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A mediação como política pública do judiciário: uma análise do CEJUSC de Santa Rosa

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

DAIANE DA SILVA CARNEIRO

A MEDIAÇÃO COMO POLÍTICA PÚBLICA DO JUDICIÁRIO: UMA ANÁLISE DO CEJUSC DE SANTA ROSA

Santa Rosa (RS) 2017

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DAIANE DA SILVA CARNEIRO

A MEDIAÇÃO COMO POLÍTICA PÚBLICA DO JUDICIÁRIO: UMA ANÁLISE DO CEJUSC DE SANTA ROSA

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TC.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS- Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: MSc. Francieli Formentini

Santa Rosa (RS) 2017

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Dedico este trabalho aos meus pais pelo incentivo, apoio e confiança em mim depositados.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, que sempre estiveram presentes e me incentivaram com apoio e confiança na minha jornada acadêmica e na vida não medindo esforços.

À minha orientadora Francieli Formentini, pela sua dedicação, incentivo, disponibilidade e carinho, pelo qual me guiou pelos caminhos do conhecimento.

Aos meus amigos Christian e Fernando, que colaboraram sempre que solicitados, com boa vontade e generosidade, enriquecendo o meu aprendizado. E demais amigos e colegas pelos bons momentos compartilhados.

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“A falta do diálogo, é capaz de transformar duas pessoas que se conhecem muito bem, em dois estranhos.” Autor desconhecido.

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso faz uma análise da mediação a partir da Resolução n° 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça, da Lei de Mediação e Autocomposição e do Novo Código de Processo Civil. Ainda, analisa a criação e os objetivos dos Núcleos Permanentes de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (NUPEMEC’s) junto ao Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul e a estruturação e composição do Centro de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC) da Comarca de Santa Rosa. Tem por objetivo estudar a mediação como procedimento autocompositivo de solução de conflitos, investigar seus princípios norteadores, suas características e técnicas aplicáveis, bem como examinar a sua aplicação como política pública no Poder Judiciário. Para tanto, além de pesquisa bibliográfica, fez-se necessária a realização de pesquisa de campo junto ao CEJUSC da Comarca de Santa Rosa, na qual procedeu-se à entrevistas com o Magistrado responsável e com os mediadores atuantes no referido centro, bem como à entrega de questionários aos mediandos que participaram de sessões de mediação durante o período compreendido entre 10 de março de 2017 e 27 de abril do mesmo ano. Como resultados e conclusões, verificou-se que o CEJUSC de Santa Rosa possui uma estrutura qualificada, apta a promover uma experiência satisfatória aos mediandos, e que realiza um número considerável de mediações, que aumenta a cada ano, acompanhando o percentual de conflitos solucionados. Por fim, com base nos dados levantados com as pesquisas (bibliográfica e de campo), verificou-se que a mediação é um método adequado de resolução de conflitos, pois traz aos mediandos a possibilidade de restabelecimento do diálogo e de solução de seus conflitos em tempo reduzido, através do entendimento construído por ambos.

Palavras-Chave: CEJUSC de Santa Rosa/RS. Conflitos. Diálogo. Mediação. Poder Judiciário.

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ABSTRACT

The present work of conclusion of course makes an analysis of the mediation from the Resolution nº 125/2010 of the National Council of Justice, of the Law of Mediation and Autocomposition and of the New Code of Civil Procedure. It also analyzes the creation and objectives of the Permanent Nucleo of Conflict Resolution Consensus Methods (NUPEMEC's) at the Rio Grande do Sul State Court of Justice and the structuring and composition of the Center for Conflict Resolution and Citizenship (CEJUSC) in the county of Santa Rosa. Its purpose is to study mediation as an autocompositive procedure for conflict resolution, to investigate its guiding principles, its characteristics and applicable techniques, as well as to examine its application as a public policy in the Judiciary. Therefore, in addition to a bibliographical research, it was necessary to carry out field research with the CEJUSC of the Santa Rosa County, in which interviews were conducted with the Magistrate in charge and with the mediators working in that center, as well as with the Delivery of questionnaires to mediators who participated in mediation sessions during the period between March 10, 2017 and April 27 of the same year. As results and conclusions, it was verified that CEJUSC of Santa Rosa has a qualified structure, able to promote a satisfactory experience to mediators, and that performs a considerable number of mediations, which increases every year, following the percentage of conflicts solved. Finally, based on the data collected from the research (bibliographical and field), it was verified that mediation is an adequate method of conflict resolution, since it brings to mediators the possibility of reestablishing the dialogue between them and of solving their Conflicts in a short time, through the understanding constructed by both.

Keywords: CEJUSC of Santa Rosa / RS. Conflicts. Dialogue. Mediation. Judicial power.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 8

1 MEDIAÇÃO DE CONFLITOS ... 10

1.1 Mediação de conflitos a partir do Novo Código de Processo Civil e da Lei de Mediação ... 10

1.2 Princípios e técnicas aplicáveis ... 16

1.3 Mediação pré-processual e processual ... 21

2 A EXPERIÊNCIA DO CEJUSC DE SANTA ROSA NA APLICAÇÃO DA MEDIAÇÃO ... 24

2.1 A mediação nos Tribunais de Justiça ... 24

2.2 CEJUSC de Santa Rosa: estruturação, composição e modo de atuação ... 27

2.3 Análise dos dados empíricos e percepções acerca da aplicação da mediação ... 31

CONCLUSÃO ... 46 REFERÊNCIAS ... 48 APÊNDICE ... 52 Apêndice A ... 52 Apêndice B ... 54 Apêndice C ... 55 Apêndice D ... 56

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho apresenta um estudo da mediação a partir da Resolução n° 125/2010, da Lei de Mediação e Autocomposição e do Novo Código de Processo Civil, a fim de propiciar uma investigação acerca da inserção das práticas de mediação nos processos judiciais. Essa busca é necessária visando uma melhor compreensão acerca da mediação, que a partir do ano de 2015 passou a integrar o Novo Código de Processo Civil como uma forma de resolução de conflitos judicializados.

A inserção de tal procedimento no ordenamento jurídico brasileiro, especialmente em nossa legislação processual civil, se mostrou necessária ao se perceber que a forma tradicional (judicial) de resolução de alguns tipos de conflitos – em que há relação continuada entre os envolvidos, como relações familiares – não estava alcançando os resultados mais satisfatórios aos envolvidos. Criaram-se, assim, formas alternativas de resolução dos conflitos, como a conciliação e a mediação, meios autocompositivos de enfrentamento dos conflitos.

Assim, buscando incentivar a opção por métodos autocompositivos de solução de conflitos em questões de natureza continuada e visando dar maior qualidade à solução deste, o Poder Judiciário implementou a mediação em seu procedimento, consagrando-a no Novo Código de Processo Civil, e regulamentando-a na Resolução nº 125/2010 e na Lei de Mediação e Autocomposição.

Dessa forma, visando compreender a regulamentação dada à mediação, suas características, princípios, técnicas aplicáveis e papeis dos envolvidos (mediador, mediandos, advogados, etc), bem como analisar a aplicabilidade do procedimento e seus impactos práticos na resolução dos conflitos a ele submetidos, procedeu-se à realização de pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo junto ao CEJUSC da Comarca de Santa Rosa/RS.

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Para tanto, no primeiro capítulo será apresentada uma abordagem da mediação a partir de sua normatização em nosso ordenamento jurídico, seus princípios norteadores, técnicas aplicáveis e definição do papel e das responsabilidades exercidas pelo mediador, bem como uma diferenciação entre a mediação pré-processual e a mediação processual.

O segundo capítulo consiste numa análise mais aprofundada acerca da implementação, estruturação e atuação da mediação no âmbito do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul e da Comarca de Santa Rosa, mais especificamente do CEJUSC nesta implantado. Ainda, apresenta uma observação acerca da qualificação necessária para o desempenho da função de mediador. Por fim, expõe os resultados obtidos com a pesquisa de campo realizada, examinando os impactos provocados pela atuação do CEJUSC em Santa Rosa.

Para a realização deste trabalho foram efetuadas pesquisas bibliográficas e por meio eletrônico, analisando as Resoluções e Leis vigentes no âmbito Nacional e Estadual, a fim de enriquecer a coleta de informações e permitir um aprofundamento no estudo da mediação. Também foram realizadas coletas de dados no CEJUSC da Comarca de Santa Rosa, com a realização de entrevistas e aplicação de questionários, visando a melhor compreensão acerca da estruturação, composição e atuação da mediação nesta Comarca. Destaca-se que em outubro do ano de 2016 foi submetido o projeto de pesquisa para a análise do Comitê de Ética, o qual foi aprovado em dezembro do mesmo ano, conforme o parecer de aprovação n° 1.809.113 disponível no site da Plataforma Brasil. Salienta-se ainda, que os dados coletados ficarão com a pesquisadora pelo período de cinco anos, após serão deletados e incinerados.

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1 MEDIAÇÃO DE CONFLITOS

A mediação atualmente é tratada como uma forma adequada para resolução dos conflitos, judicializados ou não, objetivando promover e restabelecer o diálogo entre os mediandos.

A mediação se constitui como método adequado de resolução de conflitos, de natureza continuada, na medida em que os mediandos, com o auxílio de um terceiro imparcial, decidem quanto à solução mais satisfatória para ambos. Ademais, a adoção do procedimento da mediação traz possibilidades de rapidez e satisfação. Assim, mostra-se cada vez melhor e mais pertinente a adoção desse mecanismo de resolução de conflitos.

Como se trata de um procedimento relativamente novo no sistema judiciário Brasileiro é preciso apresentar a mediação de forma clara e objetiva a fim de ser compreendida pelos envolvidos, bem como demonstrar a importância de seu papel. Serão elucidados a mediação, seus princípios e técnicas aplicáveis, tudo a partir do Novo Código de Processo Civil e da Lei de Mediação, e, por fim, a mediação pré-processual e processual.

1.1 Mediação de conflitos a partir do Novo Código de Processo Civil e da Lei de Mediação

O marco inicial de inserção da mediação em nosso ordenamento jurídico deu-se com a Resolução n° 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça, a qual apresentou a prática como um importante instrumento para a resolução de conflitos na esfera Judicial e Extrajudicial por meio de mecanismos que proporcionam o diálogo e a construção de um entendimento entre os envolvidos. A Resolução insere a mediação judicial como um meio pacífico de resolução de conflitos, proporcionando possíveis soluções e prevenções por intermédio do acordo de vontade entre as partes. Com a Resolução foram criados os Núcleos Permanentes de Métodos Consensuais de Soluções de Conflitos (NUPEMEC’s) junto aos Tribunais Estaduais, responsáveis por promover o treinamento de profissionais habilitados e qualificados para implantar a mediação nas Comarcas1 através da instalação dos Centros de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC’s).

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Dessa forma, dispõe o Conselho Nacional de Justiça (2015, p. 12) que:

[...] diante da patente necessidade de se estabelecer uma política pública nacional em resolução adequada de conflitos, o Conselho Nacional de Justiça aprovou, em 29 de novembro de 2010, a Resolução 125. Os objetivos dessa Resolução estão indicados de forma bastante taxativa: i) disseminar a cultura da pacificação social e estimular a prestação de serviços autocompositivos de qualidade (art. 2º); ii) incentivar os tribunais a se organizarem e planejarem programas amplos de autocomposição (art. 4º); iii) reafirmar a função de agente apoiador da implantação de políticas públicas do CNJ (art. 3º).

Durante a vigência do Código de Processo Civil de 1973 a mediação não tinha previsão legal, sendo incluída com a Resolução n° 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça. Por esse viés todos os tipos de conflitos acabavam sendo direcionados para o Judiciário, por mais conveniente que fosse serem tratados por meio da mediação. Essa falta de opção à via alternativa gerou grande acúmulo de processos tramitando no Poder Judiciário, contribuindo com a morosidade do sistema. Uma das alternativas implantadas no Brasil frente à lentidão do sistema foi a criação dos Juizados Especiais Cíveis (JEC’s) por meio da promulgação da Lei n° 9.099 de 26 de setembro de 1995, e dos Juizados Especiais Federais por meio da Lei n° 10.259 de 12 de julho de 2001, como uma possibilidade de mudar a realidade da justiça brasileira, priorizando a conciliação ou a transação. Dessa forma, obtendo uma celeridade e simplicidade processual, deixando causas de menor complexidade a cargo dos juizados.

Nesse sentido, Leslie Shérida Ferraz (2010, p. 80), afirma:

Há quem acredite que o Brasil sequer vivenciou, de fato, o movimento do acesso à justiça. Para alguns autores, os juizados são parte de um projeto de “autorreforma” do Poder Judiciário, criados sem a participação da sociedade civil, em resposta a um quadro de crise da justiça.

Os Juizados Especiais Cíveis proporcionam aos litigantes uma forma de autocomposição denominada conciliação, que se apresenta de forma diversa da mediação, pois passa por um procedimento em que um terceiro imparcial conduz os envolvidos na elaboração de acordos, opinando a respeito do conflito e propondo soluções para este.

Contudo, apesar da implantação dos Juizados no Poder Judiciário, a sobrecarga processual da Justiça brasileira continuou aumentando, surgindo assim a necessidade de criação de outra alternativa capaz de estancar esse fenômeno. Assim, a partir da Resolução n°

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125/2010 do Conselho Nacional de Justiça a mediação é estabelecida como um meio adequado para resolver os conflitos, priorizando o diálogo, sendo posteriormente regulamentada pelo Novo Código de Processo Civil (BRASIL, 2015) e também pela Lei n° 13.140/15 que dispõe sobre a mediação e a autocomposição (BRASIL, 2015).

O Novo Código de Processo Civil não torna obrigatória a mediação ou a conciliação, mas a estimula. E tal incentivo deve ser tarefa de todos os operadores do Direito, mesmo já ajuizada a ação judicial. Ou seja, tem-se por determinante a busca pela solução composta, sem torná-la obrigatória. (MORAIS; SPENGLER, 2012, p. 201).

No Novo Código de Processo Civil pode-se notar também que a aplicação da mediação encaminha-se como um procedimento previsto no curso do processo, no qual cabe às partes optarem (ou não) pelo procedimento (SPENGLER, 2016).

O Novo Código de Processo Civil surge como forma de política pública, no intuito de facilitar o acesso dos brasileiros à justiça, uma vez que se reduzirá o número de demandas e de recursos que dificultam o andamento dos processos. A expectativa é a de que se reduza pela metade o tempo de trâmite de uma ação no Judiciário, permitindo mais rapidez e celeridade nos processos. (TRENTIN T.; TRENTIN S., 2011).

A partir da mudança do Novo Código de Processo Civil, que trouxe a mediação para dentro do procedimento comum, os Tribunais passaram a ter que se adequar para melhor atender o que foi estruturado no novo código. Assim, cada Tribunal é responsável pela implementação dos núcleos, que são competentes para promover a formação e a capacitação dos mediadores que atuarão nas Comarcas. Por fim, são criados os CEJUSC’s, que são os responsáveis diretos por todo o procedimento da mediação nas Comarcas. No Estado do Rio Grande do Sul os CEJUSC’s são criados em Comarcas com 05 (cinco) ou mais varas.

Para José Bolzan de Morais e Fabiana Marion Spengler (2012, p. 177),

Está previsto nessa Resolução a criação dos núcleos permanentes de conciliação em todo o país. Ela vem com o intuito de diminuir a quantidade de processos que chega diariamente aos juízes, bem como o número de recursos utilizados pelas partes derrotadas.

Para o Conselho Nacional de Justiça as sessões de mediação são de responsabilidade dos Centros. Portanto, eles passam a ser um órgão de apoio ao Poder Judiciário, responsáveis

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por organizar e gerenciar as sessões de mediação, bem como por requerer ao NUPEMEC o treinamento dos mediadores e orientação dos cidadãos.

Do ponto de vista de Morais e Spengler (2012, p. 180),

[...] a criação dos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania nasce, conforme o art. 8°, para atender aos Juízos, Juizados ou Varas com competência nas áreas cível, fazendária, previdenciária, de família ou dos Juizados Especiais Cíveis e Fazendários. Concebidos preferencialmente como unidades do Poder Judiciário, responsáveis pela realização das sessões e audiências de conciliação e mediação que estejam a cargo de conciliadores e mediadores, bem como pelo atendimento e orientação do cidadão.

Um ponto importante na instalação do órgão é que profissionais capacitados, com um perfil que atenda às necessidades da comunidade, possam se apresentar à disposição da sociedade, e que estes mantenham-se devidamente treinados pelos instrutores do NUPEMEC, autorizados pelo Tribunal de Justiça. A respeito disso, Morais e Spengler (2012, p. 181) entendem que “[...] a Resolução dispõe sobre o dever dos Tribunais de indicar, capacitar e manter servidores exclusivamente atuantes junto aos Centros, isto é, na forma de dedicação integral para o tratamento de conflitos.”

Morais e Spengler (2012, p. 191), apontam que “Além de estar capacitado para exercer as funções, conciliadores e mediadores devem fazê-lo com lisura, respeitando os princípios e regras do Código de Ética.”

A mediação é um método autocompositivo e apropriado, em que as partes buscam solucionar seus litígios com o auxílio de um terceiro, mediador, cabendo a este proporcionar um ambiente adequado para que o diálogo entre os mediandos flua naturalmente. O que não ocorre nos casos em que não se aplica esse ou outro método autocompositivo, no qual o Juiz competente, com base nos fatos a ele descritos e nas provas produzidas nos autos, toma uma decisão.

Deste modo, Aline Beuren (2014) ensina que:

A mediação não é um método no qual as pessoas se tornam adversárias, mas sim um meio utilizado para auxiliar as partes a melhor entender os seus conflitos, identificar os seus valores e necessidades, bem como pesquisar

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seus interesses, tudo isso por meio de um diálogo que deverá resultar na escolha das melhores e mais criativas soluções.

Ao mediador, figura importante para o procedimento, cabe conduzir todo o diálogo entre os mediandos. Deste modo, Spengler (2012, p. 173) entende que:

O mediador tem, então, a tarefa de possibilitar que os conflitantes expressem seus sentimentos e seus interesses, dando a eles espaço para, de modo criativo, formular sugestões e propostas para a resolução adequada do conflito. O mediador não tem papel ativo na proposição de acordos, nem na orientação das partes quanto ao conflito.

O mediador atua como um terceiro neutro2 e imparcial3 capacitado em técnicas de comunicação, mas que não tem o poder da decisão sobre o litígio, apenas ajuda a promover um ambiente apropriado para que as partes resolvam seu conflito entre si de forma justa e equilibrada para ambos.

Fiorelli J., Fiorelli M. e Malhadas Junior (2008, p. 58, grifo dos autores) entendem que:

Para conseguir essa transformação, busca-se atender os interesses, explícitos ou não. O terceiro participa porém, a responsabilidade sobre os acordos recai exclusivamente sobre os mediandos e nisso consiste a principal distinção em relação aos outros métodos.

Cabe destacar que para o CEJUSC funcionar de forma efetiva existem fatores a serem observados, e um dos mais importantes é o comprometimento e a imparcialidade dos profissionais envolvidos. Assim, o mediador passa a ter uma responsabilidade significativa com o caso, pois se não for possível conduzir os mediandos ao entendimento em apenas uma sessão, serão agendadas novas sessões, obedecendo a premissa de que o mediador permaneça o mesmo. Assim, pode-se observar a seriedade e a responsabilidade em que o todos os envolvidos sob a supervisão do CEJUSC devem dedicar aos seus casos, deixando-os em absoluto sigilo e a cargo de mediadores qualificados.

Como já referido, o Novo Código de Processo Civil passou a disciplinar a aplicação da mediação, surgindo posteriormente a Lei de Mediação e Autocomposição, a qual dispõe, em

2 Que não toma partido nem a favor nem contra. (FERREIRA, 2008, p. 577). 3 Que julga sem paixão; reto, justo. (FERREIRA, 2008, p. 463).

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seu artigo 2°, §2°, que “Ninguém será obrigado a permanecer em procedimento de mediação”. Logo, pode-se observar que não existe obrigatoriedade em permanecer no processo de mediação se as partes assim não desejarem, reforçando-se os princípios da voluntariedade e da autonomia, também aplicáveis no Processo Civil.

Atualmente, a complexidade e a diversidade dos conflitos é uma tendência, haja vista a polaridade de ideias e a dificuldade de discutir o objeto do problema de forma saudável e pacífica, característica predominante no atual cenário de nossa sociedade. Esses conflitos exigem flexibilidade entre as partes. Portanto, é necessário reafirmar a mediação como um procedimento que proporciona o restabelecimento do diálogo entre as partes envolvidas, objetivando uma solução equilibrada por meio de concessões recíprocas entre estas.

Segundo Fiorelli J., Fiorelli M. e Malhadas Junior (2008, p. 47) “Os seres humanos demonstram entretanto maior habilidade para se envolver em conflitos do que para lidar com eles, talvez porque a maneira como se deve gerenciar um conflito depende de diversos fatores.”

Em se tratando de um método adequado, a mediação trabalha com o principal tipo de envolvimento entre os mediandos, o emocional, no qual se busca a satisfação dos interesses mútuos. A mediação tem como principal finalidade a promoção do respeito entre as partes, para que estas possam resolver os problemas da melhor forma possível e, ainda, manter uma convivência saudável. Esse método é muito utilizado quando as questões versarem sobre direitos de família, onde deve-se lidar com muita cautela, para que todos sejam beneficiados e assim criem um canal de diálogo entre si. No dizer de Fiorelli J., Fiorelli M. e Malhadas Junior (2008, p. 60) “A mediação é, certamente, o método mais recomendável nas situações crônicas com elevado envolvimento emocional e necessidade de preservar os relacionamentos.”

Conforme ensina Morais e Spengler (2012, p. 132),

Com o auxílio do mediador, os envolvidos buscarão compreender as fraquezas e fortalezas do seu problema, a fim de tratar o conflito de forma satisfatória. Na mediação, por constituir um mecanismo consensual, as partes apropriam-se do poder de gerir seus conflitos, diferentemente da Jurisdição estatal tradicional na qual este poder é delegado aos profissionais do direito, com preponderância àqueles investidos das funções jurisdicionais.

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A mediação vem se tornando um ótimo método para a resolução de conflitos, além de não ser um fenômeno a ser redescoberto, pois traz benefícios para os envolvidos, proporcionando ao Judiciário, consequentemente, a possibilidade de sair de uma crise, por meio de um resgate de procedimentos que possibilitam uma nova reformulação do sistema jurídico (MORAIS; SPENGLER, 2012).

Portanto, para que viesse a acontecer o procedimento da mediação no âmbito do Poder Judiciário, precisou-se da implementação de uma estrutura adequada, desde a criação dos núcleos para a capacitação de seus mediadores até a estruturação dos CEJUSC’s nas Comarcas. Dessa forma, as mudanças ocorridas no Novo Código de Processo Civil buscam beneficiar as partes, possibilitando a aplicação do procedimento da mediação nos casos em que o diálogo e o sentimento são questões de muita relevância, proporcionando ao conflito uma solução mais satisfatória.

1.2 Princípios e técnicas aplicáveis

Examinando a Lei de Mediação e Autocomposição, percebe-se que “a mediação [...] possui vários princípios importantes que trazem garantias aos conflitantes que tenham interesse em ver seu litígio por ela tratada.” (SPENGLER, 2016, p. 116).

Com fundamento no art. 2° da Lei de Mediação e Autocomposição (BRASIL, 2015), nota-se que os princípios norteadores da mediação são: “I. Imparcialidade do mediador; II. Isonomia entre as partes; III. Oralidade; IV. Informalidade; V. Autonomia da vontade das partes; VI. Busca de consenso; VII. Confidencialidade; e VIII. Boa-fé.”

Ainda nesse sentido, o Código de Ética criado a partir da Resolução n° 125/2010 dispõe sobre princípios fundamentais para a atuação dos mediadores.

Artigo 1° - São princípios fundamentais que regem a atuação de concilia-dores e mediaconcilia-dores judiciais: confidencialidade, decisão informada, com-petência, imparcialidade, independência e autonomia, respeito à ordem pública e às leis vigentes, empoderamento e validação.

I – Confidencialidade – Dever de manter sigilo sobre todas as informações obtidas na sessão, salvo autorização expressa das partes, violação à ordem

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pública ou às leis vigentes, não podendo ser testemunha do caso, nem atuar como advogado dos envolvidos, em qualquer hipótese;

II – Decisão informada – Dever de manter o jurisdicionado plenamente informado quanto aos seus direitos e ao contexto fático no qual está inserido. III – Competência – Dever de possuir qualificação que o habilite à atuação judicial, com capacitação na forma desta Resolução, observada a reciclagem periódica obrigatória para formação continuada;

IV – Imparcialidade – Dever de agir com ausência de favoritismo, pre-ferência ou preconceito, assegurando que valores e conceitos pessoais não interfiram no resultado do trabalho, compreendendo a realidade dos envolvidos no conflito e jamais aceitando qualquer espécie de favor ou presente;

V – Independência e autonomia - Dever de atuar com liberdade, sem sofrer qualquer pressão interna ou externa, sendo permitido recusar, suspender ou interromper a sessão se ausentes as condições necessárias para seu bom desenvolvimento, tampouco havendo dever de redigir acordo ilegal ou inexequível;

VI – Respeito à ordem pública e às leis vigentes – Dever de velar para que eventual acordo entre os envolvidos não viole a ordem pública, nem contrarie as leis vigentes.

VII – Empoderamento – Dever de estimular os interessados a aprenderem a melhor resolverem seus conflitos futuros em função da experiência de justiça vivenciada na autocomposição.

VIII – Validação – Dever de estimular os interessados perceberem-se re-ciprocamente como serem humanos merecedores de atenção e respeito. (BRASIL, 2013).

O princípio da imparcialidade do mediador é um dos mais importantes da mediação, pois o mediador deve sempre agir com neutralidade, de forma que o seu papel é de oportunizar o diálogo entre os mediandos. Segundo Spengler (2016, p. 92) “Para alcançar esse intento, eles precisam ouvir e conduzir a conversa sem favorecimento, privilégios, preconceitos ou favoritismos.”

Para Daniel Amorim Assumpção Neves (2016, p. 11) “O mediador deve ser imparcial, ou seja, não pode com sua atuação, deliberadamente pender para umas das partes e com isso induzir a parte contrária a uma solução que não atenda às finalidades do conflito.”

Dessa maneira, Renata Malta Vilas-Bôas (2009) explica,

Por esse princípio temos que o mediador encontra-se acima das partes e de forma equidistante, isso significa dizer que ele irá ouvir as duas partes de forma igual e não irá representar ou aconselhar nenhuma das partes. Ele é imparcial porque não está do lado de nenhuma das duas partes, ele não tem interesse próprio em nenhuma das questões que estão envolvidas nos conflitos.

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A isonomia das partes é um princípio exclusivo da mediação, entendendo-se que para o funcionamento adequado do procedimento, devem-se tratar igualmente os mediandos, de forma que suas manifestações e participações ocorram de maneira equilibrada. Além disso, a isonomia objetiva que ambos os envolvidos obtenham as mesmas oportunidades no decorrer do procedimento (NEVES, 2016). Assim, nota-se que a estipulação do tempo de fala para cada mediando durante as sessões tem o objetivo de proporcionar a igualdade entre estes.

O princípio da oralidade, combinado com o princípio da informalidade, prioriza os atos orais, dialogados, e principalmente os informais, de maneira simples, para que os envolvidos possam entender todo o procedimento, proporcionando assim um ambiente propício para o desenvolvimento da mediação. De acordo com Netto-Soares (apud NEVES, 2016, p. 13) “A oralidade tem três objetivos: conferir celeridade ao procedimento, prestigiar a informalidade dos atos e promover a confidencialidade, já que restará escrito o mínimo possível.”

Dessa maneira, Vilas-Bôas (2009), diz que:

Como a mediação se caracteriza pela ausência de uma estrutura previamente estabelecida e a inexistência de qualquer norma substantiva ou de procedimento, novamente cabe as partes decidir qual e como caminho percorrer. Ainda sob os auspícios desse princípio temos que levar em consideração que os atos praticados devem ser precisos, com clareza, concisão e simplicidade, tanto na linguagem quanto nos procedimentos de tal forma que atenda as necessidades das partes e à compreensão das mesmas.

Com base nos princípios da autonomia da vontade das partes, busca de consenso, confidencialidade e boa-fé, pode-se observar que no procedimento da mediação deve sempre prevalecer a vontade das partes, seja para participar da mediação ou para formar o entendimento.

Um dos princípios fundamentais a ser observado pelo mediador é a confidencialidade, que, juntamente com a boa-fé e baseados nos casos por ele já atendidos, proporcione aos mediandos a confiança de que estes poderão solucionar seus problemas. Para Neves (2016, p. 12) “não há como falar em solução consensual do conflito sem autonomia de vontade das partes. Se houve um consenso entre elas, ele só pode ter decorrido de um acordo de vontade.”

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Dessa maneira, Spengler (2016, p. 90), esclarece que a confidencialidade do mediador é relevante, tendo em vista que:

[...] ao dialogar sobre o conflito, os envolvidos expõem não só detalhes técnicos e processuais importantes como também seus sentimentos e emoções. Consequência direta dessa exposição é a necessidade de confidencialidade a respeito do que foi relatado. Portanto, só haverá um diálogo aberto, sincero e honesto quando os conflitantes não estiverem tomados pelo receio de que o que foi dito não será usado como prova ou penalidade posteriormente.

A partir dos princípios é que são norteadas as técnicas aplicadas pelos mediadores, com o auxílio das técnicas o mediador conduz os mediandos a construir um entendimento para resolução dos conflitos. Nesse sentido, Spengler (2016, p. 49-65) cita:

O rapport, a técnica do resumo, a paráfrase, a arte de perguntar, a identificação de questões, interesses e sentimentos, a validação de sentimentos, a resolução de questões, a despolarização do conflito, o afago, o silêncio, a inversão de papeis, a escuta ativa e por fim a identificação/geração de opções (brainstorming).

Dentre as várias técnicas de aplicação, as mais utilizadas são o rapport, o resumo, a paráfrase, a arte de perguntar, a inversão de papeis e a escuta ativa.

Assim, Spengler (2016, p. 49) explica que “antes do início da mediação é necessário construir um rapport, pois ele é o maior fator na aceitação do mediador.” Desta maneira “O rapport é a técnica em que o mediando aceita o mediador designado e expressa a confiança que tem nele” (SPENGLER, 2016).

Assim, Spengler (2010, p. 59) explica que:

[...] o elo de confiança entre mediador e mediandos tem início no primeiro contato. Em questão de minutos a empatia surge e gera confiança o que permitirá um procedimento de mediação tranquilo. Nesses termos, o rapport varia de acordo com as pessoas e pode ser muito rápido para o fim de garantir a empatia e a harmonia do trabalho ou não.

Outra técnica utilizada é a paráfrase, que consiste em repetir o que foi dito para que os mediandos reflitam acerca do que falaram. Dessa forma, destaca Carlos Eduardo Vasconcelos (apud TRENTIN T.; TRENTIN S., 2012) que “[...] na técnica de parafraseamento, o mediador

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reformula as frases sem alterar seus sentidos com o intuito de organizá-las, sintetizá-las e neutralizar os conteúdos.”

Além destas, a arte de perguntar também é uma das principais técnicas utilizadas pelo mediador, pois é através dela que este indaga os mediandos sobre os fatos ocorridos, visando uma qualidade no acolhimento, esclarecimento de questões e sentimentos envolvidos. Assim, Vasconcelos (apud TRENTIN T.; TRENTIN S., 2012) diz que “a partir da formulação de perguntas, o mediador faz indagações pertinentes à compreensão do conflito para explorar soluções viáveis.”

O mediador tem o dever de primeiro ouvir os mediandos e posteriormente perguntar para entender os fatos e assim apoiá-los. Para isto, outra técnica essencial é a escuta ativa, acerca da qual Spengler (2016, p. 63) explica que,

Todos tem uma grande necessidade de serem ouvidos e saber que os outros se importam com o que dizem. As pessoas precisam dizer o que sentem. Ouvir bem é uma habilidade importante que o mediador pode utilizar num diálogo difícil.

Por conseguinte, Spengler (2010, p. 71) esclarece que:

[...] a escuta ativa é a técnica por meio da qual o ouvinte busca compreender e se comunicar acerca do sentido e do motivo de mensagens verbais e não verbais (postura corporal), percebendo assim informações ocultas contidas na comunicação. Consequentemente, é preciso “escutar” a comunicação não verbal, observar todos os seus movimentos corporais. Aquele mediador que não compreende um olhar não compreenderá uma longa explicação.

Por fim, a prática do resumo mostra ser de grande importância no procedimento de mediação, pois visa um conhecimento maior do mediador acerca do ocorrido entre os mediandos. Desse modo, Spengler (2010, p. 60) diz que “[...] o mediador faz um resumo de toda a controvérsia até então apresentada, verificando as principais questões presentes, como também os interesses subjacentes, juntamente com as partes.”

A técnica do resumo consiste em identificar as questões apresentadas, os interesses e os sentimentos envolvidos, anotando-os e apresentando-os, em seguida, para os mediandos (SPENGLER, 2016).

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Ademais, recomenda-se a utilização da técnica da inversão de papeis nas sessões individuais, possibilitando que os mediandos, por intermédio do mediador, coloquem-se no lugar um do outro, visando a percepção do conflito por outra ótica.

Diante do exposto, percebe-se que a utilização, pelos mediadores, das técnicas acima citadas, é fundamental, pois estas proporcionam ao mediador a possibilidade de melhor conduzir o diálogo entre os mediandos, garantindo a estes uma reaproximação mais humana e eficiente, conforme suas necessidades.

1.3 Mediação pré-processual e processual

O Código de Processo Civil (BRASIL, 2015) no art. 334 permite que seja proposta às partes a participação em sessões de mediação antes do recebimento da petição inicial, ou seja, propõe que seja realizada a denominada mediação processual, que se dá no CEJUSC, diferentemente da mediação pré-processual que ocorre tanto no CEJUSC como fora deste. Em algumas situações, dependendo do envolvimento dos mediandos, para chegar a uma solução das questões e dos interesses por eles apresentados, poderão ser designadas diversas sessões.

Morais e Spengler (2012, p. 182) explicam que:

O tratamento de conflitos na fase pré-processual torna-se vantajoso uma vez que, na maioria das vezes, antes do ajuizamento da ação os ânimos estão mais acomodados, facilitando a comunicação mediada e um possível acordo anterior a instauração da lide. Além disso, se possível consenso entre os conflitantes (seja por reconciliação, seja por acordo) um processo judicial pode ser evitado ocorrendo, aqui sim, a diminuição do contencioso judicial e a celeridade na resposta.

A mediação pré-processual também encontra regulamentação na Lei de Mediação e Autocomposição (BRASIL, 2015), esclarecendo-se que poderá ser proposta a mediação antes do início do processo judicial, a qual poderá ocorrer dentro do CEJUSC ou fora dele. Para Spengler (2016, p. 137) “o artigo 21 aponta que o convite para iniciar o procedimento de mediação extrajudicial poderá ser feito por qualquer meio de comunicação e deverá estipular o escopo para a negociação, data e local da primeira reunião.”

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Ainda, Reis (apud, FIORELLI J.; FIORELLI M.; MALHADAS JUNIOR, 2008, p. 136) salienta que a mediação pré-processual “proporciona às partes uma oportunidade de ponderarem o interesse, de formarem a sua vontade e de se disporem, ou não, a tentar a mediação.”

Como já ressaltado, um dos principais requisitos da mediação é a concordância das partes em permanecer no procedimento voluntariamente4, e isso também se aplica para a mediação pré-processual/extrajudicial. Segundo Spengler (2016, p. 139, grifo do autor),

[...] a mediação no Brasil passa a ser “meio” obrigatória e “meio” facultativa. Ou seja: na primeira reunião o comparecimento é obrigatório, porém, permanecer em mediação retornando nas demais reuniões, é facultativo, voluntário.

Assim, como a mediação processual, a mediação pré-processual também poderá ser utilizada para qualquer tipo de litígio, desde que presente o requisito fundamental, qual seja, o envolvimento entre as partes anterior ao conflito.

Destaca Fiorelli J., Fiorelli M. e Malhadas Junior (2008, p. 136, grifo dos autores) que são os objetivos principais da pré-mediação;

a) Proporcionar conhecimento do processo, sua amplitude e a natureza dos resultados que poderão ser obtidos; b) Obter a responsabilização dos participantes, tanto sobre a escolha das opções como pela sua implementação; c) conhecer os comportamentos adequados às sessões de mediação, o que inclui respeito à outra parte, obediência às determinações do mediador, comportamento cortês e cooperativo. Esses comportamentos serão novamente enfatizados pelo mediador, no início da sessão; d) filtragem, para assegurar que somente pessoas realmente interessadas em encontrar saída para o conflito sejam conduzidas à mediação.

A mediação processual ou judicial é aquela em que as partes já se encontram litigando no Judiciário, como partes em um processo, no qual, por possuírem relações de natureza continuada e objetivando uma melhor qualidade na solução do conflito, de forma autocompositiva, lhes é facultado o ingresso na mediação. Assim, será proposta às partes a mediação já no início do processo, após o recebimento da inicial, momento em que o juiz

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designará a audiência de mediação, com antecedência mínima de 30 dias, e mandará citar o réu.

Ainda, conforme o artigo 334 do Novo Código de Processo Civil (BRASIL, 2015), a mediação só não será realizada no caso de recusa expressa de ambas as partes ou no caso de não se admitir a autocomposição diferentemente do que ocorre na conciliação, na qual o não comparecimento resulta em uma sanção pecuniária. Dessa forma, o parágrafo oitavo do artigo 334 do Novo Código de Processo Civil (BRASIL, 2015) dispõe que:

O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de conciliação é considerado ato atentatório à dignidade da justiça e será sancionado com multa de até dois por cento da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da União ou do Estado.

Por fim, o parágrafo nono do artigo 334 do Novo Código de Processo Civil (BRASIL, 2015) deixa claro que “as partes devem estar acompanhadas por seus advogados ou defensores públicos.” Nesse sentido, nota-se uma boa aceitação por parte dos advogados com relação ao procedimento, no qual a participação dos juristas visa a assistência e o esclarecimento de questões jurídicas que surgem ao longo das sessões de mediação.

Conforme estipulado no art. 28 da Lei de Mediação e Autocomposição (BRASIL, 2015) “O procedimento de mediação judicial deverá ser concluído em até sessenta dias, contados da primeira sessão, salvo quando as partes, de comum acordo, requererem sua prorrogação.” Dessa maneira, o termo final da mediação pode ser estipulado por meio da Lei ou por acordo das partes.

Assim, percebe-se que tanto a mediação pré-processual como a mediação processual são procedimentos aplicados atualmente, visando manter a proposta de maior efetividade na resolução de conflitos, promovendo a cultura do diálogo. Além disso, a utilização desses métodos autocompositivos de resolução de conflitos possibilita a redução do tempo de tramitação dos processos e ressignificação dos conflitos.

Desta maneira, abordada a mediação de conflitos a partir do Novo Código de Processo Civil e da Lei de Mediação e Autocomposição, bem como os princípios e técnicas aplicáveis, além da diferenciação entre mediação pré-processual e processual, analisar-se-á, no capítulo

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posterior, a implementação, o funcionamento e a experiência de mediação no CEJUSC de Santa Rosa.

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2 A EXPERIÊNCIA DO CEJUSC DE SANTA ROSA NA APLICAÇÃO DA MEDIAÇÃO

Após toda a análise bibliográfica da mediação, fundada na implementação da Lei de Mediação e Autocomposição e no Novo Código de Processo Civil, neste capítulo será abordada a experiência do CEJUSC de Santa Rosa na aplicação da mediação. Também será esclarecida a estruturação, a composição e o modo de atuação da mediação no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Por fim, serão analisados os dados empíricos e percepções acerca da aplicação da mediação na Comarca de Santa Rosa.

2.1 A mediação no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul

Com o advento da Resolução n° 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça, na qual a mediação é regulamentada como uma política pública de tratamento adequado para os conflitos no âmbito do Judiciário, com a Lei da Mediação e Autocomposição e com o Novo Código de Processo Civil, os Tribunais ganharam estimulo e apoio para aplicá-la com eficiência. Assim, o Conselho Nacional de Justiça (2016, p. 37) diz que “A criação da Resolução n° 125 do CNJ foi decorrente da necessidade de se estimular, apoiar e difundir a sistematização e o aprimoramento de práticas já adotadas pelos tribunais.”

O Conselho Nacional de Justiça (2016, p. 41) estabelece que “Com a Resolução n° 125 do Conselho Nacional de Justiça, começa-se a criar a necessidade de Tribunais e Magistrados abordarem questões como solucionadores de problemas ou como efetivos pacificadores.”

A mediação passa a ser aplicada pelos Tribunais visando facilitação na comunicação das partes envolvidas, com o objetivo de buscar mais autonomia para respostas ao problema enfrentado. Dessa maneira, resulta na valorização da cidadania, estabelecendo o respeito mútuo com base no diálogo, e, assim, reduzindo o tempo de espera pela resposta do Poder Judiciário, possibilitando que os envolvidos construam um entendimento e restabeleçam o diálogo perdido.

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Naturalmente, se mostra possível realizar efetivamente esse novo acesso à justiça se os tribunais conseguirem redefinir o papel do poder judiciário na sociedade como menos judicatório e mais harmonizador. Busca‑se assim estabelecer uma nova face ao judiciário: um local onde pessoas buscam e encontram suas soluções – um centro de harmonização social.

Dessa forma, conforme o disposto no art. 7° da Resolução 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça, passaram-se a criar os Núcleos Permanentes de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (NUPEMEC’s), visando a capacitação dos profissionais que venham a desenvolver a mediação nas Comarcas. Assim:

[...] o propósito do núcleo em treinamentos utiliza-se informalmente a expressão “cérebro autocompositivo” do Tribunal pois a este núcleo compete promover a capacitação de magistrados e servidores em gestão de processos autocompositivos bem como capacitar mediadores e conciliadores – seja entre o rol de servidores seja com voluntários externos. (BRASIL, 2016, p. 42).

Cabe destacar que é de competência do Núcleo instalar os Centros Judiciários de Solução de Conflitos nas Comarcas e, dessa forma, planejar de maneira eficiente a implantação dessa política pública. Tais centros têm como objetivo principal realizar as sessões de conciliação e mediação de modo mais eficiente possível (BRASIL, 2016).

Dessa maneira, seguindo a Resolução n° 125/2010, os Tribunais são auxiliados pelo Conselho Nacional de Justiça na estruturação dos Núcleos e dos Centros de mediação:

i) acompanhado o planejamento estratégico dos Tribunais para a implantação de núcleos e centros tendo inclusive feito contato com presidentes para sensibilização de necessidade de suporte orçamentário; ii) capacitado instrutores em mediação e conciliação fornecendo completo material pedagógico (arquivos powerpoint, vídeos, manuais de mediação judicial, exercícios simulados, formulários de avaliação, etc.); iii) prestado consultoria na estruturação de núcleos e centros; iv) mantido diálogo contínuo com coordenadores de núcleos; v) envolvido os instrutores em formação para contribuírem com a elaboração de novos materiais pedagógicos por área temática (e.g. mediação de família, mediação penal, cadernos de exercícios, entre outros); e vi) auxiliado tribunais a treinarem empresas para que essas treinem seus prepostos para que negociem melhor. (BRASIL, 2016, p. 42).

Em março de 2016, o Conselho Nacional de Justiça atualizou a Resolução n° 125/2010 para adequar-se à Lei de Mediação e Autocomposição de 2015, introduzindo a emenda que dispõe sobre a criação de um Cadastro Nacional de Mediadores Judiciais e Conciliadores

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(CNMJC), visando uma melhor organização dos Tribunais. O cadastro também garantiu que a escolha do mediador adequado para cada situação ocorra com base no histórico de avaliação, de acordo com a satisfação das partes e seus advogados (BRASIL, 2016).

O Tribunal, após a manifestação da Comarca pelo interesse na criação dos CEJUSC’s, faz toda a tramitação da solicitação, apuração das informações e condições de funcionamento da Comarca solicitante. Após todo o procedimento de implementação, devidamente aprovado pelo NUPEMEC, é solicitado a este o agendamento e organização do curso de qualificação de mediadores que irão atuar na respectiva Comarca. Por fim, é realizada a divulgação, inscrição e seleção dos participantes, sendo, ao final, realizados os cursos de qualificação para posterior funcionamento do CEJUSC na Comarca (TRIBUNAL DE JUSTIÇA).

Nesse Sentido a Resolução n° 1026/2014 (RIO GRANDE DO SUL, 2014) dispõe, no artigo 2°, caput e §1º, que:

ART. 2º Os centros judiciários de solução de conflitos e cidadania têm por objetivo implementar a política judiciária nacional de tratamento adequado de conflitos, nos termos da resolução nº 125 do conselho nacional de justiça, no âmbito do tribunal de justiça do estado do rio grande do sul

§ 1º O tribunal de justiça do rio grande do sul, até a entrada em vigor da lei nº 13.105 (CPC/2015), instalará CEJUSCs em todas as comarcas que possuírem cinco ou mais varas com competência nas áreas cível, fazendária, previdenciária, de família e/ou dos juizados especiais cíveis, criminais e fazendários.

Segundo dados retirados do site do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, o Estado atualmente possui CEJUSC’s implementados em 33 (trinta e três) Comarcas, quais sejam: Bagé, Bento Gonçalves, Cachoeirinha, Canoas, Carazinho, Caxias do Sul, Cruz Alta, Erechim, Esteio, Frederico Westphalen, Gravataí, Guaíba, Ijuí, Lajeado, Montenegro, Novo Hamburgo, Passo Fundo, Pelotas, Porto Alegre, Rio Grande, Santa Cruz do Sul, Santa Maria, Santa Rosa, Santa Vitória do Palmar, Santana do Livramento, Santo Ângelo, São Borja, São Leopoldo, Sapiranga, Sapucaia do Sul, Taquara, Uruguaiana e Viamão. Possui ainda um CEJUSC de 2° grau e um CEJUSC do Foro Regional do Partenon, em Porto Alegre.

De acordo com a Nominata n° 01/2017 (RIO GRANDE DO SUL, 2017), disponibilizada em 30 de março de 2017 no site do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, dos habilitados no Cadastro Estadual de Conciliadores e Mediadores da Justiça certificados

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pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, encontram-se atualmente certificados 92 (noventa e dois) mediadores cíveis e familiares em todo o Estado.

Assim, pode-se perceber que os Tribunais objetivam a qualificação dos profissionais que irão atuar nos CEJUSC’s de cada Comarca. Dessa forma, nota-se que os mediadores dependem de uma certificação específica, ministrada pelos instrutores autorizados pelo Tribunal de Justiça do Estado.

2.2 CEJUSC de Santa Rosa: estruturação, composição e modo de atuação

No Rio Grande do Sul a implementação da mediação segue regras específicas resultantes da Resolução n° 1.026/2014, alterada pela Resolução n° 1.124/2016, ambas do COMAG(Conselho da Magistratura), nas quais disciplinam os CentrosJudiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC’s) no âmbito do Tribunal de Justiça do Estado, possibilitando assim o fomento de métodos alternativos para a solução dos conflitos.

Nesse sentido a Resolução n° 1026/2014 (RIO GRANDE DO SUL, 2014), com as devidas modificações feitas pela Resolução n° 1124/2016 (RIO GRANDE DO SUL, 2016), dispõe, no seu artigo 2°, §§ 2° e 3°, que:

§ 2° Os demais CEJUSCs, desde que a comarca possua pelo menos duas unidades judiciais, serão instalados mediante requerimento do(s) magistrado(s), que deverá ser dirigido ao NUPEMEC, o qual, ouvida a corregedoria-geral da justiça, decidirá sobre a instalação.

§ 3° Nas comarcas de vara única poderá ser instalado serviço de conciliação, mediação e justiça restaurativa, também mediante requerimento do magistrado, que deverá ser dirigido ao NUPEMEC, o qual, ouvida a corregedoria-geral da justiça, decidirá sobre a instalação.

A partir da Resolução n° 1026/2014 (RIO GRANDE DO SUL, 2016), cabe aos CEJUSC’s atender as demandas processuais e pré-processuais, atuando na prevenção, tratamento e na solução dos conflitos judicializados ou não. Ressalta-se também que a Resolução deixa expresso que todo o procedimento é aplicado com base na voluntariedade dos envolvidos, de acordo com a Lei de Mediação e Autocomposição e com o Código de Processo Civil.

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A partir da nova redação do artigo 5° da Resolução n°1026/2014 (RIO GRANDE DO SUL, 2016) fica estipulado que:

Art. 5º Atuarão nos centros judiciários de solução de conflitos, conciliadores, mediadores e facilitadores de justiça restaurativa, que serão auxiliares da justiça sem vínculo empregatício ou estatutário, exercendo função de relevante caráter público, na modalidade voluntária e/ou remunerada, desde que cadastrados previamente, capacitados e supervisionados pelo tribunal de justiça.

§ 1º Para atuar como mediador, conciliador ou facilitador da justiça restaurativa o interessado deverá comprovar graduação em curso de ensino superior de instituição reconhecida pelo ministério da educação, e, especificamente para ser mediador, necessitará ser graduado há pelo menos dois anos.

[...]

§ 5º Para que seja remunerado, o conciliador, mediador ou facilitador deverá estar inscrito em cadastro estadual, centralizado pelo NUPEMEC, mediante a realização prévia de curso de capacitação certificado pelo NUPEMEC, com frequência e aprovação no estágio prático, indicando os CEJUSCs nos quais se dispõe a atuar.

[...]

Os CEJUSC’s contarão também com salas para sessões, reuniões e oficinas, dotadas de uma estrutura adequada à formação e qualificação dos profissionais (RIO GRANDE DO SUL, 2014).

Dessa forma, depois de estruturado o CEJUSC, o próximo passo é a qualificação dos mediadores que atuam na Comarca. Considerando que estes profissionais devem ter uma qualificação adequada, o Estado do Rio Grande do Sul dispõe, na Resolução n° 05/2012, os critérios para a seleção dos mediadores, visando a melhor aplicação do método autocompositivo. Tal Resolução também visa dar publicidade e transparência, considerando a suma importância da seleção dos auxiliares da Justiça.

A Resolução (RIO GRANDE DO SUL, 2012) referida, dispõe:

Art. 1º Os conciliadores e mediadores das centrais de conciliação e mediação são auxiliares da justiça e serão selecionados em número compatível com o movimento forense pelo desembargador ou juiz de direito coordenador de cada unidade, preferencialmente, entre magistrados, membros do ministério público, procuradores de estado e defensores públicos, aposentados, professores universitários, advogados e bacharéis em direito, todos com reputação ilibada, possibilitada a realização de convênios. (nr)

§ 1º Os mediadores poderão ser recrutados dentre profissionais de diversas áreas técnicas, desde que possuam formação específica para a função.

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§ 2º A nomeação será por dois anos, admitida recondução a critério da respectiva coordenação.

§ 3º Os conciliadores e mediadores serão supervisionados por desembargador ou juiz de direito.

[...]

Resta claro ainda, que os mediadores devem comprovar, por meio da certidão de conclusão, a participação prévia em curso de capacitação, seguindo os padrões estipulados pelo Conselho Nacional de Justiça. Assim, a Resolução n° 05/2012 (RIO GRANDE DO SUL, 2012), no seu artigo 6°, dispõe que “é obrigatória a participação em curso de capacitação, treinamento e aperfeiçoamento para atuação nas centrais de conciliação e mediação.”

Os mediadores devem seguir o Código de Ética, formulado pelo Conselho Nacional de Justiça, visando o melhor e mais adequado exercício de suas funções. O Código de Ética é composto de 08 (oito) artigos, os quais apresentam os princípios fundamentais que norteiam a atuação dos mediadores; as regras do procedimento da mediação; a importância da certificação dos mediadores; os impedidos de prestar serviços profissionais aos mediandos; e, por fim, a possibilidade de condenação, em processo criminal, do mediador que não cumprir as disposições do Código. Além disso, o mediador também deve ser comunicativo, promover o respeito e a cooperação, cultivar uma escuta ativa objetivando a compreensão dos conflitos expostos pelos mediandos, sem julgá-los. Nesse sentido ensina Luis Alberto Warat (2001, p. 76):

O que se procura com a mediação é um trabalho de reconstrução simbólica, imaginária e sensível, com o outro do conflito; de produção com o outro das diferenças que nos permitam superar as divergências e formar identidades culturais.

Desse modo, o mediador deve acolher os mediandos para que possam dialogar e enxergar a melhor solução para o problema. Assim para Warat (2001, p. 76-77, grifo nosso):

O mediador tem que ajudar cada pessoa do conflito para que elas aproveitem como uma oportunidade vital, um ponto de apoio para renascer, falarem-se a si mesmas, refletir e impulsionar mecanismos interiores que as situem em uma posição ativa diante de seus problemas. O mediador estimula a cada membro do conflito para que encontrem, juntos o roteiro que vão seguir para sair da encruzilhada e recomeçar a andar pela vida com outra disposição.

Consequentemente, para atuar como mediador deve-se sempre seguir o Código de Ética, primando pelos princípios e regras nele estabelecidos, do contrário, em caso de

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descumprimento do Código, resultará na exclusão do mediador do cadastro e no impedimento de atuar como mediador em qualquer outro órgão do Poder Judiciário (RIO GRANDE DO SUL, 2012).

Na Comarca de Santa Rosa, o CEJUSC foi criado no ano de 2014, com base na Resolução nº 998/2014-COMAG (RIO GRANDE DO SUL, 2014). Atualmente, estão vinculados ao CEJUSC de Santa Rosa 24 (vinte e quatro) mediadores. De acordo com a Nominata n° 01/2017 (RIO GRANDE DO SUL, 2017) dos habilitados no Cadastro Estadual de Conciliadores e Mediadores da Justiça certificados pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, disponibilizada em 30 de março de 2017 no site do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, na Comarca de Santa Rosa, atualmente, encontram-se certificados 12 (doze) mediadores cíveis. Até o presente momento, com base na referida Nominata, há apenas profissionais em formação para atuar como mediadores na mediação familiar. Contudo, mesmo assim, salienta-se que no CEJUSC de Santa Rosa são realizadas mediações cíveis e familiares.

A Resolução n° 998/2014, no seu artigo 2°, parágrafo único, também dispõe que o CEJUSC da Comarca de Santa Rosa atenderá as demandas de Comarcas vizinhas, quais sejam: Giruá, Santo Cristo, Tucunduva, Três de Maio e Campina das Missões (RIO GRANDE DO SUL, 2014).

Com a Resolução n° 998/2014-COMAG (RIO GRANDE DO SUL, 2014), em seu artigo 6°, foi determinado que após a criação do CEJUSC na Comarca de Santa Rosa, com o objetivo de facilitar o acesso à justiça e obter um melhor atendimento para a população, poderá a Comarca dispor da criação de postos avançados de justiça comunitária. Os postos avançados também contam com uma estrutura para a realização de sessões de mediação.

ART. 6º Com o objetivo de facilitar o acesso da população à justiça, o CEJUSC poderá contar com postos avançados de justiça comunitária para a coleta de solicitações realizadas diretamente pelos interessados e para a realização das audiências de conciliação e sessões de mediação, mediante convênios com entidades e instituições parceiras, de acordo com o volume de trabalho e capacidade de atendimento do CEJUSC e mediante prévia autorização do NUPEMEC.

§ 1º Os postos avançados de justiça comunitária oferecerão a estrutura necessária para a realização das audiências de conciliação e sessões de mediação.

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Além dos CEJUSC’s, no ano de 2012 foram criados os primeiros postos avançados de mediação nas Comarcas de Passo Fundo e Pelotas por meio das súmulas n° 802 e 916 do DEC (RIO GRANDE DO SUL, 2012). Após a implementação desses postos, no ano de 2016, por meio da Súmula n° 632 do DEC (RIO GRANDE DO SUL, 2016) e com a normatização na Resolução n° 998/2014 – COMAG, foi estabelecido o funcionamento do posto avançado do centro judiciário de solução de conflitos e cidadania (CEJUSC) junto à Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí, Campus Santa Rosa, nos termos do art. 8º, da resolução n.º 872/2011 – COMAG, junto ao foro da Comarca de Santa Rosa/RS, tendo como prazo de vigência 60 (sessenta) meses.

2.3 Análise dos dados empíricos e percepções acerca da aplicação da mediação

Após a explanação acerca da estruturação, do funcionamento do procedimento da mediação e da atuação dos mediadores conforme o prescrito nas Leis vigentes, para atingir os objetivos propostos no trabalho, foi realizada a pesquisa que seguiu um modelo de estudo de campo, quantitativo e descritivo, tendo como base a coleta de dados e a realização de entrevistas com o Magistrado responsável pelo CEJUSC e com os mediadores, bem como aplicação de questionários aos mediandos. Os dados quantitativos coletados serão tabulados em forma de gráficos e as questões dissertativas serão transcritas para o presente trabalho de conclusão de curso, onde serão discutidas a partir de referenciais teóricos que analisam a problemática.

No dia 06 de outubro de 2016 foi submetido o projeto de pesquisa para a análise do Comitê de Ética, sendo aprovado em 09 de dezembro de 2016. Após aprovação do projeto, a coleta de dados teve início em 10 de março de 2017. Ao todo foram ouvidos 23 (vinte e três) participantes. Salienta-se que a pesquisa não trouxe nenhum risco aos envolvidos no processo, prevalecendo a voluntariedade e a oportunidade de desistir a qualquer momento, sem qualquer tipo de penalização. Procurou-se destacar também a seriedade necessária na execução do projeto. Destaca-se, ainda, que as entrevistas com os mediandos foram realizadas antes de estes terem participado da mediação no dia da coleta dos dados, sendo entrevistados tanto aqueles que já haviam participado anteriormente de outras sessões de mediação quanto aqueles que estavam aguardando a primeira sessão no dia em que foram entrevistados.

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Ademais, salienta-se que a utilização, neste trabalho, de todos os dados obtidos nas entrevistas foi devidamente autorizada pelos entrevistados, por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE A).

No período de 10 de março a 27 de abril do ano de 2017 foi realizada a pesquisa com o Juiz de Direito responsável pelo CEJUSC na Comarca de Santa Rosa - RS, bem como com os mediadores e mediandos.

Na entrevista realizada com o juiz responsável pelo CEJUSC de Santa Rosa, em conformidade com o questionário (APÊNDICE B), a pergunta de número 01 (um) objetivou o esclarecimento de como o CEJUSC está estruturado nesta Comarca. Em sua resposta o Juiz relatou que o CEJUSC de Santa Rosa está instalado no 3° andar do Fórum, possuindo 02 (duas) salas para conciliação e mediação, 01 (uma) sala de espera e 01 (uma) sala onde funciona a secretaria. O CEJUSC conta atualmente com 24 (vinte e quatro) mediadores, 01 (um) Juiz de Direito, o qual acumula a função de Coordenador do CEJUSC, 01 (uma) secretária e 01 (uma) estagiária.

Na pergunta de número 02 (dois), foi questionado qual o número de indivíduos que semanalmente são submetidos ao procedimento de mediação. Conforme relatado pelo Juiz, semanalmente são atendidas, em média, 10 (dez) pessoas na mediação.

Na pergunta de número 03 (três), pretendeu-se a explanação acerca do número de mediações realizadas desde a implementação do CEJUSC e o percentual de acordos realizados. Em resposta ao questionário, foi relatado que o CEJUSC de Santa Rosa iniciou suas atividades em 2013, estando em pleno funcionamento a partir de julho de 2015. Assim, no ano de 2015 foram realizadas 133 (cento e trinta e três) mediações, das quais se obteve o equivalente a 13,53% de acordos. No ano de 2016 foram realizadas 188 (cento e oitenta e oito) mediações, alcançando um total de 21,80% de acordos. No período de janeiro a março de 2017 foram realizadas 22 (vinte e duas) mediações, tendo 15,21% de acordos. Ainda, foi destacado que vários casos encaminhados para a mediação foram resolvidos dias ou meses após a sessão, ou seja, entende-se que a mediação abriu um caminho para o diálogo produtivo e de posterior entendimento. Portanto, o percentual de acordos mencionado refere-se aos entendimentos realizados na sessão, não sendo computados os efetivados fora do ambiente do CEJUSC.

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Na pergunta de número 04 (quatro), foi questionado acerca de como se dá o encaminhamento dos casos para a mediação e quais os critérios utilizados para o encaminhamento. Conforme relatado na entrevista, nota-se o seguinte procedimento: os 03 (três) cartórios cíveis separam os processos e remetem ao CEJUSC. No CEJUSC, a servidora faz uma triagem com a finalidade de verificar se é caso de mediação cível, familiar ou de conciliação. Quando constatado que as pessoas continuarão mantendo algum tipo de relacionamento, o processo é direcionado para a mediação cível ou familiar. Os demais casos são direcionados para o procedimento comum.

Na pergunta de número 05 (cinco) se buscou questionar se era possível afirmar que a mediação cumpre com seu papel. Do relato, percebe-se que, partindo do princípio de que o objetivo da mediação é a retomada do diálogo, a mediação cumpre sim com o seu papel. Ainda, afirmou que em 95% dos casos os mediandos voltam a conversar.

Na pergunta de número 06 (seis) buscou-se esclarecer se a mediação proporciona uma melhor qualidade na resolução do conflito sob a ótica do sistema Judiciário. Dessa forma, ao ser questionado, o Juiz afirmou que a mediação proporciona uma melhor qualidade na resolução do conflito, pois oferece aos mediandos a oportunidade de falar sobre seus interesses e sentimentos.

Na pergunta de número 07 (sete), procurou-se esclarecer se a mediação é bem recepcionada pela sociedade e quais os principais desafios enfrentados. A partir do questionamento, foi relatado que a mediação está sendo bem recepcionada pela sociedade, principalmente pelos mediandos. No início enfrentavam-se restrições por parte de alguns advogados, o que evoluiu muito. Vários profissionais do direito passaram a peticionar solicitando que o processo seja encaminhado ao CEJUSC para a designação de sessão de mediação. O principal desafio enfrentado constantemente é fazer com que as pessoas percebam que elas têm capacidade e competência para resolverem seus próprios conflitos, sem precisar delegar ao Judiciário essa tarefa.

Ao analisar os dados disponibilizados pelo Magistrado responsável pelo CEJUSC de Santa Rosa, nota-se que desde a total implementação do CEJUSC na Comarca foram realizadas, até a data da pesquisa, um total de 343 (trezentas e quarenta e três) sessões de mediação. Observou-se que no ano de 2015 se obteve o equivalente a 13,53% de acordos, no

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