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Circulação e consumo de Game of Thrones pelo olhar da recepção transmidiática 1

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PPGCOM ESPM // SÃO PAULO // COMUNICON 2014 (8 a 10 de outubro 2014)

Circulação e consumo de Game of Thrones pelo olhar da recepção

transmidiática

1

Felipe da Costa2

Universidade Federal de Santa Catarina Valquíria Michela John3

Universidade do Vale do Itajaí Lauro Henrique Wagner4 Universidade do Vale do Itajaí

Resumo

A pesquisa tem como objeto de estudo a série de TV Game of Thrones produzida e exibida pela emissora norte americana HBO, que finalizou a quarta temporada em 15 de junho de 2014. Exibida nos EUA e simultaneamente no Brasil, é uma adaptação da série de livros “As crônica de gelo e fogo” do norte americano George R. R. Martin. A narrativa é um dos maiores sucessos atuais, tanto literário quanto televisivo, da chamada narrativa fantástica. O objetivo da pesquisa é analisar o consumo e a circulação da série no Brasil a partir de uma perspectiva de recepção transmidiática, ou seja, como os fãs brasileiros se apropriam da série e a fazem repercutir, circular, expandir no âmbito de outra plataforma – a internet. A pesquisa se insere na perspectiva da convergência midiática e teve como foco os conteúdos produzidos por fãs da série na fanpage da HBO Brasil, bem como em fanpages e blogs de fãs. A perspectiva metodológica mescla técnicas da análise de conteúdo e da netnografia.

Palavras-chave: fãs; narrativa transmidiática; séries americanas; Game of Thrones.

Introdução

As séries de televisão norte-americanas estão cada vez mais difundidas em todo o mundo, inclusive no Brasil, onde o gênero de ficção seriada mais produzido e mais consumido é a telenovela. Carro chefe das principais emissoras de TV em sinal fechado e aberto no país de origem, é sobretudo através da internet que as séries

1 Trabalho apresentado no Grupo de Trabalho 6 – Comunicação, Consumo e Subjetividade, do 4º Encontro de GTs - Comunicon, realizado nos dias 09 e 10 de outubro de 2014.

2 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo (POSJOR/UFSC) e pesquisador do Monitor de Mídia. E-mail: contato@felipedacosta.com.br.

3 Doutora em Comunicação e Informação (PPGCOM/UFRGS). Professora da Universidade do Vale do Itajaí. Pesquisadora do Monitor de Mídia. E-mail: vmichela@gmail.com.

4 Acadêmico do 7º período do Curso de Jornalismo da Universidade do Vale do Itajaí. Pesquisador do Monitor de Mídia. E-mail: laurohenriquew007@gmail.com.

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americanas ganham cada vez mais adeptos no Brasil e em outros países. Inseridas no processo da chamada convergência midiática, muitas séries são produzidas para a TV mas levando em conta toda uma legião de fãs que consomem suas histórias a partir da prática dos downloads e da rede de compartilhamento informal que se forma pela internet, ainda que não seja uma atividade legalizada, é a prática corrente entre internautas do mundo inteiro.

Esses conteúdos são não apenas compartilhados mas também discutidos, contestados, elogiados e reelaborados em forma de outros conteúdos, outras narrativas e outros suportes, seja em sites de redes sociais, blogs, sites ou fóruns dedicados aos temas das séries. Inserem-se no processo chamado de “cultura de fãs” (JENKINS, 2008) com a produção das chamadas fanfictions, memes, campanhas, virais para o youtube, trending topics no twitter, perfis fakes, fanpages no facebook, entre diversas outras possibilidades de apropriação, consumo e circulação desse produto cultural. Estabelece-se, portanto, uma nova forma de ver e consumir os produtos televisivos, que se estendem para muito além do veiculo original – a televisão. Ao definir o processo de convergência, não apenas midiática, mas também cultural, Jenkins afirma que esta deve ser entendida como uma referência “ao fluxo de conteúdos através de múltiplos suportes midiáticos, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca das experiências de entretenimento que desejam” (JENKINS, 2008, p. 27). Neste cenário, o autor também afirma que “ao invés de falar de produtores e consumidores midiáticos em papéis separados, agora podemos vê-los como participantes que interagem uns com os outros de acordo com novas regras, que nenhum de nós entende por completo” (JENKINS, 2008, p. 28). Ou, como explica o autor:

Consumidores estão aprendendo a utilizar as diferentes tecnologias para ter um controle mais completo sobre o fluxo da mídia e para interagir com outros consumidores. As promessas desse novo ambiente midiático provocam expectativas de um fluxo mais livre de ideias e conteúdos. Inspirados por esses ideais, os consumidores estão lutando pelo direito de participar mais plenamente de sua cultura. (JENKINS, 2008, p. 44)

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Essas práticas e a pesquisa aqui relatada estão inseridas no contexto da “[...] convergência midiática e a conseqüente convergência e desdobramentos de seus fluxos de circulação e consumo” (JACKS et al, 2011, p. 3). Para observar e analisar este fenômeno cada vez mais intenso na esfera midiática mundial e inclusive brasileira escolhemos como objeto empírico a série de TV Game of Thrones (GOT), exibida pela emissora de sinal fechado norte americana HBO com transmissão simultânea a todos os países do mundo que têm acesso à emissora.

Nosso foco, entretanto, não é a série em si, seu conteúdo ou processo de produção e sim como se dá o consumo e circulação de seu conteúdo entre os fãs brasileiros. O consumo de GOT, assim como de outras narrativas ficcionais, “[…] segue uma tendência mais ativa – embora em diferentes níveis –, e os receptores, por meio da Internet e das tecnologias digitais, podem acessar e experienciar coletivamente o desenrolar das histórias” (JACKS et al, 2011, p.3). Esse processo é definido por Lopes (2011) como “recepção transmidiática”.

Deste modo, o objetivo geral da pesquisa foi o de analisar como ocorre o consumo e circulação da série Game Of Thrones entre os fãs brasileiros a partir do uso da internet. Os objetivos específicos que nortearam a pesquisa foram: (1) Verificar a incidência e o conteúdo de postagens sobre a série em fanpages e blogs sobre o tema mantidos por fãs; (2) Identificar os posicionamentos dos fãs quanto ao desenvolvimento da narrativa a partir das participações no site e fanpage oficial da série no Brasil; e (3) Mapear conteúdos produzidos pelos fãs em redes sociais, blogs e sites dedicados ao tema.

Game Of Thrones: dos livros à série

Game of Thrones, exibida pela HBO desde 2011, é uma adaptação da série de livros de fantasia épica intitulada “As crônicas de gelo e fogo” (A Song of Ice and

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Fire) escrito pelo norte americano George R. R. Martin5. A obra começou a ser produzida em 1991 e o primeiro volume foi lançado em 1996. A ideia original era pra ser apenas uma trilogia, porém hoje consiste em cinco volumes disponíveis no mercado, inclusive brasileiro, e mais dois planejados.

A história da série gira em torno do trono de ferro, uma guerra civil entre varias famílias disputando um trono, o poder. Com o decorrer da jornada, são apresentados para o leitor diversos personagens que de certa forma estão conectados. Ganância, poder, traição, amor, amizade entre outros sentimentos entram em cena através de diversos personagens. Martin constrói personagens que podem ser chamados de complexos, uma hora o individuo é herói e depois de algumas páginas passa a ser vilão ou o contrário. Como afirma Ehlers (2012) “Os abusos e crueldades lhes são tão comuns que mesmos os supostos ‘bonzinhos’ carregam suas cargas de crueldades. Essa divisão entre mocinhos e bandidos que estamos tão acostumados a ver é algo que não é nada claro no mundo de Martin”. Nada é muito óbvio ou simples no mundo criado pelo autor, considerado por muitos críticos como o “Tolkien norteamericano”.6

Um ponto importante da série é que Martin, diferente de outros autores, não deixa o leitor criar vínculo com um personagem por muito tempo. Ao longo dos cinco livros publicados, poucos personagens permanecem vivos. Outro ponto importante é o processo de identificação que se pode perceber entre os fãs da saga. A narrativa, o mundo criado por Martin, mesmo sendo uma série fantasia, repleta de criaturas fantásticas como dragões, lobos gigantes, mortos vivos, gigantes, videntes, os temas abordados propiciam a identificação do leitor: traição por amigos, intrigas dentro da própria família, como amadurecer sem os pais por perto entre outros problemas que a historia expõe, possivelmente um dos motivos para ser uma das séries literárias mais aclamadas dos últimos anos. A emissora norte americana HBO adquiriu os direitos de

5 George R. R. Martin é roteirista e escritor de terror, fantasia e ficção cientifica. Começou a escrever para a televisão e trabalhar como editor de livros na década de 1990.

6 Referência ao autor inglês J R.R. Tolkien, criador da saga The lord of the rings (O Senhor dos anéis), trilogia literária que foi adaptada para o cinema e gerou cifras milionárias.

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As crônicas de gelo e fogo em janeiro de 2007, contratando Daniel Weiss e David Benioff para transformar a história dos livros em uma série de TV. A quarta temporada foi recém-finalizada e os fãs já se mostram na expectativa do inicio da quinta temporada, em 2015. A série não tem seguido totalmente a narrativa apresentada nos livros, mas segue fiel ao enredo de uma forma geral.7

A primeira e a segunda temporada são referentes aos livros um e dois, respectivamente. Já o livro três, o mais longo dos cinco escritos por Martin com mais de 800 páginas, foi, conforme declaração dada pela própria emissora dividido em duas temporadas, a terceira exibida em 2013 e a quarta em 2014. Essas duas temporadas e o livro três constituem o foco de análise desta pesquisa. Cada temporada exibe, no total, 10 episódios que têm uma média de duração em torno de 50 a 60 minutos. A primeira temporada estreou em 17 de abril de 2011, a segunda temporada foi ao ar dia 1º de abril de 2012 e a terceira temporada, teve seu primeiro episódio

exibido em 31 de março de 2013 e a quarta em 06 de abril de 2014.

No Brasil, a série de livros já vendeu mais de um milhão de exemplares. Quanto à série, mesmo sendo exibida em TV de sinal fechado, a emissora tem batido recordes de audiência, tanto nos EUA quanto no Brasil, sobretudo a partir da terceira temporada. De acordo com a emissora norte americana CBS, a estreia da terceira temporada da série “recebeu um total de 6,7 milhões de telespectadores domingo, quebrando número de espectadores recorde do ano passado”.8

Além disso, a cultura do compartilhamento, da prática de assistir série pelo computador fez da terceira temporada de GOT a mais “baixada” da história de todas as séries já produzidas, recorde superado pela própria série em sua quarta temporada. “De acordo com o blog TorrentFreak, o episódio de domingo [31/03/2013] do ‘Game of Thrones’ foi baixado

7 Martin não demonstra nenhum pudor com relação à vida sexual dos seus personagens. Com a ajuda da série de TV, a sensualidade ganhou mais vigor e forma levando inclusive a cenas de nu frontal tanto feminino quanto masculino. Na adaptação para a televisão, que normalmente tende a ser mais conservadora, fez-se justamente o contrário, aumentando ainda mais o teor sexual das cenas.

8 CBS News. Disponível em:

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1 milhão de vezes no BitTorrent9em menos de um dia”10. Ainda reportando os dados do TorrenteFreak, a emissora aponta que “cerca de 163.088 pessoas estavam compartilhando um arquivo do programa na rede peer-to-peer de uma vez. O recordista anterior era a 3 ª Temporada estréia de ‘Heroes’, com 144.663 pares compartilhamento de arquivos”11

. Em 2012, a série já havia sido nomeada a “mais

pirateada” do ano, o que não incomoda seus produtores. O presidente de programação da HBO, Michael Lombardo, em entrevista para a revista EW - Entertainment Weekly ao ser questionado sobre o download “ilegal” afirmou: “Eu provavelmente não deveria estar dizendo isso, mas é uma espécie de elogio. [...] A demanda está lá. E isso certamente não impacta negativamente as vendas de DVD. [A pirataria é] algo que vem junto com ter um show de grande sucesso [...]”12

. Como se vê, este é um novo cenário para o fazer televisivo, para o consumo desses conteúdos e para a pesquisa, para a compreensão dessas novas práticas, novos modos de ver o conteúdo, de faze-lo circular, de apropriar-se dele. A intenção desta pesquisa foi de inserir-se nesse cenário da convergência midiática de modo a buscar compreender melhor a chamada cultura de fã e essas novas práticas midiáticas tendo como recorte empírico um dos conteúdos de maior sucesso nesse âmbito, a série Game of Thrones.

Procedimentos metodológicos

A pesquisa foi realizada em ambiente online, para a qual foram adotadas duas técnicas de pesquisa – a análise de conteúdo, conforme proposto por Bardin (1977), para mapear e categorizar os posts realizados no site e fanpage oficial de GOT no Brasil. Outro procedimento foi o uso da netnografia. Esta tem como objetivo “preservar os detalhes ricos da observação em campo etnográfico usando o meio eletrônico para ‘seguir os atores’.” (BRAGA apud AMARAL; NATAL e VIANA, 2008,

9 “BitTorrent é um protocolo de Internet que permite o compartilhamento de arquivos de arquivos comumente referido como uma rede peer-to-peer "torrent". O programa recolhe fragmentos menores de um arquivo maior que é disponibilizado a partir de múltiplas fontes”. Fonte: CBS, op. citi.

10 Idem. 11 Idem.

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p.34). A etnografia “é um método de investigação oriundo da antropologia que reúne técnicas que munem o pesquisador para o trabalho de observação a partir da inserção em comunidades para pesquisa, onde o pesquisador entra em contato intra-subjetivo com o objeto de estudo.” (AMARAL; NATAL e VIANA, 2008, p.35). Tomando a etnografia como base podemos dizer, então, que a netnografia é o estudo das relações formadas pelos processos sociais dentro do espaço virtual. Desta forma, ela é considerada como metodologia ideal para o estudo dos conteúdos compartilhados em redes sociais, sites, blogs e fóruns que têm como foco as séries americanas com ênfase no objeto aqui escolhido – Game of Thrones.

Como espaço de pesquisa netnográfica, foram analisados a fanpage (www.facebook.com/GameOfThronesBrazil)13e o site oficial de Game of Thrones no Brasil (www.gameofthronesbr.com), bem como foi realizado o mapeamento de outros sites e fanpages que assim se intitulem, como é o caso do site

www.gameofthronesbrasil.com, blogs nomeados a partir da série, como por exemplo

o blog www.gameofthrones-brasil.blogspot.com.br. Tínhamos a intenção inicial de analisar, ainda, blogs e suas respectivas fanpages no facebook dedicados às séries americanas de um modo geral, com ênfase no conteúdo sobre GOT. Esses foram mapeados conforme seu sucesso de acessos e por serem espaços de produção de conteúdo por parte dos fãs. Foram os seguintes: SérieMSérie 14 ; Seriadores Anônimos15; Box de Séries16e Ligados Em Série17. A opção por blogs e sites criados

por fãs, além de suas fanpages no facebook vai ao encontro da proposição de Recuero quando afirma que “[...] perfis do Orkut [facebook], weblogs, fotologs, etc. são pistas de um ‘eu que poderá ser percebido pelos demais’. São construções plurais de um sujeito, representando múltiplas facetas de sua identidade” (RECUERO, 2009, p.29). Entretanto, devido ao enorme volume de material coletado, não foi possível estabelecer a análise, neste artigo, desses outros materiais. Focamos na fanpage oficial

13 Considerada “oficial” por ter o apoio da editor Leya, que publica os livros de Martin no Brasil. 14http://seriemserie.blogspot.com.br/search/label/Game%20Of%20Thrones;

15

http://www.seriadores.com.br/search/label/Game%20of%20Thrones; 16http://www.boxdeseries.com.br/site/tag/game-of-thrones/

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da HBO Brasil e na fanpage e blog com o nome da série com o maior número de seguidores, a primeira indicada neste tópico.

Os espaços foram monitorados/acompanhados durante a exibição da terceira e quarta temporada. No caso da terceira, o conteúdo foi coletado de forma retroativa aos meses de abril, maio e junho (período de exibição). Já durante a quarta temporada operacionalizou-se mais a proposta da netnografia com acompanhamento online durante o processo de produção do conteúdo durante a exibição do episódio e nos dois dias seguintes (levando-se em conta que muitos fãs não têm acesso à HBO e só assistem ao episódio no dia seguinte a partir do compartilhamento de downloads).

Circulação e consumo de Game of Thrones no Brasil

Apresentamos a seguir a discussão dos resultados separados por temporada. Consideramos mais adequado fazer esta separação devido ao volume quantitativo de postagens analisadas.

Tabela 1 –Postagens e comentários no blog Game of Thrones Brasil

Mês Toral de Postagens Total de comentários

Março 2 4

Abril 34 640

Maio 21 666

Junho 11 299

O volume de postagens e comentários no blog pode ser considerado baixo no período de análise da terceira temporada, possivelmente porque seja um blog “micromídia digital” (Primo, 2008)18

, ou seja, destinado a um público bastante específico uma vez que fala exclusivamente da série GOT. Acredita-se também que a maioria dos leitores interage com a fanpage do blog, embora seja redirecionada para o conteúdo deste, acredita-se que os comentários centralizem-se mais no espaço do

18 Segundo Primo (2008, p. 3), entre outras características, os blogs micromídia caracterizam-se por tratarem “[…] de assuntos que são relevantes para os blogueiros. A escrita e opinião do blogueiro não fica condicionada à demanda ou aprovação de terceiros, nem precisa se ajustar às políticas de uma dada empresa.

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Facebook. Neste sentido, o volume de 1.609 comentários relacionados às 68 postagens sobre a série neste primeiro intervalo de análise pode ser considerado significativo.

A fanpage oficial da HBO Brasil sobre a série tem quase um milhão de seguidores, ao contrário da fanpage produzido pelos fãs, com um número bem menor, cerca de 200 mil seguidores19.

Nas tabelas a seguir evidencia-se a maior interação a partir das fanpages analisadas.

Tabela 2 –Postagens e interações na fanpage Game of Thrones Brasil

Mês Total de postagens Total de curtidas Total de comentários Total de compartilhamentos

Março 1 2962 109 2426

Abril 15 17959 1221 2229

Maio 13 15531 904 1621

Junho 13 37128 2372 5504

Tabela 3 – Postagens e interações na fanpage oficial da HBO Brasil

Mês Total de postagens Total de curtidas Total de comentários Total de compartilhamentos

Março 7 11108 659 1545

Abril 58 41865 4831 10362

Maio 69 29526 4523 4282

Junho 41 30606 2390 2633

Na soma das duas fanpages, a interação dos fãs com a série a partir da internet traz o seguinte volume na terceira temporada: 186.684 curtidas aos 217 posts. Pode-se perceber que houve bem mais postagens na postagem oficial da emissora, entretanto, o número de curtidas não é significativamente maior, em geral apenas o dobro, o que evidencia uma maior interação entre os fãs no espaço “não oficial”. O mesmo aspecto se observa na questão dos comentários. Foram 4.606 aos 42 posts na fanpage “não oficial” contra 12.403 aos 175 posts na fanpage oficial. Portanto, apesar do volume quatro vezes maior de postagens, o número de comentários é pouco maior que o dobro na fanpage oficial. Até no que se refere ao compartilhamento de posts não houve diferença significativa. Foram 11.781 compartilhamentos na fanpage não

19 Esses números podem mudar diariamente. Tomamos como base o número disponível no dia 28/06/2014.

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oficial contra 18.822, ou seja, nem chega a ser o dobro. É interessante observar que, em ambos os casos, houve mais compartilhamentos do que comentários.

De um modo geral, os comentários podem ser abarcados nas seguintes categorias:

Quadro 1 - Categorias de comentários realizados pelos fãs Adaptação dos

livros para a serie

Os positivos destacam as cenas principais dos livros que se tornam fieis na serie, como guerras ou determinada morte de algum personagem, a proximidade de semelhança física, vestimenta e até psicológica do ator com o personagem. Já os negativos evidenciam como grande reclamação que são deixados detalhes de lado (claro que a serie não pode abranger tudo); que a serie não dá tanto foco e força para os personagens femininos como no livro. Personagens Evidencia qual é o mais adorado e odiado pelos fãs, lamentação ou felicidade

pela morte de alguém, discussões sobre as ações de determinado personagem. Gerais Os comentários gerais foram separados como banais, aqueles que falam sobre

o episodio de uma forma simples. Por exemplo “esse episodio foi foda”. Também foram separados os comentários com elogio ao personagem ou ator pela sua beleza e pequenas discussões entre fãs sobre os personagens sem usar como fundamentação os livros (os fãs que apenas assistem a serie). Compartilhamento

com amigos

A separação mais simples onde amigos marcam amigos por motivos de: ele ser parecido com o personagem/ator, por ele ser fã do ator/personagem, para apresentar a serie para o amigo.

Divulgação de outras páginas

Aqui os fãs compartilham postagem de blogs, postagem de outras paginas de facebook, produtos da serie, desde os livros, bonecos, pôster, dvds, camisetas e etc.

Tabela 4 – Distribuição dos comentários 3a. temporada

Março Abril Maio Junho

Adaptação do livro para a série (positivo) 12 486 165 165

Adaptação do livro para a série (negativo) 15 354 30 152

Personagem 32 696 969 767

Gerais 300 2359 1089 568

Compartilhamento com amigo 130 309 1672 123

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Entre os acontecimentos que arrecadaram mais comentários estão a conquista dos imaculados – a ascensão de um personagem feminino ganhando forças. O casamentos vermelho – a traição que leva a morte de dois personagens importantes. Outros aspectos que considera-se importante destacar na análise da terceira temporada são os seguintes:

Blog X Facebook

Existe uma diferença entre o blog e a página do facebook. Nesta última, os textos são curtos e sempre que possível acompanhados de uma imagem. Os comentários também são curtos e não tem muita discussão, as poucas que tem não apresentam um argumento muito forte, apenas cada um protege o seu personagem favorito, discute qual sua casa preferida ou a mais forte. No blog, os textos são mais extensos e com mais detalhes, apesar de ser escrito por fãs, seguem uma linha de noticia. A interação no blog é mais contundente, as discussões são feitas com argumentos, grande parte dos comentários são feitos por pessoas que leram todos os livros ou grande parte não discute apenas sobre o personagem. Comenta-se questões de ética, de qual lado ele está, quais são seus pontos fortes e fracos, planejamento de guerras e até a o lado místico do mundo como dragões, lobos, gigantes, feiticeiros e os outros (os white walkers). No facebook, apesar de serem mais curtas que no blog são, têm uma grande importância, uma finalidade para os fãs, a interação com o canal HBO.

 HBO e os fãs

Com as ferramentas da internet a interação é maior e mais rápida, devido a grande reclamação dos fãs, a HBO fez mudanças em personagens não só para satisfazer o público mas para manter um ótimo trabalho e a proximidade com a narrativa do livros.

Montanha foi o personagem que já passou por três atores, na primeira temporada ele foi aceito mas não ganhou muito foco por que era apenas um

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personagem secundário; na segunda temporada foi trocado por um homem mais magro e pequeno (totalmente o contrario do que é descrito no livro, Montanha já pelo seu nome é devido a sua enorme altura, gordo e forte, um homem indestrutível); como na terceira temporada ele ganharia um foco maior porque tem um fator importante com ele na historia, os fãs logo reclamaram já na segunda temporada que aquele ator não era bom para o papel, após muita barulheira no facebook, blogs e afins, a HBO trocou pela segunda vez o ator contratando um homem mais forte, alto e gordo, este aparentemente aceito pelos fãs e que permanece na quarta temporada.

Da terceira temporada para a quarta, foi trocado o ator que vive o personagem Daario Naharis. No livro ele é descrito como um sedutor, galante com uma boa lábia, um tipo de amante. O primeiro ator foi julgado pelos fãs como um cara muito novo e sem ”sal”. Outras reclamações aconteceram e foi trocado por outro ator que se encaixou perfeitamente para o papel e foi aceito pelos fãs ao longo da quarta temporada.

Tabela 5 –Postagens e comentários no blog Game of Thrones Brasil 4a. Temporada

Total de postagens Total de comentários

Abril 12 9

Maio 7 3

Junho 10 18

Tabela 6 –Postagens e interações na fanpage Game of Thrones Brasil 4a. Temporada

Total de postagens Total de curtidas Total de comentários Total de compartilhamentos

Abril 10 452 398 6

Maio 17 179 242 3

Junho 13 386 274 9

Tabela 7 – Postagens e interações na fanpage oficial da HBO Brasil 4a. Temporada

Total de postagens Total de curtidas Total de comentários Total de compartilhamentos

Abril 13 384 563 15

Maio 24 357 423 9

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Tabela 8 – Distribuição dos comentários 4a. temporada

Abril Maio Junho

Adaptação do livro para a série (positivo) 135 79 186

Adaptação do livro para a série (negativo) 129 67 136

Personagem 67 172 121

Gerais 96 30 85

Compartilhamento com amigo 78 39 28

Divulgação de outras páginas 58 36 24

A Quarta temporada, embora tenha menos comentários no total, rendeu discussões mais calorosas e aprofundadas entre fãs graças ao casamento roxo, a morte do Cão de Caça, a morte de Oberyn Martel e o aprisionamento dos dragões, gerando inclusive outros conteúdos no Facebook como, por exemplo, um evento falso do velório do personagem.

No último capítulo da quarta temporada, seguindo a base do livro, iria aparecer uma personagem que foi morta na terceira temporada (ponto alto do terceiro livro). Porém, os produtores não acharam viável trazer a personagem de volta, segundo eles na serie seria algo muito fraco trazer a atriz e deixar ela ali no “limbo”. Os fãs não gostaram muito dessa rota que a historia tomou, apesar de ter sido feitas postagens dedicadas a esse problema, as reclamações aumentam mas não se teve um resultado concreto se ela vai aparecer ou não na serie. Não houve pronunciamento da HBO quanto a isso, nem mesmo em resposta aos comentários.

Um aspecto interessante que perpassa as postagens de ambas as fanpages é a questão dos spoilers. Vale lembrar que a partir da terceira temporada, a HBO optou por fazer a transmissão simultânea EUA e Brasil. Com isso, as postagens e comentários, começam imediatamente após a exibição do episódio, inclusive com abertura de fóruns online (remetidos para blogs) para a debate sobre o episodio. Naturalmente, os fãs que não têm acesso à HBO somente poderão assistir ao episódio no dia seguinte, a partir da prática do download. Com isso, o número de postagens com spoilers pode ser considerado emblemático para esse segundo grupo de fãs.

Possivelmente por isso, notou-se que, sobretudo ao longo da quarta temporada, nas páginas analisadas sempre são feitas duas postagens sobre o mesmo

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episodio, um com spoiler e o outro sem spoiler. A relação dos articuladores das paginas com os fãs é de respeito nesse quesito e sempre a postagem vem com um aviso “esse conteúdo contém spoiler”. Nos comentários, tem gente que avisa, o que é a minoria, os demais escrevem um texto gigante contando tudo. Nesses casos, sempre tem comentários arrebatando com outros spoiler ou comentários brigando com o individuo, reclamando que recebeu um spoiler. No blog também há esse mesmo cuidado na postagem de avisar se tem ou não spoiler.

Um ponto que se destaca nas discussões é a questão das personagens femininas. Nos livros, as personagens femininas são fortes e cada uma tem o seu poder, a sua forma de lidar com os problemas, ou seja, elas estão no mesmo patamar que os homens ou até mesmo acima deles, o que não é usual na produção ficcional, sobretudo na narrativa fantástica, gênero dos livros e da série. Na serie, porém, essa construção de personagens é diferente, até se evidencia esse poder feminino, mas não tanto. Porém, na analise de comentários, principalmente os masculinos nesse quesito, é que os comentários tem uma fundamentação, não são comentários enfatizando as belezas das mulheres ou menosprezando elas por serem feias, burras ou velhas. Obvio que ainda tem esses comentários, mas são poucos. Aqui eles não comentam apenas a beleza delas, falam da mulher como pessoa. Entendem a decisão de uma mãe, a vingança de uma filha, a tristeza de uma garota ser refém e se casar por obrigação, por uma mulher querer lutar e não querer ser uma princesa. Nos comentários analisados, os homens conseguem notar a trajetória delas, entender as suas ações, conseguem se por no lugar delas.

Entre os termos que mais aparecem nos comentários dos fãs ao longo das duas temporadas, nota-se o uso frequente de expressões da própria série. Na terceira temporada, os mais recorrentes são Dracarys (7.815 aparições), Valar morghulis (5.924 aparições) e Você não sabe nada Jon Snow (1.203 aparições). Na quarta temporada os termos mais usados são Dracarys (3.741 vezes) e Valar Morghulis (4.989 vezes).

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Como se vê nos dados aqui discutidos, inicialmente com teor mais quantitativo devido ao volume coletado, os fãs se relacionam de maneira intensa com a série para um ver que vai muito além da televisão, expandem essa narrativa para além de seu suporte original e a fazem circular conforme suas perspectivas, interesses e afinidades, interferindo inclusive no processo produtivo do conteúdo que leva, por exemplo, a mudança de atores para encenar os personagens.

Em discussão futura, com um mergulho mais qualitativo, pretendemos evidenciar as casas e personagens mais “queridos” pelos fãs e como eles se manifestam em relação a esses aspectos, além de aprofundar os aqui já citados.

Referências

AMARAL, Adriana. NATAL, Geórgia. VIANA, Luciana. Netnografia como aporte

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