, agir conforme determinação legal.

É relevante destacar a supremacia da dignidade da pessoa humana, conforme exporta por PINTO (apud GOMES; BULZICO, 2011, p.17):

[...] decorre, desde logo, verdadeiro imperativo axiológico de toda ordem jurídica, o reconhecimento de personalidade jurídica a todos os seres humanos, acompanhado da previsão de instrumentos jurídicos (nomeadamente direitos subjetivos) destinados à defesa das refrações essenciais da personalidade humana, bem como a necessidade de proteção desses direitos por parte do estado.

Outro ponto que deve ser evidenciado, diz respeito à relação entre o povo e o Estado para a efetividade do princípio da dignidade, mencionado por SARLET (apud GOMES; BULZICO, 2011, p.18):

A dignidade da pessoa humana é simultaneamente limite e tarefa dos poderes estatais e, no nosso sentir, da comunidade em geral, de todos e de cada um, condição dúplice esta que também aponta para uma simultânea dimensão defensiva e prestacional da dignidade.

Desse modo, verifica-se que cada parte, Estado e povo, apresentam algumas funções peculiares a eles, que contribuem evidentemente na construção de uma sociedade mais justa, que cumpre com os princípios básicos do direito que ensejam os direitos sociais.

A partir desta ideia,Cesariano (apud NASCIMENTO, 2004, p. 83) define com clareza os direitos sociais:

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[...] ciência dos princípios e leis geralmente imperativas, cujo objetivo imediato é, tendo em vista o bem comum, auxiliar as pessoas físicas, dependentes do produto de seu trabalho para a subsistência própria e de suas famílias, a satisfazerem convenientemente suas necessidades vitais e a ter acesso à propriedade privada.

Depreende-se neste contexto, a dificuldade em estabelecer quais seriam os critérios necessários para se viver com dignidade. Nesse sentido é importante frisar que tal princípio está intimamente ligado com valores, como o da ética e da moral, ou seja, valores impossíveis de serem atribuídos, uma vez que são considerados direitos naturais, ou seja, que já nascem com o homem.

Martins Filho (2010, p. 27, grifo do autor) esclarece com precisão algumas peculiaridades do direito natural:

Direito que decorre da natureza das coisas. Engloba os direitos fundamentais, ou seja, aqueles que são condição de existência da pessoa humana. Segundo São Tomás de Aquino, são eles passíveis de captação experimental e paulatina, ao longo da história, o que explica a evolução no seu reconhecimento, consubstanciando os chamados direitos de 1ª, 2ª e 3ª gerações.

Continuando com o entendimento do mesmo autor, fundamental é a compreensão de tais gerações. A primeira geração apresenta como direitos fundamentais, a vida, a liberdade e a propriedade, destacando neste caso, a liberdade; a segunda geração, destaca como direitos fundamentais a igualdade, a saúde, a educação e o trabalho, com ênfase na igualdade; e a terceira geração, determina o direito a paz, a segurança, meio ambiente, priorizando neste momento a fraternidade (MARTINS FILHO, 2010, p. 27).

A partir dessa ideia, torna-se evidente que no decorrer da história os direitos fundamentais foram aprimorados, sendo os mesmos essenciais para as relações humanas. Na Constituição vigente (1988) os direitos fundamentais são divididos em três dimensões: liberdade, igualdade e fraternidade (MARTINS FILHO, 2010).

No que diz respeito à previsão legal do princípio da dignidade da pessoa humana, a mesma está regulamentada no inciso, III, artigo 1° da Constituição vigente, sendo importante

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frisar, que através da referida Constituição, o direito a soberania, a livre iniciativa, entre outros são classificados como princípios fundamentais.

Importante destacar o seguinte entendimento, com relação ao princípio da dignidade da pessoa humana do trabalhador:

:

[...] o princípio da dignidade da pessoa humana pode e deve ser aplicado no âmbito da relação laboral não só para suprir as lacunas da lei, mas também como forma de proteger o trabalhador contra atos que afrontem sua integridade e dignidade, de forma a lhe garantir condições laborais saudáveis e dignas (NICOLAU, 2012).

Continuando com a ideia da mesma autora, a grande dificuldade a ser enfrentada nas relações de trabalho quanto a aplicabilidade dos direitos fundamentais, decorre em função de que apenas alguns direitos encontram-se estabelecidos na Constituição Federal, sendo desta forma, apenas estes compreendidos como garantidores da dignidade da pessoa humana.

Diante das considerações expostas, com relação à importância do princípio da dignidade humana nas relações de trabalho, passa-se a tratar sobre a relevância das leis internacionais na seara trabalhista.

1.4 A importância das normas internacionais nas relações de trabalho

Alguns fatores históricos foram determinantes na inserção das normas internacionais trabalhistas, gerando diversas garantias a classe operária. Nesse sentido, cabe salientar a concepção de Vicente Paulo Marcelo Alexandrino (2009, p. 23), quanto às relações internacionais de trabalho:

[...] os motivos econômicos são de grande relevância no campo das relações internacionais de trabalho: devem ser criados padrões tutelares para os trabalhadores de um modo geral, possibilitando contratações uniformes, afastando, conseqüentemente, concorrências desleais no cenário mundial, equilibrando as relações de trabalho internas, nos Estados, e externas, dos Estados entre si, mas sempre tendo em vista seu principal fundamento, que é o social.

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No que diz respeito a tal contexto histórico, muitos autores destacam que foi a partir da queda do Muro de Berlim (1989) que as normas relacionadas à proteção dos direitos humanos ganharam certa relevância, uma vez que tais direitos passaram a ocupar espaço na política das Comunidades Européias (GOMES; BULZICO, 2011).

Nesse sentido, um momento histórico que merece destaque é o Tratado de Versalhes que pôs fim à Primeira Guerra Mundial (1919), dando ensejo a Sociedade das Nações e a OIT- Organização Internacional do Trabalho. Também houve grande influência nas relações de trabalho, a partir da criação da ONU, passando a OIT a estar vinculada a esta como órgão técnico e especializado (NASCIMENTO, 2010).

(MARTINS FILHO, 2010, p. 520, grifo do autor) menciona algumas funções e peculiaridades da OIT:

A função da OIT de internacionalização do Direito do Trabalho tem sido cumprida através de duas atividades básicas: a adoção de normas internacionais do trabalho (pelo “ Legislativo” da OIT, que é a Conferência Internacional do Trabalho) e o controle de sua aplicabilidade (pelo judiciário” da OIT que é o Comitê de Controle de Normas).

Continuando com o entendimento de tal autor, cabe ressaltar os mecanismos de controle de aplicação das Leis Internacionais pela OIT, que segundo ele são dois: Procedimento Regular e Procedimentos Especiais. O primeiro abrange os relatórios sobre o descumprimento das normas das Convenções, enquanto que o segundo além de reclamações, compreende também a queixa, uma vez que autorizam todos os Estados membros a realizar denúncia contra outro membro.

Desse modo, colabora o entendimento de Alexandrino (2009, p.23), no que tange a OIT no contexto atual:

Na atualidade, o trabalho da OIT tem cada vez maior importância, especialmente sua atuação visando a promover a continuidade do processo de globalização, mediante uma ação eficaz no plano nacional e internacional, compreendendo medidas para garantir equilíbrio entre objetivos de desenvolvimento econômico e de bem-estar social.

Mais adiante, Nascimento (2010, p. 695), registra mais um importante período na história. A aprovação da Declaração da Filadélfia no ano de 1944, que proporcionou notícias

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positivas aos trabalhadores, uma vez que tinha por objetivo buscar melhores garantias relacionadas à vida e à saúde destes.

Alexandrino (2009, p. 23), traça perfeitamente algumas peculiaridades da Declaração da Filadélfia: “A Declaração foi anexada à Constituição da OIT e serviu de modelo para a Carta das Nações Unidas e para a Declaração Universal dos Direitos Humanos.”

Nesse sentido, é essencial a compreensão dos fatos que influenciaram o direito internacional:

A Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão (1948) da Organização das Nações Unidas defende a ideia de que todo homem tem direito à proteção. As origens mais remotas que viriam influir na evolução da idéia estão no “Plano Beveridge”, e a doutrina anglo-saxônica de segurança social, em Simon Bolívar e os seus ideais voltados para a união social, concretizando-se inúmeros tratados internacionais (NASCIMENTO, 2004, p. 695, grifo do autor).

Cabe salientar também, a concepção de Martins Filho (2010, p. 514, grifo do autor), quanto ao objeto e finalidade do direito internacional do trabalho:

O Direito Internacional do Trabalho tem por objeto a proteção ao trabalhador, que como parte de um contrato de trabalho, quer como ser humano. Suas finalidades básicas são: a) universalizar os princípios da Justiça Social e uniformizar as correspondentes normas jurídicas; b) incrementar a cooperação internacional para a melhoria das condições de vida do trabalhador.

Continuando, com base na ideia do mencionado autor, três dimensões fundamentaram a universalização das normas trabalhistas, entre eles: os fatores econômicos, que importavam no controle da concorrência desleal no comércio internacional; os fatores sociais, que tinham por objetivo a proteção do trabalhador; e os fatores técnicos, que conduziram a elaboração de algumas normas e sistemas legislativos de vários países.

Gomes e Bulzico (2011, p. 354, grifo do autor) traçam algumas considerações de suma relevância histórica à cerca dos tratados internacionais:

Um tratado internacional pode inserir num sistema nacional norma de estrutura constitucional, e para uma realidade supranacional, até mesmo uma Constituição inteira. No caso de Estados vistos isoladamente, um pacto pode

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inserir norma constitucional quando dispuser sobre direitos humanos. Na Holanda, nem mesmo é necessário que o pacto seja de direitos humanos para que este mude a Carta.

A partir desta ideia, entende-se que existe tamanha distinção quanto à aplicabilidade das normas de direitos humanos, visto que alguns países aderem facilmente aos tratados internacionais relacionados a tais direitos, enquanto que outros são mais resistentes nesse sentido. Isso certamente decorre em função de que a ratificação é “ato de direito interno pelo qual o Governo de um país aprova uma convenção ou tratado, admitindo a sua eficácia na sua ordem jurídica” (NASCIMENTO, 2004, p.162).

Ainda, com relação aos tratados, Gomes e Bulzico (2011, p.353) fazem uma importante colocação sobre tal assunto: “Se uma norma é internacional é porque ela decorre de um tratado, do costume, de princípios gerais e de decisões, mas principalmente do pacto internacional”.

Quanto à importância do direito internacional para a interpretação do direito interno Martins Filho (2010, p. 521-522, grifo do autor), traça com clareza a esse respeito:

Um dos métodos mais recentemente utilizados de hermenêutica jurídica (a par dos demais) é o método comparativo e internacionalizante, que supõe fazer a leitura do texto legal a ser interpretado ou da situação fática carente de solução tendo em conta a experiência internacional (Direito Comparado e Normas Internacionais ), bem como a inserção da norma nacional no contexto supranacional, especialmente tendo em vista a formação de blocos regionais( União Européia, Mercosul, etc.) que exigem a uniformização de seus direitos nacionais a padrões comuns ao bloco. Nesse contexto, as normas internacionais do trabalho, mesmo ainda não ratificadas pelos parlamentos dos países-membros, podem ser invocadas como elemento de exegese do direito interno pelos tribunais e juízes desses países.

Outro fato histórico que causou diversas influências nas relações de trabalho, tanto no âmbito nacional, quanto internacional, foi a criação do Mercosul, conhecido por Mercado Comum do Sul, sendo a definição deste, esclarecida por Nascimento (2004, p. 170):

[...] é uma união entre os países sul-americanos visando a incentivar o intercâmbio comercial e o desenvolvimento econômico da região. As possibilidades maiores de troca de mercadorias e os entendimentos comerciais conjuntos com outras regiões podem oferecer novas perspectivas.

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Conforme o mesmo autor, o ano de 1997 representou um grande marco histórico, razão pelo qual neste ano foi assinado o Acordo Multilateral de Seguridade Social do Mercado Comum do Sul, que previa a garantia de aprimorar as relações entre os países-membros com relação à seguridade social.

Nesse sentido, merece destaque ainda, a declaração da Carta Social do Mercosul. A partir de sua elaboração, muitos direitos inerentes ao trabalhador passaram a ganhar maior ênfase, uma vez que através desta, muitos países se tornaram mais responsáveis diante das relações de trabalho (NASCIMENTO, 2004).

Desse modo, encerra-se este capítulo salientando a importância das normas internacionais nas relações de trabalho, bem como da OIT- Organização Internacional do Trabalho, que apresentam como finalidade essencial a proteção e o tratamento de igualitário entre os trabalhadores.

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2. DANO MORAL NO TRABALHO EM CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO

A partir da criação das leis trabalhistas, o ser humano passou a garantir vários direitos indispensáveis para conviver com dignidade. Anteriormente a Consolidação das Leis do Trabalho (1943), os trabalhadores eram obrigados a prestar serviço de forma totalmente desumana, causando sofrimento, desgaste físico e mental para com os mesmos.

Foram anos de luta até a chegada deste importante momento histórico, uma conquista importantíssima para todos nós trabalhadores. Certamente a partir da criação da CLT, passou-se a ter maior liberdade de escolha, principalmente maior liberdade em depassou-senvolver as nossas atividades laborais.

Outra mudança que merece destaque a partir do surgimento das novas leis, diz respeito à igualdade social, uma vez que nossa sociedade era marcada por extrema desigualdade, onde existiam apenas duas classes, os nobres e os servos. Os primeiros tinham o poder e eram os homens “ricos”, já os segundos, eram os subordinados, trabalhadores, “escravos”.

Nesse sentido, pode-se afirmar que a sociedade evoluiu, aonde muitos cidadãos que não tinham acesso a um trabalho digno, passaram a usufruir desse direito indispensável para todo e qualquer ser humano.

Ainda no que tange as conquistas perante a criação da CLT, uma das mais relevantes encontra-se disposta no Artigo 483, que diz que o empregado poderá pleitear a devida indenização, quando ocorrer algum ato lesivo contra a honra, ou quando houver alguma ofensa física para com o mesmo.

A partir da leitura de tal dispositivo é possível compreender que tal indenização contempla o dano moral, o qual decorre da violação dos direitos do trabalhador, estando intimamente ligado ao ambiente no qual o mesmo desenvolve suas atividades laborais.

Além do dano moral, existem outros tipos de danos que podem ocorrer a partir de uma relação de trabalho, como por exemplo, o dano material e existencial. No entanto, para compreendê-los melhor é necessário aprofundar mais o assunto.

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2.1 O dano moral, material e existencial

Para que haja algum tipo de dano, é necessário que exista alguma violação efetiva de um interesse protegido pela lei, seja no âmbito material ou moral. Nesse sentido vejamos o entendimento de Barros (apud ALVIM, 1975, p. 171):

o termo “dano” em sentido amplo, vem a ser a lesão de qualquer bem jurídico, e aí se inclui o dano moral; mas, em sentido estrito, dano é a lesão do patrimônio; e patrimônio é o conjunto de relações jurídicas de uma pessoa, apreciáveis em dinheiro.”

Ainda com relação ao dano, merece destaque a idéia de Sílvio de Salvo Venosa (2011, p. 39):

Dano consiste no prejuízo sofrido pelo agente. Pode ser individual ou coletivo, moral ou material, ou melhor, econômico e não econômico. A noção de dano sempre foi objeto de muita controvérsia. Na noção de Dano está sempre presente a noção de prejuízo. Nem sempre a transgressão de uma norma ocasiona dano. Somente haverá possibilidade de indenização, como regra, se o ato ilícito ocasionar dano.

A partir de tal ideia, verifica-se que ao contrário do que muitos pensam, para que ocorra o dano não é necessário o descumprimento de uma lei. Desse modo, a simples perda de um bem material, é motivo gerador de um dano. No entanto essa perda somente dará ensejo a uma indenização, caso seja fonte de um ato ilícito, ou seja, ato em desacordo com as normas legais.

2.1.1 Do dano moral

O dano moral consiste em lesão ao patrimônio psíquico ou ideal da pessoa, à sua dignidade enfim, que se traduz nos modernos direitos da personalidade. Somente a pessoa natural pode ser atingida nesse patrimônio, de acordo com Silvio de Salvo Venosa (2011, p. 49, grifo do autor):

[...] é o prejuízo que afeta o ânimo psíquico, moral e intelectual da vítima. Sua atuação é dentro dos direitos da personalidade. Nesse campo o prejuízo transita pelo imponderável, daí porque aumentam as dificuldades de se estabelecer a justa recompensa pelo dano. Em muitas situações, cuida-se de indenizar o inefável. Não é também qualquer dissabor comezinho da vida que

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pode acarretar a indenização. Aqui, também é importante o critério objetivo do homem médio, o bônus paters famílias: não levará em conta o psiquismo do homem excessivamente sensível, que se aborrece com fatos diuturnos da vida, nem o homem de pouca ou nenhuma sensibilidade, capaz de resistir sempre às rudezas do destino. Nesse campo, não há fórmulas seguras para auxiliar o juiz. Cabe ao magistrado sentir em cada caso o pulsar da sociedade que o cerca. O sofrimento como contraposição reflexa da alegria é um consoante do comportamento humano universal.

Cabe ressaltar, a possibilidade de cumulação de dano patrimonial e moral mencionada por Alexandre Agra Belmonte (2009, p.543):

[...] recomposição patrimonial decorrente da agressão à honra, que não impede a fixação de valor compensatório do abalo sentimental e do aferimento da vítima. É o dever de compor “a lesão suportada por certa pessoa, tanto em seu patrimônio (dano material), como em sua personalidade (dano moral).

Também é importante mencionar que existe um crescimento com relação as ações oriundas na justiça do trabalho, visando a cumulação de dano patrimonial e moral, por iniciativa do trabalhador. Certamente o aumento de demandas nesta seara demonstra a evolução e o interesse desta classe em buscar os seus direitos, que por várias vezes passa despercebido pela sociedade.

2.1.2 Do dano material

É extremamente relevante a compreensão do dano material. No entanto para facilitar tal entendimento, torna-se indispensável fazer a menção do conceito interesse material. Nas palavras de Pinto (1998, p. 157, grifo do autor), tal interesse “é aquele cujo conteúdo é sensível à percepção física, à qual se apresenta revestido da roupagem concreta das coisas ou objetos corpóreos [...]”.

A partir de tal definição, compreende-se que o interesse material que enseja o dano material diz respeito à perda ou diminuição do patrimônio da pessoa lesada. No entanto devemos observar alguns casos específicos, aonde a ofensa ao patrimônio material poderá causar prejuízo tanto na seara material como moral.

(31)

Há, para o Direito, uma diferença capital entre as duas espécies. O interesse material nasce dentro do próprio universo jurídico dos interesses. O imaterial provém de esfera exterior a esse universo, embora o penetre e, unido ao interesse material, passe a constituir com ele uma unidade ontológica.

No que diz respeito aos danos patrimoniais, a reparabilidade por este tipo de dano passou a acontecer mediante a criação da Carta Magna, sob o prisma do dano moral. Nesse sentido é relevante o seguinte entendimento: “doutrina e jurisprudência classificaram o dano injusto indenizável em dano patrimonial - aquele que atinge diretamente o patrimônio suscetível de valoração econômica imediata” (ILSE LORA, 2013, p.16).

Belmonte (2009, p. 510) define o dano material como “o prejuízo pecuniário causado por ato lesivo imputável a outrem, quer como decorrência direta de ofensa a bem jurídico de natureza econômica, quer como resultado indireto de dano causado a direito de personalidade”.

Desse modo, é possível compreender que o dano material se difere do dano moral, principalmente porque o primeiro causa prejuízo ao patrimônio da vítima, enquanto que o segundo interfere diretamente no desenvolvimento da pessoa humana, atingindo a integridade física ou psíquica da mesma, gerando um prejuízo na maioria das vezes “impossível de ser indenizado”.

2.1.3 Do dano existencial

O dano existencial, assim como os demais danos, está constantemente presente em nossa sociedade, principalmente na seara trabalhista. No entanto, para compreender melhor esse tipo de dano, torna-se necessário aprofundarmos mais o assunto. Nesse sentido, colabora o entendimento de Jorge Cavalcanti Boucinhas Filho, 2013, p.38:

O dano existencial no Direito do Trabalho, também chamado de dano à existência do trabalhador, decorre da conduta patronal que impossibilita o empregado de ser relacionar e de conviver em sociedade por meio de atividades recreativas, afetivas, espirituais, culturais, esportivas, sociais e de descanso, que lhe trarão bem-estar físico e psíquico e, por conseqüência, felicidade; ou que o impede de executar, de prosseguir ou mesmo de recomeçar os seus projetos de vida, que serão, por sua vez, responsáveis pelo crescimento ou realização profissional, social e pessoal.

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Giuseppe Cassano (apud JORGE FILHO, 2013, p. 38) “esclarece que por dano existencial se entende qualquer dano que o indivíduo venha a sofrer nas suas atividades realizadoras [...]”.

Segundo Ilse Marcelona Bernardi Lora (2013, p. 17), o dano existencial é aquele que “enseja indenização independente do prejuízo financeiro e representa consagração da tutela da dignidade humana em sua plenitude”.

No que se refere ao dano existencial, cabe mencionar que o mesmo foi admitido através do reconhecimento do dano à vida de relação, sendo, porém o segundo mais amplo pelo fato que enseja a indenização mesmo se não ocasionar nenhum prejuízo financeiro (LORA, 2013).

Continuando no entendimento do mesmo autor, importante é definir o dano existencial:

O dano existencial, ou seja, o dano à existência da pessoa, portanto, consiste na violação de qualquer um dos direitos fundamentais da pessoa, tutelados pela Constituição Federal, que causa uma alteração danosa no modo de ser Fo indivíduo ou nas atividades por ele executadas com vistas ao projeto de vida pessoal, prescindindo de qualquer repercussão financeira ou econômica que do fato da lesão possa ocorrer (Lora apud Neto, 2013, p. 17).

Ainda, no que diz respeito ao dano existencial, torna-se importante observar os casos em que o mesmo pode ser reconhecido:

[...] perda de um familiar; ou abandono parental em momento crucial do desenvolvimento da personalidade; assédio sexual; terror psicológico no ambiente de trabalho, no contexto escolar ou na intimidade familiar; violência urbana ou rural; atentados promovidos por organizações extremistas e o terrorismo de Estado; prisões arbitrárias ou fruto de erro judiciário; guerras civis, revoluções, golpes de Estado e conflitos armados multiétnicos e internacionais; acidentes de trânsito ou de trabalho (JORNAL GAZETA DO POVO apud REVISTA SÍNTESE, 2013, p.58-59).

É relevante mencionar que o dano existencial se diferencia do dano moral, pelo fato que se caracteriza por uma renúncia concreta e não por uma simples amargura (LORA, 2013).

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Nascimento (apud CHRISTIANI MARQUES, 2007, p.124) colabora com seu pensamento em relação à descriminação do trabalhador:

[...] nenhum trabalhador pode sofrer qualquer discriminação em relação a qualquer aspecto do seu contrato de trabalho, seja na contratação, na manutenção do contrato ou na rescisão. O motivo de qualquer desigualização necessita ser lógico, racional e objetivo, sob pena de ferir o princípio isonômico.

Porém, mesmo que todos os trabalhadores estejam amparados pela Constituição Federal, muitos ainda são tratados com tamanha desigualdade, tendo que se submeter a trabalho árduo, pouco valorizado, com os mínimos direitos os quais são merecedores. Desse modo, poucos conseguem sobreviver dignamente, não se enquadrando nos “padrões” exigidos pela sociedade para a garantia de um bom emprego.

Segundo Nascimento (apud ANTÔNIO GUIMARÃES, 2007, p. 127), “as principais queixas de discriminação no emprego e no exercício profissional referem-se a agressões verbais, a recusa de emprego, a demissões e a transferências injustificadas”.

Continuando no entendimento do mesmo autor, segundo ele, as queixas são numerosas, de forma que, inclusive, uma denúncia de crime de racismo no Brasil foi levada a Comissão Internacional de Direitos Humanos (CIDH).

Isso demonstra que nosso país precisa de grandes mudanças, principalmente no que diz respeito à proteção do trabalhador, que infelizmente encontra-se fragilizada, permitindo que muitas discriminações ainda aconteçam com muita freqüência em nossa sociedade.

2.2 O dano moral nas relações de trabalho

Inicialmente com relação à terminologia dano moral, a mesma ganhou grande repercussão internacional. O termo mobbing é uma das terminologias mais utilizadas na Suécia, Dinamarca, Finlândia, Suiça, Itália e Alemanha que tem como significado atacar, maltratar, perseguir e sitiar. Já na Inglaterra a preferência é pelo termo bullying (ILSE MAECELINA BERNARDI LORA, 2012, grifo do autor).

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O dano moral, assim como o dano material, merece uma reparação pecuniária do empregador para com o empregado. Desse modo, podemos compreender que o dano moral se completa com o prejuízo causado por ofensa pessoal (PINTO, 1998, p. 161).

Nesse sentido, considerara-se ofensa pessoal, o desrespeito a intimidade, a honra, ao nome, imagem, saúde física e mental, conforme dispõe o artigo 5°, V e X ; 7º , XXX, XXXI, XXXII da Constituição Federal (NASCIMENTO, 2005).

Segundo o Jornal Folha de São Paulo (apud SÔNIA MASCARO NASCIMENTO, 2005), estudos realizados por médicos do trabalho e psicólogos atestam que cerca de 42% dos trabalhadores do Brasil sofrem ou já sofreram assédio moral no ambiente de trabalho.

A partir desses dados, é possível observar o alto índice de trabalhadores que são submetidos à tratamentos desumanos, que geram tamanho prejuízo na saúde física e mental destes indivíduos. O grande problema, é que a maioria destas pessoas lesadas, não tem o mínimo conhecimento dos seus direitos, e acabam deixando de ingressar com ação de indenização por danos morais.

De acordo com Alice Monteiro de Barros (1997), nas primeiras décadas do Código Civil não teve pronto acolhimento a tese da reparabilidade dos danos puramente morais, uma vez que não eram vistos com bons olhos pelos nossos tribunais.

Entretanto, nos dias atuais essa concepção com relação ao dano moral modificou-se literalmente, sendo hoje em dia “pacífica e indiscutível a tese da reparabilidade desse tipo de dano, mostrando-se até mesmo ocioso colacionar a pletora de julgados nesse sentido” (BARROS, 1997, p.573).

A partir do exposto torna-se indispensável a definição de assédio moral a seguir:

Considera-se assédio moral a exposição do trabalhador a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadoras, durante a prestação de serviços, provocadas pelo próprio empregador ou seus prepostos, atingindo o trabalhador na sua dignidade, auto-estima, equilíbrio psíquico e saúde (depressão), ao tornar-lhe inóspito e até hostil o ambiente de trabalho (MARTINS FILHO, 2010, p. 222).

(35)

Continuando com o entendimento do mesmo autor, cabe mencionar alguns efeitos que o reconhecimento da existência de assédio moral por parte do empregador pode gerar:

[...] rescisão indireta do contrato; muitas das faltas graves do empregador capituladas no art. 483 da CLT constituem típicas condutas de assédio moral; indenização por dano moral−variando a indenização conforme a gravidade e reiteração das humilhações infligidas ao trabalhador; descaracterização de justa causa−quando o empregado demonstra que a real motivação da dispensa foi a discriminação (MARTINS FILHO, 2010).

Segundo Barros (apud ALVIM, 1975, p.171),

o termo „dano‟ em sentido amplo, vem a ser a lesão de qualquer bem jurídico, e aí se inclui o dano moral; mas, em sentido estrito, dano é a lesão do patrimônio; e patrimônio é o conjunto de relações jurídicas de uma pessoa, apreciáveis em dinheiro.

É relevante a identificação dos requisitos necessários para que haja o dano moral. Nesse sentido, colabora o entendimento a seguir: “ a) no pesar, físico ou moral, imposto ao sujeito de patrimônio imaterial, pela violação desse patrimônio; b) na diminuição de valor desse patrimônio, redutível a pecuniária, que legitima a punição e/ou a reparação pelo agente agressor” (PINTO, 1998, p. 164).

Ainda, no entendimento do mesmo autor (PINTO, 1998, p. 166), é possível explicar os fundamentos da responsabilidade pelo dano moral, divididos em duas correntes:

A primeira ajustada à estrutura clássica do Direito, consolidou-se na teoria subjetiva, segundo a qual a responsabilidade civil só poderia emergir da verificação da culpabilidade do agente causador, em qualquer de suas formas conhecidas: o dolo (vontade determinada de obter o resultado ilícito) ou a culpa (assunção do risco de assumir esse resultado, em razão de conduta imprudente, negligente ou imperita).

Também merece destaque a distinção entre Danos Morais Puros e Danos Morais Reflexos:

Diz-se puro ou direto o dano moral quando lesiona um interesse tendente à satisfação ou gozo de um bem jurídico não patrimonial. Ou seja, são diretos os danos morais quando a lesão afeta um bem jurídico contido nos direitos de personalidade, como a vida, a integridade corporal, a honra, a própria imagem, ou mesmo quando atingem os chamados atributos da pessoa, como o nome, a capacidade, o estado de família. Diz- se indireto ou reflexo o dano moral quando a lesão a um interesse tendente à satisfação ou gozo de bens

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jurídicos patrimoniais produz, além disso, o menoscabo a um bem não patrimonial (BARROS, 1997, p. 578).

Segundo Beatriz Renck (2006, p. 53), “o assédio moral se caracteriza essencialmente pela repetição. São atitudes ou comportamentos que isoladamente não são tão prejudiciais, mas se tornam perversos pela repetição”.

Nesse sentido é relevante destacar a importância da diferenciação do dano moral com violência, uma vez que os atos de violência são compreendidos como agressões pontuais, podendo as mesmas ser voltadas para o sexo. Já, o dano moral simples está relacionado com ofensa ao caráter e ao comportamento das pessoas.

Lora (apud BARROS, 2009, p.928), define o assédio moral como:

[...] situação e que uma pessoa ou um grupo de pessoa exerceram uma violência psicológica extrema, de forma sistemática e freqüente (em média uma vez por semana) e durante um tempo prolongado (em torno de uns 6 meses) sobre outra pessoa, com quem mantém uma relação assimétrica de poder no local de trabalho, com o objetivo de destruir as redes de comunicação da vítima, destruir sua reputação, perturbar o exercício de seus trabalhos e conseguir, finalmente que essa pessoa cabe deixando o emprego.

Nesse sentido, cabe frisar a importância da Emenda Constitucional nº 45, publicada em 31 de dezembro de 2014, uma vez que esta atribui expressa competência à Justiça do Trabalho a resolução dos danos morais decorrentes das atividades laborais, incluindo os danos oriundos de acidentes de trabalho (BELMONTE, 2009).

Também em decorrência da criação de tal Emenda, houve a ampliação do artigo 114 da Constituição Federal, o qual se encontra em pleno vigor, ampliando a competência da Justiça do trabalho, conforme os termos a seguir:

Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

Referências

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