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Kollemata Jurisprudência Registral e Notarial

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Academic year: 2021

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ESCRITURA PÚBLICA DE COMPRA E VENDA. INCRA - AUTORIZAÇÃO. BRASILEIRO - COMUNHÃO UNIVERSAL DE BENS - ESTRANGEIRA.

CGJSP - PROCESSO: 258/92

LOCALIDADE: São Paulo DATA DE JULGAMENTO: 12/11/1992 RELATOR: Francisco Eduardo Loureiro

LEGISLAÇÃO: Lei 5.709/71.

REGISTRO DE IMÓVEIS - Aquisição de imóvel rural de brasileiro naturalizado, casado com estrangeira pelo regime de comunhão de bens, sem prévia autorização do INCRA Inadmissibilidade

-Indispensabilidade de prévia autorização dos órgãos competentes - Hipótese que tal exigência não o proíbe de se tornar proprietário, apenas o sujeita a um procedimento administrativo.

ÍNTEGRA

Exmo. Sr. Corregedor:

Cuida-se de recurso administrativo interposto por Jacques Raimundo Bandahan Benchetrit contra a r. Decisão do MM. Juiz Corregedor Permanente do 13° Cartório de Notas da Capital, que negou

autorização para que escrevente daquela serventia lavrasse escritura pública de venda e compra de imóvel rural sem prévia autorização do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Sustenta o recurso ser o requerente brasileiro naturalizado, apenas casado pelo regime da comunhão universal de bens com estrangeira, de tal modo que não pode ser atingido pelas restrições legais existentes para aquisição de imóvel rural. A restrição implicaria inaceitável limitação ao exercício da cidadania. Alega o recorrente, de resto, não conter a Lei 5.709/71 disposição expressa acerca da situação do brasileiro casado com estrangeira, de modo que a interpretação da norma, de natureza proibitiva, deve ser restritiva.

Contou o recurso com Parecer desfavorável do Dr. Curador de Registros Públicos. É o relatório do necessário.

Passo a opinar.

I - Inicialmente, é bom ressaltar não conter a Lei 5.709 de 7.10.81, que regula a aquisição de imóveis rurais por estrangeiros, qualquer incompatibilidade com o art. 190 da CF de 1988.

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Dispõe o aludido art. 190 da Lei Maior que: "A lei regulará e limitará a aquisição ou o arrendamento de propriedade rural por pessoa física ou jurídica estrangeira e estabelecerá os casos que dependerão de autorização do Congresso Nacional."

Logo, é de se concluir ter a Constituição Federal, por seu art. 190. recepcionado o sistema de limitações à aquisição da propriedade rural por estrangeiros instituído pela Lei 5.709/71. Na lição de José Afonso da Silva: "Essa norma dá fundamento à Lei 5.709/71, elaborada com base na Constituição revogada (art. 153, § 34), regulando a aquisição de imóvel rural por estrangeiros". (Curso de Direito Constitucional Positivo, 6a ed., RT, p. 294, nota 2).

No mais, parece-me absolutamente escorreita a posição extraída do Parecer P-15 da Consultoria Geral da República, referido a fls. 45/46 dos autos. Tal Parecer, publicado in RDA 148/215-225, contém relevantes passagens, das quais destaco:

"Não se argumente que a Lei 5.709, de 1971, se refere apenas a estrangeiros. Não se o faça porque: se o casal escolheu o regime da comunhão universal de bens, pouco importa quem figure no ato translativo da propriedade, porque esta será igualmente de ambos os cônjuges; se a redação do diploma legal não é a melhor, há de obter o intérprete seu verdadeiro campo de incidência, inserindoo no sistema jurídico pátrio".

E arremata o Parecer, da letra do Consultor Geral da República Paulo César Cataldo:

"Também não se alegue que exigir de brasileiro casado com estrangeiro (pelo regime da comunhão universal de bens) solicite autorização do poder público para adquirir propriedade rural significa impedi-lo de exercer seus direitos de cidadão: essa exigência não o proíbe de se tornar proprietário, apenas o sujeita a um procedimento administrativo. Mais: ela decorre da proteção constitucional a aspectos relevantíssimos do interesse público, coletivo, proteção que, afinal, beneficia a todos os brasileiros e se refere a interesses que sobrelevam os dos cidadãos".

Em outras palavras, não vislumbro qualquer inconstitucionalidade no fato de se subordinar a aquisição de imóvel rural por brasileiro casado com estrangeiro a simples autorização administrativa. Tal

restrição, de pequena monta, justifica-se em vista de razões de segurança e unidade nacional, valores também resguardados pela Lei Maior.

II - De outro lado, inexato afirmar que a Lei 5.709/71 é omissa a respeito da situação do brasileiro casado pelo regime da comunhão universal de bens com estrangeiro.

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das áreas rurais pertencentes a estrangeiros em um mesmo Município. O § 2° reza que: "Ficam excluídas das restrições deste artigo: (...), III - quando o adquirente tiver filho brasileiro ou for casado com pessoa brasileira sob o regime de comunhão de bens".

Logo, ante expresso dispositivo legal, não há espaço para falar em interpretação restritiva ou extensiva de norma proibitiva de direitos. O legislador, quando desejou - e apenas na hipótese do art. 12 - criou exceção às restrições instituídas em lei ao brasileiro casado no regime da comunhão universal de bens com estrangeiro (ou vice-versa, porque iguais são os efeitos).

A respeito da exata extensão da regra exceptiva contida no art. 12, § 2° da Lei 5.709/71 já se pronunciou o C. Conselho Superior da Magistratura nos seguintes termos:

"Nem vale argumentar, como fazem os agravantes, com o disposto no art. 5°, § 2°, III do decreto em pauta, e no art. 12, § 2°, III da lei citada, isto é, dispensar daquela autorização por terem filhos

brasileiros e ser um deles casado com brasileira, posto se tratar, à toda evidência, de norma de exceção que diz respeito exclusivamente às hipóteses previstes nesses dispositivos e que não pode ser estendida a outros ("ficam excluídas das restrições deste artigo as aquisições de áreas rurais" - dizem ambos os artigos). Tal regra interpretativa é elementar em hermenêutica" (RT 484/97, Relator Des. Márcio Martins Ferreira, Corregedor Geral da Justiça).

Ainda recentemente voltou o C. Conselho superior da Magistratura a apronunciar-se sobre o tema e assim o fez:

"A sentença, à luz dos fundamentos então postos em controvérsia, decidiu acertadamente pela

indispensabilidade da autorização prévia em ordem à aquisição de que tratam os autos, observando-se que a exceção prevista no art. 12, § 2°, III da Lei 5.709, de 7.10.71 (e reproduzida pelo art. 5°, § 2º, III do Dec. 74.965, de 26.11.74: "quando o adquirente tiver filho brasileiro ou for casado com pessoa

brasileira sob o regime da comunhão de bens") apenas diz respeito à quantidade de áreas rurais que possam pertencer ao estrangeiro em dada município. Essa exceção não se estende, contudo, à exigência de autorização estatal para a aquisição, por estrangeiros, de imóveis rurais com superfície entre três e cinqüenta módulos e exploração indefinida (art. 3°, § 2°, Lei 5.709, cit., e arts. 7° e 2°, Dec. 74.965, cit.)". (Ap. Cível 14.817-0/6 da comarca de Registro, Rel. Des. Dínio de Santis Garcia).

Preleciona, no mesmo sentido, em art. específico versando sobre o tema, Rafael Augusto de Mendonça Lima:

"A aquisição de imóvel rural por estrangeiro que for casado com pessoa brasileira pelo regime da comunhão de bens, ou tiver filho brasileiro, para adquirir imóvel rural dependerá de prévia autorização dos órgãos competentes, mas ficará dispensado das exigências ou condições gerais previstas no art. 12 e

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seu - 1°, conforme o disposto no § 2° do art. 12".

Ainda a nível de interpretação - não extensiva, mas teleológica - da Lei 5.709/71, vale lembrar o teor dos Ofícios Circulares 732/78 e 242/79, ambos do INCRA, publicados por determinação do então Des. Corregedor Geral da Justiça no DOE 132, de 14.7.79, à p. 9. Contêm os referidos ofícios:

"2.14 - A aquisição de imóvel rural por cônjuge brasileiro, casado pelo regime da comunhão de bens com estrangeiros, dependerá de autorização do INCRA (Parecer PJR 18/79)"

No item 2.11 do aludidos ofícios, está a correta interpretação do art. 12 da mencionada lei. A exceção ao estrangeiro casado com brasileiros somente tem aplicação às hipóteses previstas no caput do art. 12, não se estendendo aos demais dispositivos legais.

III - Não aproveita ao requerente o argumento, aliás bem deduzido, de que o casamento de estrangeiro pelo regime da comunhão universal de bens com brasileira proprietária de gleba rural não é vedado. Repito o que já foi decidido em caso idêntico pelo C. Conselho Superior da Magistratura: "O estrangeiro não está adquirindo pelo casamento, mas por contrato de venda e compra, ou, como prefere o apelante, por contrato de permuta" (Ap. Cível 3.801-0 de Orlândia, Rel. Des. Nogueira Garcez).

Intuitivo que a lei criou limites à aquisição da propriedade rural, com pleno respaldo na Lei Maior (art. 190), mas não poderia limitar o casamento de brasileiro já proprietário com estrangeiro, pena de vulneração a direito individual do art. 5° da CF.

IV - Da mesma forma, não vejo maior relevo na alegação de que quem adquire o imóvel rural, no caso em comento, seria o brasileiro, que apenas transmitiria a propriedade em razão do regime de bens do casamento à estrangeira. Como notou com a habitual precisão o Dr. José Roberto Ferreira Gouvêa, Digno Curador de Registros Públicos, "Não se pode, por isso, falar que apenas um seja parte em contrato pelo qual se adquire bem imóvel rural; ambos os cônjuges, ainda que somente um figure no instrumento, participam da relação obrigacional que causará a aquisição" (fls. 44)

Efetivamente, não há falar em bem adquirido por um só cônjuge na constância de casamento pelo regime da comunhão universal de bens. Tanto isso é verdade, os bens adquiridos compenetram-se de tal forma, que mesmo após a dissolução da sociedade conjugal não se reintegram ao patrimônio de quem os adquiriu (Orlando Gomes, Direito de Família, Forense, 6ª ed., p. 186).

No dizer de Pontes de Miranda, "tudo que cada cônjuge adquire se torna comum no mesmo momento em que se operou a aquisição: é o casal, e não ele, que adquire" (Tratado de Direito Privado, 4ª ed., Ed. RT, t. VIII, p. 288).

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Em outras palavras, tudo o que cada cônjuge adquire, no mesmo momento em que se opera a aquisição, torna-se comum (Orlando Gomes, op. e loc. cits.; Lafayette Pereira, Direitos de Família). Não se pode aceitar, por isso, o argumento de que quem adquire o bem é o cônjuge brasileiro, que apenas o transmite ao cônjuge estrangeiro.

Em suma, correta a sentença atacada, que prestigiou a recusa do escrevente do 13° Cartório de Notas da Capital em lavrar a escritura de aquisição de imóvel rural de brasileiro naturalizado, casado cm estrangeira pelo regime da comunhão de bens, sem prévia autorização do INCRA.

Isto posto, o Parecer que me permito submeter ao elevado critério de V. Exa. é no sentido do improvimento do recurso, mantendo-se a r. decisão atacada.

Sub censura.

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