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Reflexão em torno do Movimento Hip Hop

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Academic year: 2021

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Reflexão em torno do Movimento Hip Hop

Marco Antônio Oliveira Nunes1; Lúcia Helena Oliveira Silva2

Resumo:

Pretende-se neste Projeto a realização de um trabalho interdisciplinar, no âmbito da História e da Literatura, projetando luzes à Filosofia, explorando questões ligadas à formulação e à análise do conteúdo das canções de rap. Pretende-se atingir como público alvo alunos do ensino médio de escolas públicas da periferia da cidade de Londrina, onde o gênero musical é bastante apreciado com a manifestação de vários grupos ligados ao movimento Hip Hop. objetiva-se gerar uma reflexão intervencionista para uma leitura da cidadania como conquista, possibilitando, também, que o currículo de ensino médio contemple a valorização dos alunos como atores sociais.

Palavras-chave:

Hip Hop, Rap, Discriminação, Elementos Interdisciplinares; Exclusão Social

Abstract:

Key words: Hip Hop, Rap, Discrimination, Interdisciplinares, Social Exclusion

Introdução

Em meados de 1970 surge um fenômeno, no mínimo interessante e representativo, no tocante as manifestações artísticas populares. Inicialmente nos bairros negros dos Estados Unidos, especificamente no Bronx em Nova York, conforme aponta (Guimarães: 1999, p. 39), o fenômeno se constitui como relato da vida de grupos discriminados, tais como jovens negros e de outros grupos também, como os latinos. Trata se aqui do Rap, com seu caráter nada menos que discursivo, em que o cantor de 1Bolsista do Projeto Afro-Atitude da Universidade Estadual de Londrina. Email: markinblues@hotmail.com

2Orientadora Professora Doutora do departamento de História da Universidade Estadual de Londrina. Email:

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forma aparentemente não sofisticada, parece estar falando. Tal característica nos remete associar a tradição africana em que os relatos são emitidos por vias orais, e, podemos encontrar vários estudiosos que localizaram genealogicamente na África bases desse estilo (Guimarães: 1999, p.39).

Para que se tenha compreensão, ao falar de Rap se faz necessário falar do Hip Hop. O Rap é um dos elementos dos quais é composto o movimento Hip Hop, sendo eles o Rap (a música), o Breack (a dança), e o Grafite (expressão através de desenhos). Entretanto, a concepção dos elementos que compõe o movimento Hip Hop varia de autor

para autor3. No Brasil, após o surgimento do Rap, não demorou

muito tempo para o estilo musical chegar as periferias, destacando-se em especial São Paulo. Trazido por alguns personagens, entre eles Nelsão (Nelson Triunfo), trata-se de um pernambucano radicado em São Paulo desde 1976, que veio a formar um grupo de dançarinos denominado Funk e Cia, pois tinha contato com o soul e o funk, do soul passou para o break levando o Hip Hop a alguns pontos como Praça da Sé e Estação São Bento do Metrô. Ainda no início dos anos 80, apresentado pelo Dr. Rap na rádio FM, o programa Rap Brasil teve imensa dimensão contextual no qual destaco a popularização do gênero entre os jovens socialmente excluídos e que faziam parte desse contexto.

Em Londrina, o movimento Hip Hop advém da organização de grupos de dança de rua, que desde a década de 80 promovem, em conjunto com as associações de bairro, concursos e festas. Essa perspectiva vai ao encontro da vivência do rapper Costela4que em entrevista5 reafirma:

“Bom o movimento Hip Hop aqui em Londrina, na nossa área Zona Norte é o seguinte, tem as oficinas que a rede Secretaria da Cultura passa para nós, que precisa de ajuda psicológica, quanto educacional e de tudo e financeira, essa pessoa tem acesso as escolas, centros comunitários, onde tem os MC’s, Dj’s, tem os B.BOYS e também tem ás vezes o quinto elemento, que é ensinar para eles o que é a cultura Hip Hop.Ele tem aula de segunda a quarta, o movimento sempre esta fazendo evento, na Zona Norte, na Sul, na Leste, ás vezes ocorre também o expressão. Expressão é o projeto aqui da Secretaria da Cultura que vai da Leste, Oeste, Norte, Sul e termina no Anfiteatro de Zerão6”.

3 Em Londrina, estudiosos da questão ( Projeto Leitura, Ritmo e Poesia – UEL ) falam não em três elementos

mas sim em cinco elementos, porém não pretendo ater a questão elementista que compõe o movimento Hip Hop.

4 Costela é rapper de londrina, integrante do grupo Estilo de Rua.

5 Entrevista realizada em março de 2005, pelo Projeto Leitura, Ritmo e Poesia - UEL.

6 Local muito conhecido em Londrina que se configura como um espaço para lazer e também para atividades

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No entanto, o rap (música essencialmente popular nas periferias) contrariamente da música erudita7, enfrenta uma grande falta de reconhecimento por parte da sociedade como ator transformador da realidade periférica, de modo a não atuar ao lado de nomes consagrados da MPB, como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil entre outros.

Assim como as canções dos nomes consagrados da MPB, pode se encontrar no Rap uma prática que envolve linguagem articulada com a oral e a escrita, encontrando assim a fala que é rimada e ritmada. Além da fala (rimada e ritmada) há uma performance que dá outra dimensão ainda mais ampla, que ajuda a compreender a realidade expressada através das canções.

No tocante a oralidade, narrativas, característica essencial dos rappers, vale aludir que, tal como os lugares da memória, caracteriza-se como instrumentos importantes de preservação e também de transmissão das heranças identitárias e tradicionais. Narrativas que sob a forma de registros orais ou escritos são, todavia, caracterizados pelo movimento peculiar a arte de contar e de traduzir em palavra reminiscências da memória e a consciência da memória no tempo. Todavia, são importantíssimos como estilo de transmissão, de geração para geração, desde as experiências mais simples da vida cotidiana a grandes eventos que possam marcar ou que marcaram a Historia da humanidade (Delgado: 2003, p.21,22,)

Nas vivências de rappers londrinenses, como implícita Costela, o Hip Hop tem caráter de auto-identificação dos jovens que na grande maioria dos casos são negros, pobres e residentes nas periferias. Esse caráter de auto-afirmação vem por meio dos elementos compostos no Hip Hop, cujos elementos são timidamente, ou não, reconhecidos como expressões artísticas, diferentemente das canções dos nomes consagrados da MPB, que são veneradas e consumidas em grande escala.

“(...) E são muitas as mensagens de alerta, de despertar de consciência, de recusa as drogas e opção pela paz”, assim define Roberto Giansanti. Tal definição nos ajuda a compreender mais uma das diversas faces que podemos encontrar ao analisar uma letra de Rap. No tocante a facetas, será possível analisar uma letra de Rap de um viés interfacial projetando luzes a Filosofia? Em entrevista publicada8, Mano Brown, um rapper consagrado, definiu o rap do seguinte modo: “Eu não faço música pra encher disco nem pra fazer ibope. Faço musica. Cada letra tem uma cara, tem uma cor, 7 Música intelectualmente elitzada, esta por sua vez, inferioriza as demais, que, em alguns casos até

marginaliza.

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tem um estilo. Cada musica é uma pessoa. O corpo humano tem cabelo, olho... A música é a mesma coisa: tem batida, tem rima, tem idéia, tem a mensagem que esta contida mas

tem que ter a mensagem explicita...”(Teoria & Debate: 1997). A

expressão “tem idéia”, de uma perspectiva reflexiva nos remete a interpretá-la da seguinte forma: coerência no raciocínio com necessidade lógica.

A lógica aristotélica (refiro-me ao silogismo perfeito) traz em si coerência no raciocínio, e, cujo raciocínio traz em si leis universais, por exemplo: Todo Homem é Mortal, Sócrates é um Homem, logo, Sócrates é Mortal.

Percebemos que a conclusão (Sócrates é Mortal) tem conseqüência lógica de suas premissas (Todo Homem é Mortal e Sócrates é um Homem). A relação esta no significado da expressão “tem idéia”. Pois “ter idéia” na linguagem rapper significa coerência no raciocínio, isto é, conclusões com conseqüência lógica de suas premissas. Isto implica que as premissas, tal como a conclusão, tem relações lógicas, de modo a não ser idéias dispersas ao “léu”.

“Sobrevivendo no inferno” (1997), cd dos Racionais Mcs, retrata a importância desse gênero musical que produz crítica social, em forma de Rap, provido de caráter artístico. Com seu lançamento em dez. de 1997, o disco traz em si o retrato do Brasil contemporâneo, por não falar das tão famosas ilhas paradisíacas onde brotam propriedades ilusórias, nem incentivam sonhos impossíveis, mas trata sobre tudo da difícil vida dos moradores das enormes regiões periféricas, referenciando principalmente São

Paulo. Essas características, dos

rappers, oferecem um perfil psicológico e comportamental de parte da população, de modo, a tirá-los do restrito cenário musical para colocá-los num campo mais amplo: o do sistemático e interdisciplinar fenômeno da violência urbana.

Em Londrina, assim como em São Paulo, segue-se a mesma linha de raciocínio, pois “periferia é periferia em qualquer lugar”. Coerência acompanhada de crítica social, de modo a refletir questões de diversos cunhos, expressando dificuldades e injustiças do sistema que os oprime.

Pode-se encontrar facilmente nas canções de Rap, elementos religiosos, técnicas orais que são peculiares, alerta e recusa às drogas, visando a opção pela paz, entre outros elementos, nos quais podemos constatar tais características ao analisar trecho da canção “Deus me dê força9” do grupo de rap Relato Cruel10:

9 Música ao vivo em entrevista realizada no dia 23 de abril de 2005, pelo Projeto Leitura, Ritmo e Poesia –

UEL.

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Quanto mais usa droga, mais se afunda./ Tô falando agora aqui desta vida maldita./ Quem leva é nóis, é o povo da periferia./ Eu tô de boa na quebrada, na minhas correria/ o barato é louco, que a vida é sofrida./ Eu vô seguindo o meu caminho, sem vacilá/ senão já era, pode crê é rá-tá-tá/ é... pode crê é rá-tá-tá/ Levanto de manhã, faço uma oração/ pra que Deus me dê força, força no meu coração/ pra que Ele me guia no louco dia-a-dia/ Deus abençoa quem vive na periferia./ Levanto de manhã, faço uma oração/ pra que Deus me dê força, força no meu coração/ pra que Ele me guia no louco dia-a-dia/ Deus abençoa quem vive na periferia.

Percebe-se, como vimos acima, que a uma conscientização em relação ao uso de drogas e da violência constante que os cerca dia-dia, além do elemento religiosidade que é marcante.

Rap proporciona reflexão da realidade periferia-centro. Na medida em que é exposta a realidade nua e crua, que por sua vez não coincide com a outra realidade maquiada, deturpada e ilusória, contida nas propagandas e argumentos falaciosos. Nesse encontro de realidades (periferia-centro) consistem as contradições, estimulando-os a

reflexão. Esse caráter, reflexivo, vai abrindo outros

espaços, nos quais destaca a interdisciplinaridade, ou seja, História, Sociologia, Literatura... O estilo crítico ao qual aderem e o consumo dos meios de comunicação vão se constituindo como parâmetro de avaliação e organização das relações interativas com a realidade externa. Assim, pode interpretar sua posição social, dar sentido as experiências que vivenciam, fazendo escolhas, agindo em sua realidade de forma consciente. Devido ás ineficiências governamentais estes foram e são meios, mecanismos, que jovens historicamente discriminados encontraram para se auto-afirmar.

Entende-se dessa maneira, e não equivocadamente, a forma que os jovens se representam como sujeito (entende aqui sujeito como ator transformador). E desses múltiplos processos resgatam o ideal de cidadania, respeito, moral, justiça e dignidade.

Referencias:

MOUNIER, E. Le Personalisme. Oeuvres, III. Paris, Seuil, 1962. ( Trad. A. J. Severino). SILVA, G, José Carlos. Rap e Educação, rap é educação. São Paulo, Summus, 1999.

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ZENI, Bruno. O Negro Drama do Rap: entre a lei do cão e a lei da selva. São Paulo, Estudos Avançados, 2004.

SOARES, Luiz Eduardo, ATHAYDE, Celso, MV Bill. “Cabeça de Porco”. Rio de Janeiro. Objetivo Ltda. 2005.

FILHO, João Lindolfo. “Hip Hopper: tribus urbanas, metrópoles e controle social”. In: PAIS, José Machado, BLASS, Leila M. Silva (orgs.).Tribos urbanas: produção artística e

identidades. São Paulo: Annablume, 2004.

ZENI, Bruno. “Negro drama do rap: entre a lei do cão e a lei da selva”. In estudos avançados 18 (50) 2004.

Referências

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