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CONCEPÇÃO DA INTEGRALIDADE DO SER NA EDUCAÇÃO FRANCISCANA

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Rev. Franc. Edu. Santa Maria v.4 ISSN: 2675-7206

CONCEPÇÃO DA INTEGRALIDADE DO SER NA EDUCAÇÃO

FRANCISCANA

CONCEPTION OF THE INTEGRALITY OF BEING IN FRANCISCAN EDUCATION Iglê Moura Paz Ribeiro1

Resumo: O objetivo desse artigo é analisar como a filosofia franciscana pode contribuir para uma

educação que vise o desenvolvimento da integralidade do ser humano. Na introdução é apresentado uma breve reflexão sobre a presença dos Franciscanos no Brasil e sua contribuição para a educação. Na sequência é ressaltada a existência da SCALIFRA como propagadora da filosofia franciscana, como mantenedora e na linha de frente do processo educativo objetiva a formação da pessoa na sua singularidade e integralidade contribuindo para a evolução da educação e do processo civilizatório. E por fim, o texto aborda a integralidade do ser humano na concepção educacional. Apresenta o aprender como um compartilhar de conhecimentos e inter-relações, construção de teias de saberes em suas diversas formas, épocas e tempos, como os apreendidos na infância.

Palavras-chave: Educação. Filosofia Franciscana. Integralidade do Ser.

Abstract: The purpose of this article is to analyze how franciscan philosophy can contribute to an

education that aims to develop the integrality of the human being. In die inleiding presents a brief reflection on the presence of franciscans in Brazil and their contribution to education. Na aanleiding van die highlights the existence of SCALIFRA as a propagator of franciscan philosophy, as a maintainer and in the front line of the educational process, it aims at the formation of the person in singularity and integrality, contributing to the evolution of education and the civilizing process. En uiteindelik, die teks deals with the integrality of the human being in the educational concept. It presents learning as a sharing of knowledge and interrelationships construction of webs of knowledge in its various forms, times, such as those learned in childhood.

Keywords: Education. Franciscan Philosophy. Integrality of Being.

Introdução

Pensar a educação no mundo atual traz a reflexão às mudanças rápidas, que estão sendo exigidas no contexto de educar para a vida, sendo assim, imprescindível às escolas promover um ensino que resgate a formação humana integral como um encontro de vida e dignidade.   Nesse sentido, a educação humanizada aborda o ensino, a forma de ensinar e os valores que a escola, professores, alunos e a sociedade irão levar em consideração. A formação humana aqui entendida como desenvolvimento da subjetividade está em reconhecer no humano a sua completude, seus sonhos, frustrações, medos e possibilidades, por isso, deve ser compreendido em sua totalidade, ou seja, em sua integralidade e plenitude.

A escola é uma auxiliar na construção intelectual, psicológica e física do educando, que junto aos familiares é base sobre as quais o cidadão se constrói, no presente e no futuro. Dessa forma o sentido de integralidade vem para nos provocar a estar todo, inteiro, completo no campo da educação com atitudes de compreensão do sujeito, sua individualidade e sua presença social. E, em particular

1 Doutora em Ciências da Saúde -UNB. Mestre em Ciências da Educação e Coordenadora na Escola Franciscana Nossa Senhora de Fátima- Brasília, DF.

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permitir que ele cresça e potencialize suas características pessoais e únicas, garantindo, uma educação humanizada, que o torne forte e corajoso para enfrentar a vida.

Portanto, a educação não pode perder de vista o sujeito que aprende. O aprendizado permite que o mesmo anteveja as transformações sociais exigidas que se apresentam como via e caminho a ser percorrido. No mesmo sentido Morin (2001) defende que o propósito da educação deve ser o de ensinar a assumir a condição humana e a viver; e não o mero transmitir conhecimentos ao sujeito da aprendizagem.

A educação é a base para formar a cidadania, autonomia, criticidade e consciência da realidade circundante, para que o sujeito possa compreender o seu papel na sociedade e da sua participação na construção dessa. Assim, o objetivo desse artigo é analisar como a filosofia franciscana pode contribuir para uma educação que vise o desenvolvimento da integralidade do ser humano.

A Presença Franciscana na Educação no Brasil: breve reflexão

A presença franciscana no Brasil se dá a partir da própria chegada dos portugueses, em 1500. A presença religiosa da conquista portuguesa nas novas terras é franciscana. São eles que acompanham as empreitadas conquistadoras e legitimam o poder religioso da Coroa Portuguesa. Esse comportamento, presente em toda igreja no período, demonstrava o anseio de catequisar e levar à conversão cristã aos povos considerados pagãos. Assim, a presença franciscana traz marcas indeléveis na formação cultural do povo brasileiro, desde a chegada dos europeus por essas terras.

Reconhecer a tradição franciscana na vida brasileira, que permanece secundarizada na historiografia educacional brasileira, mesmo em textos fundamentais para a decifração do Brasil é necessária para entender mais profundamente o caminho cultural construído ao longo da história. Este caminhar histórico, com a presença efetiva de outras ordens religiosas, além dos jesuítas, está incluído na construção cultural/educacional do povo brasileiro.

A presença franciscana contribuiu inequivocamente para a educação do Brasil atual, assim como, essa realidade fez parte de experiências históricas sociais vividas na tradição cultural do Ocidente, nascidas na Europa e expandidas aos quatro cantos do mundo, em particular sua presença na América e no Brasil, concebidos ao modo de ideais dialogantes, que compuseram criativa influência no âmbito da nossa história educacional. Esta experiência educativa dos franciscanos, que se faz presente desde o início da experiência colonial em nossas terras, aprofunda-se a partir da segunda metade do século XIV, quando a “Ordem Franciscana” estabelecida ao longo do território se responsabiliza pela educação promovendo com atividades de ensino primário, secundário e superior, como bem exemplifica Röwer, no texto abaixo:

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Rev. Franc. Edu. Santa Maria v.4 ISSN: 2675-7206 [...] o fim principal, por certo, é a educação moral e religiosa, mas com suas escolas realizaram e realizam uma obra eminentemente cívica e social. Apenas ocuparam o primeiro Convento em Olinda, fundaram um educandário para os filhos dos índios. Ensinaram-nos a ler, escrever, e instruíram-nos no canto e na música. Arrebanharam os índios em muitas aldeias, nas capitanias de Pernambuco, Paraíba e no Para-Maranhão, e via de regra levantavam também uma escola junto a capela e residência dos missionários. (RÖWER, 1942 p. 99-100).

Röwer (1942) vem acrescentar a contribuição da ação educação franciscana que não se limitou à dilatação da fé, mas contribui largamente com a formação na nossa sociedade brasileira. Sendo o educador franciscano um norteador para a alfabetização dos indígenas e um autor clássico da historiografia franciscana e da Ordem Franciscana, Gilberto Freyre publica em Salvador “A propósito dos Frades”, onde afirma que:

[...] inspiradoras de indagações e de experimentos científicos e desenvolvidos, desde anos remotos, em Oxford e em Paris, por frades de São Francisco que foram também, além de homens bons, grandes mestres ou doutores: tão grandes que a influência das suas ideias transbordou da época em que atuaram em universidades e em claustros para se prolongar por outras épocas e noutros centros de estudo e de ação, numa verdadeira sucessão de ondas renovadoras do pensamento e da cultura dos europeus e de cristãos. (FREYRE, 1959, p. 9)

Desta forma, os grandes pensadores franciscanos procuraram trazer à luz os valores afetivos em geral: o valor do amor, do sentimento, do desejo, da diversidade, da instituição, da arte e finalmente, da poesia. O franciscano traz para a educação a inspiração de caminhos alternativos para a civilização por causa dessa plasticidade e a sua permeabilidade, amalgamou-se a uma série de outras formas de pensar.

O universalismo franciscano por sua própria essência tende a realizar-se aberto à pluralidade e acolhedor das diferenças. Exercendo na sociedade brasileira uma ação educativa especialmente o interior do Brasil uma atuação empática e coerente com a vida do povo. Desde os indígenas, os pobres, as diversidades, as emoções inseridas e presente na educação não formal foram construídas pelo pensamento franciscano.

SCALIFRA-ZN: Uma Presença da Mulher na Educação Franciscana

A presença da mulher se apresenta no caminho da educação como resultado de uma concessão masculina, no entanto, significou na verdade, a oportunidade para as jovens da época conseguir maior liberdade e autonomia, num mundo que se transformava, o qual queriam ocupar um espaço, que não fosse apenas aquele que lhes era reservado pela sociedade masculina, representado pela vida no lar e na dedicação familiar.

Durante muito tempo a profissão de professora foi praticamente a única na qual as mulheres puderam ter o direito de exercer um trabalho digno para conseguir uma inserção no espaço público.

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E as religiosas se fazem presença como universo feminino, acompanhando a educação e desbravando a sociedade, a missão de atuar neste universo como profissionais, atores de cada ação, se tornando sujeitos de suas histórias (ÁVILA, 2014). 

A presença da educação franciscana e a formação de educadoras para atuarem nas escolas paroquiais precisa ser compreendida dentro de um contexto de instalação e consolidação de obras missionárias, num momento em que a igreja começa a caminhar marcada por redefinições de atuar e intervir na sociedade brasileira a partir da catequese e da educação formal.

É neste sentido que as Irmãs Franciscanas da Penitência e Caridade Cristã, vindas da Alemanha, após serem impedidas de exercerem a atividade educacional em seu país e, atendendo ao pedido do Padre Guilherme Feldhaus, superior dos padres Jesuítas no sul do Brasil, chegam para construírem sua missão no Rio Grande do Sul, no ano de 1872 (Plano de Médio Prazo, 2017-2020). Uma entidade de âmbito internacional fundada na Holanda, em 1835, por Madre Madalena Damen, que se expandiu para a Alemanha, onde se tornou imediatamente conhecida na área educacional. E chega ao Brasil atendendo o contexto educativo do Estado do Rio Grande do Sul com a educação franciscana, desempenha assim, sua atividade educativa baseada em princípios e valores que referenciam a proposta de educação da rede. Educando pela conduta da paz e do bem., constituindo-se, mais tarde, em:

Mantenedora de instituições de ensino, organizou-se em sociedade civil em 1903, com denominação da Sociedade Caritativa e Literária São Francisco de Assis, na cidade de São Leopoldo. Com expansão para outras regiões do estado do Rio Grande do Sul e o aumento de instituições de ensino, houve a necessidade de desmembramento da entidade mantenedora. A mantenedora de origem, fundada em 1903, passou a denominar-se Sociedade Caritativa e Literária São Francisco de Assis-Zona Central, sediada em S. Leopoldo. A nova entidade jurídica, de fins não lucrativos, passou a se se chamar-se Sociedade Caritativa e Literária São Francisco de Assis-Zona Norte-SCALIFRA-ZN, constituída em 31 de julho de 1951, com sede na cidade de Santa Maria- RS. (SCALIFRA-ZN, 2017).

A SCALIFRA-ZN como mantenedora e na linha de frente do processo educativo na sociedade contemporânea está regida pela filosofia franciscana. Realiza sua proposta educacional com vista no desenvolvimento científico, cultural e social, e objetiva a formação da pessoa na sua singularidade e integralidade, contribuindo para a evolução da educação e do processo civilizatório. O ser humano passa a ser o enfoque principal do processo educativo, protagonista de suas organizações, desenhando novas configurações com mudanças sociais na busca de educar com valores humanos para que a preservação da vida no planeta aconteça, e tenha lugar na educação na sociedade atual. Assim, o diálogo, a ética, as atitudes e os valores complementam o processo educativo das Escolas Franciscanas da Rede SCALIFRA-ZN.

O progresso humano autêntico possui um caráter moral e pressupõe o pleno respeito pela pessoa humana, mas deve prestar a atenção também ao mundo

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Rev. Franc. Edu. Santa Maria v.4 ISSN: 2675-7206 natural e ter em conta a natureza de cada ser e as ligações mútuas entre todos, num sistema ordenado. (JOÃO PAULO II, 1987).

Neste sentido, o Papa João Paulo II indica que o progresso humano em sua autenticidade deve estar comprometido com outras formas de vida fluindo o coração universal do humano com o mundo natural. São Boaventura acrescenta outros elementos para o ato de educar, que contribuem para a construção de uma educação que se quer franciscana:

Que não venha a crer que baste a leitura sem unção, a meditação sem devoção, e indagação sem admiração, a atenção profunda sem alegria do coração, a atividade sem piedade, a ciência sem caridade, a inteligência sem humildade, o estudo sem a graça divina, o espelho sem a luz sobrenatural da divina sabedoria. (SÃO BOAVENTURA, 1983 p.166).

São Boaventura (1983), teólogo e filósofo franciscano, nos revela que ensinar requer profunda alegria, piedade, ciência e inteligência revelado pela divina sabedoria, no sentido cristão de ideal para a formação humana de procurar o conhecimento como paz final, ou seja, o conhecimento com afeição não havendo limite para a sua intensidade. Aprofunda o que sente em seu interior que lhe é próprio.

Pensar a educação no jeito de “ser franciscano” deve ser a base para a formação do educador a dinâmica metodológica do ensino/aprendizado que passa pela vivência da realidade, que abarca a complexidade do ser humano, a sua integralidade, a diversidade cultural no mundo, assim como, no respeito às diferenças, necessárias para a atualidade. Refletir as relações nos aspectos das diferenças de religiosidade afirmadas pelas culturas possibilitam ao ser humano a sensibilidade e curiosidade para conhecer e se relacionar com a diversidade humana.

Educar, portanto, é regrar, iluminar o caminho para a consolidação dos valores e potencialidade em toda a humana criatura. É apostar na aparente fragilidade da criança, e no desvairado sonho do jovem. Educar é projetar o amanhã. (SCALIFRA, 2006 p.09).

A educação franciscana procura promover o respeito, a paz e o bem e perpassa essa compreensão. Um dos maiores desafios da educação na atualidade é promover com o ato de educar, o franciscanismo acontecendo no fazer pedagógico e que este, se aproxime da visão de Francisco de Assis de na reciprocidade de gostos e afinidades com o humano em suas individualidades e promovam conhecimentos em suas diversas áreas, para que o sujeito que aprende goste do ambiente e se integre com a aprendizagem e os saberes, ao mesmo tempo que possam ser promotores de uma educação capaz de repensar as estruturas da sociedade em suas necessidades sociais. A SCALIFRA- ZN (2006), como rede, acentua em sua missão, o que mais prima na educação franciscana: os valores humanos e cristãos são parte dos conhecimentos, e confirmam o esforço, o empenho e o empreendimento como valor inestimável presente na ação das religiosas que integram a educação brasileira.

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Rev. Franc. Edu. Santa Maria v.4 ISSN: 2675-7206 A Concepção Franciscana na Integralidade do Ser       

A educação precisa afirmar como principal objetivo o processo de humanização e de expansão do indivíduo, quanto ao conhecimento do mundo, de si e do outro, ou seja, desenvolver uma consciência que se abre para a realidade e que luta para a superação da coisificação humana, através de uma expansão de si mesmo: autônoma, solidária, criativa, lúdica e amorosa. Dessa forma desabrocha para se integrar às relações e as interações resgatando em si sua integralidade (GOMES DA SILVA, 2016). 

Educação humanizada, aqui entendida, não é só uma relação com o conhecimento técnico, cognitivo, intelectual, mas também o sentido de analisar, distinguir e compreender nas ações de aprendizagem os novos comportamentos.  Desta forma, Bandura (2008), contribui afirmando que as pessoas são produtos e produtoras do ambiente em que vivem, segundo suas crenças de eficácia pessoal, delegada ou coletiva, buscam alcançar resultados com iniciativas interdependentes, mas trabalhando em conjunto garantem o que não conseguem sozinhas.

Aprender é compartilhar conhecimentos, inter-relações, construir teias de saberes em suas diversas formas, tempos e espaços, como os apreendidos na infância, transmitidos por gerações. Com essas relações chega-se ao processo de ensino aprendizagem, no qual docentes e discentes encontram modos para apreender, compartilhar e entender a leitura de mundo e realidade nas quais estão inseridos, para conseguir a empatia, a adaptação ao meio, nas reflexões e decisões individuais e coletivas mais assertivas no mundo do trabalho e social.  

Para Souza (2003) o grande objetivo da educação é preparar a pessoa para vida pessoal e social, para a dignidade e qualidade de vida educando para a autonomia e para uma transformação do humano em protagonista de sua história. 

Entender as inquietações da sociedade contemporânea é o ponto inicial para criar no espaço da cidadania a potencialização das relações sociais, das ações, e a formação humana de caráter democrático pensando que:  

Etimologicamente, educare tem como significação " fazer algo sair de si", ou seja, refere-se ao conjunto das influências do meio sócio histórico sobre os indivíduos, que os leva a fazer saírem de si características próprias do ser humano (atividade, sociabilidade, consciência, liberdade e universalidade. Em um sentido restrito, educação indica uma prática social, intencional, voluntária e metódica exercida por agentes diversos (família, escola, igreja, partidos, associações, etc.) que tem como objetivo o homem, em seus diferentes tempos: crianças, jovens e adultos. (CAMPOS, 2010, p. 50).

Campos (2010), afirma que educar na expressão da cidadania, é levar a moral, a consciência, as atitudes e os valores e o socioemocional como grandes aliados e, ao mesmo tempo, desafios para a educação contemporânea. Ou seja, uma educação que se inova na qualidade e comprometimento com a sociedade provocando as mudanças sociais exigidas no mundo contemporâneo. Com o compromisso em humanizar, de forma consciente, crítica e reflexiva os padrões, superando o senso

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comum e os impactos sociais dos avanços globais. Ou seja, pensar a educação de forma ampla significa lutar contra a dicotomia das etapas entre o pensar e o fazer, uma vez que os sujeitos, adultos, jovens e crianças são capazes de construir o saber sobre sua atividade, identificar problemas e resolvê-los, dominando, assim o processo de apreensão da realidade de modo a resolver as questões e problemáticas em que as pessoas se encontram inseridas.

Vygotsky (1988), afirma que dessa forma a educação e o educar no seu processo dialógico responde ao chamamento para construir a aprendizagem significativa. Essa relação requer um resgate do sujeito em suas relações as vezes individuais e as vezes sociais. Utilizando para isso os meios que a integram, como: a descoberta, a curiosidade, o ir em frente, a participação e a atuação, construindo o comprometimento com a realidade no qual estão inseridos. A temática humanização deve estar cada vez mais presente nas práticas educativas para que os professores, alunos e comunidade educativa reiterem os valores humanos. Então, compreender sobre a humanização conduz à formação permanente e a preocupação com os professores no processo humanista, de cuidado permanente de si e para agir humanamente com o outro.

Neste sentido partindo do pressuposto de que considerar a integralidade é consolidar o conhecimento do ser humano em suas diversas dimensões: cognitivo, psicossocial, emocional, moral, ético e espiritual. Tais dimensões devem ser consideradas no processo educativo de modo que possibilite, o preparo não só para o mundo de trabalho, mas também, para a vida em seus vários aspectos, ou seja, considerando-o como sujeito integral e formando-o para a teia sistêmica da vida e complexidade da existência humana.

Torralba (2012), compreende o ser humano-pessoa como um ser em relação consigo mesmo, com o mundo e com os outros, um ser eu-consciência-identidade, em correlação e aberto a humanidade. É consciente pois, se realiza na relação com o outro, protagonista e inserido na cultura e na história, um ser com potencial para a vivência da alteridade, capaz de afirmar a integralidade das suas mais diferentes dimensões em suas formas de manifestação.

Nesse sentido, Jasper (1971, p.74) traz a expressão de que, “a dignidade do homem reside no fato de ele ser indefinível” se acena para o caráter processual e contínuo da formação do ser. Entende-se que o Entende-ser humano é um continuum, que sinaliza para Entende-seu potencial de transcender-Entende-se indo além de seus próprios limites. Desse modo, para atender o ser humano em sua integralidade Röhr (2013) propõe que estas interações sejam contempladas e consideradas nas realizações pedagógicas e educativas estas dimensões básicas: física, sensorial, emocional, mental e espiritual. Na figura 1 é possível observar um esquema das dimensões mencionadas e suas inter-relações com a integralidade do ser em uma escala menos densa e mais sútil.

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Rev. Franc. Edu. Santa Maria v.4 ISSN: 2675-7206 Figura 1- Esquema das dimensões básicas 

Dimensão Física Dimensão Sensorial  Dimensão  Emocional 

Dimensão Mental  Dimensão  Espiritual 

Mais densa  Mais sútil 

Matéria física, corpo biológico   Sensações físicas: tato, visão, audição, olfato e paladar.  Estados emocionais: alegria, medo, empatia, entusiasmo,

tristeza, raiva, outros. 

Raciocínio lógico: reflexão, imaginação, fantasia, intuição.  Comprometimento incondicional com valores éticos ou metafísicos.  Fonte: Adaptado de RÖHR, 2013, p. 27. 

Nas constatações de Röhr (2010), o ser humano em sua integralidade necessita dessa abertura contínua para ir ao encontro de si, do outro e da plenitude da vida, pois essas dimensões irão aflorar, a partir da sua materialidade, sensações, emoções, na busca do equilíbrio/desequilíbrio destas com as mais sutis: mental e espiritual que avançam em crescimento humano, se consolidando nas vivências de sua humanidade.  

A educação, em sua dimensão franciscana, precisa acentuar o processo de humanização como sensibilização do indivíduo, quanto ao conhecimento do mundo, de si e do outro, para desenvolver uma consciência que se abre para a realidade e que luta para a superação das limitações, desenvolvendo a autonomia, solidariedade, criticidade, criatividade, ludicidade e amorosidade. Dessa forma, o humano desabrocha para se integrar em relações e interações resgatando a si mesmo em sua integralidade.

Considerando essa perspectiva, São Boaventura (1983), afirma que o objeto do conhecimento sensível é constituído pelas realidades materiais enquanto apreendidas pelos sentidos externos sob forma de imagens sensíveis, transformadas em espécies inteligíveis, que serão posteriormente arquivadas em nossa memória (ativa e passiva). É por essa via que a realidade material começa habitar a alma humana, não como substancialidade material, mas pela sua representação ou espécie, que intencionalmente adquire sentido e significado.

Assim, São Boaventura (1983, p.182) afirma que ao reter “todas as coisas temporais passadas, presentes e futuras- a memória nos oferece a imagem da eternidade, cujo presente indivisível estende-se a todos os tempos”. Boaventura faz compreender a mente, de modo a pensar o potencial de transcender, mediar ações apropriadas do corpo, tanto pela expressividade, como pelo expressionismo de cada ser, revelando-se no belo e no bem, proporcionadas pelas ciências e nas luzes das verdades que não mudam. A memória nos conduz à capacidade de possuí-la e de fruir dela. Neste sentido pode-se compreender que a memória retém e representa as lembranças, as coisas passadas, o ponto, a unidade que este ser carrega em seu arquétipo, que lhe são inatas e familiares, ou seja, possibilitando a compreensão de novas verdades.

A inteligência é outra atividade que consiste em se fazer entender por meio de uma definição, o que está coisa é até chegarmos às noções supremas e totalmente gerais sem cujo o conhecimento

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não podemos dar a definição, com ela compreendemos uma proposição, percebendo o significado. Dessa forma, compreendemos que:

O entendimento humano apreende todos os objetos sob o conceito do ser; não há outra maneira de concebê-los. Esta necessidade nos cientifica de que estamos, aqui, diante de um princípio primeiro. De fato, não só a totalidade dos objetos, como todas as ideias, são para nós subordinadas a esta uma ideia suprema do ser. (BOEHNER, 1992 p. 440).

Para Boehner, (1992), pode-se entender que o próprio não-ser apresenta-se como carência de ser, e não é concebível senão como “fuga” do ser. E assim, o ser pode denominar-se, razão, o princípio supremo de entendimento, visto ser apreendido desde o primeiro ato cogitativo explica todo o ser concreto finito. Por isso somos um ser, não uma ideia, mas como ser e pelo ser, um ser cognoscível.

Na integralidade do ser, a educação como ato educativo, conduz para formação da ideia e do ser capaz de entendimento, caminhando simultaneamente com a construção do ser integrador e integrado na relação com a vida, como sujeito cognoscente e construtor de si mesmo. Nesta perspectiva, o sujeito é capaz de alcançar estágios superiores e conferir significados a si, ao mundo e à realidade, traduzindo a sua identidade e natureza sensitiva- cognitiva-espiritual.

Considerações Finais 

O caminho histórico franciscano elucidou a formação integralizante do humano, posto que em diversos contextos e tempos o educador humanizado na espiritualidade franciscana, buscou sempre um olhar sobre as dimensões humanas em suas diversas expressões.

A concepção de educação da SCALIFRA-ZN referendada em Francisco de Assis e Madre Madalena Damen comportou a perspectiva missionária, o carisma franciscano e a preponderância da visão de integralidade no contexto brasileiro. A atuação das franciscanas resgata a novidade e o protagonismo da mulher em diversos setores da vida educativa e pública. Guiadas pela realidade, assumiram as necessidades dos tempos e lugares, possibilitando um olhar diferenciado sobre a educação pautada em princípios, valores e atitudes.

A espiritualidade franciscana referendada em São Boaventura fortalece o entendimento da educação integralizante, sinalizando para uma ação educacional que desenvolve pessoas para estágios mais elevados de consciência. A definição das potências humanas descritas por Boaventura descortina todo potencial humano na capacidade de conferir sentidos e significados a si mesmo e ao mundo que o cerca.

Diante da análise proposta pode-se inferir que a filosofia franciscana contribui para uma educação que vise o desenvolvimento da integralidade do ser humano. Esta educação conduz para formação do estudante como sujeito de sua aprendizagem em suas diversas linguagens: cognitiva,

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afetiva, socioemocional, social, espiritual, moral e ética. Fazendo com que a teoria-práxis se complementem em prol do protagonismo tanto pessoal, como coletivo.

Referências

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